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NIETZSCHE E LOU Correspondéncias e outros documentos Friedrich Nietzsche Lou Andreas von Salomé 1 edicao Rio de Janeiro, 2018 CopyrightoViaVérita EDIGCAQ, Monica Casa Nova CAPA E PROJETO GRAFICO Giovana Paape DIAGRAMAGAO ‘Alexandre Sacha Paape Casa Nova DADOSINTERNACIONAISPARA CATALOGAGAONAPUBLICACAO (Cip) N677n Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 1844-1900 Nietzsche e Lou : correspondéncia e outros documentos introdugao e tradugo: Marco Casanova. ~ 1. ed.~Rio de Janeiro: Via Verita, 2019. 180 p. il. (algumas color.) ;21 cm. ISBN: 978-85-64565-86-9 1. Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 1844-1900 - Correspondéncia. 2. Andreas-Salomé, Lou, 1861-1937 — Correspondéncia. 3. Fildsofos ~ Alemanha ~ Correspondéncia. I. Andreas-Salomé, Lou, 1861-1937 II. Casanova, Marco II]. Titulo. Roberta Maria de O. V. da Costa - Bibliotecaria CRB-7 5587 Todos os direitos dessa edigdo reservados & VIA VERITA EDITORA Rua Sara Vilela 560 Jardim Botinico - Rio de Janeiro, RJ, 2460-180 Tel: 21 24229109 iaverita.com.br / editorialaviaverita.com.br Lou Andreas Salome, Lembrangas de vida 1. Lou Salomé Lembrangas de vida De inicio aconteceu algo em Roma, que se sobrepés a nés: trata-se da chegada de Friedrich Nietzsche!, que tinha sido chamado por seus amigos, Malwida ¢ Paul Rée, para sair de Messina e ir a Roma, a fim de partilhar a nossa convivéncia. O inesperado aconteceu, uma vez que Nietzsche, mal tendo tomado conhecimento do meu plano € do de Paul Rée, logo se tornou 0 terceiro na liga. Até mesmo o lugar de nossa futura trindade logo foi determinado: deveria ser Paris (- originalmente, porum tempo, Viena ), onde Nietzsche gostaria de ouvir certos colegas e onde tanto Paulo Rée ha muito tempo tanto quanto eu através de Sao Petersburgo possuiamos relagdes com Ivan Turgeniev. Malwida até mesmo nos tranquilizou um pouco, na medida em que nos vira la abrigados por suas filhas de criagio Olga Monod e Natalie Herzen. Natalie mantinha um pequeno circulo, no qual mogas jovens liam com ela coisas belas. Mas Malwida teria preferido antes de tudo ver a senhora Rée acompanhande seu filho ¢ a senhora Nietzsche acompanhando seu irmao. Nossas brincadeiras eram alegres e inofensivas, pois nos ama- vamos todos juntos Malwida da maneira mais intima possivel, ¢ Nietzsche se encontrava com frequéncia em uma constituigao tao agradavel, que sua esséncia de resto algo comedida ou, mais corretamente, um pouco festiva se retraiu em favor dai, Lembro- -me de ter percebido esse elemento festive ja em nosso primeiro encontro, que ocorreu na Igreja de Sao Pedro, onde Paul Rée, em um confessiondrio que se encontrava em uma posigie partica~ larmente favoravel em relagio & luz, se submeteu, com fogo e devogao, as suas anotagdes de trabalho, e para a qual Nietesche linha sido por isso remetido, Seu primeiro camprimento para mim foram as palavras: “Caidos de que estrela fomos nds cond zidos ao encontro um do outro?” O que comegou tao fervorose, experimentou em seguida, porém, uma virada, que fez com que Paul Rée e eu recaissemos em novas preocupagdes em relagdo ao 1, Corrigido & mao: “tinham se entendido por carta, ¢ que chegou inew peradarnente de Messina, para partilhar nossa conviveneia, Lou Andreas Salomé, Lembrancas de vig vidg medida em que esse s€ viu incalculavelm, eio do terceiro elemento. Nietzsche tinha a 1 vista com isso naturalmente antes uma sieipibet da situa. cdo: ele tornou Rée 0 porta-voz de um pe ido de casamento, De maneira atenta ¢ cuidadosa, nos refletimos sobre qual serig pn athor forma de encontrar uma conciliaco, quue M0 colocasse lice unidade. Nés decidimos deixar dara em risco a nossa tripl a Nietzsche antes de tudo de maneira fundamental? a minha aversao por principio a todo casamento em geral, e,além disto, ‘a circunstancia de que eu vivia apenas da pensio geral de minha mae e que eu perderia a minha pequena pensao propria por mejg do casamento, pensao essa que estava destinada apenas a filhas solteiras da aristocracia russa. nosso plano, na complicado por ™ 2. Lou Andreas-Salomé, Lembrangas de vida Juando deixamos Roma, isso parecia de inicio resolvido; nos liltimos tempos, Nietzsche estava sofrendo cada vez mais de seus ataques” — da doenca, em fungdo da qual ele tinha precisado se licenciar outrora de sua cdtedra em Basiléia, e que se estabelecia como uma enxaqueca terrivelmente exagerada; por isto, Paul Rée ficou com ele, enquanto minha mie - tal como tenho uma vaga lembranga de ter acontecido — também considerou mais adequado sair em viagem comigo, de tal modo que nés s6 nos deparamos uma vez mais uns com os outros a caminho. Nés fizemos juntos entrementes uma parada em uma esta¢ao, por exemplo, em Orta, nos lagos da