You are on page 1of 11

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/plano-de-aula/4299/reconhecendo-os-diferentes-tipos-de-argumentos-em-textos-de-opiniao

Planos de aula / Língua Portuguesa / 8º ano / Análise linguística/Semiótica

Reconhecendo os diferentes tipos de argumentos em textos de opinião


Por: Cláudia De Jesus Abreu Feitoza / 23 de Janeiro de 2019

Código: LPO8_06SQA08

Sobre o Plano

Este plano de aula foi produzido pelo Time de Autores NOVA ESCOLA
Professor-autor: Cláudia Feitoza
Mentor: Cristiani Fernandes
Especialista: Isabel Fernandes

Título da aula: Reconhecendo os diferentes tipos de argumentos em textos de opinião

Finalidade da aula: Reconhecer organizadores textuais (conjunções, locuções conjuntivas e outras formas de coesão) e seu papel na organização do
texto e introdução dos argumentos e seu papel na construção de sentido nos textos (efeitos semânticos e coerência), de modo a conseguir
organizar e articular as partes do texto argumentativo.

Ano: 8º ano do Ensino Fundamental

Gênero: Artigo de opinião

Objeto(s) do conhecimento: Estilo / Argumentação: movimentos argumentativos, tipos de argumento e força argumentativa / Modalização

Prática de linguagem: Análise Linguística e Semiótica

Habilidade(s) da BNCC: EF69LP17/EF89LP14/EF89LP16/EF08LP16

Sobre esta aula: Esta é 8ª aula de uma sequência de 15 planos de aula com foco no gênero artigo de opinião e no campo de atuação jornalístico/midiático.
A aula faz parte do módulo de Análise Linguística e Semiótica.

Materiais necessários:

- Tabela de organizadores textuais, disponível aqui.

- Atividade de reorganização dos fragmentos do texto, disponível aqui.

- Gabarito da atividade, disponível aqui.

Informações sobre o gênero: O artigo de opinião faz parte do campo midiático da esfera jornalística. Pode aparecer em jornais/revistas (impressos e
virtuais) e sites. Tem por objetivo convencer o leitor a respeito de um tema polêmico, isto é, que divide a sociedade, e precisa ser de interesse social.

Dificuldades antecipadas: Utilizar adequadamente os organizadores textuais e identificar seus diferentes sentidos.

Referências sobre o assunto :

KOCH, I.V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2013.

MESQUITA, Elisete Maria de Carvalho. O uso de conectores em artigos de opinião. Anais do SIELP. Volume 2, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2012. ISSN
2237?8758. Disponível em: <http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/07/volume_2_artigo_113.pdf>. Acesso em 16.11.2018.

Materiais complementares

Documento
Atividade para impressão - Quadro organizadores textuais
Quadro organizadores textuais
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/3e5H3FWwANeyTS6yeWw6k7x8BFAH8t5wvAY6w4PFNUeh4djVEfF4pMhHCvvj/atividade-
para-impressao-quadro-organizadores-textuais-lp08-06sqa-08-1.pdf

Documento
Atividade para impressão - O vagão cor-de-rosa
O vagão cor-de-rosa
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/nsn9xvnKcgnJnkgU972cpJznUUnSFw7NeWXRetCejzwZ5SEHUPtjnXv9Mubh/atividade-para-
impressao-o-vagao-cor-de-rosa-lp08-06sqa-08.pdf

Documento
Resolução da atividade - O vagão cor-de-rosa
O vagão cor-de-rosa
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/Uz4wfb99HJ7ArsBCgManGuK28s39JuQrWAsmKGp9dFJqbd6RsQKEEk8V4FAw/resolucao-da-
atividade-o-vagao-cor-de-rosa-lp08-06sqa-08.pdf

