You are on page 1of 77

Universidade Federal Rural de Pernambuco

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia

História da Arte no Brasil

Volume 4

Madalena Zaccara

Recife, 2013
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Gabriel Rivas de Melo
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Mônica Maria Lins Santiago
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Batista Dubeux Júnior
Pró-Reitor de Planejamento: Romildo Morant de Holanda
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia


Diretor Geral e Acadêmico: Francisco Luiz dos Santos
Coordenadora Geral da UAB: Marizete Silva Santos
Vice-Coordenadora Geral da UAB: Juliana Regueira Basto Diniz
Coordenadora de Cursos de Graduação: Sônia Virgínia Alves França
Coordenador de Produção de Material Didático: Rafael Pereira de Lira
Coordenador Pedagógico: Domingos Sávio Pereira Salazar

Produção Gráfica e Editorial


Capa: Rafael Lira e Igor Leite
Ilustração de Capa: Moisés de Souza
Projeto de Editoração: Rafael Lira e Italo Amorim
Diagramação: Arlinda Torres
Revisão Textual: Rita Barros

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão, por escrito, da Unidade Acadêmica
de Educação a Distância e Tecnologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos
102, 104, 106 e 107 da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Sumário

Apresentação..................................................................................................................... 5
O Pop no Brasil: um contexto específico....................................................................... 7
Sobre o contexto internacional.................................................................................... 7
As novas figurações no Brasil..................................................................................... 9
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 11
O conceito como premissa: a desmaterialização do objeto....................................... 17
Sobre a arte conceitual no Brasil.............................................................................. 21
Da terra como suporte e referência.......................................................................... 23
Sobre o corpo como suporte artístico: Performance e Body Art............................... 26
Sobre o uso das novas mídias e meios de expressão artística no cenário
brasileiro.................................................................................................................... 34
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 42
Sobre a volta da pintura no Brasil: a geração 80......................................................... 59
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 62
Sobre os vários conceitos que embasam a arte contemporânea no Brasil:
alguns exemplos............................................................................................................ 67
Sobre alguns artistas citados.................................................................................... 72
Referências...................................................................................................................... 75
Sobre a Autora................................................................................................................. 77
Apresentação
Os anos 60 marcaram o início de uma cultura de globalização e de sua ideologia
neoliberal que implica no fim dos grandes discursos da modernidade que tinham como
palavras de ordem a autenticidade, o gênio, a inovação e, como objetivo principal,
romper com um passado e com sua estética estabelecida.

Nesta sociedade pós-industrial, o consumo passou a ser a sedução maior do indivíduo,


isolado, narcisista, hedonista. Os valores passam a ser calcados no uso de bens e
de serviços. Por outro lado, dentro dessa economia globalizada, as pessoas não se
identificam mais como uma classe, mas através de pequenos grupos que não traduzem
uma ideologia comum, mas certa ausência de esperanças ou de sentido para a vida.

A chamada pós-modernidade implica em uma fase da história que vem depois da


modernidade e se constitui fenômeno internacional: um processo sem volta, pelo que
se observa hoje. Seus efeitos sobre a economia e a vida, de uma forma geral, são
instantâneos, isto é, acontecem em tempo real. Ou seja: enquanto que no passado a
integração entre os povos já aconteceu sob a forma de uma caravela, hoje ela se faz
pelos satélites e pelos computadores conectados à Internet.

É, portanto, em um mundo sem fronteiras (que nasce dos novos meios de transporte
e das novas tecnologias de informação e comunicação que colocam em contato as
múltiplas culturas tornando assim cada espaço uma rede de relações sociais complexas
de um imenso pluralismo cultural) que se gera um ecletismo do sentir e do olhar
presente em um contexto social, que se expressa através de suas minorias – sexuais,
raciais, culturais – no microcosmo do cotidiano.

O Brasil recebe como o resto do planeta essas influências hegemonicamente


ocidentais. O modo como elas serão assimiladas vai ser determinado pelo momento
político, econômico e social do país. Tomando como exemplo a Pop Art (ou novas
figurações) que introduz o nosso estudo vamos ver que em nosso país ela teve várias
matizes a partir do momento político brasileiro ligado à repressão da ditadura militar que
caracterizou aquele período. Dessa forma, o Pop brasileiro não vai ironizar o consumo
tanto quanto o inglês ou o norte-americano, mas denunciar o momento político do país.

A chamada “Arte Contemporânea” é a expressão dessa pós–modernidade que envolve


o mundo modificando ou tangenciando suas expressões artísticas. Ela é feita a partir
do discurso e se volta para a história (abominada pelos modernistas). Ela dialoga com
outros campos do conhecimento tais como as ciências exatas ou sociais, com a política
e com a ética além da própria estética. Sem estilo específico ou expressão particular, ela
é o conjunto de uma grande variedade de estilos. Ela se expressa através de múltiplos
meios (tradicionais ou inovadores) tais como pintura, escultura, fotografia, instalação,
desempenho, vídeo, web, etc. Poderíamos defini-la como uma espécie de guarda

5
chuva que abriga diversas correntes e movimentos tais como arte conceitual, arte
ecológica, minimalismo, arte comunitária, arte pública e as várias opções tecnológicas.
Em síntese; a arte contemporânea é interdisciplinar e não disciplinável: não obedece a
códigos estabelecidos como acontecia no século XIX com as Academias ou no século
XX com a filiação dos artistas a determinados movimentos artísticos, mesmo que
temporariamente.

Alguém pouco informado que pretenda frequentar os espaços e exposições dedicadas


à arte contemporânea vai se encontrar, por vezes, perdido, enfrentando obras que lhe
parecem herméticas. Como iniciar, então, o espectador leigo pelos meandros da arte
(nem sempre fácil de decodificar) contemporânea? Para isso os museus e demais
locais que fazem parte desse circuito estabelecem mediadores: pessoas que “explicam”
a obra ao público.

No Brasil todas estas manifestações da contemporaneidade vão ser visitadas pelos


artistas. No início dos anos 60 até os anos 80 eles criam estratégias simbólicas e
metafóricas para possibilitar uma liberdade de expressão relativa. O panorama dos
anos 80 e 90 marca e consolida, ainda mais profundamente, o trânsito da modernidade
para a pós-modernidade.

No espaço internacional vemos a derrocada do comunismo, a derrubada do muro de


Berlim e uma China que ingressa em uma economia de mercado para citar apenas
alguns acontecimentos. O Brasil, por sua vez, é marcado pela abertura política e a
transição democrática com o fim do regime militar e as diretas em 1984. O mundo se
transforma dentro e fora do país.

O que propomos nesse volume é uma mediação para uma melhor compreensão da
arte feita na pós-modernidade brasileira. Desde os seus princípios que acontecem com
as novas figurações de conotações políticas ou não passando pela desmaterialização
do objeto caracterizada por representações onde o conceito, a ideia, se sobrepõe
ao material. Passaremos também por visualizações de momentos onde a pintura
(considerada morta) volta a ser utilizada como veículo de expressão pelos nossos
artistas dos anos 80; discutindo a ecologia e o mundo em transformação e descobrindo
novas maneiras de comunicar e sensibilizar o espectador através das novas tecnologias
constantemente disponibilizadas. Pretendemos fazer uma ponte entre o que acontece
no Ocidente hegemônico que determina a ótica mundial, inclusive as expressões
artísticas que se desenvolvem em território brasileiro. Queremos situar os processos
idiossincráticos que, porventura, diferenciem essas formas de expressão.

A autora.

6
C a p í t u l o 14

O Pop no Brasil: um
contexto específico

Objetivos
●● Compreender o momento político social e econômico da introdução da Arte Pop na
Europa e Estados Unidos;

●● Estabelecer paralelos entre o eixo hegemônico ocidental e a realidade brasileira;

●● Identificar as novas figurações (Pop) no universo artístico do país.

Sobre o contexto internacional


A denominação Arte Pop surgiu no final dos anos 50 e tem a sua
autoria atribuída ao crítico inglês Lawrence Alloway. Entretanto, o
interesse pela cultura de massa (cultura popular) em um universo cada
vez mais permeável às contaminações próprias de uma sociedade
sem mais tantas fronteiras remonta às primeiras discussões que
envolveram Richard Hamilton, Eduardo Paolozzi e outros artistas
sobre uma realidade que permeava linguagens como o cinema ou a
propaganda, veiculada por uma mídia cada vez mais onipresente em
relação aos meios tradicionais.

É esse o universo onde Richard Hamilton introduziu o termo “Pop” em


suas colagens, entre as quais a intitulada O que será que torna os
lares de hoje tão diferentes, tão atraentes! Que foi feita de anúncios
recortados de revistas americanas. As imagens utilizadas retratam
o sonho americano onde um halterofilista famoso contraceneia com
uma Pin-up na representação de uma família ideal. Nesse exemplo
de um lar da classe-média americana, um presunto é um ícone que
faz às vezes de escultura e uma história em quadrinhos ocupa o
espaço de uma pintura na parede. Essa colagem tornou-se um ícone
da arte Pop que passou a desenvolver um vocabulário que anuncia o
american way of life como o novo caminho para o céu.

A obra foi concebida como um pôster para ilustrar o catálogo da exposição


Este é o Amanhã, do Independent Group, na Whitechapel Gallery, em
Londres, no ano de 1956. A composição trata de uma cena doméstica dos

7
novos tempos e é feita com recortes de anúncios tirados de revistas de
grande circulação. Um casal formado por um halterofilista e uma pin-up
exibe o seu way of life (modo de vida), que é formado com objetos da vida
moderna: televisão, aspirador de pó, enlatados, produtos em embalagens
vistosas etc.
A publicidade, dessa forma, é incorporada pela arte. Assim, o artista
apaga, propositadamente, as fronteiras entre arte erudita e arte popular,
ou entre arte elevada e a cultura de massa. Sexo e consumo constituem
a grande mensagem e o conceito da incorporação do cotidiano à obra de
arte se explicita na substituição de uma escultura por um presunto e um
quadro por uma história em quadrinhos.

O próprio Richard Hamilton definiu os princípios centrais da nova


sensibilidade artística. Trata-se de uma arte “popular, transitória,
Pesquise... consumível, de baixo custo, produzida em massa, jovem, espirituosa,
O que será que torna sexy, chamativa, glamorosa e um ótimo negócio”. (DEMPSEY Amy,
os lares de hoje tão
diferentes, tão atraente! 2003, p. 217), Ao lado de Hamilton, os demais artistas e críticos
Richard Hamilton. 1956. integrantes do Independent Group se aproveitam das mudanças
tecnológicas e da ampla gama de possibilidades dessa sociedade
baseada no consumo (e de suas peculiaridades) para desenvolver
uma forma de expressão artística que relata seu próprio tempo.
Eduardo Luigi Paolozzi, Richard Smith e Peter Blake são alguns dos
principais nomes do grupo britânico.

Enquanto as coisas assim se processavam na Inglaterra, nos Estados


Unidos a mensagem Pop encontrou terreno mais sólido. Os artistas
daquele momento começaram a compreender que cada um pode
se tornar um criador sem depender de uma formação acadêmica
específica. Em sua maioria, esses artistas do Pop trabalharam em
publicidade e ilustração. Eles usavam técnicas simples, populares e
industriais, além de símbolos próprios. As artes visuais caminharam,
então, em paralelo à sua aceitação comercial.

Essa superexposição na mídia tornou-se mais explícita através de


artistas como Andy Warhol por volta do início dos anos 60. A ele se
juntou Roy Liechtenstein, Tom Wesselmann e Claes Oldenburg. As
serigrafias seriadas de Warhol colocam no mesmo patamar produtos
consumíveis como Marylin Monroe ou uma lata de Coca-Cola.
Pesquise...
Marilyn. Andy Warhol. A famosa atriz Marilyn Monroe morreu em agosto de 1962. Nos quatro
1962. meses seguintes Andy Warhol pintou várias séries baseadas na publicidade
do filme Niagara no qual ela atuou. Ele repetiu, incansavelmente, sua
imagem baseado na mídia e trazendo as cores vibrantes da propaganda
em torno da estrela, juntamente com a cor cinza gradativa do apagar das

8
luzes de sua trajetória.
O emprego das cores fortes estabelece uma distância irônica entre o
espectador e o tema. Qualquer coisa de um voyeurismo consumista.
O ídolo, que é quase palpável, se encontra na vitrina como um produto
desejado e, portanto, fora do alcance. O sensacionalismo que cerca
os novos mitos produzidos pela mídia também é evocado e, de certa
maneira, ironizado.
A repetição da imagem remonta aos cartazes e luminosos de propaganda
que formam o cenário urbano das grandes metrópoles e que fascinam
o espectador com promessas que parecem tangíveis. Por outro lado, a
diva se confunde em meio a produtos que ocupam o mesmo status no
universo do consumo diário tais como uma banana ou uma garrafa de
Coca-Cola.

Essa filosofia contaminou obras de artistas britânicos, franceses,


italianos além de americanos e brasileiros. O espírito Pop aclimatou-
se às circunstâncias dos diversos países e culturas. O fenômeno não
foi isolado, mas uma espécie de visão do mundo das ultimas décadas
do século XX.

Enfim: foi um fenômeno internacional, mesmo que cada processo


político-cultural (leia-se o momento que cada país vivenciava) tenha
gerado interpretações particulares de sociedades variadas.

As novas figurações no Brasil


No Brasil, as vertentes Pop fizeram sentir suas influências no começo
da década de 60, trazendo um universo novo de possibilidades
poéticas. Esteticamente, naquele momento, o cenário artístico
brasileiro era influenciado pela arte abstrata (informal ou lírica) e do
concretismo, tendências internacionais absorvidas pela arte feita no
país.

No quadro político daquele momento (o início dos anos 60), tudo se


processava sob o signo da euforia própria do desenvolvimentismo do
presidente Juscelino Kubitschek. Os primeiros anos foram de uma
efervescência notável interrompida pela instauração do regime militar
em 1964. Em uma realidade de autoritarismo militar, vários artistas se
engajaram como forma de resistência civil na luta contra a ditadura.
Foi nessa conjuntura que chegaram e se transformaram as influências
neofigurativas europeias e a Pop Art americana.

Dentro dessas condições, os artistas brasileiros aderiram apenas


à forma, à técnica e ao conceito utilizado na Pop Art internacional.

9
Eles imprimiram sua realidade registrando a insatisfação com o
regime militar. Enquanto nos Estados Unidos (onde o estilo mais
se afirmou) os artistas criticavam a alienação da sua sociedade
consumista, no Brasil, abordavam questões sociais e políticas além
da violência sexual e urbana. O papel do artista era, portanto, o de um
revolucionário sem armas. Sua arte era um instrumento a serviço da
revolução social.

Dessa forma, no período de 1964 a 1968, observa-se um cruzamento


dos movimentos neofigurativos internacionais com a disposição dos
artistas locais de trabalhar com a sua própria realidade. A utilização
de meios que possibilitassem uma comunicação mais efetiva com o
público revestia-se de importância fundamental.

As “Novas Figurações”, nome que a Pop Art assumiu no t rritório


brasileiro envolveram nomes como Wesley Duke Lee, que introduziu
esse vocabulário no país, Antonio Dias, Rubens Gerchman e
Claudio Tozzi, entre outros representantes. Gerchman, por exemplo,
contaminado pelo universo da cultura de massa, abordou a metrópole
como seu universo de pesquisa: pintou concursos de misses, jogos
de futebol, narrativas de telenovelas e histórias em quadrinhos.
Pesquise...
Concurso de Miss. Rubens Gerchman usa os temas que a civilização da vulgaridade
Rubens Gerchman, 1965.
oferece, mas alia essa condição a uma observação aguda do mundo que
o cerca. Mundo este que se reveste, por vezes, de uma profunda ironia.
Ele não compactua com a banalidade dos costumes ou com a violência
da arbitrariedade militar. Denuncia. Tanto a violência política quanto a
hipocrisia da classe média.
Em desenhos, pinturas, serigrafias e montagens, Gerchman coloca em
cena personagens que saem do ideal alienado da classe média que
sustentava a arbitrariedade militar. Misses, manequins saídos do povo,
mitos da classe média, do subúrbio ou dos subterrâneos da cidade
grande. Modelos-fetiches da sociedade de consumo.

No Nordeste do país alguns artistas também trabalharam com


princípios do Pop Art. Porem não aconteceu um movimento em
torno de suas premissas, mas abordagens mais ou menos tardias.
Citaremos como exemplo dos que ali permaneceram Raul Córdula,
paraibano, radicado em Olinda e que teve momentos Pop ao longo
Pesquise... de sua trajetória; João Câmara, também paraibano e radicado em
Jesus Cristo, Figura e Pernambuco; Francisco Brennand e, mais tardiamente, Mauricio
Cavalo. João Câmara.
1969. Arraes, pernambucano que desenvolveu uma linguagem que enfatiza
aspectos populares da cultura pernambucana.

10
Retratos entre a introspecção e a ironia caracterizam a obra de Câmara
desse momento de um realismo crítico e, por vezes, mágico. Uma pintura
ora sombria, ora vibrante, deformante ou realista que se processa na
manipulação da anatomia humana.
Trata-se de obra em que o antigo e o contemporâneo, o nacional e o
universal se misturam. Sua obra é cheia de figuras marcantes que nos
reportam a personagens que se comportam como super-heróis de histórias
em quadrinhos em uma composição bem mais complexa e bem mais
violenta psicologicamente falando. Os arquétipos da cultura nordestina se
misturam a figuras públicas ou anônimas como que formando uma saga
que sobrevive na cabeça do autor.

Caracterizado pela força anárquica de negação, as novas figurações


tiveram um papel determinante na construção de atitudes marcadas
pela ironia e pela expressividade. No Brasil elas foram responsáveis
por sustentarem a resistência ideológica de uma elite intelectual,
sufocada pelas armas e pela repressão.

Sobre alguns artistas citados no


capítulo
●● Eduardo Paolozzi: O artista nasceu na Escócia em 1924 e faleceu
em 2005. Foi um importante artista do movimento Pop inglês.
Escultor e gravador. Estudou no Edinburgh College of Art e na
Slade School of Art, em Londres. Seus primeiros trabalhos foram
influenciados pelos dadaístas e surrealistas.

●● Richard Hamilton: O artista nasceu em 1922 na Inglaterra.


Ele definiu as imagens vinculadas nos meios de comunicação
de massa, base de inspiração da arte pop, como “populares,
transitórias, consumíveis, produzidas em massa, jovens, em
escala empresarial, de baixos custos, humorísticas, sexy, ardilosas
e glamourosas”. Polivalente, ele pinta, desenha e fotografa. Produz
colagens, instalações e designs. É considerado o pai da Pop Art.

●● Andy Warhol nasceu em Pittsburg, Pensilvania, EUA, em 1928


e faleceu em 1987. O pai de Warhol emigrou para os Estados
Unidos em 1914 onde nasceu o artista. Graduou-se em design
em 1945 e mudou-se para Nova York onde começou a trabalhar
como ilustrador. Fez a sua primeira mostra individual em 1952,
na Hugo Galley onde exibiu quinze desenhos baseados na obra
de Truman Capote. Os anos 1960 marcaram a afirmação de sua
carreira como artista plástico. Ele passou a se utilizar dos motivos

11
e conceitos da publicidade em suas obras, bem como do o uso de
cores fortes e brilhantes. Reproduziu temas do cotidiano, objetos e
pessoas consumidos pelos americanos tais como uma lata de sopa
Campbell ou artistas e personalidades como Elizabeth Taylor, Mick
Jagger ou Mao Tse Tung. Além das serigrafias Warhol também se
utilizava de outras técnicas, como a colagem e o uso de materiais
descartáveis, não usuais em obras de arte. Ficou notório por sua
frase: “no futuro todos serão famosos durante quinze minutos”.

●● Roy Lichtenstein nasceu em New York, em outubro de 1923, e


faleceu naquela cidade em setembro de 1997. Pintor, na sua obra
valorizou os temas de histórias em quadrinhos procurando, dessa
forma, criticar a cultura de massa. O seu processo de criação
iniciou-se com uma pintura de Mickey, em 1960. Usando óleo e
tinta acrílica ele ampliou essas figuras (dos quadrinhos) como
grandes anuncios comerciais.

●● Tom Wesselmann nasceu em Cincinnati - Ohio em 23 de


Fevereiro de 1931 e morreu em Nova Iorque em 2004. Em 1956,
se mudou para New York e estudou na Cooper Union Escola de
Artes e Arquitetura. O artista ganhava a vida trabalhando como
caricaturista em vários jornais e revistas. No final dos anos
cinquenta, criou uma série de colagens em pequeno formato e,
posteriormente, suas conhecidas séries intituladas Great American
Nudes e Still life. Sua escolha por motivos triviais o tornou um dos
principais artistas da Pop Art americana.

●● Claes Oldenburg: O escultor nasceu em Estocolmo em 1929


e é considerado um dos principais representantes do Pop Art
norte-americano. Investiu em imagens ampliadas e exageradas
do cotidiano: objetos, alimentos e artefatos que fazem parte
da sociedade de consumo. Os hot-dogs, os ice creams que são
diariamente introduzidos em quantidades industriais foram seus
ícones e sua temática.

