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Trabalho de história

Civilização árabe-muçulmana e Formações políticas africanas

Turma: 1°1
Davi Catheringer Lapa
Daniel Ferreira Filho

Civilização árabe-muçulmana

A Península Arábica
O berço da civilização árabe-muçulmana foi a Península Arábica, extensa faixa de terra em forma de
retângulo, limitada ao norte pela Palestina, a oeste pelo mar Vermelho, a leste pelo Golfo Pérsico e, ao sul, pelo mar
Arábico.

No século VI, a Península Arábica era habitada por povos semitas que falavam diferentes dialetos do árabe e
adotavam estilos de vida variados. No deserto viviam povos nômades criadores de camelos, carneiros ou cabras e
tradicionalmente conhecidos como beduínos. Em torno dos oásis viviam povos sedentários que praticavam a
agricultura, cultivando palmeiras e figueiras, plantas aromáticas, como o bálsamo, e cereais, como o trigo. Havia
ainda pequenos vilarejos habitados por artesãos e comerciantes que promoviam feiras com regularidade.

Com o tempo, os comerciantes árabes prosperaram e passaram a praticar o comércio de longa distância:
montados em camelos, seguiam rumo ao noroeste até Constantinopla e, em direção ao leste, até a Índia. A cidade
de Meca era governada por comerciantes e, há tempos, se destacava como centro religioso que recebia peregrinos
vindos de diferentes partes da Arábia. Na época, os árabes eram politeístas e se dirigiam a Meca com frequência em
busca da Caaba, santuário em forma de cubo que abrigava imagens dos vários deuses cultuados por eles. A Caaba,
com sua valiosa Pedra Negra, era administrada por comerciantes da tribo coraixita, na qual nasceu Maomé, o maior
líder religioso na história dos povos árabes.

Maomé e o islamismo
Maomé nasceu em Meca, na Arábia Ocidental, por volta de 570. Os membros da tribo coraixita eram
mercadores e mantinham negócios com diferentes áreas da Arábia e também frequentavam a Caaba, o santuário da
cidade. Há poucas informações sobre os primeiros anos da vida de Maomé; sabe-se, porém, que aos 15 anos ele
passou a trabalhar como condutor de caravanas. Aos 25 anos, Maomé se casou com Cadija, uma viúva comerciante,
e assumiu o comando dos seus negócios.

Com o tempo, no entanto, Maomé passou a alternar os negócios com os retiros espirituais. Conta a tradição
que, aos 40 anos, ele avistou um anjo que o convocou a tornar-se mensageiro de Deus. Maomé começou então a
anunciar profecias, tais como: “O mundo está chegando ao fim”; “Deus todo-poderoso irá julgar os seres humanos”

Afirmando a existência de um único Deus, Maomé atraiu um número crescente de seguidores, os


muçulmanos, do árabe muslim, que significa “submetido a Deus”. Conforme o número de muçulmanos crescia, a
relação entre Maomé e os comerciantes coraixitas piorava. Eles se negavam a vê-lo como mensageiro de Deus e
diziam que zombava de seus deuses, passando por isso a persegui-lo. Maomé decidiu então sair de Meca e fixar-se
em Yatreb, um oásis situado a 300 quilômetros ao norte da Península Arábica, que depois passou a se chamar
Medina, cidade do profeta.

Em Medina, Maomé continuou pregando a existência de um só Deus e conquistando adeptos, tanto entre a
população da cidade quanto entre os beduínos do deserto. Até que, em 630, dizendo que Alá lutava ao lado deles,
Maomé e seus seguidores marcharam para Meca, e, lá chegando, destruíram as estátuas dos deuses locais e
reservaram a Caaba à adoração de um único Deus. A conquista de Meca por Maomé e seus seguidores marcou o
nascimento do islã, palavra derivada do árabe que significa “submissão total a Deus”. Meca passou a ser, a partir daí,
o centro da devoção muçulmana.

Maomé não deixou nada escrito. Após sua morte, Abu Bakr, seu sucessor imediato, ordenou a junção de
tudo o que havia sido escrito sobre os ensinamentos de Maomé em um único livro, o Corão, também conhecido
como Alcorão. Escrito numa linguagem muitas vezes literária, o Corão fala do caminho que conduz a Deus, origem de
todo o poder e bondade. Os muçulmanos creem que o Corão é a vontade de Deus revelada a Maomé por um anjo.