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Plano de aula

Reconhecendo os diferentes tipos de argumentos em textos de opinião

Slide 1 Sobre este plano


Este slide não deve ser apresentado para os alunos, ele apenas resume o conteúdo da aula para que você, professor, possa se planejar.
Sobre esta aula: Esta é 8ª aula de uma sequência de 15 planos de aula com foco no gênero artigo de opinião e no campo de atuação
jornalístico/midiático. A aula faz parte do módulo de Análise Linguística e Semiótica.
Materiais necessários:
- Tabela de organizadores textuais, disponível aqui.
- Atividade de reorganização dos fragmentos do texto, disponível aqui.
- Gabarito da atividade, disponível aqui.
Informações sobre o gênero: O artigo de opinião faz parte do campo midiático da esfera jornalística. Pode aparecer em jornais/revistas (impressos e
virtuais) e sites. Tem por objetivo convencer o leitor a respeito de um tema polêmico, isto é, que divide a sociedade, e precisa ser de interesse social.
Dificuldades antecipadas : Utilizar adequadamente os organizadores textuais e identificar seus diferentes sentidos.
Referências sobre o assunto:
KOCH, I.V. A coesão textual . São Paulo: Contexto, 2013.
MESQUITA, Elisete Maria de Carvalho. O uso de conectores em artigos de opinião. Anais do SIELP. Volume 2, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2012.
ISSN 2237?8758. Disponível em: <http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/07/volume_2_artigo_113.pdf>. Acesso em
16.11.2018.

Slide 2 Título da aula


Tempo sugerido : 1 minuto
Orientações:
Inicie a aula apresentando a proposta de trabalho.
Explique aos alunos que existem grupos de palavras que servem para “costurar” as ideias do texto e os parágrafos e que isso é necessário para que
um texto fique claro e coerente.

Slide 3 Introdução

Tempo sugerido: 9 minutos


Orientações:
Projete este slide ou anote-o no quadro e questione oralmente os alunos se as frases estão coerentes (adequadas) e o que há de incoerente.
Espera-se que os alunos percebam que as frases não estão coerentes e que isso se dá pela quebra da lógica com o emprego da palavra “portanto”
entre as ideias de cada frase.
Explique aos alunos que a palavra “portanto” é a responsável por estabelecer a coesão entre as ideias de cada frase, mas que nesse caso não ficou
coerente.
Questione os alunos sobre as questões reproduzidas no quadro oralmente.
Quais palavras podem ser usadas para substituir o “portanto” na frase I de modo que a oração fique coesa e coerente?
Quais mudanças seriam necessárias fazer na frase II sem substituir (apenas acrescentar palavra(s)) de modo que fique coerente?
Para essas duas questões, temos como expectativa de respostas:
Outros organizadores textuais, como “mas, porém, contudo” deixam a frase coesa e coerente.
Saí de casa atrasado, portanto não cheguei cedo.
A ideia estabelecida pela palavra “portanto” é de consequência. Explique aos alunos que as conjunções são responsáveis por estabelecer
determinados sentidos, “ porque”, por exemplo, dá ideia de explicação, “mas” de oposição e assim sucessivamente.

Slide 4 Desenvolvimento
Tempo sugerido: 30 minutos
Orientações:
Organize a sala em duplas de modo que os alunos possam discutir sobre a adequação dos organizadores textuais em cada lacuna.
Distribua para cada um o texto “O vagão cor-de-rosa” desta atividade disponível aqui .
Explique aos alunos a proposta indicada neste slide.
Oriente-os a empregar conjunções e organizadores textuais produzindo o sentido indicado na dica dos parênteses.

Slide 5 Fechamento
Tempo sugerido : 10 minutos
Orientações:
Para encerrar esta aula, retome a leitura do texto procedendo com a correção oral a partir do link com as expectativas de respostas, disponibilizadas
aqui.
Peça para que cada aluno do número de chamada da lacuna correspondente fale a resposta colocada.
Esta é uma forma de apenas um deles falar de cada vez.
Conforme os alunos forem falando suas respostas, analise outras possibilidades de organizadores textuais que eventualmente tenham colocado.
Verifique se os sentidos estabelecidos são possíveis no texto, ainda que sejam diferentes do original.
Peça para os alunos se atentarem ao fato de que não basta colocar os organizadores textuais, eles precisam ser bem empregados, pois senão o texto
seu texto pode ficar incoerente, como aconteceu nas frases da discussão inicial da aula.
Para finalizar, distribua a tabela de organizadores textuais, disponível aqui, explicando que deve servir como fonte de consulta para redigir os textos
e promover a coesão e coerência.
Por fim, peça aos alunos para construírem coletivamente um conceito para a pergunta: “O que são organizadores textuais?”.
Para validar esta construção, tenha por base o conceito:
As palavras que ligam ideias, frases, parágrafos e partes dentro de um texto são chamadas de organizadores textuais.
A função dessas palavras é estabelecer a coesão dentro de um texto.

