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feet Marcos Mercionilo ‘Cam y onpyere GaARico: Andréia Custédio Con sO EDITORIAL: Ana Stahl Zilles [Unisinos] Carlos Alberto Feraco (UFPRL Egon de Oliveira Rangel [PUC-SPI Gilvan Miller de Oliveira [UFSC, Ipoll enrique Montesguco (Univ. ce Santiago de Compostela} Kanavillil Rajagopalan (UNICAMP] ‘Marcos Bagno (UnB) Maria Marta Pereira Scherre [UFES) Rachel Gazolla de Andrade {PUC-SP] Roxane Rojo (UNICAMP) ‘Salma Tannus Muchail [PUC-SP] ‘Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB] CIP-BRASIL. CATALOGACAO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI Wa Weetlood, Barbara Histviaconcisa da linguistica/ Barbara Weedwood; trad. ‘arcos Bagno.-$o Paulo: Parola Editorial, 2002 Bp. 12xcTBem = (Na ponta da lingua ;v.3) Inc bbllografia ISBN 978-85-88456-08-7 [Linguistica -Historia,.Bagno, Marcos. Till Sri. con 410, Direitos reservados & PARABOLA EDITORIAL Rua Dr, Mario Vicente, 394 4270-000 Sao Paulo, SP pols: [11] 5061-9262] 5061-1522 | fax: [11] 2589-9263 home page: wnw.parabolaeditorial.com.br # Mall: parabola@parabolaeditorial.com.or ‘ailos 0% direitos reservados, Nenhuma parte desta obra pode ser isprorluzida ou transmitida por qualquer forma */ou quaisquer F tneios (cletrOnico ou mecdnico, incuindo fotocdpia @ gravaséo} ou anguivada em qualquer sistema ou banco de dads sem permissa0 fist escrito da Parabola Editorial Ltda. (SBN: 978-85-88456-03-7 Vedio yeimpressio - fevereina/2012 7 © de texts: Barbara Weedwood _& desis eiticaei Parabola Flitorial, Sao Paulo, marco de 2002 4. A LINGUISTICA NO SECULO xx Na linguistica do século XX, vamos encontrar ‘a mesma tensio das épocas anteriores entre o foco “universalista” e o foco “particularista” na aborda gem dos fenémenos da Wingua e da. linguager. Esta tensdo aparece explicitamente nas dicotomias de Saussure (langite © parole; significado e significante) ede Chomsky (competéncia e desempenho;estratura profuwida e esiratura de superficie), sendo que em ambos os autores 0 objeto da lingustia 6 definida pelo viés do elemento “abstrato”, “universalist”, “sistémiioo”, “formal” (a lange para Saussure, a competéncia para Chomsky), no que serdo duramen- te etiticados J no tleimo quartel do séeulo pelos linguist efil6sofos da linguagem que se dedicario a aborlagem funcionalista da lingua e aos aspecios ragmaticos do uso da lingua, bem como pelos de- fensores da lingua como uma atividade social, sujeica ortanto & pressio da ideolagia (ver absixo 4.7), ‘Também 6 no século XX que, ao lado dos estudos que chamamos de microlinguistica (ver Introdugio} strgirao grandes campos de investiga- «fo em niveis que ultrapassam o chamado *ntcleo duro” da linguistica e avancam em diregao a uma 15, vervnuconema sacri interdiseipFinaridade ereseente, a uma interseceio ‘com a flosoba e com ontrasciéneias humanas eomo « sociologia, a antropologia, a psicologia, a neuro- ‘ia, a semiologia etc, Neste eapitulo, parém, nao entraremas na analise desses granules campos — psicolinguistien, sociolinguistica, andlise do dis- curso, antropologia linguistics, filosofia da lingua- {emt —, que hoje jf contam com ampla bibliografia ‘specifica, Sendo esta uma obra histévica, vamos ‘nos limitar a retragar algumas das grandes linhas sseguidas pela linguistica ao longo do século, 4.1 0 estruturalismo © terme estruturalismo tem sido usado como ‘um rotulo para qualificar certo mfimero de diferentes eseolas de pensamento linguistico eé nevessirio fa- zer ver que ele tem implicayses um tanto diferentes segundo 0 contexto em que € empregado, Convém, antes de tudo, tragar umm amapla distingdo entre 0 ‘estrutaralisino europene o americanoe,em seguida, tatélos separadamente, 4.1.1 A linguistica estrutural na Europa $B comum dizer que alingusticaestrutural