O islã
A religião criada por Maomé é chamada islã ou islamismo. Já seus seguidores são chamados de islamitas,
maometanos ou muçulmanos. O islamismo se apoia em cinco pontos principais, conhecidos como Pilares do
Islamismo:

 Crer que há só um Deus, Alá, e seguir os ensinamentos de Maomé, seu profeta.


 Orar cinco vezes ao dia, com o rosto voltado para Meca.
 Dar aos necessitados uma ajuda proporcional aos bens que possui.
 Jejuar durante os 30 dias do Ramadã (mês do jejum); o fiel não deve ingerir alimento nem água do
nascer ao pôr do sol.
 Ir a Meca em peregrinação ao menos uma vez na vida, caso tenha saúde e recursos para isso.

O pertencimento a uma comunidade de fiéis implicava o dever dos muçulmanos de cuidarem uns dos outros,
além de protegerem e ampliarem a comunidade. A jihad, guerra contra os que ameaçavam a comunidade — fossem
eles de fora ou de dentro —, era uma obrigação importantíssima. O dever da jihad não era uma obrigação do
indivíduo, mas de toda comunidade, de fornecer um número considerável de combatentes para a vitória da causa.

A sucessão de Maomé: xiitas versus sunitas


A morte de Maomé gerou um vazio político e religioso e um momento de grande conflito na comunidade
islâmica. Depois de intensas disputas, Abu Bakr, parente de Maomé, foi eleito califa. Em 661, com a morte de Ali, o
quarto califa, marido de Fátima, filha de Maomé, os muçulmanos se dividiram quanto à sucessão: para uns, somente
um membro da família de Maomé podia sucedê-lo. Para outros, isso não era necessário. A disputa terminou quando
Ibn Abi Sufiyan, um governante da Síria, que não era parente de Maomé, proclamou-se califa e foi aceito como tal.

Descontentes com a vitória do califa sírio, parte dos muçulmanos formou a seita xiita, para a qual somente
os parentes de Maomé podem liderar os muçulmanos. Outra parte dos muçulmanos, porém, apoiou Ibn Abi Sufiyan
no cargo de califa e formou a seita sunita. Em 2016, a porcentagem de muçulmanos sunitas era de 87% a 90%; já a
dos xiitas era de 10% a 13%. O Irã e o Iraque estão entre os poucos países de maioria xiita. Já a Indonésia, país com
maior número de muçulmanos no mundo, é de maioria sunita.

Uma expansão fulminante


Maomé, como vimos, uniu os povos árabes em torno de uma mesma religião e sob um mesmo Estado.
Durante o governo do segundo califa, iniciou-se a expansão para além da Arábia. Ele e seus sucessores levaram às
últimas consequências a jihad com vistas à conquista de pessoas para o islamismo.

Continuando a expansão muçulmana, os omíadas foram em direção à Ásia central e ao norte da África.
Partindo do continente africano, conquistaram a Península Ibérica (711), mas, ao tentarem expandir seus domínios
em direção ao restante da Europa, foram detidos pelos guerreiros francos, liderados por Carlos Martel, na batalha de
Poitiers, em 732. Em cem anos, a contar da morte de Maomé (632), os muçulmanos formaram um imenso império
que ia desde as terras onde hoje é a China (a leste) até onde atualmente está situado Portugal (a oeste).

Um dos fatores que favoreceram a expansão foi o interesse em conquistar terras e postos-chave do
comércio internacional, visando com isso poder e riqueza. Outro fator importante foi a relativa tolerância religiosa
dos árabes em relação aos povos vencidos, que podiam manter sua própria religião, desde que reconhecessem o
poder do islã e pagassem tributos.

Além disso, o Império Islâmico foi favorecido pelo enfraquecimento do Império Bizantino e do Império Persa
em função das guerras que travaram entre si, bem como pela opressão exercida por bizantinos e persas sobre os
povos sob seu domínio. Muitos desses povos chegaram a ver os muçulmanos como libertadores.

Economia no Império Islâmico


Durante sua rápida expansão, o Império Islâmico apoderou-se de importantes rotas comerciais (marítimas e
terrestres) que ligavam o Oriente ao Ocidente e, dessa forma, os árabes se tornaram intermediários privilegiados no
comércio entre essas duas regiões. O artesanato árabe-muçulmano também era muito apreciado na Europa por sua
variedade e qualidade.

