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História Da Arte No Brasil - Volume 4 v22
História Da Arte No Brasil - Volume 4 v22
Volume 4
Madalena Zaccara
Recife, 2013
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Gabriel Rivas de Melo
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Mônica Maria Lins Santiago
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Batista Dubeux Júnior
Pró-Reitor de Planejamento: Romildo Morant de Holanda
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior
Apresentação..................................................................................................................... 5
O Pop no Brasil: um contexto específico....................................................................... 7
Sobre o contexto internacional.................................................................................... 7
As novas figurações no Brasil..................................................................................... 9
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 11
O conceito como premissa: a desmaterialização do objeto....................................... 17
Sobre a arte conceitual no Brasil.............................................................................. 21
Da terra como suporte e referência.......................................................................... 23
Sobre o corpo como suporte artístico: Performance e Body Art............................... 26
Sobre o uso das novas mídias e meios de expressão artística no cenário
brasileiro.................................................................................................................... 34
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 42
Sobre a volta da pintura no Brasil: a geração 80......................................................... 59
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 62
Sobre os vários conceitos que embasam a arte contemporânea no Brasil:
alguns exemplos............................................................................................................ 67
Sobre alguns artistas citados.................................................................................... 72
Referências...................................................................................................................... 75
Sobre a Autora................................................................................................................. 77
Apresentação
Os anos 60 marcaram o início de uma cultura de globalização e de sua ideologia
neoliberal que implica no fim dos grandes discursos da modernidade que tinham como
palavras de ordem a autenticidade, o gênio, a inovação e, como objetivo principal,
romper com um passado e com sua estética estabelecida.
É, portanto, em um mundo sem fronteiras (que nasce dos novos meios de transporte
e das novas tecnologias de informação e comunicação que colocam em contato as
múltiplas culturas tornando assim cada espaço uma rede de relações sociais complexas
de um imenso pluralismo cultural) que se gera um ecletismo do sentir e do olhar
presente em um contexto social, que se expressa através de suas minorias – sexuais,
raciais, culturais – no microcosmo do cotidiano.
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chuva que abriga diversas correntes e movimentos tais como arte conceitual, arte
ecológica, minimalismo, arte comunitária, arte pública e as várias opções tecnológicas.
Em síntese; a arte contemporânea é interdisciplinar e não disciplinável: não obedece a
códigos estabelecidos como acontecia no século XIX com as Academias ou no século
XX com a filiação dos artistas a determinados movimentos artísticos, mesmo que
temporariamente.
O que propomos nesse volume é uma mediação para uma melhor compreensão da
arte feita na pós-modernidade brasileira. Desde os seus princípios que acontecem com
as novas figurações de conotações políticas ou não passando pela desmaterialização
do objeto caracterizada por representações onde o conceito, a ideia, se sobrepõe
ao material. Passaremos também por visualizações de momentos onde a pintura
(considerada morta) volta a ser utilizada como veículo de expressão pelos nossos
artistas dos anos 80; discutindo a ecologia e o mundo em transformação e descobrindo
novas maneiras de comunicar e sensibilizar o espectador através das novas tecnologias
constantemente disponibilizadas. Pretendemos fazer uma ponte entre o que acontece
no Ocidente hegemônico que determina a ótica mundial, inclusive as expressões
artísticas que se desenvolvem em território brasileiro. Queremos situar os processos
idiossincráticos que, porventura, diferenciem essas formas de expressão.
A autora.
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C a p í t u l o 14
O Pop no Brasil: um
contexto específico
Objetivos
●● Compreender o momento político social e econômico da introdução da Arte Pop na
Europa e Estados Unidos;
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novos tempos e é feita com recortes de anúncios tirados de revistas de
grande circulação. Um casal formado por um halterofilista e uma pin-up
exibe o seu way of life (modo de vida), que é formado com objetos da vida
moderna: televisão, aspirador de pó, enlatados, produtos em embalagens
vistosas etc.
A publicidade, dessa forma, é incorporada pela arte. Assim, o artista
apaga, propositadamente, as fronteiras entre arte erudita e arte popular,
ou entre arte elevada e a cultura de massa. Sexo e consumo constituem
a grande mensagem e o conceito da incorporação do cotidiano à obra de
arte se explicita na substituição de uma escultura por um presunto e um
quadro por uma história em quadrinhos.
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luzes de sua trajetória.
O emprego das cores fortes estabelece uma distância irônica entre o
espectador e o tema. Qualquer coisa de um voyeurismo consumista.
O ídolo, que é quase palpável, se encontra na vitrina como um produto
desejado e, portanto, fora do alcance. O sensacionalismo que cerca
os novos mitos produzidos pela mídia também é evocado e, de certa
maneira, ironizado.
A repetição da imagem remonta aos cartazes e luminosos de propaganda
que formam o cenário urbano das grandes metrópoles e que fascinam
o espectador com promessas que parecem tangíveis. Por outro lado, a
diva se confunde em meio a produtos que ocupam o mesmo status no
universo do consumo diário tais como uma banana ou uma garrafa de
Coca-Cola.
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Eles imprimiram sua realidade registrando a insatisfação com o
regime militar. Enquanto nos Estados Unidos (onde o estilo mais
se afirmou) os artistas criticavam a alienação da sua sociedade
consumista, no Brasil, abordavam questões sociais e políticas além
da violência sexual e urbana. O papel do artista era, portanto, o de um
revolucionário sem armas. Sua arte era um instrumento a serviço da
revolução social.
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Retratos entre a introspecção e a ironia caracterizam a obra de Câmara
desse momento de um realismo crítico e, por vezes, mágico. Uma pintura
ora sombria, ora vibrante, deformante ou realista que se processa na
manipulação da anatomia humana.