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Plano de aula

Reconhecendo os diferentes tipos de argumentos em textos de opinião

Apoiador Técnico

Associação Nova Escola © - Todos os direitos reservados.


Quadro organizadores textuais 
  
SIGNIFICADO  CONECTIVOS LINGUÍSTICOS 

Prioridade, relevância  Em primeiro lugar, antes de mais nada, antes de tudo, 


antes de qualquer coisa, exclusivamente, 
primeiramente, acima de tudo, precipitadamente, 
principalmente, sobretudo, em sua maioria. 

Tempo (freqüência,  Então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo 


duração, ordem,  após, a princípio, pouco antes, pouco depois, 
sucessão,  anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por 
anterioridade,  fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, 
posterioridade  frequentemente, constantemente, sempre, raramente, 
não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse 
ínterim, nesse meio tempo, enquanto, quando, antes 
que, logo que, sempre que, desde que, cada vez que, 
apenas, quanto mais. 

Semelhança,  Igualmente, da mesma forma, assim também, do 


comparação,  mesmo modo, similarmente, semelhantemente, por 
conformidade  analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, 
de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo 
ponto de vista, tanto quanto, assim como, bem como, 
como se 

Condição, hipótese  Se, caso, eventualmente 

Adição, continuação  Além disso, (a) demais, outrossim, e, nem, “não só, mas 
também” 

Dúvidas  Talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem 


sabe, é provável, não é certo, se é que 

Certeza, ênfase  De certo, por certo, certamente, individualmente, 


inquestionavelmente, surpreendentemente 

Ilustração,  Por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou 


esclarecimento  por outra, a saber 
Propósito, intenção,  Com o fim de, a fim de, com o propósito de, com a 
finalidade  intenção de, para que 

Resumo,  Em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em resumo, 


recapitulação,  portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, desse 
conclusão  modo, logo 

Causa, conseqüência  Por conseqüência, por conseguinte, como resultado, 


por isso, em virtude de, assim, de fato, com efeito, 
porque, pois, portanto, pois que, já que, uma vez que, 
visto que, por 

Contraste, oposição,  Pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos, 


restrição  mas, contudo, todavia, entretanto, embora, apesar de, 
ainda que, mesmo que, posto que, por mais que, por 
menos que 

Proporção   À medida que, quanto mais, quanto menos,  

Correção/Substituição  Ou seja, ou melhor. 

