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# . SE a Men DCU ? VIAGEM PELAS ARTES PLASTICAS EM GO! ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GOIAS, de Amaury Menezes, é um seguro roteiro histérico-artistico e documental do universo das artes plasticas em e de Goids. Quem quer que se abalance a escrever qualquer coisa relacionada com as artes em Goids, no Brasil e nas Américas nao poderd de agora em diante, deixar de fazer qualquer referéncia a esta obra singular, inica, completa. ‘A Introdugao a este Diciondrio é um ensaio que focaliza evolucao € historia: Arte Rupestre, Arte Rupestre no Brasil e em Goids, Arte Indigena, Arte Indigena Karajé, Arte Sacra, Arte Popular, Ex-Votos de Trindade, os Viajantes, a Mudanga da Capital, a Mudanga da Capital e as Artes em Goids, 0 Batismo Cultural de Goiénia, Batismo Cultural de Goiénia Simbolo de um Tempo, a Sociedade Pré-Arte de Goiaz, a Escola Goiana de Belas-Artes, 0 Instituto de Belas-Artes de Goias, o Congresso Nacional de Intelectuais, 0 I Congresso Nacional de Intelectuais, 0 Atelié do Oliveira, Coletivas, Concursos e Saldes, 0 Mercado de Cada capitulo traz uma sintese-depoimento de Amaury Menezes, que logo passa apalavraa especialistas e testemunhas do nivel de Altair Sales Barbosa, Edna Luisa de Melo Taveira, Elder Rocha Lima, Gustavo Neiva Coelho, Maria Cristina Teixeira Machado, Dalisia Elizabeth Martins Doles, Belkiss Spenzieri Carneiro de Mendonca, Atico VilasBoas da Mota. Sao ensaios dentro de ensaios, 0 que torna o texto extremamente vivo € interessante, de agradavel e proveitosa leitura, além de propiciar uma viséo geral das artes em Goids, das origensaosnossos dias. (© Diciondrio, propriamente, traz mais de itocentos verbetes. As informagBes sobre 08 Srtistas contém dados biogréficos, datas Jocais de exposicdes, comentarios criticos colhidos em catalogos e félderes de exposigdes Digitalizado com CamScanner ae OE: DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GOIAS Digitalizado com CamScanner ESTADO DE GOIAS Hexenés CAnpip0 Governador do Estado de Golds uxntghocunTvrat ‘Tania pa Cuntia Bastos Presidente da Fundagio Cultural Pedro Ludovico Teixeira "Tanta MENDONCA Chefe de Gabinete ApovaLpo FERNANDES SAMPAIO Diretor de Patriménio Hist6rico e Artistico Funpacio Cuururan Pepro Lupovico TEIXEIRA Praca Dr. Pedro Ludovico Teixeira (Praga Civica), 2 ~ Setor Central 7403-010 Goidinia, GO - Telefax: (062) 224-2684 /224-8175 s Digitalizado com CamScanner iif AMAURY MENEZES DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GOIAS @ Fundagio Cultural Pedro Ludovico Teixeira Goidnia - Goitis Digitalizado com CamScanner Copyright © 1998 by Amaury Menezes Capa: Laerte Araijo Pereira Arte final da capa: Jorge Bernardino Fotografias fornecidas pelos artistas Foto da capa: Fernanda Elisa Costa Paulino Rezende ~ Sitio Arqueolégico Pousada das Araras, Fazenda Pedraria, Municipio de Serranépolis, GO - GO. JA-03 CIP Brasil - Catalogagio na Fonte BIBLIOTECA PUBLICA ESTADUAL PIO VARGAS MEN Menezes, Amaury (1930) cav Da Caverna ao Museu — Dicionario das Artes Plasticas em Goias / Amaury Menezes. Goidnia: Fundagao Cultural Pedro Ludovico Teixeira, 1998. 400 p. sil. 1. Artes Plasticas — Dicionario— Goias. I. Titulo ISBN 85-86 358-10X CDU: 73(038) (817.3) A indice para catilogo sistemitico: Dicionirio io CDU: 73(038) (817.3) IMPRESSO NO BRASIL, Printed in Brazil 1998, Digitalizado com CamScanner Quero concentrar na pessoa de minha mulher Canary todos os agradecimentos devidos aos amigos que me apoiaram, ndo apenas neste projeto, mas principalmente na minha carreira de pintor. Nestes unais de quarenta anos ela, com tolerdncia, vem me ajudando a subir nessa nuvem que é 0 meu mundo, Digitalizado com CamScanner “No 250° aniversario da criacao da Capitania de Goias, o Governo do Estado de Goids homenageia seus artistas plisticos lancando um Dicio- nario que os reiine no tempo e no espago e os divulga, incitando o pablico ~em Gols, no Brasil eno Exterior—amelhor conhecé os eas suas obras.” TANIA pa Cunna Bastos Digitalizado com CamScanner SUMARIO APRESENTAGAO.. PREFACIO. 1B INTRODUCAO .. 15 EVOLUCAO E HISTORIA Arte Rupestre. 1 7 Arte Rupestre no Brasil e em Goids, Altair Sales Barbosa 1B Arte Indigena 9 Arte Indigena Karajé, Edna Tavei 19 Arte Sacra. 7 Arte Popular 29 Ex-Votos de Trindade, Elder Rocha Lima .. 30 Os Viajantes ... 32. 34 AMudanea da Capital "A Mudanga da Capital eas Artes em Goiés, Gustavo Neiva Coelho. 35 © Batismo Cultural de Goidnia. Batismo Cultural de Goiinia - Simbolo de um Tempo, Maria Cristina Teixeira Machado e Dalisia Blizabeth Martins Doles, 36 A Sociedade Pré-Arte de Goiaz 39 ‘A Sociedade PréArte de Goiaz, Belkiss Carneiro de Mendonca 40 A Escola Goiana de Belas-Artes 1 40 O Instituto de Belas-Artes de Goiés. a 0 Congresso Nacional de Intelectuais.. B OI Congresso Nacional de Intelectuais, ‘Atico ‘Vilas-Boas da Mota. 44 O Atelié do Oliveira. ts 45 Coletivas, Concursos e Saldes 49 O Mercado de Arte ... 53. OINICIO.... 54 DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GOIAS 585 Digitalizado com CamScanner UMA VISAO PANORAMICA DAS ARTES PLASTICAS EM GOIAS longo tempo se fazia necessario um levantamento —abrangente eo mais possivel exaustivo — das Artes Plasticas em Goias. Por varios anos 0 artista plastico Amaury Menezes, que vive e acom- panha o movimento artistico de Goids, vem trabalhando no levantamento das Artes Plasticas em Goids. Vem reunindo, com paciéncia e persisténcia, informagdes que exigem continua atualizacao, tal a mobilidade dos artis- tas, tal a efervescéncia do setor, tal o crescimento da produgdo artistica, tal o numero de novos nomes ¢ valores. Quando Amaury Menezes nos expés seu projeto, imediatamente 0 acolhemos, pois 0 objetivo de seu trabalho se coaduna com 0 nosso, na constante preocupagao de fazer o levantamento das Artes Plisticas em Goias para melhor difundi-las. Qualquer consulente de um Dicionario como este prontamente fica a par do que se fez e faz em Goids, tendo 4 mao um vasto material para rapidas informagées ou para pesquisa mais detida, em varios periodos da Histéria das Artes Plsticas em Goids. O autor procurou, sobretudo, oferecer uma visio panordmica das Artes Plisticas em Goids, sem fazer qualquer avaliagZo. Cabe aos criticos € ao publico avaliar os artistas e suas obras. Ao pesquisador, compete-The reunir o material, trabalho dos mais arduos, que demanda fé e tenacidade, pois muitos artistas no respondem prontamente ou nao dispdem, de ime- diato, dos dados que lhes sio solicitados. Com paixio e competéncia, insisténcia e persisténcia, Amaury Menezes reuniu um vasto material disperso e deuthe forma, Um levanta- mento que se transformou num pritico e objetivo Dictondrio pas Artes PrAsricas Em Goids, trabalho que podera ir sendo aprimorado indefinida- mente, com novas contribuigée Ao editar este Diciondrio, o Governo de Goiis, pela Fundagao Cultu- ral Pedro Ludovico Teixeira, comprova, ainda uma vez, a sua seriedade no apoio e na difusio das Artes, executando um programa de politica cultural vol empre para os interesses da coletividade, sem paternalismos nem tutelas, Isto evidencia nosso respeito para com a classe artistica e para com o nosso piblico, para uma melhor e mais justa distribuigdo e difussio dos bens culturais, ‘Ao fazer com que os eventos se enquadrassem em atividades conti- nuas, comprometidas com os anselos da populagao, evitamos o efémero, facilmente levado pelo vento, ¢ preferimos 0 permanente. Digitalizado com CamScanner Este Dictonanio pas Ares Pismicas Em Goids, de Amaury Menezes, com a participacao dos artistas e de colaboradores, a quem muito agrade- cemos, é uma obra de interesse permanente que poder ter outras edi- ses, revistas e aumentadas, sem nunca, no entanto, se desligar desta pri- meira edico, pioneira. Uma obra de referéncia que refaz 0 pasado, defi- ne 0 presente e volta-se para o futuro. Linpa Montero Digitalizado com CamScanner PREFACIO que me impressiona no Amaury 6 sua preocupagio de fazer as coisas bem feitas, tanto no todo como nos detalhes. A prova mais evidente disto é este trabalho feito exclusivamente por ele. Vai no seu bem-fazer da concepgio geral a digitacio. Naiintroducio do presente trabalho Amaury diz: “Volto a insistir em que nao tenho a presuncao de ser escritor nem que esta seja uma obra de leitura, mas serd certamente de consulta.” Eu me permito discordar do autor: seus textos sfio dtimos e de leitura muito agradavel, sem o ranco do beletrismo. Acho curioso que um assunto como 0 abordado no presente trabalho nao tenha despertado o interesse de escritores e/ou pesquisado- res. Entio, explica-se por que tanto eu como Amaury, embora no sejamos do ramo, nos sentimos na obrigacao de nos envolvermos com a literatura sobre artes em Goids. A importincia do movimento de artes plasticas em Goiis est evi- denciada por este Diciondrio e pelos depoimentos prestados. Com exce- ¢40 de iniciativas como a presente, os governos do nosso Estado tém sido, em maior ou menor grau, omissos em relacao a pintura e escultura produ- Zidas em Goids, como se fosse assunto pouco sério para merecer cuidados dos politicos e administradores. Espero, como o Amaury, que este Dicionario desperte a atengio de intelectuais e estudiosos no sentido de aprofundar e explorar este rico filio. Oassunto existe e necesita ser tratado coma seriedade profissional como se faz com a arte rupestre na nossa regio. Do ponto de vista pessoal os textos escritos ou organizados pelo Amaury me afetaram particularmente, pois fui também testemunha dos fatos relatados, principalmente tendo em vista que no exercicio da atividade de arquiteto sempre busquet misturar~ me com asatividades dos artistas plisticos, trabalhando inclusive com quase todos eles. Esta fase roméntica da produgao artistica de Goiés, que girou em torno das personalidades apontadas pelo Amaury, vem minha meméria com sabor de saudade, Finalmente, quero fazer aqui uma ratificagao. Ju to aos nomes de Frei Nazareno, Cleber, DJ Oliveira e tantos outros, no podlemos esquecer o nome do préprio Amaury, que, tanto no oficio de pin- tor como no de professor, exerceu e exerce um papel relevante, acrescido agora desta obra que, no meu entender, somente velo & luz. em virtude da competéncia e da personalidade do autor, E bom que se diga que essa, de cerla maneira, exorbitante prolifera- ‘em Goiis deve-se nvio $6 ao fato co ambiente propicio como écie de utopismo artistico que domina a mente de uma iuventude, A faléncia das utopias sociais, 0 predominio gio de artis também a uma es parcela da nos Digitalizado com CamScanner avassalador das teorias neoliberais ¢ outras “filosofias” politicas, faz com que nos