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História Da Arte No Brasil - Volume 3 v27
História Da Arte No Brasil - Volume 3 v27
Volume 3
Madalena Zaccara
Recife, 2013
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Gabriel Rivas de Melo
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Mônica Maria Lins Santiago
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Batista Dubeux Júnior
Pró-Reitor de Planejamento: Romildo Morant de Holanda
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior
Apresentação..................................................................................................................... 5
Sobre a introdução das vanguardas europeias no contexto da arte
brasileira do início do século XX..................................................................................... 7
Sobre a introdução dos primeiros movimentos de vanguarda europeus no
contexto brasileiro.................................................................................................... 13
Sobre a Semana de Arte Moderna de 1922.............................................................. 15
Alguns artistas citados no capítulo............................................................................ 19
A afirmação do modernismo em terras brasileiras: os grupos.................................. 27
Sobre o Surrealismo ................................................................................................ 27
Sobre a abstração..................................................................................................... 28
O CAM: Clube dos artistas modernos....................................................................... 33
Sobre o Salão de Maio e seu papel na afirmação do modernismo
brasileiro.................................................................................................................... 33
O Grupo Santa Helena.............................................................................................. 34
A Família Artística Paulista (FAP)............................................................................. 35
O Núcleo Bernardelli................................................................................................. 36
O Grupo dos Independentes..................................................................................... 37
Sobre os artistas citados no capítulo........................................................................ 38
Da introdução e afirmação do modernismo através da obra de alguns
artistas.............................................................................................................................. 51
A pioneira Anita Malfatti............................................................................................. 51
Lasar Segall: o lituano que foi um dos precursores do modernismo
brasileiro.................................................................................................................... 53
Um pouco sobre Di Cavalcanti.................................................................................. 53
Sobre Vicente do Rego Monteiro.............................................................................. 55
Victor Brecheret: o escultor do modernismo brasileiro............................................. 55
Tarsila do Amaral: a musa dos manifestos modernistas........................................... 56
Candido Portinari: uma poética de fixação do modernismo no Brasil....................... 57
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 59
A chegada da abstração no país.................................................................................... 63
Sobre a abstração enquanto linguagem artística...................................................... 63
Sobre a introdução do vocabulário abstrato no Brasil.............................................. 65
Outras concepções abstratas no universo artístico brasileiro................................... 68
Alguns artistas citados no capítulo............................................................................ 70
Referências...................................................................................................................... 79
Sobre a Autora................................................................................................................. 80
Apresentação
Para podermos compreender o comportamento das Artes Visuais na contemporaneidade
é preciso levar em conta as profundas alterações e desafios pelos quais passou
o século XX em todos os seus aspectos. Foi, um período, antes de qualquer coisa,
marcado por duas grandes guerras que envolveram e abalaram o mundo ocidental.
Outros fatos também marcaram este século, tais como, a emergência do comunismo
com a Revolução Russa de 1917, que contribuiu significativamente para essas
mudanças uma vez que gerou certo remanejamento político na Europa, o que se
refletiu, posteriormente, nas relações com os Estados Unidos, um dos vitoriosos do
segundo conflito em escala mundial. O processo de industrialização que se acelerou,
cada vez mais, ajudando a concentrar a renda na mão de poucos também contribuiu
marcantemente para as transformações do período.
A primeira enfatiza a atitude emocional do artista para como mundo e com ele próprio
e vai aparecer em alguns movimentos de vanguarda: o Fauvismo e o Expressionismo
Alemão. Na segunda corrente a pesquisa se volta para a estrutura formal da obra de
arte o que encontramos no Cubismo, no Futurismo e na Abstração Geométrica. Já
a terceira vertente diz respeito às características espontâneas da imaginação que
podemos observar no Dadaísmo e no Surrealismo. São as chamadas vanguardas
artísticas da primeira metade do século XX.
O mais importante é que, sob todos esses conceitos, para o artista do século XX foi
imperioso o inovar. Uma atitude que foi quase o Santo Graal de sua época. Nessa
missão, eles tentaram compreender e definir e, mesmo, reformar a nova sociedade que
se apresentava e que o cercava.
No Brasil, as vanguardas vão chegar de forma mais lenta. Enquanto na Europa (França)
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o Fauvismo acontece a partir do Salão de Outono realizado em 1905, em Paris, no
Brasil ele vai aparecer inicialmente na obra de Anita Malfatti exposta em 1917.
Nesse volume, vamos estudar as transformações pelas quais passa a história da arte
brasileira, desde esta Semana marco até a introdução das linguagens abstratas que
vão acontecer na medida em que o processo de industrialização do país se faz mais
importante.
A autora.
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C a p í t u l o 10
Objetivos
●● Compreender o momento político social e econômico das primeiras décadas do
século XX no Brasil;
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eles, como líder. Cada um deles tem uma obra diferente, mas todos
têm um elo em comum: o impacto da cor.
Figura 1. Henri Matisse. A Alegria de viver. 1905-6. Óleo sobre tela. 1.74 x 2.38 m. Fundação
Barnes. Pensilvânia. Domínio Público. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Bonheur_Matisse.
jpg
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em mente o descanso e o prazer do olhar do espectador. É uma
superfície decorativa mais do que uma cena descritiva. Uma abordagem
extremamente positiva da vida.
O estilo próprio que eles deram à produção do grupo fez com que
o expressionismo fosse particularizado como um produto alemão,
porém ele se processou, de maneira isolada, em vários países e foi
revisitado por indivíduos ou grupos na pós-modernidade. Podemos
recordar esse movimento através do trabalho de um de seus principais
membros, o artista Ernest Ludwig Kirchner (Figura 2).
