Diagramas em árvore como representação da

estrutura sintática
Luiz Arthur Pagani (UFPR)

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1 Introdução

• uma árvore de estrutura sintagmática representa três tipos de

informação sintática sobre uma expressão [2, p. 439]:

 sua estrutura de constituintes (ramos da árvore)

 as classes dos constituintes (rótulos dos nós da árvore;

normalmente as classes também são chamadas de

categorias, mas aqui vamos reservar a expressão categoria

para especicar um outro conceito)

 o seu ordenamento linear (sequência da esquerda para a

direita replica ordem das palavras no encadeamento: o que

está à esquerda corresponde ao que é produzido antes)

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• depois de aplicar os testes de constituência e descobrir a

estrutura de constituintes de um boa quantidade de dados,

percebe-se a recorrência de certas estruturas e de determinadas

combinações entre estas estruturas; esta recorrência pode ser

representada por uma gramática de estrutura sintagmática

phrase structure grammar )

(

2 Gramática de estrutura sintagmática

(independente de contexto)

• quase sempre: livre de contexto

• context-free

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2.1 Regras lexicais

• exemplos:

 Det → o

 N → menino

 V → correu

• Det, N e V são símbolos não-terminais (nunca aparecem nas

pontas das árvores  folhas) representando as classes sintáticas das

palavras

• o, menino e correu são símbolos terminais (só aparecem como

folhas das árvores) representando as expressões linguísticas

• a primeira regra pode ser lida como `a classe dos deterinantes inclui

a expressão o '  ou, alternativamente, a expressão o pertence à

classe dos determinantes

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2.2 Regras sintagmáticas

• exemplos:

1. S → SN SV

2. SN → Det N

3. SV → V

• S, SN, SV, Det, N e V são símbolos não-terminais (as

últimas já tinham aparecido nas regras lexicais) que representam as

classes das expressões complexas (ainda que sejam compostas por

uma única palavra)

• a primeira regra pode ser lida como `uma sentença é composta por

um sintagma nominal seguido de um sintagma verbal'  ou,

alternativamente, `uma expressão que é um sintagma nominal

concatenada a uma expressão que é um sintagma verbal formam

uma sentença'

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2.3 Formação das árvores

• As regras lexicais justicam a construção dos seguintes ramos:

Det N V

o menino correu

• A segunda regra sintagmática justica a construção do seguinte

ramo:

SN

Det N

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• Os dois primeiros ramos lexicais podem ser encaixados neste

primeiro ramo sintagmático:

SN
SN

Det N
⇒ Det N
Det N

o menino
o menino

• A terceira regra sintagmática justica a construção do ramo

abaixo:

SV

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• Juntando agora este novo ramo sintagmático com o terceiro

ramo lexical, obtemos:

SV
SV

V
⇒ V
V

correu
correu

• Recorrendo então à primeira regra sintagmática, podemos

desenhar este ramo:

SN SV

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• Finalmente, juntando os ramos para SN e SV construídos até

agora, construímos a árvore que representa a estrutura

sintagmática de o menino correu:

S
S

SN SV
SN SV
SN SV
⇒
Det N V
Det N V

o menino correu
o menino correu

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• Uma árvore como a anterior deve ser lida como abreviação de:

o menino correuS

o meninoSN correuSV

oDet meninoN correuV

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2.4 Outras regras

2.4.1 O menino bonito correu
• Adj → bonito

• N' → N Adj

• SN → Det N'

SN SV

Det N' V

o N Adj correu

menino bonito

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2.4.2 O menino chutou a bola

• SV → V SN

• V → chutou

• Det → a

• N → bola

SN SV

Det N V SN

o menino chutou Det N

a bola

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2.4.3 Concordância de gênero no SN

• com as novas regras lexicais para Det e N, nossa gramática

permitiria construirmos a menino e o bola, que não fazem

parte da competência linguística dos falantes do português

• sobregreração: a gramática diz que é gramatical o que os

falantes não acham aceitável

• revisão:

