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1PhD student of the Graduate Program in Agroecology and Territorial Development, University of the State of Bahia (UNEB) – Brazil
Email: tanyaead@gmail.com
2,3,4PhD Professors of the Postgraduate Program in Agroecology and Territorial Development, University of the State of Bahia (UNEB) -
Brazil
Email: jairtonfraga@gmail.com, lsvbomfim@gmail.com, ebarros@uneb.br
Received: 25 Jul 2022, Abstract— The digital transformation in agriculture is underway and has
Received in revised form: 18 Aug 2022, increasingly attracted several segments that perceive the potential of
technologies to leverage agricultural production, through the use of
Accepted: 23 Aug 2022,
technological resources that enable rural planning, cost reduction allied to
Available online: 30 Aug 2022 the preservation of resources. natural resources, such as precision
©2022 The Author(s). Published by AI agriculture. This article aims to identify the contributions of technological
Publication. This is an open access article training in sustainable agriculture made possible with the use of
information and communication technologies [ICTs] in the Brazilian
under the CC BY license
context and its implications for the economic and social development of the
(https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
territories. The perceived problem is that the lack of adoption of ICTs by
Keywords — ICTs, Technological Capacity social and economic agents delays the process of territorial development.
Building, Sustainable Agriculture, Territory, Based on the hypothesis that the use of ICTs in technological training in
Development. sustainable agriculture can contribute to the economic and social
Palavras-chave — TICs, Capacitação development of the territories, a literature review of articles published in
tecnológica, Agricultura sustentável, journals was carried out, from 2017 to May 2022. The main observed
results highlight that the use of ICTs requires greater engagement of social
Território, Desenvolvimento.
and economic agents from different territories, in order to guarantee the
implementation of public policies that expand connectivity and the training
of actors.
Resumo— A transformação digital na agricultura está em curso e tem
atraído cada vez mais diversos segmentos que percebem o potencial das
tecnologias para alavancar a produção agrícola, por meio do uso de
recursos tecnológicos que viabilizam o planejamento rural, a redução de
campo e “criará novos paradigmas para o setor” (MAPA, Em entrevista concedida à Revista Fapesp, o físico,
2021). Silvio Crestana, diretor-presidente da Embrapa entre 2005
Esse cenário vem se transformando ao longo do e 2009, destaca que “o uso de tecnologias da informação e
tempo e a “agricultura digital” tem sido fortemente comunicação terá o poder de separar quem será bem-
discutida, em decorrência, entre outros fatores, do sucedido ou não na produção agropecuária nos próximos
crescente uso das tecnologias de informação e anos” (Crestana apud Zaparolli, 2020). Atual pesquisador
comunicação nas relações sociais e de mercado. Segundo da Embrapa Instrumentação, que se dedica ao estudo do
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística impacto das atividades agrícolas nos recursos naturais,
(IBGE), houve um crescimento significativo da conexão Crestana afirma que a digitalização levará ecoeficiência ao
de domicílios na área rural (Ministério das campo, permitirá a rastreabilidade da produção e dará
poder ao consumidor para penalizar quem não adotar
Comunicações, 2021).
práticas sustentáveis (Crestana apud Zaparolli, 2020).
Em resposta a esse contexto, o MAPA tem investido
De acordo com o pesquisador, para além dos
em estudos, em parceria com a Escola Superior de
benefícios econômicos, o uso das TI é uma “questão de
Agricultura Luiz de Queiroz, sobre a conectividade rural
sobrevivência”. A tecnologia permite ao agricultor
do país e iniciado a proposta de um plano nacional de
considerar todas as características biofísicas envolvidas na
conectividade no campo, o qual, de acordo com o diretor
produção e fazer o uso adequado dos recursos”, segundo
do Departamento de Apoio à Inovação para a
Crestana, o agricultor precisa ter acesso aos dados e se
Agropecuária do MAPA, Luis Claudio Rodrigues de
comunicar (Crestana apud Zaparolli, 2020).
