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Universidade Federal Rural de Pernambuco

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia

História da Arte no Brasil

Volume 3

Madalena Zaccara

Recife, 2013
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Gabriel Rivas de Melo
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Mônica Maria Lins Santiago
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Batista Dubeux Júnior
Pró-Reitor de Planejamento: Romildo Morant de Holanda
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia


Diretor Geral e Acadêmico: Francisco Luiz dos Santos
Coordenadora Geral da UAB: Marizete Silva Santos
Vice-Coordenadora Geral da UAB: Juliana Regueira Basto Diniz
Coordenadora de Cursos de Graduação: Sônia Virgínia Alves França
Coordenador de Produção de Material Didático: Rafael Pereira de Lira
Coordenador Pedagógico: Domingos Sávio Pereira Salazar

Produção Gráfica e Editorial


Capa: Rafael Lira e Igor Leite
Ilustração de Capa: Moisés de Souza
Projeto de Editoração: Rafael Lira e Italo Amorim
Diagramação: Arlinda Karla
Revisão Textual: Rita Barros

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão, por escrito, da Unidade Acadêmica
de Educação a Distância e Tecnologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos
102, 104, 106 e 107 da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Sumário

Apresentação..................................................................................................................... 5
Sobre a introdução das vanguardas europeias no contexto da arte
brasileira do início do século XX..................................................................................... 7
Sobre a introdução dos primeiros movimentos de vanguarda europeus no
contexto brasileiro.................................................................................................... 13
Sobre a Semana de Arte Moderna de 1922.............................................................. 15
Alguns artistas citados no capítulo............................................................................ 19
A afirmação do modernismo em terras brasileiras: os grupos.................................. 27
Sobre o Surrealismo ................................................................................................ 27
Sobre a abstração..................................................................................................... 28
O CAM: Clube dos artistas modernos....................................................................... 33
Sobre o Salão de Maio e seu papel na afirmação do modernismo
brasileiro.................................................................................................................... 33
O Grupo Santa Helena.............................................................................................. 34
A Família Artística Paulista (FAP)............................................................................. 35
O Núcleo Bernardelli................................................................................................. 36
O Grupo dos Independentes..................................................................................... 37
Sobre os artistas citados no capítulo........................................................................ 38
Da introdução e afirmação do modernismo através da obra de alguns
artistas.............................................................................................................................. 51
A pioneira Anita Malfatti............................................................................................. 51
Lasar Segall: o lituano que foi um dos precursores do modernismo
brasileiro.................................................................................................................... 53
Um pouco sobre Di Cavalcanti.................................................................................. 53
Sobre Vicente do Rego Monteiro.............................................................................. 55
Victor Brecheret: o escultor do modernismo brasileiro............................................. 55
Tarsila do Amaral: a musa dos manifestos modernistas........................................... 56
Candido Portinari: uma poética de fixação do modernismo no Brasil....................... 57
Sobre alguns artistas citados no capítulo................................................................. 59
A chegada da abstração no país.................................................................................... 63
Sobre a abstração enquanto linguagem artística...................................................... 63
Sobre a introdução do vocabulário abstrato no Brasil.............................................. 65
Outras concepções abstratas no universo artístico brasileiro................................... 68
Alguns artistas citados no capítulo............................................................................ 70
Referências...................................................................................................................... 79
Sobre a Autora................................................................................................................. 80
Apresentação
Para podermos compreender o comportamento das Artes Visuais na contemporaneidade
é preciso levar em conta as profundas alterações e desafios pelos quais passou
o século XX em todos os seus aspectos. Foi, um período, antes de qualquer coisa,
marcado por duas grandes guerras que envolveram e abalaram o mundo ocidental.
Outros fatos também marcaram este século, tais como, a emergência do comunismo
com a Revolução Russa de 1917, que contribuiu significativamente para essas
mudanças uma vez que gerou certo remanejamento político na Europa, o que se
refletiu, posteriormente, nas relações com os Estados Unidos, um dos vitoriosos do
segundo conflito em escala mundial. O processo de industrialização que se acelerou,
cada vez mais, ajudando a concentrar a renda na mão de poucos também contribuiu
marcantemente para as transformações do período.

As Artes Visuais, naturalmente, refletiram essa situação política, econômica e social.


Os artistas que vivenciaram essas mudanças radicais redirecionaram seus projetos
para uma expressão que refletisse o seu tempo. O novo tornou-se a palavra de ordem
e se manifestou sob as mais diversas formas e pesquisas. Para o artista, de uma forma
geral, foi necessário afirmar sua liberdade de criar e para através dela tentar reformular
a sociedade. O desafio aos padrões estabelecidos passou a ser uma causa pessoal.
Essas pesquisas experimentais levaram aos chamados movimentos de vanguarda que
subtendem como uma postura que está à frente de seu tempo. Novos horizontes eram
necessários e, nessa busca, parecia não ter muita importância o que ficou para trás.

Nesse processo de adequação aos novos tempos e de renovação da linguagem


das Artes Visuais, segundo Jason (1971), três correntes principais fizeram a cena.
Inspiradas nos pós-impressionistas encontraram essas tendências marcantes: a
expressão, a abstração e a fantasia.

A primeira enfatiza a atitude emocional do artista para como mundo e com ele próprio
e vai aparecer em alguns movimentos de vanguarda: o Fauvismo e o Expressionismo
Alemão. Na segunda corrente a pesquisa se volta para a estrutura formal da obra de
arte o que encontramos no Cubismo, no Futurismo e na Abstração Geométrica. Já
a terceira vertente diz respeito às características espontâneas da imaginação que
podemos observar no Dadaísmo e no Surrealismo. São as chamadas vanguardas
artísticas da primeira metade do século XX.

O mais importante é que, sob todos esses conceitos, para o artista do século XX foi
imperioso o inovar. Uma atitude que foi quase o Santo Graal de sua época. Nessa
missão, eles tentaram compreender e definir e, mesmo, reformar a nova sociedade que
se apresentava e que o cercava.

No Brasil, as vanguardas vão chegar de forma mais lenta. Enquanto na Europa (França)

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o Fauvismo acontece a partir do Salão de Outono realizado em 1905, em Paris, no
Brasil ele vai aparecer inicialmente na obra de Anita Malfatti exposta em 1917.

A atualização da visualidade brasileira com a europeia oficialmente se inicia com


a Semana de Arte Moderna de 1922. Inserida nas festividades comemorativas
do centenário da independência do Brasil. O evento aconteceu como a primeira
manifestação coletiva pública na história cultural brasileira a favor de um espírito novo
e moderno em oposição à cultura e à arte de teor conservador, predominantes no país
desde o século XIX.

Entretanto, sem ter programa estético definido, o acontecimento desempenha na


história da arte brasileira muito mais uma etapa, um marco no sentido de alertar para a
modernidade que acontecia lá fora do que um acontecimento construtivo de propostas
e criação de novas linguagens.

Nesse volume, vamos estudar as transformações pelas quais passa a história da arte
brasileira, desde esta Semana marco até a introdução das linguagens abstratas que
vão acontecer na medida em que o processo de industrialização do país se faz mais
importante.

No intervalo entre o início simbólico da introdução do Modernismo no país, através


da Semana de arte Moderna de 1922 e a assimilação das linguagens abstratas
passaremos pela consolidação deste modernismo. Essa fixação do novo vocabulário vai
acontecer entre a década de 20 e a de 50 e envolve a presença de grupos que atuaram
nas principais cidades brasileiras e nas regiões não hegemônicas. Ela (a afirmação
do Modernismo) ocorreu também a partir de determinadas poéticas individuais que se
destacaram no cenário das artes visuais daquele momento no país.

A autora.

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C a p í t u l o 10

Sobre a introdução das


vanguardas europeias no
contexto da arte brasileira
do início do século XX

Objetivos
●● Compreender o momento político social e econômico das primeiras décadas do
século XX no Brasil;

●● Conhecer a Semana de Arte Moderna de 1922;

●● Observar a introdução dos primeiros movimentos de vanguarda europeus em um


Brasil ainda acadêmico;

●● Anotações sobre o Fauvismo, Expressionismo Alemão e Cubismo: os principais


movimentos de vanguarda europeus assimilados pelo modernismo brasileiro no
início do século XX.

A designação Fauvismo foi tirada de uma crítica feita por Louis


Vauxcelles sobre o Salão de Outono de 1905, realizado no Grand
Palais1, em Paris. Ela se referia ao trabalho de um grupo de jovens Atenção
artistas que se voltavam para a representação pictórica de paisagens 1
O Grand Palais des
e outros temas desprovidos de grandiosidade utilizando cores Beaux Arts, conhecido
popularmente como
primárias e contrastantes de acordo com a vontade do autor. Grand Palais começou
a ser construído em
O crítico francês, comparando essas pinturas (para ele chocantes 1897 para abrigar a
por suas cores intensas, a espontaneidade da técnica e a banalidade Exposição Universal
de 1900. Destacado
dos temas) com uma escultura de Donatello que se encontrava pelo estilo eclético
no mesmo espaço, batizou o grupo de “fauves”, ou seja, feras em de sua arquitetura, o
edifício reflete o gosto
português. A designação visava desmerecer o grupo. Entretanto, este
pela rica decoração e
a acolheu como apropriada para descrever seus objetivos e o termo ornamentação nas suas
se transformou em uma bandeira para o movimento: o Fauvismo. fachadas de pedra.

Os fauves se constituíram no primeiro grupo de vanguarda do século


XX. Porém, eles nunca se destacaram pela organização em torno de
um programa ou um manifesto. Era bem mais uma associação de
artistas que partilhavam os mesmos objetivos, hábitos de vida e um
trabalho em comum. Eles tinham Henri Matisse, o mais velho entre

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eles, como líder. Cada um deles tem uma obra diferente, mas todos
têm um elo em comum: o impacto da cor.

Por volta de 1906 os fauves foram vistos como os pintores de


expressão mais avançada em Paris. Entretanto, essa notoriedade
foi breve. Cada artista seguiu seu próprio caminho posteriormente.
Exceção para Matisse que permaneceu um fauve e foi um dos
artistas mais cultuados do século XX: um século rápido em seus
avanços tecnológicos, suas transformações e movimentos artísticos.
Podemos recordar as características fauves através do trabalho de
Henri Matisse intitulado Alegria de Viver (Figura 1).

Figura 1. Henri Matisse. A Alegria de viver. 1905-6. Óleo sobre tela. 1.74 x 2.38 m. Fundação
Barnes. Pensilvânia. Domínio Público. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Bonheur_Matisse.
jpg

Grandes manchas de cor envolvidas por contornos marcados e fortes


conferem, (juntamente com seu tema) à obra um caráter primitivo,
tão buscado por Paul Gauguin em suas andanças e registros, o que
naturalmente inspirou Matisse nessa pintura.
O prazer sensorial da volta à natureza nos remete à uma espécie de
paganismo prazeroso bem de acordo com a busca daqueles artistas
franceses naquele começo de século. A simplicidade das poses dos
personagens que parecem retirados de um hipotético éden não escondem
o olhar e a técnica do autor treinado na Academia. Entretanto, o artista
se compraz com a insinuação desses conhecimentos. A espontaneidade
do traço e a fantasia das cores são mais importantes e revolucionários.
Diante da composição compreendem-se os novos princípios da
imaginação, da cor e da simplicidade de uma expressão que tinha

8
em mente o descanso e o prazer do olhar do espectador. É uma
superfície decorativa mais do que uma cena descritiva. Uma abordagem
extremamente positiva da vida.

Entretanto, enquanto os fauves na França davam livre expressão


a um estado de espírito libertário e descontraído, na Alemanha a
tendência expressionista estava mais ligada a uma postura ideológica
e expressava um estado de espírito individual e subjetivo que sofria
grande influência de um período pré-bélico pelo qual passava aquele
país.

Com suas cores violentas, suas linhas agudas e agressivas e sua


temática de solidão e de miséria o expressionismo, nas artes visuais
daquele país, propunha transformar a vida, buscar novas dimensões
para a imaginação e renovar as linguagens artísticas. Esses objetivos
se refletem nas suas várias linguagens através das quais ele se
expressa. Ou seja: na arquitetura, pintura, escultura e cinema.

Ele defende a liberdade individual, a expressão subjetiva, o


irracionalismo, o arrebatamento e os temas conflituosos tais como o
demoníaco, a sexualidade, a fantasia ou a perversão. Enfim, aquilo
que colocasse para fora as angústias da alma humana.

O Expressionismo Alemão nasceu da atividade de dois grupos


com contextos semelhantes e propostas diferentes: A Ponte e O
Cavaleiro Azul. Os componentes do Die Brucke (A Ponte) trabalharam
seus temas a partir da emoção. Figurativos, fizeram opção pelas
cores puras e violentas além de linhas agudas e expressivas para
representar uma temática de crítica social e sobre a angústia da
condição humana. Eles acreditavam que, por meio da arte, poderiam
criar um mundo que fosse melhor para todos.

O estilo próprio que eles deram à produção do grupo fez com que
o expressionismo fosse particularizado como um produto alemão,
porém ele se processou, de maneira isolada, em vários países e foi
revisitado por indivíduos ou grupos na pós-modernidade. Podemos
recordar esse movimento através do trabalho de um de seus principais
membros, o artista Ernest Ludwig Kirchner (Figura 2).

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Figura 2. Ernest Ludwig Kirchner. Os pintores de A Ponte. 1926. Óleo sobre tela. Domínio
Público. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:EineK%C3%BCnstlergemeinschaft.
jpg?uselang=pt

Trata-se de um retrato do grupo mostrando alguns de seus fundadores.


Da direita para a esquerda podemos ver Otto Mueller, Kirchner, Heckel e
Schmidt Rottluff. Eles organizaram uma oficina em Dresden, Alemanha,
na qual eles pintavam, esculpiam a madeira, faziam xilogravuras e
discutiam projetos comuns.
Na composição podemos ver as características da pintura do grupo:
o desenho simplificado, as formas exageradas e agressivas, as
cores ousadas e contrastantes e uma temática baseada no mundo
contemporâneo.
Através da visão dos membros fundadores do movimento podemos
considerar que a oposição entre a “juventude” e as “velhas forças”, por sua
vez, pode ser entendida de forma literal: estes artistas de A Ponte tinham,
nesta época, entre vinte e dois e vinte e cinco anos; e as mudanças que
desejavam promover diziam respeito, a sua própria vida e a arte de seu
tempo.

O Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul) foi um grupo de artistas


que apareceu e aconteceu em Munique. Foi um dos dois maiores
movimentos do Expressionismo Alemão juntamente com aquele que
estudamos: A Ponte.

A vontade maior dos artistas do grupo (que se destacou principalmente


em dois de seus mais notórios membros, Vassily Kandinsky e Paul
Klee) era buscar uma maneira de fugir, cada vez mais, da velha e
detestada realidade. Suas ações nesse sentido impactaram ainda
mais a chamada vanguarda internacional. Dessa vez, eles não
buscavam só a liberação da ditadura das cores, mas também da
própria forma. Kandinsky, mais especialmente, buscava já há certo

10
tempo, fugir das formas reconhecíveis da natureza e, seu trabalho era
cada vez mais abstrato.

É esse processo teórico que Kandinsky expressa em seu trabalho


Improvisação de 1914 que mostraremos a seguir.
Pesquise...
Improvisação. Klamm,
Nesse momento da trajetória do artista já notamos uma preocupação 1914. Vassily Kandinsky.
maior em representar formas e linhas do que objetos reconhecíveis.
Entretanto, nesse momento ele ainda não é totalmente abstrato. Algumas
formas ainda podem ser identificadas. Mesmo assim o seu estilo pode
ser considerado desde então como não objetivo e se manifesta pelo
objetivo de dotar a forma e a cor de um significante espiritual eliminando
a semelhança com o mundo físico.
A sensação de vitalidade e sentimentos que nos transmite essa obra
passa na frente de qualquer tentativa de leitura ou de definição. Talvez por
isso, Kandinsky evitou nomes descritivos e adotou nomes tão intuitivos
e abstratos quanto às formas que pintou. Fantasias em tornos de uma
escala cromática associadas às formas instintivas traduzem sentimentos
inconscientes: é esse o propósito do artista.

Com a chegada da Primeira Guerra Mundial o grupo se desfez.


Kandinsky regressou a sua terra natal, a Rússia, e Marc, que com
ele formavam a espinha dorsal do grupo, morreu na luta. Entretanto,
a mensagem ficou e sobrevive, passando por vários movimentos,
inclusive o Expressionismo Abstrato que vai se consolidar nos Estados
Unidos após o segundo conflito mundial.

No que diz respeito ao Cubismo, seu objetivo principal era uma nova
construção para a forma. As pesquisas cubistas não tinham ligação
com aspectos emocionais ou espirituais, mas sim, um olhar curioso
e analítico sobre a desconstrução da imagem. Eles queriam quebrar
sua aparência estática e enfocá-la sob múltiplos pontos de vista.
Como se qualquer coisa pudesse ser vista de todos os lados e ao
mesmo tempo.