Italia superior, onde o vizinho Monte Sacro parecia nos manter cativos; a0 menos veio a tona uma irritag3o involuntaria de minha mae com 0 fato de Nietzsche e eu termos nos demorado demais no Monte Sacro, para pega-la a tempo, 0 que mesmo Paul Rée, que a estava entrementes entre- tendo, observou de maneira cdustica. Depois da Itdlia, Nietzsche deu um pulo até Basiléia para ver Overbeck, mas logo se juntov uma vez mais ands em Lucema, porque a intercessao romana de ee 2. A partir daqui uma nova versao escrita a mao. Lou Andreas Salomé, Lembrancas de vida Paul Rée em seu favor lhe pareceu em seguida insuficiente, de tal forma que ele queria conversar comigo pessoalmente - 0 que aconteceu, entao, nos Jardins dos LeGes de Lucerna. Ao mesmo tempo, porém, Nietzsche realizou também a fotografia de nés trés, apesar da violenta resisténcia de Paul Rée, que manteve durante toda a sua vida uma doentia aversio em relagao a imagem de seu rosto. Nietzsche, em uma atmosfera atrevida, nao apenas insistiu nisso, mas também cuidou pessoalmente de maneira zelosa dos preparativos em seus detalhes — tal como a pequena (pequena demais!) carroga, 0 ramo de lilases, o chicote etc. 3. Lou Andreas-Salomé, Lembrangas de vida Nicwesche voltou a Basiléia, Paul Rée seguiu conosco para Zurique, de onde ele retornou para a propriedade de familia dos Rées no Oeste da Prussia, em Stibbe junto a Tiitz, enquanto minha mae ficou comigo ainda um pouco em Zurique junto a amigos, com os quais eu tinha morado em sua encantadora sede campes- tre até a viagem para o Sul. Em seguida, a viagem prosseguiu (passando por Hamburgo (?)) para Berlim, jé na companhia de meu irmao mais proximo em termos de idade Eugéne, que tinha sido enviado por meu irmao mais velho, representando meu pai, para ajudar minha mae. Entao foram atigadas as Ultimas bata- thas: mas de minha parte o que mais me auxiliou foi a confianga que Paul Rée irrecusavelmente tinha incutido e que se apossara paulatinamente mesmo de minha mae, e, assim, a coisa terminou com meu irmao me levando até Paul Rée, sendo que Paul Rée veio ao nosso encontro em Schneidemiihl, no Oeste da Prissia e bandidos e protetores puderam trocar o primeiro aperto de maos. pe Correspondénciag 4, De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Zurique-Riesbach Naumburg, por volta de 23 de maio de 1882 Cara amiga Lou, Visite sim o professor Overbeck — seu apartamento fica na Eulergasse 53. — Aqui em Naumburg, em relacdo a vocé e a nds, permaneci totalmente em siléncio. Assim, fico mais independente e posso Ihe servir melhor. ~ Os rouxindis cantam toda a noite através de minha janela. — Rée é em todos os aspectos um amigo melhor do que eu sou e posso ser; preste bem atengao nessa diferenga! — Quando estou totalmente sozinho, enuncio com frequéncia, com muita frequéncia o seu nome — para 0 meu maior prazer! Seu F.N. Correspondéncias 5. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Hamburgo Naumburg junto a Saale ~ Pentecostes 28 de maio de 1882 Minha cara amiga, Vocé me escreveu adoravelmente para 0 coracao (¢ também para os olhos*)! Sim acredito em voc’: ajude-me a que eu sempre acredite em mim mesmo e possa honrar a nossa promessa e a vocé. “Da metade nos desacostumarmos Eno todo bom e belo ficarmos resolutamente vivendo” — Meu tiltimo plano para Ihe falar é © seguinte: Quero viajar para Berlim, no periodo em que vocé estiver na cidade, e a partir dai me recolher em uma das belas florestas profundas, que se encontram na vizinhanga de Berlim — préximo o bastante, para que possamos nos encontrar, quando nds quisermos, quando vocé quiser. Berlim mesma é para mim uma impossibilidade. Portanto: ficarei em “Grunewald” e esperarei todo o tempo em que vocé passar em Stibbe, Assim estarei 4 sua disposigao para todas as outras intengées: talvez encontre uma cabana de guarda florestal ou um presbitério na propria flores ta, onde vocé talvez possa ficar alguns dias em minha proximidade. Pois, sinceramente, desejo muito, assim 3. Nietzsche se refere nesse caso a uma carta enviada por Lou Salomé tum pouco antes de Zurique-riesbach para Pfingsten com uma foto de Lucena. Por isso, a mencdo aos olhos. A carta se perdeu. (N.T.) to oy 7 Correspondéncag | ar completamente a s0s com vocé. Tais seres solitarios, como eu, também precisam se acosty- mar lentamente a principio com as pessoas que The sao mais caras: seja quanto a isso indulgente ou um pouco amavel em relagdo a mim! Caso vocé queira, contudo, seguir viagem, é possivel encontrar nao muito longe de Naumburg uma outra floresta erma (nas vizinhancas de um Castelo de Altenburg; caso vocé queira, posso arranjar irma va até la. Enquanto todos os planos que possivel, fic para que minha i de verao ainda estiverem no ar, faco bem em manter junto eus um