●● Wesley Duke Lee: O artista nasceu em São Paulo, em 1931, e


faleceu no mesmo estado e cidade em 2010. Foi desenhista,
gravador, artista gráfico, professor. Fez curso no MASP em
1951. Um ano depois, viajou para os Estados Unidos e estudou
na Parson’s School of Design e no American Institute of Graphic
Arts, em Nova York, até 1955 quando tomou contato com a Pop
Art. No Brasil, em 1957, deixou a publicidade e tornou-se pintor.
Foi para Paris onde frequentou a Academie La Grande Chaumière.
Retornou ao Brasil em 1960. Nesse ano, realizou, no João

12
Sebastião Bar, em São Paulo, O Grande Espetáculo das Artes, um
dos primeiros happenings do país. Procurou sempre organizar um
movimento artístico: o realismo mágico, juntamente com diversos
artistas.

●● Antonio Dias (Antonio Manuel Lima Dias) nasceu em Campina


Grande, Paraíba em 1944. Artista multimídia aprendeu com o avô as
técnicas elementares do desenho. No final da década de 1950, no
Rio de Janeiro, trabalhou como desenhista de arquitetura e gráfico.
Estudou no Atelier Livre de Gravura da ENBA. Em 1965, recebeu
bolsa do governo francês e residiu até 1968 em Paris. Depois,
transferiu-se para Milão, onde mantém ateliê. Em 1977, viajou para
a Índia e o Nepal, onde estudou técnicas de produção de papel, que
serviram de suporte para seus trabalhos. Em 1988, passou a residir
em Berlim como bolsista do Deutscher Akademischer Austausch
Dienst - DAAD [Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico]. Em
1992, tornou-se professor da Sommerakademie für bildende Kunst,
em Salzburgo, Áustria, e, no ano seguinte da Staatliche Akademie
der bildenden Künste, em Karlsruhe, Alemanha. É um dos grandes
expoentes do Pop brasileiro.

●● Rubens Gerchman nasceu no Rio de Janeiro em 1942 e faleceu


em São Paulo em 2008. Foi um artista ligado a Pop Art. Usou
ícones do futebol, televisão e política em suas obras. Estudou
desenho no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e trabalhou
como programador visual em revistas e editoras do Rio. Em
1960, matriculou-se na antiga ENBA, mas abandonou o curso no
ano seguinte. Adotou uma estética da pop americana e do Novo
Realismo europeu.

●● Cláudio Tozzi (Claudio José Tozzi) nasceu em São Paulo, em


1944. Pintor, ele é mestre em arquitetura pela Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU-
USP. Em suas primeiras obras, o artista revela a influência da arte
pop, pelo uso de imagens retiradas dos meios de comunicação de
massa. Trabalha com temáticas políticas e urbanas, utilizando com
frequência técnicas como a serigrafia. Tozzi viajou em temporada
de estudos para a Europa em 1969 e, a partir dessa data, seus
trabalhos revelam uma maior preocupação com a elaboração
formal e perdem o caráter panfletário que os caracterizavam.
Começa a desenvolver pesquisas cromáticas na década de
1970. Nos anos 80, sua produção abre-se para novas temáticas
figurativas com aves e paisagens brasileiras.

13
●● Raul Córdula nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 1943.
É pintor, desenhista, gestor, professor e hoje mora em Olinda,
Pernambuco, onde continua a desenvolver seu trabalho iniciado
na adolescência. Seu vocabulário geométrico remete, porém, ao
universo circundante: as cores e formas do Nordeste do Brasil.

●● Mauricio Arraes: Artista de origem pernambucana, ele nasceu em


Recife em 1956. Filho do político Miguel Arraes, ele acompanhou
seu pai no exílio durante a ditadura militar. Começou a pintar na
Argélia e depois na França. Radicado no Rio de Janeiro, vive do
que gosta de fazer: pintar.

●● João Câmara Filho: Câmara nasceu em João Pessoa, Paraíba


em 1944. Pintor, gravador, desenhista, artista gráfico, professor e
crítico. Estuda pintura no curso livre da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal de Pernambuco, entre 1960 e 1963. Nesse
ano, é eleito presidente da Sociedade de Arte Moderna do Recife
– SAMR. Em 1964, funda o Ateliê Coletivo da Ribeira e, em 1965,
o Ateliê + Dez, ambos em Olinda. Entre 1967 e 1970, leciona
pintura na Universidade Federal da Paraíba Em 1974, monta um
ateliê de litografia, transformado depois na Oficina Guaianases de
Gravura. A partir da década de 1960, a produção de João Câmara
caracteriza-se por apresentar corpos fragmentados ligados, por
vezes a episódios da história do país.

●● Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand: O artista


nasceu em Recife, Pernambuco, em 1927. Ceramista, escultor,
desenhista, pintor, tapeceiro, ilustrador, gravador. Inicia sua
formação em 1942, aprendendo a modelar com outro artista
pernambucano: Abelardo da Hora. Em 1949, viajou para a França.
Frequentou cursos com André Lhote e Fernand Léger em Paris.
Em 1951 descobriu na cerâmica seu principal meio de expressão.
Entre 1958 a 1999, realiza diversos painéis e murais cerâmicos em
várias cidades do Brasil e dos Estados Unidos. Em 1971, inicia a
restauração de uma velha olaria de propriedade paterna, próxima
a Recife. Transformou-a em ateliê, onde expõe, permanentemente,
objetos cerâmicos, painéis e esculturas.

Revisão
A denominação Arte Pop surgiu no final dos anos 50 e tem a sua autoria atribuída ao
crítico inglês Lawrence Alloway. Richard Hamilton, Eduardo Paolozzi e outros artistas
foram os primeiros a se manifestarem sobre uma realidade que permeava linguagens
como o cinema ou a propaganda, veiculada por uma mídia cada vez mais onipresente.

14
Nos Estados Unidos, a mensagem Pop encontrou terreno mais sólido. Os artistas
daquele momento começaram a compreender que cada um pode se tornar um criador
sem depender de uma formação acadêmica específica. Em sua maioria, esses artistas do
Pop trabalharam em publicidade e ilustração. Eles usavam técnicas simples, populares e
industriais, além de símbolos próprios. As artes visuais caminharam, então, em paralelo
à sua aceitação comercial.

Essa filosofia contaminou obras de artistas britânicos, franceses, italianos além de


americanos e brasileiros. O espírito Pop aclimatou-se às circunstâncias dos diversos
países e culturas. O fenômeno não foi isolado, mas uma espécie de visão do mundo das
ultimas décadas do século XX.

No Brasil, as vertentes Pop fizeram sentir suas influências no começo da década de


60, trazendo um universo novo de possibilidades poéticas. Esteticamente, naquele
momento, o cenário artístico brasileiro era influenciado pela arte abstrata (informal ou
lírica) e do concretismo, tendências internacionais absorvidas pela arte feita no país.

No quadro político daquele momento (o início dos anos 60), tudo se processava sob o
signo da euforia própria do desenvolvimentismo do presidente Juscelino Kubitschek. Os
primeiros anos foram de uma efervescência notável interrompida pela instauração do
regime militar em 1964

Dentro dessas condições, os artistas brasileiros aderiram apenas à forma, à técnica e ao


conceito utilizado na Pop Art internacional. Eles imprimiram sua realidade registrando a
insatisfação com o regime militar. Enquanto nos Estados Unidos (onde o estilo mais se
afirmou) os artistas criticavam a alienação da sua sociedade consumista, no Brasil, eles
abordavam questões sociais e políticas além da violência sexual e urbana. O papel do
artista era, portanto, o de um revolucionário sem armas. Sua arte era um instrumento a
serviço da revolução social.

Atividades
O professor deve solicitar no espaço virtual disponível que o aluno busque um trabalho
de um artista brasileiro de um momento relativo às Novas Figurações e que marque
nele os traços que o diferenciam da produção internacional. A experiência deve ser Pesquise...
compartilhada com os outros alunos formando-se dessa forma um processo interativo. Wanted. Rubens
Como exemplo segue o trabalho de Rubens Gerchman e a proposição de uma reflexão Gerchman. Dec 50.
no sentido de observar os elementos que o distinguem da produção Pop dos artistas
americanos e ingleses.

15
16
C a p í t u l o 15

O conceito como
premissa: a
desmaterialização do
objeto

Objetivos
●● Conhecer o processo de surgimento do conceito no contexto internacional;

●● Identificar as características próprias desse momento no Brasil;

●● Identificar alguns artistas conceituais no Brasil;

●● Analisar algumas expressões e tecnologias utilizadas pela arte conceitual em caráter


internacional e nacional.

A partir do final da década de 1960, a própria noção do objeto artístico


passou a ser questionada. Ou seja: a arte deixou de ser o objeto
tradicional materializado para transformar-se na concepção que o
artista tem da arte. Segundo Teixeira de Carvalho (2006, p. 29) “ela
a não representa, não exprime, rejeita todos os códigos anteriores,
a ponto de alguns críticos proporem uma nova periodização para a
história da arte contemporânea: pré-conceitual e pós-conceitual”.

Esse movimento dentro do universo da história das artes plásticas


engloba ou compartilha pontos comuns com uma série de
manifestações artísticas tais como: performance, arte do corpo (body
art), instalação, arte da terra (Land art ou earth art), videoarte entre
outras formas de criação. Por vezes ela abdica completamente de
qualquer vínculo com o objeto físico limitando-se a ações das quais
só a documentação (fotográfica ou através de filmes) sobrevive.

A maioria das pessoas afirma não compreendê-la principalmente


por considerá-la estranha àquilo que aprenderam a considerar como
arte. Dessa forma, no que diz respeito ao grande público, gera-se a
necessidade de uma mediação. Ou seja: uma explicação por parte
de uma classe de profissionais da contemporaneidade que tem como
função “explicar” a arte ao espectador.

17
Talvez o grande problema seja que sempre fomos preparados para
o “entender” e bem pouco para o “sentir”. Dessa forma reduzem
a relação arte/espectador às explicações necessárias para o
entendimento da obra buscando socorro nesses mediadores.

Essas novas formas de expressão têm antecedentes fortes na obra e


nas ideias de Marcel Duchamp, um artista dadaísta e polivalente que
questionou as regras da produção artística, os julgamentos estéticos
e a participação do espectador como elemento atuante na obra de
arte.

Sob a inspiração duchampiana e levando-se em conta outros


precedentes tais como o trabalho executado pelo artista Robert
Atenção Rauschemberg, em 1953, (onde este apaga um desenho do conhecido
1
O termo
Expressionismo
artista do Expressionismo Abstrato1, De Kooning, e lhe dá o título
Abstrato foi criado pelo de Desenho apagado de De Kooning); o Salto no Vazio de Yves Klein,
crítico Robert Coates em
ou os corpos humanos assinados por Piero Manzoni (quando o artista
1946 e dizia respeito ao
engajamento corporal do assina seus próprios modelos subvertendo a tradição da História da
artista na pintura. Arte) entre outras manifestações; nasce a “arte do conceito”, que
busca envolver a mente do espectador para uma compreensão da
mensagem que o artista quer passar e que o torna cúmplice dela.

Para compreendermos melhor esses precursores vamos analisar


a obra de Yves Klein Anthropometries, realizada na Galerie
Internationale d’ Art Contemporain, em Paris, em 1960 (Figura 1).

Figura 1. Yves Klein. Anthropometries de l‘Epoque bleue. Fonte: http://www.youtube.com/


watch?v=gqLwA0yinWg

Yves Klein antecipou os procedimentos de muitos artistas contemporâneos

18
conceituais com suas técnicas tão de acordo com o espírito de espetáculo
próprio da pós-modernidade em que vivemos.
Nesse trabalho, se utilizou de modelos nus (mulheres-pincéis) cobertas
com tinta azul e que se moviam como pincéis vivos imprimindo a marca
de seus corpos embebidos de tinta azul sobre as telas. A ação se passou
sob o som de uma sinfonia intitulada Sinfonia Monótona e foi batizada de
Antropometrias (formas que se assemelham ao homem).
Os músicos, durante a ação, tocavam uma nota repetida durante dez
minutos e em seguida impunham um silêncio. Klein, ator e espectador,
observava o desenrolar da cena que havia concebido na qual se unia
teatro, música, pintura e Performance.

A arte/ideia, como um dos principais teóricos do movimento Joseph


Kosuth explicava, foi e é um momento em que a arte deve se
interrogar sobre sua própria natureza. O desafio do artista é descobri-
la bem como definir sua linguagem que é feita para envolver a mente
do espectador, sua participação e reflexão.

Essencialmente documental, a Arte Conceitual é feita de fotos, filmes,


entrevistas, projetos ou textos que não necessariamente devem
possuir qualquer significação estética. Ela não é um fim em si, mas
um meio para a realização do conceito, da ideia. Renovam-se os
meios de expressão (foto, off set, xerox, vídeo, linguagem escrita) e o
corpo e o texto passam a ter um lugar de destaque nessa produção.
Toda uma interdisciplinaridade se faz presente no universo conceitual.
Há uma nítida afirmação da superioridade do trabalho mental sobre o
manual.

No seu conhecido trabalho Uma e três cadeiras Kosuth se propõe


a conscientizar o espectador da sua filosofia. Trabalha sobre a
representação visual e verbal de uma ideia, o que seria a expressão Pesquise...
artística maior. Uma e três cadeiras.
Joseph Kosuth. 1965.

Neste trabalho, o artista expõe uma cadeira, a fotografia do objeto e a


definição do nome “cadeira” extraída de um dicionário. Ele se propõe,
dessa forma, a conscientizar o espectador sobre a natureza da integração
entre uma ideia e sua representação visual e linguística (verbal).
Pouco importa a natureza do material da cadeira ou seu aspecto estético
na fotografia. Não se trata de provocar uma emoção, mas de uma
interrogação ao ator/espectador sobre a natureza da arte, da ideia, do
conceito.

A proposta acontece inicialmente em Nova York, entretanto, como


as demais expressões artísticas da pós-modernidade logo se
internacionaliza. Dessa forma, vamos encontrar artistas americanos

19
(John Baldassari, Robert Barry, Dan Grahan, entre outros) trabalhando
sob a mesma premissa que os artistas alemães (Joseph Beuys, Hans
Haacke, Gerard Richter); japoneses (On kawara); franceses (Daniel
Buren) ou ingleses (Grupo Art & Language), entre outros.

Se nos anos 70 a maior preocupação dos artistas conceituais era


a linguagem da arte. Posteriormente, ampliou-se esse campo de
atuação. Dessa forma, alguns passaram a investigar fenômenos
naturais tendo o planeta como espaço de pesquisa. É o caso da
Land Art, por exemplo. Outros artistas utilizaram a narrativa: contar
histórias inclusive pessoais como meio de expressão artística. É o

Pesquise... caso do artista japonês On kawara que, há quase quarenta anos,


pinta em branco sobre um fundo monocromático, em um processo
Hoje. On Kawara. Pintura
em série. Tinta, tela, sempre idêntico, a data de cada dia que ele vive.
jornal.
Desde 4 de janeiro de 1966 o artista deu início à série Hoje que consiste
no registro do dia, de cada dia no qual acontece a ação desse registro, em
letras brancas simples contra o fundo monocromático. A data é sempre
documentada na língua local e utilizando-se as convenções gramaticais
do país em que a pintura é executada.
As pinturas são executadas em um dos oito tamanhos escolhidos pelo
artista. Todos com orientação horizontal. As datas nas pinturas são sempre
centradas sobre a tela. As cores do fundo podem variar. As pinturas dos
primeiros anos tendem a ter cores fortes e as mais recentes são de tom
mais escuro.
Cada obra é cuidadosamente executada à mão. Se Kawara é incapaz de
completar o trabalho no dia em que foi iniciado, imediatamente o destrói.
Quando uma pintura de data não é exibida, ela é colocada em uma caixa
de papelão, sob medida, para a pintura, que é anexada a um recorte de
um jornal local da cidade em que o artista fez a pintura.
Kawara até agora criou este tipo de registro em mais de 112 cidades em
todo o mundo em um projeto que está previsto para terminar somente
com sua morte.

A arte conceitual atingiu seu apogeu em meados dos anos 70, mas até
os dias que correm o interesse pela ideia como ponto de partida para
a arte permanece em alta na arte contemporânea. Os museus e o
público se adaptam a sua forma de expressão. Sua temática envolve
as noções de sujeito, de indivíduo, de identidade. A ideia norteia seus
fundamentos e a sua construção pode se processar inclusive de forma
coletiva desmistificando assim a aura do artista criador único. Alguns
artistas do conceito se propõem também a explorar o poder da arte
como agente transformador de vidas ou instituições bem como criticar
as estruturas de poder ou as condições políticas e sociais do planeta.

20
Sobre a arte conceitual no Brasil
No Brasil, o conceitual coincidiu com um momento político que envolvia
uma ditadura militar (1964-1985). Isso lhe deu certa particularidade
Você Sabia?
2
A expressão Arte
em relação a outros países nos quais os artistas podiam ter como Concreta foi cunhada
ponto de reflexão sua própria realidade. A partir, portanto, dessa por Theo van Doesburg
situação política os artistas brasileiros criaram ações que funcionaram em um manifesto datado
de 1918 e publicado na
como estratégias metafóricas e simbólicas para burlar o controle revista De Stijl. Refere-
estabelecido pelo regime. Dessa forma, além dos objetivos comuns se a um tipo de pintura
feita com ângulos retos
com os outros centros, a utilização do conceito veio atrelada a toda e usando três cores
uma carga de denúncia política. primárias. A proposta
era ser uma arte alheia
Por outro lado, várias fontes artísticas peculiares alimentavam a toda forma naturalista
e a utilização de formas
o conceitual no país: a herança da Arte Concreta2, do geométricas puras.
Neoconcretismo , das Novas Figurações , além da situação dos
3 4

artistas, naquele momento, reféns de um regime autoritário que os


afastava da atitude narcisista e sofisticada de seus colegas de outras
fronteiras.

No sentido de fundir arte e vida os artistas conceituais brasileiros


Saiba Mais
3
Arte Neoconcreta ou
criticavam as instituições que – ao invés de defenderem e Neoconcretismo foi um
representarem os artistas – serviam como instrumentos de poder dos movimento lançado, em
1959, por Ferreira Gullar.
militares. Dessa forma, buscavam espaços e ações que privilegiassem
A proposta era que, sem
o diálogo entre o artista e o público. Uma espécie de circuito paralelo abandonar o espaço
à arte oficial aconteceu naquele momento e nele se inseriram aqueles geométrico, se partisse
para experimentações
que trabalhavam priorizando a ideia. com diferentes linguagens
e meios além da busca do
Os artistas desse circuito alternativo5 se apropriavam de espaços espectador na integração
públicos e dos meios de comunicação em massa para que estes arte/vida.
servissem como suporte para a exposição de suas ideias. Valia tudo:
da praça ao jornal.

Os trabalhos dos artistas brasileiros conceituais daquele momento


apesar do forte acento político e da crítica social, não deixaram de
questionar a natureza da arte e do objeto artístico. Suas propostas
Saiba Mais
4
Novas Figurações é
tinham e têm como foco a coletividade, muitas vezes representada uma tendência figurativa
pelo espaço da cidade que é público e pelos sujeitos que ali interagem que surgiu na Inglaterra,
cotidianamente. mas radicou-se em Nova
York de onde se irradiou
pelos Estados Unidos e
Em Cildo Meirelles, temos um exemplo contundente de como a arte
para o resto do mundo.
conceitual se processou no país. Um dos mais significativos artistas Também chamada Arte
de sua geração tem sua atuação coincidente com o fechamento Pop trouxe uma forma de
pensamento que evocava
político. Nestes anos de censura, de medo e de silêncio destacou- o imaginário popular da
se com suas propostas políticas e críticas, tais como seu trabalho classe média.

21
Inserções em circuitos ideológicos. Em uma de suas ações mais
conhecidas intitulada Quem matou Herzog! usa sua arte para
Pesquise... questionar a ditadura.
Quem matou Herzog!.
Cildo Meirelles. 1975. Trata-se de uma mensagem explícita, ainda que anônima, de sua visão
da arte enquanto meio de democratização da informação e da sociedade.
Aborda a morte do jornalista Wladimir Herzog, que supostamente
suicidou-se (explicação oficial) nos porões de tortura da ditadura militar.
Utilizando um meio de comunicação subterrâneo, uma vez que a censura
estava instaurada em relação aos meios de comunicação, ele questiona
o regime utilizando-se da inserção da mensagem em um circuito público
e incontrolável: o dinheiro.

Como no resto do mundo a arte do conceito se apropria de vários raios


de ação: usa a terra, o corpo, a cidade, as novas mídias entre outras
Atenção formas de expressão para atuarem como suporte para a exposição e
5
Um circuito alternativo interação dos conceitos elaborados. Ela operava e operou a relação
é aquele espaço artístico
entre o verbal, o visual e o sonoro. Os artistas que se destacam nesse
que se processa à
margem dos museus período são Júlio Plaza, Ana Maria Maiolino, Artur Barrio, Antonio
e galerias, ou seja, Dias, Grupo 3NÓS3, Antonio Manuel, Ana Bella Geiger, entre muitos
paralelo às instituições
subsidiadas pelo Estado. outros que criaram obras transgressivas satirizando a política, o poder
e a própria arte.

Nos outros espaços brasileiros o conceitual também se manifestou.


No Nordeste do Brasil, local mais visado pela ditadura em virtude da
sua atuação política pré-ditadura, por exemplo, o conceitual também
teve o seu espaço mesmo que reduzido a poucos e resistentes
criadores que trabalharam praticamente isolados.