A pesquisa cubista tem duas fases: a analítica e a sintética, embora


alguns autores incluam uma fase cezaniana nessa cronologia.
Temos o Cubismo Analítico, que aconteceu entre 1910 e 1912, onde
os artistas priorizavam a forma ao máximo. Ela era decomposta e
recomposta novamente sobre um mesmo plano. O monocromatismo
imperava. Era necessário abandonar a pluralidade de cores em nome
da pesquisa formal. Naquele momento, a forma foi tão distorcida que
se chegou quase à abstração. Picasso, Braque e seus companheiros
pensaram e analisaram as possibilidades de representar a forma
de todas as maneiras, inclusive através da sobreposição. É desse

11
momento a tela de Georges Braque Violino e Pitcher, feita em 1910,
que representa muito bem essa fase da investigação cubista.
Pesquise...
Violino e Pitcher. Na tela em questão os objetos são fragmentados a partir de múltiplos
Georges Braque. 1910. pontos de vista. Esses fragmentos estão organizados em uma estrutura
compacta e quase monocromática. A imagem é composta a partir dos
dois objetos vistos de uma variedade de ângulos que tornam o sujeito
mais sugerido do que descritos. Assim, as figuras, quebradas em facetas
angulares, mal deixam perceber formas reconhecíveis da natureza e
chegam a uma quase abstração.
É um flerte com a não objetividade e uma maneira de fazer o espectador
usar mais a sua própria imaginação a partir da possibilidade de uma
percepção em estado de fluxo contínuo, sem descansos ou paradas.

A fase seguinte da pesquisa foi nomeada de Cubismo Sintético. Os


artistas partiram para um modo de expressão que tinha um assunto
mais reconhecível. Além disso, eles passaram a incorporar materiais
estranhos ao universo da pintura: as colagens cubistas.

Foi nesse momento, em que Juan Griz também se juntou ao grupo,


que Picasso incorporou um pedaço de oleado à sua pintura, Natureza
Pesquise... Morta com cadeira de palha. O fato foi uma revolução que abriu
Natureza Morta com espaço para as muitas pesquisas que se sucederam em outros
cadeira de palha. Pablo momentos da História da Arte. A partir daquele momento, quando
Picasso. 1911-1912.
elementos tirados (por exemplo) da cesta do lixo foram incorporados
à pintura, a distinção entre a profundidade pintada e a profundidade
real deixou de existir. Conseguiu-se a verdadeira tridimensionalidade.

Em 1912, Picasso realizou essa sua primeira colagem, Natureza morta


com cadeira de palha. A técnica utilizada pelo artista assinala a transição
da pesquisa efetuada por ele e Braque do Cubismo Analítico para o
Sintético.
Nessa obra, objetos fragmentados, planos e perspectivas se associam a
jogos ilusionistas em duas e três dimensões. A tela de palhinha que faz o
fundo do que se assemelha a uma bandeja é uma colagem (papier collé).
É um material real assim como a corda que envolve essa Natureza Morta.
A obra é muito mais nítida no que se refere ao tema, cores e texturas. A
introdução de textos na composição também abriu uma nova perspectiva
para as Artes Visuais no sentido da interdisciplinaridade das linguagens.

A experiência cubista evoluiu passando a adquirir ares de movimento


com novos artistas respondendo as suas propostas e se integrando
as suas diretrizes mesmo interpretando-as de forma pessoal.

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Sobre a introdução dos primeiros
movimentos de vanguarda europeus no
contexto brasileiro
O cenário brasileiro no período que antecede e propicia a introdução
de um vocabulário moderno no Brasil se caracterizou pela presença
de um desenvolvimento industrial e urbano em várias cidades
brasileiras. Principalmente na cidade de São Paulo, aquela que se
tornou a grande metrópole brasileira da atualidade.

Esse crescimento urbano aliado a uma imigração bastante forte


naquele momento contribuiu para a introdução de novas ideias e
uma maior receptividade para elas. O modernismo europeu atraiu
intelectuais paulistas para uma maior discussão sobre o novo e para Saiba Mais
uma contestação das linguagens artísticas acadêmicas que ainda 2
Em 1911, com ajuda
financeira da mãe, o
imperavam no universo cultural brasileiro. Através da imprensa da modernista Oswald de
época essas ideias passaram a ser expostas para um segmento da Andrade fundou a revista
população. O Pirralho. O polêmico
semanário, publicado aos
sábados, discutia política
Oswald de Andrade e Emílio Menezes, por exemplo, fundaram, já em
e costumes da época e
1911, a revista de arte O Pirralho2, cujos princípios questionavam tinha seções dedicadas
a arte brasileira. Nesse jornal divulgaram-se sátiras de textos a cinema, teatro e
esportes. A vida artística
consagrados de nossa literatura, considerados até então como da sociedade paulistana
intocáveis. A imprensa, assim colaborava para a divulgação das ideias passava pelas páginas
irreverentes do periódico.
próprias da modernidade. Esses primeiros tempos do modernismo
brasileiro caracterizaram-se, portanto, por uma tentativa de marcar
posições questionando modelos estabelecidos e sagrados.

O trabalho de Lasar Segall e a exposição de Anita Malfatti ,em 1917, Pesquise...


foram responsáveis pela introdução da linguagem expressionista no
Aldeia Russa. Lasar
país. A residência de Malfatti na Alemanha contribuiu para a incubação Segall. 1912.
dessa linguagem que explodiu na controvertida mostra que foi sua
segunda exposição no Brasil.

Nesse trabalho datado de um ano antes da primeira exposição do artista no


Brasil vemos traços nítidos cubistas. Ele só iria aderir ao expressionismo
alguns anos mais tarde. Lasar Segall experimentou todas as formas de
expressão de sua época. É um momento onde o artista ainda não havia
tomado contato com a temática brasileira que vai fazer parte da sua obra
a partir dos anos vinte quando se instala definitivamente no país.
Os traços cubistas e a data do trabalho demonstram o quanto o artista
estava ligado aos movimentos de vanguarda que aconteciam na Europa
e a sua importância posterior na introdução do modernismo no universo
artístico brasileiro.

13
A exposição de Segall não trouxe muito impacto para o cenário artístico
brasileiro, mas a de Anita Malfatti gerou grande impacto na crítica e
na opinião pública e Anita foi o estopim do modernismo. Nela, além
do olhar expressionista da artista, segundo Walter Zanini (1983:513) a
mesma já introduz o cubismo e alguns elementos futuristas:

Superando convenções de forma, cor e percepção


do espaço, ainda visíveis em obras de 1914 e
dominando os códigos técnicos, a sua linguagem
verticalizara-se em todos os sentidos. Alta
temperatura de cor e tensão gráfica equilibrava-
se agora na concisão da imagem subjetiva, onde
o anímico enraizamento expressionista recorria a
esquemas de construção cubo-futuristas..

O mais forte ataque à exposição veio do conceituado escritor


Monteiro Lobato, no artigo A propósito da exposição de Anita Malfatti
publicada no jornal O Estado de São Paulo, onde ele afirma que o
trabalho da artista era um “produto do cansaço e do sadismo de todos
os períodos de decadência”. E por aí caminha o artigo que, porém
suscitou a defesa de Oswald de Andrade em relação ao trabalho de
Malfatti. O escritor afirma que Anita estava simplesmente a serviço de
seu século.

Uma das obras mais impactantes desse momento da introdução no


Pesquise... território brasileiro das primeiras vanguardas europeias é a tela A Boba
onde Anita exercita toda a sua introspecção psicológica. Corajosa,
A boba. Anita Malfatti.
1915-16. com obras que fugiam à representação tradicional em pintura, Anita
Malfatti transmite sua inquietação artística e pessoal.

Tanto nas paisagens quanto nos retratos, a cor é o principal instrumento


da jovem Anita Malfatti. A obra A Boba revela essa preocupação intensa.
Neste trabalho, assim como em muitas outras obras do período , ela
revela o seu interesse em retratar o estado psicológico dos seus modelos.
A artista explorou as influências expressionistas adquiridas durante
seu aprendizado anterior na Alemanha e nos EUA. Uma força
selvagem, agressiva e dinâmica, e o uso da deformação expressa sua
inquietação. Anita utilizava modelos que pousavam na Independent
School of Art, em seu período de estudos americano, em troca de
alguns dólares. Essas pessoas, sem nenhuma ligação com o mundo
artístico, serviriam como modelos, inclusive para a tela em questão.

O marco simbólico da introdução da linguagem moderna no Brasil


foi a Semana de Arte Moderna (SAM), realizada em São Paulo, no
ano de 1922. Ela é considerada como um divisor de águas na história

14
da cultura brasileira embora, na atualidade, alguns pesquisadores
levantem a simultaneidade das ideias modernistas em outras capitais
do país, como é o caso de Recife. Entretanto, o evento - organizado
por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da
Independência – é ainda o símbolo oficial do início do processo de
rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes
artísticas anteriores.

O movimento modernista teve apoio do estado de São Paulo, que


patrocinou a vinda dos artistas do Rio de Janeiro para compor o
time de artistas de São Paulo. Fora o patrocínio oficial a Semana de
Arte Moderna foi financiada em boa parte pela plutocracia paulista,
formada principalmente pela oligarquia cafeicultora. Dessa forma, o
evento marco da modernidade brasileira foi articulado não de forma
espontânea, mas maturado por intelectuais embasados no poder
político e econômico de um Brasil emergente que necessitava da
modernidade como uma forma de inserção em um mundo que
mudava cada vez mais rapidamente.

Sobre a Semana de Arte Moderna de


1922
A cidade São Paulo, pano de fundo da Semana de Arte Moderna de
1922, era na época do acontecimento uma urbe com cerca de 500
mil habitantes onde a metade deles era italiana ou descendente. Uma
cidade provinciana. Poucos telefones e raros automóveis nas ruas. O
café movia a cidade e o país respondendo por 70% das exportações.
Nesta urbe, em vias de se transformar em metrópole, de um lado,
havia a aristocracia cafeeira, com suas mansões nos Campos Elíseos,
Higienópolis e Avenida Paulista. Do outro, os operários que moravam
em cortiços no Brás, Bexiga e Barra Funda. O evento denominado
de Semana de Arte Moderna aconteceu inserido nas festividades
comemorativas do centenário da independência do Brasil, em 1922.
Ele foi a primeira manifestação coletiva pública na história cultural
brasileira a favor de um espírito novo e moderno em conformidade
com as correntes estilísticas que vigoravam na Europa na época. Uma
espécie de atualização do vocabulário estético e artístico brasileiro.

Os protagonistas da semana, que dividiu a cultura brasileira, eram


gente de seus 20 ou 30 anos. Pessoas ligadas aos setores de classe
média ou aristocrática da sociedade. De outra geração, Paulo Prado
e Graça Aranha ao emprestarem o nome ao evento, apadrinharam

15
a Semana. Prado era um próspero homem de negócios, abria sua
casa aos jovens intelectuais e seria o principal financiador do evento
enquanto que Graça Aranha era escritor, diplomata e integrava a
Academia Brasileira de Letras trazendo seu prestígio intelectual como
aval.

Entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, realiza-se a SAM no


Theatro Municipal de São Paulo. O evento foi divulgado em jornais
e cartazes. Foi um festival com uma exposição com cerca de 100
obras e três sessões lítero-musicais. O programa previa, na primeira
parte, a conferência de Graça Aranha, A Emoção Estética na Arte
Moderna, ilustrada musicalmente por Ernâni Braga e literariamente
Pesquise... por Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho. Na segunda, uma
Cartaz da Semana de
palestra de Ronald, A Pintura e a Escultura Moderna do Brasil, com
Arte Moderna de 1922.
peças musicais de Braga.

No segundo dia do festival, o programa abria com uma conferência


de Menotti sobre os ideais das novas gerações paulistas, seguindo-

Pesquise... se textos de Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, Sérgio Milliet e Luís


Aranha.
Capa do Catálogo da
Exposição. Di Cavalcanti.
Finalmente, o terceiro momento foi uma noite musical, dedicada a
1922.
Villa-Lobos. A plateia vaiou muito os espetáculos criando um clima de
escândalo. Houve quem diga, entretanto, que tudo foi encenação de
Oswald de Andrade para promover o evento.

O grupo modernista era composto por escritores como Oswald de


Andrade, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Graça Aranha,
Guilherme de Almeida, Agenor Barbosa, Plínio Salgado, Ronald de
Carvalho, Tácito de Almeida, Manuel Bandeira, Cândido Motta Filho
e Sérgio Milliet. Dela também participaram os pintores Anita Malfatti,
Di Cavalcanti, Ferringnac, Zina Aita, Yan de Almeida Prado, Vicente
do Rego Monteiro e John Graz; os escultores Victor Brecheret e W.
Haeberg e Hildegard Veloso; os arquitetos Antonio Moya e George
Przirembel. Podemos observar a seguir a fotografia de alguns artistas
que compuseram a tão comentada SAM (Figura 3).

16
Figura 3. Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à
esquerda de Anita), em São Paulo, Brasil, 1922. Domínio Público. Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Arte-moderna-1922.jpg

Buscando inspiração na Semaine de Fêtes de Deauville3, França, Atenção


a intenção dos organizadores e participantes era a de transformar as 3
Deauville é uma cidade
comemorações do centenário em momento de emancipação artística. à beira mar, na região
Assim, a ideia de um festival trazendo manifestações artísticas da Normandia, França.
A Semaine de Fêtes de
diversas, tomou forma. Paulo Prado, homem influente e de prestígio Deauville, um festival de
na sociedade paulistana, conseguiu que outros barões do café e pintura, música e até de
moda, com declamação
nomes de peso patrocinassem, mediante doações, caracterizando de versos e tudo o
uma aceitação da aristocracia financeira paulista relativamente mais mais. Foi ela que serviu
de inspiração para os
cosmopolita e culta ou, pelo menos com necessidade de atualizar o
modernistas de 1922.
Brasil com outros centros mundiais.

O propósito da semana de arte moderna de renovar e transformar


o contexto artístico e cultural urbano brasileiro, tanto na literatura,
quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música, entretanto
só se processou lentamente nos próximos vinte anos que sucedem
o evento. Ela, a SAM, aconteceu muito mais como um marco dos
propósitos dos intelectuais brasileiros do que como uma realidade.
Chamar a atenção de forma impactante e mesmo iconoclasta para
a sociedade de então foi a sua grande importância. A intenção de
mudar, subverter uma produção artística, como também de criar
uma arte essencialmente brasileira, embora em sintonia com as
novas tendências europeias concretiza-se de forma lenta tanto nas
principais cidades do país quanto nas demais regiões. Segundo
Zanini (1983:502):

17
Embora com suas não poucas contradições, a
Semana de 1922 representou, ao aglutinar esforços
dispersos em várias áreas poéticas e valendo-se do
escândalo, o primeiro gesto coletivo de rejeição do
passadismo em que aqui remansavam a expressão
icônica, musical e verbal. E mesmo indo além de
tudo isto, ela não deixava de exprimir anseios
mais vastos que idealizavam o país integrado ao
diapasão das sociedades evoluídas. A partir de
então outros desdobramentos consolidaram o
Modernismo.

A consolidação dessa vontade de integrar a vida cultural e artística


brasileira a que acontecia na Europa hegemônica vai se processar
com a ajuda de grupos que, embora de curta duração e saídos de
segmentos sociais distintos, vão afirmar a presença de uma nova
linguagem no país.

Durante esse caminho o modernismo brasileiro vai passar por várias


fases representadas por movimentos e manifestos tais como o Pau
Brasil, o Antropofágico, o Anta e o Regionalista que acontece fora do
centro hegemônico: em Recife, no Nordeste do Brasil.

O Manifesto Pau Brasil Foi publicado pelo Correio da Manhã, em 18


de março de 1924. Nele, seu autor, Oswald de Andrade, defende uma
poesia ingênua, mas ingênua no sentido de não contaminada por
regras preestabelecidas para pensar e fazer arte. Primitiva. Oswald
atenta, durante todo o manifesto, para a necessidade dos brasileiros
estarem voltados à realidade do país de forma bem mais intensa do
que o que realmente é feito, vendo assim o Brasil de “dentro para
fora”. Ele era completamente contra certa visão estereotipada e
preconceituosa típica das belas-artes europeias que dominaram o
Brasil por muito tempo.

O Manifesto Antropófago (ou Manifesto Antropofágico) foi publicado


em 1928 também por Oswald de Andrade na Revista da Antropofagia
co - fundada pelo autor. Oswald afirma no seu manifesto que “só a
antropofagia nos une”, propondo “deglutir” o legado cultural europeu e
“digeri-lo” sob a forma de uma arte tipicamente brasileira.

Em resposta ao nacionalismo do Pau-Brasil, criticando o seu


nacionalismo europeizado o Manifesto do Verde - amarelismo ou
Escola da Anta era de um nacionalismo primitivista, ufanista e
identificado com o fascismo. Foi publicado em maio de 1929.

18
Presidido por Gilberto Freire, O Movimento Regionalista, datado de
1926, buscava desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste
nos novos moldes modernistas. Propõem trabalhar em favor dos
interesses da região, além de promover conferências, exposições de
arte, congressos etc. Para tanto, editaram uma revista. Todos esses
manifestos tiveram eco nas artes visuais embasando a produção
artística daquele período através de suas ideologias.