Os muçulmanos praticavam também a agricultura intensiva com a ajuda de engenhos hidráulicos e


mecânicos destinados à irrigação do solo. Eles introduziram na Europa o plantio de árvores frutíferas, como a
laranjeira e a tamareira; hortaliças, como a hortelã; temperos, como o açafrão; e cultivos comerciais de larga
aceitação até então desconhecidos na Europa, como o arroz, a cana-de-açúcar e o algodão. Os muçulmanos
destacaram-se também na criação de cavalos.

Formações políticas africanas


A África que os europeus medievais conheciam era a região situada ao norte do deserto do Saara, ou seja, a
parte do continente banhada pelo mar Mediterrâneo. Já as terras abaixo desse deserto, a África subsaariana, eram
um grande ponto de interrogação para eles: nos mapas da época, eram chamadas de Terra incógnita. Esse
desconhecimento somado às teorias racistas formuladas pelos europeus do século XIX levou a que se forjassem
visões estereotipadas e preconceituosas da África e de seus habitantes.

Uma das mais recorrentes é a que apresenta a África como um continente “sem história”; nessa versão, os
povos africanos são chamados de “tribos” e suas línguas, de “dialetos”. Estudos e pesquisas desenvolvidos no século
XX, sobretudo após as independências africanas, vêm nos permitindo conhecer a rica e movimentada história da
África e dos africanos no Brasil.

As fontes da história africana.

A história da África subsaariana entre os séculos VII e XVI é conhecida por meio de quatro fontes
principais:

 Fontes escritas africanas – a documentação vem se avolumando à luz de novas pesquisas;

 Fontes escritas árabes – roteiros de viagem, crônicas, textos enciclopédicos escritos por indivíduos do
mundo árabe-muçulmano, com destaque para o relato de Ibn Battuta a respeito de sua viagem ao Império
do Mali.
 Fontes orais – relatos que chegaram até nós, principalmente por meio dos griôs: poetas, músicos e cantores.
 Fontes arqueológicas – as escavações vêm crescendo nas últimas décadas.

África: aspectos físicos


O deserto do Saara era habitado por povos nômades chamados de berberes. Esses povos, como os
azenegues e os tuaregues, controlavam as rotas comer que ligavam o Sahel ao norte africano e à bacia
mediterrânica. No oeste e sul do Sahel viviam povos negros, chamados, genericamente, de sudaneses, como os
bambaras, os fulas, os mandingas, os hauçás, entre outros.

A extensa área habitada por eles era chamada de Sudão ocidental que é cortado por dois importantes rios,
Senegal e Níger. Esses rios permitiam que os povos do Sahel tivessem água para suas necessidades básicas e também
para fertilizar a terra e cultivar cereais, legumes e verduras. Além disso, serviam como via de locomoção e
transporte. Os povos do Sahel transportavam as cargas que chegavam em lombos de camelos dos portos do mar
Mediterrâneo ou que para lá seguiam.

O comércio pelo Saara


O comércio entre os povos negros do Sahel, os do norte africano e os da bacia do Mediterrâneo era antigo e
incluía ouro, pessoas escravizadas e sal. A partir do século IV, o camelo possibilitou e incentivou o comércio
transaariano, quando passou a ser usado no transporte de mercadorias e pessoas pelo deserto. Com o uso do
camelo, o deserto do Saara deixou de ser um mar de areia que separava os povos do Sahel dos povos da bacia
mediterrânica e tornou-se uma ponte que unia as duas regiões.

Impérios do Sahel
A partir do século VII, os berberes do deserto foram islamizados e, enquanto levavam e traziam suas
mercadorias, difundiram o islamismo entre os povos negros da África ocidental; em alguns casos, a religião de
Maomé se impôs, em outros se mesclou às religiões tradicionais da região, ocorrendo mais uma africanização do
islamismo do que propriamente uma islamização dos africanos. Foi justamente na África ocidental marcada pela
mescla do islamismo com religiões tradicionais africanas que se formaram dois importantes impérios africanos
sudaneses: o de Gana e o do Mali.

O Império de Gana
Situado no ocidente africano, o Império de Gana era conhecido como “terra do ouro”, tal a quantidade de
ouro que circulava por suas terras. O Reino de Gana foi fundado no século IV pelo povo soninquê. Sabe-se que, no
século VIII, o Império de Gana possuía uma grande extensão e dominava política e economicamente uma variedade
de povos.

