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- AJustiga Administrativa (LICGES) ‘2017 - 16 Edigdo José Carlos Vieira de Andrade ALMEDINA, AAJUSTIGA ADMENISTRATIVA i) certas relages juridicas entre érgios de diferentes entes publicos, quando a circunstincia de se tratar de érgios de pessoas colectivas distintas puder ser considerada decisiva ou dominante para a caracterizacio da relacio, por estarem em causa interesses pa blicos diferentes (sejam divergentes, como acontece nas relagdes de controlo, ou concorrentes, como, por exemplo, no caso da delegagio de atribuigoes). 2.2, Sao diversos os tipos de relagbes juridicas administrativas, que podem ser objecto de virias classificagSes doutrinais. Importa hoje sublinhar que as rela;6es juridicas, designadamente as que ligam os particulares a Administragao, so cada vez, menos frequen- temente relagées simples ou bipolares, em que ha apenas dois sujeitos ou dois pélos de interesse (um activo, outro passive), multiplicando-se as. relagées complexas (poligonais, multipolares ou multilateais), em que se confrontam mais de dois sujeitos com interesses distintos e muitas ve~ 2es contririos ~ esta realidade, bem visivel, por exemplo, no ambito da actividade concursal, prolifera actualmente em diversas areas como, por exemplo, o urbanismo € 0 ordenamento do territério ou a regulagio econémica, e no é totalmente captada pela perspectiva da actividade, através de figuras como 0 “acto administrativo com efeitos em relagio a terceiros” ou o “acto administrativo de duplo efeito”®", 3. Posigées juridicas subjectivas dos particulares ¢ da Adminis- tragao A Constituigio define as garantias dos cidadaos de acesso aos tribunais contra a Administragio a partir de posigdes juridicas subjectivas daqueles: € garantida a tutela jurisdicional efectiva de direitos ow intresses legal- mente protegides, incluindo 0 reconhecimento desses direitos ou interesses, a © Sobre o sentido e aleance do conceito,v, por todos, SCHMMDT-ASSWANN, Das agement Yeralungreht als Ordmugsidee, 2 ed, 2006, pp, 168 e340. % A consegneia desta complenidade pode ser decisiva para uma tutela judicial efectiva dos partculaes, que as concepgéestradicionais nfo asseguram, Mesmo a legslacio reformada continu a pecar neste campo, desde logo, por exemplo, quando, no artigo 128" do CPTA, 120 contrilo do disposto no artigo 128, se atende apenas ao nteresse pice, eno 20 dos contra-interessados, para justificar a execucio imediata do acto administrativo que tenha sido objecto de um pedido de suspensio da fila, IIL, © DOMINIO SUBSTANCIAL DA JUSTIGA ADMINISERATIVA impugnagio de quaisquer actos administrativos ou de normas adminis- trativas com eficdcia externa que os lesert™, ‘Impée-se, assim, analisar as posigdes juridicas subjectivas dos parti- culares em face da Administragao, para determinar o significado destas categorias juridicas ~ “dicits” e de “intereseslegalmenteprotegidos” ~ e, por consequéncia, o alcance substancial da tutela constitucionalmente prevista. ‘Além disso, no processo administrative também podem estar em causa posigoes desfavoriveis de particulares, designadamente no am- bito das acg6es que podem ser postas contra estes, bem como posigées juridicas substantivas da Administragio, em especial nas relagées inter- administrativas. Bu. As posigdes juridicas subjectivas substantivas (piiblicas) dos particulares em face da Administragio 3.1.1. Posigées de vantagem (ou favoraveis) Temos a considerar desde logo as posigées de vantagan (ou favoriveis) = as quais correspondem obrigagbes, deveres e sujeigbes da Adminis- taco e/ou limitagbes (negativas) ou condicionamentos (positivos) da actividade administrativa, 3.1L. Nao parece que deva tentar-se, no Smbito ¢o direito piblico, uma definigao restrita do conceito de direito subjective, que sempre gerou controvérsia, mesmo