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170 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 4, NO.

3, MAY 2006

Monitoração e Diagnósticos de Pára-Raios a


ZnO
E. T. Wanderley Neto, E. G. da Costa, R. T de Souza, E. C. T de Macedo, UFCG.
M. J. A. Maia, Chesf.

 duração ou de alta intensidade com curta duração; reação


Abstract—Surge arresters are part of the protection system of química com a atmosfera envolvida[3], degradação do circuito
electrical substations and transmission and distribution de equalização; descargas internas (corona); circulação
networks. They avoid damages in equipments of main permanente da corrente de fuga pelos varistores, esforços
importance for the electric system, such as power transformers,
térmicos, etc.
not allowing them to be reached by overvoltages. An arrester
presenting any kind of failure may not actuate in a satisfactory 2,5 Valor de pico da tensão nominal do sistema (p.u.)
way during the occurrence of an electric surge. As a SiC
consequence, it will present an overheating which can lead to its 2,0
ZnO
complete degradation and exposing the system that should be Nível de proteção atmosférico
protected and bringing risk to those who are working nearby 1,5 Nível de proteção de manobra
[1]. In order to avoid this kind of problem, several monitoring
techniques are used. The measurement of leakage current and Tensão nominal
the thermal analysis are the most used of these techniques. A 1,0 Tensão de operação contínua
work being developed in the High Voltage Laboratory of the
Universidade Federal de Campina Grande together with the 0,5
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco has the main
Valor de pico da corrente (A)
purpose of developing a technique to be used for arrester
0,0
monitoring by means of continuous analysis of its leakage
0,1 10 1000 10000
current and variations on its thermal patterns, resulting in a
useful tool for the diagnosis and preview of failures in ZnO Fig. 1. Característica v x i de pára-raios de ZnO e SiC, [6].
arresters.
Embora os pára-raios venham sendo utilizados a alguns
Key-words—Arrester, leakage current, monitoring, thermal decênios, ainda não existem técnicas de diagnóstico
image. consensual capaz de indicar quando um pára-raios deva ser
retirado de serviço [4]. Um dos principais problemas ao
I. INTRODUÇÃO diagnosticar um pára-raios é a dificuldade de inspeção interna
dos componentes, principalmente dos varistores e juntas de
U m pára-raios a ZnO é uma estrutura bastante
simplificada,
empilhamento de
formada
elementos
principalmente
resistivos
pelo
não-lineares,
vedação. Apesar disso, algumas técnicas de monitoração são
bastante difundidas, oferecendo bons resultados. Dentre estas
conhecidos como varistores, envoltos por um invólucro técnicas, destaque especial pode ser dado à medição da
(polimérico ou porcelana) que garante a estanqueidade (não corrente de fuga e à inspeção térmica.
permitindo principalmente a entrada de umidade e poluentes). Para o primeiro caso, o aumento permanente da corrente de
A configuração do invólucro proporciona uma maior isolação fuga resistiva está diretamente relacionado à deterioração dos
externa, corrente de fuga pequena e a sua utilização ao tempo varistores, causando o aumento principalmente a componente
[2]. Nos sistemas de transmissão, os pára-raios de ZnO são de 3º harmônico. Assim, através da análise do sinal da
diretamente instalados entre a fase e terra. Desse modo, uma componente resistiva da corrente de fuga pode-se monitorar o
pequena corrente de fuga para terra circula continuadamente estado do pára-raios [5].
pelos varistores de ZnO. Na Fig. 1 é mostrada a curva No segundo caso, é sabido que a corrente de fuga resistiva
característica de um pára-raios típico explicitando as suas e seus harmônicos são responsáveis diretos pelo aumento da
características principais. temperatura do pára-raios através do efeito joule. Dessa
Pára-raios em operação estão sujeitos a diversos fatores que forma, qualquer variação no comportamento permanente do
podem influenciar no seu desempenho, diminuir a sua vida pára-raios resulta em variação de sua corrente e,
útil ou degradar os seus elementos. Dentre estes fatores, os conseqüentemente, nos seus padrões de temperatura, o que
são: influência da tensão de operação; descargas de longa pode ser detectado através de análise térmica. A análise
térmica através das imagens termográficas é uma técnica não-
invasiva de monitoramento que vem sendo difundida há
Este trabalho foi financiado em parte pela Companhia Hidro Elétrica do bastante tempo para linhas de transmissão e equipamentos de
São Francisco através do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento gerido subestação em geral, inclusive pára-raios. Entretanto, no caso
pela ANEEL e pelo Governo Federal através da CAPES.
WANDERLEY NETO et al.: MONITORING AND DIAGNOSIS 171