França, pretende elevar a produção agropecuária (MAPA,
2021). O pesquisador ressalta ainda a relevância de
políticas públicas que viabilizem a conectividade do/a
Uma plataforma denominada “Visão de Futuro do
agricultor/a de baixo poder aquisitivo e não possui
Agro Brasileiro” desenvolvida pela Empresa Brasileira de
recursos para investir em tecnologias, visto que a
Pesquisa Agropecuária [EMBRAPA] e atualizada no ano
agricultura 4.0 poderá aumentar a desigualdade no campo.
de 2022, apresenta oito megatendências para o futuro da
Sendo necessária também a capacitação desse agricultor, a
agricultura até 2030, são elas: 1) sustentabilidade; 2)
exemplo do que ocorre em países desenvolvidos como a
adaptação à mudança do clima; 3) agrodigital; 4)
Alemanha, a China, entre outros. No entanto, destaca
intensificação tecnológica e concentração da produção; 5)
também a necessidade de protagonismo do agricultor na
transformações rápidas no consumo e na agregação de
realização de investimentos em tecnologias a partir de
valor; 6) biorrevolução; 7) integração de conhecimentos e
associações ou em cooperativas (Crestana apud Zaparolli,
tecnologias; e 8)incremento da governança e dos riscos
2020).
(EMBRAPA, 2022).
Diante do exposto, pretende-se identificar as
As megatendências apontam para uma forte
contribuições da capacitação tecnológica em agricultura
presença das TICs na agricultura e as encaram com uma
sustentável viabilizadas com o uso das TICs no contexto
tendência global que provocará uma nova revolução. Para
brasileiro e suas implicações para o desenvolvimento
além do uso de hardwares e softwares no monitoramento,
econômico e social dos territórios. Para isso foi feita uma
controle, planejamento e gestão de atividades agrícolas, a
breve introdução ao tema, a partir do conceito de
“digitalização da agricultura” também impactará em
desenvolvimento aliado à tecnologia e à agricultura
operações financeiras e educacionais no meio rural, o que
sustentável, abordando, de maneira sucinta, as políticas
exigirá a capacitação de pequenos e médios produtores e
públicas que têm sido implementadas para apoiar esse
demais atores da agricultura (EMBRAPA, 2022).
processo. Na sequência, é apresentado o material e
Bolfe (2019) destaca que países como a França, métodos, destacando o percurso metodológico para a
Itália, Portugal e Espanha já desenvolvem há décadas realização do levantamento bibliográfico. Em seguida, os
estratégias científicas, tecnológicas, políticas e resultados e discussão, abordando as principais
mercadológicas para valorizar alimentos tradicionais, contribuições de diferentes pesquisadores sobre a
orgânicos, regionais ou típicos. No entanto, no Brasil, relevância das TICs para a agricultura sustentável, com
apesar da diversidade de produtos agroalimentares, foco na capacitação tecnológica; e por fim, as
somente a partir da década de 1980 iniciaram-se as considerações finais.
políticas públicas que contribuíssem para o
reconhecimento e promoção desses alimentos.
A exclusão digital como uma estratégia Discutir a exclusão digital como uma
engendrada pelo capital para restringir o estratégia engendrada pelo capital para
Google Acadêmico
desenvolvimento territorial do campesinato restringir o desenvolvimento do território
(Rosa, 2017). [material e imaterial] camponês.
A literature review on impact of information and Apresentar uma revisão dos vários
communication technology tools on rural society estudos sobre as implicações das
Google Acadêmico
of India (Newase, Sheetlani & Patil, 2017). ferramentas de TIC nas sociedades rurais
da Índia.
Os artigos analisados destacam a relevância das para apropriação da tecnologia, conforme destaca Bolfe et
TICs para a agricultura a partir de diferentes aspectos que al. (2020).