completo siléncio - nao por prazer com mas por “conhecimento dos homens”). Minha gostaria de me explicar oralmente sobre aos mi mistérios, cara amiga Lou, “os amigos” em geral e 0 amigo Rée em particular: sei muito bem 0 que digo, quando 0 considero um amigo melhor do que eu sou € posso ser. 6, o péssimo fotdgrafo! E, contudo: que silhueta adoravel nao esta sentada ai dirigindo a carroga! — Pas- saremos © outono, penso, ja em Viena ? A que espe- taculo vocé quer ir em Bayreuth? Rée tem um bilhete para o primeiro espetaculo, até onde sei. - Indo para Bayreuth, nao devemos procurar um local intermedidrio favoravel a sua satide? Nao falemos por hoje da minha. De todo o coracaa, seu F. N. As pessoas tém afirmado que nunca fui em minha vida mais forte do que agora. Confio em meu destino. — ; Correspondéncias 6. De Lou Salomé para Friedrich Nietzsche em Naumburg, Hamburgo, 4 de junho de (1882) Caro amigo, Um cordial aperto de mao por sua carta de pente- costes — ela foi o primeiro aceno de boas vindas no solo de Hamburgo e teria sido imediatamente respondida ha dois dias atrds, se um violento mal estar nao tivesse me prendido a cama. Entrementes, duas novas noticias chegaram, que dao uma direcao algo alterada aos nossos proximos planos: a carta de Rée sobre a sua partida para Warmbrunn por volta da metade de julho e algumas as de meu irmao mais novo com o antincio de que vird até aqui para buscar minha mie. Essa ultima noticia encurta a nossa estada em Berlim e estende a nossa por aqui a tal ponto, que seré muito dificil nos vermos na capital alema. Toda a minha esperanga, portanto, ¢ que Warmbrunn possa ser um lugar suportavel para vocé, para que possamos estar e trabalhar juntos por 1a, Um estar sozinho a dois nao é possivel por esse instante: é absolutamente indispensavel que meu irmao e minha mie saibam que estou agora com os Rées, ou seja, com a mulher de Rée. Algo dessa ordem se deixa arranjar muito melhor em Bayreuth, mas, como ¢ longe até 14, seria bom, se pudéssemos nos encontrar em Warmbrunn. Actedite, porém, que se abdico agora de um estar a sés com vocé, isso acontece apenas no interesse de nossos y 8 Correspondénga, proprios planos € pare que pongamws levar a termo tanto mais livre e seguramente no principal os nossos intuitos. Oralmente, eu Ihe comunico exatamente todas as razdes_ Eu as discuti também com Overbeck ¢ teria lhe escrito antes sobre a nossa conversa, se eu nao tivesse estado constantemente doente em Basiléia. Os Overbecks me com grande cordialidade e nés conversamos surgira a hora guiremos fazer receberam longamente juntos. Quando sera que aconchegante em que nds também conse; isso? Mas esperemos o melhor. — Recentemente, enquanto folheava em seu livro, me veio A cabeca a questao de saber por que 6 que pessoas comoa senhorita de Meysenburg sao tocadas de maneira mais simpatica por suas visbes do que por aquelas de Rée, apesar de vocé, dito a partir do ponto de vista delas, ser o pior dos dois. A sentenga principal de Rée, segundo a qual 0 juizo moral veio a ser, nao foi eternamente, nao é, para naturezas como ela, de modo algum tao ruim, contanto que ela possa acreditar em um desenvolvimento continuo do juizo moral a partir de inicios inaparentes, toscos, em diregdo, porém, em linha reta, a uma perfei- cdo qualquer, a uma moral absoluta qualquer. Seu livro aniquila essa crenga de maneira muito mais fundamental. Vocés sAo ambos como dois profetas voltados para o passado e para o futuro, dos quais um, Rée, descobre a origem dos deuses, enquanto © outro aniquila a aurora dos deuses. E, contudo, ha uma profunda diferenga nessa aspiracao aparentemente igual, que pode ser designada da melhor forma possivel com as suas prdprias palavras: enquanto 0 egoista de Rée, que ele procura levar em uma marcha rumo as “tltimas consequéncias” para o horror de Malwida, diz para si mesmo: “nossa tinica meta é uma Correspondéncias carreira satisfatoriamente feliz” -, vocé diz em algum lugar: “quando ¢ preciso se abster de uma vida feliz resta ainda a vida herdica”. A concepgao profundamente diversa do elemento egoistico em certo sentido, que da expressao a si mesmo e ao seu impeto mais prdprio, faz a diferenca ¢ imprimiria, caso se quisesse incorporar as intuigdes de vocés dois em dois homens, em um os tragos do egoista de Rée, no outro os de um heréi. Desta vez, nao escrevo para os seus othos — isso acontece porque preciso usar 0 travesseiro como apoio para a escrita. A aurora é meu tinico companheiro. Na cama, porém, ela me distrai melhor do que visitas, compras e poeira de viagens. Ah se eu pudesse dizer: até breve. Se vocé continu- ar sereno e saudavel, tudo ficaré bem. Nés somos bons viandantes e encontramos o caminho mesmo na mata. Sua Lou 7. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Hamburgo (Naumburg, 7 de junho de 1882) Quarta-feira Mi inha cara amiga, Como vocé, também estive bem doente e, tal como calculei, a partir do mesmo dia; isso me da uma espécie de amarga satisfagao ~ me é completamente insuportavel pensd-la sofrendo sozinha. Correspondé De Overbeck chegou para mim uma carta de oito paginas; na carta havia muito amor € admiracao por voeé e muito cuidado e preocupacao por nds dois. Nao é pouca coisa ver que o bom entendimento humang de tais amigos sdbrios € honestos esteja favoravel ao nosso proposito. — De resto, considero agora necessario me silenciar em relagao a esse Pro] ‘em relagdo aos mais proximos e a0s melhores amigos: nem a senhora Rée em Warmbrunn, nem a senhorita v, Meysenburg em Bayreuth, nem meus parentes devem quebrar suas cabecas e seus coragGes com coisas, para nés estamos e estaremos preparados; podem se mostrar para outros pésito até mesmo as quais nés, nés, coisas que, por outro lado, como fantasias perigosas. Estava tao pronto para Berlim e Grunewald, que podia viajar a qualquer hora. No entanto, s6 depois de Bayreuth € que vamos nos rever, nao é? Warmbrunn nao é nenhum lugar para mim; também me parece mais aconselhavel nao expor tao abertamente nossa trindade nesse verao quanto acabaria necessariamente acontecendo em uma estada em Warmbrunn:— para 0 bem de nossos planos de outono e de inverno. Sou conhecido demais nesta Alemanha. Também eu tenho agora auroras 4 minha volta, € nenhuma delas opressiva! Aquilo em que nao acreditava mais, encontrar um amigo de minha derradeira felicidade e sofrimento, me parece agora possivel - como a possibi- lidade urea no horizonte de toda a minha vida futura. Fico comovido, sempre que penso na alma corajosa & intuitivamente rica de minha adorada Lou. Correspondéncias Sempre escreva para mim como desta vez! Nao leio nada com mais interesse e com tanta facilidade quanto o que sai de suas maos, De todo 0 coracao Seu F.N. 8. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Hamburgo (Naumburg, supostamente 9 de junho de 1882) Sin pntitaoaaaaage nae descananen damedy algum & minha distancia quais sao as pessoas que pre- cisam ser necessariamente introduzidas em nossas in- tengGes; mas penso que queremos nos manter firmes na decisdo de introduzirmos apenas justamente as pessoas necessdrias. Adoro 0 encobrimento da vida e gostaria de todo o coragao que um falatério europeu fosse poupado deles e de mim. De resto, tenho associado a nossa vida conjunta esperangas tao elevadas que todos os efeitos colaterais necessarios ou contingentes tém me impres- sionado pouco: e o que quer que acontega, nds estamos dispostos a suporté-lo juntos e a jogar na Agua a cada noite todo o pacotinho ~ nao é verdade? Suas palavras sobre a senhorita Meysenbug me moveram a escrever-lhe em breve uma carta. Fornega-me indicagdes de como voce esta pensando organizar o seu tempo a partir de Bayreuth ¢ com que auxilios de minha parte vocé esta contando. Estou sen- Corresponds tindo agora uma necessidade enorme da montanha e da floresta: nao apenas a satide, mas também e ainda mais “a gaia ciéncia” me impele a solidao. Quero chegar ao fim, Seria adequado se eume dirigisse agora para Salz- burg (ou Berechtesgaden), ou seja, se me colocasse a caminho de Viena ? Quando estivermos juntos, escrever-lhe-ei algo no livro enviado. — Por fim: sou de fato inexpel todas as coisas; e ha anos nunca mais tive de me explicar ou de me justificar por uma acao qualquer diante dos homens. Gosto de deixar meus planos encobertos; que todo mundo fale sobre meus facta! ~ De qualquer modo, a natureza deu para cada ser diversas armas de defesa-e a vocé, ela deu a sua maravilhosa sinceridade do querer. Pindaro disse certa vez “venha a ser quem tu és”. Fiel e atencioso F.N. riente ¢ desajeitado em 9, De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Hamburgo (Naumburg,11 ou 12 de junho de 1882) Pais bem, minha mais amada amiga, vocé tem pronta para mim uma palavra boa, me alegra muito agradar-lhe. A terrivel existéncia de rentincia, que preciso levar e que é mais dura do que jamais 0 foi uma restri¢a0 vital ascética, tem alguns meios de consolo, que continuam Correspondéncias sempre tornando a vida para mim mais valiosa do que © ndo-ser. Algumas grandes perspectivas do horizonte espiritualmente moral sdio a minha fonte mais poderosa de vida, Fico tao feliz pelo fato de nossa amizade ter fincado suas raizes e suas esperangas justamente neste solo. Ninguém conseguira se alegrar de coragao tanto quanto eu com tudo aquilo que voeé fez ¢ planejou! Fiel, seu amigo F.N. Resposta a uma carta nao encontrada de Lou Salomé para Nietzsche em Naumburg por volta do dia 10 10. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Berlim. (Naumburg), Quinta-feira 15 de junho de 1882 Minha querida amiga, Ha mais ou menos meia-hora estou melancélico @ ha mais ou menos meia-hora me pergunto: por qué? ~ Para estar assim, nao encontro nenhuma outra razéo Sendo 0 antincio feito justamente por sua maximamente adoravel carta de que nés nao nos veremos em Berlim. Pois veja s6 que tipo de pessoa eu sou! Ou seja: amanha de manha por volta de 11horas e quarenta minutos pretendo estar em Berlim, na estacao central. 33 Corresponding, j fag Meu enderego &: Charlottenburg junto a Berlim, estacao de baldeagao. Minha intengao de fundo 61)---e2)queeu acompanhar em algumas semanas a Bayreuth, océ nao encontre nenhuma outra melhor ue se decidiu repentinamente! Com as mais cordiais saudagdes Seu amigo N, possa Ihe contanto que v' companhia, Isto foi oq Berchtesgaden acha-se para mim agora “fora de questo”. Por enquanto permanecerei em Grunewald. —Q manuscrito esta pronto. Pelo maior asno de todos 8 escritores! Levarei comigo para Berlim a introdugao, que traz como titulo “Chiste, astucia e vinganga”. Preludio em rimas alemaes. nao encontrada de Lou Salomé, supos- Resposta a uma carta ‘unho de 1882, para Friedrich Nietzsche tamente escrita em 14 dej em Naumburg. Correspondéncias Para a senhorita Lout 11. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Stibbe Domingo. (Naumburg, 18 de junho de 1882) Cara amiga, Em suma: fiz uma pequena viagem aparentemente bastante tola para Berlim, na qual experimentei um fracas- soem tudo; um dia depois, voltei, algo mais esclarecido do que antes sobre Grunewald e sobre mim mesmo -com um sorriso um pouco irénico e muito esgotado. — Hoje, porém, jd recai totalmente uma vez mais em minha fatalista “devogao a Deus” e acredito novamente que tudo precisa ter acontecido comigo para o meu melhor —até mesmo essa viagem a Berlim e sua quintesséncia (isto é, 0 fato de que nao a vi) ‘Gostaria tanto de poder trabalhar e estudar logo algo com vocé e preparei em funcdo disto belas coisas — regides nas quais ha fontes a serem descobertas, contanto que seus olhos queiram descobrir fontes precisamente ai (os meus j4 nao sao vivazes o suficiente para tanto!) Vocé sabe de qualquer modo que eu gostaria de ser © seu mestre, indicar o caminho que leva 4 produgdo cientifica, nao? — O que vocé acha sobre o tempo em Bayreuth? O que 4. Referéncia de Nietzsche a carta que aqui se segue, que ¢ anexada a uma carta para Paul Rée. w a Correspondénciag ido para vocé o mais desejavel, o mais salutar e 9 para este periodo de tempo? ancia vienense, é possivel teria S! mais almejavel justamente E, para o comego de nossa yislumbrar © més de setembro? Minha viagem instruiu-me uma vez mais sobre a minha tremenda falta de jeito, logo que percebo novos locais e pessoas a minha volta — acredito que os cegos sao mais cautelosos do que os quase cegos. Meu desejo em relacéo a Viena ¢ agora ser entregue como uma caixa em um quartinho da casa, em que voce morara. Ou na casa ao lado, como Seu fiel amigoe vizinho F. N. 12. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Stibbe Segunda-feira (Tautenburg, 26 de junho de 1882) M Uma meia-hora ao largo do Dornburg, onde 0 velho Goethe desfrutava de sua solidao, encontra-se, em meio a belos bosques, Tautenburg. Ai, minha boa ima estabeleceu para mim um ninho idilico, que deve me abrigar, entao, neste verao. Ontem tive uma visita; amanhi, minha irma viaja e eu estarei sozinho. Mas nés marcamos algo que talvez a traga de volta uma vez mais para ca. Supondo naturalmente que vocé nao inha cara amiga, Correspondéncias tivesse nenhum emprego melhor para o més de agosto e achasse propicio e factivel viver aqui comigo na floresta, entao minha irma iria acompanha-la até aqui a partir de Bayreuth e morar aqui com vocé na mesma casa (por exemplo, junto ao pastor, onde ela neste instante esta morando: o lugar tem quartos belos e modestos & sua escolha). Minha ira, sobre a qual vocé pode perguntar a Rée, esta precisando justamente de isolamento durante este tempo, a fim de chocar og pequenos ovinhos de seu pequeno romance. Para ela, é uma ideia extremamente agradavel poder estar em sua e em minha proximida- de. — Assim! E, entao, probidade “até a morte”! Minha cara amiga! Nao me sinto preso a nada e posso mudar meus planos da forma mais simples, se vocé tiver planos. E se eu nao dever estar junto de vocé, basta me dizer simplesmente —e vocé nao precisa nem mesmo indicar razdes para tanto! Eu confio completamente em vocé: mas vocé sabe disto. — Se combinarmos um com o outro, entéo nossas satides também combinarao, e em algum lugar haveré uma utilidade secreta. Até hoje nunca pensei que vocé deveria “ler em voz alta e escrever” para mim; mas de- sejaria muito poder ser seu mestre. Por fim, para dizer toda a verdade: busco agora