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GEORGES DUBY IDADE MEDIA, IDADE DOS HOMENS Do amor e outros ensaios Gantaniiapeporse Copyright © Flammarion, 1988 Copyright © Oxford University Pres, New York, 1983, part "O que se she do amor na Franga no sécul >" Copyright © Past and Presene Society, Oxford, 1983, pats “Armaratonae malessad' Copyright © Harvatd University Press, Cambridge, Mase, 1982, para “O Renasciment' do séeuo xi" fi eruticada gun o Aerie Or teri da Lingua Portugece de 190, ue etre om vigor no Bra em 2009. ‘ ‘Til original Mile Moyen Age Delamoar et atres esis Cape Ja Bisher Propererie (Caine Pena ney Jllane Kao ‘Renato Potenza Rodrigues Dads memcpy) ‘Sect Day rn sis Neto. So Pal: “hdr Mi Mop om nse cee ene Faster: = 207 “Todos os drcinos desta edo reservados Put, 702, 32 Sto Pralo— se “elefone: (1) 37073800 www.companhiadasleras com br ‘wornblogtacompanhia.combr SUMARIO DO AMORE DO CASAMENTO Q casamento na sociedade da Alta Mdade Média 10 © que se sabe do amor na Franca no século x11? 31 ‘A matrona ea maleasada. 46 [A prop6sito do amor chamado cortés 68 © Roman dela Rose 76 Para wma historia das mulheres na Franga e na Espanha. Conclusio de um coléquio 110 [ESTRUTURAS DE PARENTESCO Escrucuras familiares na Idade Média ocidental. 120 Estruturas familiares aristocriticas na Franca do século Xt ‘em relagfo com as estruturas do Estado. 129 ‘A Franga de Filipe Augusto, As transformagGes sociais no meio aristoeritico 137 ‘CULTURAS, VALORES E SOCIEDADE Problemas e métodos em histéria cultural 146 A historia dos sistemas de valores. 153 (0 “Renascimento” do século xt. Audiéncia ¢ patrocinio 167 Reflexdes sobre o sofrimento fisico na Idade Média 159 ‘Memérias sem historiador 195 Heresias e sociedades na Europa pré-industrial,séculos XEXVIL 206 Orientagdes da pesquisa histdrica na Franga, 1950-1980 217 Notas 245 Origem dos textos 249 Sobre o autor 251 Como indicado no titulo, este livro reine ensaios. Que fi- ue claro: esses textos curtos fazem, nas etapas sucessivas de uuma obra em andamento, o balango de um percurso. E preciso fazer isso de quando em quando antes de nos aventurarmos adiante. Essas piginas sio como que notas de trabalho. Elas foram eseritas entre 1967 e 1986, em circunstancias diversas, ‘Algumas por prazet. A maioria por ocasiio desses encontros em {que 0s historiadores periodicamente confrontam o resultado de suas pesquisus, crticando-se e confortando-se uns aos outros. O interesse de tais notas est em mostrar como prossegue, hesi- tante e fecunda, a exploragio de um territério pouco conhecido, Essa Idade Média é resolutamente masculina. Pois todos os relatos que chegam até mim e me informam vém dos homens, convencidos da superioridade do seu sexo. $6 as vores dees cchegam até mim. No entanto, eu os ouco falar antes de tudo de seu desejo e, consequentemente, das mulheres. Eles tm medo delas e, para se tranquilizarem, eles as desprezam. Mas preciso ‘me contentar com esse testermunho, deformado pela paixao, pe- los preconceitos, pelas regras do amor cortés. Apresso-me a cexploré-lo. Na verdade, eu gostaria de descobrir a parte oculea, a feminina. O que era a mulher nessa época longingua, eis © ‘que, nesses textos, me esforgo por descobrir. PROBLEMAS FE METODOS EM HISTORIA CULTURAL, Na rRanca, a histéria da cultura pertenee ainda ao seor subvesenvolvido da pesquisa centific. Mas também €o capa dos empreendimentos de pots, onde foram feta as introns Ges mais ousades, Senos interrogamos sobre os obsteulos ae frearam e que ainda frelam o progresso nessas matérias, pole sos dstinguir dois principais (© primiro € «separa excessiva,inabalivel, das disiph- nas, Nas uiversidades, no CNRS? por toda part, hi os bison lores de um lado, ¢ do outro os historiadores da at, Histriadores dat literatura, da Mosofa, das cigacas, , por veres, de pequenas cimaras mais fechades ainda: a histria da medicina ou a historia da misia, Pelofto de que, hi um séeu- Jo, a Franga € um pats lnicizadoe escolarzado, os historiadores ppuderam conguistar dass provincasa da histriareligioa e2 Aahiséria da educago, mas sso 6 rudo.Aausénca de como cagbes, esta timider de nose parte em transgrediros limits S30 encrsteedoras. um fendmeno francis? Nao ercio- Quah- do recebio programa dese ol6quio, uma coisa me chamou 4 senglo: tanto do lado hingar com do ldo francés, quando se tratava de cultura, era de eultra estrita, E