no direito privado™. ‘Assim, a fronteira a estabelecer com nitidez deve ser a que delimita, de um lado, as posigdes juridicas substantivas (“direitos ¢ interesses legal- mente protegidos” ou “direitos’, num sentido amplo} e, do outro lado, 0 interesses simples ou de facto. * Lelam-te os 8s 4 e 5 do artigo 268% da Consctulgso, * Compareme, por exemplo, entre nds, 2s definighes de Max of ANDRADE ~ =poder stribuido pela ordem juridica de exigit ou pretender um determinaio comportamento ou e produit determinados efeitos jridioas- de OrLaNdo Dk CaRwLto ~ »poder da von- rade juridicamente protegido» ~ c de Mentzes Coxeino ~ «permisséo normativa spect fade aproveitamento de um bem AyusTigAa aDministRaTIVA 4) As posigdes juridicas substantivas implicam sempre uma inten qo normativa de protecgao efectiva de um bem juridico proprio de determi- nado particular, seja em primeira linha (estamos, entdo, perante direitos subjectivos), seja em segunda linha, em complemento de um interesse piiblico primacial (€ 0 caso dos interesses legalmente protegidos). A intencionalidade, o contetido objectivo favordvel e 0 grat de efecti- vidade hio-de resultar da interpretacdo da norma de direito substantivo que regula a relagao juridica, devendo presumir-se a inten¢io protectora quando o conteiido de uma norma de dircito objectivo benefice necessa- riamente ou seja adequado a0 favorecimento de determinados interesses particulares”” fi) Os interesses simples ou de facto representam vantagens gené- ricas para os administrados, ou ento vantagens especificas de pessoas determinadas, mas que, encaradas do ponto de vista da norma reguladora, si0 vantagens ocasionais ou puramente reflexas relativamente a0 interesse piiblico ~ mesmo que se trate de interesses diferenciados cujos titula~ res gozem, face A lei processual, de legitimidade impugnatétia, por se encontrarem numa situago que Thes confira interesse directo e pessoal na anulago de um acto administrativo™. 3.1.2. Por outro lado, hé que reconhecer, dentro do conjunto das, posigées juridicas substantivas, uma certa veriedade, mas uma variedade tipica e nio-categorial, em face da continuidade gradativa das figuras do “direito subjectivo” e do “interesse legalmente protegido” no que res~ peita a determinabilidade e & individualizacto do contetido, bem como & intencionalidade e & intensidade da protecgio ~ a definir em cada hips- tese por interpretagdo das normas apliciveii sta posiglo do particular exprime-se, depois, num poder de vortade que visa exigt ov pretender determinados comportamentos ot produzit :uronomamente determinados elel= tos juridicos, para satefago do interes proprio do titula:procegido pela norma jurda Apesar de se manter 4 legitimidade alargada para impagnacio de actos administrativos, numa dimensio (objetiviss) de defesa da legalidade, esta distingio ganhou grande impor: tincia com a acentuagio da dimensio subjectivista no glano processul, para determinagio da legitimidade “comum’, que s6¢ reconhecda a sitalares de posigdesjuridicas substantias (artigo 8, n I, do CPTA) e, em geral, para determinaro émbito da garantia de tute judi al efecivaconsitucinalmenteasegurada aos administrados. IIL, 0 DOMINO SUBSTANCIAL DA FUSTICA ADMINISTRATIVA, Assim, temos, por exemplo: I. Direitos subjectivos a) Direitos ransitivos ou de natureza obrigacionaP”, sobretudo no con- texto de uma administracio social, que é em grande medida uma “admi- nistragio de prestagSes” ~ pense-se, por exemplo™, nos direitos sociais, como os direitos &s prestagbes da seguranga social ou aos subsidios para o exercicio de actividades econdmicas ou de interesse social ou cultural, mas também nos direitos a prestagdes decorrentes do dever estadual de protecgio efectiva dos direitos liberdadesegarantias dos particulates" b) Direitos intranstives ou absolutos ~ a que