Alguns artistas citados no capítulo


●● Henri Matisse nasceu em 1869 em Cateau – Cambrésis, França
e faleceu em Nice, também naquele país em 1954. Só descobriu
sua paixão pelas artes aos 19 anos, enquanto trabalhava em um
escritório de advocacia. Desistiu do direito e se mudou para Paris
onde foi aluno de Bouguereau. Matriculou-se nas Beaux Arts onde
estudou com o simbolista Moreau. Encantou-se com o trabalho
dos impressionistas e, em 1905, ligou-se à Derain e foi para o sul
da França para estudar a luz. Foi um dos fundadores do fauvismo
e permaneceu fiel ao movimento até o fim.

●● Ernest Ludwig Kirchner: O artista nasceu na Alemanha em


1880 e morreu na Suiça em 1938. Foi um pintor e gravurista
expressionista com um trabalho caracterizado por cores intensas
e traços agudos e agressivos. Foi um dos cinco membros originais
do grupo A Ponte. Seu trabalho e o do grupo se inspirou em Van
Gogh e Edward Munch além dos fauves franceses.

●● Karl Schmidt-Rottluff: O artista nasceu na Alemanha em


dezembro de 1884 e faleceu em 1976. Matriculou-se no curso
de arquitetura na Universidade Técnica de Dresden e passou a
compor o grupo de artistas intitulado A Ponte. Ele é considerado
um dos maiores nomes do Expressionismo Alemão. Em 1937
sua obra foi considerada arte degenerada, termo utilizado pelo
regime nazista para descrever toda a arte moderna. Com o fim da
guerra e a vitória dos aliados ele passou a ocupar uma cadeira na
Universidade de Artes Plásticas de Berlim.

●● Otto Mueller: O artista nasceu em outubro de 1874 na Alemanha


e morreu naquele país em 1930. Foi um pintor e gravurista, de
estilo expressionista e fez parte do grupo A Ponte. A partir de 1894
(até 1896), estudou na Academia de Belas Artes em Dresden e
continuou seu estudo em Munique. Otto abandonou a Academia de
Belas Artes de Munique por ter sido considerado por um professor

19
como desprovido de talento.

●● Erich Heckel nasceu em 1883, na Alemanha e morreu em 1970.


Depois de estudar arquitetura em Dresden, Heckel fundou, em
1905, juntamente com outros expressionistas, o grupo Die Brücke,
ao qual pertenceu até 1913. Assumindo o estilo do grupo, as
paisagens, nus e motivos religiosos de sua autoria o revelaram
como um romântico entre os mestres do expressionismo. Proscrito
pelos nazistas, que o consideraram degenerado, sua obra foi
retirada dos museus em 1937. Depois da guerra, entre 1949 e
1955, foi professor na Universidade de Karlsruhe.

●● Wassily Kandinsky: Kandinsky nasceu em Moscou, Russia, em


1866 e faleceu na França em 1944. É considerado o pai da pintura
abstrata e durante toda a sua vida demonstrou interesse nas artes
visuais e música além de uma forte espiritualidade. Foi teórico
das artes visuais publicando ensaios e livros. Estudou Direito e
economia na Universidade de Moscou antes de se decidir pela
arte. Mudou-se para a alemanha e passou a estudar na Academia
de Artes de Munique. Em 1911 ele fundou o grupo vanguardista O
Cavaleiro Azul com o artista Franz Marc. Foi professor da Bauhaus
até ela ser fechada, em 1933, quando ele se exilou em Paris.

●● Paul Klee: O artista nasceu na Suissa em 1879 e faleceu em 1940


naquele mesmo país. Influenciado por seu pai, o professor de
música Hans Klee, Paul interessou-se primeiramente por música,
mas na adolescência sua vocação para as artes plásticas se fez
notar. Ele estudou na Academia de Belas Artes de Munique e,
estabelecendo-se naquela cidade, onde conheceu Kandinsky e
Franz Marc, entre outros artistas de vanguarda. Ele fez parte do
grupo expressionista alemão “O Cavaleiro azul”.

●● Pablo Picasso: O artista espanhol nasceu em 25 de outubro de


1881, em Málaga e faleceu em 8 de abril de 1973 em Mougins, na
França. Foi escultor, gravurista, ceramista, fez colagem, inventou
junto com Braque o Cubismo e transitou pelos mais diversos
estilos ao longo de sua trajetória. Foi um talento sem medidas que
se destacou no século XX. Influenciou seus contemporâneos e
até hoje serve de referência para as Artes Visuais. Sua primeira
experiência no aprendizado artístico foi na Escola de Artes de la
Coruña aos 11 anos. Em 1904 ele se fixou em Paris onde passou a
fazer parte da notória École de Paris.

●● Georges Braque: O pintor nasceu em Argenteuil, na França,


em 1882 e faleceu em Paris em 1963. A maior parte de sua

20
adolescência foi passada na cidade portuária Le Havre, mas no
ano de 1899 mudou-se para Paris onde, estudou com Bonnat. Em
1906, ele expôs no Salão dos Independentes suas primeiras obras
em estilo fauvista. Em 1907 conheceu Picasso e até 1914 eles
colaboraram na construção do Cubismo.

●● Paul Cézanne: O pintor nasceu em Aix- en - Provence, França,


em 1839 e faleceu naquela mesma cidade francesa em 1906. Ele
era filho ilegítimo de um rico banqueiro e quis ser artista desde
criança. Foi, por uma temporada à Paris com 22 anos, mas voltou
à cidade natal logo depois. Porém, em 1862, resolveu se fixar na
capital francesa. Suas obras foram recusadas no Salon de Paris
e ele expôs ao lado dos outros rejeitados como Manet, Pissarro e
Fantin - Latour. Não se considerava um Impressionista apesar de
expor com o grupo. Ele queria que a sua obra fosse mais sólida.
Caracterizou-se pela ousadia da cor e pela preocupação com
formas geométricas. Foi um dos inspiradores do cubismo.

●● Juan Griz: O artista espanhol nasceu em 1887 em Madri e morreu


em Paris em 1927. Foi um pintor de retratos e de Naturezas Mortas
e adquiriu notoriedade por sua participação no movimento cubista.
Mudou-se para Paris, jovem, onde se envolveu com Picasso e
Braque e passou a explorar os princípios do cubismo. Entre suas
contribuições está a abordagem de um tema de todos os ângulos
possíveis.

●● Lasar Segall: O artista nasceu em Vilna, na Lituania em 1891 e


faleceu em São Paulo em 1957 no Brasil. Pintor, gravador, escultor
e desenhista. De origem judaica, inicia os estudos de arte, em
1905, na Academia de Desenho do mestre Antokolski, em Vilna,
na Lituânia. Muda-se para a Alemanha em 1906 e estuda na
Escola de Artes Aplicadas e na Academia Imperial de Belas Artes,
em Berlim. Viaja para a cidade de Dresden, onde frequenta a
Academia de Belas Artes. No final de 1912, vem para o Brasil e
no ano seguinte expõe em São Paulo e Campinas. Volta ao Brasil,
onde fixa residência em São Paulo, no ano de 1923. Na capital
paulista, Lasar Segall é destaque no cenário do modernismo sendo
considerado um representante das vanguardas expressionistas
europeias.

●● Anita Malfatti: A artista nasceu na cidade de São Paulo, em 1889,


filha de pai italiano e mãe norte-americana, que foi sua primeira
professora de pintura. Com a ajuda de um tio e padrinho, Anita
pôde viajar para a Europa e Estados Unidos, desenvolvendo ali sua

21
técnica pictórica de acordo com as tendências contemporâneas
que eram, principalmente, cubistas e expressionistas. Sua primeira
mostra individual no Brasil aconteceu em 1914, teve pouca
repercussão. A segunda teve lugar em 1917. Por conta dela Malfatti
foi duramente criticada pelo escritor Monteiro Lobato. Participou
da Semana de 22. Seu trabalho apresenta traços fauvistas,
principalmente os exibidos na exposição de 1914.

●● Victor Brecheret nasceu em Farnese, Itália, em 1894 e faleceu


em São Paulo, Brasil em 1988. Escultor, considerado como o
responsável pela introdução do vocabulário moderno no Brasil.
Frequentou as aulas de entalhe em gesso e mármore do Liceu de
Artes e Ofícios da capital paulista. Estudou na Europa. Ligou-se
aos que compuzeram a semana de 1922 da qual tomou parte.

●● Vicente do Rego Monteiro nasceu em Recife, Pernambuco, em


1899 e faleceu naquela cidade brasileira em 1970. Foi pintor,
escultor, desenhista, ilustrador e artista gráfico. Iniciou seus
estudos artísticos em 1908, na Escola Nacional de Belas Artes
- Enba, no Rio de Janeiro. Em 1911, viajou com a família para
França, onde ele frequentou as Academias Colarossi, Julian e de
La Grande Chaumière. Participou do Salon des Indépendants, em
1913, em Paris manteve contato com os membros da conhecida
Ecole de Paris. No início da Segunda Guerra Mundial deixou a
França. Voltou ao Brasil e entrou em contato com aqueles que
fizeram a Semana de 1922 da qual foi um dos participantes.

●● Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (Di


Cavalcanti): O artista nasce no Rio de Janeiro em 1897 e
morre naquela cidade brasileira em 1976. Foi pintor, ilustrador,
caricaturista, gravador, muralista, desenhista, jornalista, escritor
e cenógrafo. Inicia sua carreira artística como caricaturista e
ilustrador, publicando sua primeira caricatura em 1914, na revista
Fon-Fon. Em 1917, reside em São Paulo, onde frequenta o curso
de Direito no Largo São Francisco juntamente com o ateliê de
Georg Elpons. Convive, então, com artistas e intelectuais paulistas
como Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Guilherme de
Almeida. Foi o idealizador e o principal organizador da Semana de
Arte Moderna de 1922.

●● Ferringnac (Inácio da Costa Ferreira) nasceu em Rio Claro em


São Paulo em 1892 e faleceu em São Paulo em 1958. Desde
os tempos de estudante na Faculdade de Direito do Largo São
Francisco (São Paulo), nos anos 10, colaborou para os principais

22
órgãos de imprensa da época, como a revista Panóplia, ou os
jornais O Pirralho, A Cigarra e Vida Moderna, atuando como
ilustrador, desenhista, caricaturista ou escrevendo crônicas
literárias. Participou da Semana de Arte Moderna de 22, no Teatro
Municipal de São Paulo, a convite do amigo Guilherme de Almeida,
com quem escreveu contos.

●● Zina Aita (Tereza Aita) nasceu em Belo Horizonte em 1900


e faleceu em Nápoles, Itália em 1967. Pintora, ceramista
e desenhista. Viaja para Florença, onde permanece entre 1914 e
1918, e realiza estudos com o artista Galileo Chini na Accademia
di Belle Arti di Firenze. Retornando ao Brasil, entra em contato com
os modernistas Manuel Bandeira e Ronald de Carvalho e participa
da Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo.

●● Yan de Almeida Prado: O artista nasce em Rio Claro no estado de


São Paulo em 1898 e morre na capital daquele estado em 1987.
Colecionador e escritor, João Fernando de Almeida Prado, era
descendente de uma tradicional família paulista. Participa como
pintor da Semana de Arte Moderna de 1922.

●● John Graz (John Luis Graz) nasceu em Genebra em abril de


1891 e faleceu em São Paulo em 1980. Foi pintor, ilustrador,
decorador escultor e artista gráfico. Iniciou sua formação artística
na Escola de Belas artes de Genebra. Foi um modernista. Trabalha
interdisciplinarmente com decoração de interiores. Participa da
Semana de arte Moderna de 1922.

●● Antonio Moya: O desenhista e arquiteto Antonio Moya nasceu


na cidade Atarfe na Espanha. Veio para o Brasilainda criança.
Formou-se pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Foi um dos
participantes da Semana de Arte Moderna de 1922.

Revisão
O cenário brasileiro no período que antecede e propicia a introdução de um vocabulário
moderno no Brasil se caracterizou pela presença de um desenvolvimento industrial e
urbano em várias cidades brasileiras e principalmente na cidade de São Paulo, aquela
que ia se tornar a grande metrópole brasileira da atualidade.

O modernismo europeu, considerado como o “novo” congregou intelectuais paulistas no


sentido de uma maior discussão e contestação das linguagens artísticas acadêmicas que
ainda imperavam no universo cultural brasileiro.

Oswald de Andrade e Emílio Menezes fundaram, já em 1911, a revista de arte O Pirralho,


cujos princípios questionavam a arte brasileira. Nesse jornal divulgaram-se, sátiras

23
de textos consagrados de nossa literatura, considerados até então como intocáveis. A
imprensa, assim colaborava para a divulgação das ideias próprias da modernidade.

O trabalho de Lasar Segall e a exposição de Anita Malfatti, em 1917, foram responsáveis


pela introdução da linguagem expressionista no país. Porém, o marco simbólico da
introdução da linguagem moderna no Brasil foi a Semana de Arte Moderna (SAM),
realizada em São Paulo, no ano de 1922.

A cidade São Paulo, pano de fundo da Semana de Arte Moderna de 1922, era na época
do acontecimento uma urbe com cerca de 500 mil habitantes onde a metade deles era
italiana ou descendente. Uma cidade provinciana. Poucos telefones e raros automóveis
nas ruas. O café movia a cidade e o país respondendo por 70% das exportações.

O evento denominado de Semana de Arte Moderna aconteceu inserido nas festividades


comemorativas do centenário da independência do Brasil, em 1922. Ele foi a primeira
manifestação coletiva pública na história cultural brasileira a favor de um espírito novo
e moderno em conformidade com as correntes estilísticas que vigoravam na Europa
na época. Entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, realiza-se a SAM no Theatro
Municipal de São Paulo sendo divulgada em jornais e cartazes.

Buscando inspiração na Semaine de Fêtes de Deauville, França, a intenção dos


organizadores e participantes era a de transformar as comemorações do centenário em
momento de emancipação artística.

O grupo modernista era composto por escritores como Oswald de Andrade, Mário de
Andrade, Menotti Del Picchia, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Agenor Barbosa,
Plínio Salgado, Ronald de Carvalho, Tácito de Almeida, Manuel Bandeira, Cândido Motta
Filho e Sérgio Milliet. Dela também participaram os pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti,
Ferringnac, Zina Aita, Yan de Almeida Prado, Vicente do Rego Monteiro. e John Graz; os
escultores Victor Brecheret e W. Haeberg e Hildegard Veloso; os arquitetos Antônio Moya
e George Przirembel.

O propósito da semana de arte moderna de renovar e transformar o contexto artístico e


cultural urbano brasileiro, tanto na literatura, quanto nas artes plásticas, na arquitetura
e na música. Entretanto, só se processou lentamente nos próximos vinte anos que
sucederam o evento.

Atividades
Esse é um trecho do texto Paranóia ou Mistificação: a propósito da exposição de Anita
Malfatti, escrito por Monteiro Lobato. O professor deve disponibilizar no chat e pedir aos
alunos que discorram sobre o enunciado trazendo na oportunidade questionamentos
sobre a natureza da arte e do artista.

“Há duas espécies de artistas”. Uma composta dos que vêm as coisas e em consequência
fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida e adotados para a concretização
das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres.

Quem trilha esta senda, se tem gênio é Praxiteles na Grécia, é Rafael na Itália, é
Reynolds na Inglaterra, é Dürer na Alemanha, é Zorn na Suécia, é Rodin na França, é
Zuloaga na Espanha. Tem-se apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que

24
gravitam em torno desses sóis imorredouros.

A outra espécie é formada dos que vêm anormalmente a natureza e a interpretam à


luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá
e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de
todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro.
Estrelas cadentes brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e
somem-se logo nas trevas do esquecimento. ”(LOBATO, Monteiro. “A propósito da
exposição Malfatti”. O Estado de São Paulo, 20 dez. 1917.)

25
26
C a p í t u l o 11

A afirmação do
modernismo em terras
brasileiras: os grupos

Objetivos
●● Conhecer o processo de afirmação do modernismo no Brasi;

●● Recordar os grupos importantes para a consolidação do vocabulário moderno;

●● Identificar alguns artistas participantes desse momento de afirmação do modernismo;

●● Observar a introdução de elementos surrealistas e abstratos no cenário artístico


brasileiro.

Sobre o Surrealismo
A busca da liberdade de imaginação foi a premissa principal de um
movimento cuja plataforma foi lançada pelo poeta francês André
Breton em 1924. O termo Surrealismo foi empregado inicialmente
(desde 1917) pelo crítico, também francês, Guillaume Apollinaire
que através dele queria descrever alguma coisa que estava além da
realidade. Que a ultrapassava. Breton se apropria dele para utilizá-lo
em seu manifesto de 1924: o Primeiro Manifesto do Surrealismo.

Uma das características buscadas pelos surrealistas que se adequam


à essa busca pelo inconsciente como referência para suas obras é
o chamado automatismo psíquico mediante o qual se propunha
transmitir verbalmente, por escrito, ou por qualquer outro meio o
funcionamento do pensamento; alheio a qualquer preocupação
estética ou moral. Nesse momento, a ação de, por exemplo, trabalhar
com o gesto automático de despejar um material (areia ou outro
qualquer), tendo como regra o acaso, em um suporte traduziu essa
necessidade de investigar um estagio da ação humana não dominado
pela razão.

