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28 dito 2011 Traui de: Sie Ee de Pcologie P— rs. Canoga na font, Sino Navel Eres de Lis INDICE Biografia do Autor Prefiicio PRIMEIRA PARTE 1 —O Desenvolvimento Mental da Crianga recém-nascido e 0 lactente A primeira inflincia: de dois a sete anos A infiincia de sete a doze anos IV. A adolescéncia SEGUNDA PARTE 2-0 Pensamento da Crianga Psicologia e epistemologia genética ora dis Se pop td 3A Linguagem e o Pensamento do Ponto de Vista Genético NSE UNIVERSITARIA LTDA 1. O pensamento e a fungaio sim! iguagem € a logica das proposigdes 4-0 Papel da Nogao de Equilibrio na Explicagao Psicoligica 1. 0 que a nogao de equilibrio explica IL. Os modelos de equilibrio 54 Sele Estudos de Psicologia dever é momentaneamente mais fraco que um desejo definido, ela restabelece os valores segundo sua hierarquia anterior ¢ postula sua conservaedo ulterior, fazendo, assim, primar a tendéncia de menor forga, reforgando-a. Ela age, entiio, exatamente, como operagaio ls ‘ica, no caso em que a dedugto (= tendéncia superior, mas fraca) esta &s voltas com a aparéncia perceptiva (= tendéncia inferior, mas forte) e que o raciocinio operatério corrige a aparéncia atual, vol- tando aos estados anteriores. F, portanto, natural que a vontade se desenvolva durante 0 mesmo periodo que as operagdes intelectuais, enquanto os valores morais se organizam em sistemas auténomos compariveis aos agrupamentos l6gicos. IV. AADOLESCENCIA As reflexdes precedentes poderiam levar a crer que o desenvol- vimento mental termina por volta de onze anos ou doze anos, e que a adolescéncia é simplesmente uma crise passageira, devida a puberdade, que maturagaio do in fineos, que dio dos, que certa literatura psicolégica banalizou, estao longe de esgo- tar a andlise da adolescéncia ¢ além do mais desempenhariam ape- nas papel bem secun ais de pensamento € vida afetiva que devemos deserever aqui, ¢ nao algumas pertur- bagdes especiais. De outro lado, se ha um desequilibrio provisério, ndo se deve esquecer que todas as passagens de um estigio a outro sio suscetiveis de provocar tais oscilagdes temporirias, Na verda- de, apesar das aparéncias, as conquistas proprias da adolescéncia asseguram ao pensamento e & afetividade um equilibrio superior a0 ‘que existia na segunda infiincia. Os adolescentes tém seus poderes © 0 pensamento, mas, s fortalecem. Examinemos os fatos agrupando-os, para sermos mais breves, ‘em dois itens: o pensamento com suas novas operagdes e a afetivi- dade, incluindo © comportamento social, (© Desenvolvimento Mental da Crianga 55 A. pensamento e suas operagbes ido a uma crianga, 0 adolescente & u se “teorias”. A crianga no const jente ou preconscientemente, no sent formuliveis ou informulados, e de que apenas o observador exterior consegue compreendé-los, ja que a crianga nilo os “reflete’ Ou, melhor, pensa concretamente sobre cada problema & medida que a realidade os propde, e nao liga suas solugdes por meio de te- orias gerais, das quai pio. Ao contritio, 0 que surpreende no por problemas inatuais, sem relagdes com as realidades vividas no dia a dia, ou por aque- les que antecipam com a ingenuidade desconcertante, as situagdes futuras do mundo, muitas vezes quiméricas, O que que criam uma filosofia, uma Outros nao escrevem, mas falam. : Ia pouco de suas produgdes pessoais, li- ‘tém teorias e sistemas que transformam 0 mundo, em um ponto ou noutro. Ora, a obtengo desta nova forma de pensamento, por ideias ge~ rais ¢ construgdes abstratas, efetua-se, na verdade, de modo bastan- te continuo ¢ menos brusco do que parece, a partir do pensamento conereto proprio a segunda infincia. E na realidade por volta de doze anos que & preciso situar a modificagao decisiva, depois da impulso se orientard, pouco a pouco, na diregao da reflexiio, € destacada do real. Por volta de onze a doze anos efetua- se uma transformagio fundamental no pensamento da crianga, que marca o término das operagdes construidas durante a segunk fincia; é a passagem do pensamento concreto para o “forma como se diz em termo barbaro, mas claro, “hipotético-deduti ‘Até esta idade, as operagdes da dda crianga se afasta do real, & simplesmente porque ela substitui 08 objetos ausentes pela representagdo mais ou menos viva, esta se acompanhando de crenga e equivalendo ao real. Por outro lado, 56 Seis Estudos de Psicologia escuros que Lili, Edi clara que Suzana. Qual