You are on page 1of 30

FACULDADE DE ENGENHARIA

Departamento de Engenharia Geológica 


Curso de Licenciatura em Engenharia Geológica

GEOQUIMICA
AULA-5

GEOQUÍMICA DE ROCHAS SEDIMENTARES


SEDIMENTAÇÃO COMO PROCESSO GEOQUÍMICO

 A sedimentação pode ser definida como a interacção entre a atmosfera e a hidrosfera


com a crusta terrestre.
 Os vários aspectos da sedimentação são usualmente descritos em termos dos seguintes
processos:
(1) meteorização; (2) transporte; (3) deposição e (4) diagénese
Como os minerais presentes nas rochas ígneas são os constituintes originais da crusta
terrestre e a maior parte destas fases minerais são instáveis em ambiente superficial, os
processos que ocorrem à superfície consistem essencialmente no reajustamento das fases
minerais de altapressão e temperatura para condições oxidantes, ácidas e de baixa
temperatura – METEORIZAÇÃO.
 Os minerais alteram-se pela acção do oxigénio, ácido carbónico e água e dão origem a
novos minerais, mais estáveis nas novas condições.
 A rocha alterada desagrega-se fácilmente e os seus constituintes são transportados pelo
vento, água ou gelo e tanto podem ser depositados sob a forma de sedimentos como
manter-se em solução.

 O problema fundamental da geoquímica da sedimentação é o da decomposição química


de alguns minerais e a formação de novos minerais.
 Uma vez que os minerais do grupo dos silicatos representam mais de 90% da crusta
terrestre, as reacções que envolvem estes minerais assumem um papel determinante nos
processos superficiais.
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS ROCHAS SEDIMENTARES

 A composição química das rochas sedimentares é ainda mais variada do que a


das rochas ígneas porque os processos sedimentares acentuam a diversificação
química.
 Existem rochas sedimentares em que:

(1) a % de SiO2 ultrapassa 99% - alguns quartzo-arenitos


(2) a % de Al2O3 atinge 70% - bauxite
(3) a % de Fe2O3 é de 75% - limonite
(4) a % de FeO atinge 60% - siderite
(5) a % de MgO chega aos 20% - dolomite
(6) a % CaO atinge os 56% - calcários puros
 A composição média das rochas sedimentares (Tabela 1) não é muito diferente da
das rochas ígneas uma vez que as rochas sedimentares derivam, em última análise,
da meteorização das rochas ígneas.

As principais diferenças entre umas e


outras resultam de:
(1) Perda de elementos que tendem a
ficar em solução (principalmente Na);
(2) Adição de componentes da atmosfera
e hidrosfera (O2, CO2; H2O).

Tabela 1 Composição média das rochas sedimentares


As características químicas mais significativas das rochas sedimentares
são:
(1) dominância do K em relação ao Na
(2) razões Al2O3 / (CaO+Na2O+K2O) superiores a 1
(3) altos teores de SiO2 nas rochas areníticas e siliciosas de origem química (e.g.
chertes)
(4) altos teores de CaO e MgO nas rochas carbonatadas
(5) ocorrência de Fe essencialmente sob a forma férrica
Classificação das rochas sedimentares detríticas

Embora seja extremamente difícil classificar as rochas sedimentares usando exclusivamente


a sua composição química, Herron (1988) propôs a utilização do diagrama log (Fe2O3/K2O)
vs. log (SiO2/Al2O3) como base de classificação das rochas sedimentares detríticas.

Tabela 2- Classificação das rochas


sedimentares detríticas
COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DAS ROCHAS SEDIMENTARES

 As rochas sedimentares são constituídas por dois grandes grupos de minerais:


1- Minerais resistentes à meteorização química
2- Minerais novos, produzidos pela decomposição química de minerais pre-existentes.

Segundo Goldich (1938), a estabilidade dos minerais das rochas ígneas em relação aos
processos de meteorização cresce na razão inversa da sua posição na sequência de Bowen,
isto é, os minerais mais vulneráveis á alteração química são aqueles que se formam a
pressões e temperaturas mais elevadas e que cristalizam nos estádios mais precoces de
evolução magmática (figs. 1 e 2).
Embora as rochas sedimentares possam
apresentar uma grande diversidade
mineralógica, os minerais mais comuns
e abundantes neste grupo de rochas são.
(a) quartzo; (b) feldspato; (c) calcite;
(d) dolomite e (e) minerais de argila.
A glauconite, limonite (goetite e
hematite), bauxite (gibsite e boemite) e
o colofano podem também estar
presentes mas em abundâncias menores.

Fig. 1 Séries de Bowen e séries de


Goldich
 O quartzo e o feldspato têm origem essencialmente detrítica, isto é, resultam da
fragmentação de rochas pré-existentes (fig. 3).
 A calcite deriva de precipitação química de substâncias transportadas em solução.
 O carbonato de cálcio pode precipitar inicialmente sob a forma de aragonite, mas esta
tende a inverter para calcite que é mais estável.
 A formação de dolomite parece resultar da acção metassomática de águas ricas em Mg
sobre os calcários - 2CaCO3 + Mg2+ CaMg (CO3)2 + Ca2+.
 A caulinite, montmorilonite, ilite e clorite constituem os minerais de argila mais comuns
nos sedimentos e rochas sedimentares. São minerais secundários que se formam a partir
da decomposição dos alumino-silicatos. Apresentam estrutura em folhas e são sempre
minerais hidratados (fig. 3 e 4).
Fig. 3 Produtos de alteração dos minerais das rochas ígneas
Fig. 4 Fórmulas químicas dos minerais de argila
O que acontece durante a METEORIZAÇÃO?

