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AS ESTRUTURAS SOCIAIS DE ANTIGAMENTE E A NECESSIDADE DE UMA TRIMEMBRAGAO SOCIAL Palestra de 14 de fevereiro de 1979 - quarta feira Meus caros amigos: Hoje e amanhi falarei sobre como a Antroposofia encara a questo so- cial. Eu o farei da mesma maneira como ontem e anteontem abordamos a questo da consciéncia, isto 6, hoje abordaremos mais o aspecto histérico até nossos dias e amanha mais o desenvolvimento futuro. Também vou re- Portar-me & palestras de sexta e sébado, nas quais falei do processo de emancipaco do homem. Neste processo o homem liberta-se cada vez mais de lagos grupais. Através do processo de “imancipagdo” o homem se incor- Pora novamente, mas desta vez com toda a liberdade, em grupos e relacio- namentos sociais que ele mesmo ajudou a formar. A tragédia da questéo social é ela haver surgido numa época em que o pensar jé no era mais capaz de percebé-la. A questo social surgiu realmente os séculos XVIII e XIX. Nessa época o pensar jé estava to ligado ao mun- do sensitivo que nao estava mais em condig&es de captar o supra-sensivel. Talvez os Amigos agore fiquem chocados se eu disser que a questo social 6 uma questo supra-sensivel. Mas é facil conscientizarmo-nos disto. Basica- mente a questao social tem a ver com os relacionamentos humanos, e rela- cionamentos humanos n3o podem ser Percebidos por serem algo supra-sens{- vel. Podemos perceber a Pessoa A e a pessoa B, mas nao podemos perceber a rela¢do que hé entre ambas. Podemos também vivenciar isto ao cantar. Po- demos ouvir um la € um D6, mas 0 intervalo, a terca, nao é uma Percepcao Sensitiva, € uma vivéncia supra-sensivel, Assim também aquilo que vive entre aS pessoas & algo de natureza Supra-sens{vel. Foi isto que eu quis dizer ao oe que a te ae oa aa época na qual no se era mais ca- intimamente ligads& amplingge fe enero, S82 Aue 2 questo social est consciéncia. a7 ; roblemas do hom froderno. Em primeiro lugar hé pouguissimo interesse pele Hiettie ee istoria, Para a vrjoria dos jovens, aquilo que se passou antes jg pertence & Idade Média, Sua consciéncia Rasy pene peat talvez até a Primeira Guerra Mundial, e depois se perde na escuriace Oo. qundo problema é que 0 ensino da Historia geralmente tom uma conotarto acionalista e perde seu cardter de Historia Universal. O terceiro problonsa o que a consciéncia histérica esta muito influenciada pelo darwinismo, E aus se impossivel destruir aquela imagem dos macacos que ume ver descsong das drvores e ap6s algum tempo passaram a agredir-se mutuamente, O quarto problema, 2 maior dificuldade, € que para muitos a Hist6ria foi dialetica- mente falsificada. Podemos dizer que por isto ela se tornou muito monéto- na. Minha esposa e eu estivemos certa vez na Alemanha Oriental e tivemes a oportunidade de assistir a uma aula de Histria num quarto ano. Enquanto (© professor estava ocupado, folheamos um livro de Historia. “Primeiro Ca- pitulo: Historia Chinesa. Um pequeno grupo de mandarins elitistas explora os cules (*).” “Segundo capjtulo: Historia Egipcia. Um pequeno grupo de faraés manda milhares de operdrios construir pirdmides, sendo que estes Gl mos so explorados para que os faraés vejam confirmado seu poder.” Conti- nuamos folheando e chegamos a Idade Média, encontrando a descri¢do dos proprietérios feudais que exploravam grandes grupos de servos. Vocés mesmos podem continuar a descrever a Histdria. Proximo capitulo: “Tem- pos Modernos. Um pequeno grupo de empresdrios brutais que explora o proletariado em grande estilo.” Assim a Historia se torna tremendamente monotona. Tem-se a impressdo de que aquilo que talvez possa ser aplicado & nossa época é retroprojetado para o pasado. Vamos reatar nossa imagem hist6rica aquilo que descrevemos ontem e anteontem: uma imagem do homem em formacao. Na Atlantida, os corpos humanos comegaram a diferenciar-se; depois os processos vitais foram quase apartados da natureza; a seguir as configuragées animicas foram-se diferen- ciando; finalmente, os ‘“‘eus’” submergiram nestas almas e comegaram a ter uma vida cada vez mais individual e consciente. Até a 6poca em que os ho- mens comecaram a levar uma vida mais individual, isto é, até aproximada- mente a cultura grega, as estruturas sociais permaneceram quase inalteradas. As trés primeiras culturas pés-atlanticas — @ hindu, a persa e a egipto-caldai- ca — podem ser caracterizadas como apresentando tras fendmenos em sua (*) N. dos Edit.: Operdrios nativos ndo-especializados. <<< 38 formacao social: uma estrutura hierérquica, uma lideranca espiritual e ainda um caréter uniforme. © que significa estrutura hierarquica? A consciéncia das pessoas destas culturas ainda era muito orientada para o mundo espiritual, de modo a ser- -Ihes Sbvio que a ordem social sobre a Terra era um reflexo desse mundo es- Piritual. Elas sabiam que 0 mundo espiritual tinha uma estrutura tripla. Em livros persas e hindus pode-se ler sobre um mundo hierarquico de seres espi- rituais, que comeca com seres bastante préximos dos homens, como Anjos e Arcanjos, e vai até os sublimes Serafins e Querubins. Para os hindus esta es- cala hierérquica culminava na trindade de Brahma, Vishnu e Shiva, Brahma era o grande criador, Vishnu o provador e Shiva o destruidor. E interessante que todos os trés pertencem visivelmente a vida: o criar, o provar e o condu- zir para a morte. Por ser o mundo espiritual vivenciado nessa escala, ndo po- dia ser diferente aqui na Terra; aqui se espelha esta situagdo. Assim, na Terra havia trés castas: primeiro a casta dos bramanes, os sacerdotes que estavam mais préximos do mundo espiritual e de Id podiam dar & sociedade novos impulsos vitais; a segunda casta era constituida, de um lado, pelos guerrei- ros, e de outro pelos funciondrios — ambos tinham uma funcdo provedora: ‘0s guerreiros tinham de proteger a sociedade quanto ao exterior, e os funcio- nérios tinham de ordenar a sociedade por dentro; a terceira casta era consti- tuida de artestios, que mais tinham a ver com Shiva, pois aquele que manuta- tura uma matéria-prima sempre tem, de alguma forma, de destru(-la. Final- mente havia também os parias, que em virtude do seu trabalho tinham de li- gar-se profundamente a Terra, de modo que eram tidos como impuros, pois para os hindus a Terra ainda era maya. J4 mencionei 0 segundo fendmeno dessas trés primeiras culturas: uma lideranga espiritual, seja através da casta dos bramanes, dos faras ou de ou- tros iniciados em centros de mistérios. O terceiro fendmeno era que estas culturas ainda tinham um cardter uniforme. Isto significa que todas as dreas da vida eram largamente permeadas pelo espiritual. As circunstancias huma- nas, 0 tipo de alimento que o individuo podia ingerir, a disposicdo da vida juridica, a época de semear e colher, tudo isto era determinado por esse cen- tro espiritual. A estrutura destas trés culturas péde ser mantida enquanto o mundo espiritual ainda era vivenciado como realidade. Mas, como Ihes des- Crevi, lentamente os homens acordaram; também podemos dizer que o mun- do espiritual se retraiu para possibilitar este acordar. Foi af que este ponto de Sustentaego comecou a oscilar cada vez mais. Tomando a imagem da piré- mide como simbolo da cultura egipcia, vemos que o fara6 se sentia como 0 membro mais baixo de uma piramide invertida: \Na passagem para a cultura grega, poderfamos dizer que o contato se vai afrouxando, de modo que a sociedade vai perdendo o seu ponto central e 0 ponto de orientago natural. Com isso a sociedade deixa de ter seu cardter uniforme. Iniciando-se na Grécia, especialmente em Esparta e Atenas, surge um fendmeno social inédito: a partir de sua autoconsciéncia, os homens co- mecam a ordenar seu relacionamento — no indo ao templo ou procurando um sacerdote para receber esclarecimentos, mas sentando-se em circulo pa- ra decidir a melhor forma de resolver um problema, Antigamente as cidades nfo passavam de locais onde havia templos. Na Grécia surgem pela primeira vez cidades destinadas & moradia dos homens. A palavra grega pélis signifi- ca “cidade”, e dai se origina aquilo que costumamos chamar de pol(tica. Também a vida espiritual comecou a sofrer uma certa democratizacao, como dirfamos hoje em dia. Na Grécia, praticamente todos os cidadaos participa- vam da vida artistica e filos6fica. Mas apesar disto, essa sociedade ainda estava ordenada de maneira bastante hierarquica. Se os Amigos leram 0 livro de Platao A Republica, encontrarao a listagem das castas de uma forma bem cléssica: os filésofos como camada de lideranga, a seguir os guerreiros e de- pois os artesos. Como quarta classe, praticamente excluidos, 0s escravos. Esta inovacao entra em pleno desenvolvimento