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‘MARIA HELENA DA CRUZ COELHO JOAQUIM ROMERO MAGALHAES O PODER CONCELHIO: DAS ORIGENS AS CORTES CONSTITUINTES. NOTAS DA HISTORIA SOCIAL EDIGKO DO GENTRO DE BSTUDOS B FORMAGKO AUTARQUICA COIMBRA 1986 Capa de Léon Mana, ‘Se uma autridede etd longe das grandes acges polices, dot movimentos populter, de hitéla con- tenpordnea, pods ter inflncia incisive, efando ou ceterilizando ne ale popular ‘Mas unc entoridade local, mais que tedes, pela fina relacio com o pove, pode opie dealater. Bea de Ques Quod cnmeetongit ob omnibus approbart debe Principio geral invocado nas Cortes Constituines, pa Peete de NOTA PREAMBULAR ‘A edigito da presente obra, da autoria de dois. histo~ riadores' da. Universidade de Coimbra ligados ao. Centro de Estudos e Formagio Autérguica —a Doutora Maria Helena Coelho, como professorada Cadeira de Histiria do Municipalismo: 0 Doutor Romero Magalies, como membro do seu Conselho Geral —, visa essinalar os dez anos decoridos sobre a.data dis primeiraseleigdes locas subsequentes & Consituigio da Repiilica de’ 1976, constituindo a participagdo especifica do CEFA no progratna das comemoragdesofiiais dessa importante efeméride tia institcionaltzagdo do Estado-de-Diteito Democrtico. E que outro modo melhor de honrar a data e 0 acomtecimento do que razer a pilico este adnirbvel afrescor da nossa histSria munin cipal, em cujas paginas os autores, no passo tacteante e medida do método cientifco, apontans e desvelam as varidveis ou fatores qe comprovans ter sido 0 poder local, ao longo do tempo, tum polo das linhas de fora da extrutura polttico-social do Pals? ‘Com efeto, somos wim povo com histbria. E se & tola asdnsia de tentar repetils imitando 0 periodo eslhido como paradigmético ~& mancira dos gre, no invernd dos anos, tnada mais podem senio contar fotos douttas femspos—, no menos tolo seria iguord-lo fingindo que tudo comesa do nada como se um povo seachasse em perene e absoluta enaalidader var e pudesse tomar todas os seus momentos como um sinitiums. Nem esta nem aqueloutra atitude se harmonizam com o bom senso ¢ 0 espirito critico. Antes: quem queira realizar de facto «sua antecipagao do emundo que deve vire héode avisadamente persrutar aexperitucia acumulade na membria colectiva fim de rinorar os riscos de ilusio sobre o areino da posibilidade e de evitar a queda em fantasmegoras que somente levam aque studo smude ¢ tudo fique na mesma, Parilhando desa elenenar sabedoria, um velho mestre de Coimbra lembrava aes novatos so oftcio a vantagem de no anunciarem as suas idelas nova... antes de terem averiguado cuidadesamente como & que os antigos 4s tratavam. Ora, se 0 povo portugués dispie de um rico compleso passado municipal, o homem prudente nao deixard de Procurar continuamente testar af os seus projectos, os seus ideais, sua dnsia de aperfeioamento do mundo que encontson ao nascer. Ea esse homem que sobremodo se dirige a edigio pelo Centro de Bstudos © Formagio Autérquica deste estudo de istéria. Dir-se-d, pordm, que os historiadores nao podem registar tudo 0 que aconseceu: aquila que eles descrevem como histéria vis simply those aspects of the past which, according to their awn philosophy of life, they regard as particularly important and significante — como escrever Aldous Huxley. E parece verdadel $6 que os historiadoes so homens ¢ cidadios do seu tempo — cowo sobejamente se vé no caso vertente. O que significa que a perguntasorientadoras da sua pesquisa do pasado tendem a sr, deceto, perguntaspertnentes no hortzonteeultral 4a sua pripria Epoca. Assim, as sespostas, se obtidas no rigor das exigéncias cientficas, comribuirdo naturalmente para a con= preensio dos problemas da actualidade e para a descoberta das reapecivas solugSes, aliés sempre sob ensaio e etic, Preocupades ou inguietos com a eousadian dos historiadores, ou de quaisquer outros homens de cigncia, é possvel que fiquem vot apenas os efazedores de pollicar, habitualmente iluminados pele estranha ideia de deterem 0 monopélio de acess & decsto recta; 0s sapientes © convencidos de que aguilo que é de todos a todos cabe deliberar, esses, sb agradecerdo aos ciltores das ciéncias que, a seu modo e segundo os cénones das suas disciplinas, se ocupem dos problemas da Cidade. E que, em contrdrio das ambigdes iluministas ens recorréncia continua, a poseridade &, mesmo, uma tarefa para iodos nbs, Resta-me agradecer, em nome do Centro de Estudos € Formagio Autirquica, aos Dowores Maria Helena Coelho ¢ Romero Magalhdes a sux arnével disponibilidade para a 1.* edigao pelo CEFA de um Horo que, se 0s ilustra a eles como autores, raito honra a instituigdo que o dé a piblico— uma instituigio sobre « qual recai,diga-se a propédsito, a incumblncia legal de contribuir para a modernizagio da administragao local portuguese. Novembro de 1986. A. Barsosa pe Mzto x INTRODUGAO «Ema suma, Calisto era legitimista quieto, calado, ein paz de empecer a roda do progresso, contanto que 0 progresso no Ihe entrasse em casa, nem o guisesse levar consigo. Prova cabal de sua tolerncia foi le aceitar em 1840 a presidéncia. municipal de Miranda, Na primeira sesio camaritia filou de fetio ¢ jeito que os ouvintes caidavam cstar escutando um aleaide do século xv levantado do seu Jjazigo da catedral. Queria ele que se restaurassem as leis do foral dado a Miranda pelo monarca fundador. Este requerimento gelou de espanto 0s vereadores; destes, os que puderam degelar-se, riam na‘cara do-sen presidente, ¢ emendaram a galhofa dizendo que a bumanidade havia ja caminhado sete séculos depois que Miranda tivera foral: —Pois se caminhou —replicou presidente —, nio caminhou direits; Os homens sfo sempre ‘os mesmos ¢ ‘quejandos; as Ieis devem ser sempre as mesmas. — Mas... ~retorquiu a oposicio ilustrada —o regi sen municipal expirou cm 1211, sr presidentel V.Ex,* nfo ignora que hé hoje um obdigo de leis comuns de todo:o territério portugués, e que desde Afonso II se estatufram leis gerais, V. Ex.* decerto leu isto... XI —Li—aulhou Calisto de Barbuda — mas reprovo! —Pois seria itil © racional que V. Ex.* aprovaste, — Util a quem? perguntou o presidente, —Ao municipio — responderam, — Aprovem os senhores vereadores,e figam obta por essas Ics, que eu despego-me disto. Tenho o governo de minha casa, onde sou sei e governo, segundo os forais da antign honta portuguesa. Diss sn; nana ais voltou Ciara), ‘ristocrdtico sanjov de Camilo pretendia a aplieajio de lei lcal db tp tos esta, igorndo ¢ neo necesidade de Ici geal Néo admira, O privilégio ea fonra consbstancovanese. na divrsidade dos euatios espa isis ¢ socais. Prilégios e dexsiminagio. que, enqueto estusiras legs, caem com 4 igualdede do cidade perame. a dei esenal ao liberalismo. ExcepyGes e priviligioe que 4 sociedade tnderd a manter, ea que o voluntarismo politico terd de Sozer frente. Oliberalismo 0 sistema da le de epicegao universal, 0 que entate nas realidadesdiversifadas dos govemos municipai, radese eiedes nas diets partctlares. Esto indo de questo, eno poueasvezesafora co longo dos ilo seulos Als dos libris mts arojades vio persrtar no passado 4 naturezn do poder local a fim de procinarem arguitector na profundidad temporal aharmnia denioerdiea ene poder centro (e 2 universlidade da let) € 0 poder local e a satisfyds dos recesidades de ato-governo das populaies). Almeida Garrett, que pavtcipon na redacyao do decreto reorganizador da adv. nistragio piiblia de 12 de Mato de 1832, declararé em 1854: +A administragao em Portugal, como desde a remota origem deste povo se affeigoou ‘com as les habitos Fomanos, com os habitos e instituigées da edade media, assenta n'um principio que ninguem por lagos seclos se lembrira jamais de revocar em duvida nem de discutir XIE sequcr —embora se sophismasse mnitas vezes —e € que 0 povo € quem a si mesnio se administra por magistrados cleitos ¢ delegados seus. Ajunte-se a este prinefpio o que Ihe addicionou depois a monarchia, a bem da ordem e da hharmonia geral dos inter@sses publicos, © qual é—que a auctoridade central. tem o direito e obrigagéo de velar porque os interésses das localidades se nfo choquemi & contrariem em prejuizo commum: ¢ temos concentrados estes dois, todos os mandamentos da lei de nossa existencia socials ?). Formulagdo exemplar. Que o problema tem sma dimensao propriamente histérica tno earece de demonstragéo. Nem por acaso se torna indestringével cm Herculano 9 que reslta dos seus desejas para 0 futuro ¢0 que _provém da investigagao — duplicidade que o leva a deturpar, ow a interpretar distorcidamente « realidade. Na sua estelra virgo z C _polticosehistriadores, destesitimos se destacando Gama Berves, ‘Paulo Meréa, Torquato de Sousa Soares e Marcello Caetano ou, com outros alhos e eutrosénstrumentos de anise, Jost Mattoso e $ Ant6nio Manuel Hespanha (3). Mas fou, indelével, a marca de Herculano e da sua cultura (e dos seus preconceitos). Por iss0 0 period medieval permanece como o preferido, pouco se estudando 0 ‘moderna ou sequer se sondando o contempordneo. E nossa conviego que tudo tem de ser vetomado e alargado no tempo, em especial afastando-se a predomindnela do dever ser (ireito), razoavelmente documentado, do ser (sociedade), cujc conhecimento penosamente se constréi. A medicao do fesso entre 0 direito a eficiia social da norma & sm dado ens si da maior importincia, donde nao'estar ent n6s umn intuito de desprezo pela histéria do direito— bem ao invés—mas a recusa 0. sew exclusivo on mau uso. A revistio geral da problemética tarda, Nao é, por agora, intengio nossa faxé-la. Trata-se to 36 de pegas em algursas ideias, rever ou alvitrar umas quantas iil a ‘ipéteses,alertar os estuiosos eos estudantes para adrdua tarefa a realizar. Também & nosso entendimento que a vastddo da empresa a torna por enquanto premstura, pois carecemos de al cerghla em monografias findamentadas incerdisciplinarmente, como as diversas cambiantes do tema exigem. Para jd, a mais nio aisiamos do que a proceder & divulgagao de alguns aspectos que achamas mais relevantes € do que propor algunas inerpretagées ferences: das habituais. E isto apenas pelo que respeita a aspectos sociais e politicos. De fora tem de ficar outros, maxime es econbmicos — salvo uma ou outa alssdo recortente impres- cindfvel. Notar-se-d que ndo avancanos do limiar do liberalismo. Nao porque 0 consideremos menos importinte ou menos oliciante, Acontece que enquanto historiadores negamo-nos air além sem os indspenséveistabalhos de pesquisa. E, infelizmente, nao sé flta 4 arquitectura global como guase nada se conhece monografi= camente. Como poderlamos, pois, dar resposta a algumas erguntas que’ nos apetecia fazer? Por exemplo: como se sansformam e ager as oligarguiasloais nos séeulos XIXe XX? Nio duvidamos que as formagées oligdrquicas se mantém. © corpo dos camaristas e a sua base de reerutamento permianecem ‘exiguos: em 1870 menos de 29% do nimero de fogos po aspnar 4 essa honra para um dos seus, em eleigBes em que apenas 10% participa). Que pertencer ao grupo reirivo dos eletos onferia prestigio social,’ também podemos. afirmar: Camilo Castelo ‘Branco, na sua caricature de Bustbio Macério nose esquece de que sambicionava ardentemente entrar na Camara Muni« cipalr do Porto, Faltava-lhe porém o trampolin, que conssta en ‘uma qualquer propriedade de