na Europa comoga em 1916, com a publica poste mma, coma j4 mencionainos, do Curso de lngucstica geval de Ferdinand de Saussure. Como também jé dissemos, muito do que hoje é considerade como 126 saussurlano pode ser visto, embora menos clan mente, no trabalho anterior de Humbolt, e os rineipios estruturas gerais que Saussure desenvol ‘vera com respeita &linguistica sinerimica no Curso tinham sido aplieados quase quatenta anos antes (2879) pelo préprio Saussure numa reconstruct do sistema yoedlico indo-europen. & plena impor ‘ncia deste trabalho nao foi teconhecida na época. O estruturalismo de Saussure pode ser resumido er duas dicotomias (que, juntas, cobrem aquilo a (que Flumboldt se referia em termos de sua propria deserigZo da forma interna e externa): (1) tangue tm oposigdo a parole ¢ (2) forma em oposigio a suihstancia, Embora langue signifique “lingua” em eral, como termo técnicn smassuriano fica maisbem teaduzido por “sistema linguistiea”,e designa ato- talidade de regularidades e padeaes de formato que suhjazem aos emumciados de uma lingua. O termo parole, que poceser traduzido por “eomportamento linguistico”, designa as enuciados reais. Segundo Saussure, assim. como duas intorpretagoes de uma ca musical feitas por orguestrus diferentes em oca- sides diferentes vao diferir numa série de detalhes 6, todavia, serio identifiedveis como interpretagdes da mesma peva, assim temhém dois enunciados podem diferir de virias maneiras e, contud, ser reconhecides como ilustragdes, em certo sentido, do mesio entnteiado, O que as das interpretacdes imusieais ¢ os dois enunciados tém em comum € uma identidade de forma, ¢ esta forma, on estruta- nt 1,01 padra0, dem principio independent da subs (nei, ou “matéria bruta”, sobre a qual é impose, “Vstroturalismo”, no sentido euzopeu, entio,€uim termo que se refere a visio de que existe uina ex ‘rutura zelacional abstrata que & subjaconte deve ser distinguida dos enunciados reais — iam sistema ‘fue subj ao comportamento real —e de que ela é 6 objeto primordial de esto do linguists ois pontos importantes sobressaem aqui primeito, que « abordagen estrurural nao fea, em principio restrta a linguistica sinerOnic: segundo, aque 0 estudo do significado, tanto quanto o estude da fonologia e da sintaxo, pode ter uma orientacio estrutural, Km ambos os casos, “estruturalism” se ope a “atomsimo” na literatura europeis. Foi Saus- sure quem tragoxt a distingto terminolégica entre Jingutsticasinerdnicaedinerdnies no Ceso. Apesar 4e orientagio indubitavelmonto estnstaraista de seu trabalho anierior no campo histérco-comparatvo, ele sustentou que, enguanto a inguistia sinerdni. a devia lidar com a estratura do sistema de uma lingua num poato espeifico do tempo, alingustica diacréniea devin se preocupar com o desenvolvi- mento histérico de elementos iselados — devia Ser atomisties, Quaisquer que sejam as tazdes que femham levado Saussure a assumir essa postura bastante paradoxal, sua doutrina neste panto nao foi aceita de modo geral,e 0s estuiosos lago come: ¢aram a aplicar os conceitosestruturas a0 estudo Aliaer6nico das Finguas bs Entre as mais importantes das diversas exco- Jas de linguisticaestrutural surgias ne Europe na primeica metade do século XX se Gestacama Escola dle Praga, cujos representantes mais notiveis foram Nikolai Sergeievitch Truberskoy (1880-1938) e Roman Jakobsont (1891-1982), ambos russos emi: dads, ex Bscola de Copenhogue (ou glossemética), que girouem torno de Lauis Hjlaslev (1899-10165). Joh Rupert Firth (1890-1960) eseuss seguidores, is ‘eves citados como Escola de Londres, foram menos sausurianas em suas shordagens, mas, num sentida mais geral do termo, seus estudos também: podem ser descritos apropriadamente como lingstiea estruttal 41.2 A linguistic estratural nos