nao note, 10 programa que ns Hanon oer por ae oma de Expresate. Onde extio a imagens, pintatas, impress, l= da? Onde exths misica? se O segundo obstéculo 6 insuficgnca de nosss instrumen- tos de adlise. A hitria cultural, qu chegou are, ainda et a rebogue da histéra que hi cinguenta ance tslunfza isla * Centre National de La Recherche Scientifique [Centro Naci Pesquisa Cenifis (N.T) ive [Centro N 1“ - cla precisa portato libertar-se dos métdos da his- ein, a i eros que melhor he convent 3 sii econo Te concetais, os esquerasterics suste- sin CO oe gr investigacio nesses dominios. Os dahistra os Baerre efit, su insufiéncia no que diz mica most st ery nos culturas. E-necesério, pelo,menos, jus- ‘espn aos fendenos eultu tls, retified-los, pee E se me colocarei para comunicar algu nesse ponto qu agus flab qe organiare em das partes, considerando sues: seaemonte a produgao cultural e, depois, o consumo ou 2 buigio dos objetos culeurais, eter te aaa Ere etal ters mass rea err and ina tiga ga igenm 0 ecu e ta ere Tila itis orca cine er ie ogg eet tna ur balho camponés na fle-de-France ¢a produtividade aumenta do tba dos meses escola” de Laon por va de it ‘existe incontestavelmente uma relagio fundamental. E, tendo escolhido recentemente estudar um evento europeu, a difusig daartecisterciense, nlo deixei de insistir no papel representade pela organizagio da exploragio rural nos dominios da ordem de CCister, pelo agar que tinka o dinheiro, 20 mesmo tempo, na sgestio desses dominios e na remuneragio das equipes de cons. ‘trutores. Mas eu tive de dizer também que esse evento nio ers redutivel a esse tipo de dererminacdo, que outros fatores inter vinham, que monumento cisterciense nio significava apenas © éxito de um sistema particular de produgio econdmica, que ele significava também, e sem divida antes de tudo duas coisas: a retomada de uma tradigio formal; a visualizagio de uma mo- ral e de uma concepeio do mundo, Devo explicar-me um pouco com relacio a esses dois pontos. Entre os fatores da produgo cultural (pondo de lado 0 que constitu sua matéria-prima),alinha-se uma heranga, um capital de formas no qual cada geragio se nutre. O principal interesse da histbrialiterdtia, da histria das artes ¢ da historia da filo- sofia € inventariaressas formas, mostrar como essa reserva se empobrece ou dita, como la se transforma, precisar a genea- Toga dos invcucrs formals, ecarecero jogo do gow, de ‘moda, os fenémenos de rejeigio, de transferéncia e de ocult- ‘Ho, Imaginemos isso como uima espéeie de loja onde se encon- tram pratcleiras esquecidas, onde outras esto cheias, ovtras varias. Esse conjunto tem uma histéria relaivamente auténo- ‘ma: existe, de forma bem evidente, uma historia das formas. No movimento dessa histria, evtemos dar excessiva arengio 38 inovagées, nfo esquegamos a enorme massa do que remanesce- ‘Tomo o exemplo de Cister: pelo fato de que a intengio cister- ciense é retornar&fidelidade & Regra de Sio Bento, pelo to de que a fungio da construgio cisterciense € a mesma dos edificios monéticos precedentes, uma vez que os cistercienses professam a virtude da humildade e se inclinam ao conservade- rismo, eles retomam formas tradicionais, Mas jé que sua vont a acto esa eap, pl ito ni dee et ee ovo desenvolvido pelo grande ciemesso do ‘apossam-se dos tiltimos aperfeigoa- Sa eo npn pee la a pe venpmas tradicionais sem modifcar estas Gltimas. E preciso te spa recon 0 guges in her a 0 Co oem dona cman in a mo asco sii Se, comet ils a ie comet xpress de Seer cede cn ens dee pra a ua gst a2 O¢ Calg ser eae Se we nen Cee eee eee nse mene 2 ee sins pom rein Rae ls an mower Ce rebar meses is Tain ag ew cee 1 ae rumen sent tara pong anontarnivs ones que estvam perc Senne a xan hide egos prtnn pres edamame rors ue ham! in Fee ppl decane 82 ee Na Eudes le seid de iin, remanent imagens aston Byam gh ot srg Se ey equ ovis oie Helge tune re Smee Sn pneu onde mre lan pes Tne por eal a eens sore vt = an mpl fc par om pss proxi, mown, Ese ces corps om psa nei quo, como aquele do qual me ocupo, a ideologia erst do easy smento nfo deivou evidentemente de ter influéncia sobre o cree cimento demogrifico da Kdade Média central das ideologias eseé igualmente, de forma bem em relagdo com a do poder. A ideologia é uma arma da qual o poder procura servir-se. Ora, ele controla os princ! paisatelis de produgio culeral. Assim se estabelece uma