Trata-se de obra em que o antigo e o contemporâneo, o nacional e o
universal se misturam. Sua obra é cheia de figuras marcantes que nos
reportam a personagens que se comportam como super-heróis de histórias
em quadrinhos em uma composição bem mais complexa e bem mais
violenta psicologicamente falando. Os arquétipos da cultura nordestina se
misturam a figuras públicas ou anônimas como que formando uma saga
que sobrevive na cabeça do autor.
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e conceitos da publicidade em suas obras, bem como do o uso de
cores fortes e brilhantes. Reproduziu temas do cotidiano, objetos e
pessoas consumidos pelos americanos tais como uma lata de sopa
Campbell ou artistas e personalidades como Elizabeth Taylor, Mick
Jagger ou Mao Tse Tung. Além das serigrafias Warhol também se
utilizava de outras técnicas, como a colagem e o uso de materiais
descartáveis, não usuais em obras de arte. Ficou notório por sua
frase: “no futuro todos serão famosos durante quinze minutos”.
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Sebastião Bar, em São Paulo, O Grande Espetáculo das Artes, um
dos primeiros happenings do país. Procurou sempre organizar um
movimento artístico: o realismo mágico, juntamente com diversos
artistas.
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●● Raul Córdula nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 1943.
É pintor, desenhista, gestor, professor e hoje mora em Olinda,
Pernambuco, onde continua a desenvolver seu trabalho iniciado
na adolescência. Seu vocabulário geométrico remete, porém, ao
universo circundante: as cores e formas do Nordeste do Brasil.
Revisão
A denominação Arte Pop surgiu no final dos anos 50 e tem a sua autoria atribuída ao
crítico inglês Lawrence Alloway. Richard Hamilton, Eduardo Paolozzi e outros artistas
foram os primeiros a se manifestarem sobre uma realidade que permeava linguagens
como o cinema ou a propaganda, veiculada por uma mídia cada vez mais onipresente.
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Nos Estados Unidos, a mensagem Pop encontrou terreno mais sólido. Os artistas
daquele momento começaram a compreender que cada um pode se tornar um criador
sem depender de uma formação acadêmica específica. Em sua maioria, esses artistas do
Pop trabalharam em publicidade e ilustração. Eles usavam técnicas simples, populares e
industriais, além de símbolos próprios. As artes visuais caminharam, então, em paralelo
à sua aceitação comercial.
No quadro político daquele momento (o início dos anos 60), tudo se processava sob o
signo da euforia própria do desenvolvimentismo do presidente Juscelino Kubitschek. Os
primeiros anos foram de uma efervescência notável interrompida pela instauração do
regime militar em 1964
Atividades
O professor deve solicitar no espaço virtual disponível que o aluno busque um trabalho
de um artista brasileiro de um momento relativo às Novas Figurações e que marque
nele os traços que o diferenciam da produção internacional. A experiência deve ser Pesquise...
compartilhada com os outros alunos formando-se dessa forma um processo interativo. Wanted. Rubens
Como exemplo segue o trabalho de Rubens Gerchman e a proposição de uma reflexão Gerchman. Dec 50.
no sentido de observar os elementos que o distinguem da produção Pop dos artistas
americanos e ingleses.
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C a p í t u l o 15
O conceito como
premissa: a
desmaterialização do
objeto
Objetivos
●● Conhecer o processo de surgimento do conceito no contexto internacional;
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Talvez o grande problema seja que sempre fomos preparados para
o “entender” e bem pouco para o “sentir”. Dessa forma reduzem
a relação arte/espectador às explicações necessárias para o
entendimento da obra buscando socorro nesses mediadores.
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conceituais com suas técnicas tão de acordo com o espírito de espetáculo
próprio da pós-modernidade em que vivemos.
Nesse trabalho, se utilizou de modelos nus (mulheres-pincéis) cobertas
com tinta azul e que se moviam como pincéis vivos imprimindo a marca
de seus corpos embebidos de tinta azul sobre as telas. A ação se passou
sob o som de uma sinfonia intitulada Sinfonia Monótona e foi batizada de
Antropometrias (formas que se assemelham ao homem).
Os músicos, durante a ação, tocavam uma nota repetida durante dez
minutos e em seguida impunham um silêncio. Klein, ator e espectador,
observava o desenrolar da cena que havia concebido na qual se unia
teatro, música, pintura e Performance.
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(John Baldassari, Robert Barry, Dan Grahan, entre outros) trabalhando
sob a mesma premissa que os artistas alemães (Joseph Beuys, Hans
Haacke, Gerard Richter); japoneses (On kawara); franceses (Daniel
Buren) ou ingleses (Grupo Art & Language), entre outros.
A arte conceitual atingiu seu apogeu em meados dos anos 70, mas até
os dias que correm o interesse pela ideia como ponto de partida para
a arte permanece em alta na arte contemporânea. Os museus e o
público se adaptam a sua forma de expressão. Sua temática envolve
as noções de sujeito, de indivíduo, de identidade. A ideia norteia seus
fundamentos e a sua construção pode se processar inclusive de forma
coletiva desmistificando assim a aura do artista criador único. Alguns
artistas do conceito se propõem também a explorar o poder da arte
como agente transformador de vidas ou instituições bem como criticar
as estruturas de poder ou as condições políticas e sociais do planeta.
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Sobre a arte conceitual no Brasil
No Brasil, o conceitual coincidiu com um momento político que envolvia
uma ditadura militar (1964-1985). Isso lhe deu certa particularidade
Você Sabia?
