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“NSO podemos comegar com a divida completa. E mister comecar fom theos as preconceites que possul- mos nO momento EM que Comegamos a estudar filosofia. Os precanceitos ndo podem set banides por uma maxi- ma; no fundo, nem nas passa pela ca- beca que possamas duvidar deles, O ceticismo inicial acaba por ser auto-ilu- sio, nao é uma duvida real; © nenhum seguidor da métode cartesiana descan- sa enquanta io recuperar as crengas @ pos de lade apenas formaimente. um rodeia indtil ir até 0 Pélo Norte para chegar a Constantinopla descen- do regulammente ao lango de um meri- diano, Uma pessoa pode no curso de seus estudas encontrar razdo pera duvie dar daquilo em que comegou por acre= ditar; mas nesse caso duvida porque lem uma razdo pasitiva para fazedo e hbo por ordem da méxima cartesiana, Nao vamos agora duvidar em filosofia daguile que nde duvidames em nassos coragdes,” PEIRCE: O Espinto do Cartesianisme tem Escritos Publicados) “CO pragmatismo nao resolve ne- hum verdadeiro problema. Mostra apenas que pretensos problemas mio sto problemas reais. Quando chega- mos a questies como a imortalidade, anatureza da conexaa do espirito e da matéria (ou ainda se o espirito age so- bre a matéria nda como cause mas co- mo fei, ficamos no escuro, O que 0 pragmatismo faz nestes casos € apenas abrir © intelecto para receber, no pa ra fomecer provas.” PEIRCE: Cavta a William James “Tanto mais deve a matemstica re+ cusar qualquer subsidio por pane da Psicologia, tanto menes pode renegar sua canexio intima com a légica, Na verdade, partilha a opinio daqueles que considerar impraticdyel uma: se- parayau precisa entre ambas,”” FREGE: Os Fundlamentos da Avitnetica Os PensadoréS CIP-Brasil. Catalogagio-na-Publicagio ‘Cimara Brasticica do Livro. SP Peirce. Charles Sanders, 1839-1914. Escrites. coligidos / Charles Sanders Peirce 5 selegdo de Armando Mori D’Oliveira ; tradugio de Armando Mora D'Gliveira e Sérgio Pore- ringblum. Sobre 2 justificagio cieatifica de uma conceltografia : Os furda mentos da aritméticn / Gottlob Frege ; selecio « tradugio de Luis Henei- que dos Santos. — 3. ed. — Siu Paulo : Abril Cultural, 1983, (Os pensacores) Inclui vide ¢ obra de Peirce e Frage. Bibliografia. 1. Fenomenologia 2. Linguagem - Filosofia 3. Légica simboliea ¢ ma- emitica 4. Pragmatisma 5, Semiotica |. Krege. Gottlob, 1848-1025, II. Oli- veira, Aemando Mora d THT, Santos, Luis Henrique dos. IV, Tinalo, ¥. Ti tla: Sobre a justificacio cientifiea de wna conceitugrafia. VI. Titulo: Os fundarsenton da aritmetica. VIL. Série. We18, CDD-149.04 Ie 18, I.¢ 18. 17, 18. Ve 18 Indices para catilogo sistematica: 1, Fenomenologis : Filosofia 142.7 (17. © 18.) Linguagem : Filosofia 401 (17. © 18.) Leéigien matemtiea tet (17,) 511.3 (18.) Logics simboliex 164 (17,9 511,3 (18,) Pragmatismo : Filosafia 144.3 (17, ¢ 18.) , Semidtica + Filosofia 149.94 (17. e 18.) oe hee CHARLES SANDERS PEIRCE ESCRITOS COLIGIDOS GOTTLOB FREGE SOBRE A JUSTIFICACAO CIENTIFICA DE UMA CONCEITOGRAFIA OS FUNDAMENTOS DA ARITMETICA Sclogio ¢ vadugio de Luis Henrique dos Santos 1983 EDITOR: VICTOR CIVITA ‘Thmtos origina: ‘Testos de Peeve (skesionades da obra Callcsed Papers af Charles Somers Peirce}: Preface — hook 1. salute fs “Dated Clason 9f the Sciences — chapter 1, Rook seme Jnicodaction — chapter |, book {il. vohime I Th Caters Bead —ehap tk I voli ‘The Doctrate af Chasers — chapter VI, Book 117. volume il; The Probabibite of Inducvion — chapter Vil, book It, velar Tl; A Definition of Pragmatic and Brogmotsm — 4 (rom peace, walume Vi Hatorical Affinities and Genesss — § 3 from preface, volume Vi ‘Pragmatism: The Normative Scumcer —Lectat L. volute Ve ‘The Universal Categories — Lecture Il, volame > The Cotegories Comieued — Lectnre Hi, volume ¥: The Reukty of Fhardmess — Lectute 1¥, sohunve V. Pragmatic — $3, chapter VI, book It, volueie bugical incerpreianes — @ 3, chapwes i, book’ IIL, volume ¥; ‘Mehads for Astarnine Tyath — chapaes VL book iLL. volume V; Po Witt James —§ 1, § Pand § 5, chapuer V, book Ih, vokume VALI; “ihic of Termiaoiygs ~ ehagesr Ir bok We wotlce I The Archinactowt: Construction of Praytnarians — Preface, § 2, volume tt; ‘Three Kinds of Goodness — tectare 5, book volun ¥y ‘There Types of Reasoning — Lecture 6, book (, wuluiie Ve Proprnation wnat Alutuctron — Agere , book I. voluane 4 Questions Concerning Certain Faculs Claimed for Men — Pager 1, book Uy volute Yi Soate Conseencera Foir fecupacitas — Paper 2. book tl. vohanie Vs rowe’s Editon of the Work of Ge. Berkeley -— 4.8. chapter 2 haak 1 volume VIN: Lady Poly. What is Meacine? — Chagner 19, book |, volume Will: ‘Siges — § 5, chapter 5, book i}, voluine Vil “Textos de Frege: ie wisiousc hat cP ing chi eirechiy ie onscigen oe Marcin: tine fg ene eeNe Catone weber den Denil iter Zant © Comet desta iedoy Abit. A, Calvary ‘So Paula, 1974 — 2 edicto, 198) — 3? elias, FO, Prince (textos pubticados sob liceaga da Harsaed Usiversity Press, Carsbwidye, U.S.A.) Preflcio — \jsto 1, volume fe ima etassitieasco-detihada dex cléneats — cap. Is, tvro 1, volume 1p Pouroduyao =~ vay, 1, ves IL volume Ts ‘As catearias om enine — cap. 1 lino IMs volume Ts ‘A-dutrine dus probabvtisades — cap.'VE, ira walsh raid de gt — a Woe oi Def amo — #1 do peefasioy voturte Vs “Ayiniddles ¢ wnat hnsoeivas — |, preter, vokume Vi Pragmarismo. os cXncias noemativas — vonleréacia I, Value V5 As extegorles unierraan — conlexéncia I, volume As careqaras (zontinuacto} — confertncia iti, volume V; (A realdine da terceridacte — contertacia 1. v9kime N: Pragmetame — 9 3, cap, Vl. loro UI. volume Vi InterpeetaniesSigicos — & 3, sais 1s tveo UM, volume Vs Método! dara atinei a verdade — exp. Vi. lies lil, vole 4 Wibiam dames — 81,426 § 3, cap, V.livra Hh, volome Vit, Ditetos enciusivan yobre as traduces, Ari S.A, Cakura, S80 Paulo, Testo teh pice so iemga da kiana Nerpeaiva Lida. Sao Pau: “A ele datevmdugte— op. 1, Horo Dh, came 4 coma sgt do poppin 1 a They tptcas de erence ~ Cnfereciy $ Treva volume Tots ts de raviaciin — contertnca 6, lara 1. voto Prapmatam ¢ shducig — softer 9 Inf aes ‘Qinesides sobre ceria Faculdades reivinaicadas para 9 home — caxcta |, liveo Ml, walurme Vp “Alga: consrulci cas quo tacaparaiades exif} era solaie Vt ‘do Preset dg om we ©. Berey —f-43- cape 2, a, ‘Lady Wet, what & meanicg? — cop to, vume Vl Sigmos — § S. cap. 5, livra Lt, volume VIEL Frege icv see rages, ABS. Cola, Sap Paula Sabu aaiinids cnillcg ent eresimeretc ‘Ge ontrneos ds Actiice DBireleox eiclusvod shee “PEIRCE — Vids e Owen ¢ “FREOE — Vida « Qbea, Abril SA, Cultural, S80 Paulo PEIRCE VIDA E OBRA Consulvoria: Armand Mora D’Oliveira Ame parte dos histuriadores da filosofia considera Charles “Santiago” Sanders Peirce como a maior e mais original pensa- dor que j4 surgiu na América do Norte. Embora até hS bem pouco tempo geralmente desconhecido para um piblica mais ampla, a in- fluéncia de Peirce sobre os filésofos americanos de sua época foi dura- doura ¢ profunda. Particularmente Josiah Royce (1855-1916), Wil- liam James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952) devem grande