no Império Romano. Aquilo que antigamente ainda era divino, como direito divino, como direi- to revelado, passa a ser diretamente humano. No latim ainda hé duas pala- vras: fas (direito divino) e jus (direito humano). A expressdo civis romanus, “cidad3o romano”, era um fato novo. As mais diversas pessoas @ grupos ti- nham seus representantes no Senado, onde com verdadeira elogiéncia estes mantinham seus debates e fundamentavam seus direitos. Estes direitos eram principalmente direitos de propriedade, de rendimento, de voto e até 0 di- reito de decidir quem seria o herdeiro apés a morte. O fato da relacdo de ho mem para homem ser ordenado por homens era um sentimento inédito. O fato de ser cidado de Roma, ser cidado do Império Romano, transmitia 0 40 seman eke, Menton porto coro sa comeltanen igualdade — a vivancia de que 0 proximo tem os mesmos direitos: por assim dizer, 6 filho do mesmo pei — ainda nfo hovia a bose necesséria. € por isso que essa democracia romans, essa Repablica Romana, entra em decadéncia e degenera para 0 dominio dos césares, para o Império Romano. Apesar disso, j4 havia a semente da vivéncia da relac&o dé igualdade entre os homens. Esta semente fora plantada ao mesmo tempo em que este principio de igualdade se apresentava politicamente pela primeira vez. Quando andou pelo mundo, Cristo sempre se dirigia ao que era humano nos homens, portanto n&o aquilo que provinha das relacdes tribais ou consan- giiineas; ele no se dirigia ao samaritano, ao judeu, ao galileu, ao romano ou 20 grego, e sim ao homem que ali estava. Quando, ap6s Pentecostes, os apés- tolos seguiram seus diversos caminhos para fundar as primeiras comunidades cristas, nelas se reuniram os mais diversos povos e ragas. Havia gente de Fili- pos, de Efeso, de Tessal6nica; havia romanos, gregos, cretenses, cipriotas,etc, Nao se tratava de povos, e sim de homens, Também em Roma criaram-se co- munidades cristés. Enquanto na superficie eclodia a loucura dos césares, IA em baixo, nas catacumbas, os cristdos se reuniam. Os oésares tentaram forte: lecer seu poder espiritualmente, iniciando-se no que ainda restava dos anti- 90s mistérios. Principalmente os mistérios de Mitras eram muito importan- tes. Neles 0 touro ainda tinha um papel relevante. Porém, a verdadeira fonte da inspiracao espiritual ainda vivia um pouco no Oriente. Assim, Julio Apés- tata foi o Gitimo que seguiu para o Oriente para iniciar-se nos mistérios Orientals, Mas todas essas iniciag&es levavam ao demontaco, a exaltacdoe & perda da personalidade, pois desta forma 0 acesso ao mundo espiritual no era mais possivel. Durante esta época do dominio dos césares, os cristéos foram muito Perseguidos, pois os césares sentiram que neles jazia um poder muito perigo- so. Finalmente, no século IV, Constantino decidiu tirar os crist&os de suas catacumbas e declarou o Cristianismo a teligido do Estado. Ele esperava as- sim apoderar-se da misteriosa fora dos cristos, O Cristianismo cresceu, tor- nando-se um grande poderio espiritual que se organizou dentro da Igreja Cat6lica. Esta Igreja foi construfda de acordo com o antigo modelo — por- tanto, em trés niveis hierarquicos: os Padres, os bispos e os cardeais e, acima eles, estava o Papa como representante da trindade. De resto a Igreja tinha uma colorago bem romana, isto 6, estava impregnada das idéias do direito SS a vice-versa. Toda a Idade Média caracteriza-s iza-se pelas lutas entre re Papas @ reis. Os pa. coroam @ abencoam os reis, mas os reis pr Fee Pape Sno, chou nara ocean Wve ages jar-se na Franca. Felipe construiu:the um palacio om Ag ene ei obrigar © Papa a banir a Ordem dos Templarios que o amenonn Coe dro impressionante dessa época & Henrique IV, que anda desnce oe até Canossa para ajoelhar-se diante do Papa, pedindo perdio, cone Ne mos entender essas imagens? A sociedade uniforme de sutrorg nang” ancoradouro seguro do espirito comecou a balancar, A velha vide meray comecou a perder sua forca interna, e entrementes se inicia uma w ais mundana onde surgem os direitos individuais e os direitos dos Cea inicio da igualdade humana, que entretanto ainda néo tinha uma base real. mente crista. Esta nova vida juridica era constantemente violada por uma vic da espiritual cada vez mais decadente, que se perdia progressivamente em es- truturas senhoriais. Durante todo este tempo a vida econdmica dormitava, Ela era provida por servos e escravos, por uma quarta classe social. S6 participava da vida es- piritual, e mais tarde também da vida politica, quem nao trabalhava. Como a emancipacgo foi evoluindo, a consciéncia despertava cada vez mais no mun- do sensitivo, e o poder que a vida espiritual exercia sobre todas estas éreas foi diminuirdo — a vida econémica péde libertar-se. Inicialmente a vida eco- némica estava presa a uma estrutura hierérquica medieval. Esta estrutura era ainda o ditimo resquicio de uma estrutura antiqiiissima baseada nas castas: em/cima havia a classe magistral, que inclu(a sacerdotes, padres, cientistas; em seguida havia a classe defensora, englobando cavaleiros, soldados e fun- cionérios e, finalmente, havia a classe nutridora, composta por corporagées, camponeses e negociantes. Cada corporacdo tinha seu patrono espiritual, 0 que evidencia como a Igreja ainda dominava a vida econdmica. Como a so- ciedade continuava perdendo seu centro espiritual — sua orientagdo espiri- tual comum =, a vida econdmica podia tornar-se cada vez mais independen- te, Comegou em Veneza, com a repiblica mercantil (aliés um fendmeno in- teressante: uma forma juridica baseada em fatos econdmicos!), prosseguiu mais tarde com as cidades mercantis e, em seguida, tiveram inicio as viagens de descobrimentos, que possibilitaram o surgimento dos primeiros indicios de uma economia mundial. Esta vida econédmica em fase de libertago pas- sou a ser a base sobre a qual o impulso de liberdade podia viver. Isto Se tor- nou ainda mais vidvel quando esta vida econémica pode unir-se ds possibili- A ciéncia natural, iniciada nos séculos XV e XVI, apresentou seus pri- Dentro dessa vida econom'- meiros frutos técnicos nos séculos XVIII ¢ XIX. 42 mmbém a técnica, fruto da nh a ciéncia se tornou o germe para uma vida Porém as formas nas quais essa nova vida jadas. Eram as velhas estruturas hierérqui- 'm ainda tinham a forma de velhas estru: ‘as velhas formas de posse, velhas in baseadas no direito romano. Era possivel possuir es Ee e até mercados inteiros. Estaéa caracter fstica go tanitaliamo que desponta, & por haver adotado formes antiquadas e impro- prias, a nova vide econdmica rapidamente entrou em decadéncia, degene- tando numa espécie de barbérie econdmica. E bem verdade que a nova vida tcondmica contriubuiu para que rapidamente se evidenciasse a impossibili- Gade da manutencSo das antigas estruturas espirituais hierérquicas @ 35 ve- thar formas do direito romano. Desde que a Humanidade aleangou sua plena lucidez, emancipada e autoconsciente, as circunstdncias sociais entraram num caos total, A vida econdmica muito contribuiu para que se chegasse @ fente a partir desse caos que devem surgir novas circuns- ca a vivencia da liberdade ere ‘algo inédito, e ta ancia natural, era algo nove. At espiritual completamente Nove sconomica se amoidou eam antide: dimentos que surgiam air tas e autoritdrios. Também esse ponto. E justam tancias sociai 1) a partir de uma vida espiritual, da qual a ciéncia natural € 0 come¢o e a Antroposofia a continua¢a0; 2) a partir de uma postura cristé para com o proximo e 3) a partir de um novo relacionamento com a terra e seu cultivo. Com esta nova configura¢ao j4 indicamos a trimembracao do organis- ‘mo social. O que significa isto? Para dar esta explicacdo, quero reportar-me & imagem das trés revolu- ges ocorridas no fim do século XVIII. Na Franca desenrola-se uma revolu- ‘¢80 que tem sua origem na politica; é uma espécie de renascimento da vivén- cia de igualdade que j4 despontara no inicio do Império Romano. A vivén- cia do “civis romanus” repetiu-se quando o cidadao francés passou a chamar © duque que vivia em seu castelo de citoyen. A oeste da Franca, na Inglater- ra, Pouco antes verificara-se a Revolucdo Industrial: uma nova forma de eco- nomia, um inicio de capitalismo, um comeco da economia mundial, tudo re- aaa com uma nova técnica que comega a surgir. A leste da Franca, na ae fies scolt eee uma revolugao espiritual. Num Schelling, Herder, Goethe, Novalis, rain anaes eres. ais aihsae as a in aoe aed iller, Schopenhauer, Fichte, etc. O sae clestnas que tentam fundar uma nova vida espiri- - se reportam a uma velha cultura iri ula ais “anise aliida®Stentar cortansul grega ou a culturas espiri- areas tore as 4 aes ae uma ligacdo com o