Professional Documents
Culture Documents
Etnodrama - A Dramatização Religiosa No Haiti
Etnodrama - A Dramatização Religiosa No Haiti
LOUIS PR I CE MARS*
- 3 -
completas características humanas, o que as novas gerações assimilam através da
tradição, de acordo com o o r i g i n a l s i g n i f i c a d o da p a l a v r a grega "poien" fazer
Musi ca
Gritos
Linhagem de sons Onomatopei a
Di agrama Cânti cos
da Palavras f a l a d a s
Possessão
Linhagem da consciência
Durante as cerimonias
Fora das cerimonias
Linhagem do i n c o n s c i e n t e
Hipnose
Sonho
- 5 -
No decurso da celebração r e l i g i o s a , o t r a n s m i s s o r é o drama r e l i g i o s o no
s e n t i d o o r i g i n a l da palavra ou ETNODRAMA, acontecendo com seus cânticos, danças,ba
t i d a s de tambor, g e s t i cul ações e f r a s e s .A mensagem é a possessão'em s i , e não é im-
possível estudá-la de um modo científico, apesar de sua natureza algumas vezes obs
c u r a ; o "feedback" é p a r t i c u l a r m e n t e bem conhecido no H a i t i no caso p a r t i c u l a r em
que a c r i s e de possessão é diretamente i n d u z i d a pela percussão dos tambores.
0 fenómeno da possessão é encontrado em vários níveis, tanto nos r i t o s r e -
l i g i o s o s como no comportamento l e i g o . Contudo, em ambas as oportunidades, o fenõme
no é reconhecível pela disposição semelhante das características psicológicas e pe
l a relação e n t r e essas características, cujo conteúdo pode v a r i a r de uma cultura
para o u t r a , mas que permanece a mesma em sua apresentação g e r a l .
I n v a r i a v e l m e n t e , por meio da seguinte fórmula, i s t o é, "Identificação com
outro s e r mais metamorfose dentro de outro s e r " , o fenómeno da possessão r e v e l a o
mesmo SIGNIFICADO, que é Deus. As palavras (psicológicas) IDENTIFICAÇÃO e METAMOR-
FOSE c a r a c t e r i z a m a interiorização do outro s e r e a consequente transformação físj_
ca baseada nos modelos determinados pelas tradições r e l i g i o s a s , as crenças c o l e t i -
vas.
Para o mundo o c i d e n t a l , que é dependente de uma civilização mecanística,as
p a l a v r a s identificação e metamorfose nada s i g n i f i c a m ; contudo, na mente dos cren -
tes a f r i c a n o s e h a i t i a n o s que vivem em íntimo relacionamento com seus Deuses,em um
u n i v e r s o bem a r t i c u l a d o , é uma experiência concreta v i v i d a na a l e g r i a e na angus -
t i a . E t a l como na a n t i g a Grécia quando e x i s t i a a "thumba". As entidades espiri-
t u a i s são v i v a s , sua encarnação é r e a l . A fé garante sua a u t e n t i c i d a d e .
Em t a i s circunstâncias, essas c u l t u r a s fazem um uso extraordinário de todo
o corpo como instrumento de linguagem^ 0 fenómeno da possessão é um símbolo do D i -
vino e a dança é um meio de comunicação.
Em seu l i v r o , ESTUDOS DA SOCIOLOGIA^DA ARTE(*) e i s o que PI ERRE FRANCASTEL
d i z sobre a dança: "SÓ o ato de dançar implícita passos, g e s t o s , movimentos e . a t r a
vês da expressão f a c i a l , a situação e o sentimento de cada indivíduo; e l e l e v a c a -
da espectador a e s t a b e l e c e r com e l e um d i a l o g o , tanto mais p r e c i s o quanto maior
f o r a proporção de emoção recebida dele. Assim, nossos gestos podem s e r v i r , assim
como qualquer outro s i n a l , como o m a t e r i a l para a criação de uma a r t e . " Se s u b s t i -
tuirmos " a r t e " por "linguagem", veremos o v a l o r da dança como um meio de comunica-
ção no c e r i m o n i a l Vodu e o v a l o r da t o t a l i d a d e do corpo humano como veículo desta
linguagem.
Além d i s s o , podemos através da dança nos i d e n t i f i c a r com o que está acima
de nossa compreensão, com o Divino?
ROGER GARAUDY f i l t r a alguma l u z neste problema em seu l i v r o : "DONNER SA
VIE" (página 25), e eu t r a n s c r e v o : "Pode s e r que este -seja o meio profundoque A r i s
tóteles em sua POÉTICA denomina "mimesis", o ato de nos fazermos s i m i l a r e s a quem
está f o r a de nós e acima de nossa compreensão. 0 dançarino de B a l i ou o ator-dança
r i n o do japonês NO, como o c o r i s t a da tragédia grega ou o c e l e b r a n t e do c u l t o Vodu,
ou a pessoa possuida por um transe numa dança a f r i c a n a ou indú, todos imitamou per
s o n i f i c a m uma força, um herói, um Deus. S e r i a uma f a l s a e pobre concepção cons-
t r u i r e s t a "mimesis" com o e s t r e i t o , p o s i t i v i s t a e n a t u r a l i s t a propósito de " i m i t a
ção". Ao contrário, i s t o i m p l i c a no f a t o do homem s e n t i r a existência f o r a dele e
acima de sua compreensão, que ê o que e l e deseja e espera. Reunindo todas as suas
forças e indo além de seus próprios l i m i t e s , e l e a s p i r a assemelhar-se a e l e , e no
momento dourado do êxtase e da possessão, e l e tem o sentimento de que f o i bem suce
dido. E l e esquece de s i próprio enquanto p a r t i c i p a da vida heróica e d i v i n a d a q u a T
- RESUME -
* **
- SUMMARY -
- 7 -