parte da origem de suas idéias a0 contato intelectual extremamente es- timulante que tiveram com cle. Exemplo relativamente raro de “filéso- fo maior influenciando outros fildsofos maiores”, Peirce foi o criadar da mais importante corrente de idéias surgida na América do Norte ¢ que se estendeu por tado © mundo no século XX: o pragmatism, Por $i 86, isso 0 colocaria entre 05 mais significativos pensadares da histé- ria da filosofia, mas a grande influéncia de Peirce nao parou ai. A lin- guistica, a seméntica ¢ a teoria da comunicagio, que se tornaram dis- ciplinas fundamentais no campo das ciéncias humanas no século XX, devem a Peirce conceitos @ distingdes basicas, o mesmo ocorrendo com a légica formal e com a andlise dos fundamentos ldgicos da ma- tematica, Um filésofo atormentado Todas as contribuigées de Peirce foram feltas dentro de rigoroso espirito cientifico, cujas origens podem ser remontadas até seus pri- ros anos de vida: Benjamin Peirce, seu pai, fot conhecida mate- mitico, fisico © asténomo que se notabilizou por seus estudos sobre © planeta Netuno. Assim, desde o nascimento em Cambridge, Massa- chusetts, a 10 de setembro de 1839, Peirce viuse envolvido por uma atmosfera de estudos cientificos e, quando chegou o momento de in- gressar na Universidade de Harvard, escolheu as cursos de fisica e matematica. Formade em 1859, obteve a posto de fisico em um 6r- kao federal dedicado a yesquinas geudesicas, Quatro anos depots, conclula o curso de quimica na Lawrence Scientific School, ao mes- mo tempo que trabalhava no observatério astranémico de Harvard, Tanto come fisico, quanto como astrénomo, Peirce desenvolveu pes- quisas originais que Ihe angariaram certo rename, sobretudo a desco- berta de erros nas experiéncias gue se valiam do péndulo para deter- minagao da forca de gravidade. Ao lado dessas atividades, Peirce de- dicava-se tao intensamente 3 filosofia, que, durante trés anos, estu- dou duas horas por dia a Critica da Razdo Pura, de Kant (1724-1804), chegande a decord-la, Em pouro tempo seus trabalhos originais em Vill PEIRCE légica e filosofia deram-the reputacao, a ponto de ser indicade para a fungio de conierencisia de légica na recém-fundada Universidade Johns Hopkins, Nessa escola, Peirce lecionau de 1879 a 1884. Apesar de todas as qualidades intelectuais de Peirce, sua carreira universitéria ndo foi bem-sucedida. Personalidade instavel e comple- 42, 0 filésofo teve uma vida pessoal muito atribulada, que o prejudi- Sou _nas atividades docentes. Em 1862, casou-se com Harriet Melusi- fa Fay, de quem se sabe apenas que era mulher da alta sociedade ¢ muito respeitada nos circulos de Harvard. © casal nao teve filhos ea esposa abandonou 0 marido em 1876. Q divércio consumou-se em 1883, quando enléo Peirce casoy com uma francesa, Juliette Frorsy, cam a qual também néo tove filhos. Seus Gltimos anos foram marcas dos pela enfermidade © par extrema pobreza, a ponto de ser sustenta- do por seu grande amigo William James [o nome “Santiago”, Saint Ja- mes em espanhol, foi uma homenagem a William lames). Em 1887, depois de herdar algum dinheira, Peirce retirou-se pa ra Milford, Pensilvania, onde viveu em relativa isolamento até a mor- te, em 19 de abril de 1914, Os habitantes de Milford nao tinham dele a melhor das impress6es; era considerado um excéntrica, pouce cui- dadaso com a aparéncia, solitdrio e desregrado nos habitos. Tudo isso fez de Peirce uma figura contraditdria © controvertida, Altamente considerado nos circulos intelectuals e académicos, jamais pade ter uma vida universitéria regular, porque as autoridades. admi- nistrativas N&O queriam se envolver com suas excentricidades; autor de indimeros escritos com contribuigdes fundamentais para a histéria da filosofia, nao encontrou editores a altura e limitau-se a publicar ar- tigos em revistas secundarias; exercendo influéncia profunda sobre os filésofos de seu circulo, nado conseguia comunicar-se com os alunos ‘ou Com uM publica mais amplo. Isso, contuda, ndo 0 incomodava! “Minha obra destina-se a pessoas que desejam perquitir; os que dese- jam a filosofia mastigada, podem buscar outro rumo; ha batequins fi- loséficos em todas as esquinas, gracas a Deus,” A reconstrucao dos conceitos As obras de Peirce, publicadas esparsamente durante sua vida, principalmente em The Monist c em Popular Science Monthly, 36 to- ram reynidas organicamente a partir de 1931 (quase vinte anos ands sua morte), sob 9 titulo geral de Obras Escothidas. O tema basico des- sas obras é a idéia de que a filosofia deve abandonar todas as formas de misticismo e unir-se a ciéncia: “... em resuma, minha filosofia po- de ser descrita como a tentativa que um fisico desenvolve no sentida de fazer conjectura acerca da constituigéo do universo, utilizando mé- todos cientificos © recorrende 4 ajuda te tudo quanto foi feito por fil6~ sofas anteriores"’. Nesse sentido Peirce achava que para solucionar os problemas filoséfiens, ou aa menos encaminhar suas solugdes, impu- nha-se descabrir métodas apropriados que conferissem. significados a> idélas filosGficas em termos experimentais @ organizassem essay idéias para que pudessem ser estendidas a navos falos. A esse projeto geral foi dado o nome de “pragmalismo”, conceito que se tornou ca- da vez mais especifico em seu pensamento, Em um de seus primeiros cnsaios, Como Tomer Claras Nossas VIDAL OBRA IX Jdéias, publicado em 1878, Peirce formulou pragmatismo, conce- bendo-o come um método e salientando que ndo pretendia elaborar uma filosafia, uma metafisica ou uma teoria da verdade. Em outros fermos, 0 praymatismo nao deveria ser solugdo para este ou aquele problema, mas constituir uma técnica auxiliar, capaz de encaminhar a compreensao de problemas de natureza cientifica e filoséfica. Tal Projeto assume forma critica nos textos de Peirce, quando ele procura mostrar a falta de sentido de quase todas as afirmacdes metaiisicas, c, as vezes, até mesmo seu total absurdo. Além dessa forma critica, o pragmatismo deveria constituir um métoda de reconstrucao ou de exe plicagao dos significados de conceitos pouco clarns. Peirce estudou alguns desses conceitos, como “realidade", “peso”, “forga’’. O. pro- eedimento adotado por ele para reconstruir ou explicar significados de conceitos consiste no estabelecimenta de um conjunto de condi- ges para uma dada situacdo, ou classe de situagées, na qual uma Operagao detinida produziria um resultado definido. Assim, para di- zer que um objeto X é dura, seria necessario submeté-la a operacgio: de riscé-lo e, com isso, chegar ao resultado: X nao é riscdvel pela maior parte das substancias, Dessa forma, o conceito “duro” passaria a ter um significado pragmatico preciso: "ndo ser riscavel”, Em ou- tras palavras, segundo Peirce, para determinar o que um conceilo sige nifica é necessdrio examinar suas possivers conseqdéncias futuras, P: Fa denominar cssas conseqiiéncias, Peirce empregou a expresso “conseqliéncias priticas’, pondo em destaque, assim, a ligacda que deveria existir entre pensamento ¢ agao. Conceber o que seja coisa equivaleria a conceber coma ela funciona ou o que pede rea