Ao longo dos anos 20 e 30, artistas afiliaram-se ou tangenciaram,


o movimento. Entre eles: Salvador Dali, Alberto Giacometti, e René
Magritte. Alguns foram, mesmo, reivindicados pelo movimento como

27
é o caso da mexicana Frida Kahlo. Dali, um dos mais conhecidos
artistas associados ao movimento, trabalhou com vários meios
(escultura, pintura, design, cinema, cenários), mas o traço comum
em sua obra é a capacidade de operar associações inesperadas, de
criar estranheza em relação ao que é familiar. É o caso de seu objeto

Pesquise... Telefone Lagosta.

Telefone Lagosta.
Salvador Dali. 1938. Poucos artistas impactaram tanto o século XX quanto o espanhol Salvador
Dali com sua obra que associa sua fantasia excentricidades à sua própria
maneira de viver. Seus trabalhos representam um mundo onírico no qual
objetos banais se transmutam, de maneira ilógica, em um embate entre o
reconhecível e o indecifrável que provoca constantemente uma sensação
de estranhamento no espectador. A associação de um telefone e de uma
lagosta que seria segundo ele “um método espontâneo de conhecimento
irracional” é uma dos exemplos de uma vasta gama de telas, filmes,
esculturas e objetos de aspectos e associações insólitas. Desse objeto
de design surrealista foram produzidas apenas quatro peças. Uma delas
encontra-se na Tate Gallery, em Londres, a segunda está no Museu
do Telefone alemão, em Frankfurt; a terceira pode ser encontrada na
Fundação Edward James e a quarta está na National Gallery of Austrália.

O Surrealismo se popularizou no cenário internacional e tornou-se


um fenômeno mundial voltando-se para as mais diversas formas de
expressão. Seu imaginário extravagante atraiu a atenção do público
e o encantou. Todas as expressões da criação artística utilizaram
essas referências ao desconhecido, ao inconsciente como parâmetro
referencial. Da moda ao design a proposta surrealista foi aplicada.

Sobre a abstração
Arte abstrata é uma forma de expressão que não busca referências
no mundo que está ao nosso redor. São obras que não têm como
objetivo a representação de formas reconhecíveis. Em sentido amplo,
portanto, abstracionismo refere-se às formas de arte não regidas pela
figuração e pela imitação do mundo.

A proposta abstracionista pode ser dividida em duas tendências: o


abstracionismo informal (lírico) e o geométrico, ou seja: a abstração
formal. Por exemplo: Kandinsky pintou abstrato informal e Mondrian
(de quem falaremos posteriormente) pintou Arte Concreta. Inúmeros
movimentos e artistas aderem à abstração, que se torna, a partir
da década de 1930, um dos eixos centrais da produção artística no
século XX.

28
A Arte Abstrata ou informal surgiu em torno de 1910, na Europa. Ela se
inclina para a emoção, para o ritmo, a cor e à expressão. Kandinsky
foi o pioneiro dessa abstração, com Primeira Aquarela Abstrata
(1910) e a série Improvisações (1909/1914). Ele retirou da pintura
(e consequentemente de qualquer expressão das Artes Visuais)
a obrigatoriedade de representação da realidade, inaugurando o
processo abstracionista. Um exemplo desse momento marco da arte
abstrata é o quadro sobre o qual nos deteremos a seguir de Vassily
Kandinsky, intitulado Composição IV.
Pesquise...
Composição IV. Vassily
A composição do artista revela suas preocupações com a cor e a forma.
Kandinsky. 1911.
O desenrolar dos planos é abstrato. Algumas formas se sobrepõem às
outras e são cruzadas por linhas retas ou curvas. Essa sobreposição de
planos é incessante em movimentos bruscos organizando, assim sua
profundidade.
As linhas e os planos, as cores e a significação que esses elementos
podem sugerir ao espírito tornam a leitura do quadro extremamente
subjetiva. Seu significado diz respeito ao observador e ao diálogo
estabelecido em relação à obra.

Para compreendermos o abstracionismo formal ou geométrico vamos


partir do princípio de que as formas e as cores devem ser organizadas
de tal maneira que a composição resultante seja apenas a expressão
de uma concepção geométrica: uma construção. Muitos são os
artistas e grupos que se envolveram com esse tipo de representação,
sobre o que falaremos posteriormente.

Para exemplificarmos essa forma de abstrair o mundo visível vamos


recorrer a um expoente do Neoplasticismo Holandês, Piet Mondrian, Pesquise...
cuja produção artística abandona o figurativismo na busca do que Composição com
seriam as estruturas do mundo que traduziriam o mais essencial Vermelho, Amarelo e
Azul. Piet Mondrian.
da realidade visual. Em sua obra abstrata as cores e as formas 1927.
são organizadas de maneira que a composição resulte apenas na
expressão de uma concepção geométrica.

Depois de haver participado da arte cubista, Mondrian continua


simplificando suas formas até conseguir um resultado, baseado nas
proporções matemáticas ideais. Que traduza as relações formais de um
espaço estudado.
O artista utiliza nesse trabalho, como elemento de base, uma superfície
plana, retangular e três cores primárias (esquematizadas em retângulos
menores) que são, por sua vez, uma parte de um universo de retângulos
maiores criados pelas linhas pretas. Essas superfícies coloridas são
distribuídas e justapostas buscando uma arte pura.

29
Enquanto a pura emoção norteia a abstração lírica ou informal, na
abstração geométrica de Mondrian a razão passa por cima da emoção
e se buscam nas formas geométricas a expressão do mundo e da vida.

A abstração também encontrou abrigo no universo plástico


internacional sob suas várias formas de expressão. O Brasil, a partir
principalmente dos anos 50 vai absorver seu ideário e sua linguagem.

Dos agrupamentos de artistas e sua


influência na difusão do modernismo
no Brasil: da introdução do vocabulário
surrealista e abstrato
O espírito de associação tornou-se bastante evidente na década
de trinta no cenário artístico brasileiro. Principalmente nos núcleos
hegemônicos (leia-se Rio de Janeiro e São Paulo). Entretanto, outras
cidades também manifestaram esse espírito coletivo no sentido
de difundir um espírito de modernidade no país. O caso de Recife
é um dos que mais chamam a nossa atenção com o Grupo dos
Independentes do qual falaremos mais tarde.

Entre os grupos que se fizeram presente no cenário artístico Rio/São


Paulo destaca-se a Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), entidade
paulista que reunia figuras importantes do início do modernismo; O
Clube de Arte Moderna (CAM), também paulista, que traz uma atitude
mais profissional em relação ao papel do artista; O Salão de Maio,
a Família Artística Paulista (FAP) e o Grupo Santo Helena, também
paulista. No Rio de Janeiro funda-se o Núcleo Bernardelli e em Recife
o Grupo dos Independentes.

A linguagem visual utilizada por esses grupos ao longo de sua


existência passeia pelo do Fauvismo e Expressionismo Alemão,
passando pelo Cubismo (com raras investidas pelo Dadaísmo)
para adentrar no final dos anos 30 e anos 40 no Surrealismo e
Abstracionismo que só vai se consolidar com a Primeira Bienal,
realizada em São Paulo no início dos anos 50.

Dessa forma, ao longo da década de 30, a prática artística moderna,


embasada nos movimentos de vanguarda europeus, foi se firmando
no Brasil, tanto através da ação destes grupos quanto do trabalho
isolado de alguns criadores. Os grupos modernistas caracterizam-
se pela efemeridade de sua existência bem como pelo trânsito dos
artistas modernos entre as várias associações.

30
Sobre a Sociedade Pro - Arte Moderna
(SPAM) e suas atividades em prol da
afirmação moderna
Em 1932, dez anos depois da realização da Semana de Arte Moderna
(SAM) surge o SPAM em São Paulo. Apoiado pela aristocracia
paulista o SPAM tem como objetivos estreitar as relações entre
artistas e pessoas que se interessam pela arte em todas as suas
manifestações; promover exposições, concertos, reuniões literárias e
dançantes; realizar sorteio de obras entre os membros; e criar uma
sede social que se torne um espaço de festas e exibições.

O SPAM reuniu muitos artistas do primeiro modernismo, da turma


inicial tais como John Graz, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Tarsila do
Amaral, Lasar Segall entre outros. Apesar de seu curto período de
existência (janeiro de 1932 a março de 1934) a SPAM organizou duas
manifestações que se tornaram famosas: O Carnaval na Cidade de
SPAM e a Expedição às Matas Virgens da Spamolândia além de duas
exposições coletivas e outros eventos.

A 1ª Exposição de Arte Moderna, por ela organizada reúne 100


obras de artistas modernos brasileiros como Malfatti, Tarsila do
Amaral, Lasar Segall, entre outros. A mostra também trouxe nomes Pesquise...
internacionais como Pablo Picasso, Fernand Léger, Brancusi e André Paisagem. Tarsila do
Lhote. Amaral.

Neste período, a geometria na obra da artista paulista é abrandada. As


formas crescem, tornam-se orgânicas. A tela em questão, uma paisagem
brasileira, sintetiza, plasticamente, o relacionamento da artista naquele
momento com suas raízes. Ainda com influências cubistas familiares
nos trabalhos de Leger, com quem estudou, ela nos transporta para
uma redescoberta do Brasil, uma visualidade que a acompanha desde a
infância no interior de São Paulo.
A geometria cubista inicial ela acrescenta os ritmos sinuosos de um olhar
acostumado com o barroco brasileiro além de trazer uma temática popular
sem, porém, partir para o Naif.
A paisagem pretensamente ingênua traz em seu bojo a técnica adquirida
durante seus estudos na Europa referencial e o mergulho em uma
iconografia nacional está ligado às fases - Antropofágica e Pau Brasil - às
quais a artista ideologicamente se ligou.

Em 1933, a SPAM promove a sua segunda exposição da qual


participam artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Figuram no
evento entre outros Di Cavalcanti, Portinari, e Guignard.

31
As festividades, tão enfatizadas nas referências aos feitos da
Sociedade, são pontos altos de sua trajetória. O Carnaval na Cidade
de SPAM, realizado nos salões do Trocadero em 16 de fevereiro de
1933, passou-se em uma cidade imaginária construída com painéis
pintados. Sob a direção de Lasar Segall que planejou e executou
a decoração da festa. A festa pode ser vista, entretanto, como uma
ampla criação coletiva, dirigida por Segall, que envolve pintura,
Pesquise... música, literatura e esquetes teatrais.
Painel para O Carnaval
da cidade de Spam.
Lasar Segall. 1933 A cenografia projetada e executada por Segall com a ajuda de seus
companheiros projetava uma cidade em miniatura que comportava
bares, restaurante, praça pública, prefeitura, cadeia, zoológico, presídio,
circo. Comportava ainda, monumentos, moeda própria e imprensa,
cuja publicação denominava-se A Vida de SPAM e estava sob a
responsabilidade de Mário de Andrade, Alcântara Machado e Sérgio
Milliet.
Os painéis pintados definiam o espaço dessa cidade imaginária. O
elenco, exclusivamente composto por integrantes do SPAM (84 “atores”),
representava os papéis de figuras características de uma cidade, como o
“prefeito”, o “policial” etc.

O segundo baile de carnaval promovido pela associação denominou-


se Expedição às Matas Virgens da Spamolândia e segundo Walter
Saiba Mais
Zanini (1983:578):
5
A história da proposta
dadaísta (Dadaismo) Teve lugar um ano depois numa vasta pista de
começou em Zurique, patinação da Rua Martinho Prado (...) transformada
Suíça, onde jovens
artistas se reuniam numa numa bárbara selva, com animais monstruosos. (...)
casa noturna chamada Uma vez mais nessa decoração. De grande porte,
Cabaré Voltaire que diferenciada pelo barroquismo da concepção,
ficava numa região impunha-se o ímpeto ordenado de Segall. Não
degradada daquela
cidade. Eram eles o pintor é difícil supor que dos alucinantes cenários do
e músico Hugo Ball e sua cinema expressionista derivassem influências
esposa, a cantora Emmy no projeto e que de Macunaíma e outras obras
Hennings; o poeta, de antropofágicas recentes procedessem a estímulos
origem romena, Tristan
Tzara; o poeta e escultor para essa “bárbara selva”.
Marcel Janco; o pintor e
cineasta alemão Hans Os modernistas, naquele momento, recebiam influências
Richter; a dançarina expressionistas, fauvistas e mesmo cubistas e que as processavam
Sophie Tauber e Hans
Arp. A denominação dada através da antropofagia que definia o espírito nacionalista do
à proposta desse grupo, modernismo brasileiro. Ou seja: recebemos influências exteriores e
irreverente e apavorado
as processamos dando uma feição brasileira.
com um mundo que
estava sendo destruído à
sua volta, nasceu também
em Zurique, em 1916.

32
O CAM: Clube dos artistas modernos
Com uma atitude mais independente do patrocínio da aristocracia
paulista e tendo como característica um programa atuante o Clube
dos Artistas Modernos (CAM) foi criado em 24 de novembro de 1932,
um dia depois da fundação da Sociedade Pro - Arte Moderna (SPAM).

Tendo a frente o artista vanguardista Flávio de Carvalho a associação


se proclamava menos elitista e um espaço aberto para várias
manifestações culturais.

Promoveu recitais de canto e música, palestras e debates de conteúdo


variado e abrigou o Teatro da Experiência inaugurado em 1933 com a
peça Bailado do deus morto, escrita e co-dirigida pelo primeiro autor
de performances no Brasil, Flávio de Carvalho.
Pesquise...
Performance.
A cidade (São Paulo) em 1955 não compreendeu aquele homem trajando Experiência Numero 3.
um saiote em suas ruas. No espaço ainda cheio de ternos ele discute a Flávio de Carvalho. São
moda, a maneira de vestir e enfrenta a multidão despreparada para suas Paulo.
atitudes vanguardistas. Antes, na década de trinta, ele já a tinha enfrentado
(a multidão) quando de chapéu foi de encontro a uma procissão e intitulou
sua ação de Experiência número 2.
Flavio de Carvalho esteve sempre a frente do seu tempo. A vida e a
obra do artista interagem no sentido de provocar polêmicas e despertar
questionamentos. Sua atuação à frente do CAM é remarcável apesar de
ter contribuído para que as mentes pequenas de todos os tempos tenham
conseguido destruir aquele espaço de cultura mais rapidamente.
Você Sabia?
4
O movimento
denominado futurista
Flávio de Carvalho foi o esteio do grupo, mas ele e seus companheiros (Futurismo) foi iniciado
nas letras pelo poeta
foram pouco apreciados em sua liberalidade e influências futuristas4 italiano Fillippo Marinetti,
e, mesmo, dadaístas5. O clero instigou o encerramento do Teatro da com a intenção de lançar
a Itália no contexto
Experiência e depois todo o grupo. Entretanto, as atividades do CAM
vanguardista europeu de
provocaram o primeiro abaixo assinado de artistas e de intelectuais seu tempo. A proposta
brasileiros contra a violência do Estado. logo se espalhou de
forma interdisciplinar. Ou
seja: envolveu outras
expressões tais como
a música e aquela que
Sobre o Salão de Maio e seu papel na realmente nos interessa
afirmação do modernismo brasileiro mais: as Artes Visuais.
O princípio comum era
O Salão de Maio, outra iniciativa paulista no sentido de difundir as a celebração da nova
ideias modernistas vai acontecer em 1937 e se repetir em 1938 e sociedade industrial e
suas manifestações: a
1939. Querino da Silva foi o seu principal idealizador e realizador. Foi velocidade, a máquina,
acompanhado nessa ação por Geraldo Ferraz e Flávio de Carvalho. as novas tecnologias, o
dinamismo e, mesmo o
Com o tempo Querino da Silva se afastou e Flávio de Carvalho tomou poder da conquista.
a frente do Salão.

33
Em 1938, na sua segunda versão, o Salão de maio reuniu artistas
locais de forma expressiva bem como alguns artistas do exterior como
Ceri Richards e Roland Penrose, ambos de tendência surrealista,
o que nos da uma ideia do processo da tentativa de atualização do
Pesquise... modernismo brasileiro com as vanguardas europeias. Outro artista
Penas. 1931. Alexander importante que compareceu ao Salão foi Ben Nicholson, uma das
Calder. Arame, madeira, principais figuras da arte abstrata, movimento do qual falaremos mais
chumbo.
longamente a posteriori.

A terceira versão do Salão de maio as correntes abstratas dominaram.