Bstados Unidos © estruturalismo americano ¢ 9 exropen com- partilharam um hom mimero de earacteristicas, Ao insistir na necessidade de tratar cada Kingua come uum sistema mais ou menos cocrente ¢ integrado, 08 linguistas europeus e americanos daguele periodo tenderam a enfutizar, sendio a exageras, s incom: parubilidade estratural das linguas individunis, Havia raz0es especialmente boas para assirmir este ponto de vista, dadas as condigées em que a Jingwistica americana se desenvolveu a partir do final do século XIX. Havia centenas de linguas indigenas americanas que nunea tinhiam sido des- critas. Muitas delas eram faladas por somente um punhado de falantes e, se nuio fossem registradas ro ances de se extinguir, icariam permanentemente ‘nacessiveis, Sob tis circunstancias,linguistas como Franz Boas (1858 1942) estavam menos preocupados com a construgdo de uma teoriageral da estrutia da Tinguagem humane do que na prescricdo de firmes Prinefpios metodoligicos porn a andlise de linguas ‘pouco farailiares. Receavam também que a descrigao dessas Knguas ficasse distorida se fossem analisa- das a Tuz das categorias derivadas da andlise das Uinguas indo-ouropeins mais familiares. Depois de Boas, os dois linguistas americans riais influentes foram Fitward Sapir (1884-1939) ¢ Leonard Bloomfield (1887-1948). ‘Tal como sew ‘mestre Boas, Sapir estava perfeitamente & vontade ‘na antropologia e na linguistica, & a jumedo destas dlsciplinas ten perdurado até hoje em vérias univer. sidades americanas. Boas ¢ Sapireram muito atrafdos pela visiohumboldtiana da relagio entre linguayem e Pensamento, mas enube a um das diseipulos de Sapir, Benjamin Lee Whorf (1897-1941), apresenitar esta relago numa forma suficientemente desafiadora para satrair a atengao geral do mundo intelectual, Desde 2 ‘epublicagao dos ensaios mais importantes de Whorf em 1956, a tese de que a linguagem determina a eteepedio eo pensamento tem sida conhecida como a “hipotese de Sapir-Whort', © trabalho de Sapir sempre exerceu atragao ‘sobre os linguists americanos com maior inclinagao antropolégica, Mas foi Bloomfield quem preparou ‘-camintho para a fase posterior do quc hoje € con- A a unmuanea na stnne siderado como @ manifestagio mais distintiva do cstruturalismo americano, Quando publicou seu primeiro fivto em 1914, Bloomfield estava forte- ‘mente influenciado pela psicologia da Finguagem de ‘Wade. Em 1933, poréna, publicow uma versao pro- fundamente revista e ampliada eom wm novo titulo, Language, Bste livio dominou os estudos da siren durante os trinta anos seqvintes. Nele, Bloomfield adotou explicitamente uma abordagem behiavioris- ta do estudo da tingua, climinando, em nome da bjetividade cientiica, toda referencia a catogorias ‘mentais ou conceituais. Teve amplas consequéncias ‘ua adogio da teoria behaviorista da semantica, se ‘2unda a qual o significado é simplesmente a relacfo entre um estinulo € uma reacao verbal. Como a ciéncia ainda estava muito distante de ser capar de cexplicar de forma abrangente a msioria dos esti Jos, nenhum resultado importante ou interessante podcria ser esperado, por muito tempo ainda, do cestudo do significado, e era preferivel, tanto quanto possivel, evitar bascar a andlise gramatical de uma lingua em consideragées semanticas. Os seguidores de Bloomfield levaram ainda mais adiante a tentativa de desenvolver métodos de andlise linguistica que no fossem aseados na semantica, Assim, um dos aspectos mais ceracteristicos do estruturalisino ame- rican péschloomfieldiano fot seu completo desprezo pela semantica. Ontro aspecto caracteristico,¢ que seria mito criticado por Chomsicy, foi sus tentativa de formular 1 luma série de “proeedimentos de descoherta” — rocedimontos que poderiam ser aplicattos mais ou ‘menos mocanicamente a