Recife foi a cidade que mais se destacou nessa iniciação conceitual


brasileira embora se deva levar em conta a tentativa dos artistas
Antonio Dias, Raul Córdula, Chico Pereira e dos teóricos Paulo Sergio
Duarte e Silvino Espínola de descentralizar o eixo hegemônico do
Sudeste do Brasil trazendo novas linguagens para a Paraíba (João
Pessoa) com a fundação do Núcleo de Arte Contemporânea (NAC)

Pesquise... de duração efêmera, mas marcante. Essa tentativa não absorvida


pela comunidade se refletiu na metrópole vizinha que, embora
Limpos e Desinfetados.
Paulo Bruscky e Daniel tenha demorado a instalar o IAC (Instituto de Arte Contemporânea),
Santiago. 1987. consolidou as tendências conceituais bem mais enfaticamente.

Porém nos idos da década de 70, no Brasil, aqueles que trabalharam


com o conceitual no Nordeste trabalharam isolados. É o caso dos
artistas pernambucanos Paulo Bruscky e Daniel Santiago. Durante
o período da ditadura militar, ambos artistas priorizam as pesquisas

22
experimentais que envolviam o espaço e o ambiente. Atuaram em
happenings, performances, fizeram copy art, áudio arte, arte correio,
etc. Em 1974, lançaram o Movimento/Manifesto Nadaísta, que faz
uso do suporte super-8. Enfim trabalharam com todas as mídias
disponíveis na época.

A vontade de quebrar parâmetros e convenções instauradas encontra eco


no humor constante da dupla de artistas e provocadores Paulo Bruscky
e Daniel Santiago. Esse humor ajudou-os a criar nos tempos ásperos da
ditadura e da incompreensão no espaço sociocultural onde viviam
A paródia, a sátira, o grotesco, a ironia trazem a possibilidade de observar
uma realidade às vezes não abordável ou digerível sob outro olhar. Foi
isso que motivou os dois artistas na ação em questão. Nela, os artistas se
proclamam limpos e desinfetados. De que? Do vírus do questionamento
político ou como já “permitidos” para consumo após a repressão social e
na abertura para uma “nova” sociedade? Para tanto, posaram com faixas
de papel encontradas em um banheiro de hotel que os declaram, como
os sanitários, “limpos e desinfetados”.

A cidade de Recife serviu como suporte para muitas das ações dos
artistas desde a década de 70 até os dias que correm. No trabalho
Recife em Recife o centro da cidade vira uma galeria aberta onde
o próprio espaço urbano (apropriado por Paulo Bruscky) é proposto
como obra de arte. Dessa forma “a Avenida Guararapes à noite”;
“o Rio Capibaribe visto do quinto andar do Edifício Tereza Cristina”;
“a madrugada na Avenida Conde da Boa Vista” eram os trabalhos
artísticos propostos ao transeunte. A dupla separou-se, mas os
artistas continuaram produzindo de forma individual.

A arte conceitual no Brasil, a partir da década de 90 adquire um


novo impulso. Nesse contexto, a introdução de novas mídias
embasa e registra as ideias. Em um mundo onde guerras, pobreza e
instabilidade política e social marcaram e marcam grande parte dos
países em plena era da globalização tempo e espaço se redefine nas
múltiplas linguagens da comunicação: internet, videoclipes, painéis
eletrônicos etc. Mas disso falaremos posteriormente. Agora vamos
recordar algumas maneiras pelas quais o conceito tenta interagir com
o espectador tornando a arte cada vez mais imbricada com a vida.

Da terra como suporte e referência


Essa tendência da arte contemporânea, conhecida como Land Art
(ou Earth Art) inicia-se nos Estados Unidos no final dos anos 60.
Como as várias correntes artísticas pós-modernas visa expandir as

23
fronteiras da arte em relação à vida. Essas ações artísticas buscam
seu foco fora da cidade e vão, portanto, interferir na natureza em
grande ou pequena escala com ações mais ou menos efêmeras que
objetivam utilizar o meio ambiente como suporte e chamar a atenção
para ele. A Land Art foi reconhecida como um movimento e de forma
internacional a partir da exposição intitulada Earth Works realizada na
Dwan Gallery em Nova York, 1968, organizada por Robert Smithson.

O desejo maior dessa forma de expressão artística, além de chamar a


atenção para o planeta, é sacralizar determinados espaços escolhidos
e consagrados como arte sendo assim também um veículo de
preservação. Com essa ambição, muitas vezes, chama atenção para
Saiba Mais sítios arqueológicos6 e para lugares ameaçados pela interferência
6
Sítios arqueológicos humana. Além disso, ela se integra com a paisagem e instiga a
podem ser definidos imaginação, combinando objeto e natureza, intervenção e local/
como locais utilizados por
grupos sociais anteriores suporte e possibilitando a interação obra/espectador que configura a
ao nosso para as suas pós-modernidade em artes visuais.
habitações e atividades
que permitiram a sua A maior parte dos artistas (que trabalham com essa forma de
subsistência e cujos
vestígios encontram- expressão) é britânica ou americana. Eles quase sempre estão
se ali espacialmente ligados à uma instituição e a um planejamento, pois trabalhar com
distribuídos em
determinadas áreas. essa proposta implica em altos custos financeiros tendo em vista a
distância, grau de dificuldades de execução e tempo de concretização.

Nos Estados Unidos destacam-se Robert Morris, Carl André, Walter


de Maria, Richard Serra e Robert Smithson entre outros.

Smithson mobiliza seu centro de pesquisa para projetos ambientais em


grande escala chamando a atenção para a paisagem como é o caso do
Pesquise... Spiral Jetty localizada em Utah. Essa obra (Quebra-Mar em espiral), uma
Spiral Jetty. Robert das mais conhecidas do artista, foi construída a partir de um contrato de
Smithson. 1970 vinte anos de duração para arrendamento do local.
Projetada e executada para um determinado lugar ela se projeta em
forma de espiral nas águas do Great Salt Lake, avermelhadas devido à
presença de resíduos químicos. O artista teria escolhido este lugar como
uma forma de chamar a atenção para a poluição transformadora do meio
ambiente.
A obra teve financiamento e para a sua construção foram usados
caminhões e tratores como meio para interferir no suporte (a terra e a
água). A construção durou seis dias e, apesar de ser feita em pedra e
rocha, a obra está sujeita às intempéries mantendo assim seu caráter
efêmero.

Na Europa torna-se marcante a presença de artistas da Land


Art como Hamish Fulton, Andy Goldsworthy e, principalmente, o
britânico Richard Long e suas grandes caminhadas que são feitas

24
em locais diferentes e ermos tais como a Lapônia ou o Himalaia.
Durante essas marchas ele constrói linhas utilizando materiais que
encontrava na região como rochas ou troncos de árvores. O que fica
dessas intervenções (que convocam o espectador a participar desses
deslocamentos através da imaginação) é a documentação fotográfica
ou os vídeos eventualmente feitos.

Outro artista fundamental na Land Art é Walter de Maria, cuja obra


mais conhecida, Campo de Raios. Outro trabalho que merece ser
Pesquise...
lembrado é o de uma dupla de artistas Christo e sua parceira Jeanne-
Campo de Forças.
Claude. Christo, americano de origem búlgara, e Jeanne Claude, Walter de Maria. 1971-
americana de origem francesa, trabalham em parceria desde 1958 1977.
quando se conheceram em Paris. O grande tema desse trabalho
conjunto tem sido o empacotamento de coisas, edificações e mesmo
espaços geográficos de forma a transformá-las temporariamente. A
partir dessas ações o casal ganhou grande projeção no universo da
arte contemporânea.

O artista trabalha com a Land Art (arte da terra) desde a década de 60.
Nessa ação construída numa planície semidesértica do Novo México, nos
Estados Unidos, se utiliza de quatrocentas estacas de sete metros de
altura, colocadas numa matriz geométrica rigorosa.
O objetivo é, em uma zona assolada por tempestades, atrair os raios
compactuando a ação humana com a da natureza e gerando um fenômeno
de grande dramaticidade para o olhar do espectador.
O registro da ação é o resultado concreto do trabalho. Esse registro é
feito através de filmes e fotografias caracterizando, assim, a efemeridade
da arte.

A Land Art é, portanto, uma arte pública. O espaço físico apresenta-


se como campo onde os artistas realizam grandes arquiteturas
ambientais. No Brasil, essas ações, raras, devem-se a iniciativa de
poucos artistas. Walter Zanini (apud Cacilda Teixeira da Costa, 2006,
p. 66) “cita experiências nessa área realizadas em Minas Gerais”. De
uma maneira geral, experimentaram nessa área artistas como Ângelo
Venosa, Artur Barrios e Carlos Fajardo, entre outros. Poucos artistas,
na verdade. Acreditamos que os altos custos operacionais tenham
contribuído para a pouca ação nesta linguagem no país.

Vik Muniz é um dos mais conhecidos dos poucos artistas brasileiros


a trabalhar com essa forma de arte entre outras com as quais se
envolve. Investigando temas relacionados à memória, à percepção,
à representação de imagens do mundo das artes e meios de
comunicação Vik usa elementos do cotidiano em suas investigações

25
em relação à arte que tem a terra como suporte. O trabalho intitulado
Key (chave) da série realizada em 2002 é um exemplo de suas
Pesquise... investigações.
Key. Earth Work. Vik
Muniz. 2002. Para concretizar esse trabalho de Land Art no Brasil o artista trabalhou
em conjunto com uma empresa de mineração produzindo uma série de
obras que só podem ser vistas em uma posição aérea.
São objetos do cotidiano como um par de dados, uma tomada ou a chave
que vemos acima. Representações reconhecíveis até por crianças.
Dessa Forma Vik Muniz aproveita elementos do dia a dia aos quais ele dá
o status de imagem artística. Coisas comuns que perderam a atenção e o
valor e que a arte retoma para seu vocabulário. O artista, que já trabalhou
com materiais inusitados como ketchup, açúcar e calda de chocolate, gel
para cabelo e lixo se apropria de mais um: a terra.

A natureza conceitual e efêmera (bem como as localizações remotas


e a falta de manutenção dos trabalhos dos artistas que adotaram a
Land Art como veículo de expressão) faz com que essa tendência
artística só chegue ao público ao qual se destina através de sua
documentação. Assim, os filmes e fotografias (registros de ações e
intervenções) trazem para o espectador o trabalho realizado pelos
artistas.

Sobre o corpo como suporte artístico:


Performance e Body Art
As formas de expressão artística que usam o corpo como meio não

Atenção são propriamente pós-modernas. A Performance, por exemplo, foi


bastante utilizada pelas vanguardas artísticas do século XX. A ação
7
O termo happening foi
criado no fim dos anos pode ser definida como uma forma de arte que combina elementos
1950 pelo americano do teatro, das artes visuais e da música. Nesse sentido, poderia ser
Allan Kaprow para
designar uma forma associada ao happening7 que também usa os mesmos elementos
de arte que combina além do corpo como veículo de expressão.
artes visuais e um teatro
sui generis, sem texto A diferença, portanto, estaria exatamente no espectador. No público.
nem representação. A
participação do público é
No happening esse espectador participa da ação enquanto que na
vital. Ele se distingue da Performance, de modo geral, não há participação do público
Performance exatamente
aí: ela, a Performance Ela, a Performance, foi importante para muitas escolas e movimentos
não necessita desta
das vanguardas do século XX entre os quais o Futurismo,
participação direta.
Construtivismo, Dadaísmo, Surrealismo e Bauhaus. Múltiplas foram
as formas de Performance utilizadas. O corpo era o material e o meio.
A sensação de liberdade para artistas e espectadores contribuiu para

26
essa difusão bem como para uma maior compreensão da diversidade
do uso de materiais tradicionais nas artes visuais.

A Performance na atualidade nasceu da integração dos happenings


dos anos 60 e a Arte Conceitual da década de 70. O performer
geralmente é um artista visual que, por vezes, toma emprestado do
teatro elementos para sua elaboração. Em síntese: é um trabalho
executado diante de uma audiência embora possa se apropriar de
meios como o vídeo ou a internet para que se processe uma maior
interação.

Entre os muitos artistas que se apropriaram da Performance como


forma de expressão destacamos o trabalho de Joseph Beuys na ação
realizada em Duseldorf, na Galeria Schmela, em 1965, intitulada
Como explicar pintura a uma lebre morta.
Pesquise...
Como explicar pintura a
Beuys foi um dos artistas mais controvertidos nos anos 70 e início dos
uma lebre morta. Joseph
80. Místico, e com uma aura de mistério envolvendo sua queda de avião Beuys. 1965.
durante a guerra e sua salvação por uma tribo tártara, criou uma obra que
despertou atitudes controvertidas que vão desde a admiração ao repúdio.
Suas ações ganham o sentido de verdadeiros rituais, que mostram Beuys
em um estado de concentração e de intensidade cuja força comunicativa é
atestada por todos os presentes. Em seu trabalho a presença de animais
é uma constante.
Nesta ação específica, o artista com o rosto envolto em mel e pó de ouro
entrou na galeria carregando uma lebre morta. Lá dentro, trancado com
o animal por três horas, se pôs a andar pela galeria parando diante de
cada obra na parede para sussurrar algo na orelha do animal morto. Do
lado de fora, o público não conseguia ouvir nada. Só acompanhava os
movimentos da dupla pela vitrine de vidro e pelas janelas da galeria. A
metáfora utilizada tenta passar a ideia de que é mais fácil ensinar arte
a uma lebre morta do que ao público de maneira geral. Através deste
trabalho e de outros Beuys tenta dialogar com a sociedade.

Os questionamentos dessas expressões da arte contemporânea


envolvem sexismo, racismo, homofobia, doenças do nosso tempo,
violência, anonimato, etc. Enfim as mazelas que acometem o mundo
pós-moderno, as sociedades contemporâneas em constantes
mutações. Algumas Performances foram ou são radicais, outras
líricas. O “acionismo” vienense, por exemplo, teve ações bem mais Saiba Mais
sangrentas e ritualísticas por parte de seus membros. Um exemplo é 8
Ritos dionisíacos
o trabalho de Hermann Nitsche. Antigos ritos dionisíacos e cristãos
8 são aqueles rituais
feitos na Grécia (e
foram representados em um contexto revisitado. Orgias rituais tinham posteriormente em Roma)
como propósito provocar uma identificação coletiva através do medo, em homenagem ao deus
Dionísio.
do terror ou da compaixão.

27
Dor, sátira, humor e sensacionalismo são enfatizados pela arte
performática bem como temas autobiográficos e a memória dos
próprios artistas envolvidos. A partir da década de 80, a Performance
tornou-se cada vez mais acessível a um público cada vez mais
internacionalizado.

No Brasil as primeiras experiências com Performance surgiram


com Flávio de Carvalho. Em suas ações ele aborda a relação arte/
público. Nessa linha podemos citar sua Experiência nº 2, realizada
Saiba Mais em 1931, em São Paulo, quando o artista atravessou , de chapéu
9
Leiteria seria na uma procissão de Corpus Christi, caminhando contra a multidão de
contemporaneidade fiéis. Ele queria testar a intolerância da horda (mesmo sendo uma
um estabelecimento
comunidade religiosa) em relação ao diverso. O teste foi positivo, pois
correspondente a uma
lanchonete. Carvalho quase foi linchado em uma leiteria9 onde se escondeu.

Em 1950, ele novamente investiu na Performance (mais aproximada


do happening no caso). Chamou de Experiência nº 3 uma ação dessa
vez voltada para um público menos específico.
Pesquise... Nas ruas de São Paulo o artista lança seu traje de verão masculino
Experiência n. 3. Flávio enfrentando um público diferenciado vestido de saia, meias e camisa de
de Carvalho. 1956. mangas bufantes que, segundo o artista, é o traje mais apropriado para
o clima tropical brasileiro. Seu alvo era o convencionalismo social que
determina padrões de comportamento. Sua atitude de procurar interagir
com o espectador naturalmente teve grande influência sobre as ideias e
ações das gerações posteriores em relação aos trabalhos artísticos que
utilizam como meio o corpo do artista.

Essencialmente anárquica e libertária, a arte do corpo, de caráter


experimental, enfrentou o período do cerceamento de liberdade
do período ditatorial brasileiro nas décadas de 60 e 70. Os direitos
constitucionais foram suspensos e os artistas impedidos de maiores
questionamentos. Isso se aplicava aos de ordem política ou os que
se enquadravam na censura moral de um golpe que foi dado com o
apoio e endosso da classe média brasileira. Portanto, se antes desse
período de ditadura militar a arte se aproximou do experimentalismo
internacional e de uma aproximação com o público (que pode
Pesquise... ser encontrada, por exemplo, nos Parangolés de Helio Oiticica, a
Parangolé P1, Capa 1. partir dessa realidade as artes do corpo no Brasil adaptaram-se às
Hélio Oiticica. 1964. circunstâncias).

Hélio Oiticica é um artista cuja produção se destaca pelo caráter


experimental e inovador. Seus experimentos pressupõem uma ativa
participação do público. No fim da década de 1960, é levado pelo colega
Jackson Ribeiro a colaborar com a Escola de Samba Estação Primeira

28
de Mangueira.
Envolve-se, então, com a comunidade do Morro da Mangueira e, dessa
experiência, nasceram os Parangolés. Trata-se de tendas, estandartes,
bandeiras e capas de vestir que fundem elementos como cor, dança,
poesia e música e pressupõem uma manifestação cultural coletiva

Nos anos 70, no Rio de Janeiro, algumas ações performáticas


ganharam destaque, inclusive por sua temeridade. Foi o caso de
Barrio, de origem portuguesa, que investiu em ações performáticas
naquela década. Ele embrulhava pedaços de ossos e carne de animais
em panos e deixava suas trouxas em locais urbanos movimentados
fazendo alusão aos crimes perpetrados pela ditadura militar.

A década de 80 (da abertura política) implica em uma maior


quantidade de Performances. O meio artístico passa a aceitar e
legitimar a ação performática com mais ênfase e esta passa a ocupar
espaços institucionais. Mas, vai ser na década de 90 que não só as
Performances, mas toda uma gama de expressões artísticas ligadas
a meios de expressão alternativos passaram a acontecer com maior
frequência e apoio.

Diante de novas possibilidades de meios visando a interação autor/


espectador surgem múltiplas propostas e os artistas passam a usar
a própria Internet como veículo para suas ações. É o caso do grupo
intitulado Corpos Informáticos, sob a coordenação de Bia Medeiros,
que trabalha com performances em telepresença como a intitulada
Estar.

Na V Bienal do MERCOSUL, o Grupo propõe a Performance em


telepresença intitulada Estar. Ela acontece em uma sala de estar real
onde o público é convidado a se acomodar. O espaço implica em objetos
comuns a uma sala de estar tais como: cadeiras, sofás, mesa de centro,
abajures, porta-retratos, estante com enfeites e três computadores. Nos
computadores abre-se uma sala de estar virtual onde o público da Bienal
e internautas de todos os contextos do globo podem interagir e estar. A
proposta do grupo é buscar a comunicação entre o real e o virtual criando
uma relação expandida via rede mundial de computadores.

Em maior ou menor grau, a arte da Performance acontece fora


dos centros hegemônicos do país. No Nordeste, por exemplo, as
Performances passaram a compor o cenário artístico regional,
de forma mais enfática, a partir da década de 90. Entretanto, em
Pernambuco desde os anos 70, vemos a presença desse meio de
expressão artística através da dupla constituída pelos artistas Paulo

29
Bruscky e Daniel Santiago. No que diz respeito às performances a
dupla trabalhou junta, por exemplo, em Limpos e Desinfetados (1984)
ou separada como é o caso da ação O que é Arte? Para que serve?
Pesquise... Realizada por Paulo Bruscky pelas ruas do Recife.

“O que é Arte. Para que


Serve?”. Paulo Bruscky. As ações de Bruscky, ativista, que usa muitas vezes a denúncia em
1978. suas obras, foram diretas no que diz respeito ao sistema que embasa a
atividade artística. Essa ação questiona o sistema, o universo das artes,
indagando sobre O que é a arte? Para que serve? Ela foi realizada em
Recife na década de setenta em plena repressão militar.
Nela, o artista se exibe em uma vitrine levando nas mãos um cartaz com
a frase que dá tema à performance. Tratando de um assunto distante
de uma possível interação entre arte/público naquela conjuntura o artista
trabalha entre os limites da incompreensão e do ridículo.

Na cena nordestina atual e principalmente na recifense as


Performances se sucedem em espaços institucionais ou paralelos.
Novos artistas como Barbara Collier e Amanda Mello dividem o
espaço com veteranos como Marcelo Coutinho e Oriana Duarte além
de pioneiros como Daniel Santiago e Bruscky. Coletivos abrigam a
atividade performática como o já desfeito Grupo Camelo ou o atuante
Branco do Olho e os espaços institucionais se aliam na ação de
incentivá-las.

No que diz respeito à Body Art (Arte do Corpo), esse gênero de


expressão artística pode ser visto como um prolongamento da
arte conceitual e também se liga a ideia de Performance, embora
normalmente seja feito de forma privada e só posteriormente
comunicada ao público. A fusão arte/vida está também em seu cerne.

O corpo proporciona condições de exploração de várias questões que


se tornam mais contundentes na pós-modernidade tais como gênero,
violência, identidade, doença e morte. Dessa forma a temática da
body art inclui desde sadomasoquismo, posicionamentos sociais
e comédia. Esse movimento teve como inspiração as pesquisas de

Pesquise... Duchamp que colocavam que tudo poderia ser usado como obra de
arte, Yves Klein e suas Antropometrias e Piero Manzoni, que passou
Esculturas vivas. Piero
Manzoni. 1961. a assinar o corpo das pessoas transformando-as de modelos em
objetos de arte.