Entre os artistas expositores destacam-se Alexander Calder, Josef
Albers e Alberto Magnelli. O contato com estes artistas era do sempre
Atenção vanguardista Flávio de Carvalho que mostrava a necessidade de uma
6
O Novecento é um visão maior das correntes internacionais no que dizia respeito às artes
movimento que nasce em
visuais.
Milão em 1922 e reúne
a obra de um grupo de
artistas ligados à galeria Calder ocupa lugar especial entre os escultores modernos. Criador dos
Pesaro: Anselmo Bucci
móbiles, placas e discos metálicos unidos entre si por fios que se agitam
(1887 - 1955), Leornado
Dudreville (1885 - 1975), tocados pelo vento, assumindo as formas mais imprevistas. Calder foi o
Achille Funi (1890 - 1972), primeiro a explorar o movimento na escultura.
Gian Emilio Malerba Os elementos suspensos por fios que se equilibravam mutuamente
(1880 - 1926), Pietro
marcam a sua obra artística. Nos mobiles, os elementos de metal colorido
Marussig (1879 - 1937),
Ubaldo Oppi (1889 - suspensos balanceiam-se delicadamente em círculos, movidos pela
1942) e Mario Sironi deslocação do ar, em velocidades várias e direções diferentes. É possível
(1885 - 1961). No início, identificar nestes trabalhos a influência da pintura de Mondrian, na qual
o grupo é liderado pela os elementos de cor parecem suspensos no espaço bidimensional da
crítica de arte Margherita tela. A exploração do movimento real enquanto elemento primordial na
Sarfatti Grassini (1880 -
produção criativa faz destes trabalhos exemplos de Arte Cinética.
1961), amante do ditador
Benito Mussolini, que
por duas ocasiões (1923
e 1926) discursa na
abertura de exposições
do Novecento. O nome O Grupo Santa Helena
sugere uma dupla Em São Paulo, em torno dos anos 1935-1936 um grupo de artistas
associação: ao século XX
e aos grandes períodos de origem social modesta concentrou-se em ateliers improvisados do
clássicos da arte italiana Palacete Santa Helena que se situava no centro da capital do Estado.
como o Quattrocento
e o Cinquencento. Sem programas preestabelecidos, o Santa Helena surge da união
Pretende-se revitalizar espontânea de alguns artistas.
a arte italiana com base
em uma volta a sua fonte Os artistas do grupo descendiam quase todos de famílias de
mais pura, o classicismo,
inaugurando uma nova imigrantes italianos. Sua condição proletária, seu autodidatismo de
fase de ouro na história terem sido estudantes do Liceu de Artes e Ofícios contrastava com os
dessa arte. (Fonte: Itaú
primeiros modernistas de origens burguesas ou aristocráticas.
Cultural).
O ambiente criado nas salas de trabalho é de troca mútua, dividindo-
se os conhecimentos técnicos de pintura e as sessões de modelo

34
vivo, decidindo sobre a remessa de obras aos salões e organizando
as famosas excursões de fim de semana aos subúrbios da cidade
para execução de pinturas ao ar livre.

Profissionalmente sobreviviam da pintura de residências, mas


mostravam-se ciosos da necessidade do conhecimento dos materiais
e das técnicas artísticas. Recebiam influência da pintura italiana,
principalmente do Grupo Novecento6. Não se aproximavam das
vanguardas, mas guardavam distância dos meios acadêmicos.

Prevalecem nas suas representações as paisagens humildes, Atenção


os arrabaldes operários, a figura humana e as naturezas mortas. 7
O Neorealismo
Pertenceram ao grupo os artistas Francisco Rebolo Gonsales, preconizava uma arte
com ação política feita
Mario Zanini, Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Fúlvio Pennacchi e Clovis pelo povo e para o povo
Graciano entre outros que frequentavam os ateliers do edifício. O visando mostrar através
da literatura e das artes
trabalho do grupo bem como da figura isolada de Portinari vai inspirar visuais a realidade
o Neorealismo7 no Brasil e, no caso de Portinari, em Portugal. das camadas menos
favorecidas visando
uma conscientização do
O trabalho do artista caracteriza-se pelo registro dos recantos e pessoas público. Eminentemente
humildes, com preferências marcadas pela atmosfera suburbana. Não figurativa sua temática
é um intelectual, despreza as teorias complicadas e só acredita na voltava-se para cenas
experiência humana do pintor. Autodidata, seus progressos ininterruptos envolvendo trabalhadores
rurais e urbanos e seu
mostram quanto vale um esforço sério a serviço do talento natural.
cotidiano.
O registro do cotidiano realizado por Rebolo tem o caráter de um diário
íntimo. Fala do homem ao seu redor. Os registros procurados são os
mais simples e prosaicos. Procura documentar a própria vivência, de uma
maneira pessoal. É desta forma que registra, da janela do seu atelier no
Santa Helena, a São Paulo que começa a crescer.

Um exemplo da produção artística do Grupo Santa Helena encontra- Pesquise...


se na pintura de Rebolo: Lavadeiras, de 1937. Lavadeiras. Rebolo,
Francisco. 1937.

A Família Artística Paulista (FAP)


Paulo Rossi Osir foi o responsável pela criação da FAP (Família
Artística Paulista) em 1937. É mais um exemplo do êxito do
associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida
cultural do país ao longo da década de 1930.

A agremiação contou com a participação de diversos artistas (além


dos integrantes do Grupo Santa Helena) que tomaram parte das três
grandes exposições por ela realizadas.

A primeira mostra, de 1937, aconteceu no Hotel Esplanada e expôs

35
obras de Bonadei, Volpi, Malfatti (os primeiros modernistas aderem
Pesquise... a FAP também) Clovis Graciano, Pennacchi, Rossi Osir entre outros.
Paisagem do Bairro da Ela tinha catálogo com apresentação do crítico Paulo Mendes de
Saúde, Paulo Rossi Osir. Almeida.
1933.

Osir se dedica a paisagem, a marinha, a figura e a natureza-morta.


“Em todos esses gêneros ele se destacou sobremodo, mesclando
estilisticamente a fluidez cromática dos impressionistas ao sentido
construtivista da forma”. Osir possuía técnica primorosa e, graças a seus
conselhos, a pintura paulistana dos anos 30 e 40 adquiriu consciência
artesanal.
Na tela “Paisagem do Barro da Saúde”, ele registra um dos momentos
da cidade. O urbano que o fascinou em seus aspectos periféricos e
cotidianos.

O segundo salão do grupo, no Automóvel Clube de São Paulo, em


1939, agregou novos integrantes, além dos antigos participantes
como Portinari e Ernesto di Fiori entre outros.

A mostra foi marcada por uma espécie de modernismo moderado


e situada num lugar intermediário entre as experimentações da
década de 1920 e a arte acadêmica ainda viva no ambiente artístico
paulistano de então.

O último salão da Família Artística Paulista ocorreu no Rio de Janeiro,


em 1940, com participações de Carlos Scliar e Bruno Giorgi além dos
membros do grupo. Parte dos historiadores e críticos tende a acentuar
o caráter anti-vanguardista e anti-experimentalista da produção
reunida nas exposições da FAP quando contraposta aos trabalhos
dos artistas reunidos no Salão de Maio, fundado alguns meses antes,
também em São Paulo.

O Núcleo Bernardelli
O Núcleo Bernardelli foi fundado em 12 de junho de 1931, no Rio de
Janeiro, por um conjunto de pintores comprometidos com a oposição
ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes. Ele possuía
como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a
profissionalização dos seus artistas.

O Núcleo funcionou durante algum tempo nos porões da ENBA e


homenageava os antigos professores da Escola: Rodolfo e Henrique
Bernardelli. Seus artistas eram Edson Motta que liderava o grupo,

Pesquise...
36
Troncos no Campo de
Santana, Edson Motta.
1937.
Bustamante Sá, Milton Dacosta, Ado Malagogi, Sigaud, entre outros,
bem como os preceptores Bruno Lechowski, Manuel Santiago e
Quirino Campofiorito.

Edson Motta é um pintor de muita sensibilidade e raro apuro técnico,


alheio a falsos modismos. Realiza intensa produção em toda a década
de trinta, com continuidade aindamuito regular na década que se segue.
A temática urbana e nostálgica é um dos enfoques do artista. A humildade
do restaurador, de formação científica exemplar casava-se nele com a
chama do criador.

A criação do Núcleo Bernadelli remete a um contexto artístico, dos


anos 1930 e 1940, atravessado por tentativas de ampliação dos
espaços da arte e dos artistas modernos. Seu funcionamento foi mais
voltado para uma tentativa de ocupação de espaço profissional do que
de reformulação da linguagem artística. Trata-se fundamentalmente
de incentivar o estudo e a formação pela criação de um lugar para
convivência, troca de ideias e aprendizado.

Adeptos do desenho com modelos vivos, da pintura ao ar livre, dos


nus, das naturezas mortas de retratos e de autorretratos os membros
do Núcleo também promovem exposições. Entre 1932 e 1941 são
realizados cinco salões dos seus integrantes. Além disso, em 1933, o
conjunto dessas obras é exposto no Studio Eros Volúsia e, em 1934,
em mostra promovida pela Sociedade Brasileira de Belas Artes.

O Grupo dos Independentes


O grupo, denominado de Grupo dos Independentes, surgiu em Recife
no início dos anos 30 (1933) quase que ao mesmo tempo em que
a Escola de Belas Artes de Recife (1932). Jovens artistas plásticos,
desenhistas e caricaturistas, pintores e escultores objetivaram
propagar o modernismo na cidade.

“Esses jovens artistas, quase todos pernambucanos articularam-


se”, segundo Nise de Souza Rodrigues (2008:39), “para a realização
no Recife, de um salão particular de pintura. Cumprido o desafio,
motivados pelo idealismo esses artistas foram adiante”.

O grupo era formado por Augusto Rodrigues, Bibiano Silva, Carlos de


Hollanda, Carlos de Hollanda, Francisco Lauria, Hélio Feijó, Manoel
Bandeira, Nestor Silva e Percy Lau entre outros. “Eles contribuíram
com o papel renovador do Recife na atualização da arte brasileira”,

37
afirma Nise (2008: 40). Informações cubistas e expressionistas já
Pesquise... compõem o vocabulário do artista Augusto Rodrigues em 1930.
Santa Rosa Pintando,
Augusto Rodrigues. 1930. A pintura em questão traz em seu bojo evocações expressionistas
Guache sobre papel, c.i.e. e cubistas em um momento pernambucano onde se inicia o processo
30 x 27 cm
acadêmico da Escola de Belas Artes de Recife. O artista dá ênfase às
mãos de Santa Rosa, seu amigo e também pintor. Sua pintura, lírica
traz uma sensibilidade cromática junto com uma grande concisão
formal. Nela a figura é a presença predominante. Os acessórios apenas
complementam a cena.

O grupo mantinha certa identidade com o Grupo Santa Helena


de São Paulo e aconteceu em um mesmo momento. Seus artistas
expressaram-se livremente proclamando sua independência do
tradicionalismo pernambucano e das maneiras de receber as
influências europeias.

O grupo foi responsável pela organização de dois salões: Os Salões


Independentes de Arte de 1933 e de 1936 se constituindo ambos no
marco da introdução da linguagem moderna em Pernambuco.

Sobre os artistas citados no capítulo


●● André Breton Nasceu na França em 1896 e morreu naquele país
em 1966. Foi poeta, escritor e teórico. Em 1913 entrou em contato
com o Dadaismo. Em 1919 ele funda com o poeta Louis Aragon,
a revista Litterature e em 1924 publicou o Primeiro Manifesto
Surrealista.

●● Salvador Dali: O artista nasceu em Figueras, na Espanha em


1904 e lá faleceu em 1989. Poucos artistas impactaram tanto o
seu século como ele. Além de sua pintura, que se caracteriza pela
exploração do subconsciente e do amplo uso de simbolismos,
estranhas paisagens, erotismo e temas religiosos, Dali tornou-se
notórios por suas performances e excentricidades. Frequentou a
Real Academia de Belas Artes de San Fernando em Madri e de
lá foi para Paris onde se juntou ao movimento surrealista. Para
ter acesso às imagens do subconsciente ele usava métodos
alucenógenos. Suas atividades artísticas induzem a uma entrada
em um mundo onírico no qual objetos banais se transmutam em
visões improváveis. Em 1940, após ser excluido do Movimento
Surrealista, ele foi para os Estados Unidos onde ficou grande parte
de sua vida.

38
●● Alberto Giacometti: O artista nasceu na Suiça em 1901 e faleceu
em 1966. Distingui-se por suas esculturas expressionistas. Inicia
a sua formação em Genebra de onde foi para para Paris. Nessa
época conheceu alguns dos principais pintores dadaístas, cubistas
e surrealistas que influenciaram o seu início de carreira. Adere ao
movimento surrealista entre 1930 e 1934, período em que produziu
algumas obras fundamentais para a caracterização da escultura
surrealista.

●● René Magritte nasceu em Lessines, Bélgica, em 1898 e faleceu


em Bruxelas em 1967. Pintor surrealista produziu imagens
divertidas e com duplo sentido e arranjos inusitados a partir de
objetos docotidiano. Estudou por dois anos na Académie Royale
des Beaux-Arts,em Bruxelas. Após ter trabalhado como design
entre outras atividades fez da pintura sua principal atividade. René
Magritte praticava o surrealismo ou “realismo mágico” em uma
linguagem poética que teve influência da pintura metafísica de De
Chirico. Ao lado dessa busca surreal existiu a brincadeira em sua
obra. A nitidez realista é uma de suas características.

●● Frieda Kahlo: A pintora mexicana nasceu em 1907 e faleceu em


1954. Em 1913, com seis anos, Frida contrai poliomelite, sendo
esta a primeira de uma série de doenças, acidentes, lesões e
operações que sofre ao longo de sua vida. Ao contrário de muitos
artistas, Kahlo não começou a pintar cedo. Entre 1922 e 1925
frequenta a Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do
México. Durante uma longa longa convalescença de um acidente
gravíssimo, começou a pintar com uma caixa de tintas que
pertenciam ao seu pai, e com um cavalete adaptado à cama. Em
1928 entra no Partido comunista mexicano e conhece o muralista
Diego Rivera com quem se casa. Procurou na sua arte afirmar a
identidade nacional mexicana. Em 1938 André Breton qualifica sua
obra de surrealista em um ensaio que escreve para a exposição de
Kahlo na galeria Julien Levy de Nova Iorque.

●● Wassily Kandinsky: Ver no capítulo 10.

●● Mondrian: O artista nasceu em 1872 na Holanda e faleceu em


Nova York em 1944. Após entrar em contato com a teosofia ele
passou por um breve período simbolista caminhando depois para
a abstração. A partir de 1917 desenvolve sua obra neoplástica.
caracterizada por pinturas cujas estruturas são definidas por
linhas pretas ortogonais. Essas linhas definem espaços que se
relacionam de diferentes modos com os limites da pintura, e que

39
podem ou não serem preenchidos com uma cor primária: amarelo,
azul e vermelho.

●● John Luis Graz nasceu em Genebra em abril de 1891 e


faleceu em São Paulo em 1980. Foi pintor, ilustrador, decorador
escultor e artista gráfico. Iniciou sua formação artística na
Escola de Belas artes de Genebra. Foi um modernista. Trabalha
interdisciplinarmente com decoração de interiores. Participa da
Semana de arte Moderna de 1922.

●● Anita Malfatti: Ver no capítulo 10.

●● Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (Di


Cavalcanti): O artista nasce no Rio de Janeiro em 1897 e
morre naquela cidade brasileira em 1976. Foi pintor, ilustrador,
caricaturista, gravador, muralista, desenhista, jornalista, escritor
e cenógrafo. Inicia sua carreira artística como caricaturista e
ilustrador, publicando sua primeira caricatura em 1914, na revista
Fon-Fon. Em 1917, reside em São Paulo, onde frequenta o curso
de Direito no Largo São Francisco juntamente com o ateliê de
Georg Elpons. Convive, então, com artistas e intelectuais paulistas
como Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Guilherme de
Almeida. Foi o idealizador e o principal organizador da Semana de
Arte Moderna de 1922.

●● Tarsila do Amaral nasceu, em 1886, na Fazenda São Bernardo,


em São Paulo, e faleceu em São Paulo no dia 17 de Janeiro de
1973. Estudou no Colégio Sion, e completou seus Estudos em
Barcelona, na Espanha. Começou a estudar escultura em 1916
com Zadig e Mantovani em São Paulo. Em 1920 embarcou para a
Europa e frequentou a Academie Julien e também o ateliê de Emile
Renard. Em 1922 teve uma tela sua admitida no Salão Oficial
dos Artistas Franceses. Nesse mesmo ano regressou ao Brasil
e se integrou com intelectuais do grupo modernista e faz parte
do “grupo dos cinco” juntamente com Anita Malfatti, Oswald de
Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Em 1923 Tarsila
voltou à Europa e começou a ter contato com os modernistas:
Albert Gleizes, Fernand Léger e Blaise Cendrars, que visita o Brasil
no ano de 1924. A artista viveu diversos estilos, entre os quais o
cubismo e o surrealismo.

●● Lasar Segall: Ver no capítulo 10.

●● Pablo Picasso: Ver no capítulo 10.

●● Fernand Leger: O artista francês nasceu em 1881 e faleceu em

40
1955. Iniciou sua formação artística aos 14 anos como aprendiz
de um arquiteto. Em 1900 foi para Paris onde ingressou na Escola
de Artes Decorativas. A partir de 1911 conheceu Picasso e Braque
de quem recebeu influências cubistas que lhe acompanharam
durante toda a sua trajetória. A partir de 1920 passou a investir
em uma temática onde predomina a figura humana enquadrada
por elementos industriais. Foi dessa época seu contato com Tarsila
do Amaral a que muito influenciou em determinada fase de sua
carreira.

●● Constantin Brancusi: O artista nasceu em Hobita, Romênia,


em 21 de fevereiro de 1876. Descendente de uma família de
camponeses, na infância foi pastor de ovelhas e aprendeu a
ler e escrever sozinho. Em contato com a arte popular romena
do entalhe em madeira, estudou na Escola de Artes e Ofícios
de Craiova (1894 a 1898) e, graças a uma bolsa, na Escola de
Belas-Artes de Bucareste (1898-1902). Foi pioneiro na abstração
escultórica.