Gana era a um só tempo o nome do reino e o do título atribuído ao governante supremo. Entre os séculos IX
e XI, os domínios de Gana incluíam as áreas de Galan, Falemé e Bambuk. O soberano tinha o título de gana. Entre os
funcionários do Império havia indivíduos encarregados de distribuir a justiça, controlar o tesouro e guardar armas,
além de um número grande de serviçais e intérpretes. Havia também sacerdotes reais especializados na realização
do culto a uma divindade-serpente. Uma particularidade do Reino de Gana era o fato de que a sucessão era
matrilinear; os sobrinhos sucediam aos tios.

Os habitantes de Gana praticavam a agropecuária, a pesca e um comércio intenso através do Saara. Mas a
principal receita do Império vinha dos impostos cobrados dos povos dominados ou que reconheciam sua hegemonia.
Circulavam pelo território do Império o cobre, os búzios, tecidos de algodão e de seda e o sal das minas de Tagaza,
que eram trocados por marfim, ouro e escravizados. Cada carregamento de sal que entrasse nos domínios de Gana
pagava um dinar de imposto; e cada um que saísse, pagava dois dinares. O Império de Gana conseguia manter um
exército numeroso, calculado, em 200 mil homens.

Império do Mali
O núcleo inicial do Império do Mali originou-se nas terras situadas entre os rios

Boa parte do que sabemos sobre o Império do Mali chegou até nós pelos griôs.

Foi por meio dos griôs, e de achados arqueológicos, que ficamos sabendo que o Império do Mali teve seu núcleo
original organizado pelos povos mandingas.

O Mali de Sundiata Keita


O Império do Mali se formou em torno da figura lendária do príncipe Sundiata Keita. Ele e seus guerreiros teriam
vencido os sossos, na batalha Kirina, e depois, submeteram vários outros povos e constituíram o Império do Mali. À
semelhança de outros Estados centralizados africanos, o Império do Mali abrigava um mosaico de etnias.

Sundiata Keita converteu-se ao islamismo e assumiu o título de mansa. A conversão de Sundiata ao


islamismo é vista por historiadores atuais como uma estratégia para integrar seu império ao circuito mercantil
islâmico. Sundiata Keita era um conhecedor de seus deuses.

Muitos costumes malineses foram ditados por Sundiata Keita. O Mali absorveu terras e povos do Império de
Gana e, no século XIV, estima-se que tenha chegado a ter cerca de 45 milhões de habitantes. Sundiata dividiu o
império em províncias, algumas delas aliadas, e outras subordinadas e governadas por um representante do
imperador mandinga. Os malineses estabeleceram a capital de seu império na cidade de Niani. Niani dispunha de
duas importantes estradas e rotas de comércio: uma que a ligava ao norte e outra ao nordeste do império. Nessa
última, floresceram duas grandes cidades negras, Tombuctu e Djenné.

Tombuctu servia como ponto de chegada e de partida das caravanas comerciais que ligavam o Mali ao norte
africano e ao mar Mediterrâneo. Com isso, logo ganhou grande projeção comercial e riqueza. Ao longo do século
XIV, Tombuctu se destacou também como centro intelectual, abrigando dezenas de escolas corânicas e a mesquita
de Sankoré, em cujo prédio funcionava a universidade de mesmo nome, que se mantém em atividade até hoje.

O apogeu da dinastia Keita se deu no governo do mansa Kanku Mussa, que se valeu de um exército
disciplinado para ampliar as fronteiras do império e consolidar sua administração. A fim de dar visibilidade ao
Império do Mali e cumprir sua obrigação como muçulmano, Kanku Mussa realizou a peregrinação a Meca,
acompanhado de extensa comitiva. Durante a viagem, presenteou com ouro outros soberanos, comprou
mercadorias com pepitas de ouro e doou esse metal precioso a pessoas necessitadas; de tal modo que o preço do
ouro na região atravessada por sua comitiva caiu consideravelmente por mais de uma década. No retorno da
viagem, o imperador afro-islâmico trouxe arquitetos para erguer mesquitas e professores para lecionar nas escolas
corânicas de Djenné e Tombuctu.