2
A expressão Arte
em relação a outros países nos quais os artistas podiam ter como Concreta foi cunhada
ponto de reflexão sua própria realidade. A partir, portanto, dessa por Theo van Doesburg
situação política os artistas brasileiros criaram ações que funcionaram em um manifesto datado
de 1918 e publicado na
como estratégias metafóricas e simbólicas para burlar o controle revista De Stijl. Refere-
estabelecido pelo regime. Dessa forma, além dos objetivos comuns se a um tipo de pintura
feita com ângulos retos
com os outros centros, a utilização do conceito veio atrelada a toda e usando três cores
uma carga de denúncia política. primárias. A proposta
era ser uma arte alheia
Por outro lado, várias fontes artísticas peculiares alimentavam a toda forma naturalista
e a utilização de formas
o conceitual no país: a herança da Arte Concreta2, do geométricas puras.
Neoconcretismo , das Novas Figurações , além da situação dos
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Inserções em circuitos ideológicos. Em uma de suas ações mais
conhecidas intitulada Quem matou Herzog! usa sua arte para
Pesquise... questionar a ditadura.
Quem matou Herzog!.
Cildo Meirelles. 1975. Trata-se de uma mensagem explícita, ainda que anônima, de sua visão
da arte enquanto meio de democratização da informação e da sociedade.
Aborda a morte do jornalista Wladimir Herzog, que supostamente
suicidou-se (explicação oficial) nos porões de tortura da ditadura militar.
Utilizando um meio de comunicação subterrâneo, uma vez que a censura
estava instaurada em relação aos meios de comunicação, ele questiona
o regime utilizando-se da inserção da mensagem em um circuito público
e incontrolável: o dinheiro.
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experimentais que envolviam o espaço e o ambiente. Atuaram em
happenings, performances, fizeram copy art, áudio arte, arte correio,
etc. Em 1974, lançaram o Movimento/Manifesto Nadaísta, que faz
uso do suporte super-8. Enfim trabalharam com todas as mídias
disponíveis na época.
A cidade de Recife serviu como suporte para muitas das ações dos
artistas desde a década de 70 até os dias que correm. No trabalho
Recife em Recife o centro da cidade vira uma galeria aberta onde
o próprio espaço urbano (apropriado por Paulo Bruscky) é proposto
como obra de arte. Dessa forma “a Avenida Guararapes à noite”;
“o Rio Capibaribe visto do quinto andar do Edifício Tereza Cristina”;
“a madrugada na Avenida Conde da Boa Vista” eram os trabalhos
artísticos propostos ao transeunte. A dupla separou-se, mas os
artistas continuaram produzindo de forma individual.
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fronteiras da arte em relação à vida. Essas ações artísticas buscam
seu foco fora da cidade e vão, portanto, interferir na natureza em
grande ou pequena escala com ações mais ou menos efêmeras que
objetivam utilizar o meio ambiente como suporte e chamar a atenção
para ele. A Land Art foi reconhecida como um movimento e de forma
internacional a partir da exposição intitulada Earth Works realizada na
Dwan Gallery em Nova York, 1968, organizada por Robert Smithson.
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em locais diferentes e ermos tais como a Lapônia ou o Himalaia.
Durante essas marchas ele constrói linhas utilizando materiais que
encontrava na região como rochas ou troncos de árvores. O que fica
dessas intervenções (que convocam o espectador a participar desses
deslocamentos através da imaginação) é a documentação fotográfica
ou os vídeos eventualmente feitos.
O artista trabalha com a Land Art (arte da terra) desde a década de 60.
Nessa ação construída numa planície semidesértica do Novo México, nos
Estados Unidos, se utiliza de quatrocentas estacas de sete metros de
altura, colocadas numa matriz geométrica rigorosa.
O objetivo é, em uma zona assolada por tempestades, atrair os raios
compactuando a ação humana com a da natureza e gerando um fenômeno
de grande dramaticidade para o olhar do espectador.
O registro da ação é o resultado concreto do trabalho. Esse registro é
feito através de filmes e fotografias caracterizando, assim, a efemeridade
da arte.
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em relação à arte que tem a terra como suporte. O trabalho intitulado
Key (chave) da série realizada em 2002 é um exemplo de suas
Pesquise... investigações.
Key. Earth Work. Vik
Muniz. 2002. Para concretizar esse trabalho de Land Art no Brasil o artista trabalhou
em conjunto com uma empresa de mineração produzindo uma série de
obras que só podem ser vistas em uma posição aérea.
São objetos do cotidiano como um par de dados, uma tomada ou a chave
que vemos acima. Representações reconhecíveis até por crianças.
Dessa Forma Vik Muniz aproveita elementos do dia a dia aos quais ele dá
o status de imagem artística. Coisas comuns que perderam a atenção e o
valor e que a arte retoma para seu vocabulário. O artista, que já trabalhou
com materiais inusitados como ketchup, açúcar e calda de chocolate, gel
para cabelo e lixo se apropria de mais um: a terra.
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essa difusão bem como para uma maior compreensão da diversidade
do uso de materiais tradicionais nas artes visuais.
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Dor, sátira, humor e sensacionalismo são enfatizados pela arte
performática bem como temas autobiográficos e a memória dos
próprios artistas envolvidos. A partir da década de 80, a Performance
tornou-se cada vez mais acessível a um público cada vez mais
internacionalizado.
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de Mangueira.
Envolve-se, então, com a comunidade do Morro da Mangueira e, dessa
experiência, nasceram os Parangolés. Trata-se de tendas, estandartes,
bandeiras e capas de vestir que fundem elementos como cor, dança,
poesia e música e pressupõem uma manifestação cultural coletiva
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Bruscky e Daniel Santiago. No que diz respeito às performances a
dupla trabalhou junta, por exemplo, em Limpos e Desinfetados (1984)
ou separada como é o caso da ação O que é Arte? Para que serve?
Pesquise... Realizada por Paulo Bruscky pelas ruas do Recife.
Pesquise... Duchamp que colocavam que tudo poderia ser usado como obra de
arte, Yves Klein e suas Antropometrias e Piero Manzoni, que passou
Esculturas vivas. Piero
Manzoni. 1961. a assinar o corpo das pessoas transformando-as de modelos em
objetos de arte.