perpassam as relações entre o/a homem/mulher do campo;
as tecnologias e a agricultura, desde a capacitação, o
uso/apropriação das TICs até a exclusão digital associada IV. DISCUSSÃO
ao modelo capitalista; partindo de estudos e experiências As Tecnologias da Informação e Comunicação
oriundas de projetos de extensão, de órgãos de pesquisa e [TICs] são um conjunto de artefatos físicos, que
de outros países. correspondem ao hardware, ou lógicos, ao software, que
Os estudos apontam a ausência de conectividade e permitem captar, tratar, armazenar e disseminar
infraestrutura adequada como principais desafios para informações, e ainda automatizar máquinas e processos. O
implementação das TICs nas atividades de agricultores/as desenvolvimento das TICs impactou tanto na produção de
familiares (Felippi et al., 2017; Rosa, 2017; Carmo; et al., máquinas e equipamentos, possibilitando a inovação,
2018; Mengel & Diesel, 2020; Silva Oliveira et al., 2021), quanto na construção de novas relações de trabalho e
mas também revelam a necessidade de capacitação digital
formas de organização, o que representou avanços pequenos agricultores em relação às grandes empresas,
significativos para a humanidade (Rosa, 2017). enquanto estas buscam soluções tecnológicas para
De acordo com Rosa (2017), as TICs são alavancar seus negócios, aqueles não conseguem ter acesso
determinantes no aumento da eficiência e eficácia das a informações e inovações tecnológicas (Silva Oliveira et
corporações, em se tratando do incremento da capacidade al., 2021), seja por falta de políticas públicas que
produtiva ou de prestação de serviços na sociedade possibilitem o acesso à infraestrutura adequada e à
contemporânea. Mesmo reconhecendo que há fatores conectividade (Fornasier & Scarannti, 2017), seja pela
negativos, destaca sua importante contribuição na ausência de capacitação dos/as agricultores/as para o
integração social e econômica, já que atua “nos processos uso/apropriação das TICs.
e fluxos informacionais, otimizando a captura, tratamento, Um estudo qualitativo desenvolvido num território
armazenamento, recuperação e disseminação da do Sul do Brasil, que visa investigar as práticas que
informação; no suporte à tomada de decisão e obtenção da surgem a partir da interação cotidiana de famílias da
vantagem competitiva” (p. 91). Apesar da expansão da agricultura familiar com as TICs, revelou algumas
oferta das tecnologias de informação e comunicação, ainda limitações para a resistência ao uso das TICs pelos/as
há uma enorme discrepância entre o acesso pelas agricultores/as para o incremento de atividades produtivas,
populações urbanas e pelas comunidades do campo a saber: baixa escolaridade, pouca ou nenhuma capacitação
(Felippi et al., 2017). formal para o uso e apropriação das TICs, acesso recente à
Nesse sentido, observa-se que não é mais possível nova mídia. Apontam como uma das possíveis causas a
desassociar as TICs do meio rural, visto que elas tanto ausência de estímulos aos/às agricultores/as por parte das
oportunizam o acesso à informação e ao conhecimento organizações que atuam nesse território (Felippi et al.,
importantes para a gestão de atividades desenvolvidas 2017).
nesse território, quanto possibilitam a formação dos Os autores falam sobre uma nova ruralidade com o
sujeitos e sua inclusão na sociedade contemporânea. advento das TICs, no entanto, destacam a precariedade da
Entretanto, ressalta-se que o uso por agricultores/as inclusão digital no meio rural pela falta de investimentos
familiares ainda é bastante limitado (Felippi et al., 2017). em infraestrutura, entre outros desafios (Felippi et al.,
Tal realidade aponta para a necessidade de 2017). Nesse sentido, Zaparolli (2020) pontua,
capacitação do/a agricultor. Felippi et al. (2017) ressaltam Embora muito ainda precise ser feito no
que para além da infraestrutura adequada, é fundamental país em termos de infraestrutura de
que as pessoas tenham acesso a uma qualificação conexão e interoperabilidade — os
maiores obstáculos para inclusão da
específica.