lancemos nos bracos das artes, onde resta ainda um pouco de pureza, espiritualidade e, sobretudo, confianga no lado generoso do ho- mem, , Imagino também que esse interesse nas fine, artsresulta igualmente de uma reagio a subcultura que vem medrando nos tiltimos tempos, pois ela é “mercadoria” a ser exposta e vendida nos balcbes da nova sociedade que traduz seus valores pela freqiiéncia e rapidez da leitura dos cédigos de barra, : E claro que nem tudo sao flores nos caminhos trilhados pelas artes em Goids. Ainda predomina uma grande dose de improvisagio, de afoiteza na busca de resultados, fato que compromete a produgao artistica de mui- tos jovens, de maneira as vezes irreversivel. Nao se faz um artista de uma hora para outra: anos e anos de estudos e pesquisas sao necessarios para que se alcance uma certa maturidade, Deixo por conta da artista premiada e escritora consagrada Fayga Ostrower a afirmacao de que um artista nao se faz com menos de dez anos de preparacio. Mas € necessirio que nos lembremos de que 0 florescimento das artes plisticas em Goids nao se deve unicamente a atuacao de artistas, mas também existéncia de um piblico interessado e esclarecido. Esse publ co convive com as artes produzidas em Goids nao na qualidade de colecio- nadores, mas como fruidores, as vezes apaixonados. Se nao existisse esse piiblico é evidente que nao teriamos o grau de profissionalismo que existe na produgao das artes plisticas em Goids. Aproveitando o ensejo, dirfamos que tanto os artistas como o puibli- co mereceriam algo que faz uma imensa falta em Goids — um museu. Um museu que nao fosse unicamente uma grande parede para pendurar qua- dros, mas um érgio vivo e atuante que pudesse penetrar na ‘sociedade como ‘se fosse um fermento cultural. Ever Rocua Lima Digitalizado com CamScanner INTRODUGAO, m obediéncia a um principio ético e em respeito 4 comunidade cultu- ral de Goids, devo iniciar este livro com algumas explicagdes: Nunca tive a presungdo de ser escritor, atribuigio que julgo deva ser conferida Aqueles que realmente tém competéncia e aptidao para tal tarefa. Este tra- balho nasceu de uma pesquisa ¢ levantamento fotografico que venho reali- zando desde 1959, quando comecei a conviver, na EGBA (Escola Goiana de Belas-Artes), com os artistas plasticos mais em evidéncia em Goids (DJ Oliveira, Frei Confaloni, Ritter, Luiz Curado, Veiga, Saida, Guilhermina, Juca, Agostinho e outros). ‘Nao tendo areas de atrito nem arestas para aparar no relacionamen- to com meus colegas de profissio, tornei-me um assiduo freqiientador dos estiidios ¢ ateliés, quase sempre munido da minha camera fotografica, acompanhando e documentando, dessa forma, a produgao de cada artista. Como vou praticamente a todas as exposicdes de arte de que tenho oportunidade, passei a colecionar os catlogos das mostras, ampliando assim o volume de informagdes ¢ o leque dos artistas no meu arquivo particular, Com o correr do tempo e o aumento crescente do material fotograt- co € catdlogos de exposigdes, passei a reunir um fichario dos principais artistas locais com seus curriculos e referéncias criticas, sem nenhuma pretensao de tornar publico esse trabalho, principalmente por acreditar que o assunto nao seria de interesse geral e também por reconhecer que talvez nao fosse eu a pessoa mais credenciada para produzir um documentario que refletisse a historia e a evolucao das artes plisticas em Goids. Mais tarde achei que talvez esse material pudesse ser transforma- do num audiovisual ou numa fita de video e, ainda como professor na Escola de Arquitetura na Universidade Catélica de Goids, na década de 80, organizei um fichério com alguns milhares de slides 35 mm., traba- Tho que interrompi com meu afastamento da Universidade em 1986, des- conhecendo hoje o paradeiro desse documentirio tio cuidadosamente confeccionado. Coube a Dra. Linda Monteiro, presidente da Fundagio Cultural Pe- dro Ludovico Teixeira, a iniciativa de propor a publicagao desse material, dando-lhe a forma de um livro. Aceitei o desafio e aprofunde-me nas pes- quisas e na tarefa de organizar aquelas informacdes tao dispersas, saben- do que agora tinha um compromisso dle terminar e tornar piiblico um tra- balho que julgava ser 6 meu e sem prazo para conclusio. 0 aprofundamento nas buscas revelou-me uma informagao impor- tante, jd que, baseado apenas em pesquisas de livros, revistas, jornais, ca- talogos de exposicdes e visitas a galerias e museus, encontrei mais de 850 Digitalizado com CamScanner AMAURY MENEZES se artistas plésticos que atuam ou atuaram em Goids, num estudo que remon- taao século XVII. : a j envolvido na elaboracao do livro, p een fiidade, comecei a digitar as informacoes acumuladas, dispensando a ; 3 \s que poderiam seguramente aboracao e participacao de outras pessoa: oderiam s ora esd apresentagao deste trabalho, Hoje, depois de algumas idor, sinto-me recompensado quan- centenas de horas em frente ao computador, a do vejo este livro praticamente pronto e todo ele montado exclusivamente por mim, até em sua parte mais artesanal que a digitaglo. E relevante salientar que em nenhum momento pretendi classificar a importincia maior desse ou daquele artista, como tampouco ousei des- classificar algum outro pela pobreza do seu curriculo ou por considerar sua obra menos significativa. Minha proposta é de me manter numa postu- ra de total isengdo quanto ao julgamento das diversas correntes estéticas ou da producdo de cada artista, pois se eu demonstrar preferéncia por al- guma manifestacao ou tendéncia, logicamente estarei sendo tendencioso. Outro fator que me levou a destacar no livro todos os artistas pesquisados, sem questionar a importincia de cada um e sem expressar meu julgamento, foi o temor de que o futuro e a historia me desmentis- sem. Estou absolutamente seguro quando reafirmo que sé acredito em dois criticos: 0 piblico e o tempo. __Cabe uma explicago quanto 4 naoinclusao de alguns fotdgrafos, artistas de reconhecido talento, nessa pesquisa, mas nao saberia separar esses dos incontiveis profissionais, também competentes, que atuam em Goiis, Essa tarefa deverd ser entregue a alguém que atue ou conviva na area da fotografia, Posso negar a influéncia que recebi, na elaboragio deste traba- Iho, de experiéncias anteriores e bem-sucedidas, como 0 Diciondrio das Artes Plisticas no Brasil, de Roberto Pontual, e Artes Pldsticas no Centro- Oeste, de Aline Figueiredo. _ Embora cercado de cuidados para nao parecer ufanista, é impossivel a Tuma avaliacaio do Movimento cultural do Estado, sem me entusiasmar 1m Os acontecimentos que a historia Tegistrou e com os artistas que, por Scus Proprios méritos e esforgos, praticamente sem apoio ou incentivo do Poder Piblico, vém colocando Goi i is Sa aludsarneas 0 Goids no mesmo nivel dos centros mais de- 60s do Brasil. Para confirmar a afirmativa, e essa no é uma opiniao Pessoal isolada: Siron Franco, Ana Maria Pacheco, DJ Oliveira, Cleber Gouvéa, Anténio Poteiro e outros sio col im cial Be iros sto colocados pela imprensa especializada entre of mais importantes artistas brasileros da atualidade, folto i i , . Qs que esta seja una shen gg Me tenho a presuncao de ser escritor, nem ja | © leitura, mas ser certamente de consulta. AS Restame o consolo de que, como testemunha e participants de coe perio- Tao aide efervescéncia no cenirio das artes plisticas em Goids, pres fura gaivolmento e dei minha contribuigao, nao obviamente para a literatura goiana, 7 i nosso Estados” "#82 medida do possivel, para a meméria cultural do Digitalizado com CamScanner EVOLUCAO E HISTORIA ARTE RUPESTRE tentativa de situar cronologicamente a evolucao das artes plasticas em Goids esbarra num problema de escolha do ponto de partida. Osrecentes estudos arqueolégicos que revelaram um farto material de pinturas, desenhos e gravacées produzidos por populacdes pré-coloni- ais, némades ou residentes na regido Sudoeste do Estado, em sitios pesquisados nos municipios de Serranépolis, Caiapénia e Doverlindia, nos dio esse ponto de partida, segundo os cientistas, ha aproximadamente 11.000 anos. Esses artistas andnimos executavam em seus abrigos uma arte geomé- trica ou figurativa, carregada de ingenuidade e sem maiores conhecimentos de técnicas ou de materiais, aparentemente apenas para satisfazer uma emo- do ou para tornar mais agradavel a permanéncia em suas habitagGes. Asuposicao de que aqueles habitantes encaravam esses desenhos como arte é reforcada pelo fato de que na maioria dos abrigos nao ha sobreposicao de gravuras, fato que caracteriza uma atitude de respeito pela obra. Foto I: Sitio Arquelégico Pousada das Arras Fat Si raul ~ Fazenda Peraria, Municipio de Serrandpolis, GO, JAAS. Fote: Digitalizado com CamScanner AMAURY MENEZES 18 Diante dessas constatagdes, podemos. Sea ee ee fo- ram as primeiras galerias ou museus de arte no ie lo de a a an Este trabalho seria inconsistente sem a manifestagao deum eau so sobre o tema, Daia solicitagao que fiz ao Professor Altair Sales Bart sa reconhecidamente uma das maiores autoridades do eeeunta) eee r a, para apresentar um depoimento com fundamentagao cientifica, Arte Rupestre no Brasil e em Gois Altair Sales Barbosa* Arte rupestre é chamada toda expressio grifica — gravura ou pintu- ra ~ que utiliza como suporte uma superficie rochosa, independentemen- fe de sua qualidade ¢ de suas dimensoes: podem ser paredes de abrigos, de grutas ou de penkasces, mas também de rochas isoladas ou agrupadas em campo aberto, E oacervo de pinturas e ‘Sravacoes realizadas pelo homem pré-his- ‘6rico, usando como fando ou suporte as roche: Certas manifestagdes de arte rupestre remontam a 35.000 anos na Franca (beriodo présigurativo do paleoltico superior), 2 26000 anos nu Attica Austral (eruta Apolo Il, na Namibia), a mais de 20.000 anos ma tac Killa (gruta Koonaldo), 17.000 ou talves 27.000 anos em Sto Raitmanis Nenato (Fiau), 11.000 anos em Serrandpolis (Goids). Oubras sto ron tes, chegando até a 200 anos atras, Limbora se encontrem manitestardes de arte rupestre em todos os Estados brasileiros, aparentemente ela esti concentrata © é mais variada nas dreas secas do Nordeste e Centro do Brasil, As pinturas ¢ as gravuras sio encontradas com mais treqiiéncia em grulas e paredées rochosos, quase sempre em lugares abrigados, claros andaimes. Raramente se encontram em ra inatingtveis. A maio~ 1a das vezes o lugar apresenta si ido ocupado temporariunente, ‘mais raranente parece ter servido de permancnein mug prolongada, Com as primeiras tentativas de classificagao do material por ireas auiram mapas iniiais da distribuicao dos fenbmence nce ode Albano (1979/60), tentando cobrir todo 0 Brasil, 2 surgiram publicades