comércio ow indéstriae (9) Mas as novas situagdes serio menos demoerdticas do que os processos antériores ao liberalismo? Representa o novo regime, coma centralizagio € a reorganizagio administrativas, com-as ‘novas figuras dos governadores civis, administradores do concelho e xv tegedores, unt apoio ou um travio ds oligarquias?” Eo que se {gnora,embora sea impirescndlvelcomegar a investigagao tomando apenas. como pistas, & nto como fis retratos, péginas deshumbrantes de Camilo, de ilio Dinis, de Ea ou mesmo de Auilino, e a8 obras doutrinbrias ou as reflexses de. polices fempenkados como Hereulano, Henvigues Nogueita ou Anténio Sardinke, Algumnas sondagens apontam para qie nio aceitemos sem critica a imagem redutora dos delegados do poder central como ‘meros galopinseleitoras (*). E no esqueyamios que a profinda inansformasaoiniciada pelo liberalimo, pela propria rano da sua ‘profndidade, foi necessariamente lente, desesperando dela artistas ¢ pollticos. Estes acabaram por introduzir em todos'nds uma imagem’ negative que seid preciso questionar, ou pelo menos confrontar com a realidade através de meis adequados. Se isto & assim, como cremos, para os periados da Monarguia constitucional e da Repilies, mais 0 & com 0 Estado’ Nove, Tgnoramas que représento, sob o ponto de vista da soiedade ¢ das suas transformasSes,« reforma administrativa de 1935-1940, A ud Bboia intengdo autocrtica nto & fatalmente a expressio de sim poder oligdrguico ou burgués (pare usar um. outro e 0co havi), embora o posi ser. A investigasdo, es6 a investgasto, pode dar-nosas respostas de que prcisamos. Para isso kd gue trabalhar © p6r de remiss os narizes de cera do nosso quotidiano 0s males da cntralizagio e 05 beneflcios da descentralizasdo, ou os fatais opresores do. Terra do Pago. Para a pesquisa hb que partir com ideias mas sem preconceitas, Eo liberalismo 0 antiliberalismo contemporineos ‘én coisas a seu favor, como a racionalizacao do tertério a aainistrar através da extngto de concelhos minisclos, evitando « pulverizaso de meias concentando recursos. Assim se v8 que em 1836 0 niimero de concehos foi reduzid de 828 a 351, e que om outros ates se chega 4263 em 1864, 2291 em1911 ea 304 em 1970). Mesto assis mais do que os 66 a 100 que José xv Félix, Henriques Nogueira delineava para 0 seu amunictpio. novos, que deveria ser independent, grande e rico para realizar a obra de reforma estrutural e de vitalizaciio democrdtica de Por tugal (8). O problema, desde sempre, consiste em pedir «& centraliza~ glo a sua forga, a sua onidade © a sua harmonia,—e 4 descentralizagio a sua independencia, o seu individualisme ¢ a sua vietudes (9). Saber como os homens tem Balongado entre estas duas atraces deve ser 0 propésito, simultaneamente despretensioso e ambicioso, de qualquer investigador, O presente trabalho destinou-se, em primeira redacgao, ds Joradas sobre o Manictpio na Peninsula Ibérica, sécs, xia xx, realizadas em Santo Tirso em Fevereiro de 1985. Publicese agora ampliado e clarificado, mais coeso (quanto posstvel numa obra a dois) & acestido com documentardo destinada a aproveitamentodidéctco. Oxal possa abrir novas pists a outros, que para os autores tem sido bem esimalante (1). A edigio pelo Centro de Estudos © Formasao Autérguica devense ao ciloroso acolhimento que teve no Dr, AntBnio Barbosa de Melo, presidente do Conselho Direaivo da insteuigao, Convergéncia de interesses de cidadios livres e néo cmplices, empenhades 1o-aprofundamento da vivéncia demoerhtca, desta feta pela investiga, reflexto eextudo, XVI i, AS ORIGENS ‘As raizes' da vivéncia! municipal devem-se perscrutar muitos sSculosatites da outorga dos primeitos forais (). Ese no passado longinquo da vida de niuitds comunidades, ainda ‘antes de qualijuetinfluéncia romana ou visigética (),sedeve entronear 2 sua‘identidade colectiva, certo & como o demonstrou Sanchez-Albornoz (*), que grande parte dos coiicelhos inedievais se explica' pela ambiéncia da Recon ‘quista. Presentes devem estar, pois, no nosto espirito, eses Targos séculos de lua, reorganizagio e povcamento ¢ nfo menos 0 quadro politico-geogrificd nacional que se Vai defirindo. Mas esée quadto geral teré ainda de ser matizado. Difetencas capitais existem entre os concelhos Farais gue se formam a partir de comunidades aldets ¢ 0s concelhos urba- nos _implantados_nas_cidades. “Dispares evolugBes se ‘encontram nuns c noutros conforme o seu condicianalismo googrifico — situados no Norts, Centro ou Sul do texrit6- rio, em terras interiores de montana ou de planicie litord- nea —e consequente enquadramento civilizacional e cultu- ) ral, Diversidades a nfo esquecer, sirendo peas épocas em ie prevalecem 05 espagos, no a unidade ('). . oe onda de parte teat jucidicas que buscar a fiagio remota’ dos concelhos neste ou naquele institute — scon- 1 ventus publicus vcinorums ou o econeiliuns que assessorava o sudex» ato de anotar dois momentos pricurmente propicios 20 desenvolvimento de autonomias locas. ho? 9965 invaio nolan 0 quads police ~religiosos ¢ administrativo-nilitaresficaram desorganiza- dos. Nobres bispos refugiaramse nas Asvrias, deixando os feus cargos e as suas terras sem chefias. Os trabalhadores urs, ees no tinham capacidade de se adiantat 20 infel, esporcando um ginete em fage. As lorestase matagais eram refigio seguro nos momentos de maior sanha gucrrers Mas, zefluindo os invasores —e nfo teriam sido muitos os que vieram até a0 Norte ds Peninsula — efagidos osantigos senhores, de novo a terra chamava os homens, para que 0 ciclo da vida se cumprise. Na auséacia dos propricttios¢ magnates esbatia-se, no quotidiano da pastoricia ou do amanho dos campos, o sentido da servidio ¢ dos direitos feminiis, Unatbidde defico ands que node dco (© que pouco importaria), irmanava os homens ¢ uma identidade de fangdes evavavosa uleapassr o individual ea sentir © colective, Problemas de aguas, de gados ¢ pastagens, de novas errs a cultivar chamavam os homens assentes num mesmo povoado, a decidir em conjunto, E conforme a voeacio agricola ou pastoil dos vizinhos, assim a disparidade de apropriagio do expago, habitat ¢ organizagio do grupo () Volvidas algumas décadas, porém, os ctistios enceta~ iam um movimento sistemitico de zeconquis ‘ pevtdas. Mat ainda co, newer sdesn ey se zoek ala nobreza, delegada do rei, se apropriava de vattos territ6rios, paralelamente uma prestiria individuel era consentida, fomentando comunidades de homens livres que getiam por si os seus prépriosinteresses (). E porque viver cm comum exigia regras, que por vezes eran 2 desrespeitadss, havia que puiir os infractores, Todos a decidir, evarones ct mulieres, senices et iavene’, maximos €t minimos, totos' una pariter qui sumus habitantes...» (7), estevam afinal 2 assumirse colectivamente como uma comunidade que se regia por normas préprias © que, 2 breve trecho, teria de escolher os sous chefes: ‘Ao lado dos coutes e honras_cresciam assim estas comunidades rurais. Os préprios senhores estariam muitas vetes a lingar os embrides de tais grémios quando, para vverem as suas tertas povoadas ou arroteadas, concediam a tum grupo de homens, fixados num determinado local, sim contrato agrério colectivo — sad. populandum» (carta de povoamento) ou «ad laborandums (carta de cultivo) — que fixava as normas comuns de existncia entre os beneficiados ¢ estabelecia as suas relagBes para com o senhor. E das simples clévsulas econémicas se passava, por vezes quate insensivelmente, para a especificagio de certos preceitos jorfdicos e aduninistrativos que regulamentivam c sancio- mavam a vida em comunidade("). Ao longo destes ) stoulos 1x, X ¢ xt assisticemos, pois, a0 desenvolvimento de _miliplos e diversos concelhos rurais, de vida simples e forte coesio interna, confinados aos limites de uma paréquia ( aque reforgava pelos lagos religiosos a unio comunitiria, estruturalmente diferenses dos grandes concelhos urbanos, de complexa organizaggo econémica ¢ administrativa, ‘O reconhecimento oficial de governos aut6nomos s6 surgiré nos finais do século xr, com as ptimeiras cartas de foral (®). Mas nos dois séculos subsequentes’o movimento da outorga de forais-ganha um extraordindrio impulso. © mesmo objectivo’ de reconquista dos territérios, de recuperasio da heranga perdida a favor dos mugulmanos, imperava na ideologia politica. Mas das vicissitudes do condado portucalense havia-se concretizado um reino © a 3 empresa militar era agora disigida e encabegada por unt chef, uma rei, Cénscio da dupla dimensio Tenet Por um lado procurava reeratar novos apoios, mesmo entre 6 estrato popular, atriindo a cavalaria vild — a aristocracia guerreira, por exceléncia, dos concelhos—, por outro incentivava © povoamento dos recentes espagos subjugados. ‘A-conceso de eartas de foal podia seoir ete duplo objective —mas trras de fionteira privilegiave-te ampla- mente a cavalaria vilé, acentuando a feigio aristocrética € niltar do lugar (2s outras vias sancionava-se um governo proprio locale regulamentavam-se os direitos e devere doe Viginhos para af atrair, com tais liberdades, novos povos= dores © contentar uma populagio’ mogérabe que agora mudava. de dominio, mas no gostaria de ver perder privilégios de uma organizagio ‘urbana de hé muito estranarada (1) entio que o Norte, cristo, ruralista, senhorial se fencontra com o Sul urbano, bem organizado adminis | wativamente e eivado da requintada civilizagio ilémicn, | E deste encontro nasceriam, como jé foi notado (*), Portugal © os, Portugueses, Duss ciltoras se ttm de | miscigenar. Entrelagamese a agricultura ¢ © comércio, ganhando nove dinainismo os movimentos de troca e uma Politica de mercado, sctivada pelos soldos e morabitinos, Os quadsos adminisrativos mugulmanos das cidades meridionais sio decaleados nas vilas nortenhas. BE este ‘modelo islémico de organizagio vai decisivamente penetrar xa vida municipal do reno, tomando-se mesmo dele, mits vetes, 0s nomes dos principais cargos administativos — aleaide, alvazil ou alealde, almotacé, O termo alcaide, para designar o chefe militr, prevalece fice ao de preter, de crigem latina, enguanto, conforme as influgncias nortenha ou meridional, se prefere pura o magistrado judicial os 4 nomes de alvazil e alealde. ou juiz, © termo ‘abmotacé, | aplicido a0 ofa que superintende no econémico, | sobzetudo no absstecimento e controle de pregos & merca-/ dos, nfo tem paralclo no latim, demonstrando bem o desen- volvimento da vida urbana das cidades mugulmanas'e wm, estrutura econsmica avangada, que se imporé a todos centros importantes do tetritério ('). Entretanto, no complicado xadrez social coevo, 40 mesmo tempo que o rei, para garantir auxilios militares € financéiros, tinha constantemente de doar novos senhorios 3 nobréza € coutar terras di Igreja, reforgando 0 enorine poderio terratencnte ¢ jiisdicional “dos privlegiados, opunha, fornentando a expansio desses senhorios populares colectivos que eram afinal os concelhos, um novo poder 20 tradicional, directamente dependente da Coroa ¢' seu apoiante. E se adguitia poder, nfo menos ganhava riqueza. ‘Ao assenhorear-se dos concelhos, sobretudo dos. mais rbanizados.