Inspirando-se em Duchamp, o italiano Piero Manzoni subverte a ideia


tradicional da arte no sentido da reprodução mimética ou não do corpo e
da assinatura da obra pelo artista. Ele assina pessoas, modelos ou não,
transformando-as assim na própria obra de arte. Ao se apropriar dessa

30
forma do corpo como suporte ele inspira, por sua vez, os artistas que o
seguem nessa pesquisa. Eles vão explorar múltiplos questionamentos
que envolvem arte e vida utilizando o corpo como veículo.

Para alguns artistas do movimento a violência e agressividade são


expressas em ações de automutilação, que atingiam e atingem por
vezes os limites de resistência do corpo. O objetivo: provocar reações
fortes no espectador. Experimentações com o corpo foram e são
feitas, em um nível de extrema violência. O artista Chris Burden, por
exemplo, utilizou o seu corpo de forma dolorosa e podemos afirmar
mesmo quase suicida. Burden entrou em uma galeria da Califórnia e
ficou em frente a uma parede. Logo depois um atirador com um rifle
apareceu e disparou contra o seu braço esquerdo (Figura 2).

Figura 2. Chris Burden. Shoot. 1971. Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=JE5u3ThYyl4

A ação foi filmada e passou a ser considerada como uma das mais
controversas da história da Body Art. O artista baleado por um amigo,
segundo suas próprias palavras para a mídia, queria ser levado a sério
como artista a partir do risco da própria vida. Burden submeteu-se ao
perigo gerando um vínculo com o espectador que envolvia a passividade
do público que poderia ter sustado a ação, mas que restou inerte preso
pela sua própria acomodação em face à violência bem como por conta do
espaço “sacralizado” da arte onde foi desenvolvido o trabalho.

Outras ações destacam-se pelas suas posturas extremadas Marina


Abramovic, por exemplo, artista nascida na antiga Iugoslávia,
também se destaca por esse perfil de violência contra o próprio

31
corpo. Ela realizou, em uma galeria italiana, a ação Rhythm 0, na
qual os espectadores teriam a possibilidade de mutilá-la e matá-
la durante o trabalho. Após varias formas de violência contra seu
corpo passivo tais como arrancar suas roupas e cortá-la, o público
decidiu interromper a apresentação, pois alguém chegara ao ponto
de apontar uma arma carregada contra a sua cabeça. Orlan, artista
francesa é outro referencial. Ela usa a cirurgia plástica como meio
para modificar seu corpo. Em seu trabalho questiona os estereótipos
da beleza revisitando a História da Arte e introduzindo detalhes das
obras dos artistas do passado em seu próprio corpo por meio da
intervenção cirúrgica.

A própria arte da Performance pode ser vista como um desdobramento


da body art: arte caracterizada pela direta referência ao corpo do
artista; às suas roupas e aos objetos pessoais; aos seus fluidos e
fragmentos corporais. Segundo Santaella (2003):

A body art é primariamente pessoal e privada. Seu


conteúdo é autobiográfico e o corpo é usado como
o corpo próprio de uma pessoa particular e não
como uma entidade abstrata ou desempenhando
um papel. O conteúdo dessas obras coincide com
o ser físico do artista que é, ao mesmo tempo,
sujeito e meio da expressão estética. Os artistas,
eles mesmos são objetos de arte. (SANTAELLA,
2003, p. 261).

No Brasil a proposta é a mesma. Os adeptos da body art transformam


seu corpo num campo de experiências estéticas. Eles experimentam
todas as possibilidades oferecidas pelo corpo. Do vasto grupo de
pensadores e artistas que adotaram esse gênero como expressão,
selecionamos alguns representantes para ilustrar nosso texto.

Não podemos falar em arte do corpo no Brasil sem lembrarmos


alguns eventos e precursores. Antonio Manuel, por exemplo, artista
português radicado no país, destaca-se na década de 70 quando
inscreve um trabalho intitulado O corpo é a obra no 19º Salão de Arte
Moderna no museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O trabalho era
composto por dados pessoais tais como as medidas do próprio corpo
do artista apresentadas na ficha de inscrição do evento. O trabalho foi
Pesquise... rejeitado pelo júri e o artista, como forma de protesto, apresentou-se
Antonio Manuel. Museu nu no museu durante a abertura do salão. Com essa atitude, além
de Arte Moderna do Rio de quebrar tabu e desafiar conceitos morais, introduziu o seu corpo
de Janeiro. 1970.
como obra de arte no cenário nacional.

32
Para o artista, foi no momento da inscrição, que ele começou a perceber
o corpo como temática. O título do trabalho era seu próprio nome. As
dimensões escritas do seu corpo na ficha do salão seria a sua obra.
Chegando ao local uma hora antes da inauguração do evento para o
qual seu trabalho havia sido rejeitado. Naquele momento lhe ocorreu ficar
nu como forma de expressão de repulsa. O espanto dos espectadores,
segundo o artista, lhe deu a força necessária.

Nesse viés do corpo como obra pode-se destacar o trabalho


de Ivald Granato, Gabriel Borba, Letícia Parente, Helio Oiticica.
Na contemporaneidade a arte do corpo ganha um espaço
respeitável associada muitas vezes à Performance tanto nos eixos
hegemônicos10 quando nas demais regiões do país.

Entre os múltiplos questionamentos que envolvem a arte do corpo Saiba Mais


na contemporaneidade as questões de gênero, do desejo e da 10
Eixo hegemônico é o
sexualidade tornaram-se marcantes. Partiu-se, por exemplo, para a conjunto de centros (ou
um só centro) constituído
afirmação de um universo cultural feminino em todas as dimensões por países (ou país)
possíveis, o que implicou no nascimento de uma linguagem especifica ou mesmo um estado
dentro de uma região
inovadora em suas propostas e com reflexos na nova sociedade.
que detêm condições
econômicas e políticas de
As dimensões do feminino envolvem “tanto a temática quanto a supremacia em relação
escolha e manipulação de materiais diretamente relacionados ao aos demais centralizando,
universo da manualidade doméstica, como tecidos, bordados, assim, em artes visuais
a produção, validação e
travesseiros, mantas, brocados” (CANTON, Kátia, 2000, p. 89). comercialização de obras
Envolve também o corpo como meio. Ele passa a ser suporte da de arte.
discussão do existir mulher em ações que envolvem a sociedade
e seus meios de comunicação. Através dele, o silêncio histórico da
mulher (como de resto de todos os excluídos) é interrompido.

Como exemplo da arte do corpo, feita no Brasil e parte do circuito


paralelo aos grandes centros hegemônicos, temos o trabalho da
artista Barbara Collier, da novíssima geração de artistas mulheres
que atuam em Pernambuco.

Entre suas várias ações que discutem basicamente a questão do


feminino ela usa o próprio corpo também para questionar a História
da Arte quando questiona o olhar masculino sobre a mulher. Sobre Pesquise...
o corpo feminino. No trabalho Musa faz uma releitura de um dos
Musa. Barbara Collier.
clássicos da pintura o Nu descendo as Escadas de Marcel Duchamp. 2005.

Sempre sendo comparada a modelos de mulheres perfeitas, musas


inspiradoras dos ideais de cada época, a mulher sofre dificuldade em se
afirmar enquanto indivíduo buscando no estereótipo um refúgio aceito

33
pela comunidade a que pertence e, apesar de ter conseguido um novo
lugar na sociedade como provedora da casa ou ocupando altos postos de
chefia, se afirmando, enfim, de forma econômica ou social não ficou livre
de preconceitos e tabus até mesmo no jogo da sedução.
Trabalhar essa imagem idealizada da mulher na História da Arte,
substituindo com seu corpo nu envolto em plástico as situações dos nus
femininos nela registrados, é a maneira de Collier transgredir e questionar
o conceito de musa, de mulher ideal, criado e sistematizado pelo olhar
masculino e por suas representações. Nesta ação a artista recria em
espaço real o Nu descendo as escadas de Marcel Duchamp tendo como
resultado as imagens trabalhadas pela fotografia.

A Performance e as ações de Body Art no Brasil e no mundo se


perpetuam pela contemporaneidade explorando a multiplicidade de
meios de registro e de interação com o público. A utilização do corpo
como material envolve uma ampla variedade de interpretações como
estratégia de diálogo com o espectador, esteja ele presente ou não na
ação.

O corpo do artista passou a ser usado como uma superfície alternativa


e é considerado um condutor de energia e um instrumento didático
para explicar sensações que fazem parte da realização/recepção de
uma obra de arte.

Sobre o uso das novas mídias e meios


de expressão artística no cenário
brasileiro
No guarda-chuva da pós-modernidade se abrigam e coexistem
obras que utilizam meios de expressão considerados “clássicos” pela
História da Arte e aqueles que aparecem após o desenvolvimento
tecnológico das comunicações em seu processo contínuo de
aperfeiçoamento. Dessa forma, a partir dos anos 80 podemos
encontrar a arte conceitual coexistindo com uma pintura de discurso
feminista expressionista ou um vídeo dialogando com o público.

No que diz respeito às preocupações temáticas, durante essas três


últimas décadas, em paralelo à globalização, às questões identitárias,
aos apelos às ciências sociais e, mesmo, às inserções de ordem
política encontramos a questão dos novos meios no universo das artes
visuais como elementos próprios do discurso artístico contemporâneo.

Como uma das novas maneiras de expressão artística a arte da

34
instalação, cronologicamente, iniciou-se na década de 60. Elas
utilizavam o espaço arquitetônico ou não tendo como característica Atenção
maior a interdisciplinaridade no que diz respeito aos meios utilizados. 11
Nouveau Realisme
refere-se essencialmente
Funcionavam como catalisadoras de ideias novas e integravam o
ao uso de objetos
espectador em sua existência efêmera. As instalações tornaram-se existentes para a
populares e desenvolveram-se sob diferentes formas e feitas por construção das obras
de arte reagindo ao
vários artistas. Um dos exemplos clássicos envolve dois artistas no expressionismo abstrato.
cenário da Paris do fim da década de 50: o nosso já conhecido Yves Busca na realidade sua
inspiração. É, por assim
Klein e outro artista francês seu contemporâneo Arman, ambos do dizer, o correspondente
grupo Nouveau Realisme11. europeu (francês) da Arte
Pop americana.
Klein expôs uma galeria vazia (a galeria Iris Clert em Paris) como
proposta a qual deu o nome de O Vazio. Já Arman, dois anos
depois, responde no espaço da mesma galeria atulhando-a de lixo e
denominando a instalação de O Cheio.
Pesquise...
O trabalho gira em torno de um conceito influenciado pela filosofia Zen O Vazio. Yves Klein.
1958.
sobre o vazio que seria em relação a essa tradição um estado similar ao
Nirvana. Um estado de espírito onde as pessoas estariam tecnicamente
livres das influências externas que impediriam uma concentração em
suas próprias sensações e percepções.
O artista opta por um tema que represente a ausência como forma de
representação de um estado mais propício para a reflexão por ele mediada. Pesquise...
Reporta-se assim a um conteúdo metafísico e filosófico trazendo-o para
Le Plein. Arman. 1960.
o contexto das artes visuais. A partir da ideia de um diálogo maior com
o espectador ele tenta trazê-lo para compartilhar sua própria percepção
desse estado ao qual o vazio remeteria.

Companheiro de Klein no Nouveau Realisme, Arman compartilha


também do seu interesse pelo Zen Budismo. O processo de acumulação
da sociedade de consumo que não tem o que fazer com seus detritos é
ironizado por Arman que relaciona essa turbulência provocada pelo lixo
inútil, de forma metafórica, com o vazio do homem que busca conhecer a
sua própria essência.
A instalação aconteceu na mesma galeria em que Klein, companheiro
do grupo francês Nouveau Realisme, provocou o público com a total
ausência de objetos. Arman contrapõe a ideia com o excesso deles.

Se antes, essas propostas artísticas não encontravam espaços


comerciais, a partir da década de 70 as galerias passam a acolhê-
las bem como museus e instituições em geral. Uma instalação,
expressão artística contemporânea, mistura pintura, escultura e
objetos industrializados em ambientes preparados para estimular

35
as percepções sensoriais, que podem ser apropriados no meio,
tanto da natureza quanto de objetos industrializados que, por sua
vez, são resignificados. Uma Instalação também pode se apropriar
da mídia em suas diversas formas: som, TV, vídeo, computador.
Nessa manifestação artística, geralmente, o artista tem como objetivo
provocar o espectador a se aventurar e a participar.

Elas podem também ser concebidas para um lugar específico


quando recebem então o nome de site-specific, ou idealizadas para
locais diferentes. Entretanto, uma mesma instalação, por mais que
seja itinerante em suas exibições, nunca vai ser a mesma, pois o
espaço que a acolhe se transforma. Ou seja: tem outras dimensões,
características e público envolvido.

Esses ambientes ou instalações, essas formas híbridas que podem


abranger múltiplos meios estabelecendo, porém, uma relação entre
eles tratam da arte enquanto ela se funde com a vida.

No Brasil, os antigos “ambientes”, as primeiras instalações,


acontecem em pleno Neoconcretismo, nos anos 60. Ferreira Gullar, o
teórico do movimento, afirma que o seu Poema enterrado (1959-60)
foi a primeira obra do gênero no país.

Outros artistas podem ser citados no contexto brasileiro como, por


exemplo, Wesley Duke Lee (um dos pioneiros), Hélio Oiticica, Lygia
Clark, Nelson Leirner, Cildo Meireles, entre outros.

Um exemplo interessante de uma das primeiras instalações (ou


Pesquise... ambientes) realizadas no Brasil é o Helicóptero de Wesley Duke Lee.

O Helicóptero. Wesley
Duke Lee. Instalação. A instalação inclui um circuito fechado de vídeo que proporciona uma
1967- 69. intervenção/interação do espectador que pode participar, dessa forma, do
trabalho. Ela reúne também desenho, pintura, escultura, ambiente.
Podemos dizer que essa transformação de uma linguagem em outra
espelha a ideia mesma do lugar que o artista destina à imaginação. A
metáfora se torna coerente a partir da análise de como o artista coloca
cada coisa, cada estímulo para que o espectador/ator ultrapasse sempre
uma nova fronteira.

Pesquise... Outro exemplo que podemos trazer é o Desvio para o Vermelho  de


Desvio para o Vermelho Cildo Meirelles, espaço criado e calculado pelo artista funciona como
I: 1967. Cildo Meireles. uma imitação da realidade.

No seu trabalho, economia e política representam um complexo de


vetores que agem em conjunto representando, no final das contas,

36
a sociedade na qual ele vive e trabalha. Sua investigação sempre
esteve associada a imagens de forte conotação simbólica construída
através de poderosas metáforas que buscam uma maior consciência
identitária.

A instalação funciona como um simulacro da realidade concebido para


tentar fazer com que o espectador evite as certezas do mundo real, da
normalidade. O artista traz um espaço monocromático onde o vermelho
satura as sensações do espectador trazendo uma grande excitação
sensorial.
O espaço apesar de se inspirar na realidade de uma casa não representa
um quarto, ou um escritório, um cômodo qualquer. Ele apresenta alguns
móveis e objetos variados. Sem uma lógica esperada ou própria. Um
espaço que por vezes é familiar, mas que em seu conjunto provoca
estranhamento. A questão política não passa distante. O espaço lembra a
repressão da década de 70 onde a cor vermelha era sinônima de protesto
e de libertação.

No resto do Brasil e particularizando a região Nordeste as linguagens


contemporâneas nas artes visuais tiveram seu início principalmente
a partir da década de 90. As instalações também seguiram esse
padrão. Recife catalisou uma produção marcante no que diz respeito
à arte contemporânea.

Lourival Cuquinha, nascido em Olinda e atuante na capital de


Pernambuco, é um artista que trabalha com várias mídias e linguagens.
Seu trabalho reflete sempre pensamentos sobre a liberdade individual
em relação à coerção social. Em 2003 apresentou a instalação Varal Pesquise...
no SPA das Artes em Recife, que depois seguiu para diversos pontos
Varal. Lourival Cuquinha.
no Brasil e fora dele. 2003-2006.

O Varal é uma intervenção urbana que modifica a paisagem da cidade com


o intuito de chamar a atenção para uma atividade da vida diária típica de
alguns de seus moradores. A reutilização dessa atitude dimensionando-a
de forma gigantesca num lugar inusitado é o partido tomado pela obra
que é itinerante. O cotidiano, principalmente o das comunidades menos
favorecidas, invadem o espaço da urbe. Como intervenção de caráter
itinerante ela busca outros espaços urbanos e a eles se adapta.
Ela já foi apresentada em: Recife, PE (SPA das artes/2003), Olinda, PE
(premiada no Arte em toda Parte/2003-04), Rio de Janeiro, RJ (Paço
Imperial/2004), Porquerolles no sul da França (projeto Pernambuco! Art
contemporain/culture populaire, ano do Brasil na França/2005, Parque
do Ibirapuera, SP (Rumos/Itaú Cultural – 2006), Vitória do Espírito
Santo (premiado no Salão do Mar – 2006), Av. Paulista, SP totalmente
clandestino (6 de junho de 2006), Babilônia, RJ (projeto redes da Funarte
a da Associação de Moradores da Babilônia) Weimar, Alemanha (na

37
exposição coletiva “Die Kunst erlöst uns von gar nichts, Künstlerpositionen
aus Südamerika.

Em fins de 1950, outra forma de fazer arte vai ser introduzida


inicialmente por Wolf Vostel e Nam June Paik e depois por vários
criadores até os dias que correm. Trata-se de pesquisas com
tecnologia televisiva que, na época, despontavam como mais um
recurso a ser utilizado no universo das artes visuais: o vídeo como
arte ou o videoarte.

Essas pesquisas pioneiras foram apresentadas no conjunto de


atividades do Grupo Fluxus. Nesse momento, o artista Nan June Paik
colocou que assim como a colagem substituiu a pintura o raio catódico
substituirá a tela. Na década de 70 as experiências adquiriram
caráter de movimento e inúmeros artistas passaram a trabalhar com
videoarte.

O seu desenvolvimento foi influenciado por várias correntes


intelectuais e os primeiros videoartistas. Alem de Paik e Vostel
destacaram-se também nas pesquisas com essa tecnologia Dan
Grahan, Bill Viola, Antoni Mutandas, entre outros.

Ao buscarem novos instrumentos relacionados com a informação os


artistas envolvidos buscaram questionar a própria mídia discutindo
questões de gênero, sexualidade ou raça. Posteriormente, a
libertação do vídeo da televisão permitiu as criações de Viola e as
Pesquise... de Tony Oursler, que procurou insuflar vida em objetos inanimados
que interagiam com o espectador, como o olho que mostramos em
Dispositfs, Tony Oursler.
2006. seguida.

Partes falantes de animais ou pessoas ou dispositivos que interagiam


com o espectador é o centro do trabalho do artista que navega entre o
cômico e o aterrorizante.
A proposta de Oursler foi denunciar a falta de comunicação na sociedade
contemporânea onde somos impulsionados a dialogar com objetos
inanimados. O artista projeta sobre eles (os objetos) a nossa, irremediável,
solidão pós-moderna. A tecnologia é usada assim como crítica ao seu
próprio excesso.

Assim como é difícil definir uma data específica para o início da


história do vídeo no mundo, no Brasil também o é. Há indícios de que
na década de 1960 alguns artistas inseriram o aparelho de televisão
em suas instalações, como Wesley Duke Lee e Artur Barrio. Contudo,
com certeza histórica, sabe-se que o mais antigo vídeo produzido

38
no país foi o M 3x3, uma coreografia da bailarina Analívia Cordeiro,
gravada pela TV Cultura de São Paulo em 1973.

No Brasil, as primeiras experiências com videoarte datam do início da


década de 70, mas as pesquisas só se tornam mais palpáveis a partir
de 1974. Essas pesquisas foram iniciadas por artistas como Anna
Bella Geiger e Analívia Cordeiro, entre outros. Outros artistas também Pesquise...
se destacam na cena nacional tais como Antonio Dias e José Roberto Mapas Elementares.
Aguillar. Os trabalhos dessa primeira geração eram, em sua maioria, Anna Bella Geiger. 1976.
o registro de Performances; uma forma de estabelecer o confronto
entre o corpo do artista e a câmera.

Trata-se de um registro em sequência tomado da artista desenhando um


mapa do mundo. Na ação o território brasileiro é destacado tendo a sua
extensão preenchida pelo traço de uma caneta preta.
As imagens dialogam com uma música de Chico Buarque que relata a
situação crítica, política, da década de 70 quando o país vivia momentos
de ditadura e repressão militar. É um momento de início do uso do vídeo
como meio nas artes visuais brasileiras.

Desde os primórdios da utilização do vídeo por artistas plásticos na


década de 1970, a linguagem videográfica – praticada em trabalhos
que iam, na maioria das vezes, na contramão da linguagem televisiva
– interferiu, renovou e questionou os dispositivos audiovisuais
vigentes.

Posteriormente, outros artistas se apropriaram dessa nova mídia no


território brasileiro. Podemos lembrar aqui os nomes de Walter Silveira
e Tadeu Jungle. Eram artistas da geração 80 e com eles chegaram ao
contexto artístico do país toda uma leva de produtores independentes
que tentavam investigar novas formas de fazer televisão. Formas
mais livre de imposições comerciais.