inielis, buscando apr ssentar wna primeira Sintese, como ns produzidas por Prous (1980, 198), Guidén (1975, 1980, Schinite (981), Aguiar (1982) ¢ outros, Um livro extraordinariamente e agravure prehistirica do Brasil foi publicado recentemente, pena Euupresas Dov sb o titulo Heranga a Expresso Viswal do Brasilelroanticn Influénci do Europeu, dustrativo para a pint * Air Sale Haar daar on Antropol pea Stan ‘de Catia de Gone eto dana de asinton DC, profesor na Univers Digitalizado com CamScanner Em geral o trabalho com as gravuras estd menos adiantado que 0 das pinturas, Isto se deve ao fato de que as gravuras costumam ser menos representativas, mais dificeis de interpretar mais recentes; com isso tém interessado menos aos arquedlogos. Os autores brasileiros costumam usar, nas sinteses, que produzem, 0 termo tradigao, para o conjunto de arte rupestre que tem uma tematica e/ou elementos técnicos idénticos e apresenta uma grande difuséo ; territorial. E os termos estilo, ou fase, para indicar conjuntos: de sitios que, dentro da tradig apresentam caracteristicas comuns ou muito seme- Jhantes. Em Goids estéo definidos trés estilos de pinturas rupestres, acima mencionados, que sio 0 estilo Caiapénia (possivelmente tradi¢ao Planal- to), 0 estilo Serrandpolis (possivelmente tradicao Sao Francisco) e 0 con- junto estilistico de Formosa (tradi¢ao Geométrica). “Além disso 20 menos 5 conjantos de gravuras, dos quais serdo apre- sentados 4: 0 de Serrandpolis, o de Itapirapua, 0 de Jaragui 4 eo de Monte do Carmo, O de Caiapénia, pouco representativo, nao seré incluido. ARTE INDIGENA 0 indio brasileiro, que, no periodo da colonizacao sé era considera- do ttt na medida em que pudesse contribuir com sua forga de trabalho € hoje é assunto de destaque nas discussdes sobre direitos humanos € pro- lemas sécio-culturais, raramente vé evidenciado o seu lado artistico, cuja producao é habitualmente classificada como artesanato. Nesse particular, em Goiis, merece referéncia especial a nagao Karaja i pela singularidade de sua producao, que nao se restringe apenas a orna- mentacao e adorno dos utensilios, mas apresenta uma arte figurativa que ‘vem merecendo a atencao dos estudiosos pelo seu ineditismo. Para melhor compreensio dos processos de criacao artistica dos in- digenas de Goids, solicitei a professora Edna Luisa de Melo Taveira, antro- / péloga e estudiosa da populacio Karaja, um depoimento sobre essa inco- mum cultura. Arte Indigena Karaja Edna Laisa de Melo Taveira* Conceituar arte nio é taret ‘il, mesmo que no Ocidente tenha- g mos tido experiéncias ¢ reflexdes tais que possibilitam hoje identificar, reconhecer ¢ classific amanifestagdes artistic Quando se trata de arte indigena, a diticuldade & maior, tendo em dmetros jl estabelecidos para os produtos ocidentais: criativi- dade, ineditismo, singularidade, ete, 1 Ca Scale (Antropol) ~ USE, musedlogteexdiretora do te Gi, Digitalizado com CamScanner AMAURY MENEZES, cli objeto de arte eo Segundo Melati (1980: 168), nto hd ae paige pentapebe ee ambiente nas sociedades indigenas, porque } ticos, mas todas as ativida- exceléciacontrapondose a objetos nio artis, mas des técnicas ou rituais podem ee "sociedad indigena é domi. autor, unenta que artist ne i Dee com maestria, a técnica, - a al lal ahaa ida pelos membros do grupo como excelente. : ane ln disso, para esse autor, quando aquele que confecciona um ob- Jeto vai além da preocupacio com o que tradicionalmente 0 uso impos como a funcionalidade desse objeto, por exemplo, ha af arte. Se no objeto ou na manifestacao cultural, ritual, houver algo que chame a atencao dos componentes do grupo, seja pelo capricho na execucao ou na escolha da melhor forma, pode-se falar em manifestacéo artista Nossa experiéncia com o grupo Karajé da Iha do Bananal faz-nos concordar com Melatti. E 0 que nos Propomos caracterizar neste texto, fornecendo informagées sobre os Karaja tendo em vista que, como Jd foi dito, arte e cultura nao se. ‘Separam, O rio Araguaia, berohoky = ‘0 grande rio’ é o centro de refertincia desses indios da regiéo Central do Brasil, cuja lingua pertence 4 funtlia Karajé do tronco lingistico Macro-Jé. Concentram-se em 18 aldeias com um total aproximado de 2.200 individuos (Censo: Funai, 1990), sendo Fontoura, Santa Isabel do Morro, Macatiba, Sio Domit e Canuana - Jocalizados na Itha do Bananal - as mais populosas. © As 18 aldeias constituem trés subgrupos: 1) Karas, Wie ditos,divididos em Karaié do Norte e Karaja do Sul, conta eas ava das n0 brago maior do Araguaia, em aldeias localizadas nog Estados de Golds e Tocantins: 2) Java, divididos em Javaé do Norte eJavaé do Sul, em dreas contiguas ao brago menor do Araguaia; i, localizados so extrem Norte do Btado do Tocamdng nt) ©204 loalzados Os Karaja habitam aldeias ribeirinhas lineares ¢ cujas casas abrigam grupos domeésticos compostos de ‘Matrilineares, aralelas 20 rio, fatnilias extensas grupo. As festividades, que sao preparadas com entusiasmo duy £08 periodos, significam momentos importantes da vida comunitins te Kara: evidenciam também caracteristcas da produgaoartesanal oS os, a divisto de trabalho, seus meios de subsisténci, bem come sor tos marcantes de sua estética. = Esse grupo indigena, bastante conhecido por seus ritos de ‘estas estacionais¢ atesanato variado ~ cerdmica trancado, eset em ‘madeira ¢ modelagem em cera, plumétiae pintura- tom seus egpecegen virios artefatos manifestarem. se reconhecendo o autor da pega, os bons. dangadores e cantores, os melhiy. es para memoria, tare pntar desenhos. & essa a singulardade query nosso ver; é arte para os Karajé, o dominio da técnica e o esmero, Digitalizado com CamScanner DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GOIAS a sociada & danga, cujo ritmo & em (venti, chocalho globular que acom- panha os rituais de Aruand e tem importincia no ambito do xamanisino). Os cantos sio proferidos em tom de falsete, buscando dar idéia de alteridade em relagéo aos humanos. Os seres que sio personilicados pe- Tos dancantes, referem-se a eventos da historia e do cotidiano Karajé e a assuntos mitolégicos e cosmolégicos. ‘No que se refere iis artes plisticas hd varias modalidades artesanais que sao realizadas de acordo com especializagdes femininas e masculinas ede acordo, ainda, com a matériaprima oriunda da regio: madeira, argi- |, foliolo de palmeira, fibras flextveis ou rigidas, penas de aves, algodio, sementes, madrepérola, frutas, dentes e garras de animais, e entrecasca de arvores. A cultura material é variadissima e os objetos producidos so de uso utilitério, hidico e cerimonial, sendo 0 trangado de folhas de pak meira a pritica mais presente nas aldeias: as folhas pinuladas sao utiliza- das pelos homens na execugao de cestos de forma e tamanho vartaveis, e destinam-se ao cultivo da terra, colheita, coleta de matéria-prima e guarda de aderegos ou objetos de uso doméstico, bem como 4 elaboragao da co- bertura e parte das paredes das casas. As folhas flabeliformes sito usadas pelas mulheres na confeceao de bolsas, peneiras, colares e esteiras com ‘seda e palha retiradas dos brotos tenros da planta. Todos esses artefatos apresentam motives ornamentais geométricos que surgem, quando fe- tos pelos homens, das alteragdes da matha do trancado sendo portanto ‘imonocromdticos, enquanto que, nos produzidos pelas mulheres, esse de- senho se constréi através de malhas coloridas, obtidas pela tintura das fibras. (Foto 2). Os Karaiis tém muisica vocal alguns casos assinalado pelo mara Foto Cesta Mri rangado en dla, cones nasal, Matin; Deseo monocromsti: wosni/Roe eco ey ing hanna me. eta) ~ er Me repiic Digitalizado com CamScanner ‘AMAURY MENEZES ‘A plumdria Karaja, que é desenvolvida em todas as aldeias, pode ser incluida no trancado, posto que todos os elementos, principalmente os adornos corporais, tém como base de montagem, malhas de fibra vegetal. Esses adornos sao produto da combinagao delicada de penas obtidas da fauna ornitoldgica do Araguaia e que permite, sobretudo aos homens, a imontagem de elementos complexos, usados nos cerimoniais, cabendo 4s mulheres a confecgao de colares, pingentes, pulseiras e brincos. Ela apre- senta, portanto, tipos varios e complexidade técnica, associa cor, forma, volume e movimento, de acordo com o dinamismo corporal dos portado- res, (Foto 3). UM”. Foto: nduentil feninina}ove,ndoros undros. Cla: flaw mossco dengan, aot ethadon em croc, ciao da esta de Arvant AX de Seta label do Morro, ‘Adel Cat Digitalizado com CamScanner DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GOIAS 2 Os homens Karajé sempre se notabilizaram por seus trabalhos em madeira, sobretudo pelas grandes canoas (até 15 pessoas) esculpidas em um sé tronco e por remos muito delicados; em madeira, bancos cerimoni- ais, figuras antropomérficas (representagao do imagindrio) e zoomorficas (onga, arara, jacaré, etc.), langas e arcos sao obtidos pela mesma técnica. Excetuando as canoas, todos esses objetos apresentam ornamentacao em pintura. Fotos 4 € 5). iruralimara Confecciomaseutina, Astor: Kuhanaa Kar Pinte Foto: Escultoracm madeira Represat ero tha do Banana ot: Adel Caf/ 1290. rem jeipapr Mab Kar Aldea de 8 Foto: Escuuraemmadeire. Representacio da fauna epenakonca,Confeccio masculina. Acrvo do Museu Ant Polgic da URG. Foor A Décio/ 191 Digitalizado com CamScanner AMAURY MENEZES 2 i ens Karajé modelam em Além da arte de esculpir madeira, 08 fou oe pai | cera homens, mulheres, animais ¢ objetos de uso cota, ee ‘ech, representados em miniaturas, destinados a eee As mulheres sio eximias ceramistas e respo a eunee de peas utilitérias (potes, panelas e urnas ee rey eee de pecas figurativas (humanas, zoomérficas e ‘att ee ies podem conpor coniantos cénicos que refletem 0 ¢0 ee pesca, meios de transporte, relagdes sects Sie econ mati imaginario. Utilizam na producao desses 2 ewito, tent waa de matehgcn, Peconaentets popes een sol, mas, dado o interesse despertado pela sociedade envolvente, passam ‘hoje pelo processo de queima. (Foto 6). ana Page 8 vines. Proto de Kany Kara lage Santa Isibel do More, tha do ‘ananal Foto: Adem Cale tempo (Cerca de 60 anos) vém S¢ processando modificacdes estilisticas e ca figurativa, ampliacao temitica na cerdmi. por inlluéncia do contato interétnico, Ac Auras, isoladas, obedecian a um cinone represemtativg fendendo a formas globulares, CAnicas e de outros sélidos geometrions Gradualmente, passaram a evi- denciaro interesse pela representagie naturalista do corpo humano e pela clahoragio de cenas it ios Dersonagens, ecom relertncinacren, (os rituals e do cotidiana Karaid, (Roto 2, Tanto a cerimica uiiltéria quanto Pintura dos motivos geome ‘ricos pri mals usadas sio extraldas