textos e poderiam gerar ‘uma descticao fonoligica e sintatica aproprinda da lingna dos textos. O estruturalismo, neste sentido ‘mais restrito do termo, esté representado, com dife- rengas de énfase ou detalhe, nos mais importantes livros publicades nos Estados Unidos durante a déeada de 1950, 42 A gramitica gerativo-transformacional Em 1957, Avmm Noam Chomsky (nascido em 1928), professor de linguistica no MET (Masai ‘husetts Institute of Technology), publicou o live Syntactic Structures, que voio ase tornar um divisor de dguas na lingustiea do séeulo XX. Neata obra, ¢ ‘em publieagées posteriores, ele dasenvolyeu w com. Ceito de uma gramatica gerativa, que se distanciava ‘adicalmente do estruturalismo e do behaviorisma das décadas anteriores. Chomsky mostrou que +3 aunliss simttieas da frase praticadasatéentiooram inadequadasem diversos aspects, soretado porque dleixavam de levar em conta a diferenga entre os niveis “superficial” e “profimnde" da estruturagrama- tical. Nonive desuperfieie, emuiciados orn Jains ager to please ("Joao estéfvido por agradat”) e john ‘Say foplewse("Joao€ fil de agradaz”) podem ser anlsados ele maneiraidénticn; masdo porto de vista 12 de seu significado subjacents, os dois enuneiados divergem: no primeiso, John quer agradar algném; no segundo algun esi envolvido em agraar John, ‘Um dos objetivas principais da gramética gerativa cra oferecer um meio de andlise dos enuncindos que levasse em conta este nivel subjacente da estrutura. Para gleancar esse objetivo, Chomsky tragou uma distingao fundamental (semelhante a dicotomia axguepaote de Saussure) entre 0 conhecimento quo um pesson tem das regras de uma Kingaa @ © uso efetivo desta Kingua em situagies reais. Aquele conlecimento ele se referiv como competéncia {com: ‘potence) a0 use como desempenho (performance)..A Tinguistiea,argumentou Chomsky, deveria ocuper-se como estudh da eompeténcia, ¢ nao restringir-se a0 desempenho — algo que era caructerstico dos estudoslinguisticos anteriores em sua dependéncia de amostras (ou corpora) de fala (por exemplo, na forma de uma colegio de fitas gravadas). Tais amos- ‘tras cram inadequadas porque 36 podiam oferecer uma Fraga intima dos enunciados que & possivel dizer nums lingua; também continham diversas hnsitagdes, madaneas de plano outros errosdede- sempenko. Osfalantes usam sts competéncia parait muito além das limitagdes de qualquer corpus, sendo ‘apazesde cri ereconheoer enunciadasinétas,e deidemtcarctros de desempenho. A descricio das regeas que governam a estrutura desta competéacia ra, portanto, 0 objetivo mais importante ‘diva do imperialismo norte-americano, Chomsky un dos pensadores mais importantes da historia contemporaza, Estatistcas mundi revelam que ele se encontea entre os des autores mais citados fm todas as ciéncias kmmanas (a frente de Hegel € Cicero e depois de Murs, Lenin, Shakespeare, a Biblia, Aristoteles, Plato e Freud, nesta orem), Entre as esvolas rivais do gerativismo estio ‘ tagmémica, a dramatica estratificacional e a Hs. cola de Praga, A tagmémica ¢o sistema de auslise Hinguistica desenvolvido pelo Finguista americana Kenneth L. Pike ¢ seus colaboradores em eonexao ‘comseu trahalho de tradutores da Biblia. Suas bases foram langadas duraate os anos 1950, quando Pike sedistancion, em vérios agpectos, doestruturalismo ‘16s-bloomfieldiano, e desde entio tem sido progres. sivamente laboradas, A andlie tagmémica fer sido ‘sada para qnalisar wn grande-niimero de Wnguas até entio no reyistradas, sobretuda nia América Central e do Sul e na Afriea ocidental. A gramitica estratiicacional, desenvolvida ‘nos Estades Unidos pelo linguista Syiiney M. Lamb, fem sido vista por alguns linguistas como uma al. fernativa a gramatica transformacional. Ainda nio totalmente exposta ou exemplificads de modo abran- gente na andlise de linguos diferentes, a gramética stratifcacional talvez seja mais bem caracterizada como uma modificacdo radical da Hinguistica pes. ‘bloomfieldiana, mas tem diversos tragos que aligam 40 estruturalismo europeu. 