indices, icones, simbolos Definido o pragmatisma como a concepcao segundo a qual as coisas S40 aguile que clas podem fazer, tratar-se-ia de algo muite sim- ples, mas essa simplicidade é enganadora. © pragmatismo de Peirce € muito mais complexo do que possa parecer 4 primeira vista c sua real importincia reside nas intmeras implicagoes que foram desenvol- vidas pelo filésofo, A principal dessas preacupagdes levau-o a se dedi- car, durante a maior parte da vida, 4 elaboracéa de uma teoria dos signs. Segundo Peirce, nao é possivel qualquer ato de cognigao que nao seja determinado por uma cutra cognigao prévia, na medida em que todo pensamento implica a interpretacan ou representacao de al- guma coisa por outra coisa. Todo pensamento ou conceit est inex- tricavelmente ligado as fungdes de representacdo, nao sendo capaz de se interpretar a si mesmo. A interpretacao somente pode realizar se através do signo. A tearia do signo desenvalvida por Peirce é ampla ¢ camplexa, ervolvendo particularmente uma Iégica matematica € simbélica, da qual ele foi um dos pioneiros. O centro de sua tearia reside na defin cao do que seja signo ¢ na distingdo que estabeleceu entre os diver- 506 tipos de signo, Q signo ¢ entendido por Peirce como “alga que, para alguém, equivale a alguma coisa, sob algum aspecto ou capaci- dade". Nenhum signo pode ser iteralmente aquilo que significa. Se uma nuvem, por exemplo, sinal ou signa de chuva, ela nao é idénti- x PEIRCE a a propria chuva, mas téo-somente a indica, O mesmo ocore com @ palavra “chuva”, ela também 6 apenas um signo da chuva, com a qual nao se identifica. Da mesma forma, pensamento algum pade ser literalmente aguilo que significa. Em suma, as idéias ou pensamentos iplicam um objeto para a interpretacdo, um intérprete do objeto e a interpretacdo propriamente dita Da mesma forma como os pensamentos apresentam-se tiadica- Mente, todos os signos podem ser dividides em trés espécies princi- pais: fcones, indices ¢ simbolos. Q icone constitui um tipo de signo em que © significado € o significante apresentam uma semelhanga de fato, O desenho de um animal seria um exemplo de icone; 0 desenho significa 0 animal, simplesmente porque se parece com ele, Um fndi- ce € um signo que nao se assemelha ao abjeto significade, mas indi- ca-o casualmente, 6 um sintoma dele porque experimenta-se uma idade entre os dois. Lm furo de bala, por exemalo, é o indice de um tiro, como a fumaga é indice de fogo. © simbolo, ao contra- rio, opera segundo uma contigdidade instituida, ou seja, depende da adogdo de uma regra de uso. As bandeiras constituem simbalos das nag6es; entre as bandeiras ¢ as nacGes nao ha qualquer relagdo cau- sal necessaria, trata-se apenas de convengao. A quase totalidade da linguager usual, falada © escrita, 6 de natureza simbélica. Uma singular metafisica Segundo a maioria dos intérpretes da pensamento de Peirce, suas mals importantes contribuigdes foram o pragmatismo e a teoria dos signus. Peirce, contudo, desenvolveu outras idéias. Entre elas, re- leviincia especial tém sua concepgio evolucionista da realidade € @ fenomenologia que a cla se vincula. Para Peitce, existem trés diferen= tes espécies dé coisas ou fendmenos, constituindo trés categorias que designa pelas expressdes ‘primeitidade”, “segundidade” © “terceirl- dade", Na de primeiridade estdo os sentimentos ou qualidades puros, lais como prazeres, cores, sons, adores, Trata-se de fendmenos singue lares, independentes dos demais, completos em si mesmas © consti- tuindo livres possibilidades de experiéncia. A categoria da segunuida- Ge refere-se a ocorréncias reais que so relagées de duple termo, nas quais uma coisa acontece a outra: choque elétrico, resisiéncia de uma parede etc. Na categoria de terceiridade eside os fendmenos de termo tripio, que implicam conexdo entre outros dois fendmenos. Nesses fendmenos “terceiros” encontra-se uma continuidade ou lei, tais como as que aparecem no desenvolvimento do pensamento légi: co ou em algo que seia continuo. O signa é um exempio de terceir dade: algo que equivale a elguma coisa para alguém, sob certo aspecto. Essa fenomenologia, que reduz tudo as trés categarias, ligou-se, Ne pensamento de Peirce, a uma visio evolucionista do cosmo. Na ‘ordem cosmoldgica, 0 acaso seria um “primeira”, jA que pode se de- senvolver a partir de si mesmo, ou seja, possibilidades livres dao ori- Bem a maiores possibilidades. A forca ou luta seria um “segundo”, no sentido de que as possibilidades (“primeiridade"’) limitam-se umas 8 outras. Disso resultaria um “terceiro”’, a lei evolutiva que estabole- ceria uma continuidade entre © pessivel € 0 real. VIDAEQBRA XI Cronologia 1839 — Charles Sanders Peirce rasce em Cambridge, no Estado americana de Massachusents, a 10 de setembro 1840 — Edgar Allan Poe publica Contns do Grotesco e do Arabesco. 1842 — Nasce William James. 1848 — Marx e Engels publicam 0 Manifesto do Partido Comunista, a ‘© poeta americana Henry Wadsworth Longfellow escreve Kava nagh. 1851 — Herman Melville publica Moby Bick, sua obrasprima. 1855 — Publice-se Leaves af Grass, de Walt Whitman. 1856 — Nasce Oscar Wilde. 1859 — Peirce gradua-se em Harvard, 1862 — Casa-se com Harriet Melusina Fay. 1863 — forma-se em quimica na Lawrence Scientific Sehook Lincoln deere ao da escravatura, 1865 — Vitima de um atentado, Lincoln morte 3.15 de abril. 11876 — Mark Twain publica As Aventuras de Tom Sawyer. 1878 — Polrce publica Come Tormar Claras Nossas Idéias, 1879-1884. — Lecion na Universidade johns Hopkins. 1882 — Marre Ralph Waldo Emerson, aa — Apes dorclar-se de Harriet Molusina, Perce cases cam Aulcte Sissy. 1886 — Morre Emily Dickinson. 1887 — Peirce retita-se para Milford. HBB — Nasce Thomas Steams Eliot 1890 — William Jamas publica os Prinespias de Psicologia. 1897 Nascimento de William Faulkner, 1898 — Nasce Ernest Homingway, 1910 — More William James. 1914 — A 19 de abril, Peirce more, 1931 — Tem inicio « publicagio de suas Obras Eseolhidas. Bibliografia Fionn, 1. Ki: Peirce’s Philosophy Interpreted as a System, Hausor Press, New Orleans, 1960. Gawwe W, B.: Peirce and Pragmatism, Dover Publications, Nova York, 1966, Gouoca, T. A.: The Tought of Charles Sanders Peizce, University of Toronto Press, Toronto, 1950, Kaci, T, 5.: Charles Peirce, Washington Square Press, Nova York, 1961. Moos EC. ¢ Roam. R. $.: Studies in the Philosophy of Charles Sanders Peir- ce, Harvard University Press, Combridge, 1964, Mormity M. Gai The Development of Peirce’s Philosophy, Harvard University Press, Cambridge. 