unizo indissocivel entre a histria dessa produgio e a da ideologia, De onde a necessidade de empreender o estudo desses organi mos dificeis de aprender, 0 estudo das ideologias coexistentes « concorrentes. Com efeito, a relagio dos fendmenos ideoligi 0s com as estruturas de profundidade se exprime em particular no fato de que os afrontamentos dos quais a sociedade 60 lugar se traduzem por um combate permanente ent vérios sistas ideol6gicos em confront. Em qualquer sociedade, por menos evolusda que seja, no hhé uma, mas viras culeuras, Esse constatacio me conduz se squnda série de minhas observagies, estas relativas dstrbuigio dos objetos culturais. Citarei Gramsci (Marsizmo e leeratur “O povo nio é uma coletividade homogénea de culcura mas sim apresentaestratifcagdes culturais numerosas e diversamente com- binadas”, O “pov” — mas isso é verdadeiro igualmente part ssa parte da sociedade que domina 0 povo. Estraiicages, ccombinagbes diversas — aerescentare: com incessantes desliza- rmentos, passagens, interferéncias. Essa complexidade do espas0 cultural foi transformada na Franea, por parce dos histori +05, em objeto de fruiferos estudos. Eles partiram do coneeito de “nivel de cultura", o qual se enconera com ideiagramsciana de estratificagio. Metéfora geolégica cuja vantagem esté em hharmonizar-se com a imagem de uma sociedade também este tificada, do que decorre a tentacio de estabelecer correlagbes entre as duas escalas estratigrieas Essa tentagio nao se expl- 2 apenas pela influéncia dos modelos marxstas de andlise $0 bre os historiadores franceses, mas porque, de fato, eomo eu jf disse existe uma lutaideoldgica que nio deixa de ver relagBes com a “Tuta de classes”. Esse conceito entretanto tem o ineot™ os a xe de aos alcaretaent ao que env Tes Copografia cultural mostra evidentemente camadas, aay ie josidades, terrenos superpostos, fraturas, fen- a tas Zonas instives, portant estruturas que slo, pelo des mato vereais quanto horizontais. Eu me pergunto,por- sen sera operatro eta pr em pia ans 0 cao de *formacio cultural, com 2 condicao de relacionar cmd Teg can cS a (cegbmnente.A nogio de formagio (la também emprestada aos [rSoges) me parece dar conta melhor da complica das s- Bete eulturis, da permanéneia de formas residvais, de to- {sat resungénciase da mobilidade incessant dos Fenbmenos Ge seultaragio. Pr outro lado, ela no mascir o fito, a meu ‘ex fandameneal, de que as clvagens entre culorasconfronta~ {hs ou combinadas ado passim, na realidade, através do corpo ‘Soci, mas sim através das atiades e dos comportamentos de cata individvo CChegou © momento de ex falar do que me parece a princi- pal contigo de esol sti franees astra cultural tentar, de mao estendida aos etndlogos, mergulhar nas profun- didades da vociedade para reconecer outa cis além do cue do edifico, para atingir uma cultura geralmenteeclipsada pela dominance, a cultura popular. Ligando-se a esse movimento recente ernito podroso qué fa volar finalmente a stngio dos franceses para suas origens camponesas, pars as civii- sone 2 ac ei se squisna partir da idea de wma oposigdo entre culcura() eru- Bea) 2 Stats poplar. Els colocam, portant, o problema tr termes de confito, de uma lua verdadeira entre, de um Tao, os que dem esse poder exovbiane o saber condo nos Tene te bibliotecas © 208 museus, e, do outro, os pobres: Caladar desea maneia o problema corresponde a abordar com folk certos fendmenos: 0 combate travado por exemple tule Tgvea medieval para destrur todo um sistema de crengas bi > € de ritos; ou entio esse outro combate travado a partir do sé- culo xvitt pela alfabetizagio, involuntariamente ligado a0 com, bate sustentado pela ideologia igualtiria, e que representa s fase dkima da vulgarizacio, da socalizagio da cultura erudiea (compreendamos bem, da cultura escrta, a do ABC, ado liv, ‘que levou a Franca i redugio da extensio das fungées da es colaefinalmente i esclerose da educagio artstica, a do olhar ¢ do owvido). Pois, no momento mesmo em que, no século xx, entendeu-se, pelo alistamento militar fazer de todos os cids’ dios herds, quis se fazer também dees todos, pela escola obri- gat6ria, lérigos. Chamo aqui a atengio para 0 poder de dois ‘modelos culturais muito antigos, da velha tipologiaestabelecida & partir do século x11 no seio ds cultura dominante separando a cultura dos clérigos da dos cavaleiros. Pois essa permanéneia interna