correspondem, do lado da ‘Administragio Publica, deveres gerais de abstengdo e de respeito: desde Jogo, as liberdadesedeterminados direitos fundamentais (pessoais e politicos) dos cidadaos, relativamente aos quais a Constituicéo impoe o respeito e a abstengio piiblica, que ganham relevancia ao nivel administrativo atra- vés da concepcio das normas constitucionais que os consagram como dircito imediatamente aplicdvel; depois, os direitos puiblicos reais, como, por exemplo, 0s direitos de uso normal do dominio piblico estabelecidos porlef, ©) Direitos potestativos ~ que sto poderes (unilaterais) de provocar inelutavelmente a constituigéo, modificacio ou extingao de relagoes juri- dicas, aos quais corresponde uma syjeigdo do lado passivo, como, por exemplo, 0 direito de voto (em certa dimensao), o direito de aceitar ou de renunciar a mandato puiblico, o direito de rescisio pelo co-contra- tante (resolugSo por incumprimento) de contrato administrativo, 0 di- reito a renunciar & qualidade de membro de organizagio publica, bem como os dircitos de iniciativa de procedimento ou de acgio administra- iva, "Isto 6, queles aos quaiscorrespondem deveres expecinis (obrigaySes) da Administragio de faze, de ndo fazer, de da on de suport. "Isto, para além dos direitos semelhantes 2 Ht tradicionalmente reconhecides, como o di reito passagem de diploma ou dealvard de actividade licenciads, o dreta 3 grevee muitos ‘outros deli dos Funcionsrios: ao lugar, lcengas, ete © Na realidad, mesmo os direitos de liberdade, drigdos essencialmente a uma absten- si0 do Estado, impicam a garantia, por parte deste da sua realizagto em face de terceitos, Aesignadamente perante poderes prvados. ‘© Também se podem autonomizar, sob a designacio de “contradirelos" ou “direitos oponi- ves agueles direitos que visam apenas impedes utiliasSo de outros direlzos ou poderes, ‘como o dretoainvocar a prescrigho ATUSTIGA ADMINISTRATIVA [IL © DOMINO SUBSTANCIAL DA JUSTIGA ADMINISTRATIVA 1) Direitos limitados Depois, ha graus de densidade normativa, que se repercutem em graus de efectividade, dado que nem todos 0s direitos so verdadeirs direitos subjectivos plenos. cutérias em procedimentos complexos - por exemplo, os direitos a0 licenciamento, resultantes da aprovacao do projecto de arquitec- ‘ura, no procedimento de licenciamento de obras particulares, ou, no quadro do sistema previdencial, os “direitos em formagio” relativos a ae es de velhice e invalidez, 1) Existem, de facto, direitos condicionados, que nao gozam de uma tala pensdes de velhice e inv lena: , 4) 0s direitos condicionados em sentido estrito ~ designadamente, os direitos atribuidos por actos administrativos, mas sujeitos a condicio suspensiva (pendente conditioné) ou a uma actuagio procedimentalin- tegrativa da eficacia (cuja verificag4o ou realizagio tem ou pode ter efeitos ex tune, retrotraidos & data da constituigio do acto); ) 0s direitos enfiaquecides, que podem, por forca da lei ou por forga de acto administrative com base na lel, ser sacrificados através do exercicio legitimo de poderes da autoridade administrativa ~ por exemplo, o diteito de propriedade face a0 poder de expropriagio ox a0 poder de planeamento, 0 préprio direito do funcionério 20 ven- ‘cimento face ao poder disciplinar de suspensio, os direitos de util ) Por sua vez, hi ainda “direitos prima faci’, isto &, posigbes subjec- sivas piblicas em que esto em causa directamente e em primeira linha interesses préptios de particulares individualizados (e que, portanto, se devem configurar como direitos), mas cujo contetido nao est perfeita- mente determinado na lei, dependendo, para se tornarem “definitivos” (liquidos e certos) e exercitiveis, de uma concretizagio ou densificacio por parte da autoridade administrativa ~ por exemplo, certos direitos genéricos a prestagées e subsidios de tipo ou