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Figura 2. Ernest Ludwig Kirchner. Os pintores de A Ponte. 1926. Óleo sobre tela. Domínio
Público. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:EineK%C3%BCnstlergemeinschaft.
jpg?uselang=pt
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tempo, fugir das formas reconhecíveis da natureza e, seu trabalho era
cada vez mais abstrato.
No que diz respeito ao Cubismo, seu objetivo principal era uma nova
construção para a forma. As pesquisas cubistas não tinham ligação
com aspectos emocionais ou espirituais, mas sim, um olhar curioso
e analítico sobre a desconstrução da imagem. Eles queriam quebrar
sua aparência estática e enfocá-la sob múltiplos pontos de vista.
Como se qualquer coisa pudesse ser vista de todos os lados e ao
mesmo tempo.
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momento a tela de Georges Braque Violino e Pitcher, feita em 1910,
que representa muito bem essa fase da investigação cubista.
Pesquise...
Violino e Pitcher. Na tela em questão os objetos são fragmentados a partir de múltiplos
Georges Braque. 1910. pontos de vista. Esses fragmentos estão organizados em uma estrutura
compacta e quase monocromática. A imagem é composta a partir dos
dois objetos vistos de uma variedade de ângulos que tornam o sujeito
mais sugerido do que descritos. Assim, as figuras, quebradas em facetas
angulares, mal deixam perceber formas reconhecíveis da natureza e
chegam a uma quase abstração.
É um flerte com a não objetividade e uma maneira de fazer o espectador
usar mais a sua própria imaginação a partir da possibilidade de uma
percepção em estado de fluxo contínuo, sem descansos ou paradas.
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Sobre a introdução dos primeiros
movimentos de vanguarda europeus no
contexto brasileiro
O cenário brasileiro no período que antecede e propicia a introdução
de um vocabulário moderno no Brasil se caracterizou pela presença
de um desenvolvimento industrial e urbano em várias cidades
brasileiras. Principalmente na cidade de São Paulo, aquela que se
tornou a grande metrópole brasileira da atualidade.
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A exposição de Segall não trouxe muito impacto para o cenário artístico
brasileiro, mas a de Anita Malfatti gerou grande impacto na crítica e
na opinião pública e Anita foi o estopim do modernismo. Nela, além
do olhar expressionista da artista, segundo Walter Zanini (1983:513) a
mesma já introduz o cubismo e alguns elementos futuristas:
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da cultura brasileira embora, na atualidade, alguns pesquisadores
levantem a simultaneidade das ideias modernistas em outras capitais
do país, como é o caso de Recife. Entretanto, o evento - organizado
por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da
Independência – é ainda o símbolo oficial do início do processo de
rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes
artísticas anteriores.
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a Semana. Prado era um próspero homem de negócios, abria sua
casa aos jovens intelectuais e seria o principal financiador do evento
enquanto que Graça Aranha era escritor, diplomata e integrava a
Academia Brasileira de Letras trazendo seu prestígio intelectual como
aval.
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Figura 3. Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à
esquerda de Anita), em São Paulo, Brasil, 1922. Domínio Público. Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Arte-moderna-1922.jpg
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Embora com suas não poucas contradições, a
Semana de 1922 representou, ao aglutinar esforços
dispersos em várias áreas poéticas e valendo-se do
escândalo, o primeiro gesto coletivo de rejeição do
passadismo em que aqui remansavam a expressão
icônica, musical e verbal. E mesmo indo além de
tudo isto, ela não deixava de exprimir anseios
mais vastos que idealizavam o país integrado ao
diapasão das sociedades evoluídas. A partir de
então outros desdobramentos consolidaram o
Modernismo.
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Presidido por Gilberto Freire, O Movimento Regionalista, datado de
1926, buscava desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste
nos novos moldes modernistas. Propõem trabalhar em favor dos
interesses da região, além de promover conferências, exposições de
arte, congressos etc. Para tanto, editaram uma revista. Todos esses
manifestos tiveram eco nas artes visuais embasando a produção
artística daquele período através de suas ideologias.
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como desprovido de talento.
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adolescência foi passada na cidade portuária Le Havre, mas no
ano de 1899 mudou-se para Paris onde, estudou com Bonnat. Em
1906, ele expôs no Salão dos Independentes suas primeiras obras
em estilo fauvista. Em 1907 conheceu Picasso e até 1914 eles
colaboraram na construção do Cubismo.
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técnica pictórica de acordo com as tendências contemporâneas
que eram, principalmente, cubistas e expressionistas. Sua primeira
mostra individual no Brasil aconteceu em 1914, teve pouca
repercussão. A segunda teve lugar em 1917. Por conta dela Malfatti
foi duramente criticada pelo escritor Monteiro Lobato. Participou
da Semana de 22. Seu trabalho apresenta traços fauvistas,
principalmente os exibidos na exposição de 1914.
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órgãos de imprensa da época, como a revista Panóplia, ou os
jornais O Pirralho, A Cigarra e Vida Moderna, atuando como
ilustrador, desenhista, caricaturista ou escrevendo crônicas
literárias. Participou da Semana de Arte Moderna de 22, no Teatro
Municipal de São Paulo, a convite do amigo Guilherme de Almeida,
com quem escreveu contos.
Revisão
O cenário brasileiro no período que antecede e propicia a introdução de um vocabulário
moderno no Brasil se caracterizou pela presença de um desenvolvimento industrial e
urbano em várias cidades brasileiras e principalmente na cidade de São Paulo, aquela
que ia se tornar a grande metrópole brasileira da atualidade.