espiritual Estas tré: i trés revolugSes — a da vida espiritual na Alemanha, a da vida ——_— 43 pola ne Franca ES vida econdmica na Inglaterra — 18 permite ante. oas diretamente, como se estas tivessem r oe ieairon © proprio homem & atingido em sue cane wee Tovora extn tr Teas, ects tes principion, nee os Pe mmmonde deveriam aplicé-los. pel = A liberdade pertence & vide espiritual, onde todos precisam d espaco de liberdade para o seu desenvolvimento, ie — A igualdade pertence a vide juridica, onde os homens se encon- tram, cada qual com os mesmos direitos do outro. — E através da distribuic&o do trabalho na vida econémica que um tem de trabalhar para 0 outro; af domina a fraternidade. Mas como isto no foi reconhecido, os ideais acabaram atuando em campos errados. E como eu disse ontem: o mal é 0 bem aplicado no lugar cerrado, e 0 contrério também é um fato: quando o bem atua no lugar erra- do, pode ter um efeito destruidor. Quando a igualdade atua na vida cultural, surgem uma estandardiza- Go, uma normalizacZo e uma trivialidade que sio mortais para 0 espitito. Quando a liberdade atua na vida econdmica, surge uma livre empresa que le- ya aos cancros que conhecemos hoje (a libertinagem). E quando a fraterni- dade atua na politica, surgem caricatures como, por exemplo, ““Proletérios de todo mundo, uni-vos, sede fraternos — porém na luta contra os empresé- rios’”. O século XIX apresentou uma tremenda confuséo na vida social, com os trés ideais atuando das mais variadas maneiras nas trés grandes areas da vida. Verifica-se uma restauraco no século XIX, mas de outro lado o mar- xismo comeca a agir revolucionariamente. Este caos da vida social chegou ‘ao seu ponto culminante quando os problemas no solucionades eclodiram na Primeira Guerra Mundial. Nesta guerra, 0 ano de 1917 é outra vez um ponto culminante. Neste ‘ano de 1917 acontecem trés fatos muito importantes. De um lado, os Es- tades Unidos surgem no palco mundial. Até entdo, a Europa dominava a po- litica, de modo que, por exemplo, no inicio da Primei Guerra, os despa chos e telegramas se cruzavam entre Berlim, Viena, Paris e Londres, e nunca jam para Washington ou Moscou. Em 1917 ‘© poderio americano aparece pe- la primeira vez no palco europeu. Os Estados Unidos foram o pais em que ‘2 Revolucdo Industrial, que tivera seu io na Inglaterra, encontrou © es- ‘pao onde podia extravasar-se livremente. Mas os Estados Unidos também eram o pais onde desde 0 inicio existia um grande impulso de liberdade. ‘Ao chegar de navio 2 New York, logo nos deparamos com aquela enorme 44 estétua que representa o ideal de liberdade. Esta grande poténcia econdmi ca, com seu ideal de liberdade, surgi no palco europeu. Lembrem-se, eu ai se que esse ideal de liberdade n3o cabe no mundo econémico. Nesse mesmo ano de 1917 aconteceu mais uma coisa. Lenin, que vivia exilado na Sufea, onde preparava a revoluco russa, foi contrabandeado atrs vés da Alemanha no famoso vagio lacrado. Ele foi, por assim dizer, exports do para a Russia a fim de que a revolucao se pudesse desencadear. Assirn ta. ve inicio uma grande experiéncia socialista, que levou a Russia a aparecer pe. la primeira vez no palco. O ideal da fraternidade, do socialismo, propagou.se num pais que desde 0 inicio tivera uma orientagGo religiosa, como todas ag culturas asidticas e orientais. Portanto, também ai temos uma ligagao impos. sivel: o elemento da fraternidade, que deve atuar na vida econdmica, atuan- do numa cultura orientada para o espiritual-religioso. Foi também em 1917 que Rudolf Steiner falou pela primeira vez so- bre a trimembracao do organismo social perante um piiblico maior. Ele ti- nha condi¢des de prever que, através dessas duas grandes poténcias que sur- giram no palco, contendo em si uma ambigilidade perturbadora (uma potén- cia econémica com um ideal de liberdade e uma cultura de orientaco espi- ritual-religiosa com um ideal social), havia o grande perigo de que as tras reas da vida entrassem num grande caos. Rudolf Steiner viu que um tal de- senvolvimento s6 poderia levar a um estado totalitdrio. Se a vida econdmi- ca, a vida espiritual e a vida juridica se confundirem num emaranhado, so Poder&o levar a um estado totalitario, onde no ha espaco livre Para o desen- volvimento do homem individual. Ele disse até que o Ocidente e o Oriente, neste sentido, se tornariam cada vez mais similares. S6 que o Ocidente teria um estado totalitdrio de orientacdo mais tecnocratico, e o Oriente um esta- do totalitério de orientacao mais teocrética, Nesse ano de 1917 Rudolf Stei- ner falou sobre a trimembracao do Organismo social — no como um mode- lo, e sim baseada nas necessidades vitais desse momento de transig&o hist6ri- ca. Ele descreveu como a antiga estrutura social, onde a vida espiritual, a vi- da juridica e a vida econdmica estavam sobrepostas hierarquicamente, est definitivamente superada, Por nao ter mais uma orientacao espiritual, por no ter mais aquele Ponto espiritual de sustentacio. Agora a sociedade realmente deve estar com os pés no chfo e estrutu- far-se a partir das forcas da personalidade livre. As trés 4reas da vida nao de- vem mais ser sobrepostas hierarquicamente, e tampouco devem ser adminis- tradas a partir de um Ponto central; devem estar postadas livremente, uma a0 lado AS PECULIARIDADES E OS LIMITES DAS VIDAS ECONOMICA, ESPIRITUAL E JURIDICA Palestra de 15 de fevereiro de 1979 - quinta feira Meus caros amigos: ‘Ao falar hoje de forma mais concreta sobre a trimembracao do orga- nismo social, quero dar um alerta. A trimembracao do organismo social néo 6 um modelo pré-estabelecido que se possa impor. E, isto sim, a imagem de uma realidade social que surge quando seres humanos se debatem com o mal de uma forma positiva, assim como ontem foi considerado, ou seja, quando eles tentam deixar agir estas forcas atuantes no lugar devido. A trimembra- ¢40 do organismo social é uma imagem da realidade social que surge quando seres humanos procuram, a partir das forcas de sua personalidade, plasmar 0 seu pensar, sentir e querer. Portanto, seria muito desastroso se vocés ima- ginassem que trimembragdo do organismo social fosse equivalente a trés quadradinhos. Assim — um quadradinho: vida espiritual, onde estariam es- colas, cientistas, artistas, etc.; um outro quadradinho com inscri¢ao: vida econdmica, com fabricas, bancos e empreendimentos comerciais; e um ter- ceiro quadradinho: vida juridica, onde estariam os juizes e funcionérios. Ampliando-se entdo este raciocinio, poder-se-ia até pensar em introduzir is- to tudo através de um partido politico ou de um programa de trimembra- ¢40. Seria muito desastroso se vocés pensassem desta forma acerca da tri- membragao do organismo social, porque isto nao teria nada a ver com a rea- lidade social. Desta maneira Rudolf Steiner também nunca falou quando, em 1917 e 1922, discorreu sobre a trimembracao do organismo social. Ele apenas tentou despertar a consciéncia dos homens para o ponto essencial da questao social e para o rumo da evolucdo, visfvel nas necessidades da vida. Entretanto, naquela época muito poucas pessoas tinham a capacidade de acolher isto em seu pensar, € as forcas adversas j4 eram demasiadamente fortes. Desde ento muita coisa relativa a questo social j4 aconteceu na fa- Se_— “7 ce da Terra. As foreas adversas apareceram cada vez mais brutais no pal mentOti MAS com isso surgi tambsim uma crescante concen socao para os motives subjacentes dessa questio social. Em todos os lugmre te podem observar discusses, onde a colocago dos problemas 6 apressnes Ge no sentido da trimembracfo do organismo social, como também as so. Judes 880 apontadas para esta direcdo, Muitas vezes, entretanto, Hany jtam aspectos parciais da trimembragfo. Talvez a visSo global 36 seja adquirida se considerada através do ponto de vista da Ciéncia Espiritual, No entanto, seria Um grande mal-entendido se penséssemos que a trimembragio do organismo social pudesse ser um monopélio dos antropésofos. A época atual precisa dela e dela esté carente, Ela j4 vive no coragio dos homens, como ansiedade. Jé se evidencia praticamente em todos os lugares através das necessidades da vida, Queremos hoje abordar a trimembracdo do organismo social tentando mostrar mais uma vez os principios que atuam nas trés reas de vida. Quere- mos tentar mostrar como estes princ/pios atuam no lugar devido, e onde atuam de maneira deveras assoladora; pois somente a conscientizagdo do - efeito dessas forcas nos dé a capacidade de discernir a questo social. Talvez vocés se surpreendam por eu querer comegar hoje pela vida econdmica. Como na palestra de ontem a vida econémica foi abordada s6 no final, pode ter surgido a impresséo de que a mesma nfo seja