ao longo de toda a hstéria da alta culture 'nos faz logo verificar que o jogo, na verdade, no foi feito a dois, mas ates, que a cultura popular nao foi envolvida num dueto mas nom ‘combate muito mais complexo. Se que hé cultura “popular”. Ea palavra, com efeito, que ‘me incomoda — em razio mesmo do que disse a propésito da nogio de formacio cultura, de todos esses entrecruzamentos, cssas interferéncias. Tenho tendéncia a pensar que se limitar 3 concepgio de um confronto de duas classes 6, na verdade, tucitar abusivamente o campo de observagio e arriscar a empo- brecer os resultados desta. De fato, em nossa cultura, na cultu- x de cada um de nés, por mais sibios que sejamos, nio existe ‘muito mais do que residues ou nostalgias do “popular”? Pode- <$e pensar que hé crstvidade cultural do “powo"? Eo que é0 sistem verdadeiramente focos criado- res, onde estio eles? Mil questoes. 152 > A HISTORIA DOS SISTEMAS DE VALORES eee seat eee eae AmmsT OR GL rents nel no nel a eclog ee aoe oa das técnicas de producéo e dos mecanismos de de demogr ats vist dos poderes e da stuago dos Gg fr, aie Finalmente das atitudes mentas, dos com- fear cone nv oso gh ea ramets cole 6 ents, Conagbex ets Sade yegoe movimento, mas cada wm dees avanga satis clarvarene stoma segundo ritmo parle Fleer enomersis epee re ants pores mat ie Nin ce Pea peswoal me leva a pensir que a hstria dos sistem Sos eee ee i Nive, ees na stra € petra por fend 1 ee pode mimes momento Je aa a ido vedi, penerads Por ‘uma eultera exterior, seja pelo cfeito de traumatismos de ori- ume ela exten rowan, oh pla Fe ets nn pel nena de eames FRE Somen te roi ose see 2 esp dato, deste ae eee at a memo neve as, as mi i ge ee acne ae Ses a ered ape ae eee ees Een : xi ee eee ee reer Fee a em element entre outros presto oe na) no meio dos povos que as grandes migragbes ‘cules roma La, 13 eficazes, sustentados por todos os artifcis do teatro, que foram os sermbes dos grandes pregadores, determinaram a valor. Gio progressva da dor na cultura enropeia. O cristo foi chama- doa ter presente em seu espirito as cenas da Paixio, a tomar lugar corporslmente entre os figurantes desse grande espetio- Io de afligio coletva. imitagao de Crist Ihe foi proposts. Ela © convidava a identificar-se 20 Salvador, e especialmente aos seus sfrimentos corporais. Dois marcos no eurso dessa evoly- <0: no limiar, no primeiro quartel do século xt Francisco de [Assis que recebe 08 estigmas; na grande época da expansio da nova devogi0, no primeiro quartel do século xv, a brusea dife- so de duss imagens oferecidas 4 contemplacio dos ft, a imma- gem do homem sofredor ea imagem da Piet A dor se encon- trava, a partir de entio, deliberadamente colocada 3 frente da czna. Ora, a atengio da qual o corpo sofredor de Jesus era obje- tose transferiu naturalmente para outros corpos sofredores, os «dos pobres, os representantes do Cristo entre os homens. Ve-se nitdamente, a parcir do final do século x1, paralelamente 20 ‘desenvolvimento de uma piedade que se compadece das penas da flagelagio e da crucifixio, sparecere depois se desenvolver a piedade pelos doentes,e desenvolverem-s também as obras de Imisericéndia, fundarem-se organizarem-se 0s hospitais. Foi bem no prolongamento desea lenta conversio em relagio as atcudes da dor que a daca ea pritica médica comecaram, mas muito mais lentamente ainda, ase preocupar nio mais apenas em pre- parar a boa morte, nio mais apenas com a cura mas, desembs- ragando-se Finalmente da ideia de que a dor, punigio redentora, 8 salvagdo, em recalcé-la com toda forga por todos 0s 198 -MEMORIAS SEM HISTORIADOR “TaLvEZ SEIA MENOS FACIL do que se acredita falar da me- snéria quando se € historiador, quando se pratica esse profissio {Caquais fo as razdes profandas?),cujo aspecto essencial con- Sse em justapor restos, fragmentos de lembrancas, muitas ve- zs cficilmente identificaveis, em envolvé-los com o imagina~ To para tentarligh-los, econsttuir uma imagem, mas segundo ‘squemas que se retira, de qualquer forma, de si mesmo; e com- por assim um quadro que provém, com frequéncia, menos do Proprio passado do que do sonho do historiador. Uma profissio ‘xjo objetivo 6, como se diz, “renovar” (€ para qué?) uma me~ méria que mergulha verticalmente até 0 fundo das idades. Que, no que me concerne pessoalmente (a mim, historiador das so- Giedades que chamamios de feudais) se esforga por atravessar