montante variével ou 0 préprio direito & protecgio policial, em face do poder de escolha admi- nistrativa dos meios. zaco excepcional do dominio publico, perante os poderes de gestio dominial, os direitos do concessionario face ao poder de resgate da concessio, 0 direito do destinatério de acto favordvel sujeitoa reserva ‘ou condicio resolutiva"™ a | lif) 0s direitos comprimidos, que so direitos limitados por lei em ter- ‘mos de necessitarem de uma intervengao administrativa, unilateral U1) Interesses legalmente (isto €, juridicamente) protegidos™ ‘Na fronteira entre interes legitimo, por um lado, e interesse simples ou de facto, por outro, operou-se uma evolugio que favoreceu a ampliagio do conjunto das posigoes juridicas substantivas: a) Intereses decorrentes da juridificagao do poder disersionério — por vezes condensados na férmula de “direito ao exercicio correcto do poder dis- cricionério”, s4o interesses protegidos pela obrigacao da Administragio de actuar em conformidade com principios gerais de direito adminis- trativo, como os da imparcialidade, da igualdade, da justica, da propor- cionalidade, da racionalidade, da boa fé e da proteccio da confianca legitima; cou contratual, que permita o seu exercicio ~ por exemplo, direitos ou liberdades dos particulares que dependam de autorizagio adminis- trativa (permissiva), como a liberdade de exercicio da profissio que dependa da inscrigdo numa ordem profissional, ow a liberdade de ci culagdo automével, dependente da obtencio da carta de conducio, ou, de saida para o estrangeiro (fora do Espaco Schengen), sujeita a emissio de passaporte; iv) 0s direttos incompletss, que, sendo mais que expectativas jurk ™ No se deve confundr o interes gfe, no sentido de ites halen pode, que dicas, resultam da vinculzgio material efectiva de decisoes interlo- constitu wma posigo juridicssubsantiv, pressopondo uma intengio nocmatia de protec- «2, com o interesse (nos termi da lei de processo, um “interese directo e pessol”) que confer legitimidade processul para impugnacio judicial de actos administraivos ~ de facto, A legitimidade processual nio &reconhecida apenas aos ttuaresdedlreitos subjectios e de intereseslegalmente protegidos, mas ainda aos titulares de merosinteresses de facto, desde ve diferencias, isto &, desde que a decisto do proceso aprovelte decent & sua esfera Juridica, 1 Send porventura também o caso dos direitos fundamentals “suspensos” em virude de declaragio do estado de sito ou de emergincia, ji que esto sueitos ans poderes de aurri- dade na medida necessirfa, adequads e proporelonada 20 restabelecimento da normalidade (ardigo 19%, n"sSe8, da CRP). AyUSTICA ADMNISTRATIVA 1b) Interescesrelesantes mo quadro de relagbesjurdicaspoligonais, multipola- 1s ou multilaterais ~ 0s particulares que nao sejam destinatérios formais de decis6es administrativas podem ter interesses legitimos préprios no cumprimento, por parte di Administragéo, das normas legais aplicadas que, directa ou indirectamente, os beneficiem (para além da conside- ragio desses interesses no quadro da aplicacio dos principios juridicos que regem a actuagio administrativa) ~ interesses que podem ser con- vergentes, paralelos ou divergentes em relacio aos interesses dos desti+ natérios dos actos; ©) Interesses semi-difereciados, como, por exemplo, os “interesses colectivos” - enquanto interesses de associagBes na defesa de interesses ‘gerais dos associados -, e os “interesses locais gerais” - enquanto inte- resses da generalidade dos residentes numa determinada circunscricio, relativamente aos bens do dominio piblico (cf. CPA, artigos 68°, n°, in fine e 0° 2, alinea b), e 186%,n° 1, alinea 8)); 4) “Interesses difusos” (Constituigao, artigos 60°, 66% ¢ 78%; CPA, arti- {808 68, n? 2 € 186*), embora estes interesses muitas vezes acabemn por ter relevo autonome come