A partir da década de 1980, com a disponibilidade tecnológica, gerou-


se a oportunidade de explorar os recursos da imagem videográfica. A
segunda fase representou, portanto, geração do vídeo independente.
Os jovens dessa fase, recém-saídos da universidade, cresceram com
a televisão comercial, e viram, nela, a possibilidade de experimentação
de linguagens e de dispositivos da imagem eletrônica que não eram
explorados em razão da rentabilidade.

Para estes produtores a imagem eletrônica deveria ser mais


explorada e inserida na cultura de seu tempo além de ter uma maior
profissionalização que não era encontrada nos primeiros tempos da

39
produção de videoarte no Brasil. Uma produção feita basicamente por
artistas plásticos e considerada elitista.

Já a terceira fase da videoarte brasileira despontou na década de


1990 com um trabalho mais pessoal e menos militante ou engajado.
Pesquise... Rafael França, Sandra Kogut, Lucila Meirelles e Lucas Bambozzi são
artistas que sintetizaram as duas gerações anteriores e apresentaram
Polígonos regulares.
Rafael França. 1981 obras mais maduras.

Nos seus trabalhos a narrativa foi colocada sob novas perspectivas, com
sequências fragmentadas e imagens desfocadas. A obra era composta
por 18 televisores, divididos em quatro grupos, sendo que cada grupo
constituía um polígono
Os televisores receberam, por circuito fechado, a imagem de um elemento
geométrico que ocupava quase a totalidade da tela de cada um deles.
Como uma escultura. Os aparelhos reproduziam uma figura geométrica.
Transportando para a tela de TV os questionamentos formais abstratos
geométricos das vanguardas artísticas da modernidade.

As novas mídias apresentam em nosso tempo estratégias de


formação pautadas entre o real e o virtual mediante a reformulação
de conceitos e narrativas. A tecnologia se renova rapidamente, e com
isto, o campo de atuação para o artista se expande. São múltiplas as
origens dos artistas que as utilizam.

A Web Art, uma destas outras possibilidades, por exemplo, lançada na


década de 80, deu espaço a uma comunicação cada vez mais rápida
entre pessoas de locais distantes no planeta Terra. O seu enorme
crescimento trouxe, portanto, um número cada vez maior de usuários.

Essa condição apontou e facilitou seu uso como um instrumento de


expressão artística cada vez mais utilizado a partir da ampliação
progressiva de sua interatividade. Dessa forma, a utilização da
imagem, do som, do texto e do movimento pode ser acompanhada
pelo espectador, que muitas vezes torna-se ator, participando das
ações na internet.

Para os artistas, essa nova maneira de distribuição de seu produto


traz possibilidades ilimitadas para novas interações oferecendo uma
gama ainda inexplorada de recursos democratizantes em sua forma
de expressão.

A temática na Web é cada vez mais diversificada. Assim, podemos ter


como exemplo desde a montagem da russa Olia Lialina que detalhava
uma história, pessoal e política, que abordava um amor infeliz e as

40
circunstâncias que assim o tornaram. A ação foi denominada de Meu
namorado voltou da guerra e aconteceu em 1996. Também podemos
considerar, entre tantos outros Webartistas, os múltiplos temas
interativos de Peter Stanick, que criou pinturas digitais que lembram Pesquise...
a Pop Art americana e cujas cenas se passam em Nova York. Seus Pro Deo et Patria. Peter
trabalhos podem ser encontrados no link http://www.stanick.com/ Stanick. Web site.
showeb/tc3.html

As imagens deste trabalho, associadas à música, são de forte apelo visual


e ironizam a atemporalidade de Deus simbolizada pelo girar continuo do
globo e nossos hábitos humanos que a partir dessa perspectiva tornam-
se vãos, banais. O que somos, para que viemos? São questões que
pulam na frente de nossos olhos.
Como nas várias abordagens da pós-modernidade o trabalho faz
referência a outros desenvolvidos em mídias diversas feitas por artistas
do movimento Pop dos Estados Unidos, tais como Roy Lichteisntein e
Andy Warhol. Em outros trabalhos imagens do Homem-Aranha comem
ovos com bacon ao lado de óculos escuros misturando realidade e ficção.
Em síntese: nossa vida e nossos mitos.

O espectador também se encontra em processo de preparação


cada vez maior para essa forma de expressão artística. Isso nos
leva a uma reflexão sobre o como se processará sua fusão com a
televisão, o vídeo em um universo artístico que tende cada vez mais
no investimento em novas formas de comunicação. Também resta a
dúvida sobre o como se comportará a arte dentro desse contexto de
expansão midiática.

O artista contemporâneo tenta se colocar buscando, muitas vezes,


este espaço aberto, amplo e transparente para configurar projetos
artísticos que lidam, cada vez mais, com a associação: espaço, tempo
e tecnologia. Este espaço apresenta múltiplas opções, possibilitando
projetos muito distintos na aplicação de diversos recursos. Artistas
que lidam com a tecnologia se baseiam num estado dinâmico para
construírem suas propostas.

O expectador, por sua vez, pode se deparar com surpresas e


descobertas e confrontar-se com inúmeras subjetividades propostas
pelo artista uma vez que as novas mídias necessitam, para sua leitura,
uma plataforma de troca mais intensa com a audiência. Neste sentido,
os desafios de sua apresentação incluem também o engajamento
com o público. A arte das novas mídias é, portanto, potencialmente
participativa e interativa.

As novas mídias pedem um avanço “real” em direção ao expectador.

41
Não dependem apenas do ciberespaço ou catálogos digitais,
requerem presença no meio da arte.

Sobre alguns artistas citados no


capítulo
●● Marcel Duchamp: O polivalente Duchamp nasceu na França em
1887 e faleceu naquele país em 1968. Foi escultor, pintor, performer,
cubista, dadaísta, enfim: um transgressor e um transformador.
Na juventude foi simbolista sofrendo influência de Odilon Redon.
Passou pelo fauvismo e pelo cubismo, mas também pela Academie
Julian. A partir de 1911 ligou-se a um grupo denominado de
Puteaux juntamente com Picabia, Robert Delaunay e Juan Griz.
O grupo tinha influências cubistas. Foi o criador do ready-made
que subverteu mais ainda a arte no modernismo. Um iconoclasta.
Ligado aos movimentos cubista, dadaísta e surrealista, também se
interessou pelo Pop Art e o conceitual. Sua maneira de viver e sua
obra influenciaram gerações.

●● Robert Rauschenberg: O artista, inscrito no universo do pop


americano, nasceu no Texas, em 1925, e faleceu na Flórida, em
2008. Estudou no Kansas City Art Institute e na Academie Julien
(em Paris). Foi na década de 50 que ele deu início a série Combine
Paintings utilizando garrafas de Coca-Cola, animais empalhados
e produtos industrializados que passaram a fazer parte de sua
pintura. Ele une essa pintura à comunicação. Acreditava que a
pintura se relacionava com a vida e com a arte, buscando agir
entre estes dois polos.

●● Yves Klein: O artista nasceu na França, em 1928, e lá faleceu


em 1962. Começou a pintar em 1947 e em 1950 foi para Londres
trabalhar no atelier de Robert Savage. No ano de 1955, Klein teve
uma de suas obras recusada pelo Salon des Réalités Nouvelles.
Nesse mesmo ano, travou conhecimento com vários artistas do
grupo intitulado Novo Realismo. Em 1957 iniciou os trabalhos
no azul que batizou de International Klein Blue (IKB). Em 1957,
realizou a exposição Le Vide, na Galerie Iris Clert de Paris.
Realizou várias performances entre elas as Antropometrias e o
famoso Salto no Vazio.

●● Piero Manzoni: O artista nasceu em Soncino, Itália , em 1933, e


faleceu em Milão, também naquele país, em 1963. Foi um criador
célebre por suas obras de caráter conceitual onde utilizou os mais

42
diversos materiais além de subverter os meios para a realização
de suas obras. Seu trabalho mais comentado é o célebre merde
d ‘artiste, ação natravés da qual enlatou seus excrementos e os
vendeu a peso de ouro.

●● Joseph Kosuth: O artista nasceu em 1945, na cidade de Toledo


(Ohio), Estados Unidos. Estudou na Escola de Artes Visuais de New
York. É considerado um dos mais importantes artistas conceituais
do pós-guerra. Seu trabalho foi em grande parte influenciado pelos
questionamentos de artistas ligados ao Grupo Fluxus, que usavam
a linguagem para investigar a função e a natureza da arte.

●● John Baldessari: O artista nasceu em 1931 nos Estados Unidos. É


um artista conceitual que iniciou sua trajetória artística como pintor.
Ele criou obras que combinam imagem e narrativa influenciando as
novas gerações de artistas conceituais.

●● Robert Barry: O artista Robert Barry nasceu em 1936, no Bronx,


em Nova Iorque. Estudou no Hunter College de Nova Iorque.
Realizou a sua primeira exposição individual em 1964, Interessou-
se em refletir sobre a dimensão espacial das obras com tendências
ao minimalismo. Relacionou a arte com a ideia e a descrição
através das palavras que escreve nas paredes ou difunde de forma
sonora. Sua obra aproxima-se do grupo Arte & Linguagem.

●● Dan Grahan: Nascido em 31 de março de 1942, é um artista


conceitual influente no campo da arte contemporânea tanto como
artista como enquanto teórico. Sua carreira artística começou em
1964 quando se mudou para New York e abriu a John Daniels
Galeria. Trabalha com performance, fotografia, modelos de
arquitetura e estrutura de vidro e espelho.

●● Joseph Beuys nasceu na Alemanha em 1921 e faleceu em 1986.


Foi um dos artistas mais controvertidos nos anos 70 e início de
80. Conhecido como um performático místico. Suas ações eram
verdadeiros rituais. Para Beuys, as mudanças na estrutura social
e política do mundo aconteceriam somente a partir da arte. Em
1962, o artista aderiu ao movimento Fluxus que procurava explorar
o efêmero, o transitório, e ainda manifestar a energia vital coletiva.
Costuma-se dizer que a predominância de feltro e gordura na
obra de Beuys é devida a um incidente ocorrido na guerra. Beuys
foi alvejado e seu avião caiu durante uma missão na Criméia e
ele acabou sendo resgatado por tártaros, que teriam utilizado a
gordura como um dos elementos para a sua cura.

43
●● Hans Haacke nasceu em 12 de agosto de 1936 na Alemanha.
Vive e trabalha em Nova York. Durante seus anos de formação,
era um membro do Zero (um grupo internacional de artistas). O
artista sofreu influência desse grupo que utilizava materiais não
tradicionais em relação ao universo das artes visuais tais como:
materiais industriais, fogo e água, luz e efeitos cinéticos. Ele
os incorporou ao seu trabalho juntamente com os retirados da
biologia. Fez incursões na Land Art.

●● Gerard Richter nasceu em Dresden, em 1932, numa família de


classe média. Como muitos alemães de sua geração, acabou tendo
uma relação com o nazismo cuja ideologia o assombrou causando
aversão a qualquer processo ideológico. Estudou na Academia de
Arte de Dresden na Alemanha Oriental comunista. Anos mais tarde
e, poucos meses antes da construção do Muro de Berlim, ele e
sua esposa fugiram. Durante o início dos anos sessenta Richter
conheceu e começou a trabalhar com artistas como Sigmar Polke,
Konrad Fischer-Lueg e Georg Baselitz. Começou então a conceber
arte dissociada de seu processo histórico. Em 1972, Richter foi
escolhido para representar a Alemanha na Bienal de Veneza.

●● On kawara: O artista nasceu no Japão em 1933. Vive em nova


York desde 1965. Artista conceitual, desde 1966, iniciou a série
Hoje que implica no registro cotidiano do dia vivido em suportes de
tamanho padrão e fundo monocromático. Cada ano, entre 63 e 241
pinturas são feitas e registradas.

●● Daniel Buren nasceu na França em 1938. Artista conceitual,


é conhecido pelo uso regular de listras integrando espaços
arquitetônicos. Graduado pela Ecole Nationale Superieure des
Metiers, em 1960, foi nesse período que ele começou a pintar.
Abandonou a pintura tradicional e a substituiu pela ação de pintar
listras verticais alternando entre o branco e uma cor escura em
interferências urbanas características de sua poética.

●● Grupo Art & Language: Art & Language é um grupo de


artistas que foi fundado, em 1968, por Terry Atkinson, David
Bainbirdge, Michael Baldwyn e Harrold Hurrel. Realizou
trabalhos conceituais que estabelecem jogos com as palavras.
A partir de 1969, passou a publicar uma revista com o
nome do próprio grupo para divulgação dos seus trabalhos.
Com a participação de Joseph Kosuth o grupo dividiu-se em duas
partes: uma britânica e outra americana. Durante os primeiros
anos da década de oitenta, o grupo se revitalizou com a presença

44
de Michael Baldwyn e Mel Ramsden.

●● Cildo Meirelles (Cildo Campos Meirelles) nasceu no Rio de


Janeiro, em 1948. Artista multimídia, iniciou seus estudos em arte
em 1963, na Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília. Em
1967, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola
Nacional de Belas Artes. Sua obra conceitual é embasada em um
pensamento político. Desenvolveu séries de trabalhos inspirados
em fatos brasileiros, em papel moeda, como Zero Cruzeiro e Zero
Centavo e em questões acerca de unidades de medida do espaço
ou do tempo.

●● Julio Plaza (Julio Plaza González) nasceu em Madri, Espanha, em


1938, e faleceu em São Paulo, em 2003. Foi um artista intermídia,
escritor, gravador e professor. Iniciou sua formação artística na
década de 1950, com estudos livres em Madri. Posteriormente
frequentou a École de Beaux-Arts em Paris. Veio ao Brasil em 1967
e permaneceu no Rio de janeiro onde frequentou a Escola Superior
de Desenho Industrial. Mudou-se para São Paulo, onde se tornou
professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo - ECA/USP e da Fundação Armando Álvares Penteado -
Faap. Além de artista, foi autor de publicações teóricas sobre arte.

●● Anna Maria Maiolino: A artista italiana nasceu em Scalea em 1942.


Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Mudou-se, em 1954, devido à
escassez provocada pelo pós-guerra, para Caracas, Venezuela,
onde estudou na Escuela de Artes Plásticas Cristóbal Rojas entre
1958 e 1960, ano em que se transferiu para o Brasil. Em 1967,
participou da “Nova Objetividade Brasileira”. A partir da década de
1970, iniciou trabalhos com diversas mídias, como a instalação, a
fotografia e filmes. Na década de 1980, começou a trabalhar com a
argila por influência do artista argentino Victor Grippo.

●● Artur Alípio Barrio de Sousa Lopes nasceu em Porto, Portugal,


em 1945. Artista multimídia e desenhista. Em 1955, passou a viver
no Rio de Janeiro. Começou a se dedicar à pintura em 1965 e, a
partir de 1967, frequentou a ENBA. Em 1969, começa a criar as
Situações: trabalhos de grande impacto, realizados com materiais
orgânicos como lixo, papel higiênico, detritos humanos e carne
putrefata com os quais realiza intervenções no espaço urbano.
Criou também instalações e esculturas, nas quais empregava
objetos cotidianos. Realizava constantes viagens, e residiu na
África e na Europa: Portugal, França e Holanda.

●● Antonio Dias: Ver no capítulo 14.

45
●● Grupo 3NOS3: No final da década de 1970, especialmente em
São Paulo, surge uma geração de jovens artistas interessados em
realizar ações e obras que ocupem diferentes espaços da cidade,
tais como muros, paredes, estátuas, monumentos, túneis, avenidas,
prédios e ruas. Esses artistas atuavam no grafite, na pichação
poética e em outras formas de intervenção e comunicação urbana
então emergentes. Entre os grupos ativos nessa época estava o
3NOS3. O grupo foi formado em abril de 1979. Era constituído
por Hudinilson Jr e Mario Ramiro, paulistas e de Rafael França,
gaucho. Atuou até 1982.

●● Antonio Manuel: O artista nasceu em Portugal em 1947. É


escultor, pintor, gravador e desenhista. Chegou ao Brasil em 1953
e fixou residência no Rio de Janeiro. Destacou-se em propor, em
1970 ,o próprio corpo como obra.

●● Anna Bella Geiger: A artista nasceu no Rio de Janeiro em 1933.


Escultora, pintora, gravadora, desenhista, artista intermídia e
professora. Em 1954, viveu em Nova York, onde frequentou
as aulas de história da arte no The Metropolitan Museum of Art.
Entre 1960 e 1965, participou do ateliê de gravura em metal do
MAM/RJ. Em 1969, novamente em Nova York, ministrou aulas na
Columbia University. Voltou ao Rio de Janeiro em 1970. Publicou
com Fernando Cocchiarale o livro Abstracionismo Geométrico e
Informal: a vanguarda brasileira nos anos cinquenta, em 1987. Nos
anos 1970, sua produção tem caráter experimental: fotomontagem,
fotogravura, Xerox, vídeo e Super-8. A partir da década de 1990,
empregou novos materiais e produziu formas cartográficas vazadas
em metal, dentro de caixas de ferro ou gavetas, preenchidas por
encáustica. Suas obras situaram-se no limite entre pintura, objeto
e gravura.

●● Raul Córdula: O artista nasceu em Campina Grande, Paraíba,


em 1943. O pintor abordou alguns estilos como o Pop Art no inicio
de sua carreira, mas opta em seus cinquenta anos de atividade
artística por uma construção geométrica de caráter simbolista.

●● Paulo Bruscky: O artista nasceu em Recife, em 1949, onde vive


e trabalha. Bruscky trabalha com diversas mídias, que incluem
desenhos, performances, happenings, copy art e fax-art, arte
postal, intervenções urbanas, fotografia, filmes, poesia visual,
experimentações sonoras e intervenções em jornais, entre outras
experiências. Apresentou sua primeira exposição em 1970 e, a
partir dessa data, começou a trabalhar em colaboração com Daniel

46
Santiago pelas próximas duas décadas. Seu trabalho desenvolveu-
se, em grande parte, no espaço público, onde propôs diversas
ações, a maioria das quais com participação do público.

●● Daniel Santiago nasceu em Garanhuns, Pernambuco, em 1939.


Serviu a aeronáutica em Salvador por oito anos e atuou em
São Paulo como professor de desenho. Em 1969, retornou para
Pernambuco e em 1973 ingressou na Escola de Belas Artes da
UFPE. Lá conheceu Paulo Bruscky com quem manteve uma
parceria por 20 anos. Artista multimídia também é professor de
desenho, jornalista e funcionário da Fundação Cultural de Recife.

●● Ângelo Augusto Venosa: O artista nasceu em São Paulo em


1954. Escultor. Transfere-se para o Rio de Janeiro, em 1974, onde
estuda na ESDI e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em
1984,  passou a realizar obras tridimensionais. As esculturas do
início dos anos 1980 associam indistintamente materiais naturais e
produtos industrializados. A partir do início dos anos 1990, o artista
passou a utilizar materiais como mármore, cera, chumbo e dentes
de animais, realizando obras que lembram estruturas anatômicas,
como vértebras e ossos.

●● Robert Morris: O artista nasceu no Missouri (EUA), em 1931.


Estudou na Universidade do Kansas. Iniciou seus contatos com
as artes visuais como pintor. Mudou-se para Nova York em 1960.
Envolveu-se com o Minimalismo e, posteriormente, com trabalhos
de Land Art.

●● Carl André: O artista nasceu em Massachusetts (EUA), em


1935. Sua atividade como escultor embasou seu trabalho que,
inicialmente, explorava a proposta minimalista, mas fez incursões
na Land Art.

●● Walter de Maria: O artista norte-americano nasceu em 1935,


em Albany, EUA. Estudou arte na Universidade da Califórnia, em
Berkeley, entre os anos 1953 e 1959. A partir deste ano, realizou os
seus primeiros trabalhos e tomou parte em happenings. Em 1960
instalou-se em Nova Iorque, realizando a sua primeira exposição
individual três anos depois. É um dos pioneiros do movimento da
Land Art.

●● Richard Serra: Serra nasceu em 1939 em São Francisco nos


EUA. Foi para Nova York, em 1966, depois de estudar com o pintor
Albers e viajar durante um período de cerca de dois anos pela
Europa. Envolveu-se com o Minimalismo e posteriormente com a

47
Land Art. Além disso, trabalhou com imensas esculturas urbanas.

●● Robert Smithson: O artista nasceu em Nova Jérsei (EUA, em


1938) e faleceu no Texas, em 1973. Talvez tenha sido o artista
mais ativo do movimento designado como Land Art. Apesar de sua
morte trágica em um acidente aéreo, aos 35 anos, foi tão marcante
em sua ação que é considerado hoje como o responsável por retirar
a arte das galerias e levá-la para a natureza. Trabalhou formas
esculturais, muitas vezes em escala monumental, que tinham
como objetivo serem vivenciadas fisicamente. O artista começou
sua carreira como pintor, mas na segunda metade da década de
60 partiu para instalar trabalhos em espaços abertos.

●● Hamish Fulton: O artista nasceu em Londres (Inglaterra) em 1946.


Trabalhou com a Land Art no sentido de desenvolver caminhadas
como ação artística. Nos últimos tempos vem utilizando as paredes
dos espaços expositivos como suporte para sua pintura.

●● Andy Goldsworthy: nasceu em julho de 1956 na Inglaterra.


