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ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.674-7355-1-LE.

0402201011

Moreira RCR, Costa JRA, Lopes RLM, Freitas MYGS et al. Pregnancy adolescent and school life…

ORIGINAL ARTICLE
PREGNANCY ADOLESCENT AND SCHOOL LIFE: STUDENTS' EXPERIENCES
FROM A PUBLIC SCHOOL
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E VIDA ESCOLAR: EXPERIÊNCIAS DE ALUNAS DE UMA
ESCOLA PÚBLICA
EMBARAZO EN LA ADOLESCENCIA Y VIDA ESCOLAR: EXPERIENCIA DE ALUMNAS DE UNA ESCUELA PÚBLICA
Rita de Cássia Rocha Moreira1, Jackson Roberto Alves Costa2, Regina Lúcia Mendonça Lopes3, Maria Yaná
Guimarães Silva Freitas4, Ludmilla Oliveira Souza5, Manoela de Assis Silva Carvalho6
ABSTRACT
Objective: to understand the experience of pregnancy for the girls who became pregnant in adolescence. Methodology:
this is a study from qualitative approach, with students of the Integrated School of Education Assis Chateaubriand who
become pregnant in adolescence and who were enrolled and attending classes in Module I, at night, in 2007. Data were
collected through semi-structured, with the method of data analysis to content analysis. This study was approved by the
number protocol 264/2007 of the Ethics’s Committee of the University Federal of Bahia. Results: the pregnancy in the
adolescence causes a disproportion between the age and the education level, affecting the academic and professional
upbringing, consequently causing an increase of the unemployment and underemployment rate. Conclusion: thus, family,
school, and public authorities must recognize each ones' responsibilities, providing confidence, support and, security,
besides useful information about this theme in an available language in order to the children and young people are able
to understand them and take coherent decisions when they were exposed to other social contexts, favoring therefore a
possible decreasing of the indicators of gestation in adolescence, illegal abortion, children and mother mortality and, low
education level. Descriptors: adolescence; pregnancy adolescent; family; child; acontecimentos que mudam a vida;
pregnancy, high-risk; mother-child relations.
RESUMO
Objetivo: compreender a experiência da gestação para as alunas que engravidaram na adolescência. Metodologia: trata-
se de um estudo com abordagem qualitativa, com alunas da Escola Centro Integrado de Educação Assis Chateaubriand que
engravidaram na adolescência, estavam frequentando as aulas no Módulo I, turno noturno, no ano de 2007. Os dados
foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada, e analisados pela técnica de análise de conteúdo, após ser
aprovado pelo protocolo 264/2007 do Comitê de Ética da Universidade Federal da Bahia. Resultados: a gravidez na
adolescência proporciona defasagem importante entre a idade e o nível de escolaridade, prejudicando a formação
acadêmica e profissional, ocasionando consequentemente o desemprego ou o subemprego. Conclusão: a família, a escola
e os poderes públicos devem reconhecer suas responsabilidades, proporcionando confiança, apoio e segurança, além de
informações coerentes sobre o tema, com uma linguagem acessível para que as crianças e os adolescentes sejam capazes
de processá-las, favorecendo assim, uma possível redução dos indicadores de gestação na adolescência, aborto ilegal,
mortalidade materno-infantil e baixo nível de escolaridade. Descritores: adolescência; gravidez na adolescência; família;
criança; acontecimentos que mudam a vida; gravidez de alto risco; relações mãe-filho.
RESUMEN
Objetivo: comprender la experiencia de la gestación para las alumnas que se embarazan en la adolescencia.
Metodologia: se trata de una investigación cualitativa con estudiantes de la Escuela Integral de Educación Assis
Chateaubriand que quedan embarazadas en la adolescencia y que estaban asistiendo a clases en el Módulo I, turno de
noche, en 2007. La técnica de recolección de datos fue la entrevista semiestructurada, con método de análisis de datos el
análisis de contenido. El estudio fue aprobado por el protocolo 264/2 del Comité de Ética de la Universidad Federal de la
Bahia. Resultados: el embarazo en la adolescencia proporciona defasaje importante entre la edad y o nivel de
escolaridad, perjudicando la formación académica y profesional, ocasionando consecuentemente el desempleo o el
subempleo. Conclusión: la familia, la escuela y los poderes públicos, distinguidamente, deben reconocer sus
responsabilidades, proporcionando confianza, apoyo y seguridad, además de informaciones coherentes sobre el tema, con
un lenguaje accesible para que los niños y los adolescentes sean capaces de procesarlas, favoreciendo así, una posible
reducción de los indicadores del embarazo en la adolescencia, aborto ilegal, mortalidad materno-infantil y bajo nivel de
escolaridad. Descriptores: adolescencia; embarazo en la adolescencia; familia; niño; acontecimientos que cambian la
vida; embarazo de alto riesgo; relaciones madre-hijo.
1,4,5
Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, Bahia, Brasil. E-mail: ritahelio01@yahoo.com.br; maria_yana@hotmail.com;
ludmillafsa@hotmail.com; nel_serrinha@yahoo.com.br; 2Escola Estadual Centro Integrado de Educação Assis Chateaubriand. Bahia, Brasil. E-mail:
jacksonrobertofsa@hotmail.com; 3Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: reginalucia@yahoo.com.br