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forma do corpo como suporte ele inspira, por sua vez, os artistas que o
seguem nessa pesquisa. Eles vão explorar múltiplos questionamentos
que envolvem arte e vida utilizando o corpo como veículo.
A ação foi filmada e passou a ser considerada como uma das mais
controversas da história da Body Art. O artista baleado por um amigo,
segundo suas próprias palavras para a mídia, queria ser levado a sério
como artista a partir do risco da própria vida. Burden submeteu-se ao
perigo gerando um vínculo com o espectador que envolvia a passividade
do público que poderia ter sustado a ação, mas que restou inerte preso
pela sua própria acomodação em face à violência bem como por conta do
espaço “sacralizado” da arte onde foi desenvolvido o trabalho.
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corpo. Ela realizou, em uma galeria italiana, a ação Rhythm 0, na
qual os espectadores teriam a possibilidade de mutilá-la e matá-
la durante o trabalho. Após varias formas de violência contra seu
corpo passivo tais como arrancar suas roupas e cortá-la, o público
decidiu interromper a apresentação, pois alguém chegara ao ponto
de apontar uma arma carregada contra a sua cabeça. Orlan, artista
francesa é outro referencial. Ela usa a cirurgia plástica como meio
para modificar seu corpo. Em seu trabalho questiona os estereótipos
da beleza revisitando a História da Arte e introduzindo detalhes das
obras dos artistas do passado em seu próprio corpo por meio da
intervenção cirúrgica.
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Para o artista, foi no momento da inscrição, que ele começou a perceber
o corpo como temática. O título do trabalho era seu próprio nome. As
dimensões escritas do seu corpo na ficha do salão seria a sua obra.
Chegando ao local uma hora antes da inauguração do evento para o
qual seu trabalho havia sido rejeitado. Naquele momento lhe ocorreu ficar
nu como forma de expressão de repulsa. O espanto dos espectadores,
segundo o artista, lhe deu a força necessária.
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pela comunidade a que pertence e, apesar de ter conseguido um novo
lugar na sociedade como provedora da casa ou ocupando altos postos de
chefia, se afirmando, enfim, de forma econômica ou social não ficou livre
de preconceitos e tabus até mesmo no jogo da sedução.
Trabalhar essa imagem idealizada da mulher na História da Arte,
substituindo com seu corpo nu envolto em plástico as situações dos nus
femininos nela registrados, é a maneira de Collier transgredir e questionar
o conceito de musa, de mulher ideal, criado e sistematizado pelo olhar
masculino e por suas representações. Nesta ação a artista recria em
espaço real o Nu descendo as escadas de Marcel Duchamp tendo como
resultado as imagens trabalhadas pela fotografia.
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instalação, cronologicamente, iniciou-se na década de 60. Elas
utilizavam o espaço arquitetônico ou não tendo como característica Atenção
maior a interdisciplinaridade no que diz respeito aos meios utilizados. 11
Nouveau Realisme
refere-se essencialmente
Funcionavam como catalisadoras de ideias novas e integravam o
ao uso de objetos
espectador em sua existência efêmera. As instalações tornaram-se existentes para a
populares e desenvolveram-se sob diferentes formas e feitas por construção das obras
de arte reagindo ao
vários artistas. Um dos exemplos clássicos envolve dois artistas no expressionismo abstrato.
cenário da Paris do fim da década de 50: o nosso já conhecido Yves Busca na realidade sua
inspiração. É, por assim
Klein e outro artista francês seu contemporâneo Arman, ambos do dizer, o correspondente
grupo Nouveau Realisme11. europeu (francês) da Arte
Pop americana.
Klein expôs uma galeria vazia (a galeria Iris Clert em Paris) como
proposta a qual deu o nome de O Vazio. Já Arman, dois anos
depois, responde no espaço da mesma galeria atulhando-a de lixo e
denominando a instalação de O Cheio.
Pesquise...
O trabalho gira em torno de um conceito influenciado pela filosofia Zen O Vazio. Yves Klein.
1958.
sobre o vazio que seria em relação a essa tradição um estado similar ao
Nirvana. Um estado de espírito onde as pessoas estariam tecnicamente
livres das influências externas que impediriam uma concentração em
suas próprias sensações e percepções.
O artista opta por um tema que represente a ausência como forma de
representação de um estado mais propício para a reflexão por ele mediada. Pesquise...
Reporta-se assim a um conteúdo metafísico e filosófico trazendo-o para
Le Plein. Arman. 1960.
o contexto das artes visuais. A partir da ideia de um diálogo maior com
o espectador ele tenta trazê-lo para compartilhar sua própria percepção
desse estado ao qual o vazio remeteria.
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as percepções sensoriais, que podem ser apropriados no meio,
tanto da natureza quanto de objetos industrializados que, por sua
vez, são resignificados. Uma Instalação também pode se apropriar
da mídia em suas diversas formas: som, TV, vídeo, computador.
Nessa manifestação artística, geralmente, o artista tem como objetivo
provocar o espectador a se aventurar e a participar.
O Helicóptero. Wesley
Duke Lee. Instalação. A instalação inclui um circuito fechado de vídeo que proporciona uma
1967- 69. intervenção/interação do espectador que pode participar, dessa forma, do
trabalho. Ela reúne também desenho, pintura, escultura, ambiente.
Podemos dizer que essa transformação de uma linguagem em outra
espelha a ideia mesma do lugar que o artista destina à imaginação. A
metáfora se torna coerente a partir da análise de como o artista coloca
cada coisa, cada estímulo para que o espectador/ator ultrapasse sempre
uma nova fronteira.
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a sociedade na qual ele vive e trabalha. Sua investigação sempre
esteve associada a imagens de forte conotação simbólica construída
através de poderosas metáforas que buscam uma maior consciência
identitária.