●● André Lothe nasceu na França em 1885 e morreu naquele país em


1962. Frequentou o curso na Escola de Belas Artes de Bordeaux e
entrou no mundo profissional. Foi atraído pelo cubismo. Abriu uma
Academia e foi um professor influente e frequentado.

●● Candido Portinari: O artista nasceu em Brodósqui, São Paulo, em


1903 e faleceu no Rio de Janeiro em 1962. Foi um pintor, gravador,
ilustrador e professor. Iniciou-se na pintura em meados da década
de 1910. Ingressou em 1911 no Liceu de artes e Ofícios e na
ENBA. Em 1929, viajou para a Europa com o prêmio de viagem
ao exterior em 1935, recebeu prêmio do Carnegie Institute de
Pittsburgh pela pintura Café, tornando-se o primeiro modernista
brasileiro premiado no exterior. Foi um dos mais conhecidos e
respeitados artistas do modernismo brasileiro.

●● Alberto da Veiga Guignard: O artista nasceu em Nova Friburgo,


no Rio de Janeiro em 1896, e faleceu em Belo Horizonte em Minas
Gerais em 1962. Pintor, professor, desenhista, ilustrador e gravador.
Muda-se com a família para a Europa em 1907. Aperfeiçoa-se em
Florença e em Paris. Retorna para o Rio de Janeiro em 1929 e
integra-se ao cenário cultural. Entre 1940 e 1942, vive num hotel
em Itatiaia, pinta a paisagem local e decora peças e cômodos do
hotel. Transfere-se para Belo Horizonte e começa a lecionar e
dirigir o curso livre de desenho e pintura da Escola de Belas Artes.
Sua produção compreende paisagens, retratos, pinturas de gênero

41
e de temática religiosa.

●● Flávio Resende de Carvalho: O artista nasce em Amparo da Barra


Mansa no Rio de janeiro em 1899 e morre em Valinhos, São Paulo,
em 1973. Pintor, desenhista, arquiteto, cenógrafo, decorador,
escritor, teatrólogo, engenheiro. Muda-se com a família para São
Paulo em 1900. Em 1911, passa a estudar em Paris e, três anos
depois, na Inglaterra. Conclui o curso de engenharia em 1922 e
nesse ano volta a residir em São Paulo. Desenvolve atividades
em várias áreas artísticas e intelectuais, frequentemente de forma
inovadora e provocativa. Funda o Clube dos artistas Modernos
(CAM).

●● Querino da Silva: O artista nasceu no Rio de Janeiro em 1897 e


faleceu em São Paulo em 1981. Crítico, pintor, escultor, desenhista,
ceramista, gravador. Entre 1920 e 1925 estuda escultura no ateliê
de Modestino Kanto e na ENBA. Em 1923 expõe suas pinturas no
1º Salão da Primavera, do qual é organizador. Sua primeira obra
individual é apresentada em 1926, em São Carlos, São Paulo. Em
1933, atua como colaborador da Base - Revista de Arte, Técnica e
Pensamento, criada por Alexandre Altberg. Transfere-se para São
Paulo em 1934.

●● Ceri Richards: O artista nasceu em 1903 na aldeia de Duvant


e faleceu em Londres em 1971. Em 1921, com a idade de 18
anos, Richards matriculou-se na Faculdade de Arte de Swansea,
então sob a direção de William Grant Murray. Durante seu tempo
na faculdade, ele passou menos tempo na pintura do que na
elaboração de moldes clássicos e estudando design industrial e
gráfico. Seu trabalho moveu-se gradualmente para o Surrealismo.

●● Roland Penrose: O artista nasceu em Londres, Inglaterra em 14


de outubro de 1900 e morreu também na Inglaterra em 1984. Hoje
um pintor surrealista e um historiador de arte. É conhecido pela
sua associação com os surrealistas do Reino Unido. Foi um dos
primeiros artistas surrealistas a fazer contato com o meio artítico
brasileiro.

●● Benjamin Nicholson (Ben Nicholson): O artsita nasceu na


Inglaterra em 1894 e faleceu também naquele país, em Londres,
em 1892. Ben estudou na Slade School of Art. Fez diversas
viagens a França e a Itália. Artista abstrato, foi um dos primeiros
introdutores do vocabulário no Brasil.

●● Alexander Calder nasceu e morreu nos EUA respectivamente em

42
1898 e 1976. Desde cedo esteve envolvido com as artes. Em 1923
passou a estudar desenho na Art Students League, em Nova York,
concluindo o curso em 1926. Escultor, ele notabilizou-se por dar
mobilidade, movimento à escultura com a criação do móbile.

●● Josef Albers nasceu em 1888 na Alemanha e faleceu nos EUA em


1976. Educador, suas obras, tanto na Europa como nos Estados
Unidos, representaram a base dos mais influentes programas
sobre o estudo da arte do século XX. Foi professor da Bauhaus no
ano em que a escola alemã se transferiu para Dessau. Depois do
encerramento da Bauhaus devido à repressão Nazista em 1933 o
artista emigra para os EUA e ingressa na Black Mountain College.
Foi um dos mais importantes artistas abstratos.

●● Alberto Magnelli: O artista nasceu em Florença, Itália em 1881


e faleceu em Meudon, França, em 1971. Em 1911, conheceu
o futuristas italianos e participou em La Voce do grande amigo
Palazzeschi, com quem fez a sua primeira viagem a Paris para
conhecer o cubismo. Naquela cidade passou a conviver com
Guillaume Apollinaire e Pablo Picasso e se envolveu com o
Futurismo e o Cubismo. Em 1930, fez parte do grupo Abstraction-
Crèation, em Paris, adotando o vocabulário abstrato.

●● Francisco Rebolo: O artista nasceu em São Paulo, Brasil, em


1902 e faleceu naquela cidade em 1980. Pintor e gravador. Inicia
seus estudos em artes na Escola Profissional Masculina do Brás.
Aos 14 anos, trabalha como aprendiz de decorador de paredes. A
partir 1933, transfere seu ateliê para uma sala no Palacete Santa
Helena, quando se inicia na pintura. Foi membro do Grupo Santa
Helena e da Família Artística Paulista.

●● Mario Zanini: nasce em São Paulo em 1907 onde falece em 1971.


Pintor, decorador, ceramista, professor. Trabalha como letrista
na Companhia Antarctica Paulista, entre 1922 e 1924. Em 1924,
matricula-se no curso noturno de desenho e artes do Liceu de Artes
e Ofícios. Em 1935, instala-se no palacete Santa Helena. Participa
do Grupo Santa Helena. A partir de 1968 leciona na Faculdade de
Belas Artes de São Paulo.

●● Aldo Cláudio Felipe Bonadei nasceu em São Paulo em 1906


e faleceu naquela cidade em 1974. Pintor, designer, gravador,
figurinista e professor. Estuda desenho com Pedro Alexandrino.
Viaja para a Itália, entre 1930 e 1931, e frequenta a Academia
di Belle Arti di Firenze [Academia de Belas Artes de Florença].
Retorna a São Paulo no início da década de 1930 e participa do

43
Grupo Santa Helena e da Família Artística Paulista.

●● Alfredo Volpi: Volpi nasceu em Lucca, Itália, em 1896 e faleceu


em São Paulo, Brasil, em 1988. Mudou-se com os pais para São
Paulo em 1897 e foi estudar na Escola Profissional Masculina
do Brás. Mais tarde trabalha como marceneiro, entalhador e
encadernador. Em 1911, torna-se pintor decorador. Na década de
1930 passa a fazer parte do Grupo Santa Helena. Em 1937 integra
a FAP. Sua produção inicial é figurativa, destacando-se marinhas
executadas em Itanhaem, São Paulo. Passa a executar, a partir
da década de 1950, composições que gradativamente caminham
para a abstração.

●● Fúlvio Pennacchi: O artista nasceu na Itália, Toscana, em 1905


e faleceu em São Paulo, Brasil em 1992. Pintor, ceramista,
desenhista, ilustrador, gravador, professor. Em 1924, muda-se
para Lucca e inicia sua formação artística frequentando o Regio
Istituto di Belle Arti. Muda-se para São Paulo em 1929. Passa a
frequentar o Grupo Santa Helena, do qual faz parte. Nessa mesma
época integra a Família Artística Paulista.

●● Clóvis Graciano: O artista nasceu em Araras em São Paulo no


ano de 1907 e faleceu em São Paulo, capital do Estado em 1988.
Pintor, desenhista, cenógrafo, gravador, ilustrador. Reside em São
Paulo a partir de 1934. Realiza estudos com o pintor Waldemar da
Costa. Em 1937, integra o Grupo Santa Helena. Frequenta como
aluno ouvinte o curso de desenho da Escola Paulista de Belas
Artes, até 1938. Membro da Família Artística Paulista – FAP.

●● Paulo Cláudio Rossi Osir: O artista nasceu em São Paulo em


1890 e faleceu naquela cidade em 1959. Pintor, desenhista,
arquiteto. Começa a pintar com seu pai, o arquiteto Cláudio Rossi.
Viaja para a Itália e estuda na Accademia di Belle Arti di Brera,
em 1906 e 1907. No ano seguinte, em Dover, Inglaterra Retorna
ao Brasil e, entre 1909 e 1911, estuda na Escola Politécnica de
São Paulo. De volta à Europa, frequenta a Academie de la Grande
Chaumière. Participa da fundação do SPAM, no Brasil e da Família
Artística Paulista.

●● Ernesto de Fiori: O artista nasceu em Roma, Itália em 1884 e


faleceu em São Paulo em 1945. Escultor, pintor, desenhista. Muda-
se para Munique aos 19 anos, onde estuda desenho na Königliche
Akademie der Bildenden Künste. Entre 1911 e 1914, reside em
Paris, onde realiza as primeiras esculturas. Em 1936 vem para
o Brasil e instala-se em São Paulo. Paralelamente à escultura,

44
dedica-se à pintura. Sua pintura tem grande influência no meio
artístico paulistano.

●● Carlos Scliar: Natural de Santa Maria, no Rio Grande do Sul,


Brasil, o artista nasce em 1920 e morre no Rio de Janeiro em
2001. Pintor, desenhista, gravador, ilustrador, cenógrafo, roteirista,
designer gráfico. Entre 1939 e 1947, residindo em São Paulo,
integra a Família Artística Paulista (FAP). Em 1956, passa a viver
no Rio de Janeiro.

●● Bruno Giorgi: O artista, escultor, nasce em São Paulo em 1905


e morre no Rio de janeiro em 1993. Muda-se com a família para
Itália e fixa-se em Roma em 1913. Neste mesmo ano é preso por
motivos políticos e condenado a sete anos de prisão. É extraditado
para o Brasil em 1935. Em 1937, viaja para Paris e frequenta a
academia La Grand Chaumière. Em 1939 retorna a São Paulo e
integra a FAP e o Grupo Santa Helena.

●● Rubem Fortes Bustamante Sá: O artista nasce no Rio de Janeiro


em 1907 e falece naquela cidade em 1988. Pintor, desenhista e
professor. Em 1926, ingressa na ENBA de onde sai para fundar o
Núcleo Bernardelli. Pinta frequentemente ao ar livre. Vai a Lisboa,
Madri e Paris. Nesta última cidade, frequenta a Académie Julien.
Quando volta ao Rio de Janeiro, em 1952, passa a participar do
Salão de Arte Moderna.

●● Edson Motta: O artista nasce em Juiz de Fora, Minas Gerais,


em 1910. Falece no Rio de Janeiro em 1981. Pintor, restaurador
e professor. Inicia estudos de pintura com seu tio, o artista Cesar
Turatti. Por volta de 1927, transfere-se para o Rio de Janeiro e
ingressa na ENBA. Funda o Núcleo Bernardelli que atua durante
certo tempo nos porões daquela escola. Em 1936, recebe medalha
de prata no 42º Salão Nacional de Belas Artes e, em 1939, é
contemplado com o prêmio de viagem ao exterior. Ao voltar ao
Brasil, é professor de teoria, técnica e conservação da pintura, na
Enba, da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do
Rio de Janeiro.

●● Milton Rodrigues da Costa: O artista nasceu em Niterói em 1915


e faleceu no Rio de Janeiro em 1988. Pintor, desenhista, gravador
e ilustrador. Inicia estudos na Escola Nacional de Belas. Cria o
Núcleo Bernardelli juntamente com outros colegas em 1931. Viaja
para Estados Unidos em 1945, com o prêmio de viagem ao exterior
do Salão Nacional de Belas Artes do ano anterior. Na cidade de
Nova York, estuda na Art’s Students League of New York. Após

45
visita a vários países da Europa, fixa-se em Paris, onde estuda na
Académie de La Grande Chaumière. Em 1949, passa a residir em
São Paulo.

●● Ado Malagogi: nasce em São Paulo, Araraquara, em 1906 e


morre em 1994 em Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Em 1922,
cursa artes decorativas na Escola Profissional Masculina do
Brás. Entre 1922 e 1928, cursa o Liceu de Artes e ofícios de São
Paulo. Ingressa na ENBA em 1928 e passa a compor o Núcleo
Bernardelli em 1931. Tem uma produção figurativa. Fixa-se em
Porto Alegre, após um período de permanência no Rio de Janeiro.

●● Eugênio de Proença Sigaud: O artista nasce no Rio de Janeiro em


1899. Falece naquele estado brasileiro em 1979. Pintor, gravador,
artista gráfico, ilustrador, cenógrafo, crítico, professor, arquiteto
e poeta. Em 1921 frequenta o curso livre da ENBA. Em 1927,
ingressa no curso de arquitetura da Enba, que conclui em 1932.
Sigaud participa do 38º Salão Nacional de Belas Artes, organizado
em 1931 por Lucio Costa. Forma também o Núcleo Bernardelli. Em
1935 Sigaud ingressa no Grupo Portinari, agremiação informal que
se reúne em torno daquele artista.

●● Bruno Bronislaw Lechowski: Nasce em Varsóvia, Polônia, em


1887 e morre no Rio de Janeiro em 1941. Pintor, desenhista,
professor, arquiteto e músico. Estuda na Academia de Belas Artes
de Kiev, Ucrânia, e completa seus estudos em São Petersburgo,
Rússia, em 1913. No ano seguinte, torna-se professor da
Academia Nacional de Belas Artes, em Varsóvia. Chega ao Rio de
Janeiro, em 1925. Viaja em direção ao sul do Brasil, demorando-
se em Curitiba, onde participa da vida cultural e realiza mais uma
exposição portátil. Continua a viagem, passa um tempo em São
Paulo e, em 1931, volta ao Rio de Janeiro. Participa da criação do
Núcleo Bernardelli. Em 1940, transfere-se para um sítio em Campo
Grande, Rio de Janeiro e ali morre no ano seguinte.

●● Manoel Santiago nasceu em Manaus, Amazonas, em 1897 e


faleceu no Rio de Janeiro em 1987. Pintor, desenhista, professor.
Muda-se para Belém em 1903 e inicia estudos de pintura. Em
1919 transfere-se para o Rio de Janeiro e cursa a ENBA. Torna-se
professor do Instituto de Belas Artes. Em 1934, passa a lecionar
pintura e desenho no Núcleo Bernardelli.

●● Quirino Campofiorito: Nasce em Belém, Pará, em 1902 e


morre em Niterói em 1993. Pintor, desenhista, gravador, crítico e
historiador da arte, ilustrador, caricaturista, professor. Inicia um

46
curso de pintura na ENBA em 1920. Recebe o prêmio viagem
ao exterior em 1929, vai para Paris e lá permanece até 1932,
estudando no Ateliê de Pongheon da Académie Julien. Retorna ao
Brasil em 1935, vai morar no Rio de Janeiro. Dá aulas de desenho
e artes decorativas até 1949 na Enba. Participa do Núcleo
Bernardelli.

●● Augusto Rodrigues: O artista nasceu em Recife, Pernambuco


em 1913 e faleceu no Rio de janeiro em 1993. Educador, pintor,
desenhista, gravador, ilustrador, caricaturista, fotógrafo e poeta. Em
1933, realiza sua primeira exposição individual, no Recife. Nesse
ano, inicia sua atividade como ilustrador e caricaturista no Diário
de Pernambuco. Em 1935, transfere-se para o Rio de Janeiro. Em
1942, realiza exposição individual, com cerca de 100 desenhos, no
Museu Nacional de belas Artes. Foi um dos fundadores do Grupo
dos Independentes em Recife

●● Bibiano Silva: O artista nasceu em Vitoria de santo Antão em


Pernambuco em 1889 e faleceu em Recife em 1969. Foi ainda
bem jovem para o Rio de Janeiro onde cursou a ENBA. Em Recife,
posteriormente, leciona na Escola Normal do Recife e na Escola
de Belas Artes de Pernambuco. Foi um dos participantes do Grupo
dos Independentes.

●● Carlos de Holanda nasceu em Cabo de Santo Agostinho, em


Pernambuco, em 1905 e faleceu em Recife em 1938. Pintor,
escultor e professor. Estudou escultura com Bibiano Silva. Foi um
dos organizadores do I Salão Independente de Arte de Recife em
1933 participando também do grupo dos Independentes.

●● Carlos de Hollanda nasceu em Triunfo, em Pernambuco em 1907


e faleceu em Recife em 1998. Foi pintor, aquarelista e professor.
Estudou em 1928 no liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.
Em 1931 regressa a Pernambuco e passa a ensinar desenho nos
colégios de Recife. Fez parte do grupo dos Independentes de
Recife.