 Detm → o

 Detf → a

 Nm → menino

 Nf → bola

 SN → DetX NX

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SN
SN

DetX NX
⇒X=m⇒ Detm Nm
Detm Nm

o menino
o menino

SN
SN

DetX NX
⇒X=f ⇒ Detf Nf
Detf Nf

a bola
a bola

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SN

DetX NX
⇒X =f ∧X =m⇒×
Detf Nm

a menino

SN

DetX NX
⇒X =m∧X =f ⇒×
Detm Nf

o bola

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2.4.4 Regência verbal

• com as novas regras lexicais para SV, há sobregeração de o

menino correu a bola e de o menino chutou

• revisão:

 Vi → correu

 Vt → chutou

 SV → Vi

 SV → Vt SN

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S S

SN SV SN SV

Detm Nm Vi Detm Nm Vt SN

o menino correu o menino chutou Detf Nf

a bola

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SV SV

Vi Vt SN
⇒× ⇒×
Vt Vi SN

chutou correu ... ...

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2.4.5 O menino correu com a bola

• SV → SV SP

• SP → P SN

• P → com

SN SV

Detm Nm SV SP

o menino Vi P SN

correu com Detf Nf

a bola

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2.4.6 O menino com a bola correu

• N'X → NX SP

SN SV

Detm N'm Vi

o Nm SP correu

menino P SN

com Detf Nf

a bola

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• algumas vezes, postulou-se a relação como SN → SN SP, o

que tornaria desnecessária a regra N' → N SP, e a árvore

caria como abaixo

SN SV

SN SP Vi

Detm Nm P SN correu

o menino com Detf Nf

a bola

• aqui vamos preferir a alternativa anterior, porque os testes de

constituência parecem oferecer melhor evidência para ela

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2.4.7 O homem viu a mulher com o binóculo

• Nm → homem

• Nf → mulher

• Nm → binóculo

• Vt → viu

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SN SV

Detm Nm SV SP

o homem Vt SN P SN

viu Detf Nf com Detm Nm

a mulher o binóculo

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SN SV

Detm Nm Vt SN

o homem viu Detf N'f

a Nf SP

mulher P SN

com Detm Nm

o binóculo

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2.5 Resumo das regras

Lexicais
Adjm → bonito
Sintagmáticas
Detf → a
S → SN SV
Detm → o
SN → DetX NX
Nf → bola
SN → DetX N'X
Nf → mulher
N'X → NX AdjX
Nm → binóculo
N'X → NX SP
Nm → homem
SV → Vi
Nm → menino
SV → Vt SN
P → com
SV → SV SP
Vi → correu
SP → P SN
Vt → chutou

Vt → viu

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2.6 Exercícios
1. Identique algumas outras sentenças que ainda podem ser

construídas a partir da gramática apresentada.

2. Sugira outras regras para dar conta de sentenças como o

menino correu lentamente, o menino correu muito

lentamente e o menino muito bonito correu.

3. Encontre sentenças com estrutura diferente das vistas até agora

e postule novas regras para dar conta delas.

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3 Domínio

• denição de domínio [1, p. 54]:

α domina β se e somente se existe uma sequência conexa

de um ou mais galhos entre α e β e o percurso de α até

β através dos galhos é unicamente descentente.

• inverso de constituinte: se α domina β, então β é constituinte

de α
• denição de domínio imediato [1, p. 55]:

α domina imediatamente β se e somente se α domina β e

não existe nenhum γ tal que α domina γ e γ domina β .
• inverso de constituinte imediato: se α domina imediatamente

β, então β é constituinte imediato de α

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• S domina imediatamente SN e SV

dom. imed.

SN SV

Det N

• SN domina imediatamente Det e N; mas não domina nem S

nem SV

S
dom. imed.

SN SV

Det N

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• S domina SN, Det, N e SV

domínio

SN SV

Det N

• Det, N e SV não dominam imediatamente nada

• portanto, também não dominam nada

⇒ os dominados imediatamente são os constituintes imediatos de

uma expressão, e os dominados são os seus constituintes

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• denições alternativas:

 domínio imediato [2, p. 440]:

α domina imediatamente β se e somente se

existe um único ramo descendente que liga α a β

 domínio: [2, p. 440]

α domina β se e somente se

∗ α domina imediatamente β
∗ ou α domina imediatamente γ e γ domina β
• qual alternativa é melhor?

 qualquer uma

 elas são equivalentes

 contanto que não sejam misturadas

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4 Precedência linear

• Denição [1, p. 55]:

α precede β se e somente se α estiver à esquerda de β e

α não dominar β ou β dominar α.