1961. Twomrsow. M.: The Pragmatic Philosophy of Charles Sanders Peirce; Univer. sity of Chicago Pross, Chicaga, 1953. Buck J.: Charles Feirce's Empiricisen, Nova York, 1939, Herspectives on Peirce: Critkcal Essays on Charles Sanders Peirce, organizado por Richard }, Bernstein, Yale University Press, New Hayen, 15H, Studies in the Philosophy of Charles Sanders Poiree, editade por Philip Wie- nore Harold Young, Cambridge, 1952, CHARLES SANDERS PEIRCE ESCRITOS COLIGIDOS Selegiio de Armando Mora D°Oliveira Tradugiin de Armando Mara D’Oliveira ¢ Sergio Pumerangblum (A Classificagdio das Ciéncias © Elementos de Légica) Nota do Editor Os textos de Charles Sanders Peirce que integram a presente selecao foram coligidos dos oito volumes publicadas por The Belknap Press of Harvard Univer sity, Cambridge, Massachusetts, sob o titulo Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Para melhor orientagio do leitar, indicamos a seguir. por ordem de valu- mes e livros, as referéncias desses textos: Do Volume | — Pringipios de Filosofia: 1, Livro — Orientagio Historica Geral, Preficio; 2, Livto Il — A classifieagio das Ciéncias, Capitulo Il — Classificagdo detalhada das ciénei 3. Livro Il — Fenomenologia 3.1. — Capitulo | — Intredugia; 3.2. — Capitulo Il — As categorias em detalhe: Deo Volume ll — Elementos de Logica: 4. Livro H — Gramatica Especutativa, Capitulo 1 — A ética dat terminologi S. Livro Ill — Légica Critica — B. Raciocinio ampliativo: 5,1, — Capitulo VI — A doutrina das probabilidudes: 5.2. — Cupitulo VII — A probabilidade da induga Do Volume V — Pragmatismo e Pragmaticismo: 6. Prefacio ($$ 1.2.3.5 7. Lives | — Conferéncias sobre Pragmatismo: 7.1. — Conteréncia | — Pragmatisma:as cién 7.2. — Conferéncia I — As categorias universal 7.3. — Conferéncia LI — As categorins (eontinuagao| 74. — Conferéneia IV — A renlidade da terceiridade; 7.5. — Conferencia V — Trés espécies de excelén 7.6, — Conteréacia VI — Trés tipos de raciocinio s normativas; 3.7. — Conferéncia VI — Pragmatisme e abdugia; 8. Livro II — Escritos publicados: 8.1. — Escrito I — Questdes sobre certas faculdades reivindicadas para 0 homem; 8.2, — Escrito Il — Aigumas conseqiiéncias das quatro incapacidades: 9, Capitulo VI — Que é pragmatismo? § 3 — Pragmaticismo: 10. Livro 111 — Escritos niio publicados: — Capitulo I — Uma visio do Pragnraticismo. § 3; Capitulo VI — Métodos para atingir a verdade: Do Volume VIL — Resenhas. Correspandéncia, Bibliogralia: IL. Livro | — Resenhias: tL. — Cupitulo 1 — Edigao Fraser da obra de G, Berkeley (§§ 4.5:): 11.2, — Capitulo X — Lady Welby. What is meaning?: 12. Livro Il — Correspondénci: 12.1. — Capitulo ¥ — A William James ($§ 1.2.3.5.) CONFERENCIAS SOBRE PRAGMATISMO Prefiicio § 1. Definigdo de Pragmitico ¢ Pragmatismo* 3.1.7 A antropologia pragmatics, de acordo com Kant, 4 ética pratica. Horizanie pragmitico & a adaptagio do conhecimento geral com a finali- dade de influenciar a moral. 2. | Pragmatismo é 1? a opiniio segundo a qual a metafisica ser ampla- mente clarificada pela aplicago da seguinte mixima que visa a conseguir clare- za: “Considerar os efeitos praticos que possam pensar-se como produzidos pelo Objeto de nossa concepgio. A concepgiio destes efeitos é a concepgie total do objeto”, G.) 3. Esta maxima foi proposta pela primeira vez por C.S. Peirce em Popielar Selence Monthly, 1878 (XII, 287); ¢ © mesmo mostrou como é que a maxima era para ser aplicada a doutrina da realidade, O Autor chegou a esta m4xima efle. tindo sobre a Critica da Razdo Pura de Kant. Substancialmente 0 mesmo modo de lidar com a ontologia parece ter sido praticndo pelos Estéicos, Depois viu que © principio podia ser facilmente mal aplicado. como para varrer toda a doutrina dos incomensurdveis, ¢ de fato toda a visio weierstrassiana do edleulo. Em 1896 William James publicou 0 Will to Believe ¢ mais tarde Phiioso- phical Conceptions and Practical Results que levaram o método a extremos tais que se torna necessaria uma pausa. A doutrina parece assumir que a agiio é o fim do homem — um axioma estéico que o A. destas linhas, aos Sessenta anos de idade, nie recomenda com o mesmo. impeto dos trinta. Se, pelo contrario, se admitir que a ago requer um fim, que, de acordo camo espirite da maxima, deve ser algo proximo de uma descricéo geral, entio, Partinds do resultado de nossos conceitos, para apreendé-los corretamente, afastamo-nos dos fatos praticos. e chegaremos as idéias gerais como os verdadeiros intérpretes do nosso pensa- mento, A maxima foi aprovada pelo A... apds longos anos de julgamento, como sendo de grande utilidade na clarificagdo do pensamento, Ele aconselharia que {4 Din Baldwin, Diciondrio de Filosofta ¢ Pslcotogta, vol. 2. 321-2, 1902, (N.da Edi tngtesa) © 0 primisiro nimero, i veeos também em algarismo roman, indiey © Volume, o seguinte localiza 0 pard- graf. Aqui, por evemplo, volume V, paraprate |.(N.do E.) * Kant, Anehropologte i Progmatiseher Hursieht, Preficio, Prayrmuiesel: Segundo Kant, & ester em “tela ‘so com algum objetive humane": segundo Peites, “x maneits como 0 goniieimento (saber rawontl) ext ‘clacionade com a apo humana us eonduta (finalidade racional)’, (N, do T.) 6 PEIRCE fosse praticada com conscienciosa eficicia, e isto feito, e nao antes, poder-se-A atingir um grau ainda maior de clareza, lembrando apenas que cm tiltima instan- cia os fatos praticos sfo titeis na medida em que proporcionarem o desenvolvi- mento da ravionalidade conereta; de forma que o significado do cenceito nao re- side de forma alguma em reagdes individuais, mas na contribuigdo oferecida Aquele desenvolvimento. (. . .) 4, Uma opiniao largamente difundida nos ultimos vinte € cinco anos defea- de que a racionalidade nao é um fim em si mesma, mas serve apenas de motivo para outra coisa. Se assim ¢ ou nfo, parece uma questdo sintética, que nao pode ser resolvida através do principio de contradig&éo — como se o haver uma razao para a razoabilidade fosse absurdo. Quasc toda a gente concorda em que a finali dade derradeira reside de algum mode no processo evolutive. Nao se deve partir das reagdes individuais segregadas. mas de algo geral ou continuo. (. . .) § 2. A Construgio Arquiteténica do Pragmatismo (1903) 5. ... © pragmatismo no foi uma doutrina circunstancialmente adotada por seus autores. Foi riscado e construido, para usar a expressio de Kant,* arquitetonicamente, Como o engenheiro que antes de erguer uma ponte, navio ou casa, leva em conta as diferentes propricdades dos materials; ¢ no usa ago, pedra ou cimento que nfo tenham sido testados antes ¢ os dispie segundo processos minutados, assim também, a0 construir a doutrina do pragmatisma, so analisa- das as propriedades de todos os conccitos indecomponiveis ¢ seus processos de composigiio possiveis.(.. .) 6. Mas qual é o objetivo do pragmatismo? Que é que se espera dele? Espe- ra-se que ponha um termo és disputas filos6ficas que a mera observagao de fatos nao pode decidir, ¢ na qual cada parte afirma que @ outra é que esté errada, O mo sustenta que ambos os adversarios lavram no equivoco. Atribuem sentidos diferentes as palavras, ou usam-nas sem qualquer sentido definido. O que se deseja, entiio, é um métoda capaz de determinar o verdadeiro sentido de qualquer conceito, doutrina, proposigao, palavra, ou outro tipo de signo, © objeto de um signo é uma coisa; 0 sentido outra, O objeto é a coisa ou ocasido, mesmo indefinida, 4 qual o signo se ha de aplicar; o sentido é a idéia que ele liga ao obje- to, tanto por via de mera suposigao, ou ordem, ou assergao, 7. Cada idéia simples pertence a uma de trés classes; ¢ uma idéia composta é. na maior parte das vezes, predominantemente duma dessas classes. Pode ser qualidade-de-sensagio, (. ..) caso em que € indescritivel; liguda 2 um objeto sem relago a nenhum outro; nao podendo ser comparada enquamto qualidade positi- va, sui generis, com outra impressdo (sensagao), porque comparam-se representa- ‘ges das sensagGes ¢ ndo as proprias sensagdes. Em segundo lugar. ia pode: ser um simples aconteciments ou fato, que se liga de imediato a dois abjetos, * Chr. Critica da Razdo Pura. A 832 B R6O_(N.da Ed. Ingiesa.) CONFERENCIAS SOBRE PRAGMATISMO 7 como experiéncia, na qual se liga ao experienciador ¢ ao objeto experienciado. Em terce:ro lugar. pode ser a idéia dum signa ou comunicagao de uma pessoa a outra (ou da pessoa consigo mesma, dum momento posterior, em relagdo a obje- tw conhecido de ambas. (. . .) 