1365, A Escola de Praga foi mencionada anterior. ‘mente por sta importincia no periodo imediata ‘mente posterior & publicagio do Curse de Saussure ‘Vérias de sas ideiascaracteristicas (em particular, 4 nogdo de tragos distintivos em fonologia) foram assumides poroutras esoolas. Mas tem havido muito desenvolvimento ulterior na sbordagem funcional da frase, uma heranga de Praga. O trabalho de M A.K Halliday (nascido em 1825) na Inglaterra se inspirou originalmente na obra de Firth (a citalo), ‘mas Halliday oferecex: yma teoria mus sistomatiea e abrangente da estrutura da lingua que a de Firth A teoria de Halliday recebe a designagio de lin usta sistérnica e vem sendo deseneolvida deste 0 anos 1960, Nela, a gramatica € vista como uma rede de “sistemas” de contrast inter-relacionados; -$¢ portictlaratengao aos aspectos semanticos ¢ peoutey Wadia pus agaaasea entonagdo € usadla na expresso do significado, 4.5 A Escola de Praga e o funcionalismo © que hoje 6 designado em geral como Escola de Praga compreende tum grupo bastante amplo de pesquisadores, sobretudo europeus, que, embora possam nio ter sido membros diretos do Cireulo Linguistico de Praga, se inspiraram no trabalho de Vilem Mathesius, Nikolai Trubetzkoy, Roman Jakobson e outros estudiosos baseados em Praga na Aeada que antecedeu 0 1 Guctra muna © aspecto mais earacteristico da Escola de Praga é sua combiniagdo de estruturalisia com funcionaiismo, Este ultimo termo (tal como “es- truturafismo”) tem sido tsado numa variedade de sentitlos na lingufstiea, Aqui ele deve ser entendido como implicando uma apreciagao da diversidade de fungdes desempenhadas pela lingua ¢ um reco- hecimentn tedrico de que a estrutura das linguns 4, om grande parte, determinada por suas fungoes caracteristicas, 0 funcionalismo, tomiado neste sen- tido, se manifesta em muitos dos postulados mais éspecificns da doutrina da Escola de Praga, Uma odlebre ansliso funcional da linguagem que, embora nao oriunda de Praga, teve muita in- Aluéncia ali foi a do psicslogo alemao Kar! Bishlcr, que reconhecet trés tipos germs de fungdes desem- penhadas pela Kngua(gem): Darstellunafioutkion, Kundlgabefinnktion e Appelfunktion, Esses terinos podem ser traduzidos, no atual eontexto, por fungio cognitiva,funedo expressiva e funcao conativa (ow insteumontal). A funeilo cognitiva da linguagem se rofere a seu emprego para a transmissio de informa ‘factual; por fungdo expressiva se entende a ind cago da disposigio de animo on atitnde do locutor (ou eseritor);¢ por fangao conativa da linguagem se entende seu so para influenciar a pessoa com ‘quem se es falando, ou para provocar algum efeito pritico, Alguns pesquisadores vinculados a Escola dle Praga sugeriram que essas trés fungées corres: podem, em vérias Kngaas, ao menos parcialment, 18 as eategorias gramaticais de modo e pessoa, A fan- ko cognitiva € desempenhada earacteristieamente pelos enunciados ao modais dle 2 pessoa (isto &, ‘emuingiadas no modo indicativo, que nio faze ‘aso de verbos modais como poder, dever; fico expressiva, por enanciados na I" pesion no modo subjuntivo ou optativo, e 2 fungi conativa por temuiciadas de 2 pessoa no imperativo, A distingio fuucional dos aspectos cognitivo « expcessivo ta ‘bém foi aplicada pelos linguists da Escola de Praga mn set trabalho sobre estilistiea ¢ ertien litera Unde seus prineipios chave éo de que a liga esta send tsada poeticamente ou esteticamente quarto predomina o aspecto expressivo, ede que 6 tipico da fungio expressiva da inguagem manifest forina de um