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ISSN 0101-708X ' $3 b (= (} y UFG — 1QG DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA BOLETIM GOIANO DE GEOGRAFIA PUBLICACAO SEMESTRAL — VOL. 3N. 1-2 — JANEIRO/DEZEMBRO 1983 8. Goiano Geogr. 3(1-2):83-108, jan. /dez. 1983 REFLEXES SOBRE A DIALETICA HORIESTE GOMES* A dialética coma concepcdo © método confirma o continuo movi mento da matéria - apresentada em todas as suas formas, inferiores e superiores - em sua infinitude unitdria e define o mundo como um pro- cesso ininterrupto do vir-a-ser, iste é, da reprodugio da propria ma- téria, No dizer de Engels "“o conceito do mundo € unitario, o ser real, © mundo real, forma do mesmo modo uma unida- de indivisfvel ... a unidade real do mundo con s (Engels, Fe An te em sua material idade -During, 42 € 44) A dialé a materialista ndo reduz os processos espirituais existentes na consciéncia do ser humano (pensamentos, sentimentos, as~ piragdes, estados de animo, emogdes, etc.) & condigSo de substancia,co mo querem fazer crer os “idealistas", notadamente os compromissados deoldgicamente como sistema de dominag3o reinante. Querem fazer crer perante @ sociedade que os materialistas dialéticos sao desprovides de sentimentos, emogdes, enfim, dos valores espiritusis que os seres hu manos possuem. Huito pelo contrario, os aspectos subjetivos do homem s30, em ordem crescente, no dia a dia, valorizados pelos povos que im primicam uma nova construgdo da sociedade humana regida pelas leis ob- jetivas do desenvolvimento dialético e histérico da humanidade. Utilizando-se das ciéncias que se preocupam em conhecer omun do do consciente e do incensciente do homem - neuropsicologia, neuro~ Fisiologia, psicologia, psiquiatria etc., a dialética materialista com Prova Cientificamente que as “emanacdes espirituaist do homen sao refle xos da realidade objetiva, isto é, do mundo circundante fora do homem, refletido através do seu agente material - a estrutura cerebral. Por in (yprof. do Instituto de Quimica e Geociéncias da UFG - Dept? de Geo ~ grafia. a 8. Goiano Geogr. 3(1-2):83-103, jan. /dez. 1983 termédio dos nossos drgdos sensoriais, a reatidade objetive exterior & captada e conduzida pelo sistems aervoso central até a mencionada es~ as reflexas trutura e transformada por esta em forma de agens idea dessa mesma realidade. Na sequéncia das operagdes mentais - sensagdes, percepgdes, representagdes © pensamento légico dialético ~ 0 reflexo que 56 reproduz em parte 0 objeto refletido, a partir da aperacdo sen= sorial adquire aa elaboragao final a forma mais acabada que a etapa a~ tual do desenvolvimento do pensanento pode produzic: jufzos, racioeini. 08, hipéteses, teorias, @ dialética materialista nao reduz o mundo da consciéncia a produto, geres". Estes, reduzem mecanicamente a elaborag3o da consciéncia pelo 0, resultado da matéria, como fazem os "materialistas wi simples functonamento fisiolégico do cérebro, quando, na realidade, 0 conteiido da consciéncia como base espiritual do ser humano & formado, como j mencionamos, pela relagdo cognitiva do homem com o seu mundo ob Jetivo e tendo na estrutura cerebral o seu substratum especializado ca paz de refletir (imagem subjetiva) o mundo exterior (realidade objetiva). Outrossin, o materialismo dialético contrapde-se a tados os “materlalistas" que consideram a consciéncia como atributo da matérta inerente a "todas" as suas formas animadas (inferiores © superiores} Pela mesma raz’o, refutam aqueles que estabelecem a dualidade na ques- t3o da esséncia da consciéncia, Esta seria, em relagSo a0 objeto refle tide, uma {magem "ideal", e, em relagdo a0 substratum cerebral manifes tar-se-ia como "material". ArgumentagSo deveras falsa, tendo em viste que a consci@ncia é de natureza imaterial traduzida em imagens abstra- tas configuradas em pensamentos, sentimentos, emocdes... ete Também refutam aqueles que nao consideram a consciénefa como reflexo de realidade