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exposição coletiva “Die Kunst erlöst uns von gar nichts, Künstlerpositionen
aus Südamerika.
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no país foi o M 3x3, uma coreografia da bailarina Analívia Cordeiro,
gravada pela TV Cultura de São Paulo em 1973.
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produção de videoarte no Brasil. Uma produção feita basicamente por
artistas plásticos e considerada elitista.
Nos seus trabalhos a narrativa foi colocada sob novas perspectivas, com
sequências fragmentadas e imagens desfocadas. A obra era composta
por 18 televisores, divididos em quatro grupos, sendo que cada grupo
constituía um polígono
Os televisores receberam, por circuito fechado, a imagem de um elemento
geométrico que ocupava quase a totalidade da tela de cada um deles.
Como uma escultura. Os aparelhos reproduziam uma figura geométrica.
Transportando para a tela de TV os questionamentos formais abstratos
geométricos das vanguardas artísticas da modernidade.
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circunstâncias que assim o tornaram. A ação foi denominada de Meu
namorado voltou da guerra e aconteceu em 1996. Também podemos
considerar, entre tantos outros Webartistas, os múltiplos temas
interativos de Peter Stanick, que criou pinturas digitais que lembram Pesquise...
a Pop Art americana e cujas cenas se passam em Nova York. Seus Pro Deo et Patria. Peter
trabalhos podem ser encontrados no link http://www.stanick.com/ Stanick. Web site.
showeb/tc3.html
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Não dependem apenas do ciberespaço ou catálogos digitais,
requerem presença no meio da arte.
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diversos materiais além de subverter os meios para a realização
de suas obras. Seu trabalho mais comentado é o célebre merde
d ‘artiste, ação natravés da qual enlatou seus excrementos e os
vendeu a peso de ouro.
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●● Hans Haacke nasceu em 12 de agosto de 1936 na Alemanha.
Vive e trabalha em Nova York. Durante seus anos de formação,
era um membro do Zero (um grupo internacional de artistas). O
artista sofreu influência desse grupo que utilizava materiais não
tradicionais em relação ao universo das artes visuais tais como:
materiais industriais, fogo e água, luz e efeitos cinéticos. Ele
os incorporou ao seu trabalho juntamente com os retirados da
biologia. Fez incursões na Land Art.
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de Michael Baldwyn e Mel Ramsden.
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●● Grupo 3NOS3: No final da década de 1970, especialmente em
São Paulo, surge uma geração de jovens artistas interessados em
realizar ações e obras que ocupem diferentes espaços da cidade,
tais como muros, paredes, estátuas, monumentos, túneis, avenidas,
prédios e ruas. Esses artistas atuavam no grafite, na pichação
poética e em outras formas de intervenção e comunicação urbana
então emergentes. Entre os grupos ativos nessa época estava o
3NOS3. O grupo foi formado em abril de 1979. Era constituído
por Hudinilson Jr e Mario Ramiro, paulistas e de Rafael França,
gaucho. Atuou até 1982.
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Santiago pelas próximas duas décadas. Seu trabalho desenvolveu-
se, em grande parte, no espaço público, onde propôs diversas
ações, a maioria das quais com participação do público.
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Land Art. Além disso, trabalhou com imensas esculturas urbanas.
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●● Vik Muniz nasceu em 1961 em São Paulo. É um misto de pintor,
fotografo e, podemos dizer uma espécie de alquimista. Utiliza em
seu trabalho materiais não ortodoxos como poeira, açúcar, lixo,
fumaça ou chocolate, entre outros. Mudou-se para Nova York em
1983 onde se interessou por reconstruir imagens preexistentes na
mídia ou na História da Arte. O produto acabado é uma fotografia
que reproduz a obra de uma forma nova. Interessou-se também
pela Land Art usando a terra como material e suporte para
reproduzir objetos cotidianos que podem ser observados somente
do ar.
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professora do Instituto de Artes da UNB. É também coordenadora
do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos, que trabalha com
vídeo, espetáculos e performances.
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Federal de Pernambuco onde é professora. Em suas exposições
e performances faz (a partir de seu corpo e dos espaços onde
mostra seu trabalho) uma analogia com a vida real e com o mundo
em que vive. Investe na Body Art a partir da submissão do corpo
ao máximo de sua resistência física.
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em Nova York, EUA. Trabalhava com acumulação de objetos
do cotidiano, esculturas gigantescas de peças automotivas e
notalibizou-se por sua vitrine de lixo exposta em Paris. Compôs
suas acumulações com os mais variados materiais que vão dos
objetos de consumo de luxo até às dentaduras lembrando o
Holocausto. Mudou-se para Nova York em 1963, mas continuou a
produzir obras na Europa.
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faleceu em 2006 nos Estados Unidos. Foi o primeiro performer a
ser chamado de videoartista fazendo instalações com monitores.
Considerado o pioneiro da arte eletrônica teve uma carreira
multifacetada que incluiu performances, instalações, projetos de
TV e vídeos. Uma das contribuições mais importantes de Paik foi
expandir a definição e a linguagem da criação artística.
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em Londres, entre 1969 e 1972, e em Nova York, entre 1974 e
1975, época em que iniciou suas experimentações com vídeo.
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coordenadores e curadores da arte.mov Festival Internacional de
Arte em Mídias Móveis
Revisão
Essencialmente documental, a Arte Conceitual é feita de fotos, filmes, entrevistas,
projetos ou textos que não necessariamente devem possuir qualquer significação
estética. Ela não é um fim em si, mas um meio para a realização do conceito, da ideia.
Renovam-se os meios de expressão (foto, off set, xerox, vídeo, linguagem escrita)
e o corpo e o texto passam a ter um lugar de destaque nessa produção. Toda uma
interdisciplinaridade se faz presente no universo conceitual. Há uma nítida afirmação da
superioridade do trabalho mental sobre o manual.