Rev enferm UFPE on line. 2010 abr./jun.;4(2):524-32 524


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adolescentes podem produzir conceitos tanto


INTRODUÇÃO inadequados quanto fantasiosos.5
A adolescência caracteriza-se como uma Neste contexto, se reconhece como
fase entre a infância e a idade adulta, onde deveres da família, assegurar a sobrevivência
acontecem acentuadas transformações, tanto dos filhos, seu crescimento saudável e sua
físicas quanto psicológicas, que socialização por meio de um movimento
necessariamente precisam ser compreendidas existencial que favoreça a comunicação, o
e acompanhadas pela família, escola e estado diálogo e simbolização. Também, aportar aos
dentro de um contexto que favoreça o mesmos um clima de afeto, apoio e
crescimento e o desenvolvimento do diálogo. estimulação necessários para promover um
Na Legislação brasileira, de acordo com a processo de reflexão com a possibilidade de
Lei Nº. 8.069, de 13 de julho 1990 que dispõe tornarem-se pessoas com capacidade para se
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, relacionar com seu meio físico e social e
considera-se como adolescente indivíduos tomar decisões quanto à abertura a outros
entre 12 e 18 anos de idade.¹ contextos educativos que compartilham com a
família a tarefa da educação das crianças e
Diante de progressivas e intensas
adolescentes.6
transformações, a adolescência destaca-se
como uma das fases mais complexas da vida, Por outro lado, a escola deve
onde tudo é definido pela negativa: não se é complementar essa educação proporcionando
criança, mas também, não se é adulto.² O um ambiente capaz de construir
desejo incontrolável de autoafirmação na conhecimentos com uma visão ampliada da
família, na escola e na sociedade, em busca subjetividade humana, respeitando a
de uma suposta independência, faz com que o individualidade do adolescente em todos seus
adolescente desenvolva, muitas vezes, aspectos, para que este possa apresentar-se
sentimentos de rebeldia, autosuficiência e com segurança e capacidade de tomar
enfrentamento contra tudo e contra todos. decisões coerentes ao longo da vida.7
O adolescente ao abandonar a atitude Dentre os problemas ocasionados,
infantil e ingressar no mundo adulto, sofre possivelmente pelos sentimentos de auto-
uma série de acréscimos no rendimento suficiência na adolescência está a gravidez,
psíquico que vão produzir uma típica inflação muitas vezes inesperada, que pode interferir
do ego.³ Com o ego engrandecido, percebe-se em suas vidas de forma negativa, inclusive na
uma altivez e independência do história da vida escolar.
aconselhamento de pessoas mais experientes. Contrariando a tendência geral de
Achando que podem tudo, vários adolescentes diminuição nas taxas de fecundidade no
nessa fase se rebelam e elaboram um Brasil, observa-se um aumento significativo na
conjunto de valores inusitados. proporção de mães adolescentes, gerando
A partir da década de 60, com a introdução preocupações em segmentos da sociedade e
de novos costumes associados a liberalidade órgãos governamentais, caracterizando-se,
sexual, a sexualidade tem sido intensamente assim, como um problema social e de saúde
explorada pelos meios de comunicação, mais pública.
especificamente pela televisão, que é o Na década de 70 a mulher brasileira tinha
principal comunicador de massa da em média 5,8 filhos, em 2000, essa taxa caiu
atualidade. Consequentemente, dissemina em média para 2,3 e em 2006 para 2,0 filhos
informações de maneira inadequada repetindo respectivamente. As pesquisas Nacionais por
padrões irreais, omitindo e/ou deturpando Amosta em Domicílios (PNADs) 2006 e 2007
ideias.4 apresentavam estimativas que colocavam a
Conforme os Temas Transversais discutidos fecundidade feminina no Brasil abaixo do nível
nos Parâmetros Curriculares Nacionais, a de reposição das gerações (1,99 e 1,95 filho
mídia, nas suas múltiplas manifestações, e por mulher, respectivamente). Ao utilizar este
com muita força, assume relevante papel, conjunto de estimativas para projetar o nível
ajudando a moldar visões e comportamentos. da fecundidade, a taxa estimada e
Veicula mensagens eróticas que estimulam correspondente ao ano de 2008 foi de 1,86
crianças e adolescentes, incrementando a filho por mulher. Com os devidos ajustes
ansiedade e alimentando fantasias sexuais. inerentes ao processo de modelagem, a
Também informa, e veicula campanhas fecundidade limite brasileira seria de 1,50
educativas que nem sempre são dirigidas e filho por mulher, valor que será alcançado
adequadas a esse público além de moralizar e entre 2027 e 2028.8
reformar preconceitos. Essas mensagens, ao No entanto, aumentou o número de
serem processadas por crianças e adolescentes grávidas na faixa entre 15 a 19