de 41 figurativa sio decoradas com Seniles nos outros artefatos. As tintas pegclais como jenipapo, que, misturado ao ‘vio, fornece-thes tina preta: 0 uruean brovém das sementes dessa Plantae thes fornece a cor vermeltin também obtida através do uso do barro vermetho cothido j ‘Margens do rio Araguaia; 0 amarelo é obtido do tubérculo do agatrao, Digitalizado com CamScanner Foto 7: Cemica, Cena: Ciclo de wda. Composiio de figura femininas em tornado trabalho de pat A pinta ‘Corporal se apreseta através de desens deface, queso, bragose pernas, com motos pris dos pares Srmumeats: raradi¢e cake Tint: jenipap, Acero: Museu Antopolgico da UFG, Foo: elmo Cae Tanto essas mesmas tintas quanto os diversos motives geométri- cos so usados na pintura corporal que entre os Karajé é praticada com mais intensidade por ocasizio das festas. ‘Sio varios os padrées usados caracterizando-se pela combinagao de Jinhas horizontais e verticais numa composicdo geométrica de gregas quadrdticas. Os desenhos, pelos nomes que lhe sio dados, representa partes do corpo da fauna terrestre e aquatica: formiga, cobra, urubu, mor cego, peixe, tartaruga, mas nunca 0 animal todo. Podem ocorrer também imotivos ornamentais interpretados como elementos da natureza: ‘cami- nho sem fim’, forquilha’, etc. O tinico motivo ornamental que foge a essa regra encontrase na decoracio de alguns potes, pratos cerimoniais, fgu- ras fantistic i nos quais aparece representada a mascara de ‘Aruana. Esses motivos constituem padroes tradicionais que todo men- bro do grupo aprende a desenhar desde crianga na areia das praias do Aragquaia: os mais velhos ¢ mais aptos ensinam aos mais jovens 0 que mais tarde indo aplicar nos utensilios domésticos em cerimica, depois na inadeira e por fim no corpo hurnano. ‘A pritica do desenho, portanto, inseresse no processo edu que impoe normas de seu uso confornre idade, sexo ¢ papel social ‘Alguns padroes sii restritos aos chetes, outros so aysurecem nos urtefitos da cultura material, Hi padroes biisicos ¢ derivados, estes podendo alcan- gar uma centena de variautes, permitindo entrever une elaborado esque tna cognitivo que & dado pelo entrecruzar das liahas, pela percepsito, ds iribuicao do espaco ¢ volume, pelo preenchimento do vizio. ‘Uni observador pouco atento pensaria em reprodacdo mnemsdnic primiria, estabelectta por una habilidade motora que toi condicionada Digitalizado com CamScanner AMAURY ME eee - rico apenas pela cultura, Os estudos desenvolvidos no Museu Antragoligh ie a UPG referentes 4 cultura material dos Karaié tém revelado ey complexidade que os desenhos comportam e a capacidade que esses dios demonstram em executé-los, seja nos suportes diversos proprios 0 ‘seu ambiente, seja naqueles estranhos ao mesmo, no caso, o papel. Nas pesquisas realizadas, ficou evidenciado que, ao produzir 0 de- senho, 0 indio tem como referente o corpo humano, ou parte dele, pois, #0 transpor o padrio escolhido para o papel, consegue imprimir-lhe movi- mento e umn certo abaulamento que é natural quando o desenho é realiza- do em torno das nidegas e pernas, em sua parte lateral. Essa pesquisa revela também que, se 0 uso do padréo dos dese- nhos geométricos deve se submeter ao cédigo social do grupo, é na ceré- inica que a interdigao cessa e a ceramista combina padrées diversos. Por outro lado essa liberdade se revela nas diversas possibilidades da oleira em modelar o barro ao fazer figuras humanas. A tensao tradigao/criativi- dade (tema de uma exposicéo onganizada pelo Museu), permanente en. tre os Karajd, revelase também na cerdmica fgurativa. Estudos mostram como essas pecas tém evoluido na sociedade em questao (cl. Castro Fa. 11a, L, 1959, e Fenelon Costa, M.H., 1978). Passam da representacao esteatopigica a figuras nas quais bragos e pernas apresentamse separe. dos do corpo, com posturas expressit ivas. Pode-se relacionar essa evolugao ds fases de maior contato com a socied: lade envolvente, consumidora dvida desses produtos. O Karajé ndo rompe com a tradicao e mantémse fiel ao perfil estilistico global de sua cultura. Com ela, retrata seu préprio univer. soe imprime a tudo que faza marca que o indi Vidualiza dos outros grupos indigenas brasileros: ao enfocar 0 homem ou a mulher, o corte decabele a marca tribal tatuada na face, os adornos como brincos, pulscisay fornozeleiras e a respectva pintura corporal estarto presentes, bem conn matéria:prima que utilizam normalmente. Grupos cénicos dos, explicam eles, para ensinar é crianga us cenas de caga nas quais animais (hoje mais Suerreiros, O imagindrio cria figuras que tém cabega de anim (alma benigna) ou as wni/\uni (alan maligna violéncia) podem manifestar-se através del am 0 mundo que da repetivio ¢ do recomesar coustante inprimem tan sito dindmico que marca sua resistencia frente dagresslo,enda vec na presente, que sofrem em seu anibiente ecoldico & no seu diteito d ain Ao fucer de seus artefatos wan melo de subsistencia na venda aos taristas transmnitem a mensagem de que estio vivos, mestna adyptundo sts oee as a fingdes que hes sho estranhas: chape'us de pulls trangucte vesior cinzetros, vasos para foves ou estelras dianinutas ds quits dixun remon Aechas, arcs ¢ hordinus miaiaturiaadus, Fin todas eis esti presenters estilo ¢ a matérieprima usual ¢ permanece cli a munitestagia des une produgho grupal prazerosa, sto monte. Ss € costuines da aldeia, ou raros) sio encurraldes por BIBLIOGRAFIA CASTRO FARIA, L.A Figura Humana na Arte dos adios Kura. Publica: brHeytiion ! off Mu Naconal Uatveradte Feira do Rio de Janciro, 1959, Digitalizado com CamScanner PACAVERNA NO MUSEU:DICIONARIO DAS ARTES PLASTICASEMGOUS__27 FENELON COSTA, MH. A Arte e o Artista na Sociedade Karaid. Funda- 40 Nacional do indio. Departamento Geral de Planejamento Comuni- tario. Divisdo de Estudos e Pesquisas. Brasilia, 1978. MELATT, J.C. Indios do Brasil-3* edicao. Editora Hucitec, Séo Paulo, MELO TAVEIRA,E.L. e FENELON COSTA, M.H. Karajid,in Encyclopedia of World Cultures, volume VU, South América, pp. 187-191. MELO TAVEIRA, E.L; POLECK, L. e FENELON COSTA, M.H... Les karajd du fleuve Araguaia, fle de Bananal. In Les Dossiers dArchéologie — niimero 1 - 69/mars, 1992, pp. 50-55. VIDAL, L. Aspectos da Pintura na Cultura Indigena. Separata dos vols. XXVII/XXVIIL Revista de Antropologia. FFLCH - Departamento de Ci- facia ‘Sociais (Area de Antropologia). Universidade de Sao Paulo, 1984/ 1985. ARTE SACRA ‘A descoberta de uma promissora zona de mineracdo em 1722 pare- cia a abertura de um horizonte de desenvolvimento para a provincia de Goids, mas a distancia e as dificuldades de acesso impediram uma concor- réncia com as Minas Gerais que atraiam os investimentos, provocando conseqiientemente a evolucao arquitetinica e artistica da regio. ‘As dificuldades econémicas enfrentadas pela populacao apés a exaustio das efémeras e enganosas veias auriferas sio o reflexo da nossa arquitetura de caracteristicas singelas, sem o fausto e a monumentalidade do periodo barroco, encontrados nos Estados do Leste, Nordeste ou mes- mo da vizinha Minas Gerais. Numa época em que toda a producao artistica era direcionada e dirigida pela Igreja, Goids se contentava em importar as imagens de Portu- gal ou dos Estados do Nordeste, principalmente da Bahia, que jé desponta- va como uma provincia produtora de pecas de reconhecidas qualidades artisticas, ‘Assim, em virtude das dificuldades de importacio, ficavam reserva- das para 0s artistas e artifices locais apenas as execucoes de grandes pecas, ‘como pintura e douracao das igrejas, confeccao de altares, colunas e retibulos ttc, que ainda hoje permanecem, como para confirmar a escassez de uma mao-de-obra especializada em toda a regio nos séculos XVII e XIX. Entre os poucos artistas que atuaram em Goids, merecem registro: Reginaldo Fragoso de Albuquerque, pintor e escultor que executou nas igrejas de Meia Ponte, hoje Pirenépolis, diversas imagens e retébulos por volta de 1766. Na segunda metade do século XVIII, durante dezessete anos, oalferes Bento José de Sousa permaneceu trabalhando na confec¢a0 de nove retdbulos para sete igrejas de Vila Boa, hoje cidade de Gois, con- forme pesquisa do historiador Elder Camargo de Passos. André Anténio da Conceigao era pintor e, na segunda metade do século XIX, executou forro e o coro da Igreja de Sio Francisco de Paula, em Vila Boa. Cincinato da Mota Pedreira foi o autor das esculturas em pedra-sabio da mesa e dos bustos de filésofos gregos que ornavam as colunas do Palacio Conde dos ‘Arcos e que hoje se encontram em exposi¢ao no Museu das Bandeiras na cidade de Goids. Inacio César Xavier de Barros, pintor do século XIX, é Digitalizado com CamScanner 28 AMAURY MENEZES aay eves tido como o autor de uma bandeira que se encontra no Museu da Boa Morte na cidade de Gois, Ignacio Pereira Leal, em Pirendpolis, e Joao da Conceigao de Jesus, em Golés, eram conhecids pintores do século XIX, mas suas obras nao sAo atualmente identificadas. Como vemos, num peri- odo superior a duzentos anos, sio poucas as referéncias de nomes impor- tantes nas artes ou € pobre o nosso registro historico, Dentro desse cenario de decadéncia econémica e repleto de circuns- tancias adversas, até mesmo de comunicagao com o restante do Pais, me- rece uma referéncia especial o surgimento de um fenémeno isolado nas artes plisticas. Trata-se de José Joaquim da Veiga Valle, eximio escultor ‘Sacro erudito, embora autodidata, nascido em 9 de setembro de 1806, no arraial de Meia Ponte, onde exerceu diversos cargos publicos, transferin- do residéncia para a cidade de Goids em 1841. Durante sua vida (1806/ 1874), produziu mais de 200 e¢as, a grande maioria estatuas esculpidas < a pintura que, quan- do raspada com delicados instrumentos, mostrava os sutis detalhes dos Em artigo publicado na revista Renovacao,em 1954, o Professor Luiz Augusto do Carmo Curado escreveu: “Na época em que Veiga Valle reali- zava, em Vila Boa, as obras que hoje despertam a admiragao, em Vila- ismo de suas linhas,” Digitalizado com CamScanner AS ARTES PLASTICAS EM GOIAS _ 2 DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO L ‘Vesa Vaie~ Nosea Senhora Gri Esculura em aera com encarnar,douragioe intra, 18m. ceva ‘Museu de Arte Sacra da Bow More, Pots: Elder Camargo de Passos ARTE POPULAR ‘A ténue linha que separa a arte do artesanato desencorajou-me a abordar esse tema, principalmente num Estado como Goids, de formacao cultural baseada na economia primaria e rico nas suas manifestagdes fol as. Todavia, num capitulo aberto para a arte popular, nao poderia a galeria dos ex-votos de Trindade, um verdadeiro museu de arte popular, dos mais auténticos e representativos do Brasil. Digitalizado