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de textos consagrados de nossa literatura, considerados até então como intocáveis. A
imprensa, assim colaborava para a divulgação das ideias próprias da modernidade.
A cidade São Paulo, pano de fundo da Semana de Arte Moderna de 1922, era na época
do acontecimento uma urbe com cerca de 500 mil habitantes onde a metade deles era
italiana ou descendente. Uma cidade provinciana. Poucos telefones e raros automóveis
nas ruas. O café movia a cidade e o país respondendo por 70% das exportações.
O grupo modernista era composto por escritores como Oswald de Andrade, Mário de
Andrade, Menotti Del Picchia, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Agenor Barbosa,
Plínio Salgado, Ronald de Carvalho, Tácito de Almeida, Manuel Bandeira, Cândido Motta
Filho e Sérgio Milliet. Dela também participaram os pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti,
Ferringnac, Zina Aita, Yan de Almeida Prado, Vicente do Rego Monteiro. e John Graz; os
escultores Victor Brecheret e W. Haeberg e Hildegard Veloso; os arquitetos Antônio Moya
e George Przirembel.
Atividades
Esse é um trecho do texto Paranóia ou Mistificação: a propósito da exposição de Anita
Malfatti, escrito por Monteiro Lobato. O professor deve disponibilizar no chat e pedir aos
alunos que discorram sobre o enunciado trazendo na oportunidade questionamentos
sobre a natureza da arte e do artista.
“Há duas espécies de artistas”. Uma composta dos que vêm as coisas e em consequência
fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida e adotados para a concretização
das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres.
Quem trilha esta senda, se tem gênio é Praxiteles na Grécia, é Rafael na Itália, é
Reynolds na Inglaterra, é Dürer na Alemanha, é Zorn na Suécia, é Rodin na França, é
Zuloaga na Espanha. Tem-se apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que
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gravitam em torno desses sóis imorredouros.
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C a p í t u l o 11
A afirmação do
modernismo em terras
brasileiras: os grupos
Objetivos
●● Conhecer o processo de afirmação do modernismo no Brasi;
Sobre o Surrealismo
A busca da liberdade de imaginação foi a premissa principal de um
movimento cuja plataforma foi lançada pelo poeta francês André
Breton em 1924. O termo Surrealismo foi empregado inicialmente
(desde 1917) pelo crítico, também francês, Guillaume Apollinaire
que através dele queria descrever alguma coisa que estava além da
realidade. Que a ultrapassava. Breton se apropria dele para utilizá-lo
em seu manifesto de 1924: o Primeiro Manifesto do Surrealismo.
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é o caso da mexicana Frida Kahlo. Dali, um dos mais conhecidos
artistas associados ao movimento, trabalhou com vários meios
(escultura, pintura, design, cinema, cenários), mas o traço comum
em sua obra é a capacidade de operar associações inesperadas, de
criar estranheza em relação ao que é familiar. É o caso de seu objeto
Telefone Lagosta.
Salvador Dali. 1938. Poucos artistas impactaram tanto o século XX quanto o espanhol Salvador
Dali com sua obra que associa sua fantasia excentricidades à sua própria
maneira de viver. Seus trabalhos representam um mundo onírico no qual
objetos banais se transmutam, de maneira ilógica, em um embate entre o
reconhecível e o indecifrável que provoca constantemente uma sensação
de estranhamento no espectador. A associação de um telefone e de uma
lagosta que seria segundo ele “um método espontâneo de conhecimento
irracional” é uma dos exemplos de uma vasta gama de telas, filmes,
esculturas e objetos de aspectos e associações insólitas. Desse objeto
de design surrealista foram produzidas apenas quatro peças. Uma delas
encontra-se na Tate Gallery, em Londres, a segunda está no Museu
do Telefone alemão, em Frankfurt; a terceira pode ser encontrada na
Fundação Edward James e a quarta está na National Gallery of Austrália.
Sobre a abstração
Arte abstrata é uma forma de expressão que não busca referências
no mundo que está ao nosso redor. São obras que não têm como
objetivo a representação de formas reconhecíveis. Em sentido amplo,
portanto, abstracionismo refere-se às formas de arte não regidas pela
figuração e pela imitação do mundo.
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A Arte Abstrata ou informal surgiu em torno de 1910, na Europa. Ela se
inclina para a emoção, para o ritmo, a cor e à expressão. Kandinsky
foi o pioneiro dessa abstração, com Primeira Aquarela Abstrata
(1910) e a série Improvisações (1909/1914). Ele retirou da pintura
(e consequentemente de qualquer expressão das Artes Visuais)
a obrigatoriedade de representação da realidade, inaugurando o
processo abstracionista. Um exemplo desse momento marco da arte
abstrata é o quadro sobre o qual nos deteremos a seguir de Vassily
Kandinsky, intitulado Composição IV.
Pesquise...
Composição IV. Vassily
A composição do artista revela suas preocupações com a cor e a forma.
Kandinsky. 1911.
O desenrolar dos planos é abstrato. Algumas formas se sobrepõem às
outras e são cruzadas por linhas retas ou curvas. Essa sobreposição de
planos é incessante em movimentos bruscos organizando, assim sua
profundidade.
As linhas e os planos, as cores e a significação que esses elementos
podem sugerir ao espírito tornam a leitura do quadro extremamente
subjetiva. Seu significado diz respeito ao observador e ao diálogo
estabelecido em relação à obra.
29
Enquanto a pura emoção norteia a abstração lírica ou informal, na
abstração geométrica de Mondrian a razão passa por cima da emoção
e se buscam nas formas geométricas a expressão do mundo e da vida.