1. Transformações FÍSICAS
 material coeso ⇒material fraturado, friável, incoerente
2. Transformações QUÍMICAS
 reações químicas ⇒material meteoririzado difere química e
mineralogicamente do material original
INTEMPERISMO FÍSICO
 Quebra por expansão térmica
 Alívio de pressão
 Congelamento e degelo da água
 Precipitação de sais agentes físicos: pressão e temperatura

INTEMPERISMO QUÍMICO

 Reações químicas diversas dependentes: dos reagentes (minerais originais da


rocha e soluções de alteração) e das condições em que as reações se processam
(clima, relevo, presença de organismos, tempo)
 • Mineral I + solução de alteração = Mineral II + solução de lixiviação
METEORIZAÇÃO QUÍMICA

 Mineral I + solução de alteração = mineral II + solução de lixiviação


 Solução de alteração = (água da chuva carregada em elementos/substâncias dissolvidas)
 Solução de lixiviação = (água da chuva modificada pelas reações do intemperismo)

Principais Reações:
 Dissolução
 Hidratação
 Hidrólise
 Oxidação
 Carbonatação
 Complexação
Dissolução : CaSO4(Anidrita) + H2O(água) → CaSO4.2H2O(gipsita)

Hidrólise:
 formação de gibbsita = ALITIZAÇÃO [2KAlSi3O8 + 16 H2O →2 Al(OH)3 + 6 Si(OH)4 + 2
(K+,OH-)]
 formação de argilomineral 1:1 (caulinita) = MONOSSILITIZAÇÃO [2 KAlSi3O8 + H2O
→Si2Al2O5(OH)4 + 4 Si(OH)4 + 2 (K+,OH-)]
 formação de argilomineral 2:1 = BISSIALITIZAÇÃO [2,3 KAlSi3O8 + 8,4 H2O
→K0,3Si3,7Al0,3O10Al2(OH)2 + 3,2 Si(OH)4 +2(K+,OH-)]

Oxidação – Redução: As reacções de oxidação envolvem perda de electrões enquanto as


reacções de redução se traduzem num ganho de electrões. Uma substância oxidante ganha
electrões e uma substância redutora perde-os. Esta reacção afecta essencialmente os minerais de
Valências de alguns elementos químicos
Factores condicionadores do comportamento dos elementos químicos

1.Potencial de ionização

 O potencial iónico de um elemento é dado pela razão entre ( Z/r), a sua carga (Z) e o
seu raio (r), e determina o seu comportamento durante os processos de meteorização.
 Os elementos com baixo potencial iónico (Na, Ca; Mg) tendem a ficar em solução no
decurso dos processos de meteorização e transporte.
 Em contrapartida, os elementos com potencial iónico intermédio precipitam por hidrólise
e os elementos com alto potencial iónico formam aniões contendo oxigénio que são
geralmente solúveis (fig. 4 e 5).
Fig. 4 Determinação do potencial iónico Fig. 5 Discriminação dos elementos de acordo com o seu potencial
iónico
pH

Define-se pH como:
 As substâncias que aumentam as concentrações de H+ nas águas, baixam o seu pH e
chamam-se ácidos (dadores de protões).
 As substâncias que diminuem as concentrações de H+ nas águas, aumentam o seu pH
e chamam-se bases (receptores de protões).
 O pH do meio tem uma influência determinante nos processos sedimentares, pois a
solubilidade dos compostos depende deste parâmetro (fig. 6)
Fig. 6 Variação da solubilidade com o pH
Eh

O Eh é um parâmetro ambiental, tal como o pH ou a temperatura (fig. 7).


 Altos valores de Eh implicam condições oxidantes
 Baixos valores de Eh implicam condições redutoras

Fig. 7 Limites de estabilidade da água líquida


Diagramas Eh - pH
Estes diagramas são fundamentais para perceber os processos geoquímicos que ocorrem em
ambiente superficial (fig. 8).

Fig. 8. Condições de Eh-pH em diferentes ambientes


superficiais
Clima

Em Climas húmidos e quentes (intertropicais e equatoriais):


(1) abundância de água, renovação das águas de percolação
(2) intemperismo químico > intemperismo físico
(3) pH entre 5 e 6
(4) minerais II pobres nos constituintes solúveis
(5) pobreza em minerais I inalterados
(6) rápida mineralização da matéria orgânica
(7) cores avermelhadas
Em Climas quentes e secos
(1) evaporação > precipitação (sem renovação das soluções)
(2) cristalização de sais pH alcalino (7,5 a 9,5)
(3) intemperismo físico > químico
(4) abundância de minerais I inalterados
(5) minerais II refletindo a composição inicial, ricos em sílica e bases
(6) vegetação escassa
 em T > : m.o. rapidamente oxidada e cores marrons eavermelhadas
 em T < : m.o. parcialmente mineralizada e cores acinzentadas
Climas temperados: Climas frios: acidólise total e parcial:
(1) hidrólise parcial bissialitização (1) podzolização (dissolução) e bissialitização
(2) reações químicas retardadas  reações químicas intensas
(3) acumulação de matéria orgânica  produção de ácidos orgânicos complexantes cores
(4) cores esverdeadas e acinzentadas acinzentadas
Relação entre intemperismo e latitude (Strakhov, 1967)
Topografia

a - boa infiltração e boa drenagem:intemperismo químico favorecido


b - boa infiltração e má drenagem: intemperismo químico desfavorecido
c - má infiltração e drenagem superficial favorecida:intemperismo físico
maior

You might also like