enunciado e nao simplesmente nos significados das palavras que 0 compoem. ‘A Bescola de Praga é mais conhecida por seu trabalho 1a fonologia. Diferentemente dos fono- ‘ogistas amesicanos, Trubetakoy e seus colabosa- dores nao consideram o fonema como a unidade ‘minima de andlise, Em ver disso, definem os fone tas como feixes de tragasdistintivos, Por exeamplo, in portuguts, /b/ difere de /p/ da mesma maneira como fa difere de /t/ ¢ /g/ de /k/. De que modo cexato cles diferem em termos de sua articulagao € uma questo complexa. Para simplificar, pode se dizer que existe um tinico trago, ctuja presenga istingue /o/,/d/ /8/ de fp, /U/ e/k/, este trago 6a sonoridade on vorcamento (vibragdo das cordas 19 ‘vocals, De igual modo, o trago de labitidade pode ser deduzido de /p/ e /b/ quando comparadas a /t, dl, Pd @ ffs 0 trago de nasalidade, de /n/ ¢ /nvi ‘quando comparados com /t/e /d/, de wm lado, ¢eom, /v/ 2/b/,dooutro. Cada fonema, entao, écomposto dde um miimero de caracteristicas articulanériase se torna dlstinto de eada outro fonema da lingua pela presence on ausénicia de ao menos um trago, A une distintiva dos fonemas pode ser relacionada 4 fungao cognitive da lingtagem, Esta andlise dos, ‘rapos distintivos da fonologin da Escola de Praga, tal como desenvolvida por [akobson, se tornou parte do arcabouco criado para a fonologia gerativa, ois eutros tipos de fungio fonologicamente relevante também sao reconthesidas pels linguistas da Fscola de Praga: a expressiva ea demarcativa. O primeizo terma éenypregado aqui no sentido em que ‘empregael acima (isto é, em posi a “engnitivo”) E caracteristico do acento, da entonacto e de’ outros ‘raqas suprassegmentais da lingua que sejam frequen- femente expressivos do énimo ou atitude do falante neste sentido, O ternio demarcativo é aplicado aos elementos ou aspectos que, em linguns particulares, servem para indicar a ocorréncia de fronteiras de palavras ¢ frases ¢ prestimivelmente, toram mais ficilidentifear essas unidades gramaticais no fluxo da fala, Existem, pot exemplo, diversas kinguas em «que © conjunto de fonemas que podem ocorrer no inicio de-wuza palavra difere do vonjunto de fonemas que podem ocorrer no fim de uma palavra, Este & 0 ‘outros dispositivos slo descritos pelos fonologisas de Praga como tendo Fungio demarcativa: sto indi ‘adores de fromteiras que tetorcar a identidade ¢ @ tunidade sintagmética de palavras ¢ {rises ‘A nogdo de mareacao foi desenvolvida, pri ‘meiramente, na fonologia da Escola de Praga, em segiuida se estendew & morfologia e 0 sintaxe ‘Quando dois fonemas siodistinguidos pela presen ‘ow austincia de um tinico tragodistintiv, diz we que tum deles € mareado e o outro, ndo marcaclo par © ‘rago em questio. Por exemplo,/b/ é mazcade /3/ é nio mascado com respeito & sonoridadle, De igual ‘modo, na mosfolodia, o verbo regular inglés pode ser chamado de marcado no tempo passado (pela sufixagdo de -ed), mas nfo marcado no presente (cf. jumped versus jump). Frequentemente, wma forma nfo marcads tem um espectro mais amplo de ocorréncia € um significado menos definidlo do que a forma morfologicamente mareada, Pode se alegar, por exemplo, que enquanto 0 tempo ppassado inglés (om poriodos simples ou na oracio principal de periods compostos) se efere defini- tivamente ao passado, o assim chamado presente do indicativo € muito mais neutso com relagio referéncia temporal: ele & nfo passado no sentido de que deisa de marear o tempo como passado, ‘mas nao é marcado como presente, Existe também um sentido mais abstrato da marcagio, que ¢ inde- pendente da presenga ou auséncia de tm traco ou fino explicit, As palavras eva eva do exes plo de mareagao deste tipo a vocabuilire: ais, nas linguas, como 0 portuus, que distinguem morfo- Jogicamente as palavras mosculinas ¢ femininas, ‘comum dizer que o feminine € « forma marcada Enquanto 9 uso da pelavra guta se restringe as ‘uteas da espécie, gata € aplicavel tanto a machos quamto a fSmeas. Egua 6. forma marcada,¢ cavalo ‘forma nio mareadae, eoro émuito usual, a forma ilo mareada pode ser neutia: ao avistar diversos animais da espécie, alguém diré que vi *rauitos avalos” e no “muitas égas”. uso negative da forma nfo morcada também é frequente: “Nao é ‘um cavalo, é uma éguua’” O prinespio da marcagao, entendido neste sentido mais geral e abstrato, hhoje esté amplamente accita pelos linguistas de diferentes escolas, ¢€ aplicado em todos os niveis da analise lingiistica © trabatho dos funcionalistas atauis leva ‘adiante as propostas fundamentais da Escola de Praga. A mais valiosa contrbuicdo feita polo fun cionilismo do pés guerra é talvex a distingd de tema e rema ea n0gao da “perspectiva funcional da frase" on “dinamismo comunicativo”, Por tema de ‘um enuinciado se entende a parte gue se refere ao que ji € conhecido ou dado no contexto (também chamado as veres, por outros eéxieos, de ten ow ‘assunto psicoégico). Por rema, a parte que veicula informagan nova (0 comentario ou predicado psico- ‘igio}. Tem-se-mostrado que, em linguas com tina ‘ordem de palayras livre (como a tcheeo¢ o lim), 0 tema tende @ proceder o rem, a despeit de o teria 142 ‘wo rema er ou nao o sujeito gramnatical, « que este principio pode operarainda de mod mais limitado, em inguas, como o portugités, com unna orden de polavras relativamente mais fxa (cf. “Eve livio cu ‘munca yi antes"). Mas outros dispositivos también) podem ser acionados para distinguir tenia ¢ rem rema pode sor enfaticamente acentuado ("Paulo ‘vin Maria") ou pole se tornar o complemento do verbo “set” naquilo que é normalmente chamnado de fre slvadn (oi Pedro que vin Mara") 0 principio geral que-tom guiado a pesquisa na syerapetivafupetonal da ase” 60 de que aes tura sinttica da frase é em parte deterinada pela fungao comuinicativa dos vérios constituintese pelo iodo como eles se relacionam com o contexto do cemuiciado. Um aspecto do funcionalismo nasini (algo diferente, mas relacionado) é isto no trabalho tual no que se chama gramética de casos. A.gra- ‘itica de casos se baseia num pequeno conjimto de fungaes sintiticas (agentivo, lneativo, henefactivo, instrumental ete), expressas de modo variado nas diferentes linguas, mas que determina aestrutura fgramatical das fases. Embora a gramutica de casos nio derive ditetamente do trabalho da Escola de Praga, é muito semelhante a ele em inspiragio. 4.6 A guinada pragmatica # comum dizer que a linguistics softe, 1 segunda metade do século XX, uma “guinad p ern conc os uMGuen rnatica”: em vex de se preocupar com a estrutura sbstrata da lingua, com seu sistema subjacente (com, a langue de Saussure ea competéncia de Chomsky), ‘muitos linguistas se debrugaram sobre os fenéme ‘nos mais diretamente ligados ao nso que 0s falantes favem da fingua. Para retomarametifora saussuria- ‘na, em ver.de se preocupar em couhecer a partitura seguida por diferentes mtsicos na execugéo de wma ricsma pega musical, 0 linguista quer conhecer precisamente em qué ¢ por qué houve diferengas na execngio, de que forma clas se manifestaram e que feito tiveram sobre o piihlico ouvinte, ‘A pnagmtica estuda os fatores quo regem nos- sas escolhaslingu‘sticns na interagao social eosefi- tos de nossas escolhas sobre as outras pessoas. Na tworia, podemos dizer qualquer cvisa que quisermos, [Na praca, seguimos um grande rimero de regras sociais (a maioria delas inconseientemente) que constrangem nosso mode de falar, Nao hei alguma que diga que no se pode contar piadas durante vm enterro, masem geral ndo se faz isso. De modo menos

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