Se nos anos 70 a maior preocupação dos artistas conceituais era a linguagem da arte.
Posteriormente, ampliou-se esse campo de atuação. Dessa forma, alguns passaram
a investigar fenômenos naturais tendo o planeta como espaço de pesquisa. É o
caso da Land Art, por exemplo. Outros artistas utilizaram a narrativa: contar histórias
inclusivepessoais como meio de expressão artística.
A arte conceitual atingiu seu apogeu em meados dos anos 70, mas até os dias que
correm o interesse pela ideia como ponto de partida para a arte permanece em alta na
arte contemporânea. Os museus e o público se adaptam a sua forma de expressão.
Sua temática envolve as noções de sujeito, de indivíduo, de identidade. A ideia norteia
seus fundamentos e a sua construção pode se processar inclusive de forma coletiva
desmistificando, assim, a aura do artista criador único. Alguns artistas do conceito se
propõem também a explorar o poder da arte como agente transformador de vidas ou
instituições bem como criticar as estruturas de poder ou as condições políticas e sociais
do planeta.
No Brasil, o conceitual coincidiu com um momento político que envolvia uma ditadura
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militar (1964-1985). Isso lhe deu certa particularidade em relação a outros países nos
quais os artistas podiam ter como ponto de reflexão sua própria realidade. A partir dessa
situação política, portanto, os artistas brasileiros criaram ações que funcionaram como
estratégias metafóricas e simbólicas para burlar o controle estabelecido pelo regime.
Dessa forma, além dos objetivos comuns com os outros centros, a utilização do conceito
veio atrelada a toda uma carga de denúncia política.
A arte conceitual no Brasil, a partir da década de 90, adquire um novo impulso. Nesse
contexto, a introdução de novas mídias embasa e registra as ideias. Em um mundo
onde guerras, pobreza e instabilidade política e social marcaram e marcam grande parte
dos países em plena era da globalização tempo e espaço se redefinem nas múltiplas
linguagens da comunicação: internet, videoclipes, painéis eletrônicos, etc. Mas disso
falaremos posteriormente. Agora vamos recordar algumas maneiras pelas quais o
conceito tenta interagir com o espectador tornando a arte cada vez mais imbricada com
a vida.
Essa tendência da arte contemporânea, conhecida como Land Art (ou Earth Art) inicia-
se nos Estados Unidos no final dos anos 60. Como as várias correntes artísticas pós-
modernas, ela visa expandir as fronteiras da arte em relação à vida. Essas ações
artísticas buscam seu foco fora da cidade e vão, portanto, interferir na natureza em
grande ou pequena escala com ações mais ou menos efêmeras que objetivam utilizar
o meio ambiente como suporte e chamar a atenção para ele. A Land Art é, portanto,
uma arte pública. O espaço físico apresenta-se como campo onde os artistas realizam
grandes arquiteturas ambientais.
No Brasil, essas ações, raras, devem-se à iniciativa de poucos artistas. Poucos artistas,
na verdade, trabalharam com este meio de expressão. Acreditamos que os altos custos
operacionais tenham contribuído para a pouca ação nesta linguagem no país.
As formas de expressão artística que usam o corpo como meio não são propriamente
pós-modernas. A Performance, por exemplo, foi bastante utilizada pelas vanguardas
artísticas do século XX. A ação pode ser definida como uma forma de arte que combina
elementos do teatro, das artes visuais e da música. Nesse sentido, poderia ser associada
ao happening, que também usa os mesmos elementos além do corpo como veículo de
expressão.
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racismo, homofobia, doenças do nosso tempo, violência, anonimato etc. Enfim, as
mazelas que acometem o mundo pós-moderno, as sociedades contemporâneas em
constantes mutações. Dor, sátira, humor e sensacionalismo são enfatizados pela
arte performática bem como temas autobiográficos e a memória dos próprios artistas
envolvidos. A partir da década de 80, a Performance tornou-se cada vez mais acessível a
um público cada vez mais internacionalizado.
Nos anos 70, no Rio de Janeiro, algumas ações performáticas ganharam destaque,
inclusive por sua temeridade, mas foi na década de 80 que aconteceu uma maior
quantidade de Performances. O meio artístico passou a aceitar e legitimar a ação
performática com mais ênfase e esta ocupou espaços institucionais. Entretanto, seria
na década de 90 que não só as Performances, mas toda uma gama de expressões
artísticas ligadas a meios de expressão alternativos passariam a acontecer com maior
frequência e apoio.
No que diz respeito à Body Art (Arte do Corpo), esse gênero de expressão artística
pode ser visto como um prolongamento da arte conceitual e também se liga à ideia
de Performance, embora normalmente seja feito de forma privada e só posteriormente
comunicada ao público. A fusão arte/vida está também em seu cerne. O corpo proporciona
condições de exploração de várias questões que se tornam mais contundentes na pós-
modernidade tais como gênero, violência, identidade, doença e morte. Dessa forma a
temática da body art inclui desde sadomasoquismo, posicionamentos sociais e comédia.
No Brasil, a proposta é a mesma que no resto do mundo ocidental. Os adeptos da body
art transformam seu corpo num campo de experiências estéticas. Eles experimentam
todas as possibilidades oferecidas pelo corpo.
Sobre o uso das novas mídias e meios de expressão artística no cenário brasileiro
No que diz respeito às preocupações temáticas, durante essas três últimas décadas,
em paralelo à globalização, às questões identitárias, aos apelos às ciências sociais e,
mesmo, às inserções de ordem política encontramos a questão dos novos meios no
universo das artes visuais como elementos próprios do discurso artístico contemporâneo.