objetiva, mas sim como “crtagSo” desta mesma rea~ lidade, S30 os que fundamental tal proposig’a no fato do homem trans - formar o mundo através de sua a¢3o prética sobre ele, como também sua agSo laterpretativa e explicativa. Assim, uma interpretago do mundo des provida de transformagéo deste mundo seria imposstvel. Trata-se de uma formulacao errénea em virtude de que a criagdo encaminhada pelo homem em qualquer espago cencreto de andlise sé pode advir se a sua conscién cia refletir os valores contidos no men, nado espago. Para tento, ha necessidade do homem, em decorréncia de sua atividade criadora mental, submeter-se as teis abjetivas existentes fora e independentes de sua consciéncia. Pela mesma razdo, 0 materialism dialético refuta os investi. gadores metaffsicos telativistas pelo fato de “absolutizarem" a reali- dade, iste &, © cardter incompleto e aproximativo do conhecimento, eli, minando @ contradigo entre o verdadefro e 0 faiso B. Goiano Geogr. 3(1-2):83-103, jan. /dez. 1983 85 Segundo os relativistas (como exemplo, K.R.Popper) hé sempre uma substituig3o cont {nua do conhecimento em nfveis cada vez mais abso- lutos, a ponto de eliminar Na ininterrupgo do processo cognitivo, 4 continuidade entre © novo € 0 velho, 0 carater positive da negagao, que é dialé tice por natureza, isto é, que esté ela mesma sujeita a nega~ glo, tudo iste desaparece do campo de viso de um relativis- ta" (Teodor Dizerman "A Dialética Materialista £ 0 Relativis mo" in Ciéncias Sociais - Academia das Cigncias da URSS n? 2/1979 pag-43). A dialética materialista reconhece a relatividade de nossos conhecimentos, todavia, no no sentido de negar a verdade objetiva a nivel da natureza e da sociedade, mas como dizia Lenin “no sentido da condicionalidade histérica dos limites da a proximagdo dos nossos conhecimentos a esta verdade" (Lenin - in obras Escolhidas) Na questao epistemolégica, o materislismo dialético nlo re~ duz a conscléncia ao simples reflexo do novo, isto &, da descoberta de que surge como realidade nova, mas também ao nfvel do j& conhecido. No processo de relacionar-se com o espace geografico o homen imprime transformagSes reais neste mesmo espago. Num dizer de um autor materialista, constitul eriagéo que “repousa sobre o reflexo da realidade existente e de suas pos sibilidades reais, de seus aspectos e ligagdes necessarios , das leis objetivas de sua transformagao e de seu desenvolvi mento. € precisamente 2 essa atividade criadora que a conscl Encie est& ligada, porque é precisamente ela que determina sua ess8ncia especifica". (Cheptulin, Alexandre ~ A Dialé ca Materialista, p.109). Ao refletir a realidade objetiva, a consciéncia fixa nao so- mente aquilo que & préprio ao objeto refletor (reflexo imediato) tam- bém 0 objeto que nao existe realmente em dado momento (reflexo mediato} Os que argumentam que a consciéncia no reflete mas cria a realidade , Justificam tal proposigao na medida em que identificam o conceito & su Jeito com o conceito de rflexo subjetivo da realidade objetiva, quando em verdade tal identificacdo 6 incorreta. Na concepg3o do materialismo cientTFico o sujeito é um sistema social material, tendo o homem por in. termédio de seu trabalho criado a sua "segunda natureza" - cultural e 86 8. Goiano Geogr. 3(1-2):83-103, jan. (dee. 1983 civilizatéria. Isto significa ser sujeito da histéria que apropria-se da “primeira natureza e transforma~a de acordo com as suas necessida- des, seus desejos © aspiragdes, em fungio do grav de desenvolvimento po litico/econdmica, tecnolégico e social de que dispde a sociedade. Sen- do um sistema social/material, ele (o sujeito) constitui-se numa das Parcelas da realidade objetiva maior, fruto de suas relagbes socials com ©s seus semelhantes no processo da produgia, da divis3o e do consumo. De acordo com o nivel de organizac3o social atingido pela sociedade © Seu grau de desenvolvimento, define-se a capacidade do homem de trans~ formar @ primeira natureza