Economia e política
Os malineses praticavam a agricultura, o pastoreio e o artesanato, por meio do qual produziam uma
variedade de artefatos de cobre.
Os mercadores malineses, comercializavam tanto os produtos vindos do norte africano e do mar
Mediterrâneo, como os produzidos no interior do império. Mas a riqueza maior do Império do Mali vinha do
controle imperial das minas de ouro de Bambuk e Bure, das rotas de comércio transaarianas e dos tributos extraídos
dos povos vencidos.

Politicamente, o Império do Mali possuía também suas singularidades: o imperador governava assistido por
um conselho e por dois altos funcionários, o chefe das forças armadas e o senhor do tesouro.

O poder do antigo Mali se devia ao seu poderoso exército composto de arqueiros, lanceiros e cavaleiros; ao
controle exercido sobre áreas de extração do ouro; a uma estrutura administrativa eficiente, com representantes
nas áreas sob domínio e à política de tolerância religiosa de seus governantes. O Mali, conservou sua hegemonia na
região até a metade do século XV, quando começou a declinar por conta das disputas internas entre suas lideranças
e da emergência de um novo centro de poder, o Império de Songai, que conquistou Tombuctu em 1470.

Os bantos
Já nas terras africanas ao sul do Sahel, viviam e ainda vivem os bantos, povos com uma origem comum e que
falam línguas aparentadas e de matriz banto. Por volta de 1500 a.C., os bantos tenham deixado as terras onde hoje é
a República de Camarões e se espalhado por toda a África oriental, central e do sul. Esse movimento migratório
durou cerca de 2 500 anos. Durante esse deslocamento, eles domesticaram plantas e animais, construíram moradias
em diferentes ambientes e se misturaram aos povos nômades que ali viviam ou os desalojaram.

Os bantos eram povos agricultores e tinham domínio da técnica de produção do ferro, usado por eles para
fazer instrumentos de trabalho e armas de guerra; isto os colocava em vantagem sobre os povos que desconheciam
a técnica da metalurgia e ajuda a explicar sua vitória sobre outros povos.

Nas terras abrangidas hoje pela República Democrática do Congo, República Popular do Congo e República
de Angola floresceram importantes formações políticas bantas, entre elas o Reino do Congo.

O Reino do Congo
O Reino do Congo abrangia terras ocupadas hoje pelo norte de Angola, sul da República do Congo e sudoeste
da República Democrática do Congo. Segundo uma tradição, o grupo bacongo se sobrepôs a outros grupos menores
falantes das línguas umbundo e quicongo. Um herói lendário, de nome Nimi-a-Lukeni, teria expandido seus domínios
submetendo chefes locais por meio de guerras, alianças e a extração de tributos; assumiu então o título de mani
Congo, edificou seu Palácio na localidade de Mbanza Congo e entregou cada área conquistada a um dos membros de
sua linhagem.

As áreas conquistadas foram transformadas em províncias, e cada uma delas controlava várias aldeias, nas
quais se conservou o poder das famílias que as tinham fundado, de modo a não afrontar a tradição e conseguir um
equilíbrio de poder. O mani Congo era auxiliado por 12 conselheiros, quatro dos quais do sexo feminino; eles
dividiam o encargo de controlar a justiça, o tesouro, o comércio e o recebimento de impostos.

Economia e sociedade

No Reino do Congo, os homens caçavam, pescavam, coletavam alimentos e abriam clareiras na mata para os
cultivos agrícolas com seus machados de ferro. Mas o trabalho na agricultura, desde a semeadura até a colheita, era
realizado por mulheres. Elas cultivavam legumes, tubérculos, diversas espécies de frutas e cereais, criavam
carneiros, cabras, galinhas e bovinos.

Os congos forjavam o ferro, com o qual faziam instrumentos de trabalho e armas; teciam panos coloridos
com folhas de ráfia e eram hábeis escultores.

Da capital partiam as caravanas que iam ao interior buscar ou levar produtos. Os preços eram fixados pelas
autoridades.
Aldeias e cidades pagavam tributos em espécie: os habitantes do nordeste contribuíam com alimentos e
tecidos de ráfia; os da costa e do sul, com sal; os do sudeste, com cobre; os da ilha de Luanda, com nzimbos.

O rei controlava rigidamente a extração e circulação do nzimbo. Em troca dos tributos recebidos, o rei
oferecia proteção material e espiritual, pois ele também era considerado um intermediário entre seus súditos e os
espíritos dos ancestrais.