do pára-raios, não existe uma metodologia específica. Cada necessário inicialmente separar as componentes capacitiva e
empresa determina os seus próprios parâmetros de análise resistiva que compõem a corrente de fuga total do pára-raios.
com base em observações e experiência dos engenheiros de Devido à impossibilidade de se medir isoladamente apenas a
manutenção. Além disso, quando um pára-raios é retirado do componente resistiva da corrente de fuga, faz-se necessária à
serviço por indicação da análise termográfica, nenhum estudo implementação de um circuito para obtenção da componente
é feito para se detectar as causas do problema com o resistiva. Na Fig. 2 é mostrado um circuito baseado no método
equipamento. Dessa forma, não há como analisar quais são as de compensação diferencial, sendo utilizado um capacitor de
maiores causas de falhas de pára-raios, ou mesmo se há alta tensão para compensação da componente capacitiva do
alguma alternativa para a substituição do equipamento, caso a sinal de corrente it.
falha não seja intrínseca ao mesmo. Assim, a simples obtenção
da imagem térmica não leva a um diagnóstico preciso. Seria
necessário fazer o processamento desta imagem e das
C Varistor
possíveis condições em que se encontra o pára-raios.
Este trabalho apresenta uma alternativa de obtenção da ic it
componente resistiva da corrente dos pára-raios de ZnO e a Vf ~
sua análise espectral. Este sistema será capaz de fazer a R r
monitoração contínua da corrente, enviando os dados obtidos ir
+
diretamente a um computador localizado na sala de comando.. -
Na implementação utilizam-se os sinais da tensão de entrada e
Fig. 2. Circuito para medição da corrente resistiva de um varistor de ZnO.
da corrente total do pára-raios e uma simulação computacional
calcula o sinal da corrente resistiva do pára-raios. Em
complementação à metodologia de análise da corrente de fuga, O objetivo do circuito é compensar a componente
também será apresentado um estudo de defeitos nos pára-raios capacitiva da corrente que circula pelo pára-raios, de modo
de óxido de zinco e seus efeitos sobre o perfil térmico dos que apenas a componente resistiva seja detectada pelos
mesmos. Para isso, foram realizados ensaios com a simulação instrumentos de medição. Isso pode ser conseguido gerando-
de defeitos, possibilitando a análise de suas influências no se no ramo do capacitor de compensação uma corrente de
comportamento do pára-raios. Estes defeitos correspondem mesma intensidade que a componente capacitiva ic no ramo
aos principais tipos de problemas que ocorrem com os pára- do varistor, e subtraindo-a da corrente total que circula pelo
raios em campo - sua análise possibilitará um diagnóstico varistor. Para se obter a corrente capacitiva do capacitor igual
mais preciso para a retirada de um pára-raios de serviço, além a do varistor se faz necessário ajustar os resistores de baixa
de levar ao conhecimento de fabricantes e usuários quais os tensão R e r, de modo que o sinal de saída do amplificador
principais problemas que atingem os pára-raios a ZnO. diferencial esteja em fase com a tensão da fonte, e assim
garantir o cancelamento da componente ic do varistor.
II. MONITORAÇÃO DA CORRENTE DE FUGA Embora o circuito mostrado na Fig. 2 apresente resultados
satisfatórios nas medições, há alguns inconvenientes. O
A corrente de fuga que flui pelo varistor apresenta duas resistor r da Fig. 2 comporta-se como resistor não-linear, que
componentes (capacitiva e resistiva). A medição e análise depende da temperatura, sendo assim, para se obter valores
espectral da componente resistiva da corrente de fuga têm se confiáveis na medição é necessário que os parâmetros do
consolidado como um parâmetro eficaz no monitoramento nos circuito de compensação sejam ajustados a cada aquisição dos
pára-raios de óxido de zinco (ZnO). Contudo, a obtenção sinais. Este procedimento torna o circuito inadequado para
precisa do sinal da corrente resistiva é dificultada pelo método medições durante um período de tempo relativamente longo
de compensação diferencial, atualmente empregado. ou sua automatização. Outros inconvenientes são: a colocação
A corrente resistiva com característica não-linear é da corrente resistiva em fase com a tensão de entrada através
responsável pelas perdas elétricas e um dos fatores do da análise visual e a suposição de que a corrente resistiva que
envelhecimento dos blocos de ZnO. Ela apresenta, em circula pelo ramo do capacitor de compensação C e do resistor
condições normais de operação do pára-raios, um valor baixo R é nula.
quando comparado a componente capacitiva. Observou-se que A seguir será apresentada uma metodologia alternativa para
o envelhecimento dos varistores provoca o aumento gradual a obtenção da corrente de fuga resistiva no pára-raios. A
da corrente de fuga e a sua componente resistiva é mais implementação sugerida propõe a eliminação do capacitor de
susceptível. O aumento sem controle da componente resistiva compensação, de modo que uma rotina computacional se
da corrente provoca o aquecimento do pára-raios com encarrega de fazer a compensação da corrente capacitiva
possibilidade de provocar uma avalanche e a sua falha virtualmente. O método proposto corrige os inconvenientes
completa. existentes no método da compensação, simplificando o
A. Medição da componente resistiva da corrente de fuga circuito e as medições.
Para a análise do espectro harmônico da corrente de fuga B. Compensação Virtual para a Corrente de Fuga Capacitiva
resistiva, e conseqüentemente o estado do pára-raios, é O método alternativo desenvolvido, batizado de Ponte
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Virtual, propõe a supressão do ramo RC do circuito de o valor máximo da componente de n-ésimo harmônico e ș
compensação (Fig. 2). A tensão aplicada ao pára-raios e a sua define o ângulo de defasagem de cada harmônico em relação
corrente de fuga total são medidas e o sinal resistivo é filtrado ao sinal transformado.
através de rotinas computacionais utilizando-se Transformada Conhecendo-se as amplitudes e fase dos harmônicos do
de Fourier e técnicas de análise de circuitos de primeira sinal Vf, o sinal V2 pode ser expresso conforme (7):
ordem. V1
V2 sen ( wt  T 1  I1 ) 
O principio de funcionamento da metodologia proposta é Z1
apresentado a seguir, utilizando-se o circuito apresentado na V2
Figura 3 e as equações de (1) a (6).  sen ( 2 wt  T 2  I 2 )  ... (7)
Z2
Analisando o circuito da Fig. 3, os sinais V2 e V3 Vn
apresentam componentes resistiva e capacitiva, de modo que ...  sen ( nwt  T n  I n ).
Zn
os mesmos podem ser expressos conforme as equações (1) e
(2). Em que Z n R 2  j ˜ (1 nwC ) , |Zn| é o valor absoluto de
V 2 V 2r  jV 2c (1) Zn e ĭn é o ângulo de Zn.
V 3 V 3r  jV 3c (2)
.
Sendo os valores de R2 e C conhecidos, pode-se
determinar a componente V2r do sinal de tensão V2. Isolando
V2r, pode-se determinar V3r conforme a (4).
V 2r  V 23 V 2r  (V 2r  V 3r ) V 3r (3)
Obtendo-se V2 de modo que V2c = V3c e realizando uma
subtração entre a (2) e a (3), tem-se:
V 23 V 2  V 3 V 2r  V 3r . (4)
O V3r apresenta a mesma forma de onda do sinal de
corrente de fuga resistiva, assim, a corrente resistiva pode ser
expressa conforme a (5).
V 3r
ir (5)
R1
Na Fig. 3, o ramo 2 do circuito, utilizado para realização da
compensação capacitiva, apresenta-se em linha pontilhada,
indicando que não é necessária a sua utilização para a
obtenção da corrente resistiva no varistor.
1 2 3

