Professional Documents
Culture Documents
Acao e Percepcao em Merleau-Ponty e Alva
Acao e Percepcao em Merleau-Ponty e Alva
This article:
Costa, Sâmara Araújo - «Ação e Percepção em Merleau-Ponty e Alva Noë», pp. 637-660.
DOI 10.17990/RPF/2016_72_2_0637
The attached copy is furnished for non-commercial research and education use.
Other uses, including reproduction and distribution, or selling or licensing copies, or
posting to personal, institutional or third party websites are prohibited.
Authors requiring further information regarding Revista Portuguesa de Filosofia archiving and
manuscript policies are encouraged to visit: http://www.rpf.pt
The copyright © of this article belongs to the RPF and Aletheia – Associação Científica e
Cultural, such that any posterior publication will require the written permission of the
RPF's editor. For the use of any article or a part of it, the norms stipulated by the
copyright law in vigour is applicable.
Each article carries a digital object identifier (DOI), which serves as a unique electronic identification tag
for that text. The DOI is an international, public, "persistent identifier of intellectual property entities" in
the form of a combination of numbers and letters. For RPF, the DOI is assigned to an item of editorial
content, providing a unique and persistent identifier for that item. The DOI system is administered by
the International DOI Foundation, a not-for-profit organization. CrossRef, another not-for-profit
organization, uses the DOI as a reference linking standard, enables cross-publisher linking, and
maintains the lookup system for DOIs. Aletheia – Associação Científica e Cultural is a member of
CrossRef.
Yes, instead of giving the volume and page number, you can give the paper's DOI at the end of the
citation. After print publication, you should give the DOI as well as the print citation, to enable readers
to find the paper in print as well as online.
Abstract
This paper compares two accounts of perception, one by Alva Noë in Action in Perception
and another by Maurice Merleau-Ponty in his Phenomenology of Perception. I address the
difference between defending a thesis (as the former does) and developing a descriptive
phenomenology (as the latter does). Both authors take into account cases from Experimental
Psychology and deal with the problem of drawing philosophical conclusions from them. I
describe the link between perception and action in what Noë calls the Enativist thesis and
what he currently defends as Conceptual Pluralism, and I attempt to understand whether he
is committed to some kind of dualism in his account of the relationship between perception
and awareness, comprehension and self. My purpose here is to highlight relevant points for
a phenomenology of action in the works of both Merleau-Ponty and Alva Noë.
Keywords: Alva Noë, body skills, enativism, Maurice Merleau-Ponty, phenomenology of action,
perception.
1. Introdução
E
ste trabalho primeiro tentará mostrar a diferença da descrição
fenomenológica da ação e percepção de Merleau-Ponty e Alva Noë,
especificamente o que podemos chamar de esquema corporal no
primeiro e enativismo no segundo. Veremos que Noë quer apontar uma
tese, ao passo que Merleau-Ponty descrever o fenômeno. Na seção três
tento demonstrar algum tipo residual de dualismo quando Noë diz da
percepção estar atrelada a habilidade conceitual. Na quarta seção descrevo
o que Noë apresentou como pluralismo conceitual. Entendendo que os
acessos e habilidades culminam no modo pessoal digo da necessidade
de descrição das emoções para entendermos ações e percepção. Por fim
637-660
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
pelo o que nós fazemos (ou pelo que nós sabemos como fazer); isto é,
determinado pelo o que nós estamos prontos para fazer.4
4. Alva Noë, Action in Perception (Cambridge: The Mit Press, 2004), 14.
5. Maurice Merleau-Ponty, Fenomenologia da Percepção (São Paulo: Martins Fontes,
1999), 159.
6. Ibid., 160.
7. Ibid., 159.
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
11. São casos de pacientes de Oliver Sacks, Noë utiliza os casos na tentativa de defender
sua tese.