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anos de idade. A fecundidade nesse grupo gravidez e riscos durante o parto, tanto para
passou de 16,3% em 1990 para 21,3% em 2000, ela quanto para o feto/recém-nascido.
com 31% de aumento. Para concretizar esta possibilidade, após
As regiões que tiveram maiores este estudo foi elaborado para essa escola um
contribuições para este quadro foram, por projeto sobre gravidez na adolescência e vida
ordem, Regiões Norte (passou de 19,7% em acadêmica encaminhado para a Secretaria de
1990 para 25,3%), Centro-oeste (21% para 24%) Educação do Estado da Bahia para ser
e Nordeste (15,8% para 23,6%).8 analisado, na perspectiva de possível
A participação relativa da fecundidade das implementação no ano de 2009, na intenção
mulheres entre 15 e 19 anos na fecundidade de que os indicadores ora apresentados
total, segundo a raça/cor, mais que dobrou possam ser modificados.
entre 1980 e 2000, passando de 7,6% para
OBJETIVO
16,5%. Aumentou também o número absoluto
de nascimentos de crianças filhas de mães O presente estudo tem por objetivo
nessa faixa etária. Grande parte desse compreender a experiência da gestação para
fenômeno é conseqüência da queda da as alunas que engravidaram na adolescência e
fecundidade das mulheres dos grupos etários estavam matriculadas e frequentando as
mais velhos, o que faz crescer a participação aulas, no módulo I, turno noturno, da escola
relativa do grupo mais jovem. 8 estadual, Centro Integrado de Educação Assis
Dados do Sistema de Informação sobre Chateaubriand em Feira de Santana, Bahia, no
Nascidos Vivos (SINASC), o qual faz parte do ano de 2007.
grupo de estatísticas do Ministério da Saúde
(MS), evidenciam que a gravidez na METODOLOGIA
adolescência tem maior incidência nas regiões
Estudo de abordagem qualitativa, que
e grupos sociais com menor poder econômico.
levou em consideração a subjetividade
Enquanto o número de partos em jovens
humana, buscando compreender as
menores de 19 anos foi inferior a 20% da
experiências da gravidez na vida das mulheres
totalidade no ano de 2000 em estados como
que engravidaram na adolescência no período
Rio Grande do Sul e São Paulo, na Bahia, os
escolar e estavam matriculadas e
valores foram superiores a 25% nesse mesmo
frequentando as aulas na Escola Estadual,
período e faixa etária.
Centro Integrado de Educação Assis
No município de Feira de Santana, Estado Chateaubriand, em Feira de Santana, Bahia,
da Bahia, o número em 2004 por ocorrência no ano de 2007.
foi de 129 nascidos vivos para mães entre 10 a
O campo do estudo foi a cidade de Feira de
14 anos e 2.747 na a faixa entre 15 a 19 anos
Santana, principal entroncamento rodoviário
de idade.9
do Norte/Nordeste, que tem como principais
Diante deste contexto epidemiológico e fontes econômicas a agropecuária, a indústria
estatístico, e das experiências vivenciadas e o comércio. Está situada a leste do estado
pelas adolescentes, a gravidez caracteriza-se da Bahia, na fronteira do Recôncavo Baiano
como um fenômeno precoce no Brasil, aproximadamente a 111 km de Salvador.
principalmente nas regiões com fragilidade
No sistema de informações do Sistema
sócio-econômica.
Único de Saúde (SUS), está contemplada a
Por se tratar de um problema social e de assistência ao adolescente por meio do
saúde pública, a relevância desse estudo Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD),
apontou para a possibilidade de se debater o criado em 1989, através da portaria Nº.
tema gravidez na adolescência, bem como 980/GM de 21/12/1989 do MS. Está
fomentar a criação de espaços acadêmicos fundamentado na Política de Promoção da
onde as famílias, professores e alunos da Saúde, respeitando as diretrizes do SUS. Tem
escola possam discutir sobre a sexualidade, como objetivo promover a saúde integral do
gravidez na adolescência e a vida escolar já adolescente, favorecendo o processo geral de
que, quando a atividade sexual tem como seu crescimento e desenvolvimento, buscando
resultante a gravidez, esta gera a curto, reduzir a morbi-mortalidade e os desajustes
médio e longo prazo, consequências para a individuais e sociais.10
adolescente,o recém-nascido, família e a
Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nas
sociedade.3
Unidades de Saúde da Família (USF), são
A adolescente grávida poderá apresentar oferecidos e disponibilizados consultas,
problemas emocionais, comportamentais, acompanhamento de pré-natal e
educacionais, de crescimento e planejamento familiar, onde as adolescentes
desenvolvimento, além das complicações na podem ser orientadas quanto aos métodos