 
O vagão cor-de-rosa 
 
Por Luiz Rufato 
 
  O  governo  do  Estado  de  São Paulo vetou a criação dos chamados “vagões 
rosa”,  destinados  (1)  ________________________________​(prioridade)  às  mulheres  nos 
sistemas  de  metrô  e  trens  metropolitanos. O argumento é o de que, ao invés de 
alcançar  o  objetivo  almejado,  combater  o  assédio  sexual,  a  medida  ampliaria 
ainda  mais  a  segregação,  punindo  a  vítima,  não  o  agressor.  (2) 
___________________________​(conformidade)  esse  raciocínio,  ações  como  esta  não 
ajudam  em  nada  a  luta  contra  o  machismo,  (3)  ______________​(oposição)  apenas 
perpetuam uma situação de violência. 
  Eu  compreendo  que  a solução para esse problema não está na separação 
de  homens  e  mulheres,  mas  sim  na  vivência  harmônica  entre  eles.  Fato  é, 
(4)___________________​(oposição)​,  que  a  coexistência  em  igualdade de condições só 
ocorre  (5)  ________________​(tempo)​,  por  meio  da  educação,  se  transforma  uma 
cultura.  O  machismo  é  um  comportamento  derivado  de  uma  visão  de  mundo 
deformada,  plantada  pelos  pais  desde  o  berço,  alimentada  pela  escola 
(6)_______________​(adição)  legitimada  pela  sociedade.  Mudar  essa  mentalidade, 
(7)_________________​(conclusão)​,  implica  um  empreendimento  continuado 
envolvendo  a  família,  as  instituições  de  ensino  e  as  várias  instâncias 
governamentais. E isso demanda um esforço conjunto por algumas gerações. 
  Ao  rejeitar  a  implantação  dos  “vagões  rosa”,  o  governo  acenou,  como 
alternativa,  com  o  aumento  no  quadro  de  seguranças  femininas  e  a  instalação 
de  câmeras  de  vigilância  nas  estações.  (8)______________​(substituição)  ,  repressão, 
não  educação.  Quem  utiliza  transporte  público,  (9)  ______________________​(adição) 
em  São  Paulo,  (10)_______________​(adição)  em  todo  o  país,  conhece  sua 
precariedade.  Confinados  em  espaços  reduzidos,  homens  aproveitam-se  da 
superlotação  para  humilhar  as  mulheres,  encoxando-as,  bolinando-as, 
beliscando-as,  beijando-as,  encarando-as,  passando  a  mão  em  seus  corpos, 
sussurrando  safadezas  em  seus  ouvidos.  Apenas  nos  sete  primeiros  meses 
deste  ano,  a  Delegacia  de  Polícia  do  Metropolitano  de  São  Paulo  deteve  33 
homens  acusados  de  abusar  de  passageiras.  (11)_____________​(oposição)  sabe-se 
que  o  número  de  episódios  é  muito  maior,  (12)  _______________​(causa)  a  maioria 
das  mulheres  reluta  em  denunciar  casos  de  assédio,  (13)_______________  ​(causa) 
sentirem  vergonha,  por  desconhecerem  seus  direitos,  por  medo  de  serem 
constrangidas  em  delegacias  onde  imperam  homens  ou  simplesmente  por  não 
acreditarem na eficácia da polícia. 
  A  legislação  é quase omissa em relação a casos de abuso contra mulheres 
no  transporte  coletivo.  O  ato  de  importunar  alguém  publicamente  de  modo 
ofensivo  é  tratado  (14)_________________​(comparação​)  mera  contravenção,  cuja 
pena se limita ao pagamento de multa. [...].  
  A  criação  de  “vagões  rosa”  no  sistema  de  transporte  coletivo  não  é, 
(15)__________________​_(​ certeza)  a  maneira  mais  apropriada  de  lidar  com  a 
mentalidade  machista  que  grassa  entre  os  brasileiros,  independente  da  classe 
social  a  que  pertençam.  Mas,  (16)  _____________​(certamente​),​   serve  como  um 
paliativo  para  aliviar  as  pressões  contra  as  trabalhadoras  e  estudantes  que  não 
têm  opção  para  ir  e  vir  de  casa  para  o  trabalho  ou  a  escola.  O  tempo  médio 
gasto  nos  deslocamentos  em  São  Paulo  é  de  cerca  de  2h49m  –  sendo  que  19% 
do  total  da  população  consome  até  quatro  horas  por  dia.  E 
(17)_________________________​(proporção)  longe  do  centro  mora-se,  (18) 
________​(adição) ​ saturadas e deficientes são as conduções públicas. 
  O  veto  à  existência  de  “vagões  rosa”  cerceia  o  direito  das  mulheres,  as 
principais  interessadas, de poder escolher como preferem se mover pela cidade, 
se  em  vagões  exclusivos  ou  mistos.  (19)_________________________​(conclusão)​,  nada 
mais  ultrajante  que,  (20)_____________​(tempo)  um  dia  exaustivo  e  tenso,  entrar 
num  trem  ou  metrô  e  ficar  exposta  a  homens  de  comportamento  agressivo  e 
predatório,  que  acreditam,  (21)________________________________​(p
​ rioridade​)  (59%), 