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Sobre a Sociedade Pro - Arte Moderna
(SPAM) e suas atividades em prol da
afirmação moderna
Em 1932, dez anos depois da realização da Semana de Arte Moderna
(SAM) surge o SPAM em São Paulo. Apoiado pela aristocracia
paulista o SPAM tem como objetivos estreitar as relações entre
artistas e pessoas que se interessam pela arte em todas as suas
manifestações; promover exposições, concertos, reuniões literárias e
dançantes; realizar sorteio de obras entre os membros; e criar uma
sede social que se torne um espaço de festas e exibições.
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As festividades, tão enfatizadas nas referências aos feitos da
Sociedade, são pontos altos de sua trajetória. O Carnaval na Cidade
de SPAM, realizado nos salões do Trocadero em 16 de fevereiro de
1933, passou-se em uma cidade imaginária construída com painéis
pintados. Sob a direção de Lasar Segall que planejou e executou
a decoração da festa. A festa pode ser vista, entretanto, como uma
ampla criação coletiva, dirigida por Segall, que envolve pintura,
Pesquise... música, literatura e esquetes teatrais.
Painel para O Carnaval
da cidade de Spam.
Lasar Segall. 1933 A cenografia projetada e executada por Segall com a ajuda de seus
companheiros projetava uma cidade em miniatura que comportava
bares, restaurante, praça pública, prefeitura, cadeia, zoológico, presídio,
circo. Comportava ainda, monumentos, moeda própria e imprensa,
cuja publicação denominava-se A Vida de SPAM e estava sob a
responsabilidade de Mário de Andrade, Alcântara Machado e Sérgio
Milliet.
Os painéis pintados definiam o espaço dessa cidade imaginária. O
elenco, exclusivamente composto por integrantes do SPAM (84 “atores”),
representava os papéis de figuras características de uma cidade, como o
“prefeito”, o “policial” etc.
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O CAM: Clube dos artistas modernos
Com uma atitude mais independente do patrocínio da aristocracia
paulista e tendo como característica um programa atuante o Clube
dos Artistas Modernos (CAM) foi criado em 24 de novembro de 1932,
um dia depois da fundação da Sociedade Pro - Arte Moderna (SPAM).
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Em 1938, na sua segunda versão, o Salão de maio reuniu artistas
locais de forma expressiva bem como alguns artistas do exterior como
Ceri Richards e Roland Penrose, ambos de tendência surrealista,
o que nos da uma ideia do processo da tentativa de atualização do
Pesquise... modernismo brasileiro com as vanguardas europeias. Outro artista
Penas. 1931. Alexander importante que compareceu ao Salão foi Ben Nicholson, uma das
Calder. Arame, madeira, principais figuras da arte abstrata, movimento do qual falaremos mais
chumbo.
longamente a posteriori.
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vivo, decidindo sobre a remessa de obras aos salões e organizando
as famosas excursões de fim de semana aos subúrbios da cidade
para execução de pinturas ao ar livre.
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obras de Bonadei, Volpi, Malfatti (os primeiros modernistas aderem
Pesquise... a FAP também) Clovis Graciano, Pennacchi, Rossi Osir entre outros.
Paisagem do Bairro da Ela tinha catálogo com apresentação do crítico Paulo Mendes de
Saúde, Paulo Rossi Osir. Almeida.
1933.
O Núcleo Bernardelli
O Núcleo Bernardelli foi fundado em 12 de junho de 1931, no Rio de
Janeiro, por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição
ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes. Ele possuía
como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a
profissionalização dos seus artistas.
Pesquise...
36
Troncos no Campo de
Santana, Edson Motta.
1937.
Bustamante Sá, Milton Dacosta, Ado Malagogi, Sigaud, entre outros,
bem como os preceptores Bruno Lechowski, Manuel Santiago e
Quirino Campofiorito.
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afirma Nise (2008: 40). Informações cubistas e expressionistas já
Pesquise... compõem o vocabulário do artista Augusto Rodrigues em 1930.
Santa Rosa Pintando,
Augusto Rodrigues. 1930. A pintura em questão traz em seu bojo evocações expressionistas
Guache sobre papel, c.i.e. e cubistas em um momento pernambucano onde se inicia o processo
30 x 27 cm
acadêmico da Escola de Belas Artes de Recife. O artista dá ênfase às
mãos de Santa Rosa, seu amigo e também pintor. Sua pintura, lírica
traz uma sensibilidade cromática junto com uma grande concisão
formal. Nela a figura é a presença predominante. Os acessórios apenas
complementam a cena.
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●● Alberto Giacometti: O artista nasceu na Suiça em 1901 e faleceu
em 1966. Distingui-se por suas esculturas expressionistas. Inicia
a sua formação em Genebra de onde foi para para Paris. Nessa
época conheceu alguns dos principais pintores dadaístas, cubistas
e surrealistas que influenciaram o seu início de carreira. Adere ao
movimento surrealista entre 1930 e 1934, período em que produziu
algumas obras fundamentais para a caracterização da escultura
surrealista.
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podem ou não serem preenchidos com uma cor primária: amarelo,
azul e vermelho.
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1955. Iniciou sua formação artística aos 14 anos como aprendiz
de um arquiteto. Em 1900 foi para Paris onde ingressou na Escola
de Artes Decorativas. A partir de 1911 conheceu Picasso e Braque
de quem recebeu influências cubistas que lhe acompanharam
durante toda a sua trajetória. A partir de 1920 passou a investir
em uma temática onde predomina a figura humana enquadrada
por elementos industriais. Foi dessa época seu contato com Tarsila
do Amaral a que muito influenciou em determinada fase de sua
carreira.