na segunda natureza, ou em outras palavras, em elementos de vida social, Diz Cheptulia: "8 precisamente esse fate, isto , @ presenga no suleito da capacidade de um reflexo subjetivo da realidade objetiva,do seu conhecimento, que o transforma em um sujeito real, capaz de agir sobre 0 mundo ambiente ¢ de transformé-lo de forma criativa, porque, como jd dissemos, uma transformagao que ten de 2 uma meta Ja reatidade presupde o conhecimento de suas propriedades e ligagées necessaries, das leis do seu func onamento, do desenvolvimento e das possibilidades gue disso dependen" (obra citada, p. 113). 0s que se apegam ao fato da consciéncia refletir a realidade =e, camo tal, o seu desenvolvimento deverd conduzir 20 conhecimento a cabado, definitivo da natureza e da sociedade - so analistes mecani - cistas superficigis, pois reduzem a realidade reftecida & forme estari ©a, como se n&o houvesse uma transformagdo continua do mundo ds asture za, da sociedade e do individu. A reprodugdo nova do universo & inin= terrupta em razbo da matéria e da consciéneia estar submetidas & perma Nentes movimentos que ascendem, cada vez mais, as formas complexes @ Superiores. Embora o homem possa adquirir consciéncfa universal em ter mos de conceitos gerais - por exemplo, o conceito da necessidade da paz universal; da necessidade da interdepen cia dos povos; da coexistén~ cia pacifica; da libertagio de todos as poves oprimidos das garras do impertalismos ete. - & imposstyel ao ser humano abarcar todos os conhe Simentos de que a humanidade dispde em cada momento histdrico de sua hum desenvolvimento conduzird & trans existéncia, tendo em vista que n formag3a da consciéncia individual em consciéncia universal do todo co nhecido. Hd que ressaltar © aumento progressive do conhecimento do ho men em vez de reduzir a faixa do a ser conhecidos amplia~se continua - mente 2 busca do ser humano de conhecer, mais ¢ mais, a realidade do 8. Goiano Geogr. 3(1-2):83-108, jan./dez. 1983 7 universo, A possibilidade criativa do homem e o seu campo de atividade anpliam-se progressivamente. Aqueles que reduzem o reflexo da realidade a “cépia fiel" do objeto refletor para se contrapor 3 tese leninista do reflexo, falham na medida em que Lenin nao considerava as sensagdes como imagens cas dos objetos, mas como imagens ideais (subjetivas) concretizadas sob jo (no todo ou na parte) e no influncias incidentes no objeto refle objeto refletor (o homem). As limitagdes de nossos Grgios sensoriais o riundas de fatores diversos, herdados ou adquiridos, sao limitantes re ais no tocante & formagao de imagens subjetivas da realidade objetiva. Pela mesma razio o conhecimento nao cientffico da realidade leva ao co nhecimento falso da mesma realidade, em vista de partir do subjetivis~ mo das pessoas. Na medida em que o homem avanga a sua andlise cientifica da realidade, utilizando-se de instrumentais, do raciocfnio légico dialé~ tico e da praxis social, o seu comportamento subjetivista de andlise vai se ca vai se afirmando como realidade ob- uindo e a verdade cient jJetiva maior isto é, verdadeira e necessaria. Os materialistas pré-marxistas viam @ consciéncia como refle, xo subjetivo da realidade objetiva de forma contemplativa e mecanicis- ta, isto equivele a dizer, de forma passiva e estatica. A filosofia e © método do materialism dialético e histérico, herdeiros de toda ela- boragio positiva da humanidade em termos de verdade cientffica, mostra que o reflexo da realidade objetiva pela consciéneia se produz de ma- neira dinamica, criativa e simultanea com a transformag3o imprimida no espago concrete pelo exercicio da atividade prdtica do homem. Desta ma neira, a consciéncia & vista como uma forma superior de reflexo do mun do exterior, e, em virtude disso, ela passa a ser intrumento de orien- tag3o ractonal na ago de transformago que 0 ser humano/social impri- me em nosso universe. A metodologia dialética, utilizando-se da lei da unidade © luta