¢ desenvalvides economicamente, 0 moitirca estava a apropriar-se de novos ¢ avultados réditos.que Ihe permitiam consolidar a governanga intema e petseverar na sua politica expansionista. = "As repercissBes desta actuago régia tinham, forgosi mente, de atingir outros sectores. Os homens que viviam nas 'terras.privilegiadas, coutos ¢ horitas, vizinhos'-de concelhos, sentc-s-iam araidos pela vida désses ndcleos concelhios. E também 0s senlores notariam a suavitalidade, Logo, para captar bragos que amanhassom a terra, recrutar homens para a guerra ¢ embolsar rendimentos certos, os privilegiados concederamn similares regalias aos exploradores das suas terras e permitiram-Jhes mesmo a geréncia dos seus préprios interesses. E os aforaméntos colectivos ou até cartas de oral, drigidas a comunidades rurais mas também tucbanas, passaram asst a.sair das mifos dos fidalgos © 5 —-—J {_ clésigos, fivorecendo a vilania dos seus dominios, dando origem, muitas vezes, a «comunidades hibridase, em que se pretendia conciliar 0 regime senhorial ¢ autonomia snunicipal (19), Viver-so-ia, ainda, entio, nos concelhos, por todo o século xn ¢ primeira metade do seguinte, win pouco aquele espirito «lemocréticon que Herculano sonhava, Mas s6 um pouco © em parte. O concelho sevivido por aquele historiador é um mito (8). Nunca as comunidades foram ualitérias social e economicamente. Esiruturalmente (diferentes eram as cidades das aldeias, 0s concelhos urbanos dos rurais, Enquanto nos péimeirosimperava uma dindmica comercial e mercantil e quadros mentais racionais e préticos, uniformizadores até da vida urbana, nos dltimos, muitos vvatiéveis regionalmente, impunhe-se o primado da terra e do calendétio agricola ¢ desenvolviam-se as solidariedades colectivas, a par de uma ritualidade ancestral. As clivagens sociais seriam»menores em certas comunidades rurais, sobretudo naquelas em que uma hicrarquia de cavalciros no setivesse vindo a estruturar (17). Eram enormesnos grandes centros urbanos, onde uma elite de ricos ¢ poderosos subjugava a massa anénima trabalhadora (!). E a adminis- tragdo estava nas mos dos que dominavam economi- y camente, Todavia os «coneiliay eram. ainda assembleias ppblicas, realizadas nas pragas ou adros das igrejas, bas- tante amplas ¢ abertas, ¢ muitos teriam assim neles voz Para pugnar pelos interesses gerais e nfo permitit que s6 ‘prevalecessem os de uns quantos. As maiores ou menoresliberdades dos vizinhos ¢ 0 gran de autonomia local dependiam, como é evidente, do desenvolvimento econdmico do aglomerado ¢ da sua experiéncia de vida organizada ou, nos concelhos de criagio recente, da latitude das concess6es foraleiras, Mas, na 6 maioria dos concelhos urbanos, 0 direito de justiga prépria era garantido por dois ou quatro juizes, alvazis ov alcaldes cleitos ¢ pela accuagio da assembleia municipal, o «conci- lium, engaanto a geréncia do econémico era do pelouro do almotacé. E certo que a antoridade superior do conce- Iho—rei ou sevhor —estaria sempre presente: personi- ficada pelo aleaide nos lugares com vocagio predomi nantemente militar; fazendo-se representar noutzos por um Juiz, sem que tal climinasse, todavia, a justiga municipal, pprolongando-se por todo um corpo de oficiais — gene- ricamente designados por ovengais— que superintendiam nos seus interesses fiscais. Os vizinhos, ciosos das suas liberdades, obrigavam entio a que os privilegiados —infan- es ov clécigos —se sujeitassem aos direitos ¢ deveres concelhios se af queriam viver, numa tentativa de evitar autonomiaseisengSes face as determinagdes municipais. Ao mesmo tempo procuravam assegurar-se de um documento escrito detalhado sobre as prerrogativas do concelho como, corpo morale das garantias individnais dos cidadaos, onde se taxassem os diversos tributos ¢ multas judiciais a solver (*). 2. © REI B OS CONCELHOS MEDIEVAIS O desenvolvimento crescente de certos sectores eco- némicos, as mutagées politicas e sociais que se vio operand ao|longo dos séculos sav xv ea complexidade crescente da maquina administrativa e judicial obrigam, incvitavel- mente, a transformagSes. Os:moriarcas aproveitani-te dos perfodos de paz, em que menos necemitam do apoio dos privilegiados, para lhes cercear liberdades, proibindo-Ihes 0 aumento de bens € resting Ihes as. juirisdigGes. "Dos snuniclpios, qié no 346°mais alfobres de guerreiros— terminada que estava a Reconguista € consolidado jo poder da atistocracia concelhia pela riqueza'e exercicio de catgos — (*), pretende a Coroa ingressos para o eritio régio ¢ governantss ue actuem no quadro coheensdo a oa a administrdgio dé tin Ycino. ‘A toda a Nagio impécm: 0s soberanos, de forma irreversivel a partir de’ 1387 (®), 6 direito real da sisa. Internamente as cidades e vilas tém de cenfrentar as profundas clivagens que a quebra demogrifica de Trezentos acarretou. Cresce a marginalidade. Escasscia a mio de obra assalariada e sobem os saldtios (°), Tmplanta-se, poderosa, uma burgiiesia local que domina 0 comércio interno ¢,alguma, 0 extern. Multiplicam-se ¢ especia~ izam-se os mesteres, que: té de obviar as necessidades 9 quotidianas de uma populagio que nio cessa de afluir aos grandes centros. Os problemas de abastecimento — sobre- tudo em ceresis—sio candentes. Investe-se em novos culturas mais rentéveis. Defendem-se as pastagens ¢ os bens comunitirios das arremetidas de uma fidalguia e lerezia que sais abusam porque mais precisam, A capacidade de resposta a estes ¢ tantos outros problemas no esté 20 alcance de todos. Exige expecializagio de fancbes e assembleias deliberativas restrtas e recatadas. © poder tem de scr exercido, como convém, por poderosos (*). Convergem assim, no século say, as tendéncias centralizadoras impostas pelo poder central com as medidas adoptadas localmente pelos municfpios para responder, de uma forma mais cabal e imediata, aos problemas ocasio- nados por esta nova conjuntura, A influéncia do dircito justinianeu ¢ do corpo de juristas que gravitam na corte conduzem aos progressos da realeza, Asleis geraissobrepdem-se, em grande patte, 205 costumes Jocais ea méquina da administrago piblica tenta burocrati~ rarse ¢ reorganizar-se a: partic do governo central, prolongando o poder soberano em todo o reino (3). A coroa ‘pasta a supervisat a justica municipal c a actividade dos seus fancionérios através dos corregedores —e antes dos meiri- hos (8) —que vero as suas competéncias desde logo definidas no Regimento de 1332¢ ampliadas no de 1340 (”). |Cabe-lhes percorrer as tetras no ambito das suas comarcas, rincipaaes deles, E sse se seguer desses bandos peleias ou ioltas ou mortes ow outro mal ou dano...» ¢ pugnar pela leisfo dos melhores juizes: ee deue saber nas uilas e nos logaces quaes som milhores pera juizes e trage los em serito 0 10 seu scriuam que quando elegerem antre si sabha se 0 fezerom malesiosamentes. Com a mesma justificagio de pacificar bandos e assegurar a justice com competéncia, os corregedores esto também presentes nos vizinhos reinos peninsulares, pelo menos desde Henrique Ill, sendo j4 uma realidade emi Castela no ano de 1348 (8). © poder do corregedor desmultiplicase em diversas fanges: inspeccionar a justia e vereagio © 0 zelo dos magistrados locais e funciondrios régios; julgar os feitos que cenvolvessem privilegiados; supervisar a cleigo dos oficiais ‘concelhios; conhecer das rendas municipais e dos problemas, {nternos das localidades, desde o abastecimento e miio-de- ~obra assalariada até 20 aproveitamento dos bens comuns ¢ estado dos castelos, construgdes de defiesa e prisdes Nio cessirio jamais de se. simpliarem as iuas comipeténcias, como se pode verificar pelo conftonto da legislagdo régia — Ordenagies Afonsinas, Manuelinas, Regi- mento dos Corregedores de 1524 © Ordenagies Filipit Paralelamente nao mais. se calarfio as vozes em Cortes, reclamando contra os constantes abusos. daqueles que ‘emilhor seria dito estragadores que riom corregedores* (°). Logo nas Cortes dé 1352, em trés artigos, acusavam-se os corregedores de ouvie feitos que competiam 20s juizes da tetra resolver, obrigando os litigantes a deslocarem-se até 3s outras comareas, 0 que os levava a desistir da justiga, bem como prendiain logo os acusados, nlo estando ainda lavrado auto eno havendo actos de crime (#9). Nos capftulos gerais das. Cortes de 1361 seferiase que os corregedores ouvidores do rei julgavam os feitos da almotagaria e dos acontiados de cavalos que competiam aos concelhos e seus fanciondrios, bem. como se reclamava que apenas desem- bargassem os pleitos que os jutzes da terra lhes apresen- tassem, quando estivessem nos concelhos ¢ apenas os da sua u Yon 2 fon competéncia e do modo que D. Afonso IV. lhes orde- nara (I!),- Estas ¢ demais faltas hes eran apontadas posteriozmente, nas Cortes de Lisboa de 1371, do Porto de 1372, de Evora de 1391, de -Coimbra de 1395 (12), demonstrando. bem a sua forga e prepoténcia. Mas uma prepoténcia que era, por certo, mais gravosa ¢ cerceadora de privilégios para a oligarquia concelhia. Por isso a sua vox — pois ¢ 36 a desta, e nfo a do povo por ela dominado, que se ouve em Cortes (1), —clamava contra os corregedores. Conttudo, mais odiosos aos olhos dos municipes, porque de perto les coarctavam © seu diteito de justiga propria, tetiam sido os juizes de fora. J4D. Dinisnomeara juizes por - : ‘Em Loulé as reuniSes nfo"tinham uma periodicidade certa; jantando-se- 2. cfmara uma vee por scmanay, pic 2 ferencialmente a0 Sdbado (!8). Nos dois anos mais com- pletos dos registos da sua vereagdo — 1385 e 1408 — verifi- ca-se que sc realizaram, respectivamente, 17 € 20 sessdes, concentradas sobretuido nos meses de Fevereiro, Margo © Abtil. Lembremos como sobre esta distribuigdo pesava’o calenditio agricola. De facto, na seisfo de 10 de Agosto de 1394 (19), decretain-se férias até S. Miguel de Setembro «pera apanharem suas novidades ¢ os figos se colherem e as, pasas». O maximo de membros retinidos na vereagio atinge 05 48 ¢ o mfnimo de 1, inviabilizando a sessfo, ou de-3.e 4 com cla en fuicfonamento (*). Confrontemos com 0 que se passava, também nestes finais do sécalo xiv, no Porto. Concelho de outra grandeza, aqui as reuniées eram mais feequentes, chegando ao longo do ano de 1390-1391 a perfazer 39 (8) eno de 1431-1432 a atingi 46. Nunca se cumpriram, porém, as determinagies camaritias, formuladas a 26 de Junho de 1392, onde acordarim... por boo Regimento-da dita Cidade que em cada huma Somana se fizese ueragom na dita Cidade dous dyas comvemi a saber a quarta feyra € 00 sabadow(!), estipulando-se miiltas para ‘os jutzes © vereadores que faltassein (29), Ao longo dos anos de 1390 a 1394 a média de presengas nas vereagbes oscila entre 13 e 16 (2), chegando-se em 1391-1392 a contar com 51 elementos numa sessio; cifrando-se os minishos por 3 ow 4 oficiais, Mais concorzidas foram as reuniées do ano de 1431-1432, que apresentam uma inédia de 24 elementos (2). Nos homens bons da vereagao portuense pressente-se, quanto aqueles individuos cuja categoria social nos @ indicada (e so muito poucos), wma presenga imais frequente ¢ actuante dos mesteirais — tra- peiros, esteizciros, sapateiros, ferradores, ouives, amneiros, alfagemes, caldeicciros, cutilezos, pintores, tosadores, cuir tidotes, peliteiros, borceitos, selciros, alfsiatés, éamicciros 3 comerciantes — tendeitos, marceiros, gorretores e metca- dores: No ano de 1431-82, em quase todas assesses esté presente, pelo menos, win destes homens Cidade onde fervilhavan o comércio ¢ artsanato, n20 