Estudou artes na Bradford College of Art (1974–1975) e na Preston
Polytechnic (1975–1978). Escultor, fotógrafo e ambientalista
produziu trabalhos de Land Art em ambientes naturais, mas
interferiu também em espaços urbanos. Utiliza em seus trabalhos
materiais como folhas, lama, pedras ou neve.

●● Richard Long: Long nasceu na Inglaterra, em Bristol, em 1945.


Seu trabalho compreende passeios na natureza registrados em
textos e fotografias. Fez referência a sítios arqueológicos, ao
tempo e à solidão. É responsável por transformar suas caminhadas
em uma forma de expressão artística. Formado pela St. Martin ´s
School of Art and Design de Londres, recebeu o Turner Prize em
1989.

●● Christo e Jeanne-Claude: Christo Yavashev nasceu em 1935


na Bulgária e Jeanne-Claude Denat de Gilebon em Casablanca,
Marrocos, em 1935 (e faleceu em Nova York em 2009). Yavashev
estudou na Academia de Belas Artes de Sofia e depois fugiu para a
Áustria. Em 1958 mudou-se para Paris. Conheceu Jeanne-Claude
e o fato derivou em uma parceria muito bem sucedida. Começaram
a experimentar a modalidade artística que os destacou: o
empaquetage, (empacotamento), em 1958, Eles mudaram-se para
Nova York, em 1964, onde passaram a conceber projetos colossais
de empacotamento. De modo geral esses projetos levam muito
tempo para serem concretizados exigindo negociações para sua
execução.

48
●● Vik Muniz nasceu em 1961 em São Paulo. É um misto de pintor,
fotografo e, podemos dizer uma espécie de alquimista. Utiliza em
seu trabalho materiais não ortodoxos como poeira, açúcar, lixo,
fumaça ou chocolate, entre outros. Mudou-se para Nova York em
1983 onde se interessou por reconstruir imagens preexistentes na
mídia ou na História da Arte. O produto acabado é uma fotografia
que reproduz a obra de uma forma nova. Interessou-se também
pela Land Art usando a terra como material e suporte para
reproduzir objetos cotidianos que podem ser observados somente
do ar.

●● Hermann Nitsch: Nascido em 29 de agosto de 1938 em Viena,


Áustria, é um artista que trabalha em modos experimentais e
multimídia. Usa a performance ritual combinando animais abatidos
em rituais com muito sangue. Encena crucificações questionando
a religião e a noção de sacrifício

●● Flávio de Carvalho: O artista nasceu em Barra Mansa, São Paulo,


em 1899, e faleceu em Valinhos em 1973. Multidisciplinar em suas
atividades e irreverente em suas ações atuou como arquiteto,
engenheiro, cenógrafo, teatrólogo, pintor, desenhista, escritor,
filósofo e perfomer entre outros campos do saber. O paulista
estudo na Inglaterra e fez parte da segunda geração de artistas
modernos brasileiros.

●● Helio Oiticican nasceu no Rio de Janeiro, em 1937, e faleceu


naquela cidade em 1980. Foi um artista performático, pintor e
escultor. Participou do Grupo Frente e em 1959 passou a integrar
o Grupo Neoconcreto. Realizou um protesto por seus amigos,
integrantes da escola de samba Mangueira, após terem sido
impedidos de entrar na mostra Opinião 65. Esse protesto assumiu
a forma de uma manifestação coletiva em frente ao museu, na qual
os Parangolés foram vestidos pelos amigos sambistas. Trabalhou
em campos multidisciplinares e em vários locais como Nova York,
onde foi bolsista da Fundação Guggenheim. Após seu falecimento,
foi criado, em 1981, no Rio de Janeiro o Projeto Hélio Oiticica,
destinado a preservar analisar e divulgar sua obra. Em 1996, a
Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro fundou o Centro
de Artes Hélio Oiticica  para abrigar todo o acervo do artista e
colocá-lo à disposição do público.

●● Bia Medeiros: A artista nasceu em 1955 no Rio de Janeiro. É


graduada em educação artística pela PUC. Possui mestrado em
estética e doutorado em artes pela Sorbonne, Paris. Atualmente, é

49
professora do Instituto de Artes da UNB. É também coordenadora
do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos, que trabalha com
vídeo, espetáculos e performances.

●● Barbara Collier: É uma jovem artista pernambucana. Frequentou


o curso de Educação Artística na Universidade Federal de
Pernambuco e trabalha essencialmente com o corpo em
performances que falam da mulher: casamento, ritos de beleza,
aborto entre outros temas. Fez parte do coletivo de artistas Branco
do Olho ativo, em Recife, desde 2004.

●● Letícia Tarquínio de Souza Parente: A artista nasceu em Salvador,


Bahia, em 1930 e faleceu no Rio de janeiro em 1991. Videoartista.
Estudou arte com Pedro Dominguez e Hilo Krugli. Nos anos 1970,
participou das mais importantes mostras de videoarte brasileiras,
tanto no Brasil como no exterior.

●● Amanda Mello: A artista pernambucana também se dedica à


performance entre outras mídias. Graduada em Educação Artística
pela Universidade Federal de Pernambuco, em 2006, mostrou seu
trabalho em circuito nacional, se aventurou pelo mundo e ganhou
vários prêmios, entre os quais o Prêmio Xamex de Arte Jovem do
Instituto Tomie Ohtake com a performance Isolante.

●● Chris Burden: O artista nasceu em 1946, em Boston, nos Estados


Unidos. Foi um dos pioneiros da performance no oeste americano.
Destaca-se pela iconoclastia de suas ações. Submete-se ao risco
e a dor. Arquiteto, ele fez mestrado em Belas Artes na Universidade
da Califórnia em 1971. Usou seu próprio corpo como suporte da
sua arte. Recebeu um tiro, crucificou-se, rastejou sobre cacos de
vidro até que abandonou essas ações por instalações e esculturas.

●● Marcelo Coutinho (Marcelo Farias Coutinho) nasceu em Campina


Grande, Paraíba, em 1968. Artista visual. Iniciou suas atividades
como artista em meados da década de 1980, em Recife, cidade
na qual residiu até 1986. Formou-se em Artes Plásticas pela
Universidade Federal de Pernambuco, onde atualmente é professor
do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística. É mestre
em Comunicação por essa universidade e doutor em Artes Visuais
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coutinho foi
um dos participantes do Grupo Camelo, juntamente com Ismael
Portela, Oriana Duarte e Paulo Meira.

●● Oriana Duarte: A artista nasceu em Campina Grande, Paraíba,


em 1966. Formou-se em design industrial na Universidade

50
Federal de Pernambuco onde é professora. Em suas exposições
e performances faz (a partir de seu corpo e dos espaços onde
mostra seu trabalho) uma analogia com a vida real e com o mundo
em que vive. Investe na Body Art a partir da submissão do corpo
ao máximo de sua resistência física.

●● Marina Abramovic nasceu em 1946 em Belgrado, na Iugoslávia.


Em 1976 a artista trocou seu país natal pela Holanda, Amsterdã,
onde conheceu o artista performático Ulay com quem colaborou.
Posteriormente, a artista passou a buscar inspiração em sua
própria vida e no olhar sobre seus semelhantes. Fez performances
ousadas por vezes implicando riscos físicos e ritualismo com
conotações autobiográficas e sexuais.

●● Ivald Granato Filho nasceu em Campos, Rio de Janeiro, em 1949.


Pintor, gravador, desenhista e artista multimídia. Frequentou por
um breve período a ENBA. Desde a década de 1970, realiza ações
performáticas. Recorre à fotografia e ao vídeo para documentá-las.
No início da década de 1980, participou de eventos com a Banda
Performática, do artista José Roberto Aguilar. Em sua produção
são frequentes as referências autobiográficas.

●● Gabriel Borba: O artista nasceu em São Paulo em 1942. Arquiteto


e artista plástico, investe em outras mídias. Formado pela FAU/USP,
seu trabalho dos anos 70 foi bem marcado pelas tensões políticas
presentes no meio acadêmico e pelo ambiente experimental da
arte paulistana tendo participado da Jovem Arte Contemporânea
de 1973. Em 1984, o artista dirigiu o Centro Cultural São Paulo.
Hoje trabalha no MAC/USP como arquiteto e desenvolve seu
trabalho em artes plásticas.

●● Carlos Alberto Fajardo nasceu em São Paulo no ano de


1941. Artista multimídia. Frequentou o curso de arquitetura na
Universidade Mackenzie, em São Paulo, entre 1963 e 1972.
Participou da criação do Grupo Rex com Wesley Duke Lee, Nelson
Leirner, Frederico Nasser Geraldo de Barros e José Resende.
No início de sua trajetória, trabalhou com diferentes técnicas,
realizando objetos, pinturas, colagens, desenhos e gravuras. A
partir de 1981, expõe trabalhos em pintura. Passou a dedicar-se
à realização de esculturas em que explora questões como peso,
gravidade ou sustentação da obra no solo. Desde 1996, leciona
no departamento de artes plásticas da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. 

●● Arman nasceu em Nice, França, em 1928, e faleceu em 2005,

51
em Nova York, EUA. Trabalhava com acumulação de objetos
do cotidiano, esculturas gigantescas de peças automotivas e
notalibizou-se por sua vitrine de lixo exposta em Paris. Compôs
suas acumulações com os mais variados materiais que vão dos
objetos de consumo de luxo até às dentaduras lembrando o
Holocausto. Mudou-se para Nova York em 1963, mas continuou a
produzir obras na Europa.

●● Wesley Duke Lee nasceu em São Paulo em 1931. Pintor e


desenhista, cursou desenho livre no Museu de Arte de São Paulo
em 1951; estudou na Parson’s School of Design, em Nova York, até
1955. Viveu também em Paris onde frequentou a Académie de la
Grande Chaumière e o atelier do gravador e pintor abstrato Johnny
Gotthard Friedlaender. Retornou ao Brasil em 1960, e foi um dos
primeiros artistas a explorar as técnicas de computação gráfica.
Trabalhou com pintura a óleo, acrílica, ambiente e instalação, onde
o desenho e a cor sempre foram presentes

●● Nelson Leirner: O artista intermídia nasceu São Paulo em 1932.


Estudou pintura a partir de 1956. Frequentou o ateliê de Flexor
em 1958. Em 1966, fundou o Grupo Rex com outros artistas. Em
1967 enviou  ao 4º Salão de Arte Moderna de Brasília um porco
empalhado e questionou publicamente pelo Jornal da Tarde os
critérios que levavam o júri a aceitar a obra. É um dos pioneiros
no uso do outdoor como suporte. Nos anos 1970, criou grandes
alegorias da situação política contemporânea em séries de
desenhos e gravuras. Militante político através da arte. De 1977
a 1997, lecionou na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap),
em São Paulo. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1997.

●● Lourival Cuquinha: O artista é natural de Olinda e trabalha com


várias mídias. Fez vários cursos na Universidade Federal de
Pernambuco, mas não concluiu nenhum. Participou de diversos
salões e exposições em Pernambuco. Em 2003, apresentou o
trabalho Varal pela primeira vez. Desde então vem desenvolvendo
uma intensa atividade no cenário local e internacional.

●● Wolf Vostel nasceu na Alemanha em 1932 e morreu naquele


país em 1998. Foi um artista de prestígio internacional e um
dos pioneiros do happening e vídeoarte tendo participado do
movimento Fluxus. Iniciou suas atividades artísticas em 1958.
Em 1960, tornou-se, juntamente com Paik, figura fundamental do
videoarte.

●● Nam June Paik: O artista nasceu em 1932 em Seul, na Coréia e

52
faleceu em 2006 nos Estados Unidos. Foi o primeiro performer a
ser chamado de videoartista fazendo instalações com monitores.
Considerado o pioneiro da arte eletrônica teve uma carreira
multifacetada que incluiu performances, instalações, projetos de
TV e vídeos. Uma das contribuições mais importantes de Paik foi
expandir a definição e a linguagem da criação artística.

●● Dan Grahan: O artista nasceu em 1942 nos Estados Unidos. Alia


à atividade artística a teórica. Sua carreira artística começou em
1964 quando se mudou para New York e abriu o John Daniels
Galeria. É cineasta, fotógrafo e videoartista.

●● Bill Viola: O artista nasceu em 1951 em Nova York. É um dos


pioneiros da videoarte alem de trabalhar com instalações com uma
clareza hiper-realista. Estudou fotografia e música. O gênero da
videoarte ainda estava em seus princípios quando Viola iniciou
suas pesquisas. Investigou fenômenos da consciência, estados
emocionais e desejos de transcendência espiritual.

●● Antoni Muntadas: O artista nasceu em Barcelona, Espanha, em


1942 e trabalha com multimeios. Através de suas obras, aborda
questões sociais, políticas e de comunicação, tais como a relação
entre espaço público e privado. Seus projetos são apresentados
em diferentes suportes como fotografia, vídeo, publicações,
internet, instalações e intervenções urbanas.

●● Tony Oursler nasceu em Nova York em 1967. É um artista


multimídia. Tornou-se notório pelas suas animações que
inicialmente foram exibidas em espaços alternativos. Mistura várias
técnicas para dar vida a objetos inanimados.

●● Analívia Cordeiro nasceu em São Paulo em 1954. Bailarina,


coreógrafa e arquiteta. Formou-se em dança, no Brasil, com a
coreógrafa Maria Duschenes (1922) e em Nova York, nos estúdios
de Alvin Nikolais e Merce Cunningham. Cursou arquitetura na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo (FAU/USP) e é mestre em multimeios pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Criadora de vídeos e
espetáculos multimídia.

●● José Roberto Aguillar nasceu em São Paulo em 1941. Pintor,


videomaker, performer, escultor, escritor, músico e curador.
Autodidata, integrou o movimento performático-literário Kaos,
em 1956, com Jorge Mautner (1941) e José Agripino de Paula.
Considerado um dos pioneiros da nova figuração no Brasil. Viveu

53
em Londres, entre 1969 e 1972, e em Nova York, entre 1974 e
1975, época em que iniciou suas experimentações com vídeo.

●● Walter da Silva Silveira nasceu em São Paulo em 1955.


Videoartista, artista gráfico, poeta visual, radialista. Graduado
em Rádio e Televisão pela Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA/USP), dirigiu durante muitos
anos a programação da TV Gazeta, em São Paulo. Atualmente, é
diretor de programação da TV Cultura. Lançou, em 1996, o álbum
Mein Kalli Graphics, de poemas manuscritos em serigrafia.

●● Tadeu Jungle: Artista multimídia começou nas artes plásticas


(poesias visuais,  fotografias, videoinstalações), posteriormente
passou a dirigir comerciais,  videoclipes.  Trabalhou em TV como
diretor e apresentador de programas. Formou-se em Comunicação
Social na ECA-USP e fez mestrado em TV na San Francisco State
University, na Califórnia.

●● Rafael França nasceu em Porto Alegre em 1957. Artista multimídia.


Formou-se em artes plásticas pela Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e, em 1985,
tornou-se mestre em Artes pela The School of the Art Institute of
Chicago. A partir de 1982, passou a viver alternadamente entre
São Paulo e Chicago, produzindo vídeos, instalações e trabalhos
de curadoria nos dois locais. Tem uma obra videográfica das mais
coerentes e sistemáticas de toda a arte eletrônica brasileira

●● Sandra Kogut nasceu no Rio de janeiro em 1965. Cineasta.


Estudou filosofia e comunicações na PUC. Especializada em
video-arte e documentários, seu trabalho é caracterizado por
experimentos de edição não-linear, abordando temas que visam
criar alguma intervenção no espectador, em relação a questões
sociais.

●● Lucila Carvalho Junqueira Meirelles: A videomaker nasceu em


São Paulo em 1953. Iniciou-se no campo da videoarte. Nos anos
1980, começou carreira independente como autora de vídeos
criativos. Seus trabalhos participaram de mostras internacionais
importantes. Em 1988, realizou sua primeira instalação - Sinfonia
Panamérica - na Galeria Fotoptica de São Paulo.

●● Lucas Bambozzi: É artista multimídia, documentarista e curador.


Trabalha em meios diversos como vídeo, cinema, instalação e
mídias interativas, com exibições em mostras em mais de 40
países. Professor da pós-graduação do SENAC-SP. É um dos

54
coordenadores e curadores da arte.mov Festival Internacional de
Arte em Mídias Móveis

●● Olia Lialina nasceu em Moscou em 1971. É pioneira na arte que


utiliza a Internet como meio. Estudou crítica de cinema e jornalismo
na Universidade Estadual de Moscou graduando-se em 1993.
Fundou uma galeria web de seu trabalho, que também possui links
para remakes de sua obra mais famosa Meu namorado voltou da
guerra.

●● Peter Stanick: O artista nasceu na Flórida, nos Estados Unidos em


1953. Peter Stanick combina fotografia tradicional com tecnologia
em computador para criar pinturas em grande escala de um mundo
de fantasia habitado por modelos de lingerie e starlets. A imagem
resultante brinca com o cartoon, mas tem uma precisão clínica.

Revisão
Essencialmente documental, a Arte Conceitual é feita de fotos, filmes, entrevistas,
projetos ou textos que não necessariamente devem possuir qualquer significação
estética. Ela não é um fim em si, mas um meio para a realização do conceito, da ideia.
Renovam-se os meios de expressão (foto, off set, xerox, vídeo, linguagem escrita)
e o corpo e o texto passam a ter um lugar de destaque nessa produção. Toda uma
interdisciplinaridade se faz presente no universo conceitual. Há uma nítida afirmação da
superioridade do trabalho mental sobre o manual.

A proposta acontece inicialmente em Nova York, entretanto, como as demais expressões


artísticas da pós-modernidade logo se internacionaliza. Dessa forma, vamos encontrar
artistas americanos (John Baldassari, Robert Barry, Dan Grahan, entre outros)
trabalhando sob a mesma premissa que os artistas alemães (Joseph Beuys, Hans
Haacke, Gerard Richter); japoneses (On kawara) franceses (Daniel Buren) ou ingleses
(Grupo Art & Language), entre outros.

Se nos anos 70 a maior preocupação dos artistas conceituais era a linguagem da arte.
Posteriormente, ampliou-se esse campo de atuação. Dessa forma, alguns passaram
a investigar fenômenos naturais tendo o planeta como espaço de pesquisa. É o
caso da Land Art, por exemplo. Outros artistas utilizaram a narrativa: contar histórias
inclusivepessoais como meio de expressão artística.
A arte conceitual atingiu seu apogeu em meados dos anos 70, mas até os dias que
correm o interesse pela ideia como ponto de partida para a arte permanece em alta na
arte contemporânea. Os museus e o público se adaptam a sua forma de expressão.
Sua temática envolve as noções de sujeito, de indivíduo, de identidade. A ideia norteia
seus fundamentos e a sua construção pode se processar inclusive de forma coletiva
desmistificando, assim, a aura do artista criador único. Alguns artistas do conceito se
propõem também a explorar o poder da arte como agente transformador de vidas ou
instituições bem como criticar as estruturas de poder ou as condições políticas e sociais
do planeta.

No Brasil, o conceitual coincidiu com um momento político que envolvia uma ditadura

55
militar (1964-1985). Isso lhe deu certa particularidade em relação a outros países nos
quais os artistas podiam ter como ponto de reflexão sua própria realidade. A partir dessa
situação política, portanto, os artistas brasileiros criaram ações que funcionaram como
estratégias metafóricas e simbólicas para burlar o controle estabelecido pelo regime.
Dessa forma, além dos objetivos comuns com os outros centros, a utilização do conceito
veio atrelada a toda uma carga de denúncia política.

Os trabalhos dos artistas brasileiros conceituais daquele momento apesar do forte


acento político e da crítica social, não deixaram de questionar a natureza da arte e do
objeto artístico. Suas propostas tinham e têm como foco a coletividade, muitas vezes
representada pelo espaço da cidade que é público e pelos sujeitos que ali interagem
cotidianamente.

A arte conceitual no Brasil, a partir da década de 90, adquire um novo impulso. Nesse
contexto, a introdução de novas mídias embasa e registra as ideias. Em um mundo
onde guerras, pobreza e instabilidade política e social marcaram e marcam grande parte
dos países em plena era da globalização tempo e espaço se redefinem nas múltiplas
linguagens da comunicação: internet, videoclipes, painéis eletrônicos, etc. Mas disso
falaremos posteriormente. Agora vamos recordar algumas maneiras pelas quais o
conceito tenta interagir com o espectador tornando a arte cada vez mais imbricada com
a vida.

Da terra como suporte e referência

Essa tendência da arte contemporânea, conhecida como Land Art (ou Earth Art) inicia-
se nos Estados Unidos no final dos anos 60. Como as várias correntes artísticas pós-
modernas, ela visa expandir as fronteiras da arte em relação à vida. Essas ações
artísticas buscam seu foco fora da cidade e vão, portanto, interferir na natureza em
grande ou pequena escala com ações mais ou menos efêmeras que objetivam utilizar
o meio ambiente como suporte e chamar a atenção para ele. A Land Art é, portanto,
uma arte pública. O espaço físico apresenta-se como campo onde os artistas realizam
grandes arquiteturas ambientais.

No Brasil, essas ações, raras, devem-se à iniciativa de poucos artistas. Poucos artistas,
na verdade, trabalharam com este meio de expressão. Acreditamos que os altos custos
operacionais tenham contribuído para a pouca ação nesta linguagem no país.