41
e de temática religiosa.
42
1898 e 1976. Desde cedo esteve envolvido com as artes. Em 1923
passou a estudar desenho na Art Students League, em Nova York,
concluindo o curso em 1926. Escultor, ele notabilizou-se por dar
mobilidade, movimento à escultura com a criação do móbile.
43
Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista.
44
dedica-se à pintura. Sua pintura tem grande influência no meio
artístico paulistano.
45
visita a vários países da Europa, fixa-se em Paris, onde estuda na
Académie de La Grande Chaumière. Em 1949, passa a residir em
São Paulo.
46
curso de pintura na ENBA em 1920. Recebe o prêmio viagem
ao exterior em 1929, vai para Paris e lá permanece até 1932,
estudando no Ateliê de Pongheon da Académie Julien. Retorna ao
Brasil em 1935, vai morar no Rio de Janeiro. Dá aulas de desenho
e artes decorativas até 1949 na Enba. Participa do Núcleo
Bernardelli.
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poeta. Foi um dos primeiros artistas modernos a pintar murais em
Recife. Participa do Grupo dos Independentes.
Revisão
O espírito de associação tornou-se bastante evidente na década de trinta no cenário
artístico brasileiro. Principalmente nos núcleos hegemônicos (leia-se Rio de Janeiro e
São Paulo). Entretanto, outras cidades também manifestaram esse espírito coletivo no
sentido de difundir um espírito de modernidade no país. O caso de Recife é um dos que
mais chamam a nossa atenção com o Grupo dos Independentes do qual falaremos mais
tarde.
Entre os grupos que se fizeram presente no cenário artístico Rio/São Paulo destaca-se
a Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), entidade paulista que reunia figuras importantes
do início do modernismo; O Clube de Arte Moderna (CAM), também paulista, que traz
uma atitude mais profissional em relação ao papel do artista; O Salão de Maio, a Família
Artística Paulista (FAP) e o Grupo Santo Helena, também paulista. No Rio de Janeiro
funda-se o Núcleo Bernardelli e em Recife o Grupo dos Independentes.
Com uma atitude mais independente do patrocínio da aristocracia paulista e tendo como
característica um programa atuante o Clube dos Artistas Modernos (CAM) foi criado em
24 de novembro de 1932, um dia depois da fundação da Sociedade Pro - Arte Moderna
48
(SPAM). Tendo a frente o artista vanguardista Flávio de Carvalho a associação se
proclamava menos elitista e um espaço aberto para várias manifestações culturais.
Em São Paulo, em torno dos anos 1935-1936, um grupo de artistas de origem social
modesta concentrou-se em ateliers improvisados no Palacete Santa Helena que situava-
se no centro da capital do Estado. Sem programas preestabelecidos, o Santa Helena
surge da união espontânea de alguns artistas. Os artistas do grupo descendiam quase
todos de famílias de imigrantes italianos. Sua condição proletária, seu autodidatismo
de terem sido estudantes do Liceu de Artes e Ofícios contrastava com os primeiros
modernistas de origens burguesas ou aristocráticas.
Paulo Rossi Osir foi o responsável pela criação da FAP (Família Artística Paulista) em 1937.
É mais um exemplo do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas
na vida cultural do país ao longo da década de 1930. O Núcleo Bernardelli foi fundado
em 12 de junho de 1931, no Rio de Janeiro, por um conjunto de pintores comprometidos
com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes. Ele possuía
como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização
dos seus artistas. O Núcleo funcionou durante algum tempo nos porões da ENBA
e homenageava os antigos professores da Escola: Rodolfo e Henrique Bernardelli.
O grupo, denominado de Grupo dos Independentes, surgiu em Recife no início dos anos
30 (1933) quase que ao mesmo tempo em que a Escola de Belas Artes de Recife (1932).
Jovens artistas plásticos, desenhistas e caricaturistas, pintores e escultores objetivaram
propagar o modernismo na cidade.
Atividades
O professor deve pedir aos alunos através de exercício colocado no Chat do curso que
cada um pesquise um artista de cada grupo responsável pela difusão do modernismo
no país. O aluno deve também trazer uma obra do artista pesquisado e analisá-la. As
informações serão intercambiadas e discutidas entre professores e alunos.
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C a p í t u l o 12
Da introdução e afirmação
do modernismo através
da obra de alguns artistas
Objetivos
●● Analisar a obra de alguns artistas brasileiros e sua importância na introdução e
difusão do vocabulário moderno;
51
O fato é que ela, naquele momento, era portadora de uma linguagem
que, segundo Zanini (1983:513):
52
1922 fazem caminho semelhante.
53
do movimento modernista em uma de suas etapas mais importante:
a organização da Semana de Arte Moderna de 1922. Já a partir de
1923, data de sua viagem à Europa, aquele que se iniciou nas artes
através da caricatura transforma sua linguagem. Seu estilo artístico é
marcado pela influência do expressionismo, cubismo e dos muralistas
Pesquise... mexicano. Seu modernismo o leva a resultados como O Beijo onde as
O Beijo, Di Cavalcanti. novas linguagens estéticas se incorporam ao seu vocabulário.
ca. 1923
O trabalho apresenta um expressionismo natural e impulsivo, nascido da
necessidade de satirizar, de combater e demolir próprio do caricaturista
que Di Cavalcanti foi. Seu expressionismo era uma forma de manifestar
socialmente seu estranhamento à rotina enquanto que o uso de cores
fortes, quase fauves acompanha essa sua rebeldia. Na tela, as figuras
são atrofiadas e cheias de violência. Mais um devorar que um beijar. Um
senso de humor muito rico, e muito sutil conduz o olhar do espectador.