Os congos e os portugueses
Os portugueses, comandados por Diogo Cão, chegaram ao Congo em 1483. Oito anos depois chegava a
embaixada portuguesa, que estabeleceu contatos com o mani Congo Nzinga Kuwo. Seu filho, Nzinga Mbemba, aliou-
se aos portugueses, venceu o irmão na disputa pela sucessão ao trono e assumiu o poder com o nome de Afonso I,
do Congo. Uma estratégia muito usada pelos europeus na África foi estimular o conflito entre africanos e apoiar um
dos lados para obter vantagens.

No reinado de Afonso I, o Congo adotou o catolicismo como religião oficial, o nome da capital, Mbanza
Congo, foi mudado para São Salvador, e nela foram erguidas várias igrejas, com a ajuda de profissionais e de
recursos portugueses. O rei Afonso enviou parentes para estudar em Lisboa, esperando estreitar suas relações
comerciais e culturais com os portugueses. No entanto, ele logo concluiu que o governo português tinha dois
objetivos principais na África: escravos e metais preciosos. Parte da nobreza conga julgou possível exercer o controle
sobre o comércio de pessoas e extrair vantagens dele, mas logo percebeu que isso era impossível. O rei, então,
escreveu várias cartas ao rei de Portugal.

O rei de Portugal, Dom João III, não respondeu à carta de Afonso I. O rei africano percebeu então que o rei
português via o Congo como um espaço para expandir a fé católica e conseguir escravizados. O tráfico de
escravizados se intensificou, atraindo novos comerciantes portugueses, enriquecendo os envolvidos no negócio e
atendendo os anseios de consumo da nobreza conga que dele participavam. A partir de então, as relações entre o
Reino de Portugal e o do Congo foram se deteriorando e este começou a se desestruturar.

Os congos organizaram uma revolta contra o domínio português, mas foram vencidos na batalha de Mbwila.
Instalou-se no Reino do Congo, uma crise quase permanente e acentuou-se seu declínio, que pode ser atribuído,
entre outros fatores: à intensificação do tráfico e ao despovoamento daí resultante; ao aumento das guerras
internas; e à alteração do equilíbrio de poderes após a chegada dos europeus

Os bantos no Brasil
A maioria dos milhões de africanos entrados no Brasil era da região congo-angolana e falante de línguas
bantas. O termo bantu é uma combinação de ntu, acrescido do prefixo ba, que designa plural, ou seja, seres
humanos ou pessoas. Era esse termo que os povos bantos usavam para se autoidentificar.

A matriz banto da nossa cultura também está presente no jogo de capoeira, no jongo, no congado e em
várias outras manifestações da vida social brasileira.

Os iorubás
Os iorubás e sua arte também foram e continuam sendo decisivos na formação cultural do Brasil. Os iorubás
são hoje um dos três maiores grupos étnicos da República da Nigéria, vivem no oeste do país, em partes da
República do Benin e da República do Togo. A história dos iorubás, não se restringe à África; é parte também da
história das Américas.

O mito iorubá, chegou até nós através da tradição oral e ajuda-nos a compreender vários aspectos da vida
social dos iorubás.
História e mitologia
Africanistas acreditam que a rivalidade entre os orixás Obatalá e Odudua, em torno da criação da Terra,
revelariam disputas políticas havidas entre líderes de carne e osso. Os iorubás, representados pelo deus Ododua,
venceram um povo chamado Igbo, cujo deus criador era Obatalá que, por isso, devia subordinar-se a ele.

O mito de origem dos iorubás pode ter sido criado por um grupo que ascendeu ao poder na época da
fundação da cidade para justificar/legitimar a imposição de uma nova forma de governo: a monarquia de origem
divina. Os reis das cidades iorubás afirmavam ser parentes de Odudua; diziam ser, portanto, descendentes de um
deus.

Desde o século X os povos falantes de língua iorubá viviam onde hoje é o oeste da Nigéria e em partes do
Togo e do Benim atuais. Um dos primeiros centros urbanos, a cidade de Ilê Ifé, teria se originado no final do século IX
e início do X

Os iorubás construíram uma civilização marcadamente urbana; entre as principais cidades iorubás daquela
época estavam Ilê Ifé, Keto e Oyo. As cidades iorubás sempre foram alvo de admiração dos africanistas.