to importan- te, A vida econémica se emancipou por Ultimo, e talvez por isso mesmo te- nha violado t&o brutalmente as outras duas areas da vida. Af esté 0 perigo de ‘os jovens se afastarem da vida econémica para entregar-se a quaisquer outras atividades sociais; justamente por esta razéo este campo corre 0 risco de fi- car totalmente 4 mercé das forcas adversas. Com efeito, a vida econdmica nos impde uma misséo muito grande, no sentido de ser ela um campo de exercicio para forcas morais, pois em princ{pio na vida econdmica nés lida- mos com as necessidades de outras pessoas, como alidés também lidamos com ‘a Terra. Portanto, a vida econdmica moderna é carecterizada, de um lado, pela divisdo de trabalho e, de outro lado, por modificar a Terra. A questéo que af se apresenta 6: com que mentalidade isto 6 feito? Poder-se-ia colocar, como exercicio de um cristianismo pratico, a transformacao da barbarie eco- némica em cultura econdmica. Eu uso aqui propositadamente a palavra cris- tianismo, porque a vida econémica requer disposigao para se trabalhar de- sinteressadamente para outras pessoas e disposi¢o para assumir a responsa bilidade pela Terra. Acredito que reside af, justamente para o Brasil, uma grande tarefa, visto ser ele tio rico em matéria-prima. Como o valor econd- mico desta terra e destas matérias-primas 6 grande, ele esté sueito a ceder & tentagdo desta barbérie econémica, e, quem sabe, até a acelerar este proces: Guero agora salientar bem duas caracter‘sticas : Primeira seria a de que tudo que entra ne ie ay a aidh Seontmica R sendo transformado em produto. A esséncia d., vida econdmica 6 sroace distribuir, consumir. A vida econdmica consists numa rede mundig Produnir, de bens que findam todos na destruigio, no Cone ettaxo fluxo necessariamente se torna mercadoria — oc sole gute gue cai neste Particular, 6 usado e consumido para . torna-se propriedade no mercado de capitais; sim, até se pode comprar Jogadores de futebol. De um modo geral, até a forca de trabalho é adquirfvel, sendo negociada co- mo mercadoria, para a qual 0 preco é determinado de acordo com a ofertae @ Procura, aparecendo entdo em forma de salério, Cabe & vida jurfdica a in- cumbéncia de zelar pela particularidade da vida econdmica, para que esta no ultrapasse os limites, invadindo as outras duas areas da vida. E seu dever zelar por determinados aspectos para que no entrem neste fluxo de merca- dorias, pois € sabido que, se entrarem neste fluxo, tornar-se-8o objeto do egofsmo, do “querer possuir” e do “querer usar para si’. Sao trés 08 gran- des componentes que nao devem entrar neste fluxo — so os trés classicos fatores de produc3o que vocés podem encontrar em todo livro de economia. Falo dos trés fatores de producao: bens de Capital, fora de trabalho e solo. Sao eles as trés fontes desse fluxo de bens. Bens de capital constituem tudo aquilo que, a partir do espirito huma- no, se condensou em uma maquina, em uma fabrica, em qualquer meio de Produgdo, Uma maquina é “‘espfrito coagulado’”’: ela é Produtiva, pode criar algo, colocar algo fora de si. Entretanto, a maquina em si nao pode ser con- sumida — apenas os bens, as mercadorias que ela produz. Através do traba- lho humano estes bens de capital entram “em movimento”. Para isso, sem Pre se usa alguma matéria-prima provinda da terra. Como vemos, nos a primérios processos de producao encontramos as trés fontes do fluxo a bens. E muito importante que haja esta diferenciacdo entre as trés abe um lado, e 0 fluxo de bens que provém dessas fontes, de outro lado. % : juridica tem o dever de zelar por estas fontes, para que no entrem no flu: tornando-se assim objeto do egoismo. . Esté af uma problemética que jé hé mais de um século tocou profun- Wee oot Bh 4 49 ate o coragso dos Mmarxistas, Em sua andlise deveras precis ratio, arcs evidencou claramente ane pono Eral infalererare Foiucses por ele aponke ae 880 nada apropriadas para resolver os propa se ov sj sOCalizar 05 bens de capital eo solo, oaue significa parser tu inet, aa propriedede do Estado, € necessirio raconhecer que estes font fjom ser possurdas, e que nem mesmo o Estado pode possuting hee suém pode possu-las, sendo que elas sé podem ser colocadas & area im ro, s0b condi¢Bes estabelecidas pela vida juridica, Este capitate os pager margem 2 longas discuss6es, e poder-se-ia dar todo um seminério vo bre este assunto. Precisamos limitar-nos, porém, deixando-o apenas ree ke Agora uma segunda caracter/stica da vida econdmica: o fluxo de mer- cadorias deveria resultar de um acordo entre 0 produtor, o comerciante e o fonsumidor. Esté af uma das principais tarefas da vida econdmica: observar necessidades, trazer possibilidades de produ¢ao e conciliar estes dois entre si. Este proceso exige o maximo de exatidao, clareza e transparéncia. Ele exige do interessado que este tenha uma imagem global do processo percorrido pe- la mercadoria, ou seja, que ele a acompanhe desde a matéria-prima até o ponto final do consumo. Isto significa que deve haver por parte do produtor um grande interesse pelo consumidor, por aquilo que ele de fato precisa. En- tretanto, 0 proprio. consumidor deve também saber, com toda a clareza, 0 que ele realmente precisa, quais as suas necessidades. Portanto, é necessério ter uma visdo bem clara do processo que se realizara entre estes dois polos — produtor e consumidor — antes que 0 mesmo entre em acdo. Além desta imagem precisa, também é necessério considerar as conseqiiéncias do proces- so para o meio ambiente, para o trabalho, para o proprio consumidor, etc. Através desta caracterizacdo vocés certamente sentiram o quanto a vida econémica atual ainda esté distante daquilo que devera ser, 0 quéo inescrutéveis ainda so os processos e como nesses processos turvos as forcas adversas tém 0 seu campo de acdo. Quero dar-lhes um exemplo do que pre- tendo dizer com clareza, exatido e previsibilidade. Suponhamos um fabri- cante de sapatos que recebeu o pedido de um cliente, neste caso uma loja de sapatos. A loja, que é 0 consumidor, tem certas necessidades, e 0 produtor tem certas possibilidades de atendé-lo. Desse didlogo surge entéo um com- seria fixado nos seguintes termos: “Duzentos pares de sapatos verdes, salto vermelho, tamanho 38, modelo 18, com cadar- gos azuis, em embalagem especial para presente, a serem entregues no dia ” Se ele for um bom fabricante, en- 20 de julho as 10 horas, pelo preco X.' t8o no dia 20 de julho, as 10 horas, entregaré duzentos pares de sapatos ver des, salto vermelho, etc. Ele teré organizado toda a sua produgdo nesse senti- do; teré comprado o couro, reservado @ capacidade das méquinas, contrata- Promisso que, por exemplo, quando ele pesquisar, quando este espirito objetivo da economia se alastra Pudemos vivencié-lo na Holanda, quando a Consultoria Mackenzie foi solici- Perguntaram o que deveria estar pronto, disponivel, no ano 2000 e, de acordo com os mais variados Prognésticos demograficos e econémicos, estabeleceram uma lista do output para o ano 2000. Portanto, “ No ano 2000 precisaremos de 10.000 médicos, talvez 400 veterindrios, tantos dentistas, tantos agrénomos, tantos Professores, tantos serralheiros, tantos mecnicos de precisio, tantos assis- tentes sociais’’ e assim por diante. Entao comecaram a retroplanejar. “Se No ano 2000 deverdo sair das universidades 10.000 médicos, entao em 1990 deverdo ser colocados aproximadamente 11.000 estudantes de medicina.’' O Pessoal também, muito objetivamente, calculou as perdas, a “‘sucata” e um Pequeno percentual de “reciclagem”. Continuando, diziam: "Se no ano 2000 tivermos tantos carros, necessitaremos de X mecanicos, precisaremos dispor de X escolas Para preparar as pessoas, e também af precisaremos colo- car | v" lass out de to. na du esi vie 81 car um ndmero X de aprendizes, para depois estarem prontos em namero Y”, Depois ainda se transportou esta sistemética para a quantidade de esco- Jas secundsrias, primérias e jardins de infancia. Assim entdo surge a imagem ideal de um gigantesco sistema de input — ‘output, onde se pode prever com exatidao o que ele vai produzir. Vocés ho de compreender que isto é absolutamente mortal para 0 livre desenvolvimen- to das possibilidades biograficas do ser humano. Nesta condi¢io néo pode acontecer nada de novo, visto que todo o sistema foi concebido de forma a nfo dar possibilidades para que surja algo novo. Se estendermos o principio. da fébrica de sapatos — da qual devemos saber com preciso que sairso duzentos pares de sapatos verdes, com saltos vermelhos, etc. — para a vida espiritual, entdo isto se tornaré aniquilador para toda e qualquer criati- vidade. Agora quero passar para a vida espiritual como tal, e também aqui