Sobre o corpo como suporte artístico: Performance e Body Art

As formas de expressão artística que usam o corpo como meio não são propriamente
pós-modernas. A Performance, por exemplo, foi bastante utilizada pelas vanguardas
artísticas do século XX. A ação pode ser definida como uma forma de arte que combina
elementos do teatro, das artes visuais e da música. Nesse sentido, poderia ser associada
ao happening, que também usa os mesmos elementos além do corpo como veículo de
expressão.

A Performance na atualidade nasceu da integração dos happenings dos anos 60 com a


Arte Conceitual da década de 70. O performer geralmente é um artista visual que, por
vezes, toma emprestado do teatro elementos para sua elaboração. Em síntese: é um
trabalho executado diante de uma audiência embora possa se apropriar de meios como
o vídeo ou a internet para que se processe uma maior interação.

Os questionamentos dessas expressões da arte contemporânea envolvem sexismo,

56
racismo, homofobia, doenças do nosso tempo, violência, anonimato etc. Enfim, as
mazelas que acometem o mundo pós-moderno, as sociedades contemporâneas em
constantes mutações. Dor, sátira, humor e sensacionalismo são enfatizados pela
arte performática bem como temas autobiográficos e a memória dos próprios artistas
envolvidos. A partir da década de 80, a Performance tornou-se cada vez mais acessível a
um público cada vez mais internacionalizado.

No Brasil, as primeiras experiências estéticas com Performance surgiram com Flávio


de Carvalho na década de 30. Essencialmente anárquica e libertária, a arte do corpo,
de caráter experimental, enfrentou o período do cerceamento de liberdade do período
ditatorial brasileiro nas décadas de 60 e 70. Os direitos constitucionais foram suspensos
e os artistas impedidos de maiores questionamentos. Isso se aplicava aos de ordem
política ou os que se enquadravam na censura moral de um golpe que foi dado com o
apoio e endosso da classe média brasileira.

Nos anos 70, no Rio de Janeiro, algumas ações performáticas ganharam destaque,
inclusive por sua temeridade, mas foi na década de 80 que aconteceu uma maior
quantidade de Performances. O meio artístico passou a aceitar e legitimar a ação
performática com mais ênfase e esta ocupou espaços institucionais. Entretanto, seria
na década de 90 que não só as Performances, mas toda uma gama de expressões
artísticas ligadas a meios de expressão alternativos passariam a acontecer com maior
frequência e apoio.
No que diz respeito à Body Art (Arte do Corpo), esse gênero de expressão artística
pode ser visto como um prolongamento da arte conceitual e também se liga à ideia
de Performance, embora normalmente seja feito de forma privada e só posteriormente
comunicada ao público. A fusão arte/vida está também em seu cerne. O corpo proporciona
condições de exploração de várias questões que se tornam mais contundentes na pós-
modernidade tais como gênero, violência, identidade, doença e morte. Dessa forma a
temática da body art inclui desde sadomasoquismo, posicionamentos sociais e comédia.
No Brasil, a proposta é a mesma que no resto do mundo ocidental. Os adeptos da body
art transformam seu corpo num campo de experiências estéticas. Eles experimentam
todas as possibilidades oferecidas pelo corpo.

A Performance e as ações de Body Art no Brasil e no mundo se perpetuam pela


contemporaneidade explorando a multiplicidade de meios de registro e de interação
com o público. A utilização do corpo como material envolve uma ampla variedade de
interpretações como estratégia de diálogo com o espectador, esteja ele presente ou
nãona ação. Eles experimentam todas as possibilidades oferecidas pelo corpo.

Sobre o uso das novas mídias e meios de expressão artística no cenário brasileiro

No guarda-chuva da pós-modernidade se abrigam e coexistem obras que utilizam meios


de expressão considerados “clássicos” pela História da Arte e aqueles que aparecem
após o desenvolvimento tecnológico das comunicações em seu processo contínuo
de aperfeiçoamento. Dessa forma, a partir dos anos 80, podemos encontrar a arte
conceitual coexistindo com uma pintura de discurso feminista expressionista ou um vídeo
dialogando com o público.

No que diz respeito às preocupações temáticas, durante essas três últimas décadas,
em paralelo à globalização, às questões identitárias, aos apelos às ciências sociais e,
mesmo, às inserções de ordem política encontramos a questão dos novos meios no
universo das artes visuais como elementos próprios do discurso artístico contemporâneo.

57
Como uma das novas maneiras de expressão artística a arte da instalação,
cronologicamente, iniciou-se na década de 60. Elas utilizavam o espaço arquitetônico ou
não tendo como característica maior a interdisciplinaridade no que diz respeito aos meios
utilizados. Funcionavam como catalisadoras de ideias novas e integravam o espectador
em sua existência efêmera. Se antes, essas propostas artísticas não encontravam
espaços comerciais, a partir da década de 70 as galerias passam a acolhê-las bem como
museus e instituições em geral. Uma instalação, expressão artística contemporânea,
mistura pintura, escultura e objetos industrializados em ambientes preparados para
estimular as percepções sensoriais, que podem ser apropriados no meio, tanto da
natureza quanto de objetos industrializados que por sua vez são resignificados. Uma
Instalação também pode se apropriar da mídia em suas diversas formas: som, TV, vídeo,
computador. Nessa manifestação artística, geralmente, o artista tem como objetivo
provocar.

No Brasil, os antigos “ambientes”, as primeiras instalações foram lançados em pleno


Neoconcretismo dos anos 60. Ferreira Gullar, o teórico do movimento, afirma que o
seu Poema Enterrado (1959-60) foi a primeira obra do gênero no país. Elas, como no
resto do planeta, vão encontrar mais campo para expansão a partir da década de 90.

Poema Enterrado (1959-60) foi a primeira obra do gênero no país. Elas, como no resto
do planeta, vão encontrar mais campo para expansão a partir da década de 90. Em
fins de 1950, outra forma de fazer arte vai ser introduzida. Trata-se de pesquisas com
tecnologia televisiva que, na época, despontavam como mais um recurso a ser utilizado
no universo das artes visuais: o vídeo como arte ou o videoarte. Assim como é difícil
definir uma data específica para o início da história do vídeo no mundo, no Brasil também
há a mesma dificuldade. Há indícios de que na década de 1960 alguns artistas

inseriram o aparelho de televisão em suas instalações, mas as pesquisas só se tornam


mais palpáveis a partir de 1974. A partir da década de 1980, com a disponibilidade
tecnológica, gerou-se a oportunidade de explorar os recursos da imagem videográfica.
A segunda fase representou, portanto, geração do vídeo independente. Os jovens dessa
fase, recém-saídos da universidade, cresceram com a televisão comercial e viram, nela,
a possibilidade de experimentação de linguagens e de dispositivos da imagem eletrônica
que não eram explorados em razão da rentabilidade.

Atividades
Propomos aqui que o professor disponibilize um espaço no fórum e solicite a cada
aluno que desenvolva um projeto na mídia ou forma de expressão de sua escolha para
o desenvolvimento de uma expressão conceitual. Ou seja: se o aluno se interessa por
instalações que ele crie um conceito de como e porque ele faria uma. Quais os materiais,
dimensões, enfim, que fizesse o projeto de uma instalação. A proposta poderia ser
ampliada em uma exposição futura onde estes alunos apresentariam o resultado do
projeto de forma presencial.

58
C a p í t u l o 16

Sobre a volta da pintura


no Brasil: a geração 80

Objetivos
●● Analisar os antecedentes deste momento marcante nas artes visuais do ocidente;

●● Observar o mercado como possível agente catalisador de um movimento artístico; Atenção


●● Compreender o panorama político, econômico e social do Brasil dos anos 80;
12
Figuration Libre foi um
movimento artístico que
●● Destacar a obra de alguns artistas brasileiros deste período. aconteceu na França do
início dos anos 80. Os
artistas que constituíram
O Neoexpressionismo, corrente que aderiu à pintura considerada o movimento liderado por
“morta” na década de 70, surgiu inicialmente nos anos 80, na Hervé Padriolle tomaram
a liberdade de uma
Alemanha, de grande tradição expressionista tendo a frente artistas figuração que englobava,
como Georg Baselitz, Anselm Kiefer, Sigmar Polke, entre outros. Esse sem hierarquia de
valores, as várias formas
Neoexpressionismo, internacionalista, também vai aparecer com
de expressão pictórica
outros nomes em outros países tais como: Figuration Libre12, na sem fronteiras culturais ou
França, ou Bad Painters13 nos Estados Unidos ou Transvanguarda, geográficas.

na Itália. Outros artistas não se afiliaram a grupos, mas tinham o


mesmo perfil como Jenny Saville (Inglaterra) ou Claude Simard
(Canadá).

A obra neoexpressionista caracteriza-se por aspectos que envolvem


Atenção
a técnica e o tema. O tratamento dos materiais tende a ser tátil,
13
Bad Painters
(maus pintores) foi um
mesmo tosco, enquanto que a temática expressam emoções as mais movimento americano
variadas. dos anos 80 que
seguindo os cânones
A Transvanguarda é um movimento do tipo que pode ser considerado da pós-modernidade,
se posicionou contra a
como a versão italiana do neoexpressionismo. Termo criado pelo ortodoxia da modernidade
crítico Bonito Oliva nos fins da década de 70, ele diz respeito ao criticando a “boa pintura”
da época e recusando-se
trabalho produzido dos fins daquela década até os anos 90 por um a um estilo específico.
grupo de artistas que haviam retornado a uma expressão pictórica Enfim, rejeitando regras
caracterizada pelas cores fortes, pela nostalgia temática e pela e compromissos. Entre
seus membros destacam-
redescoberta dos materiais. se Julian Schnabel,
Werner Büttner e Albert
O grupo era composto de Sandro Chia, Francesco Clemente, Enzo Oehlen.
Cuchi e Mimmo Paladino, que iam de encontro ao predomínio do
minimalismo e do conceitual sua pintura revitalizada. Eles rejeitavam
o caminho “correto” designado pelos historiadores para as artes

59
visuais que deveriam seguir o roteiro desafiante da modernidade e
optaram pela retomada de um meio (a pintura) considerado extinto
para a arte contemporânea.

Nas suas obras, os artistas recorrem à tradição cultural italiana onde


a História da Arte encontrou tantas referências. A obra desses artistas,
por vezes, recorre às fontes de forma quase que arqueológica.
Ela junta o passado e o presente com um senso de liberdade que
caracteriza a produção pós-moderna. Essa visão menos formalista da
arte implica em uma arte aberta ao hibridismo, a mistura de gêneros
e a um historicismo (impuro para os modernos) possibilitando a
experimentação que evoca uma dimensão social e política além de
memorialista.

Os trabalhos reunidos na Transvanguarda - em geral, pinturas e


esculturas - são em sua maioria figurativos, e o corpo humano  tem
presença destacada. Os corpos que povoam essas telas ora se
apresentam em primeiro plano de forma vigorosa - como em certos

Pesquise... trabalhos de Sandro Chia.

Incidente no café
Tintoretto. Sandro Chia. Na pintura de Sandro Chia, além das imagens heroicas que flutuam no
1981 tempo e no espaço muitas vezes fazendo referencia à própria história
da arte, a vida corriqueira e cotidiana parece mergulhar em um cenário
grandioso onde os personagens são ao mesmo tempo heróis e palhaços.
A figura feminina que cai em meio a bancos e cacos de vidro tem a
majestade das antigas esculturas e deve ter referência com sua infância
feita de mulheres italianas marcantes e corpóreas de um erotismo

Atenção escondido que o artista recupera em suas referências.

14
A indústria cultural No Brasil, os anos 80 e a volta da pintura coincidem com o pluralismo
pode ser definida como
um conjunto de empresas político que se nascia no país através do processo de transição e o
e instituições que têm fim do regime militar. Crescia a indústria cultural14 e sua oferta de
como objetivo (utilizando
consumo. A força da comunicação de massa influenciou os jovens
os crescentes recursos
midiáticos) produzir, artistas daquela geração que não ficaram alheios ao que acontecia
distribuir e transmitir um nos eixos hegemônicos e embarcaram nesse momento de retorno à
conteúdo artístico-cultural
visando o lucro. pintura de grandes formatos.

Os artistas se organizaram em torno de mostras coletivas tais como


A pintura como meio (1983) ou Como vai você geração 80, que
aconteceu no Parque Laje, no Rio de Janeiro, em 1984 e marcou
a introdução desse movimento internacional das artes visuais no
universo brasileiro.

Artistas como Leda Catunda e Daniel Senise são exemplos de


um momento que substituía o racionalismo do concretismo e o

60
envolvimento político da arte conceitual por uma temática embasada
no individualismo ou nas raízes, mas que se voltavam para o pictórico
de grandes formatos como meio principal de expressão. A partir do
trabalho de Catunda podemos ter uma ideia dessa pintura própria dos Pesquise...
anos 80 no país: Onça Pintada N.1. Leda
Catunda. 1984
Interessada pela pintura neoexpressionista que acontecia no cenário
internacional, a artista iniciou um trabalho com essa linguagem. Naquele
momento, trabalhou sobre tecidos estampados cobrindo as figuras com
cor. Ela pintou sobre suportes absolutamente não convencionais, muitas
vezes aproveitando imagens preexistentes e as realçando.
A artista lidava, também, com motivos figurativos presentes na cultura
popular. Admitindo não saber desenhar, ela se apropria dessas imagens.
Dessa forma, dá sentido à pintura reinventando uma nova forma de pintar.

Para muitos teóricos da História da Arte brasileira o mercado, saturado


do conceitualismo não tão comercializável ainda naquele movimento,
trabalhou em escala mundial (com reflexos locais) visando uma
maior dinamização atraindo, através de uma produção cuidadosa,
colecionadores, museus e galerias. No Brasil, alguns críticos teriam
sido arregimentados para promover novamente a pintura como meio.
De acordo com Almerinda da Silva Lopes (1992, p. 17), os jovens
artistas da geração 80 romperam com o marasmo da década anterior
e então:

Estimulados pela crítica especializada e pelo


mercado em curto espaço de tempo, esses artistas
circularam pelas galerias e museus do Brasil e do
exterior. Entretanto, se já é notável a seriedade
e a postura profissional com que esses artistas
encararam os compromissos para mostras e
mercado, ainda é cedo para avaliar a interferência
positiva ou negativa da rapidez com que têm que
produzir seus trabalhos.

De acordo com a mesma teórica esse eixo situou-se no hegemônico


Rio/São Paulo não ocorrendo nas outras regiões do país essa
mesma produção e projeção. No resto do Brasil, torna-se, portanto
mais difícil identificar o fenômeno da Geração 80 apesar dos meios
de comunicação e de seu encurtamento de distância. Entretanto,
nas várias regiões brasileiras, é possível identificar artistas ligados a
esse movimento, mesmo quando haviam, como sempre, buscado o
Sudeste como alternativa profissional. Dessa maneira, de forma plural
no que diz respeito às expressões pictóricas utilizadas que juntavam
figuração e abstração além de vários suportes essa volta da pintura

61
por provocação ou por contágio aconteceu, por assim dizendo, do
Oiapoque ao Chuí.

No Nordeste, como nas demais regiões brasileiras que não


fazem parte do eixo hegemônico, alguns artistas se integram ao
internacionalismo da pós-modernidade. Entre eles, Alice Vinagre,
paraibana, que estudou na década de 80 na Escola de Belas Artes
do Rio de Janeiro. Nesse período, aderiu a uma produção pictórica

Pesquise... vigorosa, expressiva e de grande formato, que explorava valores


individuais sem, porem, desprezar cultura e identidade nas várias
O sol brilha ou O eu e
o Tu II. séries que produziu no período e posteriormente.

Na série intitulada Amarelo (que se desenvolveu entre 1989 e 1993)


palavras e signos tornaram-se cada vez mais presentes no trabalho de
Alice e adquiriram um ritmo gestual, uma expressão caligráfica. A pintura
misturou-se com o desenho e passou a ser o fundo que intitula a série.
O suporte recebeu esses desenhos que são a expressão de seu universo
pessoal, mas que se comportam como antropomorfos que poderiam fazer
parte de uma pintura rupestre. É uma herança que aproxima a arte e a
sua própria história. Uma expressão do universo de contaminações que
permeia a produção artística contemporânea.

A ocidentalização do mundo, a universalização das linguagens,


a divulgação maciça de informações provocaram esse diálogo
instantâneo do qual o Brasil e suas variadas regiões de forma mais
ou menos direta fazem parte. Esse panorama repercutiu na cultura
como um todo e as artes visuais não ficaram de fora dessa unificação
global. A produção artística dessa década, produto ou não de um
mercado que dita regras e procedimentos, merece ser vista como a
manifestação artística que foi: representativa de sua época.

Sobre alguns artistas citados no


capítulo
●● Georg Baselitz: O artista nasceu na Alemanha em 1938. Seu
trabalho neoexpressionista passou a ser mais destacado a partir
da própria mídia quando, em 1960, foi objeto de uma ação policial
por conta da natureza sexual de suas pinturas. É professor do
renomado Hochschule der Kunste, em Berlim.

●● Anselm Kiefer: O artista nasceu em 1945, na Alemanha. É pintor


e escultor. Seus trabalhos utilizam uma grande diversidade de
materiais. Estudou nos anos 70 com o conhecido e discutido

62
Joseph Beuys. Sua temática lida com o passado e com temas
relacionados com o nazismo e outros episódios da história alemã.
Sua pintura acontece em grandes formatos.

●● Sigmar Polke nasceu em 1941, em Oels, Silésia, na antiga


Alemanha do Leste. Migrou com 12 anos para a Alemanha
Ocidental onde passou a estudar, na década de 60, na Staatliche
Kunstakademie de Dusseldórfia, sob a direção do artista alemão
Joseph Beuys. Os desenhos e pinturas de Polke revelavam
os seus processos de pensamento e o seu incrível sentido de
humor. O trabalho de Polke é caracterizado por uma aproximação
fortemente individual. A sua paródia à política, convenções sociais
e valores artísticos e culturais estabelecidos revelam um cinismo
alegre.

●● Jenny Saville nasceu em Cambridge, Inglaterra, em 1970. Em


1990, fez licenciatura na Glasgow School of Art. Pintora, trabalha
com temas que questionam padrões de beleza estabelecidos.
Suas telas apresentam seus grandes nus que são autorretratos.
Sua postura feminista questiona o condicionamento da mídia em
relação ao corpo da mulher.

●● Claude Simard: O artista nasceu em 1943 no Canadá, na cidade


de Quebec. Estudou no Ontário College of Art entre 1962 e 1966.
Sua obra é composta de paisagens e jardins, naturezas mortas e
cenas do cotidiano coloridas e alegres.

●● Sandro Chia: O artista nasceu em Florença, Itália em 1946. É um


dos pintores mais destacados do movimento neoexpressionista
italiano denominado Transvanguarda. Estudou no Istituto d’Arte e
na Accademia di Belle Arti de Florência. Nos anos 70, adotou uma
pintura figurativa e, junto com os demais membros do movimento,
internacionalisou-se. Trabalha com grandes formatos e põe ênfase
no título das obras enquanto veículo de transmissão da ideia
expressa.

●● Francesco Clemente: nasceu em Nápoles em 1952. Já na


infância decidiu começar a pintar. Em 1970 mudou-se para Roma
onde começou a estudar Arquitetura na Universidade de Roma. Lá
conheceu Beuys que junto com outros artistas o influenciaram. A
sua obra é maioritariamente autobiográfica. Consiste, em grande
parte, em desenhos e pastéis, mas apresenta também, pintura,
escultura, gravura e fotografia. O seu trabalho é construído com
o que ele chama “lugares-comuns”, isto é, fragmentos de sua
experiência.

63
●● Enzo Cucchi nasceu na província de Ancona, Itália e é um dos
membros da Transvanguarda italiana. Formou-se como aprendiz
de restaurador, trabalhou como topógrafo e expôs, pela primeira
vez , em 1977. Vive e trabalha em sua província natal.

●● Mimmo Paladino: O artista nasceu em dezembro de 1948 no sul


da Itália. Frequentou o Liceu Artístico de Benevento entre 1964 e
1968. Desempenhou importante papel no renascimento da pintura
fazendo parte do grupo neo-expressionista Transvanguarda.
Realizou exposições pessoais em circuito artístico internacional.

●● Leda Catunda: A artista nasceu em São Paulo, Brasil, em 1951. É


pintora e gravadora. Cursou artes plásticas na Faap (São Paulo)
onde estudou com Regina Silveira e Nelson Leirner. Participou do
retorno à pintura da geração 80 inspirado no neoexpressionismo
internacional. Em 2003, defendeu doutorado em artes, com o
trabalho Poética da Maciez: Pinturas e Objetos Poéticos, na Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/
USP, com orientação de Julio Plaza. Tem livros publicados sobre
seu trabalho.

●● Daniel Senise (Daniel Senise Portela) nasceu no Rio de Janeiro, em


1955. Em 1980, ingressou como aluno na Escola de Artes Visuais
do Parque Lage onde, entre 1986 e 1991, lecionou no Núcleo de
Pintura. Participou da exposição Como Vai Você Geração 80?
Onde, com outros artistas, integra um momento neoexpressionista
brasileiro sob influência de correntes internacionais.