a espessura de cerca de um milénio, Embora, a propésito desses tempos recuados, eu fale assim da memoria do esquecimento, nio penso nessa forma de me~ ‘morizacio da qual os especalistas do discurso histrico, atigan~ do 0 fogo das cinzas, escalando, para acrescentar um andar, 0 ceifcio verbal construido por wirias geragées de antecessores, Sio hoje os artesios. Eu me interrogo sobre o que se pode co~ nhecer do funcionamento da meméria entre os homens que viveram nos séculos XI e XI Conkece-se muito pouco. Sem divide porque, a 0 presente, nlo se colocou muito a questo. Comegicse, justamente, a colocé-la — e eu penso num certo projeto de pesquisa do qual Philippe Joutard €o instigedor. Um dos efeitas da descolonizacio foi obrigar os historiadores euro- Peus a levar mais em consideragio as sociedades sem escrita ee 19s como su rts aoc melon BB! cobri papal nosis na ranemiso des enbrange co tran construgio dein hitri omenos slide ds ye sues exo conn nde sprimoramos,ndo menes vin ap menos netessra 3 onaniagio da relaoes sos Enter toy incertea em que etaos em rag ae mecaninms da bromériana cults da nona Tdade Metin decorve penal tment do fat de que os fendmenosceapam A nove obericie Ena passa obrigatoriamente por tapos certs, por testes ¢ ns nfo captamos jamais amemea 3 nlo se ola pl trabalho de tdnicos cio oicio era pretsamene estar, tprsionéla numa rede de plaras, Ela nos cheg spre Gf erisalizads, morta, e oo perccbemos quase pada a Ibe date deseo movimects. Eis aqui, entretanto, algumas observagées, pontuais. Nas sociedades chamadas feudais, 0 acesso & escrita era monopdlio dealguns homens, os quais pertenciam todos 3 Igreja, eujafun- ‘io (pelo fato de o cristianismo ser uma religiio do livro, por- ue seu clero deve obrigatoriamente manter contato com a ES- critura) implicava que eles tivessem passado pela escola, que tivessem aprendido as letras, eo manejo de uma Kingwa, o latin, diferente da lingua falada, para o qual deviam ser traduzidos, antes de serem transcritos, todos os termos empregados na vida ‘cotidiana, Todos os outros homens, grendes e pequenos, viviam _mito bem sem o texto escrito. Entre eles, as relagbes se basea- ‘vam na meméria. Mas eles usavam outros meios para consolid- -la, Primeiro, a ceriménis. Todo ato social de certa importincia devia ser pibico, realizar-se diante de uma assembleia numero- sa, cujos membros guardavam em depésito a lembranca e euja confirmagio esperava-se que eles garantissem mais tarde, even twalmente, tanto daquilo que tinham visto como ouvido. Pala~ vras, gestos, enfiados num ritual a fim de se imprimirem mais profundamente na meméria do grupo para serem, no futuro, relatados. Ao envelhecer, as testemunhas se sentiam obrigadas 4 196 _ suite ua deseendéncin 0 que elas conserva na me- sa heranca de recordagées deslizava assim de uma Soar otra E para que ela no se deterorasse demas se Be alguns artficies. Tomava-se 0 cuidado, por exem- ede nod na asic eriangas bem ovens 2 yet 1a ipes vilentamente no momento principal da cerimo- de atferando. que, ligando-se a lembranca do espetieulo 3 fenbranga da dor, elas esqueceriam menos rapidamente o que reat ado dante dcas. Ou entioconserav-secuidado- Link Pn cero objeto que, nos ritos de ivesidua,pssara er go a outa, sb olhar do poro, para significa « transmissio de um direito — como esses ramos, essas facas, creda que se encontram sind, or vezes, nos argues, Fale anlpecgaminho, a om documento que um esribu erecamado bare relight masque nioparei ofeecer garan- tuilemre, parecendoo objeto um montmento comemora- to bem melhor do queo texto, aos olhos de ana gente que tio sbi ler e nao compendia 0 latim, Gente qe, para fa- fami arranjo de todas as relagBs soci, no coniava os tetos, mas na memdra, nessa memériacoletva que ao costume” — um cédigo muito estrito, imperioso, embora no sno em pre lguna repr Sener sobre tron aqule sont fo dre er precio proceder a elocoplo tes lembranqar A pesquisa oral, a interrogagio periddica dos mnenbroy da ome incialent 0 ais dose, depot tos de uma reserva mas anc, ula mae valos porgue ‘mergulhava mais profundamente no passado, constituia um dotnplos mies de ua regulameneagio da sociedade. Mui tog ne prego wo, adiionlenrdo no Lene da Fee ete sechbeas que reuniam, em dats fas, dos te des ienes dito de um senhorio pari que eles disesem creme aque restassem aia das obrigagBes goals 9 foes oe ezptvd Vio uma epoct, o culo Xi, em que os hor requereu 0 servigo de eseribas para anotar os termos esse deyoimento coledvo. E entio por veze possivel, comps See coco gar vtios registro scesivon descobit nora, © 65 wr pels us 0 grupo camponds resi s press senhoris ee pulsava de sua meméria essa ou aquela taxa, essa ou aquely eo veia,eincroduzia, em contrapartida, um certo privilege nace ‘mente adquirido. SA iam ser um til material para o estudo sistemético da nok dude das lembrangas Ours abn: pe ces or gcasifo de algumasfraturas da orem socal de um proces lizer aquilo.”