considerar as transposicdes de limites da mesma. Na vida economica sempre lidamos com o homem carente. Na vida espiritual lidamos com o homem. capaz. A capacidade mais importante da qual o ser humano é dotado é a capacidade de evoluco. Na vida espiritual sempre tratamos do ser humano individual e de seu caminho de vida, de sua jornada terrestre. Este caminho individual do ser humano significa colocar-se, de alguma forma, em contato com 0 mundo espiritual. Um artista procura ordenar a matéria de modo que ela possa revelar algo de espiritual. Um cientista procura ordenar os fenome- nos e os fatos de modo tal que estes possam fazer transparecer as leis que os regem. Na vida religiosa, o homem procura preparar sua alma de tal forma que nela se possa revelar algo espiritual. Na educacdo, os pedagogos, se fo- rem bons pedagogos, procuram ajudar as criangas a encontrar seu caminho de vida, isto 6, o seu Eu Superior. O denominador comum de toda vida espiritual sempre é 0 estar cami- nhando para algo superior. E justamente este caminho é algo deveras indivi- dual, Por isso mesmo, a vida espiritual necessita de um campo de liberdade, a fim de que nele cada qual possa trilhar o seu caminho. A atual situagao de vida do ser humano é caracterizada pelo fato de ele ter entrado numa alie- nag&o, num isolamento e, a partir dali, novamente querer O contato com o espiritual. Nesse caminho hé duas caracter(sticas muito importantes: a pri- meira 6 que este caminho sempre esté relacionado com juta. Uma luta com as forcas adversas em si mesmo, uma luta dentro da alma com tudo aquilo que se ope a este caminho. Uma luta contra a preguica, desejos e ansias; contra toda espécie de tentacdes que descrevi ontem e anteontem. A segunda caracteristica 6 a hierarquia. Neste espectoihouve Une Wg funda mudanga em relacdo a antiga vida espiritual. A hierarquia na anti- ga vida espiritual sempre foi dirigida de cima para baixo. Assim era natural 582 também necesséria, tendo sido perteitameny, aceita te. Hoje em dia continuamos precisande Luma hignt2"t® M0 decaden, desigreda ccantzade de mansira a surairde parr’ Merarauia na vice espiri designada como hierarquia de reconhecimento, « ne mune: Ela poderia sey < scree PIO fato de Os er hu . elemento de liberdade especialmente A caminho, podemos pedir auxtlio a0 nose: Professor, ay G0, NO referido a um perito. NOSSO Médico ou ste exemplo, os Amigos novamente podem ver uma transgressio de limites, onde o fator @ficiéncia se imiscui na liberdade da vida espiritual. Nos entusiasma- mos por alguma coisa, imediatamente queremos tornar todo mundo feliz com esta receita. Infelizmente também hd antropésofos que dizem: “Se o ministro da educagao fosse antroposéfo, poder-se-ia Passar todas as escolas Para o sistema Waldorf.” Por um lado, a vida jurfdica tem a incumbéncia de zelar para que varias diretrizes espirituais se Possam desenvolver livremente dentro da vida espiritual ©, Por outro lado, precisa estar atenta para que no aparecam os tais missiondrios. Precisa cuidar, igualmente, para que a vida de atrelar a vida espiritual 4 sua carroga. Ai econémica nao tenha chance $e deve observar, com esmero, como seguem os caminhos, Para dar um exemplo: acompanhar o que acontece com o dinheiro que vai da Cia,Ford Para a Fundacao Ford, e que ento, como donativo, é passado para as uni- versidades. Seré que com este dinheiro as universidades seriam to influen- 53 ciadas @ ponto de “‘produzir” algo que promovesse a companhia? ‘Agora ainda quero passar bem concretamente para trés transgressbes, de limite. Poderfamos chamar a primeira de “peritocracia’, a ditadura dos especialistas. Na vida espiritual, no 4mbito dos cientistas, procura-se encon. trar leis, regras e até mesmo verdades eternas. Os cientistas esto entusiasma- dos com 0 fato de ser poss{vel encontrar leis a partir das quais se estabele- am normas para controlar as coisas de maneira cientifica. Eles esto to en- tusiasmados com isto, que gostariam de tornar toda a vida cientffica. Assim, por exemplo, hé na Inglaterra um psicélogo que disse ser realmente mondto- no 0 fato de se precisar discutir anualmente a questo de saldrio justo. Ele julga supérfluas as negociagées anuais de saldrios. Assim, chegou a idealizar um sistema cientifico, para que de uma vez por todas estivesse determinado © que 6 um salério justo. Af vocés véem nitidamente a passagem do limite entre a vida espiritual e a vida jurfdica. Na vida espiritual podem-se encon- trar verdades objetivas. Ja a realidade da vida juridica esta sempre dentro do ser humano e de seu sentimento de justica. O sentimento de justica que vive no coragao dos homens sé pode emergir quando eles se pronunciam a respeito. Se hoje em dia trabalhadores e proletérios se sentem explorados a partir de seu sentimento de justica, entdo € preciso ter muito cuidado ao constaté-lo hoje, de maneira quase cientifica: neste caso também os servos na Idade Média, os escravos na Grécia e os construtores das piramides no Egito se sentiram explorados. Isto realmente é questiondvel. : ‘A mesma peritocracia também se manifesta num outro exemplo da Holanda, Certos grupos de pessoas, a partir de seu sentimento de justica, exaltam-se por causa da maneira como os aposentados so abrigados e “ar- mazenados” em asilos. Eles querem empenhar-se nisto, porque consideram esta situagdo injusta. Discutem o problema com autoridades, que \hes diz- zem: “Qucam, amigos, vocés nem conseguem avaliar este problema; para isto temos nossos especialistas. Deve-se ter estudado no minimo cinco anos de gerontologia para saber algo sobre ancifios. Nés levaremos seu problema para a comisséo competente, que ira estud4-lo a fundo, e vocés entéo per- ceberSo os resultados.” Ai vocés veem como um problema da esfera da vida juridica é retirado dela por especialistas e enclausurado no isolamento da es- pecializacao. Isto corresponderia mais ou menos ao que ocorria antigamente nos templos ou igrejas. La as portas estavam fechadas, e ndo se tinha conhe- cimento do que acontecia atras da cortina dos {cones. De a em veza porta era aberta, e entdo os hierofantes revelavam algo 20 Povo. storgye sentem as pessoas ao se engajarem socialmente, quando especialistas se apos- sam dos seus problemas para traté-los atrés das cortinas dos templos cienti- ficos. A propésito, os cienti stas da vida espiritual ndo 36 procuram tornar 54 10 também procuram d ; a vida juridica, como ta lominar a vida eo, cientifica toda 9 vids seemeira, SO se pode encontrar a realidade econdm nomica desta mes! fades, entrando em cont. Ee ur wroretamente as Necess © com as contemplar concr vida econdmica corre o risco « = en bed es, Hoje em dia a vida ecor 01 CO de ser condus Pe aes ié-la a partir de m Besse erssonometristas, que querem guia ® partir de modelos abstr, : zide pelos Tmente so consideradas as leis cient/ficas, : nos quais som 10 de transposi¢so de limites entre ciéncia ¢ sen o ig um exemi ea ina: one Wide espiritual e vida juridica. Consta mar. ioral : ‘dy nuclear declarou: “A chance de exploséo de um reator arony que um fisico furnilhdo, e este risco 6 aceitével.”” Voods sentem a transgres- £0 6 de aA primeira declaraclo, mesmo se nfo correta, ele a faz com, oc miele caleulou esta chance a partir de quaisquer fatos. A segung., Be % ditada por seu sentimento de justica, quando ele ur ‘Aqui é preciso ter muito cuidado para que a sua ime \duza as pessoas a declaraco: “Portanto, & avei. cientis parte da sua sentenca “Eu acho aceitével!”” Aqui gem como cientista no in 1a ‘ ea Se & vida espiritual no é dado um campo de liberdade no qual cada um possa trilhar seu caminho de desenvolvimento (isto é, conduzir sua luta nfo Ihe for dada a possibilidade de criar sua hierarquia consigo mesmo), @ se ne (podendo procurar seu professor, seu médico, etc.), entéo estes dois prines- pios — 0 da luta e 0 da hierarquia — procuram para si um outro caminho, pois no mundo é preciso lutar, Quando as pessoas no podem lutar consigo mesmas, entdo esta forca se desencadeia na vida politica como guerra e na vida econdmica como concorréncia. Ai, a luta produtiva que 0 individuo po- de ter consigo mesmo se torna luta destrutiva contra os outros. Quando as pessoas nfo podem criar sua hierarquia em liberdade, ent&o a mesma se apresenta na forma de velhas estruturas hierérquicas que, por conseqiiéncia, tornam-se “elitizantes’’ e autoritdrias. Se a liberdade nao tem possibilidade de a¢ao na vida espiritual, entéo procura outro campo de acao: como anar- quia, na politica, ou como a assim chamada livre-empresa na vida econdmi- ca, Alids, também os consumidores reivindicam a mesma liberdade para exigindo uma ilimitada liberdade de escolha para todos os bens de