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contraceptivos e recebem, quando fosse menor de idade, além dela, assinariam


cadastradas no SUS, pílulas contraceptivas, os pais ou responsáveis, no entanto não houve
preservativo masculino, inserção do nenhuma entrevistada com idade inferior a 18
dispositivo intra-uterino (DIU), dentre outros. anos. Antes do início da entrevista, foi
O locus foi o Centro Integrado de Educação realizada a leitura e solicitado a assinatura em
Assis Chateaubriand (CIEAC), que é uma duas vias do Termo de Consentimento Livre e
Unidade Escolar de âmbito estadual, instituída Esclarecido (TCLE), de acordo com a
e mantida pelo Governo do Estado por meio Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
de recursos federais e estaduais. Saúde que trata das diretrizes e normas
regulamentadoras da pesquisa envolvendo
No ano de 2007 foram matriculados nesta
seres humanos, direcionando, normalizando,
escola 5.038 alunos, distribuídos nos três
regulamentando e incorporando sob a ótica do
turnos. No CIEAC, apesar de se perceber altos
indivíduo e da coletividade os princípios
índices de gravidez na adolescência, o assunto
básicos da bioética: autonomia, não
é tratado quase que superficialmente. As
maleficência, beneficência e justiça, entre
disciplinas mais específicas como Ciências e
outros, visando assegurar os direitos e deveres
Biologia na 7ª série e ensino médio, têm como
da comunidade cientifica, sujeitos da pesquisa
conteúdo o corpo humano, no entanto, se
e estado.
detêm basicamente à anatomia e fisiologia
humana. O tema sexo e sexualidade na Na fase de exploração do material,
adolescência são discutidos isoladamente por realizamos a escuta criteriosa e a transcrição
alguns professores, não abrangendo a das referidas entrevistas, mantendo a
totalidade dos alunos. Não há conhecimento fidedignidade de informação, registrando-se
de nenhum projeto ou programa direcionado inclusive, o estado emocional do sujeito,
para os adolescentes nesta instituição. caracterizado por silêncio, tristeza, choro,
entre outros, favorecendo desta forma, a
O estudo foi realizado no Módulo I (M-I) do
compreensão e respeito à subjetividade de
colégio anteriormente citado, turno noturno,
cada fala.
onde são ministradas aulas às 7ª e 8ª séries do
ensino fundamental e 1º ano do ensino médio. Na pré-análise os dados foram separados e
Nestas séries estão matriculados organizados com o objetivo de torná-lo
aproximadamente 720 alunos, sendo 342 do operacional, sistematizando as idéias iniciais
sexo feminino e 378 do sexo masculino, com para que tivéssemos noções de sua estrutura.
idade que variam entre 16 a 46 anos de idade. A exploração do material foi feita de forma
Os sujeitos da pesquisa foram 20 alunas da minuciosa, muitas vezes sendo necessário
escola Centro Integrado de Educação Assis fazer várias releituras, constituindo-se na fase
Chateaubriand, que engravidaram na mais longa. Na última fase, a de análise
adolescência e estavam matriculadas e compreensiva, os discursos após serem
frequentando as aulas no M-I, turno noturno, registrados, passaram pelas fases de
no ano de 2007. descrição, interpretação e compreensão, o
que nos permitiu desvelar a compreensão da
Foi utilizada como técnica de coleta de
experiência da gestação para as alunas que
dados, a entrevista semi-estruturada. O
engravidaram na adolescência.
instrumento utilizado foi o formulário que
contemplou dados sobre as condições sócio- Este estudo foi aprovado pelo Comitê de
econômicas e a experiência da gravidez na Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de
adolescência. Feira de Santana-Bahia (CEP-UEFS), sob o Nº.
264/2007, protocolo Nº. 062/2007 (CAAE
No primeiro contato foi feito um
0067.0.059.000-07), satisfazendo as
levantamento das mulheres que engravidaram
exigências da Resolução 196/96.
na adolescência, explicando o objetivo da
pesquisa. Essas foram convidadas e RESULTADOS E DISCUSSÃO
consultadas sobre seu interesse e
disponibilidade em participar do estudo, ao Iniciamos o processo de construção das
mesmo tempo em que foram informadas de categorias do estudo, a partir do
que as entrevistas seriam gravadas, desvelamento dos discursos. Para melhor
respeitando o anonimato com ética e compreender estas categorias, estão
responsabilidade. registrados fragmentos das falas dos sujeitos
No segundo contato, ao serem selecionados da pesquisa.
os sujeitos que se enquadravam no perfil do  Categoria 1: A gravidez na
estudo, foi agendado, de acordo com a adolescência, quando indesejada e sem
disponibilidade dos mesmos, o dia e a hora apoio familiar, pode levar as
para a entrevista. Caso o sujeito do estudo