agricultura brasileira na era do 4.0 —, a
A percepção de Castañeda Salazar et al. (2020) transformação digital no campo está em
coaduna com a hipótese deste artigo de que o uso das TICs curso. No curto prazo, o ganho de
na capacitação tecnológica em agricultura sustentável pode eficiência repercute na saúde financeira
contribuir para o desenvolvimento econômico e social dos das empresas. Olhando para o futuro,
auxiliará o produtor a superar o desafio de
territórios, ao afirmar que as TICs oportunizam a
ampliar a oferta de alimentos com preços
emancipação da comunidade rural, possibilitando seu uso acessíveis e de forma sustentável, sem
para acessar o conhecimento, integrando os interesses da ocupar áreas de floresta. “Em 2050 a
comunidade e as demandas da sociedade, “na busca da população mundial deverá chegar a cerca
inclusão social e superação do modelo agrícola de 9,8 bilhões de pessoas”, lembra Silvia
convencional” (Castañeda Salazar et al., 2020, p. 03). Os Massruhá, da Embrapa. “O Brasil terá que
aumentar em 40% sua produção de
autores apontam as TICs como fator de facilitação nas
alimentos para suprir as necessidades que
relações comerciais e sociais, visto que promove o surgirão. O uso de novas tecnologias e a
conhecimento da rede de agricultores, o encontro entre transformação digital serão fortes aliados
produtores e consumidores, facilitando a comercialização para atingir essa meta (p. 20).
direta dos produtos. Salas-Razo & Juárez-Hernández (2018), ao
De acordo com Silva Oliveira et al. (2021), “o setor reconhecerem a desigualdade nos países da América
da agricultura pode ter o uso ativo de TICs para a busca Latina e no Caribe, com destaque para o México, também
por alternativas que estimulem o progresso do ramo”, a corroboram a necessidade de mudanças na transferência de
exemplo do agronegócio que já dispõem de softwares que conhecimentos e tecnologia como uma das estratégias para
possibilitam um gerenciamento simples e competitivo. Os o desenvolvimento sustentável. Os autores revelam um
autores ressaltam que há uma disparidade entre o acesso de cenário de perda de rentabilidade agropecuária, o que traz
impactos negativos para o mercado de trabalho, e aos quais atividades econômicas; aumentar sua capacidade de
se somam diversas outras questões de caráter social, disseminação do conhecimento nativo; facilitar a coleta e
econômico que requerem um “novo modelo de análise de dados confiáveis da aldeia necessários ao
desenvolvimento rural sustentável integral” (Salas-Razo & planejamento do desenvolvimento (Newase, et al., 2017).
Juárez-Hernández, 2018, p. 16). Este modelo propõe a No tocante ao empoderamento, Rosa (2017) ressalta
integração das tecnologias e conhecimentos produzidos que há uma negação do acesso às inovações tecnológicas e
pela atividade agrícola, bem como a incorporação de seus benefícios, em pleno século XXI, à grande parte da
tecnologias ambientalmente sustentáveis. sociedade, inclusive o campesinato, decorrente da
Nesse sentido, Mengel & Diesel (2020) também “inexistência de condições financeiras favoráveis, falta de
ressaltam que a transformação social perpassa por uma capacitação para uso e ausência da infraestrutura técnica
atenção às técnicas e tecnologias utilizadas na agricultura, necessária” (Rosa, 2017, p. 89). Tal negação, segundo a
já que, segundo os autores, “a relação dos seres humanos autora, é decorrente do sistema capitalista de produção.
com a natureza e entre si é mediada pelas técnicas Ao lhe tirar a terra e levar-lhe à
utilizadas em um lugar, em dado período histórico, e proletarização, expropriou-o e o explorou,
porque estas condicionam o devir da sociedade” (p. 665). agora está promovendo a exclusão digital
deste mesmo camponês. Dessa forma,
Pensar a respeito das técnicas e
assim como cria uma massa de excluídos
tecnologias utilizadas em determinada
dos circuitos econômicos e sociais, o
atividade socioprodutiva é pensar a
modelo de desenvolvimento capitalista
respeito da relação que as categorias
gera também a exclusão digital (Rosa,
envoltas em tais atividades estabelecem
2017, p. 89).
entre si e com a natureza e a totalidade da
sociedade. Da mesma forma, tratar da O artigo proposto por Carmo et al. (2018) que teve
modificação de uma atividade ou da como foco o processo formativo, traz uma experiência
inserção de uma categoria social na relevante sobre a capacitação em agroecologia e inclusão
mesma, implica em modificar as técnicas digital, destacando dificuldades dos participantes,
e tecnologias utilizadas por ela em suas
principalmente, nos temas da área de informática,
relações socioprodutivas. Isto porque tal
processo implica em modificar suas decorrentes de questões, como: ausência de conhecimento
formas de trabalho, suas formas de prévio em informática, faixa etária, carga horária da
organização e a transformação nos modos capacitação. Vale ressaltar que o artigo sugere a realização
de pensar das pessoas, o que é de acompanhamento dos participantes após as capacitações
considerado muito desafiador pois é utilizando metodologias ativas de aprendizagem, a fim de
necessário interpretar o mundo de novas oportunizar a efetiva adoção das técnicas aprendidas.
maneiras, até então desconsideradas.