R C Varistor

Vf ~ V1 V2 V3

R3 R2 R1

Fig. 3. Circuito para medição da corrente de fuga total e ramo RC para


compensação da corrente capacitiva.

Para o cálculo do sinal V2 através de simulação


computacional é necessário conhecer previamente a forma de
onda do sinal da fonte (Vf). Sendo a forma de onda de Vf
periódico, ela pode ser mostrada como a superposição de uma
componente senoidal fundamental pura e outras senóides
puras, as harmônicas [7]. Assim, Vf pode ser expresso
conforme a (6).
Vf V0  V1 sen( wt  T 1 )  V 2 sen(2 wt  T 2 )  ...
...  V n sen(nwt  T n ). (6)
Fig. 4. Fluxograma da rotina computacional para a obtenção da corrente de
Em que Vo é o valor instantâneo em qualquer tempo t, Vn é fuga resistiva.
WANDERLEY NETO et al.: MONITORING AND DIAGNOSIS 173

Os sinais medidos, de tensão no ramo do capacitor (V2 no


Na Fig. 4 é apresentado o fluxograma com a seqüência dos circuito apresentado na Fig. 3) e de corrente resistiva no
passos da rotina computacional para a obtenção da corrente de varistor, foram comparados com os sinais gerados pela rotina
fuga resistiva. Os sinais de tensão Vf e V3 são dados de computacional e estão apresentados nas Fig. 5 e 6.
entrada do programa, assim como o valor do capacitor de Após a validação em laboratório, a funcionalidade da rotina
compensação e um valor inicial para o resistor R2. Para o foi testada em pára-raios de 230 kV em operação no sistema
cálculo da forma de onda de V2, o valor da capacitância do CHESF. Os resultados obtidos foram validados pela
capacitor de compensação C pode ser considerando constante. comparação com os resultados fornecidos através da utilização
O programa calcula o valor de V23 e verifica se o mesmo está de um LCM (Leakage Current Monitor), utilizado pela Chesf
em fase com o sinal da fonte, Vf, indicando que a corrente para a monitoração da corrente resistiva dos seus pára-raios.
capacitiva foi compensada e o valor medido corresponderá
apenas ao valor da corrente resistiva. Caso os sinais Vf e V23
não estejam em fase, um novo valor para R2 é utilizado e os
cálculos são refeitos. Nos ensaios em laboratório e nas
simulações implementas utilizou-se uma capacitância de 1.200
pF. O valor da resistência do resistor R2 é calculado através de
iterações.