direitos individualizados! ou de entidades colectivas, ndo sendo exclusivamente direitos procedimentais ou pro- curatérios; ©) Intereses dle “luisa normattoidade”, decorrentes de certas formas de regulagio administrativa (Girectivas, standards, recomendagées, etc.), que tém uma relevancia juridica limitada (soft Jaw), em grande medida em fungio do principio da proteccio da confianga legitima, conferindo em regra meros direitos a indemnizagio; bem como expectativas juridi- cas, associadas a direitos futuros expectados (embora sem a solidez dos direitos em formacio legilmente atribuidos), e intereses de facto que; quando sejam afectados de forma especial e anormal pela actividade admi- nistrativa, podem dar lugar a uma compensacio ou “indemnizaco” pelo sacrificio, em fungio do prinefpio da igualdade perante os encargos pi blicos. "Devem distinguir-se os intrest difraspropriamente ditos, que so indivi, dos dtctor Indvduats homogéces, que sio dives ~ sobre estas figuras no imbito do dizeto do con sumo e do diteto do ambiente, v. por todos, J, EDUARDO F. Dins, "Os efeitos da sentenga na Lei de acgio popular, in CEDOUA, Ano I, 199, p.50 ss IML, © DOMINIO SUBSTANCIAL DA JUSTIGA ADMINISTRATIVA 311.2. Posigdes de desvantagem (ou desfavorivcis) Considerando agora as situaces em que os particulares aparecem numa posigdo desfavoravel em face da Administragio, ha que distinguir, na es- teira da doutrina do direito privado, entre sujeigées, deveres e obriga- ies, ¢ énus: a) As sujeigdes ou “estados de sujeigdo” constituem posigbes juridicas passivas dos particulares, que surgem nas relagées juridicas administra- tivas em correspondéncia com direitos potestativos da Administragio (por exemple, reserva de imposigio de modo em actos administrativos, ou determinados poderes do contraente piblico em contratos administra- tivos), mas que sfo sobretudo caracteristicas enquanto posi¢des corres- pectivas de poderesjurldico-publices gerats ou especiais, como, por exemplo, 0 poder de expropriar, 0 poder policial, o poder tributirio, o poder regulamentar ou 0 poder de direceio sobre funcionérios, utentes ou membros de organizagbes piblicas™. 'b) Os deveres, em sentido amplo, inchuem as obrigagées (concretas) dos particulares, decorrentes da lei, de regulamento, de acto (imposi- tivo ou com encargos modais) ou de contrato administrativo ~ a que correspondem, em regra, direitos da Administracio de exigir a presta- Gio -, mas também os meros deveres (genéricos e, por vezes, inespecifi- 0s), decorrentes das normas juridicas administrativas!”. Estes deveres tém de resultar ou de se fundar na lei (em sentido am- plo) ou, no caso das obrigagbes, de contrato, A previsto legal de um dever pode ser directa, quando a lei expressa- mente o estabelega, ou indirecta, na medida em que o dever decorra do "Sto posigdes tipicas no contexto de um sistema de administragio executivs, embora 20 falar de “sujeigio” se pense hoje menos em “subordinasao” do que em “eventualidade de suportar (inelutavelmente) determinadas consequéncias do exereicio legitimo do poder”. O exercicio dos poderes adminitrativos diem regraorigem a relagbesjuridicasadministra- thas coneretas, que Integram outs poses jurdicassubjecias, " Podem ser obrigagdes ou dveres de fazer, de dar, dendo fazer (lnclulndo aqui os deveres getas de abstengio) ou de suportarlimitagbes concretas (sctfici ou lesfo, anda que com conversio no cquivalente econdmico) 20s seus direitos ~ como, per exemplo, os deveres de Aestrusio de bens insalubres, de desinfeccZo de instalagbes ou de vacinagfo de ana; 0s deveres concretos de pagamento de impostos ¢ taxa (veriGeado os preseupastos da tribu- ‘apfo); os deveres de nio construir ou de no obstruir a via plblic; os deveres de suportar uma determinada expropriagio, uma requisgéo ou uma fiscalizagi. ‘AvUSTIGA ADSINISTRATIVA