8. Mas o pragmatismo nao toma a seu cargo dizer em que consistem os sen- tidos de todos os signos, mas apenas estabelecer ui método para determinar os sentidos dos conceitos abstratos, isto é, aqueles sobre os quais trabalha o racioct- ni. Todo raciocinio que nao seja completamente vago, que deva figurar numa discussio filoséfica, requer raciocinio necessario. Tal raciocinio inclui-se na esfe- fa da matematica. (...) “A Matematica”, dizia Benjamin Peirce ja em 1870, “é a ciéncia que extrai conclusdes necessarias”;*(, . .) O raciocinio da matematica é hoje bem compreendido. Consiste em formar uma imagem das condigses do Problema, & qual estdo associadas certas permissdes gerais para modificar a ima- gem, ¢ certas hipoteses que tornam impossiveis certas coisas, Pelas permissdes achamo-nos autorizados a realizar alguns experimentos sobre a imagem, ¢ as impossibilidades por hipdteses fazem com que se chegue sempre aes mesmos resultados. (. ..) 9. Tais raciocinias ¢ todos 08 raciocinios giram em torno da idéia segundo 4 qual ao exercermos certas atos de vontade recebemas de volta certas Percepgdes eompulsérias. £ esta “considerag’io”, no caso, que certas linhas de conduta impli- quem certas expel ias inevitaveis, que & chamada “consideragzo pratica”, Assim se justifica a maxima, cuja crenga constitui o pragmatismo; a saber, Para determinar 0 sentido de uma concepgao intelectual devem-se conside- rar as conseqiiéncias praticas pensdveis como resultantes necessariamente da ver- dade da concepedo; ¢ a soma dessas conseqiénclas constituiré o sentido total da concepeao. Coad §3. Afinidades e Génese Histéricas IL... Doutrina que se pretenda inteiramente nova dificilmente escapa de ser falsa; mas a nascente do rio do pragmatismo recua na histria até onde Quisermos. Socrates banhou-se nestas aguas, Aristételes rejubila quando consegue achd-las. Flas correm até onde menos se esperaria — banhando 0 seco montao de talices de Espinosa. As limpas detinigses espalhadas pelas paginas do Essay Concerning Human Understanding (recuso-me a reformar a palavra) foram lava- das naquelas Aguas, Foram elas e no 2 dgua-de-aleatrao quem deu saude ¢ forga ds primeiras obras de Berkeley, a Teoria da Visio eo que permanece dos Princi- pios. Delas deriva a clareza que tem os pontos de vista de Kant. Augusto Comte UsOUu-as muito — pelo menos 4 sua mancira.(...) * Esta € mais) uma des “verses” da “mixin prageiitica”. Vide aud, parheraf 2. (N,deT) § PEIRCE 12, Basta quanto ao passado. Os ancestrais do pragmatismo sac bastante respeitaveis: mas a sua adogio consciente como Janterna pedibus na discuss de questcs intrincadas e sua elaboragdo como método suxiliar na investigagio filo- sofica originam-se da mais humilde souche. Foi nos anos 70 no Old Cambridge que um bando de jovens dentre nés. auto-intitulando-se meio desafiadora meio ironicamenie “Club Metafisico” — pois 0 agnosticismo campeava entio, inves- tinds com soberba contra tedas as metafisicas —, costumava reunir-se umas vezes no meu esttidio, outras yezes no de W. James. E possivel que alguns de nos- sos antigos companheiros nio se importem de ver divulgadas estas rapaziadas, embora no rancho de entio sé houvesse mingau de aveia, leite e agicar. ° Mr. Jus- tice Holmes nao levaré a mal, suponho, que recordemos com orgulho a sua cama raclagem; nem Joseph Warner.” Nicholas St. John Green era um dos mais interes sados, habil advogado, ¢ instrufde, disefpulo de J. Bentham. A sua extraordindria capacidade para extrair a verdade das velhas formulas chamava a atengiio sobre ele em toclos os lugares. Insistia fregidentemente nu necessidade de aplicar a defi- ico de crenga dada por Bain, “aquilo que capacita 0 horem a agir”. O pragma- tismo & pouco mais que um coroliirio desta definigao: assim fico tentado a ver (em St. J. Green) 0 avd do pragmatismo. Chauncey Wright, uma elebridade filo- s6fica naqueles diss, nunca faltava ds nossas reuniées. (. ..) Wright, James ¢ cu éramos homens de ciéncia, observando as doutrinas dos metafisicos mais pelo lado cientifico que vendo-as como momentos de espirito, 13. O nosso tipo de pensamento era decididamente britinico, $6 eu chegara A filosofia através da porta de Kant, ¢ mesmo as minhas idéias estavam adqui- tindo sotaque britinico. As nossas atas metalisicas foram todas escritas com palavras aladas © fugazes, ¢ eu, com a diasolugaio do clube. reeenndo que nao ficasse nenhum souvenir material, escrevi um pequeno ensaio expressando algu- mas das opinides que vinha desenvolvenda naquela época sob 0 nome de pragme- tismo. O ensaio foi recebido com uma bondade tio inesperada que me senti cnco- rajado, seis anos depois, a publici-lo aumentado @ convite do grande editor Appleton — no Popular Science Mantily. (, ..) QO mesmo ensuiv aparcceu cm 1878 (um ano depois da edigao americana) em francés na Revue Philosophique (vol. VI, p. $83); (. .-). Naqueles tempos mediewais no ousava pér em letra de forma um uso de palavra inglesa para cxprimir uma idéia que nio se adequava ao “sentido” habitual. No tinha ainda descoberto, coisa ébvia haje em dia, que se for o caso de a Filosofia figurar entre as ciéncias. a elegdncia literdria deve ser sacrificada — como os velhos uniformes brilhantes do exército — aos rigorosos requisitos da eficiéncia, ¢ que © filosofista deve cunhar termos novos para dar expressiio aos conccitos cientificos que possa vir a descobrir. {...) Mesmo em 1893, quando eu podia ter obtido a insercao da paluvra pragmatismo no Century: © Aparentemente © autor fo um tencautithe entre will oats sowiegs (i rade boiled ars {awxia eoeida). (N.do T.) © Amiga de Jameo; trabalhow com Holmes mes Commentaries de Kem, turin juvenil, sete CONFERENCIAS SOBRE PRAGMATISMO 9 Dictionary, no me parecia que a sua voga fosse suficiente para gatantir essa medida,” " (..) Velt-se © Mielondrio de Baldwin onde ead « minha formulacie origina. peguida de was exepese poco peaftinda dk James.* Pragmatiinia & wm metodo da flowaes, A Jlosofea & aquels roeno do. positivn (isto 6, cidncin ae investigugiiy todrlen que indaga gan! ¢ o fio, em contradistingio eum a matemé tics, que prosura conhecer que decore do eertas hipllexe>) qm mitt realiza obscrvagSes, mAs que se con. tenes com a experkneia brotads da vide desperta de cada homem. O ewudn dia Miesofin consist: partanus-cim fellendy, © 9 pragmuativma ¢ aquele métewlo de teexo carneterizade pur or sempre om wists a su Gale ‘dade, e a das idéias que smalisa, quer os ins sejam mazurais « de ng&0.04 sient, ©. laquola Welimschawuaiy qas «profesor James chana pragmattiace "(K, C. $, Schiller, in Pessonal Lakealismi, 1902. $3), A passaizom ue James & a segulates. .