C. Implementação Física
Com base na rotina da Ponte Virtual, um sensor de corrente
de fuga está sendo desenvolvido. Através deste sensor
pretende-se realizar a monitoração contínua do pára-raios,
havendo uma conexão direta entre o mesmo e um computador Fig. 5. Sinal de tensão no resistor R2 do circuito de medição (Fig. 3).
pessoal na sala de comando das subestações. Chegando ao
computador, os dados de intensidade da corrente e suas
características harmônicas poderão ser analisados,
identificando-se possíveis problemas com o pára-raios.
Um protótipo deste sensor já está sendo desenvolvido e
testado. Seus dados de entrada são a corrente de fuga total e a
tensão aplicada. A corrente de fuga é obtida através dos
contadores de descargas instalados nos pára-raios ou através
de um sensor do tipo alicate amperímetro instalado na
conexão do pára-raios com a terra. A tensão aplicada é obtida
diretamente através do TP ou TPC ligado ao barramento que
alimenta o pára-raios. Suas principais características são a
simplicidade na utilização e o custo reduzido, quando Fig. 6. Sinal de corrente resistiva no varistor no circuito de medição (Fig. 3).
comparados aos sensores de corrente de fuga existentes
atualmente no mercado.
III. ANÁLISE DE DEFEITOS NOS PÁRA-RAIOS A ZNO
D. Resultados Obtidos Os pára-raios a ZnO são equipamentos de uso
A eficiência da rotina computacional foi validada através relativamente recente nos sistemas elétricos havendo poucos
de comparação entre os sinais medidos e gerados utilizando-se dados relacionados a falhas e ao seu envelhecimento natural.
um varistor. O circuito foi ajustado para permitir a obtenção Isto porque a vida útil estimada para os pára-raios a ZnO é de
da corrente resistiva no varistor. Medições experimentais 30 anos, de forma que esse é o tempo de instalação
foram realizadas e os sinais de tensão V1, V2 e V3 referentes aproximado dos primeiros equipamentos nos sistemas
ao circuito da Fig. 3 foram adquiridos. Foi aplicado um sinal elétricos.
de tensão de pico de 3 kV ao varistor, utilizando-se um A inspeção térmica é uma rotina comum em empresas de
capacitor de compensação de 1.200 pF. Para validação, foram transmissão e distribuição de energia elétrica. No caso dos
comparados os sinais medidos de tensão e de corrente e os pára-raios, a inspeção procura identificar aquecimento
sinais obtidos através da simulação utilizando a ponte virtual. excessivo através de métodos comparativos. Ou seja, buscar
O espectro harmônico do sinal de tensão aplicado ao em um mesmo pára-raios, regiões de aquecimento
varistor, com amplitude e fase de cada componente diferenciado, buscar em um grupo de pára-raios, em uma
harmônico, foi calculado. Com os valores de amplitude e fase mesma localização de um sistema trifásico, algum que
do espectro harmônico do sinal de tensão no varistor foi apresente um aquecimento diferenciado dos demais.
determinado o sinal de tensão V2. Com os sinais V2 e V3 foi Normalmente, a detecção de alguma anormalidade no
determinado o sinal de corrente resistiva no varistor. padrão de temperatura do pára-raios resulta na realização da
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limpeza de sua superfície externa ou na sua substituição, sem serão utilizados para provocar o curto circuito em seções
que nenhum tipo de análise seja realizado para identificar as internas e externas do pára-raios a fim de se provocar uma
causas do seu aquecimento. De modo geral, não há nenhum alteração no campo elétrico que o envolve.
estudo aprofundado a respeito dos principais defeitos que - Perda de estanqueidade: Foram criados canais de
ocorrem em pára-raios a ZnO e os efeitos causados. comunicação entre o meio interno e o meio externo
possibilitando a saída de gases e troca de calor através dos
A. Defeitos em Pára-raios a ZnO
mesmos.
Apesar do pouco número de casos de pára-raios - Umidade interna: O pára-raios foi aberto e foi borrifada
defeituosos submetidos a uma análise detalhada de seu água limpa sobre a coluna de varistores.
comportamento, de modo geral, há uma série de defeitos cuja - Varistor defeituoso: Um ou mais varistores de uma coluna
ocorrência é observada com mais freqüência. Os mais comuns foram submetidos a estresses elétricos através da aplicação de
seriam a perda de estanqueidade, a degradação dos varistores, impulsos de corrente provocando a sua degradação de forma
a poluição externa, a presença de umidade interna e o acelerada. Estes varistores foram repostos na coluna em