exercicio de poderes administrativos legalmente previstos, mas, por forga do principio da precedéncia da lei, ha-de existir sempre, mesmo no dominio (externo) das “relagdes especiais de direito administrativo”, Quando a constitui¢do do dever implique a concretizago ou a restrigao de direitos, iberdades ou garantias fundamentais, tem de ser feita atra~ vés de lei parlamentar ou de decreto-lei autorizado™. ©) 05 dnus juridicos, em sentido estrito, existem sempre que o titu- lar de um poder ou faculdade tem a necessidade pritica de adoptar um Certo comportamento, caso pretenda assegurat a produgio de um efeito juridico favoravel ou nao perder um certo efeito til ja produzido™. Para alguns autores, nus nfo é uma posigéo desfavorivel, tra- tando-se, antes, de uma figura “mista” ou “compésita”, visto que a obri- ‘gicdo instrumental se associa a um poder ou a uma faculdade™. 3.1.3. Os “status” ou situagdes juridicas estatutirias Sio posigdes juridicas complexas, no contexto de relagGes juridicas dis- simétricas ou polissimétricas, que formam um conjunto ordenado de diret- tos edeveres, derivados, directa ou indirectamente, de um Unico facto ou acto juridico, como, por exemplo, os “status” de nacional (resultante do nascimento ou da naturalizagio), de municipe (decorrente da residén- dem ser vistas como dns, na medidsem que esteem caus observincia de um prazo de ‘ducidade, mas que incegram verdadeiros diets procedimental. Tr, © DOMINIO SUBSTANCIAL DA JUSTICA ADMINISTRATIVA dante ou de internado (consequéncia da admissio administrativa num cestabelecimento de ensino piblico ou num estabelecimento hospitalar). Sio caracterizados precisamente por formarem um conjunto orde- nado de posicoes juridicas (com caricter “objectivo ¢ regulamenta:”), que resulta da sua definigio genérica pela lei (por uma norma juridica) e da sua aplicagdo em bloco a todos os que se encontrem em determi- nadas circunstincias ou ingressem em determinado grupo ou categoria. Ao conttrio dos direitos e das obrigagdes “singulares”, as posigdes sub- jectivas integradas em “status” sio susceptiveis de ser modificadas por via normativa, sem que possam invocar-se regalias antigas, salvo as que constituam direitos subjectivos individualmente adquiridos", 32. As posiges juridicas da Administragio A capacidade juridica de direto piblico da Administragao (tal como a res~ pectiva capacidade de direito privado) é, desde logo, uma capacidade delimitada pelo principio da especiatidade, isto é, pelas atribuuigées legais de cada um dos entes pitblicos que a compéem. Contudo, nos termos do principio da legalidade (contraposto ao principio da liberdade), a capa- cidade juridica de direito piblico, mesmo no dominio contratual, a0 incluir poderes de autoridade, identifica-se ¢ é, por isso, também deli- mitada pela competencia que a le atribui aos respectivos Orgios. a) A Administragio Publica dispée, fundamental e caracteristica- mente, como se viu j, de poderes piblicas de indole geral, que sao pode- resedeveres ou poderes funcionais, porque visam sempre a prossecucio de interesses objectivos (¢/ou) de outrem ~ “interesses piblicos” ou o “in- teresse puiblico da comunidade”. Sao, por isso, salvo disposicio da lei em contririo, poderes imprescritiveis e, no estando na disponibilidade do respectivo titular, inaliendves e, em prinefpio, irrenuncidves. b) A Administragao é ainda titular, perante os administrados, de direitos e deveres piblicos concretos, muitas vezes decorrentes do exercicio dos seus poderes, no contesto de relagbes ou situagées deter minadas. ‘Tratar-se-é, na maior parte dos casos, de direitos e deveres obrigacio- ais ou transitivos (resultantes do exercicio de poderes administrativos ou de cléusulas contratuais), mas podem ser igualmente direitos absolutos "V, por exemplo, 0 Acsrdio do STA de 4/7/95 (P. 27030). AJUSTIGA