com CamScanner Para ess cha Lima, estudio dade, Tindade & nit. E objeto det : amigoea abordagem, solicitei do amigo eames So. oe ate de obra sobre o assunto, um depoimel bre o valor artistico das pecas encontrada: uma pequena cidade situada uma romaria Espirito Santo, simbolizado en OSantudrio que abriga o. exvotos que testemunham em decorréncia de doengas, cimentos que thes perturb: rtista plistico Elder Ro- ala clos Milagres” de Trin- Volos de Trindade Exper Rocua Lima* la nas proximidades de Goié- anual expressando uma devocao ao Divino m un medalhao trabalhado por Veiga Valle. medalhao comporta uma las pelos crentes em acidentes e outros aconte- am a vida. Quando 0 santo invocado propicia o alcance da graga, ha entat ibuig formas: esculturas, pintuy 's fotos, mechas de cabelo, thos ortopédicos etc, Em Trindade encon ras e pinturas da melhor. arte popular: além de pecas de ex-voto, lade, nos ex-votos, s forte esquematizacao es nagao fisiognémicas, travse um rico acervo, particularmente esculty- alidade, expressando uma rica facets de nossa sob forma de escultura Uistica, aleum: encontraremos, as de clara inclj- comum em obr: coisa aliés nio muito ‘as do género Exot de Tene, Foto Marcela Fp * Elder Rocha Hina arte Bre Vto de Trae acm nea risa ste, esr ew an gaeebacan hig Digitalizado com CamScanner DACAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM A rudeza de tratamento, comum em todas as obras, é em grande parte resultante da falta de habilidade técnica ao lidar com a matériapri- Ma, 0 que induz o fazedor das begas a adotar certas solugdes formais de belos e imprevistos resultados. Como exemplo disso, vemos 0 desenho em incisio substituindo 0 modelado, 0 que faz conservar a integridade da matéria esculpida, sohy grado de intimeros escultores de nossos dias. A posigio de reconhecer no “artista” produtor de ex-voto uma site: 10 virginal e de manipulador espontineo é uma atitude necessaria para quem quer se aproximar desse produto com 0 objetivo de alcangar um principio de empatis ay Digitalizado com CamScanner AMAURY MENEZES it i i Jiame indispen- Qualquer idéia, irecanceliaog impede de criar esse ivel a um reconhecimento estético. _ Saver 0 priprio fazedor de ex-voto ndo reconheca alguma ton em seu trabalho, principalmente tendo em vista que néo é esse seu vo ao crié-lo, 7 a Outra observagao que caberia aqui é a constatagao da impressio ante unidade formal encontrada nas pecas produzidas = Trin aa Ge outras criadas para as vérias salas de milagres encontradas no mad alhures, o que nos leva a concluir que se trata de uma face do inconsci coletivo, no sentido em que Jung cunhou a expressio. Finalmente, seja-nos permitido dizer que ao nos defrontarmos com alguns ex-votos nao é dificil reconhecer que apresentam um aplomb artis- tico mais marcante que muitas obras ditas eruditas que rolam por af. OS VIAJANTES Os primeiros artistas conhecidos que tiveram atuacdo na histéria das artes em Gois foram viajantes atraidos por novidades oferecidas pela paisagem, arquitetura, fauna e flora, por empreitadas de servicos, ou pelo prazer da aventura que uma viagem a qualquer regido totalmente desco- nhecida pode propiciar. Alguns desses artistas eram eximios desenhistas que faziam parte de comitivas e expedigdes, com a incumbéncia de criar mapas, documentar fatos, cenas ou cendrios importantes, num trabalho que hoje seria confiado aos gedgrafos, fotdgrafos e cinegrafistas, A mais antiga referéncia a um nome, segundo o historiador Elder Camargo de Passos, é 0 de Tossi Colombina, geégrafo e desenhista que atuou na antiga Vila Boa de Goi, no século XVII, mais precisamente em 1751, quando deixou registrada a paisagem arquiteténica da velha Capital, com um desenho que caracteriza, pela sua forma documenta, a sua condi, $0 de um profissional competente. Sao plantas urbanas e fachadas das edificagdes que, pelas suas caracteristcas, servem, ainda hoje, para dent, ficar as pequenas modificacdes que alteram o centro histérico da cidade. O artista é citado também no livro Os Aldeamentos Indigenas na Capita: ania de Gols, da professora Marivone Matos Chaim: “..) Instalado 0 go. verno auténomo em 1749, Francisco Tossi Colombina, a pedido do gover. nador D, Marcos de Noronha, trapou um mapa das regiges centras nele figurando a Capitania de Goids...” Reginaldo Fragoso de Albuquerque (século XVII era pintor e es: cultor e, atuando na cidade de Meia Ponte (Pirendpolis),executou em 1766 diversos trabalhos nas igrejas locais, Bento José de Sousa (século XVIN), segundo o pesquisador Elder Camargo de Passos, era pintor e permaneceu por dezessete anos trabs. Ihando em Vila Boa de Goids, produzindo retabulos para as igrejas locale. Seu inventirio, datado de 1782, ano do provivelfalecimento do artista: & tum documento importante para atestar a autenticidade de suas obras na cidade. O mais conhecidoetalentoso dessesvialantes que percorreu o Esta- do de Gois foi seguramente Wiliam John Burchell (1781-1863), desesihi os (178 ista, pintor e botanico inglés que durante sua permanéncia de cinco anos no Digitalizado com CamScanner DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ART § PLASTICAS EM GOIAS, 33 Brasil, entre 1827 ¢ 1829 percorreu o nosso Estado, registrando importan- tes paisagens das cidades de Bonfim (hoje Silvinia), Meia Ponte (Pirendpolis), Arraial do Cérrego de Jaragua, Vila Boa de Goias, Arraial de Arraias, Atraial da Conceigio, Nossa Senhora da Natividade (Nativid: de), Arraial do Carmo, Porto Real (Porto Nacional) ¢ Cachoeira do Laje: do. Sao desenhos e aquarelas de autoria de um artista, dono de um absolu- to dominio técnico, com tracos de clevada sensibilidade, que transformam aqueles desenhos em obras de grande significado artistico. A preciso dos desenhos de Burchell é tio grande, que seguramente podem servir de documentos para restauragées, preservagdes ¢ levantamentos do nosso patriménio arquiteténico. Os originais desses desenhos, assim como to- dos os documentos da permanéncia de Burchell no nosso Pais, encontram- se no acervo do Museu de Johannesburgo, Africa do Sul, tendo sido mos- trados no Brasil por ocasiao da exposigo “O Brasil dos Viajantes”, realiza- dano pavilhio da Bienal de Sio Paulo em 1994 e publicados em 1981 pelo pesquisador Gilberto Ferrez. ‘Wasi Jus Bence Deseo realizadoem 128a ise aquarels, Vistada Cade de Gis aparecendo area Bi Noses Senfons da on Morte Paci Conde dos Arcos, Stx181 sem. (cae), (ustracio publica no O Graaldo Primero Keinado Visto pot botinico Willa John Burchell de Gilberto Ferree, do Insttto Histrco eon Brasieiro,editado pela Fungo Jose Moreira Salles Fundacio Nocona Pre-Memscia, 1981) Francis Castelnau, gedgrafo e desenhista francés, organizou, no s& culo XIX, sua prépria expedigzo para percorrer o Estado de Gots e descer orio Paraupava (Araguaia). Seu desenho mais conhecido, datado de 1844, foi publicado pelo historiador Manoel Rodrigues Ferreira e servi, pela sua exatidao de detalhes, para identificar, em 1971, a Ilha dos Martitios, no rio Araguaia, regiao de Xambiod, entre as cachoeiras de SA0 Miguel e San- ta lsabel, Essa ilhota, rica em inscrigdes rupestres fol descoberta em 1673 pelas bandeiras de Manuel de Campos Bicudo ¢ de Bartolomeu Bueno da Iva, pai do Anhangiera. ‘André Antonio da Conceigio (século XIX) era pintor ¢ autor do forro da Igreja de Sio Francisco de Paula, conforme documentos data- dos de 1870, ‘Ainda hoje, baseadlos nas mesmas motivagdes dos antigos viajantes, temos diversos artistas contempordneos, golanos ou no, que, fugindo da vida atribulada dos grandes centros urbanos, procuran instalar seus esti dios em pequenas cidades do interior do Estado, na busca de um ambiente Digitalizado com CamScanner Pn AMAURY MENEZES apropriado para suas producdes. DJ Oliveira, um dos mais importantes notes da arte ioiana, depos de frustradastenfalivas até no exterior, en controu sua tranqiilidade em Luziinia, Oswaldo Verano, em Anépolis Caetano Soma, na emergente Goidnia dos anos 30; Robin Mc'Gregor e Rescala na Cidade de Goitis; Elder Rocha Lima, Elin Dutra e Otavio Costa, em Pirenépolis, so apenas alguns nomes que podem ser lembrados como 08 novos viajantes, AMUDANCA DA CAPITAL, O isolamento geografico da Cidade de Gots nfo era empecilho para solitdrias manifestagdes culturais, mas esses acontecimentos nao se refle- tiam nas demais cidades do Estado ©, 0 que era mais preocupante, nao cram mostradas fora das nossas fronteiras, da mesma forma que pratica. mente nao tinhamos conhecimento das reagbes que ja formavam um mo- vimento de vanguarda nas artes no Brasil. Nao podemos afirmar com seguranga que a fundagio de Goin conseqtiente mudanga da capital tenham propiciado o surgimento de no- Vos artistas, mas, seguramente, a menor dificuldade de. intereimbio como restante do Pais possibilitou uma efervescéncia cultural com reflexo prin- cipalmente nas artes plisticas, Para abordar um tema de tio grande importancia no movimento cultural do Estado, solicitei de um dos maiores. estudiosos da arquiteturae das artes na nova capital um depoimento baseado em Suas pesquisas, tese obra publicadas sobre oassunto, ‘Trata-se do arquitetoe professor Guclees Neiva Coelho, um amigo que tenho o orgulho de chamar de excalune a Digitalizado com CamScanner DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GO1AS 35, AMudanga da Capital e as Artes em Gots Gustavo Newa Coztto* A produgio cultural no Estado de Goids apresenta um forte desen- volvimento durante o século XIX, principalmente no que se refere as le- tras, d miisica e dis artes cénicas. As artes plisticas ficam, durante esse periodo, praticamente restritas a nomes ligados 4 imagindria sacra, como os de Joaquim José da Veiga Valle e Sebastido Epitinio, nao apresentando nenhum nome representativo no que se refere 4 pintura. Destacam-se, por essa época, a cidade de Goids, capital do Estado, ¢ Pirendpolis, como centros produtores de cultura, estando seus escritores, misicos e escul- tores, em certa medida, isolados dos centros maiores, desenvolvendo sua producio, desconectados do que se fazia em cidades como Rio de Janeiro, ‘Sio Paulo e Salvador, para citar apenas as trés de maior destaque. Até as décadas iniciais do século XX, varios jornais, tanto noticiosos quanto cul- turais, foram publicados, principalmente nessas duas cidades. Varias ban- das e orquestras interpretavam em praga piiblica, ou mesmo em salas fe- chadas, pegas musicais compostas por autores goianos, e os Teatros Sdo Joaquim, em Goids, e Pirendpolis, na cidade do mesmo nome, lotavam ‘suas salas nas apresentagdes realizadas por grupos de autores locais. A fuundagao de Goiania e conseqtiente transferéncia da capital goiana