desalinhamento da coluna de varistores. Além disso, o posições pré-determinadas para a realização dos ensaios.
aquecimento anormal do pára-raios muitas vezes é também - Deslocamento da coluna ativa: Este ensaio visa simular o
detectado como resultado da distribuição irregular de tensão deslocamento de elementos da coluna de varistores que pode
ao longo do seu comprimento. acontecer devido a trepidações durante o transporte, ou a
Cada um destes defeitos apresenta características acomodação da coluna completa devido ao armazenamento
particulares, as quais de modo geral, resultam em aumento na inadequado do equipamento na horizontal.
corrente de fuga do pára-raios. Assim, para se detectar falhas Para cada um dos pára-raios utilizados, foi feita uma
nos equipamentos, utilizam-se a medição da corrente de fuga análise do seu estado e comportamento elétrico antes de sua
ou análise da imagem térmica. Estas duas técnicas se abertura, ou seja, no estado em que foram entregues ao
encontram diretamente relacionadas já que um incremento na laboratório. Para cada um deles foi feito o levantamento da
corrente de fuga resulta em aquecimento. Entretanto, a curva característica, a análise térmica e a analise do estado da
utilização de imagens térmicas se torna mais adequada por coluna de varistores. Dessa forma foi possível avaliar as
identificar diferentes regiões de aquecimento ao longo do mudanças apresentadas durante os experimentos.
pára-raios além de poder ser executada a distância sem
interferência no sistema elétrico. C. Resultados
A análise da influência de cada um dos diferentes defeitos Para cada um dos defeitos criados, foi feita a inspeção
no perfil térmico do pára-raios é uma forma de diagnosticar de térmica e o levantamento do perfil de temperatura. Por
maneira mais precisa e confiável os principais problemas que limitação de espaço, serão mostrados apenas os resultados de
atingem os pára-raios em operação no sistema elétrico. Além um dos defeitos ensaiados – umidade interna.
disso, a manutenção preditiva se torna mais eficiente à medida Para a simulação da umidade interna, o pára-raios foi
que, em alguns casos, é possível identificar as causas de falhas aberto e um pouco de água limpa foi borrifada sobre os seus
de pára-raios, detectando-as com antecedência. varistores. O pára-raios foi então fechado novamente e sua
tensão de operação contínua foi aplicada. Os resultados
B. Defeitos Analisados
obtidos podem ser observados nas figuras a seguir.
Com a finalidade de se analisar a influência dos defeitos As Fig. 7 e 8 mostram as características do pára-raios antes
mais comuns em pára-raios a ZnO sobre o padrão térmico, da inclusão do defeito. Pode-se observar que há um
foram realizados alguns ensaios em laboratório. Nestes aquecimento mais concentrado na região central do pára-raios.
laboratórios, um grupo de pára-raios foi submetido a sua Esta característica é comumente encontrada nos pára-raios em
tensão de operação contínua e sobretensões após a criação operação, pois na sua região central há uma maior
proposital de uma série de defeitos. Cada um destes defeitos concentração de varistores e conseqüentemente, maio
buscou reproduzir condições observadas em equipamentos dissipação de calor.
com problemas retirados do sistema elétrico ou ensaiados por As Fig. 9 e 10 mostram as características térmicas do pára-
fabricantes, sendo eles: raios após a inclusão do defeito. Observa-se que há uma
- Poluição: Neste caso, será analisada a poluição seca e a acentuação da concentração de temperatura na porção médio-
poluição úmida, analisando-se a variação nos padrões de superior do pára-raios, provavelmente resultado de um
imagem térmica de acordo com o grau de poluição. O ensaio aumento na irregularidade da distribuição de tensão ao longo
de poluição úmida poderá ser realizado com a utilização de dos varistores e pela convecção térmica que apresenta uma
uma mistura salina a ser vaporizada sobre a coluna do pára- tendência a levar o vapor d’água aquecido para as regiões
raios. mais altas. O problema da convecção fica mais evidenciado
- Distribuição de potencial: Neste ensaio será analisado o pelo surgimento de um aquecimento concentrado no topo do
comportamento do pára-raios diante da distribuição irregular pára-raios, na região do terminal de alta tensão.
de tensão ao longo de sua coluna de varistores. Para isto serão
utilizadas diferentes configurações de montagem com e sem
anéis equalizadores. Em outra parte do ensaio, anéis metálicos
WANDERLEY NETO et al.: MONITORING AND DIAGNOSIS 175