ADMINISTRATIVA (por exemplo, direitos reiis sobre 0 dominio piblico ou direitos de clusivo de certas actividades) e deveres gerais de abstengio (em face liberdades individuais), 01 entio direitos potestativose sujeigoes (des damente no ambito dos contratos) ©) Nas relagiesinter-adminisrativas, os entes piblicos podem si em posigo de dominancia-dependéncia mais ou menos intensa (\., ‘exemplo, as relagées de superintendéncia do Estado sobre os institu piiblicos, ou dos municipios sobre a administragao indirecta municipal ‘bem como as relagées entre o Estado e os entes auténomos, ou entre. Regides Autonomas ¢ as autarquias, no ambito da tutela), hipéteses que essas relagées se podem aproximar das que ligam a Administ 0s particulares ~ assim, por exemplo, a actuagio do érgio de um i tituto pode depender da autorizagio ou aprovagdo ministerial, ou ti acto de um drgio municipal pode estar dependente de um parecer vin. culativo ou de uma aprovagio governamental!?, Mas podem relacion: se em posigio de paridade, sem prejuizo do caracter publico da rela que hi-de ser aferido pela ambiéncia de direito publico ~ seja nas re ‘ges intermunicipais ou interinstitucionais, seja nas relagdes entre: Administragio central ¢ as administragbes locais (por exemplo, no: bito de contratos-programa ou acordos de colaboracio). 4) Os entes ou 0s drgfos piblicos sio também titulares de p bes juridicas procedimentais ou processuais, nao s6 de posigdes passivas, ‘em correspondéncia com os direitos dos administrados, mas também de posigies activas, como veremos melhor. S80 de destacar desde j para além dos direitos dos entes administrativos em posigées de subor dinagio ou dependéncia (na medida do possivel equiparados aos pat ticulares), o direito de acesso aos tribunais administrativos para obtcr Providéncias contra outras entidades administrativas ou contra part culares. Cap/tulo IV Adimensao funcional da justica administrativa Se utilizarmos agora um critério funcional de delimitagio, temos de concluir que, actualmente, a justiga administrativa no abrange, como 0 /r6prio nome indica, todo e qualquer tipo de resolugio de controvérsias emergentes das relagbes juridicas administrativas, referindo-se apenas Aaqueles processos que, visando exclusivamente a solugdo de uma “ques- to de direito”, implicam 0 exercicio da fungio jurisdicional, isto é, aos litigios que se apresentem como questoesjuridicas a solucionar, através de ‘um process jurisdicional, por um tribunal, Parte-se de uma caracterizacio substancial da funcio jurisdicional, exigindo-se a intengio directa de resolugdo de uma questo de direito ea decisdo por érgios independentes, indiferentes e inoficiosos, segundo um process just e através de actos com autoridade de cas fulgado™. De algum modo, ji proprio conceito de “conencioso administrative” apontava para est dlimiagio, por contrapongio com os “metos gracious” (eclamaghes recursos) Mas, como, no modelo francés, 0 contenciso teve a su origem ro recurso hlrdrqueo, 2 Alsingto 36 se tor clara com a jursdcionalzago totale plena dos tribunals administa- tos. io aver, no entanto dividas de que € ese o sentido da reerénca deliitadora do artigo 212%, 283, da CRP a “acges eres conte” % Uizando as expresses de Castanuinina Nevis, a fungio juisdicionalcaacerea-se ela “intengio enolic” ~ procura dos “fundamen, do “alo do “sto”, con trposta a fangEo administra, que se caracteria por una “inten tecnogicosoial ~procursextratgica dos “fet” da “inidade”, do “i "A relagto de dependtniaanbém podem tr fontecontatual~ 0 argo 38%, 4o Caaigo das Cntratos Publis que prev hipétese de eonratscclcbrado ent com szaentes pics pelos quai um deles se submeta ao eacrilo de podees de autoriade eouro (cum que se epicao regime dos contratosadministatvos, com adapta) io *

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