dos contrarios, confirma a conex3o e a interdependéncia dos fen menos em toda a realidade que se nos apresenta. Tomando como exemplo num marco industrial, 0 estudo de suas categorias mais importantes, ca pital e trabalho, verificamos a respectiva unidade entre ambos em tor- no de seus objetivos pregméticos. Deste modo, o capital para repoduzir =se como capital, isto &, para que haja acumulagéo e reprodugao orga ca continua, necessita do trabalho traduzido na forcga fisica e mental dispendide pelo trabaihador no processo de produgdo. Por sua vez,o tra balhador para reproduzir-se como trabathador, isto é, para obter o ga- 28 8. Goleno Geogr. 3(1-2):89-108, jan./dez, 1983 nhe para subsistir como trabaihador, necessida do capital (traduzido en capitaliste/detentor dos meias de produgao). Trata~se de uma relacdo contratratual unitaria (conexdo do capital como trabalho) calcada na interdependéncia (sutonomia de cada ume reciprocidade necessaria de ambos) em fungdo dos prapdsitos objetivados. Ao mesmo tempo, por se cos tituir em realfdades antagonicas - © capitalists busca acumulagao cres cente; através da exploracdo da mais-valia e da sociedade consumidora submetida & polftica de pregos imposta pete jogo do capital; 9 opers- rio/trabalhador busca methoria sailarial - s3o contrdrios por natureza © travam no processo da produgio uma tuta renhida, cuja Iibertacio do operario do sistema de exploragdo dominante imposto dar-se-3 com a eli minag3o da propriedade privada dos meios de produgdo em posse do capi- talista. Conclui-se que @ conexdo manifesta-se sempre com Interdepen - dancia e interagao. Simultaneamente, como desenrolar deste processo de intera~ Bo e luta dos contrarios, efetuam-se mudangas graduais "no que exis- tia e continua a existir", revelando-se entSo @ continuidade no pro - e580 de transformag3o gradual da natureza, da sociedade e do indivt - duo, 0 mesmo processo desenvolve-se no ambito das categorias especifi- cas de cada ci&nc)a, Sho estas mudangas parciais que preparam o proces $0 revoluciondrie que se afirma cada vez mals como realidade necessa ~ ria para romper a continuidade © produzir o “salto qualitative" que da rd origem a uma nova realidade. No exempto mencianade, @ contradic irreconciliavel entre o capital e 0 trabalho vai exiginds de ambas as partes posicionamentos ca da vez mais radic 5 @ 8 nova reatidade surgida das cont{nuas transfor magSes quantitativas val se impondo como necessidade objetiva para a sociedade. Chega-se a um determinada momento em que 25 premissas para © salto qualitative esto maduras, ¢ ® base de sustentag3o do capital = 2 propriedade privada dos meios de produgdo - é substitufda pela ba- se de sustentagio do trabalho - a propriedade social dos melos de pro dug30. 0 salto comega no momento em que as mudancas ininterruptas che- gam a um limite rigorosamente determinado para cada processo dado. £, & ele que determina o carSter do nove movimento ininterrupto qué se se gue. © salto em sua dimensdo qualitativa, isto é superior, sé se process @ nivel das contradigdes antagénicas que tem interesses apos- tos. Como exemplo citamos: as contradigées que houveram entre senhores feudais ¢ servos no perfodo feudal; as existentes na atualidade entre pafses imperialistas © povos colontais; entre o mundo capitalista e 0 mundo socialistas entre burguesia e proletariado, sdo as que mais se videnciam. 8. Goiano Geogr. 