(Mengel & Diesel, 2020, p. 667) O artigo de Bacco et al. (2019) apresenta diversos
Em consonância com essa perspectiva, Newase, et projetos de pesquisa em tecnologia desenvolvidos na
al. (2017) reconhecem a importância das TICs na União Europeia que demonstram o potencial das TICs para
resolução de questões relacionadas ao desenvolvimento e a agricultura sustentável, entre elas estão: componentes
problemas da sociedade, bem como na realização de robóticos não tripulados heterogêneos [terrestres e robôs
tarefas bem-sucedidas em diversos segmentos, inclusive na aéreos]; sistemas baseados em nuvens, explorando
agricultura, destacando sua contribuição para a melhoria estratégias baseadas em dados; plataformas de IoT
do desenvolvimento econômico e social, a partir de uma [“Internet das coisas”] Acrescentam ainda que
pesquisa realizada na Índia, e seu papel no intervenções estratégicas foram financiadas para apoiar a
desenvolvimento rural ambientalmente sustentável. Os adoção de tecnologias digitais, desenvolver novas soluções
autores pontuam a necessidade de haver um digitais e sustentar a avaliação crucial dos impactos
empoderamento pelas comunidades rurais para que possam socioeconômicos da digitalização.
ter acesso às informações, selecioná-las e utilizá-las na Bacco et al. (2019) falam sobre a Smart Farming
busca de desenvolvimento, destacando as TICs como [SF] que se refere à aplicação das TICs na agricultura, de
estratégia para impulsionar a produtividade, a inovação, o modo a utilizá-las, a exemplo de imagens de satélite, o uso
acesso à informação e a promoção da transparência. de robôs agrícolas, nós sensores, Veículos Aéreos Não
Um dos estudos apresentados pelos autores Tripulados [VANTs], para a coleta e análise de dados,
apresentou três finalidades relacionadas à informação e objetivando tornar a agricultura mais eficiente, sustentável
comunicação para as comunidades rurais, são elas: e de alta qualidade, considerando as necessidades dos
permitir uma maior produtividade e eficiência em suas agricultores.
Rosa (2017) traz uma perspectiva relevante ao a natureza e preservação do meio ambiente, ao tempo em
reconhecer nas TICs as possibilidades de “articulação, que possibilita a geração de renda para as famílias.
resistência, cooperação, troca de informações, organização Os estudos revelam que ainda há muito o que se
e desenvolvimento econômico, social e cultural” (Rosa, explorar nessa relação entre as tecnologias de informação e
2017, p. 94), alertando que a negação do acesso ao comunicação e a agricultura sustentável. Apesar de
campesinato significa uma restrição à sua liberdade. A apontarem os benefícios e as possibilidades que as TICs
autora acrescenta ainda que a “exclusão digital inibe o podem oferecer para a agricultura, ainda se observa
intercâmbio de produtos, serviços, experiências e carência de estudos que relacionem as TICs, a agricultura
conhecimento, o que afeta negativamente as pessoas ao sustentável e a capacitação tecnológica, limitações que vão
restringir a liberdade, autonomia, protagonismo e o acesso desde o conhecimento para utilizar as TICs até a
às oportunidades” (Rosa, 2017, p. 94). disponibilidade de infraestrutura adequada para acessá-las.