consumo imagindveis. Quero terminar tecendo ainda uma Pequena consideragao sobre a vida juridica, situada no meio destes dois campos polares — o da vida espiritual e © da vida econémica, E este um centro entre o homem criativo eo homem carente, Entre estes dois esta aquele homem que pode ir ao encontro de ou- tro homem. Entre o homem carente da vida econdmica e o homem criativo da vida espiritual esté o homem social, que pode ir ao encontro de seu proxi: mo, independentemente das desigualdades relativas a capacidade e & carén- cia. O homem social pode dar e receber na conversagao. E muito dificil criar a 55, uma imagem da verdadeira vida jurfdica, porque af s6 se pode imaginar um enorme Estado monolitico. E dificil imaginar como poderia ser esta vida ju: ridica, estando a vida espiritual e a vida econémica independentes, com au- tonomia administrativa. E dificil imaginar algo sobre a vida juridica, se neste campo $6 é falado acerca de coisas que cada homem, por si, pode julgar pelo simples fato ser homem. Tudo que exige pericia deve ser tratado na vida espiritual, ¢ tudo que tem relaco com necessidades concretas deve ser ana- lisado na vida econdmica. Hoje em dia o Estado se imiscuiu, se aninhou tio amplamente na vida espiritual, na ciéncia, na educacdo, etc., intrometend -se to vastamente na vida econdmica — torando-se ele proprio empresé- rio — que com isso o centro, a verdadeira vida jur(dica, tornou-se gigantesca, universal, um Estado totalitario. A vida juridica precisa restringir-se a questdes sobre os direitos hu- manos. Por exemplo: é justo que todas as pessoas possam ter um tratamento: de satide bésico, e é justo que elas proprias possam determinar de que for- ma querem concretizar este direito? Estas so questées juridicas. A maneira pelas quais sero concretizadas na prética, neste caso no departamento de satide, 6 de competéncia da vida espiritual, Praticamente nés so conhecemos a vida juridica em sua caricatura: a burocracia. Portanto, a Unica possibilidade de curar este organismo deformado é, a partir de um conhecimento da trimembragao, destacar, passo a passo, peda- cinhos da vida econémica e aspectos parciais da vida espiritual, colocé-los so- bre seus proprios pés e dar-lhes autonomia administrativa. Amanhi e depois falaremos concretamente sobre estes pequenos passos. Finalmente, ainda quero dizer que n&o nos devemos deixar desanimar pela grande e abrangente forma do Estado, e que também nao nos devemos deixar seduzir pelo pensamento de que, através de um ato revolucionério pe- lo qual tudo seria derrubado, o mal viesse a ser sanado. Se nao se descobris- sem os verdadeiros motivos da questo social, e se nao se tivessem pensa- mentos totalmente novos, ent3o com uma dessas revolugdes apenas o Esta- do totalitdrio de tendéncias mais esquerdistas seria trocado por um Estado totalitério de tendéncias mais direitistas; ou entéo uma burocracia com colo- racdo oriental mudaria para uma com colorado mais ocidental. Quando néo nos deixamos desanimar pelo tamanho do problema, e se tampouco Nos entregamos @ ilusdo da revolucdo, entio a visdo fica aberta, livre para 0s pe- quenos passos concretos que cada um, em sua situagdo de vida, pode tomar para 0 saneamento das relacdes sociais. Se estes pequenos Passos ‘80 a a partir de um novo espirito & de uma nova mentalidade, so nos resta confiar em sua eficiéncia. APEDAGOGIA SOCIAL ENSINA A LiDAR co COM PESSOAS E Com PERGUNT AS’? MESMog Palestra de 16 de fevereiro de 1979 _ Sexta fo, eira Meus caros amigos: esta série de Palestras a um Hoje e amanhi pretendo levar - dest etido da Pedagogia Orsi ee fa Iniciar, lando concretamente sobre o cont quero adiantar uma espécie de definic¢o do que poderia ser a z Pedagogia Social: Pedagogia Social significa lidar de tal forma conosco mesmog res /humanos e com perguntas, que o nosso Proprio agir pone Se. sadio desenvolvimento de outras Pessoas e@ das Condi es = Nesta definic&o, a palavra “sadio’’ engloba a imagem de ie mento que descrevi nos ultimos dias. Esta definiggo erry teslepeae! — lidar conosco mesmos; SE — lidar com os outros; — lidar com as Perguntas advindas do mundo, Tratarei sucessivamente desses trés Capitulos Principais de uma Peda- gogia Social. E ébvio que os trés capitulos esto intimamente Nigados entre si. Hoje tratarei dos dois Primeiros, para amanh3 dedicar-me a0 terceiro ca- pitulo, A primeira pergunta é: Como podemos lidar conosco mesmos, de mo- do que o nosso Proprio agir se torne frutifero Para outras pessoas e para as condiges sociais? \sto indica o caminho do autodesenvolvimento. Neste mundo em que a liberdade ainda esté muito cingida por motivos politicos, ideolégicos e e@conémicos, hd, apesar de tudo, a possibilidade de realizar uma a¢ao livre. Trata-se da decisdo de enveredarmos por um caminho de co Senvolvimento. Isto s6 pode ser uma decisio absolutamente ae . nifica tentarmos fazer do nosso pensar, sentir e querer um xs rea Mo do nosso eu. Se o meu eu quiser atuar positivamente no 87 entfo terei de trabalhar arduamente no aperfeigoamento dos meus pré instrumentos. Quero aqui reportar-me a uma série de exercicios descritos por Rudolf Steiner em seu livro O Conhecimento dos Mundos Superiores (*). Lé vocés encontrarso um capitulo intitulado “As Condicées Para a Disciplina Oculta”’. Estas condigdes em si também j4 séo um caminho, Eu acho que as sete condices tem um enorme significado para um pedagogo social. A primeira condig8o 6 fomentar a sadde fisica @ espiritual. Trata-se af de realmente fomentar, e no de tomar medidas absolutas, pois a sade de- pende muito do préprio organismo e da situagao de vida na qual nos encon- tramos. Se vivemos em Séo Paulo, onde nao existe mais ar puro, entSo isto, com relago a0 nosso fisico, ¢ um fato que no pode ser mudado. Se nos encontramos trabalhando numa posico que é muito agitada e cadtica, isto, com relagao 4 nossa satide espiritual, também é um fato inabalavel. Porém, em qualquer posicZo-podemos tentar fomentar a nossa satide espiritual e fi- sica. O importante 6 que tentemos evitar toda sorte de exageros; evitar to- dos os extremos e unilateralidades no julgamento, nos sentimentos € nos esforcos. Devemos procurar encontrar harmonia entre os extremos. Por- tanto, a primeira condigao é fomentar a satide espiritual e fisica. ‘A segunda condicdo é sentir-se um membro do todo. Na verdade, ¢o- bre esta condicao j4 discorremos exaustivamente quando colocamos a frase “Eles modificaram o programa.” “Eles’’ era 0 governo, o empregador, a di- retoria da escola, etc. Tudo ao qual nos referimos como “‘eles’’ é sentido co- mo néo pertencente a nds mesmos. Sentir-se um membro do todo significa aprender a pensar inclusivamente, conseguir vivenciar ‘“‘eles’” em nés: eu tam- bém sou 0 governo, o empregador, a diretoria da escola, etc. Portanto, a se- gunda condicao é sentir-se um membro do todo. A terceira-condigdo é convencer-se de que pensamentos e sentimentos so tdo importantes quanto agées. Esta condi¢ao é especialmente importan- te numa época em que todos clamam por agées. Também neste grupo isto ja foi dito: “Estamos cheios de belos sentimentos e belos pensamentos, mas agora queremos agir.” Como se pensar pensamentos verdadeiros e ter belos sentimentos tivesse menos importancia! Esta condicdo é muito importante, principalmente numa época como a nossa, em que a tendéncia é dar valor somente a agdes concretas. No ambito social, o sentimento de ddio que di- rijo a uma pessoa é tao concreto quanto 0 bofetGo que Ihe dou; pensar pensamentos confusos tem o mesmo efeito destrutivo como quando destruo algo através de uma a¢do, No 4mbito social, os pensamentos que acompa- nham minhas agdes séo téo importantes quanto as proprias ages. Portanto, Bo de que pensement rmno-n10s 0 CONVICT apodere 10 aces, 4 epoderetiquento aches. aumgndicho central que diz: A verdadeira y mas sim no mundo interior: quer Jo vai muito longe no ambite MOS a frase: “N sorte, fo exter" rida exterior 1 te quando 19 ustivamen Kaus antifica desta forma com div meu proprio SeF 1nBo esté dentro de mim De aeatidentifice. 