●● Alice Vinagre: A artista paraibana nasceu em João Pessoa,


Paraíba em 1950. Graduou-se em Pintura na Escola Nacional
de Belas Artes do Rio de Janeiro. Fez parte da geração 80 que
deu ênfase a pintura antenada com o cenário internacional. Tem
exposições individuais e coletivas no Brasil: Recife, Natal, São
Paulo, João Pessoa, Brasília, Olinda e Rio de Janeiro; e no exterior:
França, Alemanha, Equador e Japão, além de vários prêmios.

Revisão
O Neoexpressionismo, corrente que aderiu à pintura considerada “morta” na década de
70, surgiu inicialmente nos anos 80, na Alemanha. Ele também vai aparecer com outros
nomes em outros países tais como: Figuration Libre, na França, ou Bad Painters nos
Estados Unidos ou Transvanguarda, na Itália.

No Brasil, os anos 80 e a volta da pintura coincidem com o pluralismo político que nascia
no país através do processo de transição e o fim do regime militar. Crescia a indústria

64
cultural e sua oferta de consumo. A força da comunicação de massa influenciou os
jovens artistas daquela geração que não ficaram alheios ao que acontecia nos eixos
hegemônicos e embarcaram nesse momento de retorno à pintura de grandes formatos.

Para muitos teóricos da História da Arte Brasileira, o mercado, saturado da conceitualismo


não tão comercializável ainda naquele momento, trabalhou em escala mundial (com
reflexos locais) visando uma maior dinamização atraindo, através de uma produção
cuidadosa, colecionadores, museus e galerias. No Brasil, alguns críticos teriam sido
arregimentados para promover novamente a pintura como meio.

Essa nova produção concentrou-se principalmente no eixo hegemônico Rio/São Paulo


não ocorrendo nas outras regiões do país essa mesma produção e projeção. No resto
do Brasil torna-se, portanto mais difícil identificar o fenômeno da Geração 80 apesar dos
meios de comunicação e de seu encurtamento de distância. Entretanto, nas várias regiões
brasileiras é possível identificar artistas ligados a esse movimento, mesmo sabendo-
se que eles haviam, como sempre, buscado o Sudeste como alternativa profissional.
Dessa maneira, de forma plural no que diz respeito às expressões pictóricas utilizadas
que juntavam figuração e abstração além de vários suportes, essa volta da pintura
por provocação ou por contágio aconteceu, por assim dizendo, do Oiapoque ao Chuí.

A produção artística dessa década, produto ou não de um mercado que dita regras e
procedimentos, merece ser vista como a manifestação artística que foi: representativa
de sua época.

Atividades
O professor, através de fórum no site do curso, deve propor que cada aluno pesquise nas
diversas regiões brasileiras um artista que durante as décadas de 80/90 tenha buscado
a pintura de grandes formatos como meio de expressão. O estudante deve, então,
apresentar o artista e pelo menos uma obra deste que será analisada pelos demais
participantes do curso.

65
66
C a p í t u l o 17

Sobre os vários conceitos


que embasam a arte
contemporânea no Brasil:
alguns exemplos

Objetivos
●● Analisar os antecedentes desta pluralidade de expressões e conceitos no Ocidente;

●● Compreender o panorama político, econômico e social do Brasil na


contemporaneidade;

●● Destacar a obra de alguns artistas brasileiros deste período.

Intensas e profundas modificações marcaram e marcam o planeta


nas últimas décadas. Pelo menos no que diz respeito ao Ocidente
hegemônico. Da derrocada do mundo soviético que culminou com
a derrubada do muro de Berlim e a reunificação da Alemanha à
vitória do Neoliberalismo como modelo econômico, muitos foram os
acontecimentos que contribuíram para as incontáveis transformações
que aconteceram nos últimos tempos e que marcam o início do século
XXI.

Os meios de comunicação de massa promoveram a transformação


do planeta em uma aldeia global e, pelo menos de forma teórica,
colocaram as nações em um mesmo patamar. De forma teórica,
vejam bem, uma vez que, na prática, a universalização dos conceitos
e procedimentos neste mundo em transformação e unificação é feita
a partir da ótica do mais forte. Dessa forma, as populações das áreas
mais longínquas do planeta podem se integrar a uma nova concepção
de nação: aquela agrupada de forma geopolítica e cultural em torno
de eixos de influência econômica e cultural.

Em oposição a essa globalização e da consequente fragmentação


e uniformização operada por ela, movimentos de defesa de raízes e
expressões próprias de identidade se processam. A importância de se
saber quem é torna-se fundamental para a sobrevivência em meio à
homogeneização do planeta. Para Stuart Hall (2006, p. 47):

67
No mundo moderno as culturas nacionais em que
nascemos se constituem em uma das principais
fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos
algumas vezes dizemos que somos ingleses ou
galeses ou indianos ou jamaicanos. Obviamente,
ao fazer isto estamos falando de forma metafórica.
Essas identidades não estão literalmente impressas
em nossos genes. Entretanto, nós efetivamente
pensamos nelas como se fossem parte de nossa
natureza essencial.

E é essa “natureza essencial” que está por trás dos movimentos


de resistência a um pensar uniforme. Dentro dessa nova realidade
planetária proliferam bandeiras através das quais os grupos reclamam
a recuperação de seu eixo identitário, sua plataforma individual de
interpretação, seu direito a uma diversidade que não seja catalogada
de exotismo. Em um tempo que ocidentaliza o Oriente aproximando
cada vez mais de um comportamento único e global as diversidades
contidas no nosso planeta e as formas de participação em um todo
indistinto tornam-se vitais para a preservação cultural. Dessa forma,
feministas, ecologistas, desarmamentistas entre outras plataformas
e minorias atuam nos espaços sociais buscando a sobrevivência do
individual face ao global sistematizador.

O Brasil não foge a esse processo de universalização e participa,


portanto, dos acontecimentos que ocorreram em escala mundial. As
novas tecnologias de informação permitiram aos brasileiros tomarem
contacto com acontecimentos internacionais e nacionais com a
rapidez dos novos tempos. Todo esse panorama repercute no país
como um todo.

Em escala local, transformações internas também se processam.


A partir da década de 80, o país foi marcado por transformações
específicas: pela abertura política e pela transição democrática com
o fim do regime militar. Não vamos discutir aqui a amplitude dessa
liberdade em uma contemporaneidade dominada economicamente
pelo neoliberalismo internacional. Mas não vamos esquecer a
importância da nossa quota de liberdade política no viver e no fazer
arte.

Dentro dessa realidade de mudanças, a cultura e a produção cultural


receberam o impacto dessas informações. No país o crescimento
da indústria cultural acompanhou o do resto do mundo. Atendendo a
um público consumidor cada vez maior, a indústria cultural brasileira

68
equipou-se influenciando, entre vários outros aspectos, a produção
artística. Segundo Kátia Canton (2000 p 26): ”A esse panorama
costura-se uma consideração fundamental que reverbera na
produção artística que se desenvolve nos anos 90: a noção de que a
originalidade da criação é um mito modernista”. A pós- modernidade
se manifesta no espaço artístico, portanto, sob a forma de uma
estética mestiça em um mundo gerado pela mídia.

O Brasil não foge, portanto, de estar sintonizado com as propostas


de um mundo cujos modelos artístico-culturais se processam sob
o domínio de uma ocidentalização, que se exemplifica pelo modelo
exportado pelos Estados Unidos. Afinal, a história é escrita pelos
vencedores. Mas a alma do povo teima em reaparecer para além dos
modelos culturais exportados gerando, entre outras especificidades,
uma arte contemporânea brasileira.

As práticas artísticas pós-modernas envolvem múltiplos meios tais


como os tradicionais (pintura, escultura, arquitetura, gravura) e os
mais contemporâneos e não convencionais como objetos, instalações
ou performances. Em paralelo processa-se uma interdisciplinaridade
com os vários campos do conhecimento e a arte cada vez mais
se aproxima da vida. Essa fuga do copiar a vida e de vivê-la como
arte vai envolver aspectos e conceitos próprios desse mundo em
transformação. Dessa forma, o artista contemporâneo se volta para
temas que abordam a memória, as heranças, o corpo, a efemeridade
da vida, o anonimato nas grandes cidades, a estetização da política,
a fusão dos meios de expressão, as questões de gênero, de sexo e
de espiritualidade, entre outros conceitos que povoam, cada vez em
maior numero e diversidade, as abordagens da arte contemporânea.

Para ilustrar esse panorama artístico no Brasil escolhemos algumas


poéticas que ilustram essas múltiplas tendências conceituais e os
meios através dos quais elas são propostas. Não vamos nos fixar
no eixo hegemônico Rio/São Paulo. Vamos caminhar por esse Brasil
multicultural iniciando nossos exemplos pós-modernos com um
artista que utiliza o texto como arte e arte como texto. Uma fusão
de meios expressivos da qual não é o único a se utilizar, mas que é
único quando expressa sua realidade individual e cultural. Trata-se
do pernambucano Sebastião Pedrosa e de sua série Escrita Secreta,
que traz a busca por uma forma de expressão que tenha no mistério e
Pesquise...
no oculto seu conceito exposto através de um registro particular, uma
Escrita Secreta.
escrita própria e secreta. Sebastião Pedrosa. 2003.

69
Partindo do existente, do atávico, Pedrosa cria sua própria escrita,
misteriosa e hermética. Outros artistas comungam com a sua busca
por uma linguagem individual em meio aos signos, mitos e símbolos da
história do homem. Imagens construídas por sinais ou textos manuscritos
que levam o espectador a agir como um decodificador ou adivinho. Em
sua busca de encontrar imagens que derivem do gesto ancestral ele
partilha, por exemplo, com Paul Klee a incorporação à pintura de signos,
letras ou ideogramas.
Entretanto, remonta aos escritos de seu pai, homem do campo; às
cadernetas com anotações do pagamento dos trabalhadores na terra
as primeiras imagens que lhe ficaram na memória de uma escrita
incompreensível para uma criança se transformando, posteriormente, na
sua própria escrita secreta.

A memória como parâmetro para reflexão e criação se constitui


em outra abordagem. Uma luta contra o apagamento identitário
em uma sociedade que a cada momento perde mais sua memória.
Para Hall (2006, p. 13) “À medida que os sistemas de significação
e representação cultural se multiplicam somos confrontados por uma
multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis,
com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos
temporariamente”. Contra esse apagamento do significado cultural
se expressam alguns artistas contemporâneos nas mais diversas
linguagens.

A atitude de vasculhar suas memórias é o que nos faz trazer aqui,


como exemplo, o trabalho de José Rufino, artista paraibano, que luta
através de suas histórias pessoais contra a amnésia gerada pela mídia
nesse universo globalizado do século XXI. Rufino constrói a partir da
década de 90 instalações que levam o espectador ao encontro da
memória da sua família, de sua cidade e dele mesmo (Figura 3).

Figura 3. José Rufino. Náusea. Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=mZUcKFOtDv4

70
Interferindo em documentos que registram negócios passados de lugares
diversos (portos, ferrovias, repartições públicas) o artista sai da periferia
de sua memória familiar para buscar aquela de seu país.
Dessa maneira evoca do particular a universalidade daqueles que
manusearam arquivos e papéis como é o caso da obra em questão. Suas
lembranças da burocracia das cidadezinhas do interior da Paraíba são
as mesmas lembranças de pessoas em qualquer parte do mundo. Ele
apenas as apresenta em instalações onde os títulos em latim evocam
nossas raízes comuns.

O corpo também faz parte dessas novas tendências reflexivas


a partir da qual se formam os conceitos desenvolvidos pela arte
contemporânea. Ele se comporta como veículo construtor de uma
identidade específica quer esta venha sob a forma de um protesto
contra uma doença, a AIDS, por exemplo, (que marcou profundamente
toda uma geração) quer venha sob a forma de luta por uma forma
específica de sexualidade ou mesmo pelo simples culto à sua inserção
dentro dos padrões estéticos da contemporaneidade.

O corpo emerge do universo pós-moderno como um tema que envolve


sexo, religião, efemeridade, enfim, um campo vasto de narrativas
das quais o artista contemporâneo se apropria para contar as suas
histórias e as de seu tempo. Dessa forma, sai do plano individual
e torna-se porta voz de uma universalidade própria de um mundo
globalizado onde conceitos e ideias se universalizam.

Para Cristina Machado, artista pernambucana, a argila é muito mais


do que a matéria primordial; é uma ponte entre seu mundo interior
e o Cosmos. Em seu trabalho, o contato com a argila transcende a
manipulação. Todo seu corpo físico é envolvido no processo servindo,
ora como fôrma, ora como ferramenta ou suporte.
Pesquise...
A artista foi convidada a participar da Oficina do Ferro com artistas, Resistência
ferreiros e designers. O projeto abrangeu o período de dezembro de 2004 Inexistência-Oficina do
a março de 2005. Ela produziu, então, um objeto para ser vestido, para Ferro, 2005. Christina
Machado.
abrigar seu corpo: uma armadura de ferro. O corpo é a referência da obra.
Estreitamento entre arte/vida
Nesse trabalho ele (o corpo) é explorado em suas possibilidades de estar
e não estar dentro do invólucro férreo projetado para contê-lo. Embora
transite com desenvoltura pelo universo masculino, o trabalho de Cristina
Machado tem a preocupação de abordar, a partir de suas experiências
pessoais, os conflitos femininos, suas relações afetivas, as relações
paradoxais de força e fragilidade da mulher numa sociedade que a tratade
uma maneira desigual.

71
A partir desse olhar sobre a condição feminina é que se processa o registro
acima exposto. A artista cria uma armadura de ferro que é também uma
metáfora em relação ao corpo feminino preso pelas leis sociais em uma
gaiola construída para ou por ela mesma. Essa representação de uma
memória corporal torna-se um canal valioso de questionamento acerca
do poder, da sexualidade e da identidade.
Outros artistas abordam também o corpo como meio de expressão
para uma atitude inconformista e angustiada diante da efemeridade
da vida, da degradação gradativa dos corpos em um contexto onde a
juventude é colocada como a expectativa máxima. A realidade da morte,
que permanece em paralelo às conquistas da ciência que prolongam a
sensação de juventude ao mesmo tempo em que descobertas cosméticas
prometem a eterna juventude, está sempre presente juntamente com
suas possibilidades ou (im) possibilidades.

Essas vertentes da arte contemporânea, aqui exemplificadas, nos


dão a dimensão do quanto a arte se confunde com a vida na pós-
modernidade bem como do quanto conceitos e meios se tornaram
comuns nos vários espaços culturais do Ocidente.

Entretanto, em meio a essa homogeneização conceitual, para


o verdadeiro criador, seu discurso marca sua criação. E ele é
baseado em sua realidade por mais que o global esteja presente
nela. A memória de cada um, suas vivências, sua cultura, enfim,
sua percepção do mundo está por trás da sua produção artística. A
contemporaneidade brasileira acompanha meios e questionamentos
universais, mas aquele que cria faz parte de uma realidade dentro da
diversidade brasileira.

Sobre alguns artistas citados


●● Sebastião Pedrosa: Nascido no interior de Pernambuco, em
Macaparana, possui Licenciatura em Filosofia pela Universidade
Católica de Pernambuco (1969), mestrado em Arte Educação
pela Birmingham Polytechnic (1982) e doutorado em Arte pelo
Programa de Pós-Graduação em Arte - University of Central
England in Birmingham (1993). Atualmente é Professor Associado
da Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência na área
de Artes, com ênfase em Ensino da Arte, atuando principalmente
nas linhas de pesquisa: ensino da arte e processos criativos em
arte.

●● José Rufino: O artista nasceu em João Pessoa, Paraíba onde vive


e trabalha. Desenvolveu sua jornada artística passando da poesia

72
para a poesia-visual e, em seguida, para a arte-postal e desenhos,
nos anos 80. O universo do declínio das plantações de cana-de-
açúcar no Brasil conduziu seu trabalho inicial em desenhos e
instalações com mobiliário e documentos de família e institucionais.
Filho de ativistas políticos presos pela ditadura do regime militar
brasileiro nos anos 60, o artista é também muito conhecido pelos
seus trabalhos de caráter político. O diálogo dicotômico entre
memória e esquecimento contamina seu trabalho. É professor da
Universidade Federal da Paraíba fazendo parte do Programa de
Pos graduação em Artes Visuais. (fonte: site do artista)

●● Christina Machado: A artista nasceu em 1957 em Belém do


Pará e partiu para o Recife. Adolescente, inicia seus estudos de
pintura. Integrou a primeira turma do Curso de artes Plásticas da
Universidade Federal de Pernambuco. Inicialmente envolvida com
a cerâmica sob a forma de esculturas migra para performances e
instalações tendo o barro como material preferido.

Revisão
Intensas e profundas modificações marcaram e marcam o planeta nas últimas décadas.
Pelo menos no que diz respeito ao Ocidente hegemônico. Os meios de comunicação de
massa promoveram a transformação do planeta em uma aldeia global e, pelo menos de
forma teórica, colocaram as nações em um mesmo patamar. Dessa forma, as populações
das áreas mais longínquas do planeta puderam se integrar a uma nova concepção de
nação: aquela agrupada de forma geopolítica e cultural em torno de eixos de influência
econômica e cultural.

O Brasil não fugiu a esse processo de universalização e participou, portanto, dos


acontecimentos que ocorreram em escala mundial. As novas tecnologias de informação
permitiram aos brasileiros tomarem contato com acontecimentos internacionais e
nacionais com a rapidez dos novos tempos. Todo esse panorama repercute no país como
um todo. Em escala local, transformações internas também se processam. A partir da
década de 80, o país foi marcado por transformações específicas: pela abertura política e
pela transição democrática com o fim do regime militar.

As práticas artísticas pós-modernas envolvem múltiplos meios tais como os tradicionais


(pintura, escultura, arquitetura, gravura) e os mais contemporâneos e não convencionais
como objetos, instalações ou performances. Em paralelo processa-se uma
interdisciplinaridade com os vários campos do conhecimento e a arte cada vez mais se
aproxima da vida. O artista contemporâneo se volta para temas que abordam a memória,
as heranças, o corpo, a efemeridade da vida, o anonimato nas grandes cidades, a
estetização da política, a fusão dos meios de expressão, as questões de gênero, de sexo
e de espiritualidade entre outros conceitos que povoam, cada vez em maior numero e
diversidade, as abordagens da arte contemporânea.

73
Atividades
O professor deve propor através de fórum ou atividade didática uma reflexão sobre o
conjunto de temas mais presentes na arte contemporânea tais como aqueles que
envolvem a memória, as heranças, o corpo, a efemeridade da vida, o anonimato nas
grandes cidades, a estetização da política, a fusão dos meios de expressão, as questões
de gênero, de sexo e de espiritualidade. O aluno deve escolher uma destas abordagens
e pesquisar um artista contemporâneo que a contemple.

74
Referências
CANTON, Kátia. Novíssima arte brasileira: um guia de
tendências. São Paulo: Iluminuras, 2001.

CATTANI, Icleia Borsa. (org.) Mestiçagens na Arte


Contemporânea. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007.

CARDOSO, Rafael. A arte brasileira em 25 quadros (1790-


1930). Rio de Janeiro: Record, 2008.

DEMPSEY, Amy. Estilos, Escolas e Movimentos: guia


enciclopédico da Arte Moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós - modernidade. Rio


de Janeiro DP&A Editora,2006.

LONTRA, Marcos. Todas as paisagens do mundo in. http://www.


raulcordula.com.br/criticas.aspx?id=12

MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense,


1990.

SANTOS, José Mário Peixoto. Os artistas plásticos e a


performance na cidade de Salvador: um percurso histórico-
performático. 2007. 285 f. il. Dissertação (Mestrado em
ArtesVisuais) - Escola de Belas Artes, Universidade Federal da
Bahia, Salvador.

SANTAELLA, Lucia. Culturas e Artes do Pós-humano: da


cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.

TEIXEIRA, João Gabriel L. C. (Org.). Performáticos,


performance e sociedade. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1996.

TEIXEIRA DA COSTA, Cacilda. Arte no Brasil 1950-2000:


movimentos e meios.São Paulo: Alameda ,2006.

VERGINE, Lea. Body art: the body as a language. USA: Skira,


2000.

WEITEMEIER, Hannah. Yves Klein. International Klein Blue.


Germany: Taschen, 2001.

ZACCARA, Madalena. Anotações sobre as artes visuais na


Paraíba. João Pessoa: Ideia, 2009.

__________________. Sebastião Pedrosa: entre a docência e

75
o ateliê in O artista contemporâneo pernambucano e o ensino da
arte:Recife: UFPE, 2011.

__________________. Alice Vinagre. Anotações sobre suas


séries: texto e imagem como veículos para o resgate da memória
in O artista contemporâneo pernambucano e o ensino da arte:
Recife: UFPE, 2011.

__________________. MORGADO Itamar. Cristina Machado:


o barro como segunda pele in O artista contemporâneo
pernambucano e o ensino da arte: Recife: UFPE, 2011.

ZANINI, Walter. (Org.) Historia Geral da Arte no Brasil. São


Paulo: Instituto Walter Moreira Salles, 1983

76
Sobre a Autora

Madalena Zaccara
É doutora em História da Arte pela Université Toulouse II, Toulouse,
França. Professora Associada do Departamento de Teoria da Arte
e Expressão Artística da Universidade Federal de Pernambuco.
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
UFPE-UFPB. Membro da ANPAP (Associação Nacional dos
Pesquisadores de Artes Plásticas). Líder do Grupo de Pesquisas Arte
Cultura e Memória. É autora de vários livros, capítulos de livros e
artigos.

77

You might also like