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adolescentes a cogitarem a possibilidade [...] ele (pai da criança) não queria dar as
de aborto despesas do filho, tive que botar na justiça
(ent. 2 IOV).
[...] durante a gravidez eu tive um pouco de
[...] foi péssima, não tinha relação com eles
medo, pensei até em abortar, porque não
nenhuma, nem com meu pai, nem com
tinha apoio de ninguém (ent.3 MCCP).
minha mãe (ent. 3 MCCP).
[...] assim[...] muito ruim, porque quando
[...] minha mãe, também, logo, ela não
soube que estava grávida, eu[...] a minha
aceitou a minha gravidez, xingava muito a
vontade era tirar (ent.4 NSNSS).
minha[...] xingava muito o feto que tava
O comportamento sexual da adolescente dentro de mim, então isso me revoltava
pode ter como consequencia uma gravidez não [....]‖chorosa‖ (ent. 4 NSNSS).
planejada. Tal fato é merecedor de reflexão [...] eu tive o menino, tive mais experiência
sobre as políticas de saúde reprodutiva na com ele, com meu marido, só foi ruim,
perspectiva de favorecer mudança de atitude porque prejudicou em muitas coisas,
das adolescentes especialmente no que diz trabalho, emprego, estudo [...] (ent. 5
respeito ao acesso ao planejamento sexual e DSM).
reprodutivo. [...] só vivo com ele mesmo (filho) só nos
As falas retratam que ao perceber a domingo e feriado que tô em casa, é tanto
gravidez, as adolescentes sentiram medo e que ele nem me chama de mãe, chama
minha mãe, ele tá sendo criado por ela (ent.
insegurança pela falta de apoio familiar e do
6 DLS).
companheiro, levando-as a cogitarem,
inicialmente, a possibilidade de provocar As falas evidenciam que a gravidez não
aborto. Vale ressaltar que nenhuma planejada na adolescência pode contribuir
entrevistada referiu à realização deste para possíveis repercussões negativas na
procedimento. esfera psicossocial.

Compreende-se que a gravidez na Com as mudanças sociais e maior inserção


adolescência, constitui-se um importante da mulher no mercado de trabalho, a
fator que poderá determinar a prática do expectativa da família é de que essas jovens
aborto ilegal na adolescência, o qual pode não sejam apenas donas-de-casa e boas mães
aumentar os índices de óbitos nessa faixa mas que também estejam regularmente
etária pelo risco de hemorragias e infecções. matriculadas e estudando conforme sua faixa
Neste sentido, quando indesejada ou sem etária, para que possam construir uma
apoio social e familiar, a gravidez carreira profissional tornando-se
frequentemente leva as adolescentes à independentes financeira e emocionalmente,
prática de aborto ilegal e em condições sendo capazes de estruturar uma família e
impróprias.11 oferecer ao seu filho condições de vida que
favoreçam um crescimento e desenvolvimento
Devido ao medo da gravidez, segundo
sadios.
dados da Organização Mundial da Saúde(OMS),
dos 4 milhões de abortos praticados por ano As famílias criam essa expectativa, que,
no Brasil, cerca de 1 milhão ocorrem entre quando interrompida por uma gravidez
adolescentes e muitas delas ficam estéreis e indesejada geram transtornos, insatisfações e
cerca de 20% morrem em decorrência deste desajustes familiares, ocasionando abandono
procedimento.12 escolar e subemprego.

A gravidez representa uma das principais Do ponto de vista social, a gravidez na


causas de morte em mulheres entre 15 e 19 adolescência evidencia implicações como
anos, seja por complicação na própria abandono da escola, maior dificuldade de
gravidez, no parto ou pela prática clandestina inserção no mercado de trabalho, diminuição
do aborto.13 do padrão de vida, desestruturação familiar e
consequente circularidade da pobreza.11
É oportuno salientar que esses dados
representam situações preocupantes devido No entanto, embora a família não
aos riscos e transtornos que a gravidez aceitando em primeiro momento a gravidez da
indesejada pode causar tanto para o convívio adolescente, ao longo do tempo terminam por
familiar, quanto para a adolescente, se adaptarem, reestruturando suas vidas de
tornando-se um problema relevante de saúde acordo com a nova situação.
pública. Sendo assim, a complexidade das mudanças
promovidas pela vinda do bebê não se
 Categoria 2: Desajustes familiares,
restringem apenas às variáveis psicológicas e
emocionais e econômicos atingem a mãe
bioquímicas. Os fatores sócio-econômicos
adolescente, constituindo um risco desfavoráveis também são elementos que
social contribuem, de forma significativa, nos dias