aconteceram em win momento especial de efervescéncia da politica cultu- ral brasileira. E 0 momento imediatamente posterior 4 Semana de Arte Moderna, quando todos os segmentos da cultura brasileira esto se dedi- cando a novas experiéncias, e o lema de ‘Modernidade e progresso’, do governo Vargas, promete colocar 0 Brasil no mesmo patamar de desen- volvimento em que jd se encontra o primeiro mundo da Europa e América do Norte. Implantada dentro desses conceitos de modernidade, desenvolvi- mento e progresso, a cidade de Goiinia tem, em um primeiro momento, a arquitetura, como carro-chefe do seu desenvolvimento cultural e artist co. A modernidade do Art Déco, estilo que se apresenta como oficial nos anos trinta e quarenta, traz para os edificios piiblicos, monumentos e mo- biliério urbano conceitos até entao desconhecidos dos goianos. E é essa visio de modernidade que vai desencadear um processo de discussdo e conseqiiente avango cultural no sentido de tentar aproximar Goitinia dos grandes centros culturais do litoral brasileiro, Nesse momento surgem edificios do porte do Teatro Goidnia e da Estagio Ferroviiria, akém de monutentos como 0 coreto da Praga Civica eo reldgio da Avenida Gotis, seguidos de outros de menor expressio, como 0 Grande Hotel, o Banco do Brasil e Grupo Escolar Modelo, No palco do Teatro Goiinia, era pos- stvel assistir a apresentagdes de grandes nomes do teatro nacional, como Eva Tudor e Procépio Ferreira, entre outros, Eventos culturais traziam até Gotinia nomes do primeiro escalio da literatura nacional, como Monteiro Lobato e Jorge Amado, ¢ mesmo internacional, como 0 Prémio Nobel chileno Pablo Neruda. A revista Oeste comegava a divulgar nomes comme os de Bernardo Elis, José Décio Filho, Vasco dos Reis e Marta Palinia, * Gustavo Neva Coetho¢ arte ‘Arquiteturana UCG e suo de esteem istria das Sociedade Ages, professor de Teoria Hsia de rome paca eau Digitalizado com CamScanner AMAURY MENEZES A partir da década de 1950, novos conceitos de smoderidade Lee cam mudangas na arquitetura desenvolvda em Goiénia, A volla para Got as de arquitetos recém-formados, principalmente no Rio de Jane St zm pata o centro de discussio os novos caminhos tomados pelo mé nnismo, tanto no que se refere & arquitetura, quanto ao que se estava pro- pondo com relacio ds artes plisticas. O trabalho conjunto entre arquite- ‘os artistas plistcos, jd desenvolvido havia décadas em centros como Rio e Sio Paulo, comegam a tomar forma em Goidnia, onde muralistas como Frei Nazareno Confaloni, DJ Oliveira e Maria Guilhermina come- sam a divulgar uma nova forma de arte, até entio desconhecida em Goids, nas fachadas das residéncias e sales de edificios piiblicos. Pouco tempo foi necessdrio, apenas trés décadas, e trabalho per- sistente de pessoas como Dona Belkiss Spenciere e Maria Lucy Veiga na isica; José Neddermeyer, Eurico Godoy e Elder Rocha Lima na arquite- ‘ura; Lulz Curado, Brasil Grassini e Professor Veiga nas artes plisticas; Bernardo Elis e Vasco dos Reis na literatura, colocou a cultura, | produzida em Goids no mesmo patamar de divulgacao e qualidade dos principais centros do Pais, O BATISMO CULTURAL DE GOIANIA Um importante acontecimento como a inauguracao da cidade, que Fepresentou para 0 movimento artistico do nosso Estado um impulsc sem precedentes, merece uma andlise ao mesmo: tempo histérica e sociolégica, Dai aimportancia do depoimento abaixo, das professoras Dalisia Elizabeth Martins Doles e Maria Cristina Teixeira Machado, Batismo Cultural de Goiania ~ Simbolo de um Tempo ‘Mania Cristina Terxeira MacHapo* Dalisia Elizabeth Martins Doles** O Batismo Cultural de Goiéinia em 1942 foi, tt Goi além de um aconteci- ‘mento cultural da maior relevancia para o Estado, um evento que nba zou toda a perspectia de uma época votada para os idenis de progres modernizagio. A Revolugao de 30 em Goids iniciara uma dindmica que oder. Esse processo 1937, no periodo registrado pela historiogratia brasileira como Estado Novo. O stud Novo chama para sia tareta de ser 0 instrument do de. senvalvimento nacional. A preacupagio com as reeibes despovodng ante das pretensdes e atitides internacionas frente is riquezns do Pages ‘ntensa e permanente, A amenca de se receber inigrantes indesstaoe aps o término da guerra faz do povoamento a i 0 necessidade fundamental para a preservagio da autongnia do Pals. A cupagio de espagos re ra Machado, dutor em Sollaga pela Ua, ms Dale satan em Ha pla USI fo pofesorasda UG, Digitalizado com CamScanner vista como possibilidade de desenvolvimento econémico, aparece, nesse momento, como uma questao de seguranca nacional. O governo propie, entao, a ocupagéo da Amazénia, alvo da cobica internacional. Essa ocupa- a0 deveria efetivar-se através do Planalto Central. A colonizagao passaria, assim, pela ocupagio prévia de Goids e Mato Grosso. A nacionalidade de- veria ser afirmada pela ocupagao de espacos vazios e pelo concomitante crescimento da produgao agricola, vista como 0 caminho para 2 auto-suft- ciéncia econémica. Propée-se, entao, a Marcha para 0 Oeste. E interessante observar que, situando-se nesse contexto, 0 periodo do Estado Novo em Goids marca positivamente a vida do Estado. O gover~ no estadual, que atravessara varias crises apds 30, firma-se em seus alicer- ces politicos, consolidado pela conjuntura nacional que favoreceu a cen- tralizacao do poder e exigiu uma dinamizacao administrativa que favore- cia 0 progresso. Desse modo, racionaliza a administracéo piiblica, favore- ce a concretizacéo de propostas de colonizacao, dé andamento as obras da construgio de Goiinia. Tudo isso desenvolve a atragao de capitals para 0 Estado. Através da leitura de documentos da época, tenr-se a impressao de que Goids cresceu, tomou impulso e deixou de ser aquela Terra Distante descrita por Cordolino de Azevedo em 1925 (Terra Distante: Impressdes de Goids, editado no Rio de Janeiro). Essa percepeao se reforga pela constatagio de que 0 quadro politice-administrativo do Estado se trans- forma. Mudam-se as pessoas, diversificanse as relagGes interestaduais € internas. A dinamizagéo das relacdes interestaduais se intensifica a partir de 1941, com 0 momento de climax da Marcha para o Oeste. Ao final de 11939 Getilio planeja vir a Goiinia, primeiro chefe de Estado que visitard Goits, gesto simbélico do avango para o interior do Pais, legitimando a politica de ocupaco de espagos que 0 governo federal desenvolverd a ‘partir dal. A visita se concretizard em 1940, quando o presidente conhece aha do Bananal, O que se destaca no periodo, porém, é a predomindncia de uma nova mentalidade administrativa, que se traduzird na maior racionaliza- (edo da agzo do Estado que afirma a sua identidade, distanciando-se da tutela da familiocracia que marcara a ordem oligérquica anterior. Desse ‘ponto de vista, a implantagao do plano Idort, jé concretizada, produz resuk tados. O Instituto de Onganizacao Regional do Trabalho, a pedido do go- verno de Goids, fizera um levantamento geral da organizacao do Estado, de 1936. marco de 37, e propusera um plano geral da reforma, aprovado ‘no final de 1938. Em fevereiro de 39 deu-se inicio aos trabalhos. Goids foi 0 segundo Estado a se utilizar dos servigos do Idort, reformulando toda a estrutura administrativa vigente até entao. O plano foi aplicado gradual- mente, criando a carreira do Ministério Piblico, instituindo concursos para o provimento de cargos e promovendo cursos especiais de preparo e aper- feigoamento de pessoal. Todo esse processo se objetiva em um surto progressista/ modernizante que dinamiza a vida cultural do Estado. A inauguragao off- cial de Goinia, a 5 de julho de 1942, mobiliza todas as atengdes. A vida cultural da cidade, que se iniciara com a constru¢io do Liceu de Goiénia, Escola Técnica Federal, Escola Normal, Grupo Escolar Modelo e, final- mente, com a fundacao da Academia Goiana de Letras em 39, é marcada, ‘nessa ocasiao, pelo que se chamou de Batismo Cultural de Goiinia. Digitalizado com CamScanner 8 AMAURY MENEZES AMAURY MENEZES No Batismo Cultural, a cidade se viu tomada por uma série de even- ‘os significativos: a reuniio dos Conselhos Nacionais de Geogratia e Esta- {istica, a Exposicio-Feira de Animais, a Semana Ruralista e 0 8° Congresso Brasileiro de Educacao. Inaugurou-se 0 Cineteatro Goiinia, com a apre- sentacao da peca Colégio Interno, que trouxe a atriz Eva Tudor, no papel principal. Foi também apresentado 0 filme Divino ‘Tormento, estrelado por Janete MacDonald e Nelson Eddy. Coroando esse pot-pourti de even- fos, a Orquestra Sinfénica de Goids apresentowse no Palicio das Esme- raldas sob a regéncia do maestro Joaquim Edson de Camargo, misico de ssurdosa meméria para todos que conhecem a historia musical do Estado. Estd no ar; funcionando em cariter experimental, na faixa de 930 quilociclos, a Radio Clube de Goidinia, e circula, entre os participantes dos eventos que marcaram o Batismo Cultural da cidade, a revista Oeste, do- cumento da maior importincia nesse momento pioneiro. Através de Goidnia 0 Pais volta-se para Goits, inclusive sob outros aspectos: riquezas minerais, desenvolvimento pecudrio, possibilidades econémicas etc. Goiis desabrocha para o Pais. E interessante observar que a vida cultural da cidade nesse perfodo faz inveja aos nossos dias: circulavam aqui 41 Jornais e revistas editados no Estado! Os reflexos culturais desse surto progressista se manifestam tam- ‘bém no universo feminino. Em meio ds festividades, surge a primeira avi- adora goiana recebendo seu brevé na Exposigéo-Feira dos Animais: Ligia Bastos de Oliveira. O reconhecimento das forgas histéricas que impulsionaram todo esse processo simbolizado pelo Batismo Cultural de Goiinia, deve sercom- pletado pela constatagéo da forga da lideranca carismdtica de Pedro Ludo- vico no quadro descrito. A configuracao carismitica do lider, a disposieao ara a efetivagio da mudanga da capital e a conduta moralizadora frente & direcdo do Estado agiram como atrativos para o capital nacional. As rela- Ges paternalistas com a classe trabalhadora possibilitaram, por outro lado, @ confianga dos trabalhadores no interventor. Assim, capital e trabalho foram articulados por Pedro Ludovico, dinamizando o processo de mo- dernizagio do Estado. De norte a sul do Pais Goifinia é noticia: “O interventor Pedro Ludovico solicitou ao Presidente Getilio Vargas um autégrafo para ser depositado numa rica w tarfio docu mentos historicos referentes A fundagiio de Goifinia, (Ditrio de Pernambuco, Recife, 13/6/42) niga do Ministro da Agri- mais nova cidade do Br: = comap ida, hoje, (O Dia, Curitiba, 3/7/42) Digitalizado com CamScanner DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GOTAS 