das 09s cabelos mais eseuros?” Respondem em geral que, sendo morenas, Edith e Suzana sendo claras, Lili & a mais moren: Suzana, a mais clara, e Edith, meio clara, meio morena. S6 alcan- ¢am, portanto, no plano verbal, uma seriaglo por pares nio coorde- nados, do mesmo modo que os de cinco ou seis anos nas seriagdes coneretas. E por este motivo, em especial, que sentem uma tal di- ficuldade em resolver na escola problemas de aitmética, embora peragdes bem conhecidas. Se manipulassem os objetos, raciocinariam sem ob: sob forma de tomaram-se mi sem realidade 10S, 0 pensamento formal torna-se possi- comegam a ser transpostas do plano etc,), mas sem 0 apoio da percepgdo, da e da crenga, Quando se diz, no exemy tem cabelos mais escuros que Lili ete.”, coloca-se, na verdade, no abs- 's personagens ficticios, que para o pensamento so apenas hipoteses. E sobre estas que se pede para ra pensamento formal é, portanto, “hipotético-deduti de deduzir as conclusdes de puras hipéteses © de uma observago real. Suas conclusdes so vilidas, mesmo inde- pendentemente da realidade de fa de pensamento envolve uma dificuldade e um trabalho mental mui- to maiores que o pensamento concreto. Quais so, na realidade, as condigdes de construgio do pensa- mento formal? Para a crianga, trata-se nio somente de aplicar as ‘operagdes aos objetos, ou melhor, de executar, ages possiveis sobre estes ol ‘© Desenvolvimento Mental da Cranga 57 ragdes independentemente dos objetos ¢ de substtui-las por sim- ples proposigdes. Esta “reflexao” é, entio, como um pensamento de segundo grau; 0 pensamento concreto é a representago de uma ago possivel, e 0 formal € a representagio de uma representaga0 de ages possiveis. Nao nos devemos espantar, entilo, se o sistema das operagdes concretas deva terminar no decorrer dos tiltimos anos dda inffincia, antes que se torne possivel “a reflexdo” em operagdes, a estas, niio So outras sendo as mesmas opera- ese ou proposi¢des. Consistem em uma plicagdes” que regulam es- .@ tradugdo abstrata das operagdes 6 depois que este pensamento formal comega, por volta dos 11 a 12 anos, é que se tora possivel a construcao dos sistemas que caracterizam a adolescéncia. As operagdes formais fornecem ao ppensamento um novo poder, que consiste em destacé-lo e liberti-lo do real, permitindo-Ihe, assim, construit a seu modo as reflexdes & teorias. A inteligéncia formal marca, entio, a libertagio do pensa- mento ¢ nao é de admirar que este use e abuse, no comego, do poder mprevisto que Ihe é conferido. Esta & uma das novidades essenciais que opde a adolescéncia a inffincia: a livre atividade da reflexdio espontinea, ‘Mas, segundo lei que ja vimos desde as manifestagdes no lac- tente, e depois durante a primeira infaincia, toda nova capacidade da vida mental comega por incorporar 0 mundo em uma assimila- ‘go egocéntrica, para s6 depois atingir o equilibrio, atravé acomodagao ao real. Ha, portanto, um egocentrismo i adolescente, comparivel tanto ao do lactente que assimila 0 univer- 30 ¢ sua atividade corporal, como da primeira infancia, que assimila ‘as coisas ao pensamento em formagao (jogo si tltima forma de egocentrismo, manifesta pela crenga na onipotén- cia da reflexdo, como se 0 mundo devesse submeter-se aos endo estes A realidade. E a idade metafisica por excelént forte bastante para reconstruir o Universo e suficientemente grande para incorpori-lo. Depois, do mesmo modo que o egocentrismo senso-motor é re- duzido, progressivamente, pela organizago dos esquemas de a¢do 5B Sets Kstudos de Psicologia ‘© 0 cgocentrismo do pensamento da primeira infiincia termina com © equilibrio das operagées concretas, também na adolescéncia 0 ‘egocentrismo metafisico encontra, POUuco a pouco, uma corregiio na econciliagao entre o pensamento formal e a realidade. O equilibrio €atingido quando a reflexio compreende que sua fungao no é con- ttadizer, mas, se adiantar ¢ interpretar a experiéncia, Este equilibrio, entao, ultrapassa amplamente o do pensamento ‘concreto, pois, além do mundo real, engloba as construgées indefinidas da dedugao ra- cional e da vida interior, B. A afetividade da personalidade no mundo social dos adultos Em paralelo exato com a claboragdo das operagdes formais ¢ com 0 término das construgdes do pensamento, a vida afetiva do adolescente afirma-se através da dupla conquista da personalidade € de sua insergao na sociedade adulta Mas, 0 que € personalidade e por que sua elaboragai Processa apenas na adoleseénci psicélogos tém por distinguir 0 eu a personalidade, e até mesmo, em certo colocé-los em oposicao, O eu é um dado, se ndio imedi ‘os, relativamente primitivo. E como se fosse 0 centro lade propria, caracterizando-se, precisamente, por seu egocentrismo, in- consciente ou consciente. A personalidade, ao contririo, resulta da submissdo, ou melhor, da autossubmissio do eu a uma disciplina Diz-se, por exemplo, de um homem, que ele tem uma ppersonalidade forte, nfio quando reduz tudo a seu egoismo e fica incapaz de se dominar, mas, sim, quando encarna um ideal ou de- fende uma causa empregando toda sua energia e vontade, Chegou- ‘se até a fazer da personalidade um produto social, estando a pessoa ligada ao “papel” (persona = méscara de teatro) que desempenha na Sociedade. E, realmente, a personalidade implica cooperagiio; a au- ‘tonomia da pessoa opde-se ao mesmo tempo a anomia, ou auséncia de regras (o cu) 4 heteronomia, ou submissio as regras impostas do exterior. Neste sentido, a pessoa ¢ solidaria com as relagdes so- ciais que mantém e produz. A personalidade comeya no fim da infancia (8 a 12 anos) com & organizagao auténoma das regras, dos valores ¢ a afirmagio da Vontade, com a regularizacdo ¢ hierarquizagao moral das tendén- © Desenvolvimento Mental da Crianca 59 ccias. Mas, hd mais na pessoa do que estes valores isolados. H sua subordinagdo a um sistema tinico que integra o eu de modo sui fe neris. Existe, portanto, um duplo sentido de particular a um determinado autnoma. Ora, este Salary nivel seusilda eo leecorkc pots mupto.o pemmsiehto formal e as construgdes reflexivas que acabamos de falar (em A). se forma um “programa de vida” a0 mesmo tempo, como fonte de 6 por isto que s6 se vengaio do pensamento € da reflexio livres, & tlabora quando certs condigdes inelectuais, como 0 pensamento formal ou hipotético-deduti ; Mas, se a personalidade implica uma espécie de descentraliza- ‘20 do eu que se integra em um programa de cooperagio € se su- bordina a disciplinas autonomas ¢ livremente construidas, acontece © saber, sentindo-se inferior ao adulto € aos mais velhos Ela se proporciona uma espécie de mundo a parte, em abaixo da do mundo dos grandes. O adolescente, 20 ccontritio, gragas & sua personalidade em formagao, coloca-se em igualdade com seus mais velhos, mas sentindo-se outro, diferente deles, pela vida nova que 0 agita. E, ent¥o, quer ultrapassé-los € . transformando o mundo. £ este o motivo pelo qual os sistemas ou planos de vida dos adolescentes sto, a0 mesmo tempo, ccheios de sentimentos generosos, de projetos altruistas ou de fervor mistico e de inquietante megalomania e egocentrismo consciente. Um professor franeés, entregando-se a pesquisa discreta ¢ andnima sobre as fantasias dos alunos de uma classe de 15 anos, encontrou i idos ¢ sérios futuros marechais da Franga a, grandes homens de todas as espé jd vendo suas estétuas nas pragas de Paris, em suma, in- Gindaon gus so tvessom pensado ale, team sido susp de 60 Seis Bstudos de Foeologta mn cre leitura dos diarios intimos de adolescentes mostra esta uistur a ic eae ira constante de devotamento 4 Humanidade € intenso Quer se trate de incompreendidi am los ¢ ansiosos persuadidos do fra- asso, due pGem em divida teoricamente) o proprio valor da vida ou de espiritos ativos persuadidos de seu génio, o fendmeno é 0 mesmo, tanto na sua parte positiva como na a com toda modésti - rleraarn salvagdo da Humanidade, organizando aa 'm fungao de tal ideia. A esse respeito, é intere > & interessante observ as transformagbes do sentimento religioso durante a adoleseenetn Como jé bem mostrou P. Bovet, a _ na infancia, —- ate cs sobrenaturais que the apresenta a educagio i L a observa, excepcionalmente, uma vida mistic ativa no fim da infincia, é, em geral, no decorrer da adolescénems, que: assumira um valor real, integrando-se nos sistemas de vida, en uais vimos a fungao formadora. O sentimento religioso do adeles. ete, porém, emborahabitualmenteintenso (enegativo is vers Lamb colores de peto ou de loge da preocupat messinice esto. O adolescente faz como que um pacto Deus ¢ 8 engi para servo sem recompens, ms comand deseo har, por isto mesr is é har, po mo, um papel decisivo na causa que se prope a geral, 0 adolescent te pretende inserir-se na sociedade dos Por meio de projetos, de programas de vida, de sistemas Imultas