apresentam-se como parâmetros promissores no diagnóstico e


36,3°C
monitoramento da degradação dos pára-raios de ZnO. A
AR02: 37,1 35 implementação para medição de corrente sugerida neste
trabalho apresenta resultados confiáveis, além de simplificar o
AR01: 36,4 circuito e as medições em laboratório e no campo. Como
30 também, torna o circuito adequado para medições durante um
período tempo relativamente longo, em tempo real e com
possibilidade de monitoramento dos sinais da tensão aplicada
26,8°C e da corrente resistiva no pára-raios à distância.
Os resultados obtidos com os ensaios de defeitos
Fig. 7. Imagem térmica antes da entrada de umidade. representam a confirmação de que a inspeção térmica através
da termovisão é um método adequado para prevenção e
Perfil de temperaturas - PR4
detecção de falhas que, apesar de não ser utilizado em todo o
seu potencial, pode ser aprimorado de modo a se tornar mais
1,5
1,45
eficiente e preciso.
Temperatura normalizada

1,4 A análise da corrente de fuga e a inspeção térmica


1,35
1,3
utilizados em conjunto representam um método poderoso e
1,25 eficiente para a monitoração, inspeção e diagnósticos de
1,2
1,15
defeitos em pára-raios. Estas duas técnicas se complementam
1,1 permitindo uma avaliação geral do estado do pára-raios e
1,05
1
fornecendo os indicativos de possíveis problemas. Dessa
0 20 40 60 80 100 120 forma aumentando a confiabilidade e a segurança dos sistemas
Comprimento (cm)
de alta tensão.
Fig. 8. Perfil de temperaturas antes da entrada de umidade.
A. Trabalhos futuros
AR01: 51,1 A pesquisa desenvolvida aponta para uma necessidade de
52,0°C
unir as duas ferramentas em um programa de análise de
50 corrente de fuga e padrões térmicos. Os primeiros passos
AR02: 52,3 foram dados com a implementação de uma rotina para a
40 simulação eletrotérmica de pára-raios [9]. Uma metodologia
para o monitoramento e análise da corrente de fuga resistiva e
30 um ensaio de reconhecimento de defeitos mais comuns em
AR03: 43,6 pára-raios foram realizados em seguida. Os próximos passos
23,7°C serão: o aprimoramento do protótipo para medição da corrente
de fuga; o enriquecimento do banco de dados de defeitos em
pára-raios; e o desenvolvimento de uma rotina baseada em
Fig. 9. Imagem térmica após a entrada de umidade.
técnicas de inteligência artificial (redes neurais) capaz de
analisar os padrões de temperatura e corrente de fuga no pára-
Perfil de temperaturas - PR4
raios, fornecendo os indicativos dos problemas que possam
2,2
estar ocorrendo com o pára-raios.
Temperatura normalizada