. Relatos que se confirmam aqui, que s¢ contra- ee are Comite comer ee nae sere. O tno fev ana coo nea cial talvez, uma religigo dos mortos. Entre as manif eta ses uate ee ee ami peau eee Ta palitea Ge peeve ee oa he eee wee ee cadas por ceriménias periddicas reunindo, em torno deuma eee es Fae nee ee ee Seana ay eee sn caleniio, a consttuigo de regstros particulars onde se Um cm datas, nomes: 05 obitusios, os necrolégios, esses li- sam chamados precisamente de memoriales. Especia- organizadores das liturgias funerérias, ordena- tei constelagdes de antropOnimos. Bsas coleses de palavras pewavam # imagem de am parentesco, Els fravam nas par jencia individuais 0 sentimento de pertencer a um grupo Son menor parte vivia neste mundo, cuja maior parte vivia no on weet a senges cia servgos as clamor {iia linhagem, cimentada pelos Iagos de sangue, mas bem mais ot uma meméria cuidadossmente conservada ¢ que consttuia iquadeo fundamental dessa sociedade. A lembranca dos ances- tris era assim preservada pelo culto dos mortos. Mas ela tam- bm o era pela necessidade de que, em respeito aos interditos do inoesto imposto a todos, que estes fossem claramente advertidos de todas a relagSes de parentesco. A Tgreja, com efeito, proc rmava ilicitos, maculados e, consequentemente, condenados a serem dissolvidos, os casamentos contraidos num limite inferior 40 sézimo grau de consanguinidade. Quando, tendo ganho po- der, ela comesou, no séeulo Xr, a futar mais vigorosamente para fazer com que fossem aceitas suas exigéncias de uma exogamia to desmedidamente extensa que era impraticéve, ela multipli- con as pesquisus de um genero particular, ela forgou as fami 4s interrogarem sobre uma ascendéncia prolongada sobre mais de um século e meio, a desenredarem a densa rede das filiagbes, 4 contarem os graus, a apresentarem o resultado disso diante das corte eclesisticas, 2 confirmé-lo pelo juramento. Tais proces- $0s vieram estimular ainda a meméria geneal6gica, naruralmen- te muito viva na aristocracia na qual a propria nosto da nobreza levava a glorificar 0s antepassados muito antigos. Outros es rules, estes aeuando nos niveis mais baixos do edificio social, hasciam quando os senhoresvinbam a dispotar os direitos sobre ssa ou aquela familia de servos. Era importante ainda aqui, tenre os trabalhadores e os eriados de herdades, reconstruir ge- pealogias, recensear os mortos, lembrar seus nomes, despertar sua longingua Jembranca. a. 199 snot ros que &! Fists da escrita, Sets tral Sguran arocontion genligiony ge eat plea eae eniqurersm na Fung dures eee ny ren onus ust ceo pera ques cmeagan em vue perogaiva cesirpee te eee Iidar, por todos os melos, as tases de seu poder AG divest principe grandes poqenesrecoreni etto ene Gi dor profitiomis a cra, co eledges, Has he soe, tina ts de investigate de rahe teenage diereeubancalmerts da qu ae sonia nn oe hitorsdre. Escores forum condor s snipe i at lg ves sgn pe se ment, ligtlos toe aoe cuts, a venerps pocache, cio ston lerindo sant aualnene, Unt pudee’s Caan no final do séclo x, um padre domesicn a erga de ote ae dencnatocrhes ado senbares de Andres qe ua cesne to recente hava wnelado dos cones de Guinan amar tuadas.no tal departameneo do Par de Cals Bacotoance Ge dere capac om cote por ls ee ae them erro encmendara Ines telaglo de toe dees dias lishagens,renontndo wd st eigen O soe ce fr tlio fata gue pe, poodo a ervgedn rare odes ce cats de snc, enprogando, mes deers ingen aoa quecle manga bers, lian aban o gue de abet me duro nas uo puso ems dl thea dance yom oe ae eee ‘témulos (cle préprio havia composto alguns jé que a organizacio eee Sehr ce Cec eee nena aoe Wnewen me came! tes lmo ds sus prinon, de seas bvasione rerres por isso, pela rede que ele langa sobre essa efervescencia de lem- eee 200 aa cebemos que essa memra parental se estende