9 ASOCIEDADE PRO-ARTE DE GOIAZ Com 0 pomposo titulo de Batismo Cultural, a festa de inaugura nova capital de Goiis, marcada pela presenga dle visitantes ilustres por apresentagies artisticas no novo Cineteatro Goidinia, despertou os artis locais que procuravam reunit-se para mostrar suas produgdes e dist sobre os titimos acontecimentos culturais do Estado e do Pais. Um dos mais acreditados intelectuais daquela época, 0 arquiteto, pin- tor, escultor e miisico José Amaral Neddermeyer encabecou 0 movimento de arregimentagio dos artistas da cidade para estruturagao da Sociedade Pré-Arte de Goiaz, oficialmente fundada em 22 de outubro de 1945, com a io da orquestra regida pelo maestro Erico Pieper e com a aber- tura da 1° Exposicao de Artes Plisticas e Arquitetura, que se repetiu regu- larmente nos anos de 1946, 1947 e 1948, atraindo artistas das cidades de da on | Jeet sani, Neonat ~ 1942, clmento bratcu © de mirmore, Soke, Acervo: Regina di Neermeyer Fa: Wilson Deen Acervo: Regina de Menezes Digitalizado com CamScanner |ENEZES 0 AMAURY MENEZES atau tv Mesmo com uma atuagio de acentuada tendéncia para as cae AAusicais ¢ dentro de um quadro de aparente singeleza, a ae te de Goiaz foi na realidade a primeira escola de artes plasticas do ae Ho. iuando os arquitetos Neddermeyer e Jorge Félix de Souza e 0 Pint José Talberto da Veiga, resindo umm grupo ve slanos comeraram a dar aulas de desenho e pintura, gratuitamente, ao ar livre, na Praca Civica, em Governo, como: que denunciando a falta de um espaco nia, Essa ago foi fundamental para a cna¢AO, poucos anos depois, da Escola Goiana de BelasArtes. | A pianista Belkiss Carneiro de Mendonga, reconhecida internacio- te como uma das mais importantes figuras do panorama musical em apresentar um depoimento sobre 'missao e participaco na recémecriada entidade, Sociedade Pré-Arte de Goiaz nalment no Brasil, concordou amavelmente sua ad; Belkiss Carneiro de Mendonga* Saudowme a oradora oficial da entidade, Dra Amélia Hermano Teixeira, com belissimas palavras de boas vindas, concitando-me a parti. Cipar do grupo, trabalhando juntos pela cultura ors fossa cidade, Apés tio carinhosas palavras, fotme ofertado em nome da Socieda- de, por Caukeb Cury, bonito ramalhete de flares, tendo entio insioe pro- rama do concerto, a cargo da Orquestra da PrésArte, crinda g dirigida pelo maestro e pianista Erico Pleper._ = : Participei, durante sua existéncia, das reunides levadas a efeito, ten- doa Sociedade, como objetivo, a divulgagio dos artistas e esertores sec, vés de exposigdes, Jangamentos de livros e noites musicais, A ESCOLA GOIANA DE BELAS-ARTES Banat engl arte, levada a efeito pelos fun- imeira experiéncia cle ensino de arte, leva ssa Goctedade Pro-Arte de Goin, trnsormotrse em Preocupagio Lae Oe spa algune aria ia poe, princlpamente ne: o professor Per Calais ereak,pinor, deoeallain grovadar qué leloaees mate. Luiz Curado, i Pintor, can A Mise le eet dg tag, tra do : de Menton a Seednde recs de Mis Conteris Digitalizado com CamScanner \CAS EM GOUAS at DA CAVERNA AO MUSBU: DICIONARIO DAS ARTES PL mitica na Escola Técnica Federal de Goias, a mesma escola onde, desde 1949, o escultor alemao Henning Gustav Ritter era responsavel pelas ca- deiras de Carpintaria e Desenho do Mobilirio. Neddermeyer, Veiga e Jorge Félix, da Pré-Arte, mais Peclat e Ritter, sob a lideranga de Luiz Curado, continuavam planejando a fundagao de uma escola de artes, quando, em 1950 chegou Cidade de Goids Frei ‘Nazareno Confaloni, um frade italiano da Ordem dos Dominicanos, desig- nado para paroco da Igreja do Rosario, onde iniciou a pintura, na técnica de afresco, de quinze painéis e o altar-mor, representando os Mistérios do Rosdrio numa visio contemporanea que a principio chocou a populagéo local, pouco acostumada as correntes modernistas. Procurar o Frei Confaloni e conquistar sua adesio a0 projeto foi 0 primeiro passo de Luiz Curado para conseguir, em seguida, com 0 Arce- dispo Dom Emanuel Gomes de Oliveira, sua transferéncia para a Capital, aumentando assim o grupo de artistas que dariam consisténcia ao sonho de criar uma escola de artes em Goiinia. Lise Como = Aula de gravee 1989 Fs: Amaury Nuaexo Conrad Pata na EGBA, 190. Mareoee Fo Amaury Meneses Em 1951, como falecimento do arquiteto José Amaral Neddermeyer, fundador e principal suporte da Sociedade Pré-Arte de Goiaz, o projeto de estruturacao da escola de artes sofreu um pequeno retardamento, mas em 1° de dezembro de 1952, foi finalmente criada a Escola Goiana de Belas- Artes, cuja ata de fundacao recebeu a assinatura dos professores-fundado- res Luiz Augusto do Carmo Curado, Frei Giuseppe Nazareno Confaloni, Henning Gustav Ritter, Antonio Henrique Peclat, José Edilberto da Veiga, Jorge Félix de Souza, José Lopes Rodrigues e o médico Luiz da Gléria Mendes, além do Bispo-Auxiliar de Goidnia, Dom Abel Ribeiro Camelo. Iniciando 0 ano letivo, em marco de 1953, comegava a funcionar a EGBA, sob a direcao de Luiz Curado, em um prédio cedido por Dona Ruth, vitiva do Dr. Neddermeyer, na Rua 9, entre as Ruas 4e5, Centro. A inaugu- racio da Escola coincidiu com a abertura da 1* Exposieao Coletiva dos Professores da EGBA, no /al/de entrada do prédio. Era 0 inicio de uma estrutura nas artes plisticas do Estado, que revelariam para Goids e 0 Bra- sil nomes significativos como Siron, Roosevelt, Leonan, Ana Maria Pache- Digitalizado com CamScanner 2 AMAURY MENEZES etn es co, Saida Cunha, Iza Costa, Vanda Pinheiro, Maria Guilhermina, ToEAe Grace Freitas e Miriam Inez Costa, entre outros. Criado junto & flex, 0 dirigido pelos misicos Belkiss S. Carneiro de Mendonca e Jean Da ce Instituto de Mtisica, antecipando-se & incorporagao pela Universida oie télica, desmembrou-se da Escola e passou a denominar-se Fundacao Con servatorio de Musica, até 1960, quando foi definitivamente anexado a Uni versidade Federal de Goiis. nee Em agosto de 1959 a EGBA foi finalmente incorporada & Universida- de de Goias, hoje Universidade Catdlica de Goids, fato que fez vir a tona as desavencas entre seus fundadores. O professor Peclat, pintor de linha niti- damente académica, sentia-se marginalizado dentro do corpo docente pela linha pedagégica claramente contempordnea e liderava uma corrente para criagdio de outra escola para ser vinculada 4 Universidade Federal, em vias de implantacao. Contou, como aliado, com o professor Ritter, descontente com a Congregacao que nfo aprovara sua indicagao feita pela Sra. Zofia Stamirowska para as cadeiras de Gravura e Modelagem, vagas preenchi- das pelas ex-alunas Edméa Jordao Machado e Maria de Castro Miranda. Outra importante adesio para a criagao da nova escola foi a da escultora Maria Guilhermina Goncalves Fernandes, exaluna da EGBA, que vinha alcancando sucesso com seu trabalho em sales e concursos no Brasil. Coma saida dos professores Peclate Ritter em 1961, foi convidado para integrar o corpo docente da EGBA o pintor DJ Oliveira, bastante conhecido na cidade pela sua figura exdtica e principalmente pelo seu habito de pintar paisa- gens ao ar livre. Foi uma conquista importante para os quadros da UCG e para acriagdio de uma nova metodologia de ensino ¢ exercicio de arte. :m 1968, sob a diregao de Frei Confaloni, a Escola de Belas-Artes, que ja tinha regulamentados os cursos de Pintura, Escultura, Desenho Aplicado e Professorado de Desenho, criou mais 0 curso de Arquitetura, que, no seu primeiro concurso vestibular, aprovou 55 candidatos. Em 1972, com as mudangas propiciadas pela reforma universitaria, a Escola passou a denominar-se Departamento de Artes e Arquitetura da Universidade Catélica de Gois. O INSTITUTO DE BELAS-ARTES DE GOIAS Alluta para a criacao de um novo curso de arte foi concretizada em 1962, com 0 inicio de funcionamento do Instituto de Belas-Artes de Gots, sob a direcao do professor Peclat, no prédio anteriormente destinado ao Museu de Arte Moderna de Goidnia, num dos mais apraziveis recantos da cidade, o parque do Lago das Rosas. ‘Além de Peclat, Ritter e Guilhermina, o corpo de professores passou acontar com novos participantes: Zofia Ligeza Stamirowska, Brasil Grassini, José Edilberto da Veiga, Violeta Bittar, Orlando Ferreira de Castro, Anté. nio Nery da Silva, Marcos Henrique Veiga Jardim, Cleber Gouvéa, Ary Pereira da Silva e Adelmo de Moura e Silva Café, Aincorporagao do Instituto de Belas-Artes pela Universidade Fede. ral de Goids ocorreu em dezembro de 1963, passando a denominar-se Fa. culdade de Artes. Com a reforma universitiria, em 1972, ¢ a unificaggg com o Conservatorio de Masica, passou a Instituto de Artes, reassumindo, ‘em 1997, a designacdo atual de Faculdade de Artes Visuaisda UFG, Digitalizado com CamScanner DA CAVERNA AO MUSEU: DICIONARIO DAS ARTES: E-dificil fazer qualquer citagaio de nomes' sbes, mas so tantos 0s valores reveladlos por essa instituigio, que injustica maior seria nfo procurar lembrar alguns importantes artistas que tiveram ali formagdes. Angelos Ktenas, Cirineu de Almeida, Cléa Ci Godoy e Tancredo Araiijo iniciam uma relagao de destacados nomes no pano- rama artistico de Goids. Carlos Sena, Enauro de Castro, Juliano Morais, Mar celo Soli, Marilda Ramos, Miriam Pires, Paulo Veiga, Soraia Kalil, Rosana Rattis, Rosingela Imolesi, Selma Parreira, Selvo Afonso, Vania Ferro e outros Sio artistas de uma nova geragao que, pelas suas produgoes e aluagdes no circuito de exposigées, saldes e concursos, comprovam o valor da Faculdade de Artes como formadora e reveladora de talentos. (| Prrcar= Em 1959 na EGBA Foto: Amaury Menencs. Rertn Foto: Amaury Menezes/1990. © CONGRESSO NACIONAL DE INTELECTUAIS Goiania, que teve sua festa de inauguragao em 1942, com 0 titulo de “Batismo Cultural”, procurava tirar 0 atraso provocado pelo isolamento que mantinha com o resto do Pais e desmanchar 0 estigma de terra de ouro, ‘onga e indio que os modernos Bartolomeus continuavam divulgando. Va- rias instituigdes foram criadas para reunir artistas e incentivar suas produ- goes. Academia Goiana de Letras, Instituto Histérico e Geogrifico de Goi- 4s, Associagao Brasileira de Escritores, Sociedade Pré-Arte de Goiaz, Es- cola Goiana de Belas-Artes ¢ Instituto de Musica eram entidades com in- tensa attragao no meio cultural e congregavam as mais destacadas figuras da nova intelectualidade goiana. ‘Assim, nesse clima de renascimento e renovagio, desejando conhe- cer o que se fazia li fora ¢ tentanclo mostrar uma face mais contemporanea do Estado, foi realizaclo, no ano ce 1954, 0 | Congreso Nacional de Intelec- tuais, que reuniu em Goifnia, com uma intensa programacio de teatro, misica, literatura e artes plisticas, as mais representativas figuras do uni- verso cultural do Brasil. Digitalizado