« Mr, C. Peirce presivia din grande $éF'vigd to pensomente desttin~ gado sos seus cose particulares de aplicagiin «lo peincipfa pelo qual. as bowncrys eram gus imstintiva menie © isolow.c wma filament, dando-the um doo Erege, Chama o pragmatizn "(W, James. Che Farictles of Religious Experionee, jst. 1902). Pode wer ae Ins Keemulapdo original] que © pragweattime nis & wma Wellunschaieumg, mas um metodo de reflexdo, tendo como objetivo tormar elaray as WlGias Frogmavisiice (adyivo) (pragmaristicly que tera ag saacterstivts, do peagimatisme, como. método: na flosoia Prapmatisia (substantive) (irewmatisd aqucte que professa-em floefis a peitiva do pragmatism: Assime Schiller em Oxford. sutor de fitigmas da Fsfinge.< win pragnalista, erabora ni compreenda pesleliamente 8 natureets Jo prugmaiame, (2uma falha intersolsde nyenemplar de Peirca du Cewtary Dicthamary.) (iN. de Ay "Foi omitida new seeg80, (N. doT,) |. ConrereNcia I Pragmatismo: As Ciéneias Normativas § 1. Duas Aftrmagdes da Méxima Pragmérica Cees) 5.18, Do seu lado, uma das faltas que me podem atribulr € ter feito do prag- matismo uma maxima légien em vez de um sublime principio de filosofia espe. culativa? (..) § 5. O Significado de Efeitos “Préticos” 25, Se se passar A abordagem de assuntos praticos, a vantagem do pragma- tismo ficara ainda mais realgada. Nesta esfera, o pragmatismo é adotado pelos homens de sucesso, E 0 que de fato distingue a classe dos eficientes dos que nao © sao. 26, Nao ha divida de que o pragmatismo abre um caminho muito simples para a solugiio de uma imensa variedade de questdes. Mas dai niio se segue que seja verdadeiro, Sem divida que a navalha de Ockham é logicamente perfeita. Una hipétese deve ser despojada de tudo 0 que nao é mobilizado para a explica: sao dos fatos observados. Entia now sunt multiplicanda praeter necessitate; x6 que podemos muito bem duvidar que uma unica hipdtese contenha todos os fato- res necessfirios. E sabido que a maior parte das hipéteses que a principio reuniam grande simplicidade ¢ plena suficiéncia teve que ser complicada com os progres- sos du ciéncia, 27. Qual é a prova de que os efeitos praticos de um conceito constituem a soma total do conceito? O argumento sobre que se apoiava a maxima que “cren- a” consistia em estar deliberadamente preparado pare adotar a formula crida como guia da acho. Se esta for a natureza da crenga, a proposi¢o em que se cré é uma maxima de conduta. Creio que é bastante evidente. 28. Mas como é que podemos saber que 4 crengu & apenas isso? O meu ensaio original fundava-o num principio psicolégico. A concepgao da verdade, em minha opiniao, desenvolvia-se a partir de um impulse original para agir consistentemente, ter uma intengda definida. Mas, em primeiro lugar, isto nio era claro, e em segundo lugar nao acho satisfatério reduzir tais coisas Peirge refere-ve aqui as diferencas existentes entre a sua doutrina originaria ¢ 2 “interpretago” pragma tista divulgadn pela nova geragdo © também por James, (N.doT.) 2 PEIRCE fundamentais a fatos de psicologia, Porque o homem pode alterar a sua natureza © sc ndo o fizer voluntariamente o ambiente pode fazé-lo, isto se o impulso nda for vantajeso ou adequado. Por que & que a evolugio construiu a mente humana desta forma? Hsia @ a pergunta que devemos fuzer hoje cm dia ¢ todas as tentativas para fundamentar os principios da Idgica na psicologia acabam por ser essencialmente superficiais, 29, A questdo da natureza da erenga, ou, por ourras palavras. do que seja a verdadeira andlise lgica do juizo, foi alvo das energias dos ldgicos nos tiltimos anos, A resposta pragmatistica sera satisfatoria? N&o achamos nds todos que juizo & algo intimamente ligado a asseredo? Este é 0 ponto de vista do falar corrente (ordinary speech). Ouvem-se as pessoas usando a frase “Eu digo a mim mesmo"; o ju‘zo ¢ pensade como asseegao @ si préprio, ou sigo muito semelhante. 30, & um problema simples analisar a natureza da essergdo. Para tomar um exemplo facilmente dissecdvel, obseryemos um caso no qual o elemento assertive é enorme — uma genuina assergao formal, como o testemunho sob juramento. Neste caso, uma pessoa vai perante © notirio ou juiz ¢ sabe que se nig disser a verdade nesse ato the advirio mas conseqiiéncias: ¢ o que diz afeta outras pessoas como s¢ a coisa ajuramentada tivesse para clas a natureza de um fato pereeplivo. Vemos assim que o “ato de assergac” tem uma natureza inteiramente dife- rente do ato de apreender o sentido da proposigio ¢ nao se pode esperar que uma andlise (. . . )da natureaa da assergio venhu a iluminar a ocorréncia do apreender ‘0 sentida de uma proposigiia, 31. Qual a diferenga enire fazer uma asseredo ¢ estabelecer wna apasta? Em ambos os atos O agente se submete a conseqiiéncius prejudieinis se uma certa proposigdo nio for verdadeita, $6 que ao apostar espera que o adversirio se torne responsavel pela verdade da proposigiio contritria; ao que, ao fazer uma asseredo, sempre (ou quase sempre) deseja que a pessoa a quem se dirige aceite o que ele diz. Assim no verndculo “Apostarei™ isto ou aquilo. é uma frase que expressa uma opiniio privada que nio esperamos que 08 outros campartilhem, enquanto que “vocd aposta” é uma forma de assergéio que busca fazer com que o outro acompa, nheo exemplo. 32. Parece ser uma anilise razoavel da asserg&o numa primeira olhadela no assunto. Passemos agora av juizo e a crenga. Nao ha que duvidar que um homem agird de acordo com sua crenga tanto quanto esta tiver efeitos priticos. O pro- blema ¢ se a crenga se resumird a isto, se é um mada no caso de nfo influenciar a conduta, Qual seri a influéncia no comportamento de acreditar que a diagonal do quadrada é incomensurivel ao lado? Dada uma disevepancia ¢ por minima que seja a diagonal, diferiri duma quantidade racional por menos ainda, © pro- fessar Newcomb em seu calculo ¢ outros matematicos com o mesmo estilo anti quado pensam que provaram que duas quantidades sio iguais quando conseguem provar quc diferem por algo inferior a qualquer quantidade axsinalavel, Uma vez tentei fazer dizer a Newcomb sc a diagonal do quadrado diferia ou niio de uma CONFERENCIAS SOBRE PRAGMATISMO. 