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Como uma das novas maneiras de expressão artística a arte da instalação,
cronologicamente, iniciou-se na década de 60. Elas utilizavam o espaço arquitetônico ou
não tendo como característica maior a interdisciplinaridade no que diz respeito aos meios
utilizados. Funcionavam como catalisadoras de ideias novas e integravam o espectador
em sua existência efêmera. Se antes, essas propostas artísticas não encontravam
espaços comerciais, a partir da década de 70 as galerias passam a acolhê-las bem como
museus e instituições em geral. Uma instalação, expressão artística contemporânea,
mistura pintura, escultura e objetos industrializados em ambientes preparados para
estimular as percepções sensoriais, que podem ser apropriados no meio, tanto da
natureza quanto de objetos industrializados que por sua vez são resignificados. Uma
Instalação também pode se apropriar da mídia em suas diversas formas: som, TV, vídeo,
computador. Nessa manifestação artística, geralmente, o artista tem como objetivo
provocar.
Poema Enterrado (1959-60) foi a primeira obra do gênero no país. Elas, como no resto
do planeta, vão encontrar mais campo para expansão a partir da década de 90. Em
fins de 1950, outra forma de fazer arte vai ser introduzida. Trata-se de pesquisas com
tecnologia televisiva que, na época, despontavam como mais um recurso a ser utilizado
no universo das artes visuais: o vídeo como arte ou o videoarte. Assim como é difícil
definir uma data específica para o início da história do vídeo no mundo, no Brasil também
há a mesma dificuldade. Há indícios de que na década de 1960 alguns artistas
Atividades
Propomos aqui que o professor disponibilize um espaço no fórum e solicite a cada
aluno que desenvolva um projeto na mídia ou forma de expressão de sua escolha para
o desenvolvimento de uma expressão conceitual. Ou seja: se o aluno se interessa por
instalações que ele crie um conceito de como e porque ele faria uma. Quais os materiais,
dimensões, enfim, que fizesse o projeto de uma instalação. A proposta poderia ser
ampliada em uma exposição futura onde estes alunos apresentariam o resultado do
projeto de forma presencial.
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C a p í t u l o 16
Objetivos
●● Analisar os antecedentes deste momento marcante nas artes visuais do ocidente;
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visuais que deveriam seguir o roteiro desafiante da modernidade e
optaram pela retomada de um meio (a pintura) considerado extinto
para a arte contemporânea.
Incidente no café
Tintoretto. Sandro Chia. Na pintura de Sandro Chia, além das imagens heroicas que flutuam no
1981 tempo e no espaço muitas vezes fazendo referencia à própria história
da arte, a vida corriqueira e cotidiana parece mergulhar em um cenário
grandioso onde os personagens são ao mesmo tempo heróis e palhaços.
A figura feminina que cai em meio a bancos e cacos de vidro tem a
majestade das antigas esculturas e deve ter referência com sua infância
feita de mulheres italianas marcantes e corpóreas de um erotismo
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A indústria cultural No Brasil, os anos 80 e a volta da pintura coincidem com o pluralismo
pode ser definida como
um conjunto de empresas político que se nascia no país através do processo de transição e o
e instituições que têm fim do regime militar. Crescia a indústria cultural14 e sua oferta de
como objetivo (utilizando
consumo. A força da comunicação de massa influenciou os jovens
os crescentes recursos
midiáticos) produzir, artistas daquela geração que não ficaram alheios ao que acontecia
distribuir e transmitir um nos eixos hegemônicos e embarcaram nesse momento de retorno à
conteúdo artístico-cultural
visando o lucro. pintura de grandes formatos.
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envolvimento político da arte conceitual por uma temática embasada
no individualismo ou nas raízes, mas que se voltavam para o pictórico
de grandes formatos como meio principal de expressão. A partir do
trabalho de Catunda podemos ter uma ideia dessa pintura própria dos Pesquise...
anos 80 no país: Onça Pintada N.1. Leda
Catunda. 1984
Interessada pela pintura neoexpressionista que acontecia no cenário
internacional, a artista iniciou um trabalho com essa linguagem. Naquele
momento, trabalhou sobre tecidos estampados cobrindo as figuras com
cor. Ela pintou sobre suportes absolutamente não convencionais, muitas
vezes aproveitando imagens preexistentes e as realçando.
A artista lidava, também, com motivos figurativos presentes na cultura
popular. Admitindo não saber desenhar, ela se apropria dessas imagens.
Dessa forma, dá sentido à pintura reinventando uma nova forma de pintar.
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por provocação ou por contágio aconteceu, por assim dizendo, do
Oiapoque ao Chuí.
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Joseph Beuys. Sua temática lida com o passado e com temas
relacionados com o nazismo e outros episódios da história alemã.
Sua pintura acontece em grandes formatos.
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●● Enzo Cucchi nasceu na província de Ancona, Itália e é um dos
membros da Transvanguarda italiana. Formou-se como aprendiz
de restaurador, trabalhou como topógrafo e expôs, pela primeira
vez , em 1977. Vive e trabalha em sua província natal.
Revisão
O Neoexpressionismo, corrente que aderiu à pintura considerada “morta” na década de
70, surgiu inicialmente nos anos 80, na Alemanha. Ele também vai aparecer com outros
nomes em outros países tais como: Figuration Libre, na França, ou Bad Painters nos
Estados Unidos ou Transvanguarda, na Itália.
No Brasil, os anos 80 e a volta da pintura coincidem com o pluralismo político que nascia
no país através do processo de transição e o fim do regime militar. Crescia a indústria
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cultural e sua oferta de consumo. A força da comunicação de massa influenciou os
jovens artistas daquela geração que não ficaram alheios ao que acontecia nos eixos
hegemônicos e embarcaram nesse momento de retorno à pintura de grandes formatos.
A produção artística dessa década, produto ou não de um mercado que dita regras e
procedimentos, merece ser vista como a manifestação artística que foi: representativa
de sua época.