●● Francisco Lauria Nasceu em Maceió em 1912. Pintor e


desenhista. Iniciou seus estudos na Escola Politécnica de Recife.
Monta ateliê com Percy Lau, Carlos de Holanda e Luis Soares.
Participa do grupo dos Independentes de Pernambuco.

●● Helio Feijó nasceu em Recife em 1913 e faleceu naquela cidade


em 1991. Estuda no Rio de Janeiro em 1929 onde desenha
charges para o jornal O Globo. Desenhista, pintor, arquiteto e

47
poeta. Foi um dos primeiros artistas modernos a pintar murais em
Recife. Participa do Grupo dos Independentes.

●● Manoel Bandeira: O artista nasceu em Escada, Pernambuco, em


1900 e faleceu em Recife em 1964. Desenhista, pintor, ilustrador
e professor. Autodidata obteve aos 14 anos o prêmio Telles Junior.
Foi professor da Escola de Belas Artes do Recife e fez parte do
grupo dos Independentes daquela cidade.

●● Nestor Silva nasceu em Recife em 1911 e faleceu na mesma


cidade em 1937. Foi pintor, desenhista, caricaturista e ilustrador. Foi
para o Rio de janeiro em 1931 voltando, porém, logo em seguida
para Recife onde se fixa. Participa do grupo dos Independentes.
Morre muito cedo de tuberculose.

●● Percy Lau nasceu em Arequipa, Peru, em 1903 e faleceu no Rio


de janeiro em 1972. Chega ao Brasil em 1921, fixando residência
em Olinda, Pernambuco. Autodidata, foi desenhista e gravador. Fez
parte do grupo dos Independentes em 1933. Transferiu-se para o
Rio de janeiro em 1938, frequentando o Liceu de artes e Ofícios.
Participou de vários salões e individuais no Brasil e no exterior.

Revisão
O espírito de associação tornou-se bastante evidente na década de trinta no cenário
artístico brasileiro. Principalmente nos núcleos hegemônicos (leia-se Rio de Janeiro e
São Paulo). Entretanto, outras cidades também manifestaram esse espírito coletivo no
sentido de difundir um espírito de modernidade no país. O caso de Recife é um dos que
mais chamam a nossa atenção com o Grupo dos Independentes do qual falaremos mais
tarde.

Entre os grupos que se fizeram presente no cenário artístico Rio/São Paulo destaca-se
a Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), entidade paulista que reunia figuras importantes
do início do modernismo; O Clube de Arte Moderna (CAM), também paulista, que traz
uma atitude mais profissional em relação ao papel do artista; O Salão de Maio, a Família
Artística Paulista (FAP) e o Grupo Santo Helena, também paulista. No Rio de Janeiro
funda-se o Núcleo Bernardelli e em Recife o Grupo dos Independentes.

Em 1932, dez anos depois da realização da Semana de Arte Moderna (SAM)


surge o SPAM em São Paulo. Apoiado pela aristocracia paulista o SPAM tem como
objetivosestreitar as relações entre artistas e pessoas que se interessam pela arte em
todas as suas manifestações; promover exposições, concertos, reuniões literárias e
dançantes; realizar sorteio de obras entre os membros; e criar uma sede social que se
torne um espaço de festas e exibições.

Com uma atitude mais independente do patrocínio da aristocracia paulista e tendo como
característica um programa atuante o Clube dos Artistas Modernos (CAM) foi criado em
24 de novembro de 1932, um dia depois da fundação da Sociedade Pro - Arte Moderna

48
(SPAM). Tendo a frente o artista vanguardista Flávio de Carvalho a associação se
proclamava menos elitista e um espaço aberto para várias manifestações culturais.

O Salão de Maio, outra iniciativa paulista no sentido de difundir as ideias modernistas


vai acontecer em 1937 e se repetir em 1938 e 1939. Querino da Silva foi o seu principal
idealizador e realizador. Foi acompanhado nessa ação por Geraldo Ferraz e Flávio de
Carvalho. Com o tempo Querino da Silva se afastou e Flávio de Carvalho tomou a frente
do Salão.

Em São Paulo, em torno dos anos 1935-1936, um grupo de artistas de origem social
modesta concentrou-se em ateliers improvisados no Palacete Santa Helena que situava-
se no centro da capital do Estado. Sem programas preestabelecidos, o Santa Helena
surge da união espontânea de alguns artistas. Os artistas do grupo descendiam quase
todos de famílias de imigrantes italianos. Sua condição proletária, seu autodidatismo
de terem sido estudantes do Liceu de Artes e Ofícios contrastava com os primeiros
modernistas de origens burguesas ou aristocráticas.

Paulo Rossi Osir foi o responsável pela criação da FAP (Família Artística Paulista) em 1937.
É mais um exemplo do êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas
na vida cultural do país ao longo da década de 1930. O Núcleo Bernardelli foi fundado
em 12 de junho de 1931, no Rio de Janeiro, por um conjunto de pintores comprometidos
com a oposição ao modelo de ensino da Escola Nacional de Belas Artes. Ele possuía
como metas centrais a formação, o aprimoramento técnico e a profissionalização
dos seus artistas. O Núcleo funcionou durante algum tempo nos porões da ENBA
e homenageava os antigos professores da Escola: Rodolfo e Henrique Bernardelli.

O grupo, denominado de Grupo dos Independentes, surgiu em Recife no início dos anos
30 (1933) quase que ao mesmo tempo em que a Escola de Belas Artes de Recife (1932).
Jovens artistas plásticos, desenhistas e caricaturistas, pintores e escultores objetivaram
propagar o modernismo na cidade.

Esses grupos foram responsáveis pela difusão do vocabulário modernista durante a


década de 30 nos principais centros urbanos do país.

Atividades
O professor deve pedir aos alunos através de exercício colocado no Chat do curso que
cada um pesquise um artista de cada grupo responsável pela difusão do modernismo
no país. O aluno deve também trazer uma obra do artista pesquisado e analisá-la. As
informações serão intercambiadas e discutidas entre professores e alunos.

49
50
C a p í t u l o 12

Da introdução e afirmação
do modernismo através
da obra de alguns artistas

Objetivos
●● Analisar a obra de alguns artistas brasileiros e sua importância na introdução e
difusão do vocabulário moderno;

●● Observar a importância do indivíduo na ação de uma transformação estética em um


espaço social;

●● Compreender o impacto de algumas poéticas no universo brasileiro do início do


século XX.

Alguns artistas, de forma isolada, contribuíram para a consolidação


do modernismo no espaço artístico brasileiro. Sua atuação aproximou
o público das linguagens ligadas às vanguardas europeias. Esses
artistas passaram por vários grupos e desenvolveram várias fases
em suas poéticas. Sua grande importância é introduzir um novo
vocabulário plástico e muitas vezes adaptá-los à cultura local.

A pioneira Anita Malfatti


Em 1917, nosso mercado estava impregnado por pinturas de
paisagens, retratos, grandes obras históricas e naturezas mortas,
que enfeitavam as casas da burguesia emergente. É, portanto, nesse
cenário que, trazendo na bagagem as descobertas do Expressionismo,
desembarca no Brasil a Malfatti daquela exposição tão discutida (a de
1917), sua segunda individual no país. Sua residência na Alemanha
de 1910 a 1914 havia incubado essa estética que vai explodir na
mostra que vai catalisar a Semana Moderna de 1922.

Talvez não tenha sido a intenção deliberada de Malfatti em suas


obras da época, de destruir por completo todas as regras impostas
pelas escolas e estilos acadêmicos anteriores. Ainda assim, Malfatti
certamente tinha consciência de que sua linguagem era novidade no
meio paulistano.

51
O fato é que ela, naquele momento, era portadora de uma linguagem
que, segundo Zanini (1983:513):

Superando convenções de forma, cor e percepção


do espaço, ainda visíveis em obras de 1914 e
dominando os códigos técnicos, a sua linguagem
verticalizara-se em todos os sentidos. Alta
temperatura de cor e tensão gráfica equilibrava-
se agora na concisão da imagem subjetiva, onde
o anímico enraizamento expressionista recorria a
esquemas de construção cubo - futurista.

Ela procurava divulgar esses novos conhecimentos baseados numa


linguagem já experimentada, mas inédita no Brasil ainda acadêmico
em seu vocabulário artístico. A mostra foi um impacto para a crítica
e para a opinião pública. Foi um choque e obras como O Homem

Pesquise... Amarelo, A Boba ou A Mulher de Cabelos Verdes chocaram porque


traziam o novo detonando com o espaço acomodado a São Paulo da
A mulher de cabelos
verdes. Anita Malfatti. época.
1915-16.
Entre as obras que fomentaram as polêmicas em torno da lendária
exposição de 1917, certamente estão muitos dos retratos pintados por
Anita. Tanto nas paisagens quanto nos retratos, a cor é o seu principal
instrumento. Anita utilizava modelos que posavam na Independent School
of Art em troca de alguns dólares. Essas pessoas, sem nenhuma ligação
com o mundo artístico, serviriam como modelos para obras como tela
acima. Nessas obras, Anita revela o seu interesse em retratar o estado
psicológico dos seus modelos.

O uso desse vocabulário expressionista, fugindo dos modelos


clássicos, causou censuras à sua pintura. A principal ração negativa
de caráter público veio através da imprensa e da pena do conceituado
escritor Monteiro Lobato. Seu artigo A propósito da Exposição de
Anita Malfatti, escrito para O Estado de São Paulo repercutiu no meio
paulista como forma de negação à vanguarda que representava Anita
naquele momento.

A recepção negativa à Exposição de 1917 foi um dos fatores que fez


com que Anita recuasse na ação de introduzir um vocabulário novo
na realidade artística brasileira. No entanto, apesar do escândalo
geral, algumas forças ansiosas por renovação cultural já procuravam
apoiar e defender a artista. Entre eles está Mario de Andrade, grande
admirador da pintora, que após a Semana de Arte Moderna de 22
cresceu em importância no cenário cultural paulista. Em 1923, a
artista parte para a França. Vários outros membros da Semana de

52
1922 fazem caminho semelhante.

Lasar Segall: o lituano que foi um dos


precursores do modernismo brasileiro
O artista, de origem judaica, inicia seus estudos de arte, em 1905, em
Vilna, na Lituânia. Muda-se para a Alemanha em 1906 e estuda na
Escola de Artes Aplicadas e na Academia Imperial de Belas Artes, em
Berlim. Viaja para a cidade de Dresden, onde frequenta a Academia
de Belas Artes. No final de 1912, vem para o Brasil pela primeira vez
e no ano seguinte expõe em São Paulo e Campinas. No mesmo ano
retorna à Europa.

A partir de 1914, passa a interessar-se pelo Expressionismo enquanto


linguagem plástica investindo nessa estética. Volta ao Brasil, onde fixa
residência em São Paulo, no ano de 1923. Na capital paulista, Lasar
Segall torna-se destaque no cenário modernista então em construção
trazendo seu expressionismo como exemplo de vanguarda europeia.

No início de seu processo expressionista Segall busca uma


caracterização psicológica mais aguda para suas figuras. A sua
pintura, sob o impacto da Primeira Guerra Mundial, reflete a
preocupação com as injustiças sociais e o sofrimento humano como
podemos perceber nesta tela de 1920 intitulada A gestante. Pesquise...
A gestante, Lasar Segall.
O trabalho expressa uma linguagem pessoal tirada do reduto mais 1920.
profundo do seu ser. Pintura sensível e dotada de um domínio técnico que
converte o tumulto do sentimento pessoal e íntimo numa obra de pura
expressão. O artista apela para a dramaticidade dos corpos disformes,
angulosos, para o apelo das cabeças enormes de olhos ainda maiores,
que ultrapassam os limites dos rostos numa angústia que se comunica
ao espectador. O sofrimento humano está presente nas atitudes mais
comuns que ele registra.

Segall contribui fortemente para a introdução da linguagem das


vanguardas europeias no Brasil e mais ainda para a consolidação
da modernidade no país que elegeu. Membro atuante da Sociedade
Pro Arte Moderna (SPAM) de São Paulo, ele pinta cenário para seus
bailes e participa de suas exposições.

Um pouco sobre Di Cavalcanti


O pintor Emiliano Di Cavalcanti foi uma figura central na organização

53
do movimento modernista em uma de suas etapas mais importante:
a organização da Semana de Arte Moderna de 1922. Já a partir de
1923, data de sua viagem à Europa, aquele que se iniciou nas artes
através da caricatura transforma sua linguagem. Seu estilo artístico é
marcado pela influência do expressionismo, cubismo e dos muralistas
Pesquise... mexicano. Seu modernismo o leva a resultados como O Beijo onde as
O Beijo, Di Cavalcanti. novas linguagens estéticas se incorporam ao seu vocabulário.
ca. 1923
O trabalho apresenta um expressionismo natural e impulsivo, nascido da
necessidade de satirizar, de combater e demolir próprio do caricaturista
que Di Cavalcanti foi. Seu expressionismo era uma forma de manifestar
socialmente seu estranhamento à rotina enquanto que o uso de cores
fortes, quase fauves acompanha essa sua rebeldia. Na tela, as figuras
são atrofiadas e cheias de violência. Mais um devorar que um beijar. Um
senso de humor muito rico, e muito sutil conduz o olhar do espectador.

Na maior parte de seu trabalho o artista abordou temas tipicamente


brasileiros inclusive no que diz respeito ao cenário. Temas sociais
(festas populares, operários, as favelas, protestos sociais) também
perpassam sua obra. A sensualidade típica brasileira permeia seus
personagens.

Da mesma forma que Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e tantos


outros, o pintor acompanha o movimento de radicalização política de
sua época. Ele foi certamente um dos primeiros artistas a abandonar
a ideologia do nacionalismo que acompanhou todo o movimento
moderno para adotar as posições revolucionárias da classe operária
já em 1926.

Di Cavalcanti participou do modernismo brasileiro em todas as suas


fases tomando parte nas novas linguagens que eram gradualmente
incorporadas nas artes nacionais. Em 1928, ingressa no Partido
Comunista radicalizando seu interesse pelos temas sociais. Em 1932,
funda em São Paulo, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e
Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos (CAM). No ano seguinte,
publica o álbum A Realidade Brasileira, série de 12 desenhos, nos
quais enfoca criticamente a sociedade e seus dirigentes. Nos anos
seguintes, a censura e a repressão varguista inaugurariam uma fase
de grande instabilidade e incerteza para o pintor, culminando com seu
exílio em Paris até a eclosão da Segunda Guerra.

54
Sobre Vicente do Rego Monteiro
Originário de Pernambuco, nascido em Recife, em 1899, numa
família de artistas. Vicente do Rego Monteiro, em 1911, já estava
em Paris cursando a Academia Julian. Em 1913 participou do Salão
dos Independentes, na capital francesa, mantendo contato com as
vanguardas artísticas de sua época. De volta ao Brasil em 1917, em
pleno momento catalisador do modernismo brasileiro, ele em 1918,
realiza a sua primeira arte individual, no Teatro Santa Isabel, no
Recife, e dois anos mais tarde expõe pela primeira vez em São Paulo,
onde entra em contato com Di Cavalcanti, Malfatti, Brecheret, enfim,
com os artistas e intelectuais que desencadeariam a Semana de Arte
Moderna da qual participou.

Naquele momento ele estuda a arte marajoara das coleções do Museu


Nacional da Quinta da Boa Vista que vai embasar sua produção
pictórica de então. Pesquise...
Menino, Vicente do Rego
Alternando praticamente toda a sua existência entre a França
Monteiro. déc. 1920
e o Brasil, Vicente só pouco antes de falecer desfrutou algum
prestígio maior em sua terra natal, aonde nunca chegou a receber
a consideração que sua importância exigia. Em 1957, fixou-se no
Brasil, passando a lecionar na Escola de Belas-Artes de Recife e
na de Brasília. O articulador pernambucano que trouxe ao Brasil a
exposição A Escola de Paris8, exibida no Recife, São Paulo e Rio de Atenção
Janeiro não encontrou apoio e compreensão de seus conterrâneos e 8
A Escola de Paris
contemporâneos. foi o nome dado aos
artistas e a produção
deles que trabalharam
em Paris no início do
século XX quando a
Victor Brecheret: o escultor do capital da França era o
modernismo brasileiro centro artístico do mundo
ocidental.
O escultor paulista inicia a formação artística em 1912, estudando
desenho, modelagem e entalhe em madeira no Liceu de Artes
e Ofícios de São Paulo. De 1913 a 1919 permanece em Roma
para estudos e retorna ao país de origem, para São Paulo mais
precisamente instalando seu ateliê no Palácio das Indústrias onde é
encontrado e descoberto pelos modernistas que passam a divulgar
sua obra.

Em 1921, com bolsa de estudo do Pensionato Artístico do Estado de


São Paulo, viaja a Paris. Até 1936, ele alterna sua permanência entre
Paris e São Paulo. Por ocasião da Semana de Arte Moderna de 1922,
mesmo estando ausente do país, participa com 12 esculturas.

55
Escultor com amplo domínio técnico, seus trabalhos apresentam um
tratamento naturalista da anatomia e uma contida dramaticidade, que
se expressa por meio de torções do corpo e de volumes trabalhados
em luz e sombras acentuadas. Sua obra se destaca pelas figuras
elaboradas com grande síntese formal, simplificação dos detalhes e
linhas estilizadas o que podemos perceber na obra Bailarina.