54
Sobre Vicente do Rego Monteiro
Originário de Pernambuco, nascido em Recife, em 1899, numa
família de artistas. Vicente do Rego Monteiro, em 1911, já estava
em Paris cursando a Academia Julian. Em 1913 participou do Salão
dos Independentes, na capital francesa, mantendo contato com as
vanguardas artísticas de sua época. De volta ao Brasil em 1917, em
pleno momento catalisador do modernismo brasileiro, ele em 1918,
realiza a sua primeira arte individual, no Teatro Santa Isabel, no
Recife, e dois anos mais tarde expõe pela primeira vez em São Paulo,
onde entra em contato com Di Cavalcanti, Malfatti, Brecheret, enfim,
com os artistas e intelectuais que desencadeariam a Semana de Arte
Moderna da qual participou.
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Escultor com amplo domínio técnico, seus trabalhos apresentam um
tratamento naturalista da anatomia e uma contida dramaticidade, que
se expressa por meio de torções do corpo e de volumes trabalhados
em luz e sombras acentuadas. Sua obra se destaca pelas figuras
elaboradas com grande síntese formal, simplificação dos detalhes e
linhas estilizadas o que podemos perceber na obra Bailarina.
56
cenário artístico francês daquele momento.
57
e percorre vários países durante dois anos. Em 1935, recebe prêmio
do Carnegie Institute de Pittsburgh pela pintura Café, tornando-se o
Pesquise... primeiro modernista brasileiro premiado no exterior.
Café, Portinari, Candido.
1935. A partir de Café, o humano, compreendido em termos sociais e
históricos, torna-se a tônica da arte de Portinari, voltada para a captação
da realidade natural e psicológica, para uma expressividade, ora
serena e grave, ora desesperada e excessiva. Seguindo o exemplo
dos muralistas mexicanos, ele procura sua imagística nacional,
alicerçada no trabalho e em suas raízes rurais. O artista concede
dignidade ao trabalhador e dá destaque ao personagem popular.
Nessa obra vemos a paisagem, pisamos o chão; vemos o trabalhador,
seu esforço, sua pobreza, mas também sua nobreza. Ele os descreve
com amor.
Pesquise... Essa fase culmina com a obra Retirantes hoje pertencente ao acervo
do MASP.
Retirantes. Candido
Portinari.
A dignidade que o artista confere ao personagem popular não nos torna
mais atraídos por ele. Seus homens e mulheres famintos e desesperados
nos enchem de assombro e mesmo de medo. Um mundo macabro que
não queremos olhar, pois ele faz parte de nossos pesadelos.
Aos poucos ele, Portinari, penetra nossas defesas em relação aos
seus personagens retirados de um Brasil que não queremos tomar
conhecimento e percebemos com quanto amor esse artista sensível
olhou para esses espantalhos saídos de um país esquecido: o Brasil
que teima em aparecer no universo dos nossos harmônicos e tropicais
cartões postais.
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linguagem moderna ao Brasil pela paixão com que se dedicou aos
muitos temas que o atraíram. Exerceu influência em todo um país
tendo seu trabalho que foi e é reconhecido muito além do universo
dos seus pares. Candido Portinari sozinho foi um dos que mais
contribuíram para a dinamização do modernismo em terras brasileiras.
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leciona desenho no Liceu de artes e Ofícios. Viaja para Paris em
companhia de Almeida Júnior, como pensionista do Estado de São
Paulo, e frequenta o ateliê de René-Loui Chrétien e a Académie
Fernand Carmon. Retorna ao Brasil na primeira década do século
XX, estabelece-se em São Paulo, onde leciona desenho e pintura.
Revisão
Alguns artistas, de forma isolada, contribuíram para a consolidação do modernismo no
espaço artístico brasileiro. Sua atuação aproximou o público das linguagens ligadas às
vanguardas europeias. Esses artistas passaram por vários grupos e desenvolveram
várias fases em suas poéticas. Sua grande importância é introduzir um novo vocabulário
plástico e muitas vezes adaptá-los à cultura local.
Lasar Segall, artista lituano radicado no país, contribui fortemente para a introdução
da linguagem das vanguardas europeias no Brasil e mais ainda para a consolidação
da modernidade no país que elegeu. Membro atuante da Sociedade Pro Arte Moderna
(SPAM) de São Paulo, ele pinta cenário para seus bailes e participa de suas exposições.
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do vocabulário moderno em terras brasileiras.
Victor Brecheret, que é um dos participantes da histórica Semana de 1922, volta-se para a
retratação dos costumes e retrata a cultura indígena brasileira em terracota, bronze e pedra.
É um momento onde o nacionalismo está em alta e o artista o incorpora em sua produção.
Sua contribuição para a difusão do modernismo no Brasil se dá de forma individual e
coletiva tendo sido um dos primeiros sócios da Sociedade de arte Moderna, o SPAM.
Tarsila do Amaral, paulista de Capivari, aristocrata rural e posteriormente uma das musas
do movimento moderno no Brasil. Forma, em 1922, em São Paulo, o Grupo dos Cinco,
com Anita Malfatti, Mario de Andrade, Menotti del Pichia e Oswald de Andrade. Uma
reflexão conjunta sobre a modernidade se inicia. Tarsila foi uma importante figura do
modernismo brasileiro não só por sua obra, mas também por suas atitudes inovadoras.
Dividiu-se durante muito tempo entre Paris e São Paulo e tornou-se símbolo de uma
nova mentalidade que envolvia o social e o artístico no Brasil da época.