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
nhece como tal a sua mão, ele só fala de uma mancha branca em movi-
mento”. Para distinguir pela visão um círculo de um retângulo, é preciso
que ele siga com os olhos a extremidade da figura, como o faria com a
mão, e ele sempre tende a pegar os objetos que se apresentam ao seu
olhar. O que concluir daqui? Que a experiência tátil não prepara para a
percepção do espaço? Mas, se ela não fosse de maneira alguma espacial,
o sujeito estenderia a mão em direção ao objeto que lhe mostrassem?
Esse gesto supõe que o tato se abre a um meio pelo menos análogo
àquele dos dados visuais. Os fatos mostram sobretudo que a visão não
é nada sem um certo uso do olhar. Os doentes “primeiramente vêem as
cores assim como nós sentimos um odor: ele nos banha, age sobre nós,
sem todavia preencher uma determinada forma de uma determinada
extensão”. Primeiramente, tudo está misturado e tudo parece em movi-
mento. A segregação das superfícies coloridas, a apreensão correta do
movimento só vêm mais tarde, quando o paciente compreendeu “o que é
ver”, quer dizer, quando ele dirige e passeia seu olhar como um olhar, e
não mais como uma mão.12
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
percepção pura o que seria dado pelas sensações sem uma intervenção do
eu, sem algo que seria um sentimento de fundo, como afirmou Damásio.15
Para Merleau-Ponty consciência não é algo localizado, material, é antes
uma relação do ser com o mundo. O mundo é sempre visto com signi-
ficado, há um sujeito que percebe, e é influenciado por como seu corpo
reage e entende como sendo seu tal sentir. Remetendo ao background de
vivências que é acumulado formando um esquema corporal com uma
situação que foi dada e também é criada, o engajamento do corpo num
modo cultural, e natural que seria pré-reflexivo. Merleau-Ponty não deixa
escapar estas nuances e unifica-as numa experiência totalizante. É sempre
a percepção num trabalho constante com o cogito para buscar a verdade
do fenômeno. A compreensão não é puramente reflexiva e conceitual para
Merleau-Ponty, é dado a um certo indivíduo, com certas vivências, engajado
no mundo com seu corpo e suas habilidades de acesso, formando um
conjunto, um estilo, um modo de ser no mundo. O modo de compreender
conceitualmente o mundo que diz Noë, como habilidade de acesso, estaria
para Merleau-Ponty sempre relacionado com o esquema corporal e a
situação do sujeito, não há uma compreensão pura, um conceituar puro, a
percepção está entrelaçada ao mundo por um corpo que também é sujeito,
que não pode ser reduzido a sujeito ou a objeto, como apontou Barbaras:
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
e como as percebo, porém este algo é significado por uma consciência que
também é sujeito. Como afirma Merleau-Ponty:
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
24. Alva Noë, Action in Perception (Cambridge: The Mit Press, 2004),183.
25. Maurice Merleau-Ponty, Fenomenologia da Percepção (São Paulo: Martins Fontes,
1999), 27.
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
26. Alva Noë, “Concept Pluralism, Direct Perception, and the Fragility of Presence,” Open
Mind 27, (2015): 2. DOI 10.15502/9783958570597.
27. Ibid., 3.
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
5. Emoções e percepções
I have said out that emotions are motivating. They impel us to act. Being
afraid can usher in an urge to flee, and being angry can usher in an urge
to fight. In contrast, there is nothing very moving about seeing a red
patch or hearing a tone. When paradigm cases of perception are moti-
vating, it is usually in virtue of inciting an emotional response.33
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
por seus marcadores de valência, que seriam mais sutis quando perce-
bemos alterações corporais e agimos, neste caso, nem sempre fazemos o
registro destes estados e a ação poderá vir como um imperativo. Vemos
isto mais claramente no próprio texto:
Valence markers are another story. They do not register bodily states.