3(1-2):83-103, jan./dez. 1883 89 Lenin j& dizia que “o desenvolvimento € luta de contrario ea dialética considera a contradigao como a sua categoria mais impor tante em qualquer realidade de andlise. Uma determinada coisa contém em si a sua prépria negacao. Negar dialeticamente nao significa ape- nas dizer n3o, Esta é uma postura bem metafTsica. A negacio dialética além de ser condigao e fator de desenvd vimento €, a0 mesmo tempo, elemento de liga¢3o éo novo com o velho. To mando como exemplo a sociedade escravagista, onde os intrumentos de trabalho (as ferramentas) estavam separadas de produtor (escravos),sen, do propriedade privada dos senhores, a histéria mostra-nos que senho- res © escravos constituiam duas classes sociais que se negavam,se con, trariavam. Na medida em que o confronto atingiu 0 dpice deu-se a rup- tura surgindo entSo uma nova forma superior de sociedade, a feudal , com poder descentralizado. A parte da velha sociedade que deixou de ser necesséria, foi negada totalmente. A outra parte da velha socieda de identificada em seusvalores positives, entrou na composicéo do no- vo estégio, real e necessario. A negaco da negagao aparece como sintese do todo o desen- volvimento anterior. Assim, no desenvolvimento das sociedades cada u- ma das etapas nega-se através de outra etapa, esta por sua vez, atra~ vés de uma terceira, e, sucessivamente, val-se estruturando no proces, so dinamico uma cadeia continua de negacSes. A tese é negada pela an- tItese e ambas sdo negadas pela s{ntese, sendo esta a resultante supe r r das duas, tr8s ou mais negagées, dado que nem sempre a dupla ne- gacdo @ suficiente para dar passagem de coise em seu contrario. € evi dente que 2 lei da negagSo da negagao atuard diversamente em cada si tuagdo concreta de acordo com as diferentes condigées existentes nos diferentes fendmenos. Trata-se de un movimento irreversfvel em que ca da fase sintetiza toda a riqueza das fases precedentes. € preciso ex plicitar que na lei da negac3o da negagao, o seu aspecto fundamental n3o & a dupla negacao, mas sempre a "repetigao" dos niveis da etava transposta sobre uma nova base, mais elevada, superior, e condiciona- da pela passagem do fendmeno em seu contrdrio, no curso da negagao de certos estadias qualitativos por outros. 0 salto-negagdo representa dois momentos organicamente \igados, em que um nfo pode existir sen o outro: © momento da destruiggo e o momento da criagao formam a unida- de dialética da negagao e da afirmagao. A metodologia dialética revela a unicidade na pluralidade dos objetos, dos corpos existentes no universo. Define-se por meio de Padres comuns que todos os objetos, todos os corpos possuem: a exi 90 B. Goiano Geogr. 37-2):83-108, jan,/dez. 1983 téncia prépria, © que significa existir Independente do nosso julga- mento subjetivo (daquitc que pensamos). 0 método dialético confirma a inesgotabilidade, a conserva g80 e 3 renovagio da matéria nas suas propriedades e manifestaces,bem coma a espago e@ tempo como objetivos e como formas universais, infi tas, da existéncia da matéria. Nio ha matéria fora do espago e do tem po, endo ha espaco © tempo fora da matéria. Finatmente, & preciso pontificar que a dialética como méto~ do cienti Fico superior de conhecimento humana manus ka todo um conjun to de categorias inerentes a esséncia dos fendmenos. Sio categorias que nos ajudam a comprovar, 2 autenticar como clent{fico~portenta ver dadeiro - 0 fato que pretendemos conhecer, Todas elas esséncia e fend dade e casy ular ete., s8o indi spensdveis meno, conteido e forma, realidade e possibilidede, necess alidade, causa e efeito, geral ¢ par & Investigacdo cientfFica em qualguer ramo do saber humano. © mundo € todo dialético e para conhecé-lo ha que se utili~ zar, manejar corretamente as categorias, tarefa esta, por sinal no muito #3ei1 para nés, membros da sociedade capitalists, devido a um conjunto de raz5es cancretas. Entre elas mencionamos: + 8 auséncia de tradigéo Filoséfica na via do materialism dialético © histérico em nassas escolas de nfvel primério, médio @ su periors - 8 doutrina materialista vista, podemos dizer, a partir da Segunda Repéblica, como algo "perigoso" a nossa soberania por milite- res e datentores do poder; - idem, como “nociva e corruptora" das nossos princfpios é- tieorreligiososs Acrescenos ainda um conjunto de dificutdades de diversas of dens absixo mencionadas: 0 emprego ainda muito corrente da linguagem de uma cién cia no ambito de uma outra, procedimento que prejudica manter a unida de do atua} saber cienti fico; - 2 pratica de “abordagens estreitamente especial izadas" que reduzem o investigador, notadamente no campo das ciéncias sociais, a0 comtnio do particular em det imento dos sistemas de ligagdes e intera g3es que existem ne corpo dos aspectos e Fendmenos sociais concretos; > nos nossos conhecimentos perduram uma certa dosagem de e- lementos subjetivos, enquanto a verdade pertence realidade objetivas ~ a exterioridade do fendmeno n3o coincide com a sua inte oridade, levando-nos a conclusdes erréneas; 8. Golano Geogr. 