admira mesmo que alguns destes assumissem os oficios camarérios em 1390 € juiz 0 tendeiro Fernto Dinis, depois vereador em 1392; em 1391, dois tendeitos foram almotacés —0 anterior ¢ André Esteves, bem como ainda um ourives, Bartolomieu Dinis; de novo em 1393 6 juiz um tendeiro — desta vex. Vasco Dinis ¢ entre 08 vereadores conts-se um Afonso Martins das tendas; finalmente wn marceiro é almotacé em 1394, E mesmo entre os ouvidores dios termos, nomeados na sescio de 24 de Julho de 1391, ae uum carniceiro no julgado de Bougas ¢ uni: sapateiro no Aliés também em outcos burgos nortenhos, que conhecemos para o século xv, se acentua a presenga dds mesteres. A comprové-lo estio 7 mesteirais ¢ 1 almocreve na reuniio camaréria de Ponte de Lima em 1446 (2), ciuquanto em 1466 sobressaem na vereagio de Vila do Conde 08 pescadores (em néimero igual 20s escudeiros),sapairos¢ alfsiates, entre os munfcipes com categoria social espe cificada. Mas, tanto aqui, como no Porto, integrariam a vereasio a titulo individual e ndo investidos de qualquer repretcntatividade corporativa (4), Bem singulat é no entanto, adetermninagio dos honiens da cémmara portuense que, 211 de Agosto de 1431, ¢ para decidir sobre o agamento de um sineio pedido» ao monarca, manda que sse chimassem as gents pera segunda feria, Edous homens de cada mesters 9. A decisio joanina de 1384, que petmitia 2 presenga de 24 homens, dois por cada mester, na cimara de Lisboa (8), nfo teria sider inuito antes da legislagdo da Casa dos Vinte © Quatro, imitada noutros a concelhos? Refira-se, porém, que na sessio seguinte de 13 de Agosto apenas participaram 6 ourives, 1 alfagemee 1 feerciso ¢ 1 camiceiro. Neste particular, como noutros, as diversidades deviam ser inuitas, de acordo coma complexae variada realidade social. E 0 spovo mitidoo, sobretudo a partir do governo joanino, foi sempre lutando por um lugat na vereagio (®7), apoiado muitas vezes até pelo monarca, @ ‘quem interessava contrabalangar poderes, para melhor se impor (*). ‘Ao perpassar as actas da cémara portuense ressata, eittretanto, 0 guadro do mundo exda vez mais fechado da veteagio, onde uns quantos sedciam (%). Sto eles que; rotativamente, exercem os cargos e'trazem para 0 seio da burocracia os seus familiares °). Vejamos, a tiuulo’ de exemplificagio— Vasco Femnondes Dantre Ambas as Aves & |jniz em 1383, vereador em 1390 ¢ de novo em’ 1392; ‘ tendeiro Fernio Dinis ¢ juiz em 1390, almotact em 1391, vereador em 1392 ¢ ainda provedor do’ Hospital dé Rocamadot neste tiltimo ano; é quigé seu familiar o tendeiro Vasco Dinis, juiz em 1393; entretanto Jofo Vasques, ‘vereador em 1383 ¢ juiz ei 1390, ser4 de novo vereadorem 1391, Nao seido. precisos mais casos para corroborar esta sssergdo. Simultancamente so também estes homens’ os, escolhidos para! patlamentar com o rei—a 23 dle Margo de 1392 €escolhido Gonsalo Lourengo pardira Tentigal expor a0 rei os problemas concélhios, homem que nessé aio sairé eleito para vereador, como a 4 de Maio de. 1392 fora designados para se deslocarem a Lisboa 0 nosso jé conhecido Jodo: Vasques ¢ Gongalo Dinis. Almotim (*¥), quic™seré cxcolhido juiz provisério, de 27 de Margo 2.24 de Junho de 1393. Neste, como noutros concelhos, exam. os. mais notéveis—por isso tantas wezes 0s préprios oficiais conce~ Ihios—querepresentavam a colectividadeexternamente (%). 5 Estes homens bons da vereasio portuense eram, sem Aavida, dos mais grados estratos socio-econdmicos que, com 0 exercicio dos cargos s6-acrescentavam poder, ainda que 4 custa de algum dispéndio de tempo. Assim, curiosamente, a0 ser eleto para juz no ano de 1390, Femi Dinis alegou que niio poderia exercer cargo porque era sereligo hordinhado dordces menoresE outro syEra veedor da fundigom da moeda del Rey que se fez ¢ faz na dita Cidade. E que outro, sy tinha die per outras partes e anya tantos:anegogios que per nenbuma.gisa nom podya seer Juiz» (*). Foi obrigado a aceitar o cargo, sob pena de lhe ‘mandarem arar as portas da casas, Sob ameaga — talven thas fictieia do que real — teria este negocianteentrado para «adniinistrago municipal, que Ihe veio por certo a servir os seus interesses préprios, pois, como viinos, outros cargos assuntrd subsequentemente. A sua preocupasio era, como de serio sim, suom rd ‘0 piylegio das ses iordeess, E depressa se terd apercebido de que a posigéo de Ghefis6 obnchcarn nne de aves posto Aida mais exemplar & toda a actuagéo de Jofo Ramalho, esse «mércador do Porto bem trico ¢ mui atrevudo no mars, como The chama Ferno Lopes (#), que abragou a causa.do Mestre. Presente em muitas sessbes da vereagio portuense, actuava no entanto bem contra os interesses munitipais—a 3 de Novembro de 1392 metia vinho de fora na cidade quando tal era interdito (*8) ea 13de Dezembro de 1393 & acusado de comprar sardinha para exportar, sem trazer mantimentos de retorno; quando 0 ‘municipio se socorria do peixe para em troca se abastecer de pio (%). Igualmente atenderia tio-s6'aos seus intereses 20 levantar uns prédios, que certamente 0 apoiavam inos seus negécios mercantis, i que a cAmata, em sesso de 30 de Juitho de 1393 (7), decide escrever a0 rei sem rrazors das 26 casas que faz Joham sramalho aidireto do Cais». B-velhava pechados que servindo se servem! Por todo 0 pais o'poder municipal estaria nas rédeas de uma clite dirigente, fosse cla fidalga ou nfo, —e lembremos ‘que as OndenagSes Afonsinas se cefesem a jufzesfidalgos 2 par de julzes cidadios (9) — mas: poderosa ,économicamente. ‘Aliis,, numa. politica de casamentos ¢ aliangas iam-se progtessivamente fundindo, E.ainds. que houvesse, por “veves, tensBes entre eéses homens da governanga, era forte a sua coetio comio grupo (°%). : ‘Un estudo sobre Ponte. de Lima (#8) vem demonstrar claraménteque nos infcios do século xv, a clite possidente de prédios urbanos, constituida por 1 escudeiro,4 mercadores ¢ 3 fiunciondrios, era na’ verdade aquela que: participava sta esto concelhia.» Igualmente num: pequeno’,concelho, coma:0 de-Més de Moncorvo, deparames,com o juiz.a arrendar fornos concelhios ¢ 0 tabelifo a arrematar alguns alqueires de trigo, enquanto outros homens bons detinkamn também patcelas de outros bens concelhios (#). E jé, a propésito de Coimbra, referimos que os oficios do concelho estavam essencialmente nas mios daqueles que podemos qualificar de pequena nobreza, de proprietérios rurais c mercadores, andando também na vereagio alguns mesteirais(®). Detinham 0 poder administrativo, que Thes permitia legislar conforme os seus interesses, ¢ 0 poder econémico, arrematando a cobranga de rendas ¢ impostos citadinos ¢ tutelando os circuitos econédmicos do comércio ¢ da produgfo, Dominavam 0 campo, colocando-se como intermedifrios entre os enhores ¢ 0s exploradores da terra, ¢ ditavam as leis do mercado, especulando com os géneros armazenados, Nao admira, pois, que muitas das reivin~ dicagdes aduzidas em Cortes, em defesa dos concelhos, fossem afinal as que defendiam estes homens bons —com- 7 pulsio das gentes 20 trabalho e faculdade de taxar salétios; defesa das tecras de pastagens; tentativas de diminuir os privilégios dos senhores laicos e eclesitsticas, sujeitando-os as, leis concelhias (#). E esta clite dirigente tenderia a cris- talizar-se sempre cada vez mais nos poderosos. Redu- ziam-se, para tal, os homens da governanga. Eis o que conseguem os gratdos da Guarda 20 pedirem, com a prévia anuéncia do corregedor, ¢ obterem, nas Cortes de Santarém de 1468, 2 diminuigo dos homens da relagio de 36 para 12.(#). Mas logo em 1482 se agravam do ouvidor do corregedor que escolhia entio, para esse escasso nimero de governantes, homens da sua confianga, ficando fora do poder muitos homens bons. A ambicio saiulhes cata, se no cafram mesmo num logro... (4). Os gérmenes estavam langados. Nos séculos subse quentes apenas se consagraré o perfil aristocritico c ‘enquistado da vida municipal. 28 4. DA TEORIA DO PODER A EFICACIA DO MANDO EM TEMPOS DE ABSOLUTISMO © rei, jf na segunda metade do século xtv, pasa a dizer-se detentor de «certa ciéncia ¢ poder absoluto e proprio, ‘movimentos. Afirmacio de um horizonte, um propésito, um caminho a ser.trilhado, No uma realidade. As férmulas, aponta Costa ‘Lobo, «Zo 0 invélucro de ideias cembrionérias, em via de gestagios, A orealeza vogava aceleradamente para o fastigio do supremo poder, mas ainda se distanciava da metay(!). Supremo poder judicial e mili- tarymas também administrativoc financeiro, que os letrados romanistas pretendem concretizar. Mas Poder & exercicio, & ficicia na execugio do decidido, é quebra e rendigio de vontades adversas, .Além do mais, se nfo imagem viva, & representagio ou delegacio acatada. Ora o rei a partir do século xvi deixa de deambular pelo Pais comendo as suas rendas ¢ exercendo alguma justice directa, Instala-se em Lisboa, vale do Tejo, Evora. Durante décadas reside a ccontenas de léguas numa Castcla hostil. Escapa-se, quando: muito, a Vila Vigosa ¢ a Mafra, banha-se nas -Caldas. Nao estando presente em pessoa tem de estar repre~ sentado. Junto das populagSes do reino aparecem juizes de fora — que no conjunto pouco ultrapassariam os 164?) —, duas dézias de corregedores, uns quantos provedores, no 2 mais de uma meia dézia de governadores de armas das provincias;unstantos ouvidorese jutzes de orano Ultramar, ‘capities-gonerais escassos, ¢ mais alguns magistrados, num conjunto que nfo iria alm de tr@s centenas.... A. pre= senga delegada da autoridade régia era, assim, muito irregular no espago, Em eempo igualmente, Em caso de auiséncia Gu inipédiniento dos juizes de ford; por exeimploy ao :Wereadée.niais velbo. da cdniacacompétia!a. sua substieuiglo nos termos da lei, E ocorriam muito frequen= temente as vagas... Espago ¢ tempo. Mas também couhecimento da terra, dos homens e dos recursos. Sabe-se smal 0 que é ¢ quanto vale o territrio ¢ os que o habitam. Tardiamente se cartografa.c.descreve a terra que se-deve governar (*), causa ¢ efeito das finangas régias assentarem nar ¢ n6 comércio externo (4), Qual seria, pois a eficicia desta longingua insttuigio, 0 rei, que em abstracto tem todo 0 Poder? A lei dccreewva e presupunha uma uniformizargo para gue fo -havia-instramentos ‘de ‘exeeusZ0, ou: havia-os escassos: De que resultava incomunicabilidads ou fltragem, com a fragmentagio da autoridade ¢ 0 réconhecimento.dos privildgios, fossem: eles locais ow pessonis. O rei delegava tuma parte dos seus poderes nos Seus agentes, decerts.. Mas sobretudo. transferia-os para outras entidades que em seu nome 0s exerciain —e que nfo cram funcionsrios. A administragio.régiaparecia avangar para domi= nar 0 Reino—a legislgzo geral com as Ordenayées,.a firia antissenhorial ‘de D. Joo 11, a reforma manue- Tina dos forais, -riumeraiiento. populacional, a -mul- tiplicasgo dos’ organismos centrais do Estado — segundo ‘momento. que retomava 0 impulso centralizador'apontado atrés. No entanto queda'se por uina..mquina.burocré= tica leve. e deficientemente. articulada, que alcanga:mal.as 30. reilidades afastadas do Tejo. Lisboa & capital e corte, como {que vai beneficiar ¢ softer: desde 1384 os seus cidadios podem comprar produtos por todo 0 reino'e trazé-los:a cidade (9); capital do império, um século mais tarde, comega a perder autonomia a partir de 1488, até pasar a ser governada por um presidente fidalgo ¢ vereadores letrados, de nomeagio régia, em 1572 (°) ‘A presenga do monarca absoluto shanifesta-se nessa éxpressio de um poder territorialmente confinado em termos dé-Mando, ou seja, de eficicia do Poder em exerci cio (?); Asfinangas piblicasassentam sobretudo no que vem. do Ultramar ¢ entra pela Casa da India-Pago da Ribeira, © Pafg conta pouco ¢ as sisas sio mesmo ‘encabegadas, definitivamente em 1564 (8). Senhores ¢ concelhos, mais estes que aqueles, adquirem uma posiglo de larga autonomia em face de um Estado que s6 de longe em longe os chama paca servigos militares ou para contribuigdes extraordindria. (Os impostos que desabardo sobre uns ¢ outros nos anos 20 ¢ 30 do século xvmt sero sentidos como alguma coisa conira naturant, darao origem & grande convulsio de 1637-1638 ¢ entrario na teoria politica com que se justifica a Restau- ragio () © rei detém 0 Poder exchisivo da justiga ¢ da guerra. Se ha primeira alguma coisa ‘se sente, pela reserva do. julgsmento dos .casos mais relevantes, pela nomeagio de corregedorese pela existéncia de julzes de fora nos concelhos aais importantes, jé pelo que diz respeito & parte militar sua autoridade efectiva vai-se diluir, Pelas leis de 1569 ¢ 1570, reorganizando c fectivando as ordenangas, militari~ zarse © Pals (#9). Com essa legislagio. todos os homens vilidos ficam arrolados como soldados para 0 exercicio da guetra, Mas, © aqui esté a fraqueza, na prética entrega-se as ‘cémaras a escolha dos oficiais, ou seja capitiies-mores, a satgentos-mores e capitis. Localinente, 0s mais poderosos, ‘vio instalar-se nesses cargos que dio prestigio ¢ honra (c poder). Os populares ficam a mercé de quem recruta, (faz homens»), com a subordinagio, a dependéncia que nisso se contém, Menos que uma delegagio na aparéncia, tratacse de uma verdadeira transferéncia de um parcela de Poder-Mando. Parcela substancial (!). Mas ontros domfnios hé a considerar. Com a Restauragio cria-se um novo imposto geral sobre rendimentos que poderia renovar a autoridade efectiva por uma sentida presenca do Estado: as décimas: Todavia a parte de mais melindre, ot seja a fixagio dos quantitativos-« pagar, também tem,de ser entregue as cfmaras,.na falta de uma burocracia suficientemente espalhada ¢ conhecedora. isto apesar de a lei prever que a fixago desses quantitatives fosse feita por magistrados (1), As epidemias graves, que durante 0. século xvt.c primeira metade do século xvm assolam o Pais, exigem cvidados ¢ actuagées répidas ¢ duras. Os guardasemores da satide, nomeados pelas cimaras, tm fangBes amoplas de uma notvel autonomia, permitindo actuagdes onde o arbitrdrio é muitas vezes simples opressio pessoal (#2). ‘Justiga — onde ¢ quando falta 0 magistrado régio —, forca militar, impostos, sade, juntam-se com o dominio antigo ¢ essencial do abastecimento alimentar,fiscalizagio de mercados pela almotagaria, taxas, fixagio dos salétios dos mesteres, dominio do comércio pelas licengas para tran- sacg6es para fora do termo: cis 0 leque real de Mando dos concelhes (!4). Nao temos ditvidas de serem as cmaras bein: _ais sentidas pelas populagies do que o longinguo monarca absoluto, por mais absoluto que s disssse e qusesse ser (1) Rede burocritica distancia sio"os dois principais factores que condicionam 0 absolutismo eo impedem de 32 {pouco coeia ¢ mal articulada) e distincias enormes (¢ tempo de percurso).. Em simultnco mantém-se os privilégios locais, pessoais ¢ de grupos sociais, que diferenciam as situagbes — pri- vilégios que vo contra a universalidade da lei que s6 com os fil6sofos do iluminismo se comegird a postular como imprescindivel 20 Estado, Ora sem a lei igual para todos como pode haver absolutisino prético, em acto? O monatca absoluto dos sécilos xcv1 a xvit nfo deteve grande poder efectivo, em termos de mando, embora o reconhecimento de quedetinha o poder se tivesse generalizadamenteacitado, A sua posigio de preemintacia foi conquistads. “A sua aproximagio ou afastamento 3s virias ordens ou estados ia definindo © poder de cada estrato, isto em abstraito. Con- cretamente hé muitas complicagSes porque dentro de cada ordem hi privilégios de grupos mais pequenos, que variam até localmente,”e que s6 localmente ‘sio conhecidos € controliveis. A variedade &de regra (9). Pelo que respeita & justiga, & fitcalidade e & guerra, as vvelhas realidades medievais subsistem ainda aqui e ali, no interior da malha concelhia, quando 0s direitos dos donatérios e os privilégios senhoriais persistem. Por vezes acontece até que direitos senhoriais surgem transfetidos pata as cimaras, encavalitando-se com os dos privilégiados senhores: Assim se explicam poderes de nomeagio de jufzes do crime ou do cfvel, ow confirmagio da sua eleigo, por entidades diferentes para uma mesma Area, E 9 caso de Coimbra (!7) ou do Porto (8), como em ouittos territérios do Norte e do Centro. Jéno Sul o poder concelhio & bem menos complicado por essas misturas, Mesmo’ ai hé diferengas, por exemplo na guerra (com isengées de recrutamento militar) ou ns fiscalidade (com populagOes que passat de nominal a efectivor rede burocritica pouco ‘= | 3B RA ainda pagam direitos senhorisis para além dos impostos _gezais de langamento régio). A uniformidade é fruto do liberalismo que nfo do absolutismo, embora este tenha contribuido para a supremacia do Estado, que vai impor sais tardea igualdade perante alei, Em geral, pode dizer-se que nio havia concelhos subordinados a outros concelhos © que a autoridade de cada ccimara, no espago concelhio, era idéntica em todo o reino ¢ ultramar. Isto em termos administratives. Nao hd uma pitimide hierérquiea com escal6es intermédios de adminis- trago, qualquer coisa que se aproximasse de uma «regio». Rei e cimaras: ndo se permitem escal6es intermédios, rmediagSes que enfraquesam os dois termos da relagio (ou algum deles). Por isso no encontramos qualquer realidade aregionals que agrape os concelhos com alguma expressio propria, resultante de articulago permanente organizada (para jé nem referir institucional) entre esses concelhos. Decerto. que havia divisdes do territ6rie, para cfeivos administrativos, fiscais, militares ¢ religiosos (8). Mas nem sequer coincidiam umas com as outras, nfo passando de reas delimitadas para 2 actuagio das virias burocracias: comarcas— com os seus corregedores ¢ provedores —, provincias —com os seus capities generais—e dioce- ses — com 0s seus bispos e cabidos. ‘Tudo isto complicado pelas grandés unidades senhoriais ligadas a0 poder central como a Casa da Rainha ea Casa do Infantado, ou 0 Ducado de Braganga (depois de 1640) e pelas velhas jutisdigécs medievais. Mas nunca as divisées do territério se des- tinavam 2 agrupar sibditos para em conjunto se expri= mirem, decidirem ou sequer proporem alguma coisa Nem nos tetritérios longinquos do Império se admitia uma ligagio horizontal entre os concelhos. Em 23 de Fevereiro de 1563 0 monarca responde a uma petigio. da 4 camara de Goa, que avangara uma articalagio desse.tipo: «O que apontaes de se deverem d’ajuntar nessa cidade os procuradores das cidades dessas partes para praticarem 0 que ccumprit ao bem das cousas dellas, me pareceo escusado, porque. quando nos. parecer deverdes-me lembrar algias cousas em geral, 0. fareis como costumais, ¢ sendo particulazes os apontareis tambems (). © monarca nega a necessidade de conjugagio de esforeas, 0 que Ihe retiraria poder. Do mesmo imodo 3s efmaras no convém que se estabelega qualquer filtragem que as subalternizaria. na relagiio com o monarca: s6 assim se explica que nfo haja rmanifestagbes de um. qualquer propésito de alianga perma- nente de concelhos, sendo mesmo relativamente frequentes os conflits entre eles. Uma tentativa de articular os concelhos do Algarve, promovida pelos govemadotes, cai em desuso. pouco. depois de arrancat, nos prinefpios do. século xvmt. Provavelmnente por nfo interessar 3s, artes (21), Conte local ¢ arregional ¢ antitregional., Nao-hé solidariedades dos. espagos confinantes—embora nfo. se gnorem interesses comuns..Do mesmo modo os grupos dirigentes concelhios, as oligarquias, sfo solidérios entre si pelo que respeita ao status social, nomeadamente pelo | casamento, e pelas précicas de mando, subordinacio ¢ | protecgio das populacSes. Mas sf0 em absoluto indepen- / dentes: uns dos outros, enquanto. dominadores de Areas"{ delimitadas. E de expago. para espaco hi eqoilrios de \ forsas, pois no havia quem fost sficientemente poderoso } para’ romper em beneficio. préprio o tecido social. . Uma’? qualquer tentativa de alteragio a0 que vigorava ‘irial subordinar oligarquias ‘2 oligarquias— pela criagio de} capitais (2) —e ninguém estava na. disposigio de um sacrificio. 3B a Ca Equilibrio, pois, da. centralzagio tries com a lverizasio prética do poder. ‘A concessio de foral ou de una carta régia elevando aa povoagio& categoria de vila tornavaa independente de outra vila ot cidade, o que implicavaanccesidade de dspor de stmbolos do poder. © pelourinho era a marca da Jutisdigao e da justga na érea concelhia; easas da chiara, cadeiae ciara —juizes, vercadores, procurador do concelho e escrivio — as materializagdes e os agentes desse poder-mando 8), Momentos particulatmente importante nesta extrtura sf0 as procisdies do Corpo de Deus, O lugar de cada um esti fixado conforme a reprcsentasdo mental colectiva da estratificgio social. E por af se vé que os agentes da burocracia régia tém uma posigdo inferior das cimaras. Quando muito autocizam os conregedores Sgutar junto com a cimara por gentilezs. O jut de fora pode ir junto com a gente nobre da governanga porque faz parte da ciara, © no por nesta representa, como fancionésio, o monarca. A cémata cabe o lugar mais honroso, junto do Santsimo. A cimara escolhe 2: «pesoas aque ande levar as varas do patio em dia de Corpo de Dews Por averem ja servido de vereadores pot serem as piinsipaise ), ones Bor serem at prone © Poder tem a sua sede no rei, o Mando exerce-se a partir das cémaras? Nao apenas, nem dito de um modo esquematico, Ha ons, eke mene ee sata de poder © de mando, entre as quai a mais forte é a Igeeja (3). Mas pelo que respeita ao equllbrig a wammtagio —- poderes central ¢ locais—, sem diivida que o rei tem instrumentos de poder e exerce uma parte nto despresivel do mando, Em geral & acatado, desde que no firo “os interesses das oligarquias. 56 Localmente 0 acolhimento do poder do rei pode teadazir-se simplesmente na execugio do determinado, Porém, io poucas vezes, vémo-lo filtrado, condo, defor- mado ou anemizado, Outras vezes ainda a recepeio pode ser negativa c ter mesmo a rebeldia como resultado, Estas segunda e terccira formas sio-a demonstragdo da ineficécia ou eficécia relativa do poder. Se a passividade na néo exectgio de determinagées superiores, ou a sua aplicasio deturpada passam despercebidas, ent geral, apesat de ser 0 comportamento mais vulgar, a rebeldia é quase sempre, vencida pelo soberand. Mas o facto de acontecer descobre que 0 absolutismo tem muitos limites. Em 1602, por exemplo, a vereagio do Porto $6 aceitou reconhecer 0 conde’ de Tarouca como capitio-mor da cidade depois de ter sido presa, O rei impés-se. Nao muito tempo depois, no centanto, o capitio-nior retirava-se do posto (*4). ‘As cimaras agem’ em nome do monarca, mesmo quando actuam contra os interesses gerais ow’ contra as ordens recebidas. B podem mesmo it longe .em certas situagdes. A distincia ajuda a0 éxito ou fracasso da intervengio régia. £ visivel que as cémaras brasileiras (como: as demais do ultramar (27)) tém uma margent de manobra: ‘bem superior as do territdrio continental. Podem, polida- rente, recusar-se a cumprir algumas ordens, Mas podem ir mesmo até A violéncia da recusa do pagamento de tributos — como fez a cimara do Rio de Jaiteito rebelan- do-se contra Salvador Correia de-$4, em 1660 (#8) —ow ade cembarcat preso um governador capitio-general ¢ expedi-lo para Lisboa — como fizeram’os moradores de Pernambuco, em 1665, a Jerénimo Mendonga Furtado,pois ano ouvia os clamores do Povo, desprezava as pessoas principais, que por nascimento e fidelidade lhe merecido differente tratamentoo. Niio atendia ana Nobreza as queixas, ¢ no povo as irast (®). 