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atuais, para aumentar a tensão no período da pode haver modificações na pressão arterial,
gestação. que é o resultado da relação entre o trabalho
Estudos apontam relevantes dificuldades e cardíaco e a resistência periférica do
confusão emocional vivenciadas pelas organismo.16
adolescentes demonstrando toda A pré-eclâmpsia e a eclâmpsia têm suas
inexperiência e imaturidade, tornando a frequencias aumentadas com a diminuição da
principio, a maternidade conflituosa. As idade materna e na adolescência representam
expectativas e projeções realizadas a partir cerca de 13,7% dos casos registrados.17 Nesse
das vivências podem transferir para o filho sentido, na adolescência, a gravidez é sempre
todas as frustrações e alegrias do momento.14 considerada de alto risco, porque pode
Desta forma, é importante lembrar que o propiciar o aparecimento de uma série de
nascimento é uma experiência de complicações para a mãe e para o feto, pelas
envolvimento familiar. Nessa perspectiva, o alterações biológicas, psicológicas, sociais e
pré-natal não deve ser dirigido só às culturais que podem advir.13
mulheres, mas, sim, à família, porque esse  Categoria 4: A gravidez na
envolvimento influencia o casal e mais adolescência dificulta a continuidade dos
amplamente a outros membros, colaborando estudos, proporcionando defasagem
nas possíveis formas de vivenciar a gravidez entre a idade e o nível de escolaridade
com possíveis repercussões positivas para o
[...] prejudicou bastante, porque eu parei
recém nascido.15
aos 14 anos de estudar, vim retornar aos 23
 Categoria 3: Complicações obstétricas (ent. DSM).
como pré-eclâmpsia e eclâmpsia podem [...] parei meus estudos com 17 anos, voltei
ocorrer com maior frequencia em agora, já com 12 anos depois. Eu tô levando
adolescentes a vida aí como eu posso [...] ―silêncio‖ (ent.
4 NSNSS).
[...] durante a gravidez eu tive vários
problemas de saúde [...] tive princípio de A construção desta categoria demonstra
eclâmpsia, e na minha gravidez, eu tomei que todas as entrevistadas abandonaram os
medicação durante os nove meses [...] (ent. estudos, com período variável entre 2 e 12
6 DLS). anos, em decorrência da gravidez e também,
A análise da fala de uma das entrevistadas por não ter quem cuidasse da criança. Dessa
confirma a incidência da Doença Hipertensiva forma, desvela-se que a única opção dessas
Específica da Gestação (DHEG)- pré-eclâmpsia jovens mães é abandonar a escola para cuidar
na gravidez precoce. A mesma refere que fez de seus filhos.
uso de medicação para controle da Estudo realizado em três capitais
hipertensão arterial durante todo o período brasileiras reflete que a maioria das jovens
gravídico, sinalizando a possibilidade da apresenta trajetória escolar irregular. Quase
ocorrência de uma gravidez de alto risco nessa metade das que interrompeu os estudos pelo
faixa etária. menos uma vez, relatou gravidez na
Desta forma, a identificação de fatores de adolescência. O motivo principal para
risco e o diagnóstico de complicações são interrupção dos estudos foi a gestação. O
essenciais para a garantia de um curso normal abandono escolar na adolescência foi referido
para a gestação. Porém, mesmo nos casos em por 40,1% das jovens cuja gravidez terminou
que nenhum problema é detectado, o em filho.18
monitoramento da evolução da gravidez faz-se Fica evidenciado que a gravidez na
necessário, sendo esta a ocasião propícia para adolescência pode resultar no abandono
a promoção de medidas preventivas e escolar, e que, o retorno aos estudos se dá em
educativas através da atenção pré-natal.15 menores proporções, tornando-se difícil a
Às vezes, as exigências da gestação profissionalização e o ingresso destas
atingem a capacidade funcional de vários adolescentes no grupo de população
órgãos maternos, podendo vir à tona quadros economicamente ativa, com o agravamento
patológicos latentes ou, simplesmente, das condições de vida de pessoas já em
representar alterações fisiológicas da situação econômica desfavorável.19
gestação, as quais, embora sejam Nesse contexto, compreendemos que a
consideradas normais, podem eventualmente reprodução nessa fase da vida, aumenta a
provocar sintomas desagradáveis. probabilidade de evasão e repetência escolar
Dessa maneira, no sistema circulatório, as entre as adolescentes. No entanto todas as
alterações podem desencadear desmaio ou entrevistadas retornaram a escola e mantêm
lipotímia, por hipotensão ou hipoglicemia. No projetos de vida, de concluir o ensino médio e
que se refere às alterações hemodinâmicas,