Candido Portinari foi um artista de muitas fases. Ele se impôs e impôs sua linguagem
moderna ao Brasil pela paixão com que se dedicou aos muitos temas que o atraíram.
Exerceu influência em todo um país tendo seu trabalho que foi e é reconhecido muito
além do universo dos seus pares. Candido Portinari sozinho foi um dos que mais
contribuíram para a dinamização do modernismo em terras brasileiras.
Atividades
O professor-tutor dentro do chat disponível deverá colocar imagens dos artistas citados
como importantes para a introdução e a afirmação do modernismo no Brasil. Deve
solicitar a leitura da obra pelos alunos pedindo que estes façam um paralelo com as
vanguardas europeias detectando assim suas influências na modernidade brasileira.
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C a p í t u l o 13
A chegada da abstração
no país
Objetivos
●● Compreender noções gerais da linguagem abstrata e sua introdução no universo
artístico europeu e americano;
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vamos recorrer a imagens de Kandinsky, do abstracionismo informal
ou lírico e do artista Mondrian representante do Neoplasticismo
Holandês.
Pesquise...
Composição IV. Vassily A composição do artista revela suas preocupações com a cor e a forma.
Kandinsky. 1911. O desenrolar dos planos é abstrato. Algumas formas se sobrepõem às
outras e são cruzadas por linhas retas ou curvas. Essa sobreposição de
planos é incessante em movimentos bruscos organizando, assim sua
profundidade.
As linhas e os planos, as cores e a significação que esses elementos
podem sugerir ao espírito tornam a leitura do quadro extremamente
subjetiva. Seu significado diz respeito ao observador e ao diálogo
estabelecido em relação à obra.
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Suprematismo, Construtivismo Russo e Concretismo) e se espalha
por outros espaços artísticos. Após a Segunda Guerra Mundial,
como mais outro exemplo, a América Latina passa por um forte surto
desenvolvimentista e industrial. O Brasil encontrava-se em momento
similar. No rastro dessa nova economia que implicava na necessidade
de uma arte com fins práticos o vocabulário concreto foi introduzido
Pesquise...
no país.
Movimento. Waldemar
Cordeiro. 1951.
Nos anos 50 Pollock operou uma renovação radical na ação de pintar
quando colocou telas no chão e gotejava tinta sobre elas diretamente
da lata ou por meio de uma vareta ou uma espátula criando formas
labirínticas.
O trabalho mostra um sentido de harmonia e ritmo e rompe com a
imagem do pintor contemplativo que realiza seu trabalho obedecendo a
um projeto. Os emaranhados de linhas e cores que explodem nas telas
de Pollock afastam qualquer ideia de mensagem a ser decifrada. A obra
tem que ser sentida.
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repercutiu no país então “o Realismo Social, movimento ideológico
de arte estimulado internacionalmente pelo Partido Comunista, sem
traços renovadores”.
Pesquise... Formas, ganha o título de Melhor Pintor Jovem nessa Bienal. Ele adere
ao concretismo e ao Grupo Frente no mesmo ano.
Formas. Ivan Serpa.
Na tela desaparecem referências ao mundo real, bem como a relação
1951.
harmoniosa entre figura e fundo. As obras são feitas bidimensionalmente
e planas, organizadas matematicamente.
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Essa arte concreta que se instala no Brasil na metade do século XX
deve ser compreendida como parte do movimento abstracionista
moderno, com raízes em experiências como a do grupo Neoplasticista
criado em 1917, na Holanda por Piet Mondrian, Theo van Doesburg,
Gerrit Thomas Rietveld entre outros e popularizado através de Max
Bill, um ex-aluno da Bauhaus13. Atenção
O impacto das representações estrangeiras na bienal se relaciona de
13
A escola Bauhaus
foi fundada por Walter
perto às modificações verificadas no meio social e cultural brasileiro. Gropius em 25 de abril
Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo iniciam processos de de 1919. Foi uma escola
de design, artes visuais e
metropolização, alimentados pelo surto industrial e pela pauta
arquitetura. Ela funcionou
desenvolvimentista, que alteram a paisagem urbana, social e artística entre 1919 e 1933 na
das duas maiores cidades brasileiras. Do ângulo das artes visuais, Alemanha e treminou
graças a perseguição
a criação dos museus de arte e de galerias que também criam nazista.
condições para a experimentação concreta nos anos 1950.
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se manifestavam contra a exclusão total do sensível preconizado pelo
radicalismo concreto paulista. O teórico do movimento Ferreira Gullar
foi também o autor do manifesto Neo-Concreto que acompanhou a I
Exposição de Arte Neoconcreta. Estava fundado o Neoconcretismo
em terras brasileiras.
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construtivas. O desenvolvimento desses temas
(não raro entrelaçados) e o uso de componentes
formais mais livres, assim como outras abstrações,
estenderam-se pelos anos 60.
Outra poética abstrata a ser lembrada aqui em meio as tantas que se Pesquise...
sucederam ser estarem ligadas a um grupo específico é a do artista
Raul Córdula. Sem
paraibano (de Campina Grande) Raul Córdula. Mergulhado nas Título. s/d. Fonte: Galeria
correntes construtivas ele transporta para o universo do abstrato as Gamela. http://www.
galeriagameladearte.
referências da cultura popular. Segundo o crítico Paulo Sergio Duarte com.br/trabalho.
(2000, p. 1) ele “foi ainda responsável pela preservação de ricas aspx?cod=6&img=38
manifestações da cultura popular que sem essa armadura tecida por
intelectuais da classe média não teriam sido sequer detectadas”.