37 f } ©. desprezo: pelas -pessoas principais era imperdodvel: atentava contra a estrutura social e contra'a otdem politica que a fixiva, A cfectivagio do poder tem a ver, naturalmente, como prestigio ¢ os recursos fitianceitos do rei. Bm tempo de guerra e de sobrecarga de impostos, de mnal-estar, as ordens no seriam cumpridas com a mesma celeridade ou com 0 zmiesmo rigor do quem tompos de recursos amplos ede paz. Ea prépria realeza contava com isso antes de actuar: durante 2 Restauragio as Cortes foram reunidas ¢ os representantes coricelhios ouvidos com frequénéia, Em periodo calmo ou Jé com o outo do Brasil a permitir outra folge desaparece ‘esse anacronismo politico. Mesmo quando as dificildades so'grandes chi aflotamientos de rebelides, as Cortes ni6 si0 convocadas no século xvur. Nem seqier com a guerra da Sucessio de Espana. A situagio, mé (%), nfo era afinal desesperada,, Quando 0 rei menos precisa financeira militarmente do. reino, 0 seu Mando nota-se menos, embora talvez se exercesse melhor. £ um pai distante no exercicio de um dominio incontestado se bem que nem sempre acatado no dia a dia. A acrancada’despética do matqués de Pombal decorre da earéncia de, recursos; no entanto prefere ir buscé-los pritneiro ao comércio ultrama~ tino do que extorqui-los aos povos (2), Por ser mais simples ‘emais répido.ou por se reconhecer falta forga voerciva no poder central? Equilibrio em beneficio do poder local, ¢ sobsetudo nos /sque nele tém vor activa © passiva. Poder real uno mas distante, poderes locas diversos mas em acto, Lembremos 0 / que escreveu Jodo Pinto Ribeiro, que quando jutiz'de fora em Pinhel softew inresignado a tirania das cimaras: eque coisa mais livre; que huma Camera ft do supremo dominio, que nella tem.o Principe; «ada mais livre que 38 Juma Camera attenta a liberdade dos povos (#). Povos, bem entendido, significa o conjunto da populagio cir cunscrita & area de cada concelho; ¢ livres eram 0s povos na medida em que nem 0 rei nem as cimaras podiam agit arbitrariamente contra os direitos ¢ privilégios fixados pelas leis (8). © que nio significa, bem pclo contrério, igualdade pecante ale, pois a desigualdade decorria do ordenamento |jucidico e politico: era estrutural a0 seu edificio (*). Como tal respeitada, sem fiegSes de igualdade ou de paridade, mas sim de hierarquia, de privilégios, de honras. 39 5. AS OLIGARQUIAS DOS HOMENS NOBRES. DA GOVERNANCA. 03 oficios concelhios sio objecto de cobiga com boas razées ¢ suculentos motivos. Quem alguma vez neles se instalaste no estaria muito disposto a deixar de querer 0 seu quinkio na partilha proveitosa ¢ na promogio social hhonrosa ('). Se, como vimos, as aristocracias ou oligarquias locais jé hg muito se tinham constituido, a verdide & que no século xv1 ainda ¢ notéria uma certa capilaridade que pet mite a ascensio de novos membros, ‘A.cxpansio, maltiplicando o ntimero de cavaleiros por feitos de armas nas pracas de Africa e da Asia, vai dando ugar a que homens de obscura ¢ desconhecida familia aparegam como prestigiados. Ao mesmo tempo, fidalgotes de provincia atraidos por Lisboa ¢ conquistas deixam as suas terras abrindo caminho 2 que gente menos ilustre ocupe os, offcios do concelho: 0 escudeiro da Farsa de Inés Pereira vai a ‘Arzila fazer-se cavaleiro, enquanto o honrado Pero Marques chega a juiz sem saber ler as Ordenagdes. Mercadores cenriquecidos participam por vezes em governos manicipais, ecristios novos hé que conseguem penetrarneles, 4 Em Visea, em 1534 (quando jé vio bem adiantadas as negociagdes para 0 estabelecimento da Inquisigio), & nomeado almotacé Anrique Mendes, choi de boa easta de cristios novos, Nem sequer se tratava de uma novidade, pois outros jé tinham servido ¢ até de vereadores ¢ procuradores do concelho (2). Em Viseu, como em toda a arte, ainda era comum reunirem-se assembleias para ouvie 08 vizinhos, embora as deciséies competissem 3 cimara — Jule,” Wereadores. © prociirador dé “concelho. —Pessoas (importantes ¢ mesteirais dizem de suas raztes: comendado- | res, cavaleiros ¢ escudciros, fidalgos e escudeiros cidadios figuram 2 par de simples oficiais mecinicos ¢ povo (). Claro que os vereadores eram cavaleitos fidalgos ou escudeiros: cidadéos,. como dizem (1), Nas procissées figuravam com suas varas vermelhas nas mies (9, manifese tagBes:pablicis em que a autoridade se‘ exibe, elemento estrutural ua sociedade de. Antigo Regime: Exercér tais, cargos era inerente & condicio de primazia social: como se diz.de Rui Friss, instalado na itha de $: Miguel, na vila da ‘Lagoa, «sempre foi conhecido por homem fidalgo ¢ como tala govemnou, de juiz ¢ vereador, que. sio 0s oficios, principais e honrados» (5), Por volta de’1580, no Porto, «as hontas de que'se os homens: mais. prezoo. consistem: em serem vereadores, levarein tochas no dia do Corpo de Deus, levarem as vacas do pilio nas procissdes,serem eleitores e Buatdas-mores. Ea necessitia. mistura do exercicio' do mando com a sua manifestagio piiblica, Porque: se julgaria. 0 lugar’ de vercador ptopenso a negdcios menos limpos era honitoso sé Jo: por hnuma soo vez/o mais nio he de boa sospeita> (”). Jientdo é bem distinta a divisiorentre « (9) Comega a cristalizarse definitivamente 0 grupo social dla gente-nobre da yovernanga ou, mais simplificadamiente, nobres ¢ inobreza. -Néo. sabemos. de quando datam, cexxattamente, estas novas designag&es, mas decerto- gene ralizam-se em fins do século xvi. En 1600 Loulé dispunha deuma provisto régia para que os almotacés efossem os mais, nobres da governansa ¢ onrrados,-spessoas nobres ¢- do governo da terra rycos e. abastados» (It): Os~ nobres aproximam-se dos fidalgos, sem desde logo se confumdirem. Em Tavies, em 1614, 0 juiz dohospital tinha de se fdalgo, 0 motdomo © © eicrivio apenas pessoas nobres .¢- da governanga da cidae\(!2), Um alvaré régio de 1641 dispoe que aarrecadagio de um tributo se faga em cada feeguesia do Pafs epor um fidalgo; um homem nobre, outro de tiegécio, outro de povo (oficial) (9). Pelo mesmo alvars se vé que 0 novo homem nobre’é 0 antigo’homens do meio e cdaddo. Estas, ‘lkimas expresses praticamente desaparecem da linguagem corrente,nos séculos xtvm ¢ xvmr, embora no de tédo di documentaglo oficial, Nobre, adjectivo, vaise tommands tam substantive, Este estrato dé nobres, junto com 0 do fidalgos residentes nos néicleos urbanos sedes de concélhos,, vai dominar completamente os governos municipais ow senados: xo 0s evereadores: homens de capa: ¢ espada escrevea cimata de Lisboa em 1624 (#). s Para isto teré contribuido decisivamente 0 proceso eleitoral ¢ as exigéncias quanto & qualidade ¢ condigio dos que podem ser eleitos...Apesar de as. Ordenagées Filipinas muanterem no essencial os dispositivos. das compilagdes anteriores (Liv. I, Tit: LXVI), o certo & que logo em 1605. B pritica & diferente e mais restritiva, e fora introduzida por ordem régia, de 22 de Julho (*). corregedor passa a escolher duas ou trés pessoas das fnais antigas, das mais nobres c que habitualmente andam na / governanga, as quais cabe arrolar os que tém qualidade ¢ condigio para os oficios da repiiblica. Este ol veioa dizer-se rol do nobreza ou arriamento: fixavase nele a gente ) importante da terra, a quem se reservava a capacidade leitoral passiva. Depois chamava-sc a nobreza ¢ 0 povo l, para cleger seis eleitores —de entre os constantes do rol. Estes cleitores, que eram os que tinhain recebido mais votes, - reunidos sos pares, elaboravam tes pautas com 0s nomes dos que deviam servir durante os préximos trés anos, 7 (O magistrado enviava para Lisboa (ow para o senhorio que tal privilégio mantivesse) estas pautas. Depois de apuradas, eram anualmente comunicados is cdmaras os nomes dos nomeados, que entravam imediatamente em fangdes. Os cleitos deviam ser edas pessoas mais nobres e da governanga da terra, ou que houvessem sido seus pais © avése (18), Em Loulé, em 1605, jé as Ordenagdes se no cumpriam, seguin- do-se 0 dispositive determinado por essa carta régia, Ei 12.de Novembro de 1611 um alvaré generalizou a todo 0 Reino, supomos, este processo restritivo — mais restritivo ainda do que o fixado nas Ordenagées (2), Note-se que até principios do séeulo xvu ainda era corrente a participacio do povo na asseiubleia que elegia os, cleitores, ou outros actos de grande importéncia, como a cleigio dos procuradores is Cortes, Em Loulé, em meados do século, nem isso: jd s6 votavam os nobres (!8). Em 16140 cleitor mais votado teve 158 votos, o menos votado 121; em. 1671 0 mais votado 8, 0 menos votdo 1... Os procuradores de Braga as Coites de 1641 queixavam-se dos ‘grandest umultosda gente popular, que tumuleuariamente “ queriam votar, perdendo respeito aos Regedores da Cidadey; 20 rei apouve aque nas taes eleigdes no votassem, seniio Cidadios, seus filhos, e netos, que nifo fossem filhos- -fumilias —e nio fossem admitidos a votar os do Povo, como o nio eram em outros Logares do Reino» (#9). Nou- tras vilas mantinham-se as assembleias, como em Guimaries, conde ainda em 1697 os procuradores as Cortes foram cleitos com 306 ¢ 304 votos (38), Mas os eleitos nfo eram do povo. Aliés 0 processo de aristocratizago dos procuradores 3s, Cortes énitido. O grupo definita-se, Uma das cléusulas mais restritivas cra.a da exigéncia de que pais e avés tivessem exercido os, mesmos -cargos: Com as Ordenagies de 1603. juizes ordinérios, vereadores ¢ procurador do concelho passaram a gozar do privilégio de no serem sujeitos a tormentos, tal como 0s fidalgos; .os vercadores em duas geragbes, © procurador do concelho apenas em vida (Liv. V, ‘Tit. CNXXVII). Anteriormente parece que o privilégio de nio ser submetido a tormentos é inerente a0 cargo, no se transmitindo is pessons. E antes de ser geral fora concedido ‘pelo monarca a virias terras como privilégio local (#). Um outro privilégio, ¢ nfo. menos importante, passa depois a ‘star a0 aleance desta gente. Pelas leis das ordenangas de D. Sebastifo (1569 ¢ 1570) 0 capitio de ordenangas goza do privilégio de cavaleiro, «posto que 0 nfo seja»(#). Ora as cimaras nomeavam os capities de entre os que anda vam na goventanga.... Tudo fimcionava jé em cireuito fechado. Onde a fidalguia & escassa, estes postos militares vio ser disputados, Em Faro, por exemplo, na procissio do Corpo de Deus de 1681, todos osnomeados paraas varas do palio ¢ para acompanhar 0 guito real eram capitis, nobres mas nfo fidalgos (2). 6 Em geral nfo se sente nas cSimaras a presenga actuante da alta aristocracié, nem sequer.