que  “(22)_____________​(condição)  as  mulheres  soubessem  se  comportar,  haveria 


menos  estupros”  –  estima-se  que  o  número  de  casos  alcance  mais  de  500.000 
por  ano,  sendo  que  nem  10%  deste  total  chegam  a  ser  comunicados 
oficialmente. 
  (23)________________​(condição)  uma  gripe  nos  atinge,  a  recomendação  é 
para  que  aliviemos  seus  desagradáveis  sintomas  –  febre,  dores  generalizadas  e 
tosse  –  tomando  antitérmicos,  analgésicos  e  fazendo  repouso.  O  médico  e  nós 
sabemos  que  não  estamos  combatendo  a  doença,  (24)________________​(oposição) 
que  os  remédios abrandam as consequências do vírus para podermos enfrentar 
o  período  agudo  de  sua  manifestação. 
(25)_________________________​(prioridade/relevância),  é mais ou menos para isso que 
servem  os  “vagões  rosa”.  Não  combatem  o  machismo, que é um problema mais 
amplo  e  complexo,  mas  diminuem  a  pressão  sobre  a  vida  já  tão  difícil  das 
trabalhadoras e estudantes que usam o sistema público de transporte. 

Adaptado de: Fonte:


https://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/19/opinion/1408400124_673995.html​. acesso em
31.10.2018
O vagão cor-de-rosa 
Nada  mais  ultrajante  que, após um dia exaustivo e tenso, entrar num trem 
ou  metrô  e  ficar  exposta  a  homens  de  comportamento  agressivo  e 
predatório 
 