Os iorubás não chegaram a compor um Estado centralizado, à semelhança dos antigos malineses; as suas
cidades eram cidades-Estado ou cidades-reino. As cidades iorubás não formaram uma unidade política; eram
independentes umas das outras.

Ilê-Ifé
Tanto a história quanto a mitologia apontam Ifé como capital espiritual dos iorubás. Seu governante tinha o
título de Oni e, além de administrar e distribuir justiça, era responsável pelos cultos religiosos visando a boas
colheitas. Ifé possuía ascendência religiosa sobre as demais cidades do iorubo. O Oni de Ifé e o Alafin de Oyo
atuavam, confirmando ou não no cargo as lideranças de outras cidades iorubas.

Um elemento decisivo na vida econômica dos iorubás era o comércio; seus comerciantes circulavam por
terra e pelos rios. O próprio desenho das cidades iorubás revela a importância da atividade comercial na vida deles,
já que quase todas elas tinham praças e indícios de que nelas havia um grande mercado. Essas cidades possuíam
também bairros bem demarcados, área para a realização de cerimônias religiosas, palácio real e espaços de convívio
social.

Ifé teve seu período de maior esplendor entre os séculos XII e XV, e até hoje é vista por eles como o umbigo
do Universo, local onde tudo começou. Daí a ascendência espiritual de Ifé sobre outros núcleos de base cultural
iorubá na África e no Brasil.

A cidade de Oyo
A cidade de Oyo foi fundada entre os séculos XI e XIII. Segundo a mitologia iorubá, seu fundador e primeiro
rei foi Oraniã. Seu filho de nome Xangô, transformado mais tarde em senhor da justiça, sucedeu ao pai e gerou uma
enorme descendência. Na cidade-reino de Oyo a maior autoridade era o Alafin. Apesar de o Alafin de Oyo ser
considerado detentor de poder divino, ele não tinha imunidade contra eventuais descalabros cometidos em seu
governo.

Se houvesse desvios de recursos, as lideranças dos bairros intervinham exigindo que ele desse satisfação de
seus atos.

A partir do século XV, a cidade ganhou projeção econômica e uma liderança política sobre as demais cidades
iorubás. Essa liderança de Oyo devia-se ao fato de a cidade estar situada numa área de savana, e, portanto, mais
propícia à agricultura; possuir um artesanato desenvolvido com bairros especializados em curtume, serralheria e
fundição e à força de seus comerciantes.
Outra vantagem de Oyo era a sua potente cavalaria que, sob o comando do Alafin. Por conta da mosca-tsé-
tsé não se conseguia criar cavalos na região; então, esses animais eram trazidos de longe pelos comerciantes de Oyo.

Reino de Benin
Outro centro de poder iorubá foi o Reino de Benin, que se formou por volta do século XII. Sua capital, de
ruas retas e avenidas largas, também se chamava Benin e encantava os viajantes. O líder máximo da cidade tinha o
título de Obá e considerava-se descendente de Odudua. O comércio da cidade de Benin envolvia a venda de peixe
seco, inhame, cobre, sal, dendê, couro e carne, além de escravizados obtidos geralmente por meio de guerras. A
base da economia da cidade de Benin era o comércio.

Os artistas do Benin produziram uma arte refinada e rica em detalhes.

Tradição e mudança se combinavam nas cidades iorubás.Os mitos são reveladores dessas histórias africanas.
Com a chegada e permanência dos europeus na costa africana, elas passaram por modificações drásticas.

Iorubás no Brasil
Foi por volta de 1830, quando os muçulmanos destruíram a cidade de Oyo, que milhares de iorubás foram
trazidos para o Brasil como escravizados e seu porto de entrada foi Salvador. Entre os iorubás aqui chegados havia
grande número de sacerdotes, líderes políticos, artesãos e artistas, que foram empregados, sobretudo, em trabalhos
urbanos e domésticos, na cidade de Salvador e no Recôncavo Baiano. Embora trazidos à força e em condições
adversas os iorubás fizeram história e arte em solo brasileiro.

A arte de matriz iorubá tem como principal polo de irradiação a Bahia, danças e ritmos variados de blocos
como Olodun, Ilê Ayê e Filhos de Gandhy. Percebem-se as marcas da matriz iorubá também nas obras de artistas
plásticos brasileiros de origem africana.

No campo das artes plásticas ainda cabe citar também artistas de grande envergadura que não descendem
de africanos mas produziram arte de matriz iorubá.

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