-por intermédio : de apaniguados, a menos de estalaralguit conflto! E entre'les ‘hg alguns conftontos. & vulgar que grandes proprictérios’e comendadores queiram comercializar os produtos das suas, rendas dizimos, Mas as ¢maras; aléin de legalmente hes exigitem quie deixissem ficar a terga paite na terra, como a lei determinava,inio poucas vezes impedem a saida do restante,, Tendo a’ responsabilidade do abastecimento ¢ pressionadas pelo povo mitido, entravam a circulacio, nfo hesitando em contratiar as ordens régias (*). Localmente impdem-se aos grandes do Reino, como. aos magistrados. Quer a realeza, quer os senhorios viam erguer-se pela sua frente estas poderosas barreiras’oligérquicis, .que constitufam um sgiupo de vetos, embora néo tivessem possibilidade de formar um «grupo de voto (2), a menos, queem Cortes, e mesmo assim limitadamente, Estamos convictos de que a maneira de compicénder ssta’cristalizagio & tomé-la como uma forma’ social de resposta A. recessio econdmica seiscentista. A abectura relativa do século anterior, tipica das épocas de prosperidade, terminara, Cada grupo: se: fecha nos. seus: privilégios. Mas por vezes hé. mesmo necessidade de alargar 0 grupo —ou impedir © seu confinamento excessivo. A entrada teria de fazer-se pela nomeagio para almotacé. sagem estrcita, Por Alvari de 1618 is eleigdes para os cargos de almotacés ese fassio.em gente nobre, ¢ dos milhores da terra na forma da Ordenagio,c.em, ue caiba servirem de Veriadéres..., ¢ que por ninhumi caso se clegerBo pessons para servirem de Almotacés... que elles, ou seos Pais fosser, ou ouvessem sido Officiaes meca- nicoss (¥). J4 anos antes havia preocipagées com esta via de acess0, ereacgesse conhecem, Em Guimardes, em 1608 foi 46 cleito para almotacé o imaginario Joo Lopes., Houve quem. se agravasse ¢ em,cémara compareceram 23 pessoas nobres ¢ da governanga, sendo afirmado aque 0 dito Joxo Lopes eka cleito, por set homem da governanca de Ponte de Lima ¢ ‘Viana e ser casado nesta vila com Ménica Barbosa, de gente principal ¢ ele por seu carrego e oficio no desmerecer de nobreza e pelos mais servigas que tem feito a casa, de Misericérdia, e porque além da qualidade de sua pessoa e de sua mulher, se trata a ici da nobreza, com.seu cavalo e eriados ¢ a arte dele a exercitam ¢ exercitaram eavaleiros do Habito de Cristo e fidalgos nos livzos de S. Magestade» (7). Oser oficial mecénico, ov filho de oficial mecénico podia ser saperado em alguns casos, como se vé também em Lisbos; em 1716; um tal José Valério de Andrade pode servir-de almotacé das execugdes porque seu pai, em tempos cericiro, 4jf no € cericiro, esté retirado em, suas fazendas, em owe vive, ¢ foi procurador dos mesteres n’este senado, pela quall occupagio ficou habilitado seu filho para as honsasr ‘A exigéncia de nobreza esté assim justficada: «sempre os mais nobres devem preferir, porque do contrario'se seguem ruitos absurdos ¢ perda de xespeito da justiga, como ha pouco tempo sucedeu a dois almotacés, a quem descom- puzeram e espancaram por serem pessoas de menos esphera, © que no sucederia se fdssem nobres, porque a vileza das pessoas que exercem officios, faz que se no tenka menos, respeito a0 que mandam, ¢ se Ihes desobedega com tmais idades (3). O respeito puiblico ¢, pois, um atributo do obre, ¢ como tal s6 por si expectativa segura de bom cumprimento dos cargos municipais. Alm de outras idades ¢ condigdes que garantiam a chabilidader para os, oficios da repaiblica, Manuel Pires de Aguiar consegue, em 1628, entrar para a nobzeza de Coimbra demonstrando ser cristo yelho, casado com cris? velha filha ¢ neta de a cidadtos, © pai ser sacerdote nobre, jd ter servido de almotacé ¢ de procurador-geral da cimara; ser rico ¢ afazendado, tratando-s le da nobreza com criados, pagent ¢ crindas, ser itmito da Misericérdia e jf ter servido o Sento Oficio (x0 se diz como) (9 | _Arealezareconhece as forgaslocsis,nelas se apoia parao recrutamento militar, pa a cobranga de impostos, para 2 Justga na flta de jlzes de fora... Quandonecessirio, para | ‘cquilibrar a enorme autoridade dos nobree na interior dos concelhos,o rei determina a eleigso de mesteres pare aquelas clinaras onde no era costume havé-los (2). O edificio do | Antigo Regime politico sustenta-se pela conjugasio de jf | cauillbris. “Assim, ens cidades e vilas mais populesas hi | fepretentago popular dos mesteres junto das edmaras, das j guais no fazem parte, embora assistim as remiss |} Naturalmente que em Lisboa esen representacio é bem mais | importante e forte. | «© povo mitido ¢ os mesteres softiam sobretudo a J opressio das oligarquias, que er simultinco os defendiamm em relagio’ patriarcal ambigua, E, a outra escala, a reproduso das relagBes com 0 monarca distante (e por iss0, esta dltima uma presenga menos sentida). < Para entender a estrutura do poder na_sociedade de\\ Th / Antigo Regime hi qudsotiat ao absolatismo teérica que os nfo vai além da preeminéncia régia, 0 neo-senhorialismo EB |. robretudo ecteséstco) c'o neominunicipalismo, em equi- bios estaveis esibios doseamentos sociais (°2). Nao pare que haja por parte do monarca a busca de apoio no Povo. Hé, sim, a ctiagio de mecanismos de equilibrio ¢ de contencio equilibradora entre os virios poderes concor= rentes, Cremos ser significative que, ainda no século xvt, ara limitar o poder senhorial, a realeza recorra a velha eceita da criago de concelhos. “Mais uma questfo de 8 ilibrio, repetimos, do que um qualquer propésito de Sea iad populares, ein sctuou na Madeira januel I, para dar um exemplo (3). » Meets € enquistamento social, eis o resultado. Lembre-se 0 epis6dio referido atrés, da nomeagio em Veen 94 dum altkrisionovo, Comatose em 1637 hs protestos de acidadios nobres da cidade Vie) unl rmsd os exrgosnobres de vreados Jules, pocuradres clots, pr term enrado pars desrpeno dees Igues poss de fore do grep sdeno da nobreza da cidade, pelo que requerem que s6 se ckjam pons nobrs, fies © actos de cian, spe sempre coube o desempenho dos cargos de juiz, vers almotach..O escrivio era tambén, sempre, da nobreza, enor Iga fe epecinentsreerao pn gets nobre de recusos modes ou enpobrecda) ereditariedade esté fixada ¢ perdera-se o espirit ensata wen ane sinks vgsrvtam foo te. lugar de ceive rane pie dos enclose de proviento tena msmavrse aio so mai rendovo— pelt nas, coimas ¢ emolumentos — como 0 que dava mais ponibdades de eniquecimeno,sobcetado onde se acuma- Ivan a flanges de rv da mar coms de evo da amor, fos di, eta Bsstas ¢ eth 2 papelada estavam a seu cargo, com 9s atracgbes. que, i podeny nagar. or vero, em especial mas tr de donatétios, 0 cargo era concedido vitaliciamente., Pat cipando em todos os negécios tha uma posigio de: nome ascendente no concelho, onde os julzese vereadores, nobres muito honrados, nfo pasavamn muitas vezes de rsticos iletrados. Reparese que deiximes de fora 0 procurdor do concelho. Cremos que 0 finico lugar onde, em algumas # PU ' chmaras, tent assento gente do grupo mercantil, grupo ‘que fica arredado da. parte nobre do'goveens concelhio, No quesemos com isto dizer que aqui ou acolé este ou:aquele mereador nao tivesse conseguido frac cinstalarse: Mas se © fez: decerto que deixou 4 metcancia como actividade principal, passando a eviver % lei'da nobrezas, Para isio contribuia decisivamente ataque: massivo:desferido pelo Santo Offcic' 20s ‘homens de-negécio nos. principioe do séeulo xvii, Maitos nobres mantém edeseavolvem o seus negécios, mas no como metcadores, Vejam-se ~aquales ppoderosos do Porto que in intereses na venda dos viahos de,Lameys €:sio vereadores (8). Em ‘Faro, nos’ fins. do século'xvm, um ‘ou outro homem ‘nobre e capitio de ordenanga- participa. no. trfico com Amsterdam (8); ria Figueira da Foz do Mondego cm 1768 ui tal José Pimentel de Valadaces,capitdorde ordenanga, é homem de negéeio e arrolado: pata. vereador (%). , Mas ein’ Guimaries @ "emi Amatante 6 para procuradores ou tesoureirés hi hometis de negécio (*). Noutros.concelhos, em Loulé,"por exémplo; nemisso. Nao témJugarna cimara, simplesmente: Ein no pPoucos casos os: Iugares de procurador 'paisam asc, automaticamente, ocupados pelos vereadores maismogos do, aio anterior, c # até necesito ‘passa a haver-vaourtizos, pois a nobres era desonzoso mancjar dinkciros,comose diz em Loulé, em 1651 0%) ‘A enobreza municipale ou anobreda de pelourinhos eseh /fotsiuds: Baa durareperdurar. Avndogumia vai serde fregra.-O grupo permancce esisvel:e fracamente rejuve- { nescido durante mais de-doisséculos. No.easo qué melhor conliecemos, ode Loulé, em 41.r6is da nobreza, entre 1605 ¢ 1831, figuram 273 nomes, em média 22 por eada rol. Enfo deveresperar-s diferente resultado:quando outras séres, de outtos:concelhos; sc encontrarem, Em Amaratite, em. 1754, 50. foram arroladas 20 pessoas, 19 em 1757, 25 em 1760; em. Elvas, em 1755, ndo passam de 28, mas em Evora sio.s6 12; no mesmo-ano, em Tavira 15,em Lagos 24, em Portia e ‘em Castto Matim 17, em Albufeira 20; em Lamego, em 1768, ficam por 16; em 1773. Montemor-o-Velho 14e na Figueira da Foz do Mondego 12, em Visew 21;'Santarém em, 1804 conta com 35. Emr Guimardes fo 18 em 1764, ex 1768 no mais de 28, em-1831 apenas 25 (#), Em Loulé averiguou-se que 2 gente:da nobreza,.cm principio do, séeulo vm, s¢ resumia, a 2% do, total -da populacio, apenas 0,7 m 1672, em. 1717 0,5% e em 1773, nfo mais de 0:3.(#).. Este confinamento implica que 0 exercicio dos cargos recaia frequentemente em. qucm-jé 0s merecets, anterior- mente — e nem sempre salvaguardando o dispositive legal deum intervalo de trés anos. E assim, por exemplo, que eft ‘Bvora; nos 232. anos que decorrem de 1526 a 1831, dos.240 vvereadores conhecidos, 92 s6 0 foram’ uma vez, 39. dvas vwezes; 35.tr8s, 25 quatro, 10 cinco, 19 seis, 9:sete, 5 oito, © ainda I nove wezes, 2dez, 2-onze eI treze vezes (#). Eram, claro, pessoas fidalgas, da principal ow primeira nobreza da cidade, filhas e netas de vercadores (#). O caso de Evora, pela sua extrema aristoctatizacio, nao serétalvex paradigm’ fico... Mas a propésito da mui nobre, ¢ sempre. leal © eburguesa» cidade do Porto hd mesmo quem fle vem sdinastia de; vereadorew, durante 0 goveno filipino: 34 foci vercadosss tana ver, 27 dass 13.8, 13 quatro, Tocineo, 4 seis ie 1 nove vezes(#).. Ditiastia é dizer expressivo, embora pouco adequado 20 grupo, pois 0 grupo,.c no a8 pessoas, que detém 0 poder. O factor sucessorio &determinahte para se pertencer dogrupo social em, que se pode ser vereador e:ocupar.os demais cirgas hhonrosos da repiiblica, embora no sendo fatal que quem 5 nele naiga-venha a merecer esses cargos. Mas sem divida que hi alguma coisa de dinistico, de edinastias de familias» (#9), na determinagio. de que sé. podem ser vereadores aqucles cujos pais e avés também o tivessem sido. ‘Trata-se, pois, de pequenos grupos solidamente esta- belecidos ¢ fechados, que detém o mando por todo um tetritério fragmentado. Entre as cimaras nifo se encontram solidariedades horizontais, como mal as hé verticais com 0 poder central. A cada grupo cabe administrar um espago, sem atender aot interesses dos espagos confinantes, nem procurar a sua articulago — o que aliés nfo éraro acontecer pelo que respeita a taxas; ou a regulamentacio do pascigo, pois 0s limites dos termos nfo eram estangues. Mas muitas ‘vezes conflitos surgem. Nao que esta gente procure sempre cefectivar a todo 0 custo a autonomia que 2 lei reconhece a0 concelho, com especial relevancia para a questo dos abaste- cimentos, Nao poucas dificuldades resultam de a érea de responsibilidade de cada grupo se confinar excessivamente, retalhando espagos comercialmente articulados © despre- zando vantagens que de outro modo se alcangariam, ‘As atribuigdes destas nobrezas nz regulamentacio do fancionamento dos mercados eram de enorme importincia {e isco por vezes). Os povos rebelavam-se aquando de carestas,e exigiam providéncias, que podiam ir longe. Em Setembro de 1694 0 povo de Guimaries, amotinado, requeren & cdmara que se clegesse um juiz do Povo «para o bom governo desta repiiblica, pela inuita miséria que o povo padece pela filta do pio c de todos os mais mantimentos, pelos descaminhos. que deles. fazem regatdes e rendeiros. 