LUIZ RUFFATO 
 
  O  governo  do  Estado  de  São Paulo vetou a criação dos chamados “vagões 
rosa”,  destinados  ​exclusivamente  às  mulheres  nos  sistemas  de  metrô  e  trens 
metropolitanos.  O  argumento  é  o  de  que,  ao  invés  de  alcançar  o  objetivo 
almejado,  combater  o  assédio  sexual,  a  medida  ampliaria  ainda  mais  a 
segregação,  punindo  a  vítima,  não  o  agressor.  ​Segundo  esse  raciocínio,  ações 
como  esta  não  ajudam  em  nada  a  luta  contra  o  machismo,  ​mas  apenas 
perpetuam uma situação de violência. 
  Eu  compreendo  que  a solução para esse problema não está na separação 
de  homens  e  mulheres,  ​mas  sim  na  vivência  harmônica  entre  eles.  Fato  é,  no 
entanto,  que  a  coexistência  em  igualdade  de  condições  só  ocorre  ​quando​,  por 
meio  da  educação,  se  transforma  uma  cultura.  O  machismo  é  um 
comportamento  derivado  de  uma  visão  de  mundo  deformada,  plantada  pelos 
pais  desde  o  berço,  alimentada  pela  escola  ​e  legitimada  pela  sociedade.  Mudar 
essa  mentalidade,  ​portanto,  implica  um  empreendimento  continuado 
envolvendo  a  família,  as  instituições  de  ensino  e  as  várias  instâncias 
governamentais. E isso demanda um esforço conjunto por algumas gerações. 
  Ao  rejeitar  a  implantação  dos  “vagões  rosa”,  o  governo  acenou,  como 
alternativa,  com  o  aumento  no  quadro  de  seguranças  femininas  e  a  instalação 
de  câmeras  de  vigilância nas estações. ​Ou seja​, repressão, não educação. Quem 
utiliza  transporte  público,  não  só  em  São  Paulo,  ​mas  em  todo  o  país,  conhece 
sua  precariedade.  Confinados  em  espaços  reduzidos,  homens aproveitam-se da 
superlotação  para  humilhar  as  mulheres,  encoxando-as,  bolinando-as, 
beliscando-as,  beijando-as,  encarando-as,  passando  a  mão  em  seus  corpos, 
sussurrando  safadezas  em  seus  ouvidos.  Apenas  nos  sete  primeiros  meses 
deste  ano,  a  Delegacia  de  Polícia  do  Metropolitano  de  São  Paulo  deteve  33 
homens  acusados  de  abusar  de  passageiras.  ​Mas  sabe-se  que  o  número  de 
episódios  é  muito  maior,  ​já  que  a  maioria  das  mulheres  reluta  em  denunciar 
casos  de  assédio,  ​por  sentirem  vergonha, por desconhecerem seus direitos, por 
medo  de  serem  constrangidas  em  delegacias  onde  imperam  homens  ou 
simplesmente por não acreditarem na eficácia da polícia. 
  A  legislação  é quase omissa em relação a casos de abuso contra mulheres 
no  transporte  coletivo.  O  ato  de  importunar  alguém  publicamente  de  modo 
ofensivo  é  tratado  ​como  mera  contravenção,  cuja  pena  se  limita  ao pagamento 
de  multa.  E  é  sempre  bom  lembrar  que  o  Brasil  registra  uma das maiores taxas 
mundiais  de  violência  contra  as  mulheres,  ocupando  o  sétimo  lugar  no  ranking 
de  femicídios.  São  5.600  assassinatos  por  ano,  em  média,  um  a  cada  hora  e 
meia,  sendo  que  mais  da  metade  das  vítimas  têm  idade  entre  20  e  39  anos  e 
contam com menos de oito anos de escolaridade. 
  A  criação  de  “vagões  rosa”  no  sistema  de  transporte  coletivo  não 
certamente  ​é  a  maneira  mais  apropriada  de  lidar  com  a mentalidade machista 
que  grassa  entre  os  brasileiros,  independente  da  classe social a que pertençam. 
Mas,  certamente,  serve  como  um  paliativo  para  aliviar  as  pressões  contra  as 
trabalhadoras  e  estudantes  que  não  têm  opção  para  ir  e  vir  de  casa  para  o 
trabalho  ou  a  escola.  O  tempo  médio  gasto  nos  deslocamentos  em  São  Paulo  é 
de  cerca  de  2h49m  –  sendo  que  19%  do total da população consome até quatro 
horas  por  dia.  E  ​quanto  mais  longe  do  centro  mora-se,  ​mais  saturadas  e 
deficientes são as conduções públicas. 
  O  veto  à  existência  de  “vagões  rosa”  cerceia  o  direito  das  mulheres,  as 
principais  interessadas, de poder escolher como preferem se mover pela cidade, 
se  em  vagões  exclusivos  ou  mistos.  ​Portanto​,  nada  mais  ultrajante  que,  ​logo 
após  um  dia  exaustivo  e  tenso,  entrar  num  trem  ou  metrô  e  ficar  exposta  a 
homens  de  comportamento  agressivo  e  predatório,  que  acreditam,  ​em  sua 
maioria  (59%),  que  “​se  ​as  mulheres  soubessem  se  comportar  haveria  menos 
estupros”  –  estima-se  que  o  número  de  casos  alcance  mais  de  500.000 por ano, 
sendo que nem 10% deste total chegam a ser comunicados oficialmente. 
  Se  uma  gripe  nos  atinge,  a  recomendação  é  para  que  aliviemos  seus 
desagradáveis  sintomas  –  febre,  dores  generalizadas  e  tosse  –  tomando 
antitérmicos,  analgésicos  e  fazendo  repouso.  O  médico  e  nós  sabemos que não 
estamos  combatendo  a  doença,  ​mas  que  os  remédios  abrandam  as 
consequências  do  vírus  para  podermos  enfrentar  o  período  agudo  de  sua 
manifestação.  ​Em  primeiro  luga​r,​   é  mais  ou  menos  para  isso  que  servem  os 
“vagões  rosa”.  Não  combatem  o  machismo,  que  é  um  problema  mais  amplo  e 
complexo,  mas  diminuem  a  pressão  sobre  a  vida  já  tão difícil das trabalhadoras 
e estudantes que usam o sistema público de transporte. 

Fonte: ​https://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/19/opinion/1408400124_673995.html​. acesso


em 31.10.2018

You might also like