3(1-2):83-103, jan,/dez. 1983 4 0 pensamento © o comportamento idealista (mecanicista,a ~ gnéstico, positivista, pragmatista, neo-positivista etc.), esta muito arraigado como teoria e pratica, na sociedade capitalistas ~ as investigagées cientificas esto inseridas no domfnio das leis das relagdes espaco-tempo (modos de ser da matéria) © a maio ria dos nossos teoricos nao as manipulam corretamente; ~ constata-se a mesma inseguranga no tocante ao manuseio das leis da dialética materialista no plano da estruturagao teorica e da comprovagao pratica; - pelas mesmas razées as categorias filosoficas sao também mal manipuladas e mesmo desconhecidas; = a ideologia sendo um sistema de idéias, ligadas intrinse~ camente a vida das classes sociais, constitui-se numa forma de conhe- cimento. As ideologias burguesas esto eivadas de elevado grau de mis tificag3o, 0 que contribui substancialmente para diluir 0 significado real da verdades - a confianga plena de muitos pesquisadores nos chamados "eé digos de &tica profissional". Diga-se que tais cédigos, se nao forem frequentemente respaldados por uma ampla base social e politica perdem 05 seus atributos de validade e a mistificagdo invalida mais o saber clenti fico e artistico"; 1+ (GOMES, Horieste-Boletim Goiano de Geografia/ano 1 n? 2, pags. 120 a 122-1983). A metodologia dialé a confirma que o historicismo en: nos que cada realidade deve ser analisada de acordo com a dimensao his térica retratada nas diferentes etapas do desenvolvimento da humanida térica. A metodolo - de, em suas formas concretas de manifestagao gia dialética ensina-nos que ao buscar captar uma realidade temos que apreendé-la em seu desenvolvimento, em sua historia, & paca tanto ne~ cessitamos de emprego do método histdrico e do logico em perfeita in= teragdo dialética.(*) Da Légica Formal e Olalética - na proporgao em que os pro- gressos se acentuavam no dominia da filosofia e da ciéncia, mais se con iguravam as limitagdes da légica formal como métode de conhecimen to humano capaz de explicar a génese € o desenvolvimento dos fendmenos que dio surgimento & nova realidade, fruto da contradigao dialética. () Obs: retornar “simplesmente” ao passado nao significa que utiliza mos a hist6ria como valor analftico. 92 8, Goiano Geogr. 3(1-2):83-103, jan./dez. 1983 A légica formal fol © permanece valida a nivel das investi~ gages simples, isto é, 8s que se efetuam no plano das relagdes mais diretas, externas e proximas, om vista da preocupagio central do pes- quisador circunscrever-se mo plano do delimitar e do identificar com exatidde o Fenémeno ou objeto que se pesquisa, circunscrito ac “proces s0 que o faz existir. 0 Fato observads exige sprofundamento samente so ntve) da aparéncia e nao da esséncia. 0 pesquisedor trabalhard com corretagdes imediatas estabelecidas nas categorias visfveis sem que haja necessidade do emprego de categorias superiores; como exempio, 2 reciprocidade determinada e 2 totalidade que tém por exigéncia e pré- tica cientifica @ abstracio e generalizagao. Na medida em que a légica formal coasidera o "novo" como re suitance da simples relagao de concordancia de causa e efeiro, e& nando deste modo o motor do desenvolvimento do mundo organica @ Inor~ ganico - a contradigéo -, ela revela-se limitada na sua estrutura 16- gica formal como metodologia instrumenta! 