1,8 V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1,6 [1] Pereira, M. P., e outros. “Equipamentos elétricos - especificação e
1,4 aplicação em subestação de alta tensão. Furnas, Rio de Janeiro”, 1985.
[2] Lahti, K., Kannus, K. e Nousiainen, K. “Diagnostic methods in revealing
1,2
internal moisture in polymer housed metal oxide surge arresters”, IEEE
1 Transactions on Power Delivery, Vol. 17, No. 4, pp. 951-956, 2002.
0 20 40 60 80 100 120 [3] Heinrich, C. e Hinrichsen, V., “Diagnostics and monitoring of metal
Comprimento (cm) oxide surge arresters in high-voltage networks- comparison of existing
and newly developed procedures”, IEEE Transactions Power Delivery,
Fig. 10. Perfil de temperaturas após a entrada de umidade. vol. 16, nº 1, pp. 138 – 143, 2001.
[4] Sobrinho, P. F. P. e outros “Avaliação do estado e do comportamento de
Para os demais ensaios realizados, diferentes variações nos pára-raios de média e alta tensão, dos tipos de carboneto de silício (SiC)
perfis de temperatura foram obtidas, evidenciando e de óxido metálico de zinco (ZnO)”, Seminário interno de manutenção
de subestações CTEEP e EPTE, 2001.
características relacionadas a cada um dos defeitos. [5] Shirakawa, S., et al. (1988). “Maintenance of surge arrester by a portable
arrester leakage current detector”, IEEE Transactions on Power
IV. CONCLUSÕES Delivery, Vol. 3, No. 3, pp. 998-1003.
[6] ABB – Catálogo Técnico – Pára-raios de ZnO, 1985
A medição e análise da corrente de fuga resistiva [7] Moreno, H. Harmônicas nas instalações elétricas, Procobre BrasiL, São
Paulo, (2001.
176 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 4, NO. 3, MAY 2006

[8] Patent 4 084 217, Nov. 4, 1978.


[9] Wanderley Neto, E. T., Costa, E. G., Maia, M. J. A., Galindo, T. C. L.,
Costa, A. H. S. “Electro-thermal Simulation of ZnO Arresters for
Diagnosis Using Thermal Analysis”. IEEE PES Latin America T&D
2004. Novembro de 2004, São Paulo, Brasil

VI. AUTORES
Edson Guedes da Costa é professor da
Universidade Federal de Campina Grande e membro do
IEEE, SBA, ABENGE e do CIGRÈ. Recebeu o título
de Engenheiro Eletricista em 1978, em 1981 recebeu o
título de mestre (M.Sc) e em 1999 recebeu o título de
doutor (D.Sc) todos da Universidade Federal da
Paraíba.Suas áreas de interesse são: alta tensão, campos
elétricos, descargas parciais, pára-raios e isoladores.
(edson@dee.ufcg.edu.br).

Estácio Tavares Wanderley Neto é aluno de


doutorado da Universidade Federal de Campina Grande
na Área de Sistemas de Potência. Graduou-se em
Engenharia Elétrica em 2001 pela Universidade Federal
da Paraíba e recebeu o título de Mestre (M.Sc.) pela
Universidade Federal de Campina Grande em 2003.
(estacio@dee.ufcg.edu.br).

Ronimack Trajano de Souza é engenheiro eletricista formado pela


Universidade Federal de Campina Grande em 2003. Recebeu seu título de
Mestre por esta mesma instituição em 2005. Atualmente trabalha na na
Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (ronimack@dee.ufcg.edu.br).

Euler C.T. Macedo é aluno do curso de graduação em Engenharia


Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande, Brasil. Suas áreas de
interesse são: alta tensão, pára-raios, processamento digital de sinais e
microeletrônica.

Marcelo José Albuquerque Maia graduou-se em Engenharia Elétrica em


1978. Desde então trabalha na Companhia Hidro Elétrica do São Francisco –
Chesf. Suas áreas de interesse são sistemas de potência, pára-raios,
transmissão e distribuição de energia elétrica. (mjamaia@chesf.gov.br).

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