13 fracdo racional, mas éle viu que eu estava insinuando e nfo respondeu. A propo- ‘Ao que a diagonal é incomensurdvel permaneceu nos livros de textos sem ser modificada. (...) Contudo, parece absurdo dizer que haja qualquer diferenga pratics entre comensurivel e incomensuravel 33. Pode-se dizer, se se quiser, que o ato de expressar uma quantidade como fragao racional & uma pega da conduta e que & uma diferenga pritica que uma espécie de quantidade possa ser exprimida ¢ 2 outra nao. Mas um pensador seré banal sc no tiver consciéncia de que admitir uma praticalidade que consisie na conduta de palavras e modos de expressio é derrubar os diques do no senso que © pragmatisme tem por objetivo impedir. O que 0 pragmatista deve exigir de pragmatismo ¢ que soja capaz de dizer: aqui est uma defini¢ao ¢ ela nao difere em nada da vossa concepgio confusa, ume vez que nio existe diferenga prdtica. Mas como impedir que 0 adversario replique que hé uma diferenga que consistc no fato de ele reconhecer uma concep do como sua ¢ outra niio? Vem a ser que uma concepeao se exprime de uma maneira impossivel para a outra. Admitindo se esta espécic de prativalidade, © pragmatismo se volatiliza. § 4. As Relagdes das Cténcias Normativas 34. O que estou tentando mostrar neste momento ¢ que o Pragmatismo é assunto de importiincia tal e provavel ¢ que a0 mesmo tempo pesam grandes di- vidas sobre sua legitimidade, que merece 0 tempo gasto num exame metddico, cientifico ¢ completo da questiio, a fim de obtermos um método Seguro para a prévia filtragem das questdes que o pragmatismo fornece. Iniciemos a pesquisa, Mas assinalemos 0 nosso futuro itinerfrio.(. . ,) Embora esta pesquisa vise verdade, seja ela qual for,-e néo se ache comprometida por nenhum vinculo com o pragmatismo, orgulhando-se dele como doutrina americana, o fato é que nio cstamos em branco no comego (num inquérite ninguém ¢ to ignorante como os advogados gostariam gue fosse). Cau 35. Motivo ja temos tanto para pensar que‘alguma verdade existe no prag- matismo como o contririo.(. .. Darei entio como existindo verdade bastante para tornur desejivel uma pri- meira vista de olhos pela ética, Pois uma ver que 0 pragmatismo nos ensina que aquilo que pensamos deve ser interpretado em termos do que estamos preparados para faver, cntho € certo que a logics, doutrina acerea’ do que devemos pensar. vem a ser uma aplicago da doutrina daquilo que delibcradamente escolhemos fazer, da Ftica, . 36. Mas nada de chave para o segredo da Etica — um fascinante campo de pensamento rapidamente semeado de algapdes — até que ajustemos primeira a 2 _Esboga'se aqui um dos uryumenios ie Pelice covitrn Descartes. Een higat da “redugio" dos vreinan', Peirce insiste em qué impossivel na prtica. por ato de “divida meiddies”,jpaorar todas as eosses crenges; © suieito deve incurpar tos sua wore do conhesimsnta. Nao hi cogita pura. (26%) ne PEIRCE nossa formula (a propria étiga), Nao importa qual seja-a dautrina Gtica adotada, tera de proceder-se sempre assim, Suponhamos a maxima de Pearson? segundo a qual toda agdo se deve orientar no sentide da perpetuacdo da familia biolbgica a que pertencemos. Surge entio a pergunta: Que principio faz supor que a tnica coisa seja a sobrevivéncia’ E sera uma coisa excelente em si mesma? Nao haveré nada mais no mundo, exceto cépula ¢ proliferagéo? Seri proliferagio coisa exce- lente separada dos resultados a que conduz? A mesma linha de raciocinio decor- rera da analise da maxima de Marshall: Agir de forma a restringir os impulsos que exigom reagdo imediata a fim de que a ordem-tlos-impulsos, determinada pela existéncia de impulsos de menor forga mas de significagio mais ampla, possa pesar por inteiro na diregao da vida, Embora nfo consiga apreender tho clare- mente quanto desejaria a filosofia deste pensador preciso porém demasiado léeni- co, acho que ele nao se colocaria entre aqueles que fazem objegio a colocagao da Etica dependente da Estética. Certamente, a maxima que acabei de ler-vos tirada do seu ditimo livro * supde que ¢ coisa excelente para um impulso realizar-se. mas no no caso de dois impulsos diferentes, Ai passa a existir uma preferéncia que depende da significeedo dos impulsos, seja 14 0 que for que isto queira dizer. Supde que haja um estado de coisas ideal. e que (independentemente de qualquer tazaio ulterior ou do modo como ¢ realizado) é considerado como bem. ou exce- lente. Em suma, a ética apdia-se numa doutrina que, sem considerar 0 que deva ser nossa conduta, divide os estados idealmente possiveis das coisas em duas Classes, admirdveis ¢ in-admi-ré-veis, ¢ empenha-se em definir precisamente o que € que constitui a admirabilidade de um ideal. (.. .) Chamo esta investigagdo de Estética, porque se diz geralmente que as trés ciéncias normativas so logica, ética ¢ estitica, (...). E evidentemente a lestétical a cigncia normativa basica sobre que se deve apoiar a ¢lica, que é por seu turno sobrepujada pela doutrina da ldgica. 37. Mas antes de atacar qualquer ciéncia normativa, aquelas que separam 0. preto do brunco, é justo que se faga uma investigaglo que justifique a tentativa de estabelecer um tal dualismo. Deye fazé-lo uma ciéncia que nao trace distingaio entre bom mau cm qualquer sentido, mas que cantempla os fendmenos como tais, abra os olhos ¢ simplesmente descreva o que se vé; nem mesmo distinguinds © real da ficgio, mas descrevenda apenas o objeto como fendmeno e enunciando aquilo que é semethante em todos os fendmenos. Hegel fez desta ciéncia o seu ponto de partida sob 0 nome de Pidnomenologie des Geistes — embora a tenha considerado num espirito fatalmente estreito —, limitande-se aquilo que atual- mente irrompe no espirito. (, ,.), ignorando a distingdo existéncia ¢ esséncia ¢ sonferindo [4 sua filosofial uma caracteristica nominalista (. . -) que esta na ori- gem do pior erro cometido pelos hegelianos, Seguirei Hegel ae chamar a esta ciéncia Phenomenology, embora nio a restrinja a observagaove analise da expe- riéncia, mas estendo-a & descrigo de todos os tragos comuns ao efetivamente experienciado © a0 que pode pensur-se como tendo essa possibilidade. (. . .) Vela sea Grammar of Setence, inteodugiun. pp. 26-7,(111).(N. di Ea. Inglese,) Hency R. Marshall. insvivct aad Reason, p. $69, 1898, (N, Ja td. Ingiesa.) CONFERENCIAS SOBRE PRAGMATISMO. 1s 38. Hegel tinha ravao em afirmar que a tarefa desta ciéneia era trazer A loz as Categorias (...). F também que estas eram de duas espécies; Universais, as que se aplicam a todas as coisas, e a série de categorias consistinda de fases da evolugio, Em relapdo as tiltimas, fico bastante satisfeito com o fato de que Hegel nao se tenha aproximado dum catilogo correto. Pode suceder que aqui ou ali nas deambulagoes da Encyclopaedia a verdade tenha chegado a aquecé-lo. Em seus delincamentos gerais, contudo, o seu catélogo esta totalmente cerrado, no meu modo de ver. Fiz longos ¢ irduos estudas no assunto, mas nao fui capay de elabo- rar um catdlogo que me satisfizesse. Os meus estudos.® se um dia vierem a set publicados, servirao, ereio, de nuxilio aos estudiosos deste assunto grandemente dificultoso, mas nestas conferéncias pouco direi a respeito, O caso é outro. com as trés Categorias Universais que Hegel, por acaso, nem considera como Categorias, mas como os irés estagios do pensamento, Neste particular, parece-me que Hegel esti to préaimo da verdade que a minha doutrina pode até parecer uma varie- dade do hegelianismo, embora la tenha chegado por motives inteiramente alheios 40 espirito do hegelianismo, numa altura em que a minha atitude para com ele era de desprezo, Nao houve influéncia de Hegel sobre mim, a nao ser que fosse occulta, fora de meu aleance — ¢, que a existir. soa-me como arpumento a favor da verda- de essencial du doutrina, pois tanto Hegel quanto cu chegamos ao mesmo resul: tado através de caminhos diferentes. 