vezes téricos, de planos de reformas politcas ou socais {im suma, através do pensamento, podendo-se quase dizer através gh imaginasdojé que esta forma de pensamentohipotéico-dedu- iv | as vezes, do real. Assim, quando se redu: : b ly za adoles- céncia A puberdade, como se 0 impulso do instinto de amar hese 6 (© Desenvolumento Mental da Crianca 61 trago caracteristico deste iltimo periodo do desenvolvimento men- tal, s6 se esta atingindo um dos aspectos da renovagio total que © caracteriza. Certamente, 0 adolescente descobre em certo sentido 0 amor. Mas, € importante constatar que, mesmo nos casos em que ‘amor encontra um objeto, & como se fosse a projegao de todo ideal e um ser real, donde as decepedes to repentinas € sinto- talvez maior que sua matéria- © programa de vida aparece m pessoas, e seus sistemas hipoté ‘ma de uma hierarquia de valores afetivos do que a de um sistema teérico, Mas, trata-se sempre de um plano de vida que ultrapassa 0 cele est mais ligado as pessoas, é porque a existéncia que iduais Quanto a vida social do adolescente, pode-se encontrar ai como nos outros campos uma fas gativa de Ch. Baler) e uma 6 adolescente parece, muitas vezes, Nada é mais falso, no entanto, pois ele medita continuame bre a sociedade, mas a sociedade que the interessa é aquela que se pela sociedad real, lade do adolescente afirma- ivo comparar estas sociedades de Estas tém por ide essen- © jogo coletivo ou, as vezes (por causa da organizagao escolar (0 sabe tirar delas o partido que deveria), o trabalho concre- iedades dos adolescentes, ao contririo, sto, , sociedades de discussao: a dois, ou em pequenos ‘ceniculos, 0 mundo € reconstrufdo em comum, sobretudo atra- vvés de discursos sem fim, que combatem o mundo real. As vezes, também, hé uma critica miitua das solugdes, havendo, no entanto, acordo sobre a necessidade absoluta das reformas. Depois, apa- recem as sociedades mais amplas, 0s movimentos de juventude, ‘nos quais se desdobram os ensaios de reorganizagao positives e os grandes entusiasmos coletivos. 62 Seis Estudos de Psicologia A verdadeira adaptagao a sociedade vai-se fazer automaticamen- fe, quando o adolescente, de reformador, transformar-se em realiza- dor. Da mesma maneira que a experiencia reconcilia o pensamento formal com a realidade das coisas, o trabalho efetivo e constante, desde que empreendido em situagdo concreta e bem definida, cura todos os devaneios. Nao é cias © com os desequi 3s melhores entre os adolescentes. Se 0s estudos especializados nao sto sempre suficientes, o trabalho profissional, uma vez superadas as tiltimas crises de adaptagao, res- tabelece seguramente o equilibrio e marca, assim, o acesso 4 idade em definitivo. Ora, percet , que aqueles que, entre quinze e dezessete anos, nunca construiram sistemas inserindo seu programa de vida em um vas- {0 sonho de reformas, ou aqueles que, no primeiro contato com a vida material, sacrificara dos onze ou doze anos e a obra ulterior do homem, Assim é 0 desenvolvimento mental. Como conclusto, pode-se Constatar a unidade profunda dos processos que, da construgao do . devido a inteligéncia senso-motora do lactente, trugdo do mundo pelo pensamento hipotético-dedu. tivo do adolescente, passando pelo conhecimento do universo con. cteto devido ao sistema de operagdes da segunda infaincia. Viu-se Como estas construgdes sucessivas consistem em descentralizagio do ponto de vista imediato ¢ egocéntrico para situi-lo em coorde- ‘ago mais ampla de relagées € nogdes, de maneira que cada novo agrupamento terminal integre a atividade prépria, adaptando-a a uuma realidade mais global. Paralelamente a esta elaboragio inte- lectual, viu-se a afetividade libertar-se pouco a pouco do eu para se submeter, gragas a reciprocidade e & coordenagio dos valores, as Ieis da cooperagao. Bem entendido, ¢ sempre a afetividade que constitui a mola das agdes das quais resulta, a cada nova etapa, esta ascensio progressiva, pois é a afe que atribui valor as ativi- ddades e Ihes regula a energia. Mas, a afetividade no é nada sem a © Desenvolvimento Mental da Crianca 63 inteligéncia, que the fornece meios ¢ esclarece fins. E pensamento pouco sumério e mitol6gico atribuir as causas as grandes tendéncias ancestrais, como se as at . Ea razdo — que exprime as formas superiores deste equilibrio ~ redne nela a inteligéncia e a afetividade.

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