1st nfo significa que nos deva mm os quals TG tebol, dos colegas de profissfo ou do, sso clue, mas devemos lutar até chegar ea é ou proprio ser, de que © Proprio ser s6 pode Hie do no ¢ Hom este 6, pois,,o quarto exercicio: ter em ments ro de NOs. Fe do interior € NZo no mundo erate Migdo, e esta é 2 perseveranca na realive. auitvpmente o reconhecimento de que Uma decissa reve tevar a desistir da mesma, Quando olhamos prisma, verios quanta confuséo e quantas di. a Deeeeniencs as pessoas por elas No levarem a sério suas proprias Seine! Talvez muitas vezes nem se trate de decisdes, talvez a aco seja oca- sionada por instintos passageiros que nos: jacometemn: Vocés mesmos viven- ciaram esta semana 0 que significa decidir participar da eurritmia e depois no levar a cabo esta decisio (*). Que enfraquecimento animico ocorre quando decidimos escrever uma carta e no dia seguinte ja esquecemos a de- cistio? Cada um de vocés encontrara seus préprios exemplos para completar este fato. Podemos muito bem imaginar que forca interna, que possibilidade das aos homens que tentam realizar esta de colaboracao & convivéncia sao dat quinta condi¢do: a perseveranga na realizagdo de uma decisio tomada. ‘A sexta condicao 6 o desenvolvimento do sentimento de gratidao por tudo que o destino nos deu. Temos de visualizar aquilo que nos tornamos porque nossos pais cuidaram de nds, porque nossos professores se preocu- Param, porque alguém talvez nos tenha proporcionado a oportunidade de praticar algum esporte e também porque operdrios desconhecidos constru(- ram os automéveis que nos transportam comodamente, porque sabe-se a gore pessoas providenciaram nossos alimentos. Assim, todo o mundo sur- as SS. one 6 um exercicio fazer uma retrospectiva de haloieeattivowd Boe tar-nos que pessoas nela desempenharam um papel, MEG algo, quanto negativo, antepondo-nos resistencia. (") N. dos Edit.: A eurritmi const a aioe aie peepee do movimento, sempre que possivel Pedagogia Social. ®. % Grupos fe tra iro ser e oz jinta cont isso toma da é que nos d jo de uma det mada f0i 6778 xs ‘al sob este 59 E esta, portanto, a sexta condicio: desenvolver UM sentimento de gratidio por tudo que 0 destino nos deu A sétima @ Gitima condiggo 6 a tentativa de encararmos a vida toda no sentido acima. Vooés poderso verificar mais detalhadamente estas sete con: digBes no capitulo mencionado do livro O Conhecimento dos Mundos Su- periores. primeira atividade de um pedagogo praticante esta justamente neste trabalho interno, neste preparo do proprio instrumento para um traba- Iho social frutifero. Uma possibilidade pratica para realiz4-lo 6 isolar-se dia- riamente Por alguns momentos ¢ observar-se com base nestas sete perguntas. Seré muito proveitoso se, por exemplo, fizermos uma retrospectiva do dia, antes de dormir. Também podemos fazé-lo aos s4bados como retrospectiva semanal, antes de iniciarmos uma nova semana. Com isto esta terminado o primeiro capitulo da Pedagogia Social, 0 agir consigo mesmo. © segundo capitulo versa sobre a pergunta: Como podemos lidar com @ préximo de forma a tornar o nosso agir proveitoso para ele e seu ambien- te social? Muito jé foi dito a respeito quando abordamos a atitude funda- mental que acabamos de ver. Vocés talvez possam imaginar que reviravoltas ocorrerao se nos dirigirmos ao proximo com esta atitude fundamental. O lidar com pessoas recebe uma coloragdo toda especial quando elas se retinem em grupos e organizagdes. O que vou falar a esse respeito agora ja se aproxi- ma bastante do trabalho executado pelo NPI. Um grupo de pessoas é um or- ganismo vivo e, a0 observé-lo, logo descobrimos sua trimembragao. Quero esclarecer isto através de um exemplo bem simples: Alguns estudantes retinem-se num grupo de estudos; eles tem um te- ma que pretendem estudar conjuntamente. Cada integrante esté no grupo porque pretende obter algo para si. Nisto ndo hé nada de errado. Cada um tem seu interesse no tema e espera enriquecer-se de contetido através do trabalho no grupo. Os colegas do grupo so quase meramente um meio pa ra o fim: encontram-se dentro do interesse comum. Certamente vocés sa- bem, por experiéncia propria, que um grupo desses chega a um determinado limite de seu desenvolvimento e que um dia surge o sentimento de que desse grupo nao hé mais o que aprender, de que 0 limo ja foi espremido. Natu- ralmente um grupo assim pode desfazer-se. Mas ele também pode ultrapas- sar o.limite ao descobrir que ‘se quisermos continuar com este grupo, tere mos de ter muito mais interesse pelas pessoas que 0 integram’ . Surge entéo a pergunta sobre qual € 0 significado do tema e do contetdo das discussdes " jue para as diversas pessoas, 0 que elas vivenciam, por que estdo nO grupo. OS pretendem fazer na vida com este contetido. Com isto lentamente as pro- prias pessoas entram no campo visual e 0 contetido vai desaparecendo. As- sim 0 grupo obtém um novo colorido, surge um elemento de encontro, 0 grupo passa a ser grupo de encontro. Mas também um grupo no qual as pes- 00 so matuo pode chegar 8 um limite. Tam) Pode cetrupe procura oferecer Bo muNdO eXterNo aquilo ame pergnte aids» 687" Asm 9 aes, fuer a desenvoiver-se, pasando ser UM 9FUpO de trabalho, € cont, ‘suse. procosso também pode iniciar-se de outra maneira, wo grupo de trabalho, pretendendo fazer algo ‘ocorrer entéo de este grupo de to signin aritica que que dese Talvez 0 gry Para fora, fun. trabalho desca, Pessoal no tor tatar que hé wn © No dispSe do trabalho num eo INcionando com po comece co} dar ou organizar algo. Pode ‘ brir que nifo ir alcancar seu alvo se 0 relacionamento inter levado om devida consideragdo. O grupo também pode cons grande entusiasmo em fazer um trabalho para fora, mas qu conhecimentos necessérios. Surge a necessidade de basear o tudo, ou seja, de transformar temporariamente o alvo, fu grupo de estudo. © processo também pode comegar num grupo de encontro, gum tempo isso poderd tornar-se montono; 0 grupo talvez sinta n de de entender num plano mais profundo © que ocorre em seu meio, queira testar o bom relacionamento num campo em que se trate talvez dey vergéncias filos6ficas (grupo de estudos), ou ento num outro campo, onde através da divisdo de trabalho e falta de tempo surjam problemas (testes) de outra natureza (grupo de trabalho). Assim, estes trés grupos se condicionam e se completam mutuamente- um suscita o surgimento do outro, pois juntos eles formam um todo. Apés al. lecessida. Grupo de estudos — interesse — formacéo de imagem: Grupo de trabalho — responsabilidade — tomada de deciséo: “O que queremos fazer?’” Ag pos. Pa para tud Pi desenve reconhi forma Quand outro ser fui ral di que n de wi soas enta zem rite a Agora podemos perguntar qual é a forga motriz que atua nos trés gru pos. Para © grupo de estudos é 0 interesse, perguntas auténticas, abertura para tudo 0 que 6 novo, admira¢o pelo incompreendido. Para 0 grupo de encontro a forga motriz ¢ a aceitagdo. Nao é nada facil desenvolver a aceitacdo como for¢a animica. Aceitacao significa realmente reconhecer que 0 outro é diferente, que ele se expressa diversamente, que forma outros pensamentos, que talvez tenha um temperamento diferente. Quando se é colérico, no é nada facil aceitar um fleumatico. Mas aceitar o outro apesar de ele comer ou vestir-se de maneira diferente, apesar de ele ser fumante enquanto nés mesmos nao fumamos, de ele ter um odor corpo- ral diferente, tudo isso so coisinhas aparentemente sem importancia, mas que num grupo podem ter uma tremenda influéncia. Durante a guerra foi feito um estudo, neste sentido, com a tripulagao de um submarino. Num submarino reina a situago de um grupo de pes- soas ter de conviver durante algum tempo num espago restrito. Constatou-se entZo serem justamente as pequenas manias que, depois de algum tempo, fa- zem com que as pessoas “‘subam pelas paredes’’. Depois de algum tempo, ir- rita-nos profundamente quando alguém, depois de assoar 0 nariz, olha para dentro do len¢o. Com o tempo jd esperamos que 0 ato se repita para nos podermos irritar novamente. Isto pode levar um grupo a se desfazer. E em si- tuagBes assim que sentimos o real significado da aceitaggo, pois enquanto me irrito profundamente com a maneira de alguém assoar 0 nariz, esqueco, por nfo ter consciéncia do fato, de que ele fica louco por causa da minha mania de constantemente puxar as calcas. Até aqui trata-se da forca da aceitaco. A terceira forca, aquela que sustenta um grupo de trabalho, é a for- ¢a da responsabilidade. Isto significa que como grupo de trabalho queremos assumir uma responsabilidade, que queremos dedicar-nos a uma questo que nos vem de fora. O bonito da palavra “‘responsabilidade” € que ela inclui 0 termo “resposta” (*). Uma resposta esta sempre ligada a uma per- gunta. Assim como num grupo de interesse nos restringimos sempre a nds mesmos, pois nos interessamos pelo contetido, num grupo de trabalho es- tamos abertos para o mundo e atentamos para uma pergunta pela qual nos queremos responsabilizar. Vocés podem ver que 0 trabalho nesses grupos ja 6 um amplo caminho para a auto-educago, pois 0 desenvolvi- (“responsabilidade”) contém Antwort vem do francés responsabi- (*) N. dos Edit: No alemgo, Verantwortung (“resposta’’); no portugués, @ palavra “‘responsabilidade’’ lité, que contém a raiz latina responsu (resposta). aceitaciio e responsabilidade interesse, aceitac ee dade ~ abrange mesmo numa pequena discussio jé ence g isso na discuss8o sobre a eurritms, que om ose veniam ras matizes. 