pessoas que possam ser meus herdeiros; levo comigo por ai algumas coisas que nao tém de modo algum como serem lidas em meus livros ~ e busco para tanto o mais belo e mais fecundo terreno lavravel. Vocé consegue ver minha nostalgia! — Quando penso aqui e acolé sobre os perigos de sua vida, de sua satide: minha alma fica completamente cheia de ternura; nao saberia dizer nada que me trouxesse tio 37 Correspondéncias rapidamente paraasua proximidade. =E, entao, estoy sempre feliz de sabe: e nao apenas a mim. junto comigo e conversando é para mim um verdadeiro r que voce tem a Rée como amigo Pensar em vocés dois passeando prazer. — Grunewald era ensolarado demais para meus olhos, Meu enderego é: Tautenburg junto a Dornburg, Thueringen Lealmente Seu Amigo Nietzsche Ontem Liszt esteve aqui carta nao encontrada de Lou Salomé de Stibbe, junho de 1882, para Nietzsche em Naumburg burg). A carta tratava de noticias e sobre decia pela carta de 18 de junho, que ela Resposta a uma por volta de 24 de j (reenviada para Tauten’ a vida em Stibbe e agra encontrou 1a. Lou Salomé respondeu a essa carta em 30 de junho de 1882 (sd se encontrou o envelope da carta). 43. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé Tautenburg, 27/28 de junho de 1882 Cara amiga, Como me alegrei ao ouvir do bom navio que ele tinha chegado a um porto tranquilo! Por um instante, Correspondéncias vamos estar entre as pessoas mais satisfeitas que ha. Esta Tautenburg encanta-me e combina comigo em tudo e em cada coisa; e uma vez mais me sinto surpreso neste ano maravilhoso por um presente inesperado do destino. Para meus olhos e para as minhas inclinagées solitarias, aqui é 0 paraiso; compreendo 0 aceno de que o tempo de minhas andangas meridionais passou; a viagem de Messina a Grunewald langou uma pa de cal nesse passado. Entrementes, comuniquei tudo aquilo que concerne a senhora 4 minha irma. Depois de um longo periodo de separagao, eu a achei muito desenvolvida e mais madura do que anteriormente, digna de toda confianga e muito amavel comigo. Seus préprios planos para o inverno foram nesse interim fixados (ela vai para Génova, para o meu apartamento de 14, seguindo depois para Roma); meu temor de que seus planos pudessem se cruzar com os meus em relagao a Viena foi com isto dissipado. Alias, ela tem agora as suas préprias inclinagdes para © recolhimento e para “nao se deixar influenciar” — e, assim, acredito, em suma, que a senhora deveria tentar algo com ela ¢ conosco. - Mas todo o meu mutismo nao era necessario, é 0 que a senhora deve estar pensando agora! Eu 0 analisei hoje e encontrei como fundamento ultimo: a desconfianga em relacado a mim mesmo. Fiquei literalmente fora de mim ao me deparar com © evento que foi ter angariado mais um “novo ser humano” para a minha vida —em consequéncia de uma soliddo por demais rigorosa e da realizagao de uma abdicagao de tudo aquilo que é amor e amizade. Eu precisei me silenciar, porque falar sobre a senhora teria constantemente me desnor- teado (isto me aconteceu em relagao ao bom Overbeck). Pois bem, eu vos conto isto, para que a senhora ria. As 39 Correspondénciag de maneira sempre humana, coisas se passam comigo e minha estulticia cresce com demasiadamente humana, aminha sabedoria. Isto me lembra de minha Gaia ciéncia. Quinta-feira chegam 0S primeiros cadernos de provas e domingo a Ultima parte do manuscrito deve ser entregue para a im- pressao. Tenho estado agora cada vez mais ocupado com guisticas muito finas; a iltima decisio sobre mais escrupulosa “escuta” em relacao Os escultores denominam 0 tltimo ~ Com este livro conclui-se aquela questoes lin; © texto impele a a palavra e a frase. trabalho “ad unguem”*. série de escritos, que comega com Humano, demasiada- mente humano: com todos eles juntos deve ser erigida ‘ama nova imagem e um novo ideal do espirito livre”. Que nao se trata aqui naturalmente “do homem livre da acao” é algo que a senhora ja deve ter desvendado ha muito tempo. Ao contrério — aqui, porém, quero concluir e rir, De todo coragao a voce E.ao amigo Rée devotado EN. 5. Em latim no original: 4 unha. (N. T.) 40 Correspondéncias 14. De Lou Salomé para Friedrich Nietzsche em Tautenburg, (Tat, 30 de junho de 1882) Ao Prof. Dr. Nietzsche Tautenburg junto a Dornburg em Thiiringen, Carta nao encontrada. Envelope selado e vazio. 15. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Stibbe Tautenburg junto a Dornburg (2 de julho de 1882) Thiiringen Minha querida amiga, Agora 0 céu esta claro sobre mim! Ontem ao meio- -dia as coisas se passaram comigo como se fosse meu aniversario: a senhorita enviou-me a sua anuéncia, o mais belo presente, que alguém poderia ter dado agora para mim ~ minha irma mandou cerejas, Teubner enviou os trés primeiros blocos de provas da Gaia Ciéncia;e, além de tudo isto, concluiu-se a tiltima parte do manuscrito ©, com isto, a obra de seis anos (1876-1882), toda minha 41 42 Correspondéncias “algazarra dos espiritos livres”! O, que anos! Que suplicios de todo tipo, que soliddes e enfados com a vida! Econtra tudo isto, por assim dizer contra a morte e a vida, ey fabriquei o meu remédio, estes meus penuamening com seus pequenos, pequeninos tracos de uy céu sem nuvens sobre si:— 6 querida amiga, quanto mais penso em tudo isto, mais fico comovido e tocado, de tal modo que nao sei como é que isso pode ter sucesso: a autocompaixaoe o sentimento da vitoria me preenchem completamente. Pois trata-se de uma vitoria, e uma completa — pois até mesmo minha satide corporea veio uma vez mais a tona, nio sei de onde, e todos me dizem, que estou parecendo mais jovem do que nunca. O céu me protege de tolices! ~ Mas a partir de agora, onde quer que a senhorita venha a me dar conselhos, eu estarei bem aconselhado e nao tenho 0 que temer. — No que concerne ao inverno, pensei s¢ria ¢ exclusi- vamente em Viena : os planos de inverno de minha irma so completamente independentes dos meus, nao ha ai nenhuma segunda intengao. Para mim, o Sul da Europa esta agora fora de questéo. Nao quero mais estar sozinho € quero uma vez mais aprender a me tornar humano. Ah, quanto a esse diapasao ainda tenho de aprender quase tudo! — Receba meu agradecimento, querida amiga! Tudo ficara bem, como vocé disse. Transmita ao nosso Rée tudo que ha de mais cordial! Completamente seu EN. Correspondéncias 16. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Stibbe Tautenberg junto a Dornburg (Thiiringen) (16 de julho de 1882) Pois bem, minha cara amiga, por agora tudo esta bem, e domingo, depois de oito dias, nos vemos de novo. Talvez, minha tiltima carta para vocé nao tenha chegado as suas maos. Eu a escrevi domingo, ha 14 dias. Seria para mim uma pena; eu descrevi a vocé nessa carta um momento muito feliz: muitas coisas aconteceram de uma vez para mim, ¢ “o sumo do que havia de bom” nessas coisas foi a sua carta de anuéncia! = Nao obstante: quando se tem uma boa confianca reciproca, até mesmo as cartas podem se extraviar. Eu pensei muito em vocé e compartilhei com voce em muitos aspectos no espirito do sublime, tocante e sereno 0 fato de eu ter vivido como que ligado & minha veneranda amiga. Se vocé soubesse como isso se mostra de maneira nova e estranha para mim, um velho eremita! —Quantas vezes nao precisei rir de mim! No que diz respeito a Bayreuth, estou satisfei- to comigo por nao precisar estar 14; e, contudo, se eu pudesse estar de maneira completamente espiritual em sua proximidade, segredando isto e aquilo em seus ouvidos, talvez até mesmo a musica do Parsifal me fosse suportavel (de outro modo, ela nao me ¢ suportavel de maneira alguma). 43 Corresponding ria que voce lesse antes meu pequeng escrito “Richard Wagner em Bayreuth”; 0 nosso amigg Rée ja o tem em suas Ma0s- Eu vivenciei tantas coisas em, 4 se homem & asua arte — foi uma paixao muito Jonga: na nenhuma outra palavra para tanto, igida, 0 reencontrar-a-mim-mesmo Eu gosta que se to} inte necessario para mim, esta entre as coisas mais dificeis € mais melancolicas em meu 0, As ultimas palavras escritas de Wagner para destin mim encontram-se em um belo exemplar de dedicatéria do Parsifal: “Ao meu caro amigo, F riedrich Nietzsche, conselheiro eclesidstico”. Exata- Richard Wagner- Alto te ao mesmo tempo che; sia gouaté ele, enviado pormim, men meu livro Humano, dema: isto, tudo ficou claro, na mesmi chegou ao fim. O quao frequentem ment damente humano — e, com a medida em que tudo ente eu, em todas as coisas te isto: “Tudo ficou claro, que tudo chegou ao fim"! poder pensar em minha Jago a nds dois: “Tudo possiveis, vivenciei exata) na mesma medida, porém, em E 0 quao feliz estou por querida amiga Lou agora em rel esta no inicio e, no entanto, tudo esta claro!” Confia em mim! Confiemos em nds! Com os mais cordiais desejos em relagao a sua viagem Seu amigo 4 Nietzsche Paneth ie Tove um acordo por carta entre Lou von Salomée = sobre 0 seu encontro em Leipzi; irem ee h em Leipzig, para seguite! igem a partir dai para Beyreuth no dia 24 de julho de 882. Paul Rée de Kreu: ) 2, y Sense ta ne eae ome Pe Lou vor Correspondéncias Lou von Salomé de Leipzig, no dia 23 de julho de 1882, manda um telegrama para Paul Rée em Stibbe, Lou von Salomé de Leipzig, no dia 24 de julho de 1882, escreve para Paul Rée em Stibbe, sobre 0 encontro com Elisa. bethe Nietzsche. Lou von Salomé de Leipzig, no dia 24 de julho de 1882, escreve para Nietzsche em Tautenburg. 