0 povo mitido nfo accita a recusa do juiz ordinrio, em ptoceder conforme o seu desejo, pelo que elege um juiz do Povo, vai buseé-lo a cass ¢ mete-the a vara na mio, contra vontade do préprio (#8). Tudo isto a ealtas vozes, 2 ‘As quéstBes do abastecimento, em especial em pio, tomam-s¢ por vezes dramiticas. E é assunto de tanto melindre que as cimaras tudo fazem para evitar -os agambarcamentos ¢ as correspondentes carestias. Por isso a regra geral era liberdade de importagio de cereais eo forte condicionamento & exportagio. ‘As hontas ¢ 0s proveitos sio duramente disputadas defendidas. HA quem queira ingressar no grupo, mas no sabemos de quem queira destruir o regime, até bem tarde, ‘Vejamos um caso tipico, ocorrido em Guimaries, em 1768. © corregedor da comarca Inécio José d2 Mota de Carvalho procedeu a eleigio normal cm 15 de Jancito. Parecendo a alguns «menos bem reguladas, houve protestos, eo acto foi repetido.a 14 de Abril. Outra queixa surgit entfo enviada a0 monarca: «He verdade Senhor que a vereansa, ¢ governo da Camera da dita vila anda & muitos annos perpetuado em tres, ou quatro cazas della, © nos pparentes destes por modo de vincolo, heranga ou prazo, de sorte, que nove ou dez pessoas, (...) andio por giro sendo veriadores (..) ¢asim que filecem os Pais vao logo puxando, pellos filhos», Naturalmente que procuravam luerar com 0 exercicio dos cargos, interferindo no comércio ¢ na sua rogulamentacio, assim garantindo honras (respeito) © pro- -veito (conveniéucia). E 0s queixosos apontam que endo basta para o bom governo da republica, se fidalgo, ou nobre, he recizo que concorra o temor de Deus, 0 zelo de servir.a YV. Magestade ¢ 0 do bem comum, ¢ as mais virtudes como hhe a humildsde em que todas se estabelesem e nfo-na soberba, he precizo:capacidade, literature, isto nfo nasce com a nobreza, e com a fidalguias. O atague 20 grupo no ‘vem mascarado, Ea alterativa proposta também no: mio, faltio na dita villa éondecorados ¢ com nobreza bastante para grandes empregos e a pode suprir a inteireza, limpeza 53 ad de'maons, e boa capacidade que nem todos'os:que endo naquelle giro, tem a que se persuadem, nom as virtudes que so as precizas,e que.fazem merecedoras as pessoas para 08 empregos. Os queixosos, em ntimeto! de 18, sio, 20 que averigudmos, advogados, licenciados ie bacharéis-em boa parte, 10 deles do também cavaleiros professosmna Ordem de Cristo, outros tinham jf andado nas pautes eno figuravam nesta, Quéstdes de partido? Talvez, Mas nao haja divida de quiese trata de uma tentativa de penetragio e alargamento do grupo dirigente, com especial destaque para os que tinham’ graus académicos. Tentativa de togados que se sentem com forge e vocagio para constituir uma nobrezi togada? Influéncia da legiilagio espanhola de 1766, que pissou a cxigir a eleigio dé um representante do:povo nas cimaras (17)? O Desembargo do Pago e a Relasio do Porto no viram com bons olhos a pretensio dessa gente. de Guimaries, «Nunca no meo parecer ade sahir 0 Governo ds pesoss da’primeira nobreza, para se escolher entre as da segunds clase as de melhores predicados, como pretendemm; copina o desembargador José Correia de Lacerda. Ea seguir explicite porgué, revelando ‘como: sistema era rigido.e inaposstvel de se regenerar: a entrada de pessoas de segunda classe’ seria 0 modo ide fazer -odiozos estes-empregos primeira:e antigua nobreze daquela vila, de quem se deve esperar melhores procedimentos, ahinda que a8. vezes se encontre‘algum que degeneres (#8).Por outras palavias, 2, promogio de gente menos nobre faria desertar a de mais antiga nobreza; mas no era sobre esta que asseritava, cm boa parte, a estrutura socio-politica doEstado? A mudanga de uma pega podia pér'em risco o ordenamento geral.de/ uma’ sociedade em que os privilégios se escoravani ‘mutuamente nut equiibrio provido (#) 5a Para a-manutengio de. statu quo,era condigo necesséria no-entanto, que algumas promogéés s¢ fossem dando. -E assim acontecia, no sem dificuldade. . Mas s6.8¢,admitiam feaso. a caso, @ de longe em longe, como em: Faro, ‘em 1719 (6), ‘ou em. Santarém cm. 1803 (1). O. grupo, a.sua rardo de existncia e coesio, sifo, podia ser posto em causa. Q-grupo, repetimos., Porque ao contrério dos :reinos vizinhos, onde- 0 lugar-de «cegidor» era-vitalicio ¢ até hereditirio (por vezes negocidvel) (#2), em Portugal frus- trou-se a tinica tentativa de estabelecer vereadores vitalfcios gue se conhece: em 1498 o Rei recusa'terminantemente um pedido dos procuradores de Elvas as Cortes de Lisboa que ia nesse sentido (©). Por isso a defesa da cxisténcia e da coesio da oligarquia advinha de se consolidar ¢ delimitar pelo modo de vida—a lei da nobreza—e pelo exercicio do mando, © grupo foi-se restringindo ¢ apertando. Creio que Festa & a explicagio para que em finais do Antigo Regime hhaja bastantes queixas de falta de pessoas para o governo dos ‘povos —argumento curiosamente empregue na legislagio, ‘com que se procurou impedir a emigragio deEntre-Douro Minho pata o Brasil em 1720 (#). Grupo local, 20 tornar-se demasiado pequeno, teansformavam-se os beneficios em sacrificios. Por isso havea falta de gente de qualidade, em special para os lugares de almotacé, cargo que 36 vyerdadciramente interessaria para penetrar no grupo, mas cayjo exercicio difrio nfo aliciava os jd de ha muito instalados. Mas o sistema administrative e social néo admit alteragBes. Os préprios monarcas, ou os seus corregedores, quando incapazes de reccutar gente para 0s oficios concelhios que exigiam nobrezs, nao destrufam esta exclusividade. Escapavam 2 dificuldade fazendo ingressar co ano gtupo, parcimoniosamente, gente nova promovida (8). © que, como seria de esperar indignava os insaladon a nobreza de Loulé, em 1731, fez a Sua Majesade uma Peticio spara se remediar a inttodugio de sujcitot na Republica em que i concosrem os requeritos (#), Senhoras do mando, fechadas em relaScs socials cadogimicas, as oligaequias taavam 6 quer que seja que altere 0 Sea estatuto economico-socal por coy a sins posigdes, Aproveitamdo mediocremente a. vida loca, impedem caminhos novos e sustentam (em boa parte) a estagnagdo geral do Reino, : 6. O BLOQUEIO SOCIAL E AS LUZES DA RAZAO ‘Aos olhos dos iltuministas a constituigio, a composigio social, os poderes ea actuagio dos concelhos vio ser julgados lopresores¢ vexat6rios. £ assim que'os vemos através dos sécios da ‘Acadetnia Real das Cigncias de Lisboa. «Todo 0 privilégio he odiozo & Lei, principalmente aquelle que he adguirido sem merecimento: proprioe (!). Os impostos server 20 monarca para edministrar a Justiga © pagar a defesa do tertitério do Estado, «A distribuigio: deve ser regulada pela equidade natural, e segundo a possbilidade de forgas de cada Cidade», Ora isto nfo acontecey pois & determinagdo dos quantitativos que cada um deve pagar eité ‘cometida as «pessoas nobres dos povos 0 eftito ¢ assim 0 contrério da désejada equidade, eporque os mais dos Nobres atropelando a Justiga, e desprezando os dictames da hhumanidade, se eximem a si, ¢ aos seus, © carregio os pequenoss. Daqui, conchi Anténio Henriques Nogueira, = razio porque edevem ser. abolides os privilégios, que os nobres tem uaurpado, ¢ de que uziio com tanta tyrannio» ). ‘Outro académico ataca duramente a opressio que resulta das posturas, antiquadas e restrtivas, quando nfo perniciosas & a7 | actividade comercial ), Um outro ainda lembraré como apesar do disposto no deerero de 12 de Dezembro de 174, que abria para 0 eLivre giro dos generos pelo interior do Reinos, as camaras 0 emperravam pela vatiedade das regulamentagées, por «ivalidade feudal das terras humas para as outs, dizer datado de 6 de Julho de 1791 () As velhas prticas cram consideradas, ¢ hoje sabemos que com boas razdes, um impedimento de monta 2 construgio econ bic to ‘spigo®naciotial.” Bloqucio que tomava 0 regime concelhio incompativel com as neces wilddetconduicactota, caren ed sua derrocada.a breve trecho Posturas cmperradoras da cir os exacybes sais, abuso dos cargos aia we Acentua-se uma dentincia jé antiga, a que muita lei guisetam por cobro:-o aproveitamento, por parte -dos homens nobses da govemanga da sua posigio para se apossarem dos ‘bens “préprios dos concelhos, ou deles usufrufrem mediante arrendamentos, eobrindo outras postas..A realeza diso-os-proibia, repetidamente, Mes a -esma repeticlo significa ageneralizaa infiacgao (0), News oi baldios das comunidades estavam a salvo desta cobiga, no ue os nobres cram acompanhados pelos magnats,leigos ¢ éclesiésticos: Durante o século xvuenquanto nao hi falta de-terras, por qucbra demogrfic, as queixas pouco se vem: Mis quan a preso popuaconl se intense spamse- a8 negociata. Os: baldios”(comuns) ¢ os snaninhos(pr6prios) si objecto das pretenses dos pode. r0s08. Nao poncas queixas e noticias de processos revelam. ‘que 0 servi da repéblica & bem um serviga ein prol de dem dig do poder de agit. Par dar um expla veja-se.o conflite que se este mnte-anos ita regito de Coimbin de 144 em dnt (9, mone eto de que se viria a traduzir pela 58 ~--Pombal-vira -claramente® que -a eficécia do. Poder pasavapela cobrangs dos-impostos-e pela reforma: do extrcito. Todavia 0! Erétio Régio nfo conseguit ir tio avante na reforms: prevista que remodelasse 0 regime tributirio, as ordenangas persistem na rectaguarda do exército regulamentado ¢- disciplinado -pelo~ conde de Lippe. * ‘A sua politica também viso modificar, tacionalizando no sentido do despotismo, o exercicio.do poder inunicipal. Com que efeito? Veja-se 0 que jé estd averiguads sobre o municipio’ de’ Viseu: -«Ressalta,em_primeiro' lugar,” a consideravelautonomia que a Cishara disfruté fice a0 podet central: “Aléin de no acatar disposigies vitias relaivas’& cobranga de impostos régios (ssa: e-real de éguia, nomes damente); mem obedocer & forma legal que deve presidir. 20 emprazamento' do seu :patriménio (concretamente. dos baldis), decide’ apenas coisoante 6 parecer de: vereagio municipal quanto & exploragdo das suas receitas, sem Gueseja vistvel nesse processo a intervengio do Provedor, ou sedé conhecimento.& Administragao-central:: Ademais, conserva integealiménte as sas competéncias no domfitio do-governa econémico, local, ‘recolhendo através de diversas receitis (Feita Franca, ianaga da Cameras, epeso ¢-aferimentor'e:0s Deneficios resultantes dessa-jurisdigao}r(”). Os-vereadores ‘

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