4g um pequeno organismo. O inicio ¢ c tea 6:70 que foi que aconteceu?” ide estudo, onde tentamos descrever on. 1 atpequida vern a questdo da formacdo do rae Em soon?” € nesta hora que devem atiorar ny via um deve pronuncial-se Pessoalmente sobre g jivenciou. Parece- ® para ele, o que ole vivenciou. | me que par ‘ecient iffcil proceder 8 formacdo de imagem ea Primeiro jpermanecer objetivo para depois permitir que og : Prjatem, Depois de obtida uma imagem clara e de as pes. gad a um julgamento, Pode-se chegar a uma decisao. Isto sig 1 a osta a pergunta: “O que faremos?”” Vimos isto no caso Terante os fatos (quem estava I4, quem no velo, o que foi a seguir mais e mais afloram os sentiments, as vivén. mente vér as perguntas: “Pelo qué nos queremos res. ponsebilizar?”, “0 que queremos fazer?”, “Como continuaremos?”, etc, vAté agora descrevi, por assim dizer, uma trimembraco do organis. imo social no Smbito micro-social. Porém, as pessoas também vivem num Ambiente meso-social, ou seja, dentro de um contexto social, como por exemplo numa escola, num hospital ou numa fébrica, Também af surge a pergunta: “Como podemos prover as trés dreas da vida?’” No trabalho que procuramos realizar em organizacdes através do NPI, ocupamo-nos sempre com trés atividades principais. A primeira atividade é formar a responsabili- dade. Propositalmente deixo de usar aqui 0 termo “‘fixar metas’. Acho que aqueles que arcam com a responsabilidade dentro de uma organizagio de- ver perguntar-se continuamente pelo qué estdo dispostos a assumit - ponsabilidade. Constitui jimi St Paes rea ie tui uma limitagao dessa pergunta respondé-la no senti- Se = piace att € X". Continua sendo uma limitacao da cia ee a oe de: “Queremos produzir X cadeiras por i faz A ere quanto a responsabilidade a ser assumida é sem- questdo pertinente a toda a sociedade: “A i date aera) , que perguntas da socie- pela matéria-rima que va ‘odemos Fesponsabilizar-nos diante da sociedade abies hos necessitar, pela quantidade de mao-de-obra emos empregar, pelo transporte i Pela poluiggo que ah ue isso acarretard e talvez também metas — isso seria Ba ee Por isso que n3o falo em objetivos & ionado. O termo “responsabilidade” € mais abrangente. Nao é . ae facil procurar responder pergunta “Qual 6 a res- nifica encontrar 2 da eurritmia: inicial que aconteceY, etc: cias pessoais, @ final ponsa de un entr thos labc fici 63 ponsabilidade que vocés vio assumir?" quando se trabalha com @ diretoria de uma escola ou de uma empresa, ou com a geréncia de um departamento. Uma atividade completamente diferente dentro de uma organizaco 6 ‘0 exame da situaco. Neste caso trata-se da observagio da propria situagso, uma contemplaco objetiva de como funciona a organizacSo. Isso tem a ver, entre outras coisas, com custos, mas também com o desenrolar dos traba- hos, 0 tempo de espera de um paciente num hospital, interferéncias na co- laboraco, se os clientes esto satisfeitos, se a producdo é exagerada ou insu- ficiente, se as instalag&es so adequadas, etc. Num exame destes, 6 novamen: te a forca do interesse que entra em ago. Tais exames somente fazem senti- do quando suportados pela forca de interesse e realizados por pessoas que participam, que atuam dentro da organizagao. Isto ndo é nada facil, pois un tal exame muitas vezes atinge diretamente a pessoa que o faz. Outro problema que atualmente estamos direcionados para o fu- turo, que na verdade nem temos tempo para fazer uma retrospectiva do pas- sado. Um grupo que disp&e de duas horas para uma discusso deveria reser- var-se 15 minutos para fazer uma avaliaco, uma retrospectiva da reuniao. Geralmente no hé tempo para isso, pois os problemas futuros nos acossam tanto que esquecemos a avaliagdo. Assim surge a situagdo, muito comum em organizagdes, em que as pessoas ndo tém idéia de como esté sua propria si- tuacdo, Muitas vezes elas vivem iludidas quanto a realidade dos fatos. O mesmo se dé quanto a duvidas sobre aquilo pelo qual realmente nos quere- mos responsabilizar. Através disso surgem grandes confusdes entre pessoas que perseguem seus objetivos pessoais (e tem medo de assumir certas respon- jlidades) e tem imagens completamente diferentes sobre sua propria reali- i. A terceira 4rea 6 a de prover o relacionamento entre pessoas, entre se- tores. Prover esta 4rea mediana no é meramente uma questo de human re- lations e dinamica de grupo; ela também é fomentada através da purificacdo das outras duas 4reas. As incertezas existentes na vontade e as confuses so- bre a propria situacdo tém um efeito perturbador e ocasionam conflitos en- tre as pessoas. Estas sdo as trés atividades que introduzimos em organizagdes como ajuda para o desenvolvimento. Contamos com o /eitmotiv (tema diretivo) oriundo da trimembra¢3o do organismo social, indicando que cada vez mais pessoas devem ser envolvidas nas trés dreas. Eu Ihes contei como antigamen- te se distinguiam as pessoas. Havia uma vida espiritual, uma vida juridica e uma vida econémica, uma bem distinta da outra. As pessoas eram separadas em castas. Descrevi também que a novidade proposta pela trimembragdo do organismo social é que estas trés dreas passam 2 localizar-se uma ao lado da outra, e que as proprias pessoas devem ligd-las. Toda pessoa, seja como cida- a " te ou como operirio, deve agir de forma responsive, na, po das tras, Seria Ue mera divisor es urarpos assumissem diretivamente a tareta de aera" Se Poet soe ec vorganizagio ou peritos em relagSes humanas, see ercionamento @ que ainda utras pessoas exanin er” com © Ttuagho, Assi terfamos tr65 partes bom distinan mine sempre de f0F2 2 odas a5 pessoas de Uma organizacio na raapamr preocupacso “Qual 6 a responsabilidade que queremos assumir er, ae trés perguntas “qual é a qualidade do nosso relacionamento?, “quar departamento? oe ia situagso’ nossa propria ro dar ainda um exemplo. Na Holanda as escolas io Para encerrar, que" 5 organizades como antigamente 0 eram a5 castas. Hé e casta dos professore, que na realidade sto 3s formigas obreiras. Eles devem realizar-se plenamentg em seu trabalho atuante e prético; devem simplesmente dar aulas: 20, 39 40 eons oy semana, trabalhando exclusivamente com criangas em classe, bs pols temos na Holanda uma outra Casta: sf0 28 pessoas que no tém préticg pedagégica, mas que so os administradores. Eles tm a incumbéncia de or ganizar e administrar a escola, controlar os horérios, estabelecer salériog etc, Esta casta dos administradores escolares tem seu ponto final na escols, mas sua origem no governo, no Ministério da Educagao. Esta casta esté com. pletamente separada da casta das formigas obreiras. Depois ha ainda uma terceira casta, a dos renovadores do ensino, que seriam os bramanes, Trata-se das instituigdes didéticas, universitarias, centros de pesquisa. Estes lan m. idéias abstratas sobre novos métodos e técnicas de ensino, sobre cone sudan como est da estruturas dt, ticipando tes se det ‘8 objetivos, Ss, especialis cupassem com © cursos a serem adotados. Eles até pensam em tipos de escolas inéditas = ocorre:lhes a idéia de que é muito eficiente comecar a ensinar a ler e escre- ver jé no jardim de infancia, e tudo que é “bolado” por Pessoas que nao tém mais a minima ligagéo com a pedagogia, tudo isto emana como um ataque espiritual esses santuarios que so os centros universitarios, inserindo-se na Corrente de ensino. Como vocés podem ver, o sistema de Castas ainda existe ‘em nossos dias como forca adversa, pS ee fundou a primeira escola Waldorf em 1919, ance a an deve Ser um 6rgdo da vida espiritual li- aia ae aan ravés da livre auto-administracao.”” Isto significa res Waldorf tém trés ProfissSes, o que naturalmente 6 pais, como devem ser estabelecidos os salérios e até como deve desenrolar-se a colaboragSo pratica no dia-a-dia, Obviamente um ou outro professor pode assumir mais responsabilida- que outros neste dmbito; um professor pode até afastar-se por um ou dois anos de sua atividade pedagégica para assumir, temporariamente, como -especialista, 0 trabalho administrativo. Porém um dos pontos fundamentais 6 que a administragao seja feita por pessoas que vivam dentro da pratica pe- -dagégica. Quando isto no mais acontece, tem inicio a burocracia; a orga- -nizagZo comeca a ter vida propria e passa a violar a realidade pedagdsica. Era isto que eu tinha a quanto ao segundo capitulo da Pedagogia Social: 0 lidar com pessoas em grupos e organizac&es. Amanha falaremos so- bre o terceiro capitulo: o lidar com perguntas.,

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