3 altura da interpretagao cientifica deste mesmo mundo. A complexidads da realidade consubstan- ciada aa infinitude dos fendmenos e objetos existentes no micro e@ man cro mundo; a expans3e progressiva do saber Filosdfico, cient{fice esa cial na busca da realidade objative como totalidade, exigem que o pen sar formal seja apenas um apéndice da }égica superior generalizade do pensar, que & por sua natureza, diafética, 0 pensar formal continua va lido na sua aplicabilidade as condigdes restritas da realidade. 0 aro. fundamento desta mesma realidade em termos de atingir (revelar cienti Ficamente) a esséncia dos fendmenos contida na estrutura interna a ma téria organica © Inorganica exige do homem como sujeito histérico, 0 emprego da razdo dialética. Enquanto légica formal exclui a contradi¢do enquento aspec- to objetive dz realidade © reduz o nove fato a un simples resultado de um processo de traasigdes gradativas, requiares, numa relagao de con- cordancia de causa e efeito, em que a diversidade & substitufda peta identidade; a légica dialética, centrade na contradigao como “anter, or" (engendrado anteriormente) negaro e 43 surgimento @ uma nova rea~ fidade que se afirma como necessaria, concreta e positiva. Aivaro Vieira Pinto em seu excelente trabalho “Ciéncia e E- xistincia" define com precisao pape) da légica dialética: UA presenga do homem impde o emprego da razéo dialética por que a conpreenséo do fendmeno humena, em si mesmo © em sua 2. atuacdo sobre a realidade, pertence de direito 3 dialéti Esta é @ ci&nciea do processo universal da realidade, suas B, Goiano Geogr. 3(1-2):83-103, jan. /dez. 1983 93 leis estado presentes no fntimo dos seres e dos acontecinen- tos, mas somente na reflexio humana se faz consciente de si Ro er, o homem historiciza o tempo, a duragdo cronoldg tir da realidade. Em © homen, 0 que ocorre & apenas evolugo, geoldgica ou or ca do e: ganica, mas apenas a introdugSo da razdo engendra @ histor. cidade, a perspectiva histérica, pela introdugéo da distin~ 30 entre passado, presente » futuro... © homem no pode compreender a realidade circundante, sem= pre limitada, que o encerra © 4 qual tem acesso, aguela que constitul a sua "sicuagdo", @ ainda a sua propria realidade senZo por via dialética, e por isso tem de se terpretar como um processo particular dentro de processos cada vez mais gerais, o da sua comunidade, o da sua espécie, o da e- volugie bioldgica, © da produgéo da matéria viva, e por fim © da existén (Obra citada, editors Paz e Terra, RJ 1969, pégs.186 © 190) absoluta, unitéria e infinite do universo™. Concluindo, enguante 2 légica formal configura-se como 1égi ca de expressio de idéias traduzidas por sfmbolos, sinais organizados em linguagem; a légica dialética por natureze existe de forma objeti- va no mundo da natureza, da sociedade e do individuo em suas expres- ses cogniscitivas objective (relagao do homem com a natureza) e subje tiva (relagio do homam com as idéias). Na primeira, a forma/o conted= do do objeto sobre o qual o sujeito atua é estatico, nao dindmico,sen do desprovido de movimentos; na segunda, [a dialética] 0 conteddo dindmico ¢ encontra-se submetido a movimentos contraditérios e suces- sivos e evolui sempre do estagio inferior para superior. Resta-nos estabelecer algumas reflexdes a resceito das cate gorias da dialética materialista como conceitos basicos que reflerem as propriedades © nexos comuns mais gerais e essenciais dos fendmenos da realidade e do conhecimento, e que exprimem "encadeamentos mais ux niversais da realidade objetiva em desenvolvimento" (Kras 36). e > pag. Entre as categorias mais importantes na concepcao do materi, alismo cient{fico dialético estao: matéria e cons Bncia, espaco © ten po, contradi¢ao novo e velho, quantidade e qualidade, satto e negagao, movimento @ repose, geral e particular, contedde e forma, causa e e- feito, esséncia e fendmeno, necessidade ¢ casualidade, realidadee pos- sibilidade... etc...

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