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fazer cursos, na expectativa de oferecer uma permite a possibilidade de ter uma pessoa
melhor qualidade de vida aos seus filhos. com vínculo empregatício para ajudar nos
 Categoria 5: A ocorrência de gestação trabalhos domésticos e cuidar de seus filhos.
não programada na adolescência A Síntese dos Indicadores Sociais, elaborada
prejudica a formação escolar e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
profissional, favorecendo o baixo nível Estatística (IBGE), mostra que o aumento da
escolaridade feminina reduz a fecundidade e a
de escolaridade e subemprego entre as
mortalidade infantil, mas, no mercado de
jovens mães
trabalho, acentua a desigualdade entre
[...] atrapalha um pouco, porque às vezes, homens e mulheres. Em 2004, as
é... eu tenho que estudar pra prova, ele trabalhadoras com até quatro anos de estudos
chora, quer colo [...] (ent. 2 IOV).
recebiam, por hora, em média, 80,8% do
[...] fiquei cinco anos sem estudar, voltei rendimento dos homens com esse nível de
estudar agora [...] parei na 7ª série [...] a
escolaridade, enquanto que aquelas com doze
mãe dele (eu) não tem um trabalho, não
anos ou mais de estudo recebiam 61,6% do
tem um emprego, o pai dele não tem um
trabalho fixo, um dia tem, outro dia não tem rendimento-hora masculino. Dentro de casa, a
[...] (ent. 3 MCCP). situação da mulher não era diferente, elas
[...] tem hora que me dar um desânimo [...] trabalhavam 4,4 horas a mais por dia em
fico pensando coisa, dar vontade de parar de afazeres domésticos.8
estudar, tem hora que não tenho cabeça, Compreende-se assim, que a maternidade
vem problemas, mais problemas [...] (ent. 3 na adolescência é permeada por dificuldades
MCCP). financeiras e muitas vezes, por falta de apoio
A fala das entrevistadas permite do companheiro e dos familiares, interferindo
compreender que a gravidez na adolescência assim, no êxito da vida escolar e profissional.
contribuiu de forma decisiva para que as mães
 Categoria 6: A gravidez na
adolescentes se afastassem da escola,
adolescência, contudo não representa
alterando a trajetória escolar, ocasionando
abandono de projetos de vida, as mães,
dessa forma, baixo nível de instrução e
maiores dificuldades de inserção no mercado retornam a escola buscando concluir os
de trabalho. estudos
A gravidez quando indesejada e precoce [...] tenho mais vontade de estudar, porque
eu sei que estudando, eu tenho um emprego
pode proporcionar, também, o abandono
melhor e eu vou poder dar, é [...] coisas
escolar, desemprego, instabilidade familiar e
melhor pra ele (ent. 2 IOV).
conjugal, morbidade e mortalidade da criança
[...] fiquei cinco anos sem estudar, voltei
e da adolescente, cancelamento de planos
estudar agora [...] pretendo dar um futuro
futuros de vida profissional, além da melhor pra meu filho [...] (ent. 3 MCCP).
reprodução do ciclo de pobreza.20
A partir dos dados apresentados,
Nessa situação, a gravidez precoce surge observamos que apesar da gravidez na
como um dos principais fatores que podem adolescência representar um dos principais
prejudicar a formação acadêmica e fatores que levam as adolescentes a evasão e
consequentemente a profissionalização, o que repetência escolar, a análise das falas
dificulta o ingresso dessas mães no mercado desvelou outra vertente, todas as
de trabalho, agravando as condições de vida entrevistadas retornaram a escola,
das mesmas e de seus filhos. demonstrando força de vontade para a
No mundo moderno, a escolaridade e a conclusão do curso, acreditando que só
capacitação profissional são fundamentais através de um melhor nível educacional
para a inserção do jovem no mercado de podem conseguir um emprego fixo e maior
trabalho, hoje tão competitivo.21 estabilidade financeira e social.
Quanto ao desejo de estudar, as mães Quase todas as jovens mães abandonam a
quando retornam à escola, sentem escola, apesar de não abandonarem seu
dificuldades de se manterem estimuladas, já projeto de vida. Constata-se o abandono
que a falta de apoio, muitas vezes da família escolar como prática frequente entre as
e do próprio companheiro, dificulta a adolescentes grávidas, embora pense no
conciliação de diversas tarefas. retorno aos estudos como projeto futuro.22
Subjetivamente, demonstram em suas falas, Dessa forma, o exercício da maternidade
cansaço e desânimo devido à sobrecarga dos na adolescência, apesar dos transtornos
serviços domésticos, juntamente com o cuidar vivenciados na gravidez, se revelou de forma
dos filhos e execução de trabalhos externos, positiva para essas adolescentes, já que
pois a condição financeira das mesmas não despertou nas mesmas, maior senso de