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Os quadros de Raul Córdula são paisagens do
mundo, resultado de uma longa e elaborada
técnica que permite ao artista construir o seu
universo poético. A partir das cores e das
formas do mundo real ele cria novas analogias,
novas linguagens, comprometido com o ideário
modernista determinado pela clareza conceitual e
pela síntese dos elementos.
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linhas pretas ortogonais. Essas linhas definem espaços que se
relacionam de diferentes modos com os limites da pintura, e que
podem ou não ser preenchidos com uma cor primária: amarelo,
azul e vermelho.
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desenhista e professor. Em Budapeste, estuda na Academia Livre.
Muda-se, em 1925, para Paris, onde realiza caricaturas e retratos
em bares e cafés, estuda com André Lhote, Fernand Léger e Roger
Bissiere. Em 1940, após morar por um período em Lisboa, o casal,
fugindo do nazismo, transfere-se para o Rio de Janeiro. Passa a
dar aulas.
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●● Max Bill: O artista suiço nasceu em 1908 e faleceu em 1994. Foi
multidisciplinar: arquiteto, pintor, design, escultor professor e teórico
Tendo uma atuação especial na área de educação dodesign, sua
atuação como professor na Escola de Ulm influenciou a Escola
Superior de Desenho Industrial, no Brasil. Cursou na Arts and
Crafts Academy de Zurique e a Bauhaus do qual foi um seguidor
em termos de princípios. Abraçou o conceito universalista de
arte concreta de Van Doesburg. Influenciou a introdução do
Concretismono Brasil.
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Grupo Frente em 1955 e 1956 e, em 1959, passa a integrar o Grupo
Neoconcreto. Abandona os trabalhos bidimensionais e cria relevos
espaciais, bólides, capas, estandartes, tendas e penetráveis. Em
1964, começa a fazer as chamadas Manifestações Ambientais.
Na abertura da mostra Opinião 65. Trabalha toda sua vida na
experimentação e na teoria das Artes Visuais.
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naquela cidade em 2010. Pintor, desenhista, programador visual,
gravador. Inicia formação artística em 1926 e começa a pintar em
1940. Na década seguinte, realiza as primeiras pinturas concretas,
além de trabalhar como desenhista têxtil e projetar figurino para
o teatro. Viaja a estudo para a Europa em 1958, onde conhece
Max Bill, teórico do concretismo. Na década de 1960, convidado
por Ferreira Gullar integra-se ao Grupo Neoconcreto.
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em 1897 e foi estudar na Escola Profissional Masculina do Brás.
Mais tarde trabalha como marceneiro, entalhador e encadernador.
Em 1911, torna-se pintor decorador. Na década de 1930 passa a
fazer parte do Grupo Santa Helena. Em 1937 integra a FAP. Sua
produção inicial é figurativa, destacando-se marinhas executadas
em Itanhaem, São Paulo. Passa a executar, a partir da década
de 1950, composições que gradativamente caminham para a
abstração.
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●● Fayga Perla Ostrower: Nasce em Lodz, Polônia em 1920 e falece
no Rio de Janeiro, Brasil, em 2001. Gravadora, pintora, desenhista,
ilustradora, ceramista, escritora, teórica da arte, professora. Vem
para o Brasil em 1934. Cursa artes gráficas na Fundação Getúlio
Vargas em 1947. No início dos anos 1950 passa a produzir
obras abstratas. Em 1955, viaja para Nova York como bolsista da
Fulbright Comission. Trabalha no Brooklyn Museum Art School.
Revisão
A Arte Abstrata ou informal surgiu em torno de 1910, na Europa. Ela se inclina para a
emoção, para o ritmo, a cor e à expressão. Kandinsky foi o pioneiro dessa abstração,
Ele retirou da pintura (e consequentemente de qualquer expressão das Artes Visuais) a
obrigatoriedade de representação da realidade, inaugurando o processo abstracionista.
O abstracionismo formal ou geométrico por sua vez parte do princípio de que as formas e
as cores devem ser organizadas de tal maneira que a composição resultante seja apenas
a expressão de uma concepção geométrica: uma construção. Muitos são os artistas e
grupos que se envolveram com esse tipo de representação.
Nos anos 50, entretanto, aconteceram mudanças de ordem econômica com o advento
da industrialização no país. O governo de Juscelino Kubitschek proporcionou novo alento
desenvolvimentista. A construção da cidade de Brasília foi o símbolo desse período.
Dentro desse contexto um novo espaço abriu-se para o diálogo internacional com a arte
abstrata que veio no rastro dessa nova economia.
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Atividades
O professor deverá colocar duas imagens da arte abstrata no chat do curso. Uma lírica
e outra geométrica e deve pedir para que os alunos estabeleçam a diferença básica
entre elas no que diz respeito às diferenças entre as duas vertentes do abstracionismo.
Sugerimos que ele coloque uma imagem do Luis Sacilotto do Grupo Ruptura e outra de
Ligia Pape, do Grupo Frente.
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Referências
BENTO, Antonio. Portinari. Rio de Janeiro: Leo Christiano, 1980.
Madalena Zaccara
É doutora em História da Arte pela Université Toulouse II, Toulouse,
França. Professor Associado do Departamento de Teoria da Arte
e Expressão Artística da Universidade Federal de Pernambuco.
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
UFPE-UFPB. Membro da ANPAP (Associação Nacional dos
Pesquisadores de Artes Plásticas). Líder do Grupo de Pesquisas Arte
Cultura e Memória. É autora de vários livros, capítulos de livros e
artigos.
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