17. De Lou Salomé para Friedrich Nietzsche em Maumburg Bayreuth, 2 de agosto (1882) Caro amigo, Na espera de sua carta, que o telegrama® me promete, apenas essas poucas palavras. Antes de tudo obrigada por sua amistosa preocupagao e, entao, pela sugestao sobre se ndo poderiamos ficar em Jena, uma vez que Tautenburg seria desaconselhavel com esse tempo. Com certeza, ha por l4 muitos pequenos alojamentos en attendant, até que o céu nos abra uma vez mais um filete azul e ensolarado, deixando luzir alguns raios de sol pelas matas de Tautenburg. Acho realmente tao triste que nés, em virtude dessa chuva melancélica, que talvez ainda se mantenha por semanas, devamos ficar separados e que 0 més de agosto passe de modo tao iniitil. Em Jena estamos tao proximos de Tautenburg, que a podemos alcangar com o primeiro raio de sol que irromper. O que er Eee eer 6. Frig Nietzsche envia de Naumburg um telegrama para Lou von Salomé no dia 2 de agosto de 1882, em Beyreuth. O telegrama se perdeu. - & Corresponding. 3? Sobre Bayreuth ndo vou lhe escrever nag, apressado hoje, pois nao" hd como nao falar muito sobre 3 cidade. Sua irma, que agora também € quase minha irmg [he contara tudo daqui—a presenga dela foi um graitde apoio para mim e sou muito grata a ela. Sobre 08 nossos planos de inverno, tenho muito a conversar com voce, caro amigo, acho que precisamos abdicar de Viena em favor de Munique. Mas quanto 2 isso é preferivel conversar oralmente; — como quer que seja, nds jé nos organizamos que inverno, apesar de todos os obstaculos, nos seja amistoso. — Estou enviando minha carta para Naumburg, porque 0 telegrama la redigido me 1 refigio na cidade da umidade desejo de todo coracao que voce Je a sua irma por mim. Na tro —o quao cordialmente comegar nossa vida voc’ achi e queremos fazer com ° indica que vocé buscot de Tautenburg. Agora, fique bem! Agradecae congratul esperanga deum breve reencont desejo poder apertar logo sua maoe tranquila e laboriosa! Sempre sua Lou Friedrich Nietzsche de Naumburg, 2 Lou Salomé em Bayreuth: a carta anuncia perimentada como ofensiva por Lou v. Ss: Carta de Lou von Salomé de Bayreuth, no de 1882, para a Senhora Rée, comunicando que el: sua partida em 1 de agosto para Tautenburg por raz6es 46 de agosto de 1882, par da no telegrama; dia lou2 de agosto fa tinha de adiat # de saude- Correspondéncias 18. De Friedrich Nietzsche para Lou Salomé em Bayreuth (Tautenburg, 4 de agosto de 1882, Domingo) 7e © quao duro se tornou mesmo o compromisso de um amigo, que ainda agora vem ao meu encontro, Queria viver sozinho, = Mas eis que 0 caro passaro Lou passou voando pelo caminho, e achei que seria uma guia. E, entio, gostaria que a dguia ficasse perto de mim, Vem pra junto de mim, sou por demais sofredor Para tomar voeé sofredora. Nés suportamos tudo melhor um com 0 outro. F.N. Lou von Salomé de Bayreuth, 5 de agosto de 1882, para Frie- drich Nietzsche em Tautenburg: confirmacao do encontro.em Jena (com Elisabethe Nietzsche) e Tautenburg, no dia 7 de agosto. — 7. Da carta s6 resta um fragmento. (N.T:) 47 Low Andreas Salomé, Lembrancas de yig a s von Salomé, vida qo, Low Andrea Lembrangas de De Bayreuth estava planejado que eu e Nietzsche «untos por varias semanas em Thiringen fieariamos j de fui morar casu- Tautenburg junto a Dornburg ~ on aimente em uma casa, cujo dono, 0 pastor do lugar, se revelou como um antigo aluno de meu principal professor Alois Biedermann. De inicio, parecem ter tzsche querelas, provocadas em Zurique, ocorrido entre mim e Niet falatério, o que permaneceu para mim incompreensivel, porque nao condiz de modo algum com a realidade, ¢ das quais nés logo nos livramos, a fim de vivenciar uma rica convivéncia, afastando ao maximo possivel terceiros que pudessem nos perturbar. Eu entrei aqui muito mais profundamente do que em Roma ou pelo caminho no circulo de pensamento de 30 conhecia ainda de suas obras nada além loe da por todo tipo de Nietzsche da Gaia Ciéncia, que ele ainda estava elaborand qual ele ja tinha nos lido em voz alta partes em Roma: em discussées de tal tipo Nietzsche e Rée tiravam as palavras da boca, pertenciam ha muito a mesma diregao espiritual, ao menos desde o abandono de Wagner por parte de Nietzsche em todo caso. O privilégio do modo de trabalho aforismatico, imposto a Nietzsche por sua doenca e por seu modo de vida, ja era desde o princi io para Rée o seu; ele perambulava desde sempre com algum Larochefoucauld ou com um De la Bryére 9? bolsa, assim como ele permaneceu desde o seu pequen? escrito inaugural “Sobre a vaidade” constantemente com Lou Andreas Salomé, Lembrangas de vida © mesmo espirito. Em Nietzsche é se sentia, porém, aquilo que deveria conduzi-lo para além de suas coletaneas de aforismos e em direcao ao “Zaratustra”: 0 Profundo movimento daquele que buscava Deus, Nietzsche, que veio da religio e se dirigia para a profecia da religiao. 49

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