39. A ciéncia da fenomenologia deve ser enti « base para o edificio da ciéneia normativa — ¢é a primeira, pois, a requerer a nossa atengdo. A fenomenologia é na minha opiniao a mais primitiva das ciéncias positiv Quer dizer que nfo se bascia no respeitanty aos prineipios sobre qualquer ciéncta positiva, Por ciéncia positiva entendo uma investigagio que busca conhecimento positive; conhecimento que pode ser expresso convenientemente atraves de uma Proposigdo categérica. A Logica ¢ as oulras ciéncias normativas, embora pergun- tem pelo que deve ser (, , .), sto entretanta ciéncias positivas, pois é assertando a verdade positiva, culegorica, que podem mostrar que o que afirmam como bom 08.20), 40, Talvez me perguntem se é passivel uma ciéneia que n&o tem por obje- tivo afirmar que algo é positiva ou categoricamente yerdadeiro, Respondo que nao $0 tal ciéncia é concebivel. como ainda existe, florescente e. que a Fenomeno. Jogia, que nfo depende de nenhuma cféncia positiva, nfio obstante, deve depender, para bem se fundamentar, da Ciéncia Condicional ou Hipotética da Metemdtioa Pura, cujo objetivo exclusive ndo & descobrir como a8 coisas sia agora, mas como podiam ser, se no cm nosso univers. entio em outre, Uma Fenomena logia que ndo contar com 2 matematica pura que mal atingia a maioridade & data em que Hegel escreveu, 5 Veja-sevol. iv00 LIE, para um emda deralnnde da phenonrenoingn. (Naa Pal tn Conrerencia IT As Categorias Universais § 1, Presensidade (Presentness} 41. (. ...) Pique entendido que o que temos a fazer enguanto estudantes de fenomenologia ¢ simplesmente abrir os olhos do espirito ¢ olhar bem os fenome- nos ¢ dizer quais suas caracteristicas, quer o fendmeno Seja externa, quer per tenga aum sonho, ou uma geral © abstrata da ciéncia. 42. Sao trés as faculdades com que devemos munir-nos para esta tarefa. A primeira e principal é a qualidade rara de ver o que estii diante dos olhos, eomo S€ presenta, nao substituido por alguma interpretagdio (.. .), f esta a faculdade do artista que vé as cores aparentes da natureza como elas realmente sio. Gant © pader observacional do artista ¢ altamente desejavel na fenomenologis, A Segunda faculdade com que devemos armar-noy € uma discriminagio resoluta que s¢ pendura como um bulldog daquela caracteristica que estamos estudando, (...). A teretira Paculdade de que necessitamos é 0 poder generalizader do mate. matico que gera a formula abstrata que compreende a verdadeira esséncia da caracter(stica em estudo, purificada de toda mistura adventicia. 43. Um exercicia muito moderado desta terceira faculdade basta para nos mostrar gue a palavra Caregoria possui substancialmente 6 mesmo significado em todos os filésofos. Para Aristoteles, Kant, Hegel, & categoria é um elemento dos Tendmenos com uma generalidude de primeira ordem. Segue-se dai que as eategorias so pouciis, como os elementos quimicos. A tarefa da fenomenologia & tragar um catélogo de categoria, provar sua cliciénciu, afasiar uma possivel redundancia, compor as caracteristicas de enda uma ¢ mostrar as relagdes entre elas, As catcgorias particulares formam uma série, ou conjunto de séries, estan- do presente num fenémeno apenas uma de cada vez, ou ao menos nele predomi- nando, As categorias universais, de seu lado, Pertencem a todo fendmeno, talvex uma sendo mais proeminente que a autra num aspecto do fendmeno, mas todas pertencendo a qualquer fendmeno, Nao estou muito satisfeito com esta descrigao de duas ordens de categorias, mas acho bom que as duas existam. Nio as reco- nhego em Aristételes a niio ser que categorias ¢ atributos sejam as duas ordens, Mas temos cm Kant, Quantidade. Pluralidadé ¢ Totalidade nao Ppresentes todas a mesmo tempo: Realidade, Negagio ¢ Limitagio nao presentes todes ao Mesmo tempo; Ineréncia, Causagaio e Reagio nao presentes tadas ao mesmo tempo; Possibilidude, Neccssidade ¢ Atualidade nao presentes todas a0 mesmo tempo. Por outro lado, as quatro grandes categorias de Kunt. Quantidade, Quali- ot PEIRCE dade, Relacio ¢ Modalidade, formam o que chamaria as Categorias Universais de Kant. Na comprida lista de Hegel que fornece as divisdes da Enciclopédia sao as suas Categorias particulares. Os trés estagios do pensamento, embora Hegel ndo Ihes aplique a palavra Categoria, seriam as suas Catogorias Universais. £ minha tengado esta noite limitar-me 4 Pequena Lista de Categorias, Universal. e devo dizer desde logo que considero os tres estagios de Hegel. falando grosseiramente, a lista correta das Categorias Universais. 44, Quando algo se apresenta ap espirito, qual é a primeira caracteristica qué se nota{...)? A sua presenridade, certamente. Axé aqui Hegel esta certo. A palavra dele é imediatidade. Afirmar, contudo, que a presentidade, a presentidade como esta presente. a presentidade presente, & abstrata, Ser Puro, ¢ falsidade téo berrante que apenas se pode dizer que a tcoria de Hegel segundo a qual o abstrato é mais primitive que o coneréto tornou-0 cego para aquilo que tinha diante dos olhos, Olbemos 0 eéu 1d fora come se apresenta visio do artista. Seri o modo poétice assim tio abstrata ¢ incalor? O presente (imediato) ¢ o que é, ndo determinade pelo ausente, passado e futuro. £ como tal, ignorando totalmente qualquer coisa outra. Conseqiientemente, no pode scr abs- traido {€ 0 que Hegel quer dizer com o absirato) porque o abstraido deve ao con- ereto @ ser que tem, qualquer que seja. (...) Imaginemos. se quiscrmos, uma consciéneia onde nao existe nenhuma comparaeda, relagdo. nenhuma multipli- cidade reconhecida, nenhuma mudanga. (...) Tal consciéncia pade ser simples odor, por exemplo, esséneia de rosas: ou uma continua dor de cabega, infinita (...) Em suma, qualquer qualidade de sensagao, simples e positiva, preenche a nossa descrigdo daquilo que ¢ tal como &, absolutamente sem relagao com nenhu- ma outra coisa, “Qualidade de sensagio” ¢ a verdadeira representante psiquica da primeira categoria do imediato cm sua imediatidade, do presente em sun presentidade.(.. .) § 2. Conflito (Struggte) 45, A segunda categoria (universal) é “Conflite™, Imagine-se que uma pes- soa faz um grande esforgo muscular langando-se com tado-ser 0 scu peso contra uma porta entreaberta, Obviamente existe aqui um sentido de resisténcia. Nao ha esforgo sem resisténcia equivalents, ¢ a resistencia implica 0 esforgo ac qual resis- te. Ago ¢ reagao sito equivalentes. (.,.) Em geral chamamos agente a pessoa cujo esforgo & hem, sucedide, ¢ a que falha pagiente. Mas no que diz respsito ao clemento-Conflito nio ha diferenca entre ser agente ¢ pacienie. (. ..) Exemplos: uma pessoa caminha trangiilamente pelo passeio ¢ um homem carregando uma escada de mio di-Ihe uma tremenda cutueada na cabega. A impressio que 2 pes- soa tem € que o honiem bateu com a maior forga e que ela nao ofereceu a minima resisténcia, embora de {ato tenha resistido com uma forga igual ao golpe. Note se que estou usando forca no sentide da aetio de Newton *;{,, .) Assim acontece V. Piliosoptiue Nacwrabis Pruteipwy Mfackemarica, Liveo 1, Def WAN dé EX, Ingles.)

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