Atividades
O professor, através de fórum no site do curso, deve propor que cada aluno pesquise nas
diversas regiões brasileiras um artista que durante as décadas de 80/90 tenha buscado
a pintura de grandes formatos como meio de expressão. O estudante deve, então,
apresentar o artista e pelo menos uma obra deste que será analisada pelos demais
participantes do curso.
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Objetivos
●● Analisar os antecedentes desta pluralidade de expressões e conceitos no Ocidente;
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No mundo moderno as culturas nacionais em que
nascemos se constituem em uma das principais
fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos
algumas vezes dizemos que somos ingleses ou
galeses ou indianos ou jamaicanos. Obviamente,
ao fazer isto estamos falando de forma metafórica.
Essas identidades não estão literalmente impressas
em nossos genes. Entretanto, nós efetivamente
pensamos nelas como se fossem parte de nossa
natureza essencial.
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equipou-se influenciando, entre vários outros aspectos, a produção
artística. Segundo Kátia Canton (2000 p 26): ”A esse panorama
costura-se uma consideração fundamental que reverbera na
produção artística que se desenvolve nos anos 90: a noção de que a
originalidade da criação é um mito modernista”. A pós- modernidade
se manifesta no espaço artístico, portanto, sob a forma de uma
estética mestiça em um mundo gerado pela mídia.
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Partindo do existente, do atávico, Pedrosa cria sua própria escrita,
misteriosa e hermética. Outros artistas comungam com a sua busca
por uma linguagem individual em meio aos signos, mitos e símbolos da
história do homem. Imagens construídas por sinais ou textos manuscritos
que levam o espectador a agir como um decodificador ou adivinho. Em
sua busca de encontrar imagens que derivem do gesto ancestral ele
partilha, por exemplo, com Paul Klee a incorporação à pintura de signos,
letras ou ideogramas.
Entretanto, remonta aos escritos de seu pai, homem do campo; às
cadernetas com anotações do pagamento dos trabalhadores na terra
as primeiras imagens que lhe ficaram na memória de uma escrita
incompreensível para uma criança se transformando, posteriormente, na
sua própria escrita secreta.
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Interferindo em documentos que registram negócios passados de lugares
diversos (portos, ferrovias, repartições públicas) o artista sai da periferia
de sua memória familiar para buscar aquela de seu país.
Dessa maneira evoca do particular a universalidade daqueles que
manusearam arquivos e papéis como é o caso da obra em questão. Suas
lembranças da burocracia das cidadezinhas do interior da Paraíba são
as mesmas lembranças de pessoas em qualquer parte do mundo. Ele
apenas as apresenta em instalações onde os títulos em latim evocam
nossas raízes comuns.
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A partir desse olhar sobre a condição feminina é que se processa o registro
acima exposto. A artista cria uma armadura de ferro que é também uma
metáfora em relação ao corpo feminino preso pelas leis sociais em uma
gaiola construída para ou por ela mesma. Essa representação de uma
memória corporal torna-se um canal valioso de questionamento acerca
do poder, da sexualidade e da identidade.
Outros artistas abordam também o corpo como meio de expressão
para uma atitude inconformista e angustiada diante da efemeridade
da vida, da degradação gradativa dos corpos em um contexto onde a
juventude é colocada como a expectativa máxima. A realidade da morte,
que permanece em paralelo às conquistas da ciência que prolongam a
sensação de juventude ao mesmo tempo em que descobertas cosméticas
prometem a eterna juventude, está sempre presente juntamente com
suas possibilidades ou (im) possibilidades.
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para a poesia-visual e, em seguida, para a arte-postal e desenhos,
nos anos 80. O universo do declínio das plantações de cana-de-
açúcar no Brasil conduziu seu trabalho inicial em desenhos e
instalações com mobiliário e documentos de família e institucionais.
Filho de ativistas políticos presos pela ditadura do regime militar
brasileiro nos anos 60, o artista é também muito conhecido pelos
seus trabalhos de caráter político. O diálogo dicotômico entre
memória e esquecimento contamina seu trabalho. É professor da
Universidade Federal da Paraíba fazendo parte do Programa de
Pos graduação em Artes Visuais. (fonte: site do artista)
Revisão
Intensas e profundas modificações marcaram e marcam o planeta nas últimas décadas.
Pelo menos no que diz respeito ao Ocidente hegemônico. Os meios de comunicação de
massa promoveram a transformação do planeta em uma aldeia global e, pelo menos de
forma teórica, colocaram as nações em um mesmo patamar. Dessa forma, as populações
das áreas mais longínquas do planeta puderam se integrar a uma nova concepção de
nação: aquela agrupada de forma geopolítica e cultural em torno de eixos de influência
econômica e cultural.
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Atividades
O professor deve propor através de fórum ou atividade didática uma reflexão sobre o
conjunto de temas mais presentes na arte contemporânea tais como aqueles que
envolvem a memória, as heranças, o corpo, a efemeridade da vida, o anonimato nas
grandes cidades, a estetização da política, a fusão dos meios de expressão, as questões
de gênero, de sexo e de espiritualidade. O aluno deve escolher uma destas abordagens
e pesquisar um artista contemporâneo que a contemple.
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Referências
CANTON, Kátia. Novíssima arte brasileira: um guia de
tendências. São Paulo: Iluminuras, 2001.
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o ateliê in O artista contemporâneo pernambucano e o ensino da
arte:Recife: UFPE, 2011.
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Sobre a Autora
Madalena Zaccara
É doutora em História da Arte pela Université Toulouse II, Toulouse,
França. Professora Associada do Departamento de Teoria da Arte
e Expressão Artística da Universidade Federal de Pernambuco.
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
UFPE-UFPB. Membro da ANPAP (Associação Nacional dos
Pesquisadores de Artes Plásticas). Líder do Grupo de Pesquisas Arte
Cultura e Memória. É autora de vários livros, capítulos de livros e
artigos.
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