com CamScanner “ convict 08 Mi 1 reas de e seapn : gravara, Ne an Campofiorito, Sérzio Milt, Jord a Ager io Blanchet nim de Paul, cys vin Chalrens na Katz, Mario Gruber, Rebolo Goncalves, Liz Vent Gracia re io Perso, Abelardo da Hor, Alfredo Volpi, Daniibio gg” Bruno Core Valenga Lin, Dania, Gilvan Samico, Guido Viarg, oa caves, Marelo Grassman, Maria Helena Vieira da Silva, Matig Manus Mino, Newton Rezence, Orlando Teruz, Oswaldo Goel Vase, prt tz Cra N, Confalnie Ritter, entre outros, a exposggs ee ao piblieo goiano 720 peas qe os organizadorestiveram o euidadg sclecona, mstando desde a arte dos indioscarais nas suas ceram ese lense eornamentos,aéa arte popular de Maria de bar ne Dasa pin de Frendpol, lém de pogas de exvotos da Salad ie de Trindade Nessa mesinacoeiva, pela primera vezesesane do anti Veiga Valle foram reunidase mostradas a0 pilin que gk desconhecia o mais importante artista sacro goiano. : Fiquel realmente emocionado com a iniciativa do meu amigo Atico Vi. laeBoas da Moz, oferecendo-e para escrever um depoimento sabre sina Provavelmente 9 riae a importincia do I Congresso Nacional de Intelectuais, mas signifcativo acontecimento cultural realizado, até hoje, em Goide, 01 Congresso Nacional de Intelectuais Atico Vilas-Boas da Mota* Varios acontecimentos assinalaram a vida AX, destacando-se, dentre eles, Jizado em Goiénia no perlodo cultural goiana no século 01 Conaresso Nacionat ve Inrevecruus, rea. de 14a 21 de fevereiro de 1954, Jmportante A preocupagio do Congresso partiu do particular para o geral, em volvendo a teoriae prdxis do oficio de escriton, além de oe preocupat, 0 iene com tudo aquilo que dizia respeito 4 colaboragao internacio- to Cant 08 P0¥0S eas nagdes. O que levou alguns setores da inprensa ¢ do Governo, Menos esc] 64, nomi Sclarecidos, a consideré-lo um conclave comunista ai ZnO, uma simples “promocéo de inspiragdo esquerdizante’. Abie ape {al querela 0 Prof. Gilberto Mendonga Teles informa: fina em 1054 ONSHESSO Nactowat oe Invreuecruas, realizado em Go Segunda Ge oote Sh assim, resumida: Derrubada a Ditadura € finda a (m vtios Bena ith comecan a agitarse os escritores brasileira ta sec¢0 da Ati ots conseqiiéncia imediata fi a crag de ee * Ko Vista "Meda i dee eon joo edt Ltr pol US Digitalizado com CamScanner DREAVERNA AO MUSEU:DICIONARIO DAS ARTES PLASTICASEMGOIMS AS Paulo, 0 T Congreso Brasileiro de Escritores, promovido pela ABDE. Marcou-se outro dois anos depois, que se realizou em Belo Horizonte, em 1947, Em 1949, realizou-se o Ill, desta vez na Bahia. Por ocasiio do IV Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em Porto Alegre, um dos nossos representantes, Domingos Félix de Sousa, mesmo contra seus com- panheiros (Bernardo Elis, Da. Amalia Hermano etc), se bateu para que 0 V Congresso se realizasse em Goinia, no que foi atendido. Mas, por essa época, com a infiltracao de idéias comunistas na Associagao Brasileira de Escritores, houve uma cisio em Sio Paulo, imitada, depois, nos outros Estados, criando-se mesmo novas instituigdes. Entao, para que se unis- sem nao somente os escritores, mas todos os intelectuais brasileiros, em vez de se realizar em Goidnia 0 V Congresso Brasileiro de Escritores, programou-se oI Congreso Nacional de Intelectuais, que conseguiu atin- gir os seus objetivos.” Cf A Poesia em Goiis (1964), pp. 159-160. O Congreso langou um Boletim de preparagao e impressos outros que divulgaram as suas diretrizes e metas consoante o seguinte temdrio. “D - Defesa da cultura brasileira e estimulo ao seu desenvolvimen- 10, preservandosse as suas caracteristicas nacionais; 4D -Intercémbio cultural com todos os povos; I) - Problemas éticos e profissionais dos intelectuais.” Nao acreditamos que esse Congreso tena sido tio efémero, como querem alguns exegetas de nossa cultura, pois, transcorridos trés anos de sua realizagéo, 0 saudoso Bernardo Elis ainda reafirmava, entre outras consideragées marcadas pela sua verve: “O Encontro de Goiénia, uma espécie de Semana de Arte Moderna (1922), mas de feigao mais autenti- camente nacional irmanando a intelectualidade, sem discriminagdes tao profundas, como as existentes, ensejando oportunidades que 0 comadrismo dos grandes centros ensejam.” Conclui: “O Congresso de Goiinia deu um passo a frente quando unia intelectuais do interior pelos Jagos do conhecimento pessoal, da camaradagem com diversas figuras exponenciais do nosso mundo artistico e quando despertou a consciéacia do papel do escritor.” CE Para Todos, Quinzenario da Cultura Brasileira, Rio/Sao Paulo, Ano I, n° 23-24, 1957, p. 23. O ATELIE DO OLIVEIRA Aconstrugao de uma nova cidade e a mudanga da capital nfo constitu- fram motivos suficientes para demolir habitos arraigados na populagio de raizes provincianas. Os saraus e as retretas com bandas musicais das pe- quenas comunidades foram substituidas pela elegante sessio de domingo do Cineteatro Goiinia e pelo footing da Avenida Goits, passeio organizado espontaneamente para propiciar o flerte, primeiro estigio da atual paquera. Comoasassociagdes culturais existentes na época (Academia Goiana de Letras, Unido Brasileira de Escritores, Instituto Histérico e Geogrifico, Conservatério Goiano de Miisica, Escola de Belas-Artes etc.) eram entida- des com freqiiéncia restrita aos seus membros, associados ou alunos, os diferentes grupos de intelectuais da cidade procuravam criar seus prépri- os pontos de encontro. Digitalizado com CamScanner to de DJ Olveira’, 1980, OST, 40x50 “Sven Mises "Retr Bazar 010, livraria que funcionou inicialmente na Avenida Goids e em seguida na Avenida Anhangiiera, transformou-se de modo es pontineo no local de freqiiéncia obrigatéria dos escritores, o Teatro de Emergéncia, ocalizado na Rua 3, atrés do Joquei Clube, tornow-se o ponto de convergéncia dos aficionados do teatro e das artes plasticas. ‘A presenca dos pintores e apreciadores das artes plasticas no Teatro de Emergéncia se deveu ao pintor DJ Oliveira, que mantinha 0 seu ateié na parte do fundo do palco, espaco cedido pelo seu amigo Joao Bénio, que dirigia aquela casa de espetculos. O teatro mantinha suas portas perma: nentemente abertas e era grande o numero de pessoas que procuravam 0 ‘Atelié do Oliveira em busca de um papo sobre pintura, num clima e amb ente proporcionados pela sua figura carismatica, pela magia do cheiro de tintas e pela musica selecionada pelo apurado gosto do pintor. O Atelié do Oliveira teve esse piblico ampliado com a sua contrat: do para lecionar na Escola de Belas-Artes, quando Ihe foi oferecida wnt espacosa sala para instalacdo do seu estiidio de pintura. Essa atitude de aparente desprendimento da reitoria da UCG, na realidade se transformou na primeira ponte de aproximagao da Universidade com @ comunidade, pois propiciou a afluéncia de pessoas desligadas da UCG aquele espase & a conseqiiente abertura de oportunidades para diversas camadas da popu ao, além de reativar o habito da pintura coletiva de paisagem 20 ar livre. ment Uo anos professors da Escola de Belas-Artes posterior as de Arquitetura, o Atelié do Oliveira era freqiientado por t ee pi condi Correntes de artistas ¢ intelectuais, bem como de jovens a Te cartig ese matricularem num curso regular de arte, s0iF4 a fade ira de pintor, que naquela época representava apenas & OP, rede dan azar estlico, i que niio haviaalnda um horizonte Pal Assim 0 Digitalizado com CamScanner DA CAVERNA AO MUSE! JONARIO DAS ARTES PLASTICAS EM GOIAS a Como amigo do pintor e assiduo freqiientador desse centro de arte, sso testemunhar que, em termos de convivéncia e troca de experién € foi responsivel pelo nosso periodo de maior efervescéncia sticas e favoreceu o surgimento dos mais significativos nomes do cenario artistico de Goids, comprovando uma afirmagao que sempre fao: “Na formacio de um artista, a oficina é mais importante que a sala de aula.” Antes de iniciar a citagao de nomes, antecipo minhas desculpas por provaveis e inevitiveis omissoes, mas nao poderia deixar de enumerar pelo menos alguns importantes artistas que tiveram suas vitoriosas carreiras iniciadas ou impulsionadas no Atelié do Oliveira. Alcione, Ana Maria Pacheco, Grace Freitas, Iza Costa, Leonan Fleury, Paulo Humberto, Roosevelt, Sida Cunha, Siron Franco e Vanda Pinheiro, entre inimeros outros, foram atores naquele palco onde o autor, diretor, roteirista e cendgrafo era o Mestre DJ Oliveira. Roos Aerie sobre tel, Acero: Sida Cunha, Foto: Amaury Menezes Digitalizado com CamScanner AMAURY MENEZ Lange wey, sha emma pleas, S280 Ft: at Digitalizado com CamScanner lea Costa ~ Década de Gna Atelé do Olvera Fota: Silda Cunha—Décadade6Ono Atlié do Olvera. Foto ‘Amaury Menezes. ‘Arnaury Menezes COLETIVAS, CONCURSOS E SALOES A incémoda posigao individualista do artista plastico, talvez o unico produtor cultural que independa de parceiros (intérpretes, cendgrafos, arranjadores, revisores etc.), pode ser parcialmente amenizada com a rea- lizagao de exposigdes coletivas, quando os artistas, em conjunto, levam ao conhecimento ¢ julgamento do publico os seus trabalhos, dentro de uma proposta de mostrar uma produgao regional, uma corrente estética, um momento histérico, ou até mesmo um grupo com técnicas e temiticas he- terogéneas. Os concursos que recebem designagdes de saldes, anuais, bienais etc,, representam os mais importantes meios de oportunidade para os ar- tistas, consagrados ou emergentes, mostrarem seus trabalhos, submeten- do-os & apreciagao e julgamento da critica e do piiblico, quase sempre con- correndo a uma premiagao que significa a abertura de caminhos na vida profissional. Néio temos conhecimento da realizacdo de grandes coletivas, sales ou concursos, antes da mudanca da capital para Goiinia, como so poucas as oportunidades oferecidas aos artistas no interior do Estado. Merecem destaque neste capitulo, pelo seu cardter pioneiro, as quatro Exposigbes de Artes Plisticas da Sociedade Pré-Arte de Goiaz, realizadas anualmente, de 1945 a 1948, em Goiinia. Outra realizacao importante, principalmente pela oportunidade cria- da para os artistas do interior e pela credibilidade que o concurso conquis- tou, foi o GREMI de Inhumas (Grandes Revelaces da Mocidade Inhumense), lamentavelmente cancelado apés 25 anos ininterruptos (1969/ 1993) de importantes servicos prestados 4 cultura do Estado, revelando nomes que hoje sto destaque nas artes de Goits. 0 Salo Anapolino de Artes Plisticas, realizado nos anos de 1979 a 1992 (13 edigdes), também vale ser lembrado como importante promogao e deveria merecer do poder piiblico daquela cidade um estudo mais cuida- oso, objetivando sua reativacao, Digitalizado com CamScanner

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