por umn cdc ni romorando presente 05 gas de con ue ae injungbeseclesisics convidavam a me- sanguinidade av Semen, ara am, cla se forme mut mora ee ela retem alguns nomes, os dos chefes da rei ren, os do conde, eso sobre erés quartos de fan aro avixmo um séclo a mais. Ultrpassado ese eer pende ineiramente, Na noite que sins, 0 Time scupado em executar bem su trea, projets entZo 40% pie fonbo. Ele imagina herdis fundadores, fabula a se reels, Sun histri se torna um romance decortesi, de ec ovoado de personagens inventados. Stas posers, saetstmentesreproduzem as ds senhores para 0s quai 0 Sor inbalha, 8 comportamentos cojo explo eles mes- see acjm da, a virtues que eles profess, as excentrici- Jus tarahém de que se orgulham, notadamenteo vigor gené- Tae valent de que dao provas nos jogos do amor ito, A ‘Romoria familiar lj sinuosdades esa narrative desenvole aparece assim nas ues Figuezase nas sua impereiges- Ela se luino mito, Sas dbras muito flexves e aust 20 presen- we via coun aeeg oil rele 0 ovis fonatiam de ser Finalmente eas preocupa muito poucocom onologs esta, Enre as sessenta grandes péginasin-flio. ues edigto moderna esse texto recupera, ha eatorze datas ee dade gate cinco dizem repeitoa eventos dos oais 0 areador fi tomemunha irta em 0a idade ada. Oto den- tre clase elaconam com 3 histraeclesistca, com ahistéria trudit: oases sto as a prego da primeia, depois {i sagan Crusade fo nos espantemos a expedicio a Ter~ cane eto surge no Horizonte mental dos membros sea ait sabes les sto todos crazados, o kimo descen- aera tur sem als pore a camino, dex anos anes Feeds bari) si ontras dats, conservadas pelos Tete oo autor uliza,interessam son exabelecimen- noe eg os Guus Linhogens fundaram, como anexos oa ton resideacia. Quanto Bs ses mas, eas tos religi necessérios pum 201 oat creer gee sto profiel roe erates a tara ada chagada do hes! andar repli pare Satin Ulead, éevidenemenws miles Aa sunea we deen oe te dimos tits anc, reunides na sna partcaarmeces So da lembrangs duns mais longinguas cco ine see ras; una outa situs 25 anos antes aapaigg de un fo a tauma’ um impostor gus naguelaocasdo arc pase os seahor que no volta nunca de almman,¢ coe hence: explorando calmamente a sucesso, nem iiaginivam fase ‘cesar cles tn ato dae din gem inesperada do pique alembrangaparcoesinda ne gore Seguin, indlérelA pealina dats dee pet so)orene, thor de Adres, hereto presuntive do cone de Guin por tetor diet do narrado ¢ cua biogas € objet de cates particulars jf que & 0 comandiie da empress o erly herbi da narratives data, de Pemecones de 81 sor tam, para ee,» prinial a sua eximéncns nfo € 4 60 sea ‘nascimento, nem do seu casamento,é a da tagetsio, do io de passer que ointroduriu no mundo dos even, Enconr-se finalmente ano oan em que o conde da Flin: des, explorandoos rears em dnhero ue o da Inger ral havi feo entogar para que movesse gotta cont Fl pe Avgtno, sjudou ese mesmo senhor de Ards» page ssh AividasE por aca qu, no eaptito dea gente mato mat au, mu bruscaierupgo de una economia monet io pda deizar de correr srs dedinhir, un das rare prelate ro, nlgias est lignda sua peripéia Hanes? ‘A meméria familiar, solidificada, sofisticada e inteiramen- te sobrecarregada de ornamentos artificias, ese texto entreg2, pois, a posteridade, isto é, principalmente & descendéncia, mas também involuntariamente aos historiadores. Devemos vé-la, ‘com feito, nos seus envasamentos, identficando-se com a me ‘méria de uma fortuna. Em definitiva, é bem em torno da he- ranga, em torno do patriménio, gerido atualmente pelo mais 22 a a familia, que seus ancestrais governaram sucessve- ee oe iiadontad agoanteaeeeae ee Gs mortos, 20 mais velho dos seus filhos, de suas filhas sade gus ims, e que © mais velho dos filhos do presente oo capers, nao sem impacnca,romar em sas proprias sores que O mais vivo, 0 mais nitido, nessa masa flutuante de Is age vem crisaliar-se. Em torno de wma cat, centro to fen de poderes, onde a dinastia se enraiza, onde o che jr inkagem mantém residéncia, onde, no lito colocado no Fesprio corso desea haitagSo,na ema em que ele mesmo ope? ese enforga conscienciosamente para proctiar os que Milongardo o futuro da parentla, onde suas flhas perma- Moers iumentamente guardadas até 0 casamento ou a a Ione, onde seus fils passrio a infin, a qual les deira- ‘Ho adolescenes, pars a vagabondagens de aventura, mes evo tome eles usar, onde