• estar à esquerda só vale para a representação ortográca ou

para o diagrama em árvore; para expressões linguísticas, o mais

adequado é ocorrer antes

• pequena revisão:

α precede β se e somente se α ocorrer antes de β ;

contanto que α não domine β , nem β domine α.

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• o SN um menino precede o SV chutou a bola

precede

SN SV

Det N V SN

um menino chutou Det N

a bola

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• o SN um menino precede o SN a bola

precede

SN SV

Det N V SN

um menino chutou Det N

a bola

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• o SV não precede o N bola, apesar de vir antes, porque o

domina

S domina

SN SV

Det N V SN

um menino chutou Det N

a bola

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• o SN um menino não precede o S, apesar de vir antes, porque

é dominado imediatamente (e, portanto, é dominado) pelo S

dom. imed.

SN SV

Det N V SN

um menino chutou Det N

a bola

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5 C-comando

• denição de c-comando [1, p. 56]:

α c-comanda β se e somente se β é o irmão de α ou se β

é dominado pelo irmão de α.
• denição de irmão [1, p. 55]:

α é irmão de β se e somente se α e β tiverem a mesma mãe.

• denição de mãe [1, p. 55]:

α é mãe de β se e somente se α dominar imediatamente β.

• denição alternativa de c-comando:

α c-comanda β se e somente se

 γ domina imediatamente α e β ;
 ou se γ domina imediatamente α e δ , e δ domina β

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• o S não c-comanda nada

• o SN um menino c-comanda o SV chutou uma bola

(e tudo o que ele domina)

• o SV chutou a bola c-comanda o SN um menino

(e tudo o que ele domina)

c-comando

SN SV

Det N V SN

um menino chutou Det N

a bola

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• o Det um só c-comanda o N menino

• o N menino só c-comanda o Det um

S
c-comando

SN SV

Det N V SN

um menino chutou Det N

a bola

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• o V chutou c-comanda o SN a bola

(e tudo o que ele domina)

• o SN a bola só c-comanda o V chutou

S
c-comando

SN SV

Det N V SN

um menino chutou Det N

a bola

Diagramas em árvore como representação da estrutura sintática 39

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• o Det a só c-comanda o N bola

• o N bola só c-comanda o Det a

SN SV
c-comando

Det N V SN

um menino chutou Det N

a bola

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5.1 Item anafórico & pronome

• antecedente [1, p. 209]:

itens anafóricos exigem a presença do elemento com o

qual se identicam referencialmente. Chamaremos

antecedente a este elemento.

• o antecedente precisa preceder o item anafórico [1, p. 209]

• exemplos [1, p. 209]:

X a Mariai sei adora.

* a Mariai sek adora.

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• o antecedente ainda precisa c-comandar o anafórico [1, p. 210]:

SNi SV

Det N' SN V

a N SP sei adora

mãe P SN∗i

de N

Pedro

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• dentro de um certo domínio (no nosso caso, S') [1, p. 211]:

SNi SV

Det N V S'

a Maria disse Comp S

que SNk SV

Det N SN V

a Ana se∗i/k adora

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• pronomes (como o relativo que) não podem estar ligados a

um antecedente dentro do seu domínio [1, p. 218]

SNi SV

Det N V S'

a Maria disse Compi S

quei SNi SV

∅i SN V

sei adora

• i: relação pronominal; i e i: relações anafóricas

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Referências

[1] Carlos Mioto, Maria Cristina Figueiredo Silva, and Ruth Lopes.

Novo Manual de Sintaxe. Contexto, São Paulo, 2013.

[2] Barbara Hall Partee, Alice ter Meulen, and Robert E. Wall.

Mathematical Methods in Linguistics. Reidel, Dordrecht, 1989.

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