Their content is best understood as imperative. It can be glossed by
the instruction “More of this!” in the case of positive valence, or “Less
of this!” in the case of negative valence. Valence markers are internal
commands to sustain or eliminate a somatic state by selecting an appro-
priate action. Valence markers are not perceptual states. They are not
states in our somatosensory systems. They can become decoupled from
embodied appraisals, and they can be affixed to other kinds of mental
states. I concede, then, that emotions contain a nonperceptual compo-
nent.34
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
própria vida, o que lhe aparece, como percebe o mundo e pensa o mundo,
suas relações interpessoais e percepção de si. Assim vemos a percepção
como uma trama muito mais complexa, além de capacidades corporais e
conceituais. Envolve como um sujeito engajado em sua situação sente e
percebe o mundo, significando-o, numa relação de conhecimento de si, do
mundo, entrelaçados. Quando penso no que seria o modo pessoal que disse
Noë, e como seria este tipo de compreensão, influenciando a percepção,
seja de si ou dos fatos, significando as aparências e sentindo-as integradas
a uma individuação. Este modo de compreensão pessoal seria o elo pelo
qual todos os outros modos estariam submetido. As coisas vistas, o vivido
pretendido numa narrativa, traçado por um eu que sente, que pensa e é seu
corpo. Os pensamentos, ou pluralismo conceitual quem acessa é o sujeito
que não se sabe como cria sentido. Como afirmou Prinz sobre o papel das
emoções para a percepção e sua relação que impele a ação. A ação é com
significado para o sujeito, envolve a capacidade de significação da própria
ação, uma narrativa dos fatos. A percepção está atrelada ao tempo, é um
fluir com os eventos que são vistos e sentidos, significados por um eu
incorporado que não se manifesta apenas com habilidades conceituais ou
motoras. Mesmo quando a significação é motora, como na ação habitual,
aparece a subjetividade na forma que resulta o comportamento.
O esquema corporal merleau-pontyano é descrito atrelado a uma
função simbólica. A capacidade de significar o mundo influenciando
como sentimos o mundo, emocionando e agindo, sendo uma pessoa com
uma história. A história que o próprio sujeito narra a si próprio, dando
significado aos seus fatos, às suas vivências. Diz de uma situação criada
e dada, do nosso engajamento associado tanto ao corporal, conceitual,
emocional. Sobre o comportamento afirmou Merleau-Ponty, o homem não
é o homem interior, o homem está no mundo. Não há síntese da percepção
pela capacidade de conceituar, julgar, refletir. A síntese nunca é completa.
Pensar e perceber não se distinguem para Merleau-Ponty.35
Penso que o modo pessoal na compreensão da percepção seria o modo
mais ativo, não o modo de julgamento, como entende Noë. A capacidade
de julgar passa pela subjetividade e narrativa do sensível. Por outro lado
a própria narrativa não se compromete com as outras, eu posso confa-
bular a compreensão de minhas vivências, meus comprometimentos com
minhas próprias emoções. Nós não nos conhecemos e tampouco podemos
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
37. Alva Noë, “Concept Pluralism, Direct Perception, and the Fragility of Presence”, 27.
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.
Author's Personal Copy
Referências
Barbaras, Renaud. De l’être du phénomenène. Grenoble: Editions Jérome Millon, 1991, 21-36.
Dreyfus, Hubert. A Phenomenology of Skill Acquisition as the basis for a Merleau-Pontian
Nonrepresentationalist Cognitive Science. University of California, Berkeley. 2013.
Gallagher, Shaun & Zahavi, Dan. The Phenomenological Mind: An Introduction to Philosophy of
Mind and Cognitive Science. New York: Routledge-Taylor & Francis Group, 2008.
Merleau-Ponty, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Trad. Carlos Alberto Ribeiro de Moura.
2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Noë, Alva. Concept Pluralism, Direct Perception, and the Fragility of Presence. In T. Metzinger &
J. M. Windt (Eds). Open Mind, 27 (T). (Frankfurt am Main: MIND Group, 2015).
DOI 10.15502/9783958570597
Noë, Alva. Action in Perception. Cambridge: The Mit Press, 2004.
Prinz, Jesse J. Gut Reactions: A Perceptual Theory of Emotion. Oxford University Press. 2004.
Sartre, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre:
L&PM, 2008.
Vol. 72
Fasc. 2-3 2016
Provided for Personal License use. Not for reproduction, distribution, or commercial use.
© 2016 Revista Portuguesa de Filosofia. All Rights Reserved.