eles se reeneontrardo em ceras dts, nde no se deina de contar a historia da ffi, onde também, ‘Ss com agi, se escreve. Uma histria propriamente lan- do doméstica, jf que ela € menos a histria de uma estirpe do Guede uma casa da mancirs pela qual essa casa se engue~ a, pea qual ela defendeu seus direitos no curso das ers, dos tiseos que ela pde enfrentar, das oportunidades que ela pide {provetar Nos seus mures assim como no Romer, nos m- 10s do jardim em que a Rosa esta guardada — o poder genea- ligico vem afsar slgumas eigies.Primeir as figes de dos personagensvivos ado senor de seu herdeiro— do pal, do fh, coed nas aad come cals wn dy 20 relhe, que comands, que petende pasar por prudence mas que Asef duce siba com eaeta que ee ainda faz amor, 30 jo- ‘vem, instdvel, fogoso —, ¢ 2 histéria nao faz es sobre as_ Tenaber que os apoem Depols, menos precisa, brumosss © tle ses onal sued engoe'oe sEsrart no peseatoyes figies dos mortos, justapostas como numa galeria de ances- ce ede omamenedas, em pose fvorve, dando as olhos dos que, sucesivamente, a0 longo das geragdes,vierem a se eee recent detar por sta vezno let, administrar poe sua 203 ver 0 patriménio, o exemplo do bom comportamento Pois essa memoria é seletiva, Dos gestos realizados pelos vivos e pelos mortos, ela retém 36 aqueles, bons ou maus, que sio suscetives de tomar ugar eficazmente num discurso educatvo, Ela ensina, cla € 0 instrumento de uma pedagogia. E, por essa razio, el, ‘manipula insensivelmente as lembrangas, ela as adapta as ex, sgéncias do presente, cla as deforma para que se sjustem 3 lenta evolucio de uma moral. Eis porque todos os personagens do relato de que falo se parecem. Eles carregam todos as mesnias vestes, t8m todos as mesmas atitudes, a silhueta e 0 comporta- ‘mento julgados adequados, no momento ei que essa natraca foi esria, pelos que encomendaram sua redacio. Nesse espelho de mitiplas faces sio os tragos de seus préprios rostos que eles ccontemplam, ou antes os que eles desejariam que se vissem, ‘Mas para que eles fiquem inteiramente segurosaind iso que essa imagem seja refletida, em planos sucessvos, ae © fundo do tempo. Seu olhar se fixa, consequentemente, 20 mes. ‘mo tempo sobre a casa, esse dique de soldea, esse refigi, ¢ sobre os ancestrais, que af nasceram e que, um apés 0 outro, 2 huabitaram. No momento em que a meméria dos condes de Gul nes e dos senhores de Ardres fi eapeuradanesse texto que t0- ‘mei como exemplo, um outro padre, um cénego, esrevia, nio longe de li, em Cambrai. Ele também escrevia uma histria, mas geral,anais nos quais se esfrgava por relatar tudo 0 ue Sinha podido saber dos acontecimentos do mundo, Chegando, nessa redagio, a data do seu nascimento, cle nfo resiste ao pre zer de dizer algo sobre si mesmo. Ele deixa sua propria lem- branga mergulhar, por um momento numa fissura de sua Rat- sativa, dessa narrativa no entantosébra, seca, lacdnica — nessa época, nio se desperdica a escrita. De que fala cle? Anes de tudo, da casa em que nasceu — e trata-se de um paraiso de pradarias © de fonts; ele se demora descrevendo-a amorost mente, desaeitadamente —, de que meios se dispunh emti0, quando se escrevia em latim, para celebrar uma paisugem? De 204 a is ele evoca esse outro abrigo, esse outro ninho: sua parente- Pe'para nada dizer, ou quase nada, de seus parentes vivos, ano 08 mais préximos, de seus irmios e irmas, cyjos nomes ‘es nem chegam a revelar Ele fala dos mortos,¢ especialmen- {e,entre estes, dos que sfo modelos para ele, dos que como ele, thelhor que ele, izeram carreira na Igreja, mas também de herbis militares, e assim dos dez irmaos de sua av6 materna que tmorreram juntos gloriosamente na mesma batalha e que si0 {elebrados ainds, no seu tempo —e disso ele se orgulha muito = pelas “cantilenas dos jograis”? anges. Ela sio ainda, na época de que falo,reservatrios damnit, srindo-o mito ais agate pra ovo, difondem-se para bem além dos recintos das grandes mansbes familiares. Pereefveis todavia: quase todos esses cantos se per~ deram, Restam entretanto alguns que a eserita fixou. Conviria, ex penso, que 0s historiadores da memoria comesassem a ree slis,c atentamente. Trata-se de uma outra fonte, de fato, © ge- eros, na qual & possvel saciar-se nas teras éridas que eles cxploram e pelas quaisnio sei qual € 0 desejo que, ainda hoje, os leva avagar

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