As TICs consistem numa oportunidade para que o O presente artigo se propôs a identificar as
campesinato possa se articular, organizar, lutar, contribuições da capacitação tecnológica em agricultura
compartilhar conhecimentos, fortalecer a sua identidade, sustentável viabilizadas com o uso das TICs e suas
implementar novas técnicas e tecnologias, melhorar sua implicações para o desenvolvimento econômico e social
produtividade, bem como encontrar formas alternativas dos territórios no contexto brasileiro, porém não pretendeu
para desenvolver-se dentro do sistema capitalista, mas não esgotar as discussões acerca das potencialidades e desafios
fazendo parte dele e, contraditoriamente, sendo parte dele. decorrentes da inserção das TICs na agricultura
Essas tecnologias têm potencial para auxiliar o sustentável, principalmente, no tocante à capacitação
campesinato com informações, por exemplo, sobre a tecnológica como estratégia para o desenvolvimento
previsão do tempo [chuva, frio, seca], os tipos e qualidade econômico e social dos territórios.
do solo, políticas de preços, aquisição, controle e venda de
Por fim, vale ressaltar a necessidade de estudos que
produtos. Apontar as épocas mais propícias para plantio ou
evidenciem essa relação e possam impactar na
colheita, uso e ocupação do solo, distribuição de sementes
implementação de políticas públicas que promovam a
e fertilizantes conforme o tipo de solo, dentre outras (Rosa,
conectividade e acesso à infraestrutura; na apropriação das
2017, p. 95).
TICs pelas populações campesinas, reconhecendo seu
Rosa (2017) destaca a necessidade de um conjunto potencial para contribuir com a capacidade produtiva e de
de ações para a promoção da inclusão digital do geração de renda, e também como ferramenta para a
campesinato que perpassam pela educação, infraestrutura disseminação de saberes e preservação da cultura local.
física e de comunicação a fim de possibilitar a produção e
gestão da unidade produtiva de modo sustentável, as quais
coadunam com Bolfe et al. (2020). REFERÊNCIAS
Os artigos analisados apontam as implicações do uso [1] Bacco, M., Barsocchi, P., Ferro, E., Gotta, A., & Ruggeri,
das tecnologias da informação e comunicação para a M. (2019). The Digitisation of Agriculture: a Survey of
Research Activities on Smart Farming. Array, 3–4.
agricultura, ressaltando os benefícios para a modernização
https://doi.org/10.1016/j.array.2019.100009
de sistemas produtivos, bem como destacam as limitações,
[2] Bolfe, E. (2018). A transformação digital impulsiona o
que vão desde o conhecimento para utilizar as TICs até a futuro da agricultura. Revista de Agronegócios (ISSN: 1679-
disponibilidade de infraestrutura adequada para acessá-las. 1614(O), ISSN: 1679-1614(P)), 9, 1-4. Recuperado em 16
maio 2022, de https://revistadeagronegocios.com.br/edson-
bolfe-a-transformacao-digital-impulsiona-o-futuro-
V. CONCLUSÃO sustentavel-da-agricultura/
Os estudos demonstram que as tecnologias da [3] Bolfe; E. L., Sautier, D., & Silva, J. F. V. (2019). Plataforma
informação e comunicação têm sido cada vez mais Digital em Alimentos e Territórios no Brasil: Desafios e
aproveitados para o aperfeiçoamentos das atividades Bases Conceituais. In: Indicações geográficas, signos
coletivos e desenvolvimento local/regional (pp. 265-297),
produtivas da agricultura e apontam para a necessidade de
Editora Deviant. Recuperado em 01 abril 2022, de
apropriação pela população campesina, visto que as TICs
https://agritrop.cirad.fr/593158/7/ID593158.pdf
têm sido utilizadas como ferramentas estratégicas para [4] Bolfe, E. L., Barbedo, J., Massruhá, S., Souza, K. de, &
alavancar a agricultura, a exemplo do uso para a Assad, E. (2020) Desafios, tendências e oportunidades em
mensuração de variações climáticas, manejo do solo e uso agricultura digital no Brasil. In: Agricultura digital:
racional da água; bem como para a gestão do pesquisa, desenvolvimento e inovação nas cadeias
conhecimento, por meio da disseminação de saberes produtivas. Brasília, DF: Embrapa, (p. 380-406).
necessários à adoção de boas práticas de convivência com Recuperado em 04 junho 2022, de