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ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.674-7355-1-LE.0402201011

Moreira RCR, Costa JRA, Lopes RLM, Freitas MYGS et al. Pregnancy adolescent and school life…

responsabilidade e determinação. Apesar Diante de intensas transformações


desta constatação, não podemos esquecer que comportamentais vivenciadas nos dias atuais e
essa experiência deve ser considerada apenas o acesso facilitado às informações por meio da
no contexto sócio-econômico e afetivo dos mídia, principalmente da televisão, que cria e
sujeitos deste estudo, pois, apesar dessas repete padrões, muitas vezes irreais,
afirmativas, demonstraram também, alimentando fantasias sexuais, a escola deve
dificuldades para conciliar a vida escolar com funcionar como uma extensão da família,
a educação dos filhos e os trabalhos desenvolvendo papel importante na educação
domésticos. para uma sexualidade ligada à vida, à saúde,
ao prazer e ao bem estar da criança e do
CONSIDERAÇÕES FINAIS adolescente, viabilizando projetos que possam
construir e re-construir conhecimentos sobre
Avaliando o impacto que a gravidez
sexo e sexualidade, favorecendo a prevenção,
planejada ou não, pode ter na vida das
não só da gravidez na adolescência, mas
adolescentes, faz-se necessário à
também das doenças sexualmente
homogeneidade familiar para que as
transmissíveis, e o abuso sexual, na tentativa
consequências da maternidade precoce sejam
de também co-responsabilizar os adolescentes
minimizadas, porque, dos problemas que
nos seus atos e atitudes.
podem estar envolvidos, o biológico parece
ser o mais fácil de ser contornado, muitas Quanto aos poderes públicos, estes devem
vezes, por um acompanhamento de pré-natal repensar as políticas de saúde, objetivando
adequado. No entanto, os sociais e afetivos atuar de forma mais intensa e eficiente,
são mais difíceis de serem superados. desenvolvendo ações intersetorias e
interdisciplinares que possam favorecer a
A falta de apoio e afetividade familiar
discussão sobre a saúde sexual e reprodutiva
parece causar nas adolescentes grávidas,
dos adolescentes, principalmente junto às
baixa da auto-estima, medo e insegurança, o
famílias e as escolas, que além de
que pode prejudicar a formação acadêmica,
representarem os dois principais espaços
favorecendo o abandono e a repetência
educativos é o local onde as crianças e os
escolar, a defasagem entre a idade e o nível
adolescentes passam a maior parte de seu
de escolaridade, dificultando sua inserção no
tempo.
mercado de trabalho, agravando assim, as
condições de vida dessas mães adolescentes e Assim, na perspectiva de uma ação
de seus filhos. coletiva, a família, a escola e os poderes
públicos distintamente, devem reconhecer
Ultimamente, o comportamento sexual dos
suas responsabilidades, proporcionando
adolescentes vai desde o ficar até o namorar,
confiança, apoio e segurança, além de
sem compromisso e fidelidade, onde o acesso
informações coerentes sobre o tema, com
facilitado à informação sobre como prevenir a
uma linguagem acessível para que as crianças
gravidez e as doenças sexualmente
e os adolescentes sejam capazes de processá-
transmissíveis não garantem proteção. Sendo
las e tomar decisões coerentes quando
assim a família e a escola podem não estar
expostos a outros contextos sociais,
desempenhando de forma significativa, seu
favorecendo uma possível redução dos
papel na orientação da vida sexual e
indicadores de gestação na adolescência,
reprodutiva das crianças e dos adolescentes.
aborto ilegal, mortalidade materno-infantil,
Torna-se necessário repensar o papel
baixo nível de escolaridade e
dessas instituições, além dos poderes
consequentemente, o subemprego e
públicos, que devem desenvolver políticas de
desemprego.
saúde mais eficientes que possam precatar,
além da gravidez na adolescência, a REFERÊNCIAS
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http://www.ufpe.br/revistaenfermagem/inde Address for correspondence
x.php/revista/article/viewFile/9/9 Rita de Cássia Rocha Moreira
15. Moreira RCR. Compreendendo a mulher Rua Guaimbé, 40, Parque Ipê
com doença hipertensiva específica da CEP: 44054-338 — Feira de Santana,
gestação: uma abordagem fenomenológica. Bahia, Brasil

Rev enferm UFPE on line. 2010 abr./jun.;4(2):524-32 532

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