Pesquise... O artista demonstra uma preocupação com volumes e planos ao mesmo


tempo em que se desinteressa por um assunto específico. Tudo o
Bailarina. Victor
Brecheret. Década de 20. interessa, embora continue figurativo. Ele realça rigorosamente esse
amor à forma pela forma. Alusão a um primitivismo já capturado pelos
cubistas que também inspiram o trabalho de Brecheret está por trás
dessa pequena escultura sem definição de rosto, mas sim da ação. O
artista procura o ritmo, o volume. Não importa tanto o corpo humano, mas
o que dele se pode tirar em relação à forma.

Brecheret nos anos quarenta e cinquenta realiza esculturas para


locais públicos, fachadas e baixos-relevos, entre outras obras. Nesse
período, ponto alto da carreira do artista, ele volta-se para a retratação
dos costumes e retrata a cultura indígena brasileira em terracota,
bronze e pedra. É um momento onde o nacionalismo está em alta e o
artista o incorpora em sua produção. Sua contribuição para a difusão
do modernismo no Brasil se dá de forma individual e coletiva tendo
sido um dos primeiros sócios da Sociedade de arte Moderna, o SPAM.

Tarsila do Amaral: a musa dos


manifestos modernistas
Tarsila do Amaral, paulista de Capivari, aristocrata rural e
posteriormente uma das musas do movimento moderno no Brasil
começou seus estudos de arte em 1916 com os mestres Zadig e
Mantovani na capital paulista. Posteriormente tem aulas, também
em São Paulo, com Pedro Alexandrino. Em 1920, entretanto, viaja
Saiba Mais para Paris e estuda na Académie Julian9 e em particular com Émile
9
A Académie Julian Renard.
é uma escola privada
de pintura e escultura, Ao retornar ao Brasil forma, em 1922, em São Paulo, o Grupo dos
fundada em Paris em Cinco, com Anita Malfatti, Mario de Andrade, Menotti del Pichia e
1867 por Rodolphe Julian,
pintor francês. Oswald de Andrade. Uma reflexão conjunta sobre a modernidade
se inicia. Em 1923 a artista retorna a Paris onde frequenta o ateliê
de André Lhote, Albert Gleizes e Fernand Léger. Através do poeta e
intelectual Blaise Cendrars faz contato com Constantin Brancusi, Jean
Cocteau, Erik Satie, entre outros artistas e intelectuais que faziam o

56
cenário artístico francês daquele momento.

Tarsila volta ao Brasil e continua seu envolvimento com o grupo e


principalmente com Oswald de Andrade com quem passa a ter um
relacionamento intenso. Com ele, Olivia Penteado e Mario de Andrade
parte com Cendrals para um tour histórico às cidades coloniais de
Minas Gerais tentando um maior conhecimento e compreensão do
país. Esse aprofundamento nas raízes culturais brasileiras contribui
para o desencadeamento do Manifesto Pau Brasil10 concebido e
Saiba Mais
10
O Manifesto Pau
liderado por Oswald e do qual Tarsila faz parte e inspira. Brasil foi escrito por
Oswald de Andrade e
A artista realiza uma série de trabalhos baseados em esboços feitos publicado inicialmente
durante a viagem que contribuem para essa fase pau-brasil, na qual no Correio da Manhã.
Em 1925, é republicado
ela mergulha na temática nacional. Ainda na década de 20, (1925), como abertura do livro de
ela ilustra o livro de poemas Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, poesias Pau-Brasil, de
publicado em Paris e pinta (1928) a tela Abaporu que vai, por sua vez, Oswald. Apresenta uma
proposta de literatura
inspirar o Movimento Antropofágico11. vinculada à realidade
brasileira, a partir de uma
redescoberta do país.
A tela em questão inspira o Movimento Antropofágico. Ela foi feita para
o escritor Oswald de Andrade um dos teóricos do movimento. Abaporu
etimologicamente descende de termos de origem tupi aba (homem), porá
(gente) e ú (comer). O homem que come gente. Essa é a proposta do
movimento que ela inspira: literalmente comer a cultura estrangeira e
produzir um novo mestiço, híbrido. Saiba Mais
11
O Movimento
Tarsila do Amaral foi uma importante figura do modernismo brasileiro Antropofágico foi um
movimento liderado por
não só por sua obra, mas também por suas atitudes inovadoras. Oswald de Andrade que
Dividiu-se durante muito tempo entre Paris e São Paulo e tornou-se escreveu seu manifesto
em 1928. Seu objetivo
símbolo de uma nova mentalidade que envolvia o social e o artístico era deglutir a cultura de
no Brasil da época. outros países em vez de
renegá-la.

Candido Portinari: uma poética de


fixação do modernismo no Brasil
Pintor, gravador, ilustrador e professor. Inicia-se na pintura em Pesquise...
meados da década de 1910, auxiliando na decoração da Igreja Matriz Abaporu, Tarsila do
de Brodósqui. Em 1918, muda-se para o Rio de Janeiro e, no ano Amaral. 1928.
seguinte, ingressa no Liceu de Artes e Ofícios e posteriormente na
Escola Nacional de Belas Artes. Por volta dos anos 30, o artista
adquire o status de um símbolo do modernismo para o público
brasileiro.

Em 1929, viaja para a Europa com o prêmio de viagem ao exterior,

57
e percorre vários países durante dois anos. Em 1935, recebe prêmio
do Carnegie Institute de Pittsburgh pela pintura Café, tornando-se o
Pesquise... primeiro modernista brasileiro premiado no exterior.
Café, Portinari, Candido.
1935. A partir de Café, o humano, compreendido em termos sociais e
históricos, torna-se a tônica da arte de Portinari, voltada para a captação
da realidade natural e psicológica, para uma expressividade, ora
serena e grave, ora desesperada e excessiva. Seguindo o exemplo
dos muralistas mexicanos, ele procura sua imagística nacional,
alicerçada no trabalho e em suas raízes rurais. O artista concede
dignidade ao trabalhador e dá destaque ao personagem popular.
Nessa obra vemos a paisagem, pisamos o chão; vemos o trabalhador,
seu esforço, sua pobreza, mas também sua nobreza. Ele os descreve
com amor.

Os decênios de 30 e 40 foram decisivos na carreira do artista e na


afirmação do modernismo brasileiro. Portinari segundo Zanini (1983:
767) “chocava e ao mesmo tempo interessava pela versatilidade dos
recursos técnico, iconográficos e expressivos.” Ele envolve-se no que
diz respeito à atenção prestada aos tipos brasileiros e cenas da vida
popular. Registra o negro e o mulato e o trabalho na roça, o cotidiano
das favelas, do sertão, recordações de Brodósqui e dos retirantes
nordestinos. Segundo Antonio Bento (1980, p. 169):

a série dos retirantes assumiria uma feição


acentuadamente social na carreira do mestre
brasileiro. Não apenas em virtude da Grande
Guerra iniciada em 1939, como em face do apelo
aos recursos de expressão que caracterizariam em
seguida a parte mais notável de sua obra.

Pesquise... Essa fase culmina com a obra Retirantes hoje pertencente ao acervo
do MASP.
Retirantes. Candido
Portinari.
A dignidade que o artista confere ao personagem popular não nos torna
mais atraídos por ele. Seus homens e mulheres famintos e desesperados
nos enchem de assombro e mesmo de medo. Um mundo macabro que
não queremos olhar, pois ele faz parte de nossos pesadelos.
Aos poucos ele, Portinari, penetra nossas defesas em relação aos
seus personagens retirados de um Brasil que não queremos tomar
conhecimento e percebemos com quanto amor esse artista sensível
olhou para esses espantalhos saídos de um país esquecido: o Brasil
que teima em aparecer no universo dos nossos harmônicos e tropicais
cartões postais.

Foram muitas as fases de Portinari. Ele se impôs e impôs sua

58
linguagem moderna ao Brasil pela paixão com que se dedicou aos
muitos temas que o atraíram. Exerceu influência em todo um país
tendo seu trabalho que foi e é reconhecido muito além do universo
dos seus pares. Candido Portinari sozinho foi um dos que mais
contribuíram para a dinamização do modernismo em terras brasileiras.

Sobre alguns artistas citados no


capítulo
●● Flávio Resende de Carvalho: Ver no capítulo 11.

●● Antonio Gonçalves Gomide nasceu em Itapetininga, São Paulo


em 1895 e faleceu em Ubatuba, também naquele estado brasileiro
em 1967. Pintor, escultor, decorador e cenógrafo. Muda-se com a
família para a Suíça em 1913, e frequenta a Academia de Belas
Artes de Genebra até 1918. Muda-se para a França na década
de 1920. Em Paris, instala ateliê e entra em contato com artistas
europeus ligados aos movimentos de vanguarda. Retorna ao Brasil
em 1929. Em 1932, atua na fundação da Sociedade Pro- Arte
Moderna, SPAM. Suas obras aliam formas abstratas e motivos
indígenas. É considerado um dos introdutores do estilo art deco no
Brasil

●● Fernand Leger: Ver no capítulo 11.

●● Willian Zadig: Escultor sueco nascido em 1884 e falecido em


1952. Viveu muitos anos em São Paulo onde teve ateliê. Destaca-
se na Historia da Arte Brasileira por ter sido mestre de Tarsila do
Amaral.

●● André Lothe Ver no capítulo 11.

●● Albert Gleizes nasceu em 1881, em Paris. Trabalhou no ateliê


de desenho têxtil de seu pai. Começou a pintar durante o serviço
militar. Ao conhecer Picasso, interessou-se pelo movimento cubista
e publicou, com Metzinger, o primeiro tratado sobre o Cubismo. A
partir da Primeira Guerra Mundial, sua produção tornou-se mais
abstrata.

●● Pedro Alexandrino Borges nasceu em São Paulo em 1856 e


faleceu naquela cidade em 1942. Pintor, decorador, desenhista
e  professor. Inicia-se na pintura aos 11 anos com pintor mato-
grossense João Boaventura da Cruz. A partir de 1883, estuda
com Almeida Junior em seu ateliê. Entre 1890 e 1892, ingressa
na ENBA, mas não conclui o curso. De volta a São Paulo,

59
leciona desenho no Liceu de artes e Ofícios. Viaja para Paris em
companhia de Almeida Júnior, como pensionista do Estado de São
Paulo, e frequenta o ateliê de René-Loui Chrétien e a Académie
Fernand Carmon. Retorna ao Brasil na primeira década do século
XX, estabelece-se em São Paulo, onde leciona desenho e pintura.

●● Constantin Brancusi: O artista nasceu em Hobita, Romênia,


em 21 de fevereiro de 1876. Descendente de uma família de
camponeses, na infância foi pastor de ovelhas e aprendeu a
ler e escrever sozinho. Em contato com a arte popular romena
do entalhe em madeira, estudou na Escola de Artes e Ofícios
de Craiova (1894 a 1898) e, graças a uma bolsa, na Escola de
Belas-Artes de Bucareste (1898-1902). Foi pioneiro na abstração
escultórica.

●● Emile Renard: O artista nasceu na França em 1850 e faleceu em


1930 também naquele país. Manteve academia e ateliê em Paris
onde estudou a artista brasileira Tarsila do Amaral.

Revisão
Alguns artistas, de forma isolada, contribuíram para a consolidação do modernismo no
espaço artístico brasileiro. Sua atuação aproximou o público das linguagens ligadas às
vanguardas europeias. Esses artistas passaram por vários grupos e desenvolveram
várias fases em suas poéticas. Sua grande importância é introduzir um novo vocabulário
plástico e muitas vezes adaptá-los à cultura local.

Trazendo na bagagem as descobertas do Expressionismo, desembarca no Brasil a Malfatti


daquela exposição tão discutida (a de 1917), sua segunda individual no país. Sua residência
na Alemanha de 1910 a 1914 havia incubado essa estética que vai explodirna mostra que
vai catalisar a Semana Moderna de 1922. Ela é uma das pioneiras da modernidade no país.

Lasar Segall, artista lituano radicado no país, contribui fortemente para a introdução
da linguagem das vanguardas europeias no Brasil e mais ainda para a consolidação
da modernidade no país que elegeu. Membro atuante da Sociedade Pro Arte Moderna
(SPAM) de São Paulo, ele pinta cenário para seus bailes e participa de suas exposições.

O pintor Emiliano Di Cavalcanti foi uma figura central na organização do movimento


modernista em uma de suas etapas mais importante: a organização da Semana de Arte
Moderna de 1922. Di Cavalcanti participou do modernismo brasileiro em todas as suas
fases tomando parte nas novas linguagens que eram gradualmente incorporadas nas
artes nacionais.

Alternando praticamente toda a sua existência entre a França e o Brasil, Vicente só


pouco antes de falecer desfrutou algum prestígio maior em sua terra natal, Recife,
aonde nunca chegou a receber a consideração que sua importância exigia. O articulador
pernambucano que trouxe ao Brasil a exposição A Escola de Paris, exibida no Recife,
São Paulo e Rio de Janeiro não encontrou apoio e compreensão de seus conterrâneos
e contemporâneos. Foi, entretanto um dos membros mais importantes para a introdução

60
do vocabulário moderno em terras brasileiras.

Victor Brecheret, que é um dos participantes da histórica Semana de 1922, volta-se para a
retratação dos costumes e retrata a cultura indígena brasileira em terracota, bronze e pedra.
É um momento onde o nacionalismo está em alta e o artista o incorpora em sua produção.
Sua contribuição para a difusão do modernismo no Brasil se dá de forma individual e
coletiva tendo sido um dos primeiros sócios da Sociedade de arte Moderna, o SPAM.

Tarsila do Amaral, paulista de Capivari, aristocrata rural e posteriormente uma das musas
do movimento moderno no Brasil. Forma, em 1922, em São Paulo, o Grupo dos Cinco,
com Anita Malfatti, Mario de Andrade, Menotti del Pichia e Oswald de Andrade. Uma
reflexão conjunta sobre a modernidade se inicia. Tarsila foi uma importante figura do
modernismo brasileiro não só por sua obra, mas também por suas atitudes inovadoras.

Dividiu-se durante muito tempo entre Paris e São Paulo e tornou-se símbolo de uma
nova mentalidade que envolvia o social e o artístico no Brasil da época.

Candido Portinari foi um artista de muitas fases. Ele se impôs e impôs sua linguagem
moderna ao Brasil pela paixão com que se dedicou aos muitos temas que o atraíram.
Exerceu influência em todo um país tendo seu trabalho que foi e é reconhecido muito
além do universo dos seus pares. Candido Portinari sozinho foi um dos que mais
contribuíram para a dinamização do modernismo em terras brasileiras.

Atividades
O professor-tutor dentro do chat disponível deverá colocar imagens dos artistas citados
como importantes para a introdução e a afirmação do modernismo no Brasil. Deve
solicitar a leitura da obra pelos alunos pedindo que estes façam um paralelo com as
vanguardas europeias detectando assim suas influências na modernidade brasileira.

61
62
C a p í t u l o 13

A chegada da abstração
no país

Objetivos
●● Compreender noções gerais da linguagem abstrata e sua introdução no universo
artístico europeu e americano;

●● Observar as condições sociais, políticas e econômicas no momento da introdução do


vocabulário abstrato no país;

●● Acompanhar as várias formas de absorção da linguagem abstrata e seus vários


momentos no espaço artístico brasileiro.

Sobre a abstração enquanto linguagem


artística
O que é abstração no universo das Artes Visuais? Quando começou?
Como se expressa? Essas são perguntas que ainda escutamos
frequentemente apesar da arte abstrata não ser propriamente uma
novidade. Como já estudamos no curso de História da Arte a proposta
abstracionista pode ser dividida em duas tendências: o abstracionismo
informal (lírico) e o geométrico, ou seja: a abstração formal.

A Arte Abstrata ou informal surgiu em torno de 1910, na Europa. Ela se


inclina para a emoção, para o ritmo, a cor e à expressão. Kandinsky
foi o pioneiro dessa abstração, com Primeira Aquarela Abstrata
(1910) e a série Improvisações (1909/1914). Ele retirou da pintura
(e consequentemente de qualquer expressão das Artes Visuais)
a obrigatoriedade de representação da realidade, inaugurando o
processo abstracionista.

O abstracionismo formal ou geométrico por sua vez parte do princípio


de que as formas e as cores devem ser organizadas de tal maneira
que a composição resultante seja apenas a expressão de uma
concepção geométrica: uma construção. Muitos são os artistas e
grupos que se envolveram com esse tipo de representação.

Para exemplificarmos as duas formas de abstrair o mundo visível

63
vamos recorrer a imagens de Kandinsky, do abstracionismo informal
ou lírico e do artista Mondrian representante do Neoplasticismo
Holandês.
Pesquise...
Composição IV. Vassily A composição do artista revela suas preocupações com a cor e a forma.
Kandinsky. 1911. O desenrolar dos planos é abstrato. Algumas formas se sobrepõem às
outras e são cruzadas por linhas retas ou curvas. Essa sobreposição de
planos é incessante em movimentos bruscos organizando, assim sua
profundidade.
As linhas e os planos, as cores e a significação que esses elementos
podem sugerir ao espírito tornam a leitura do quadro extremamente
subjetiva. Seu significado diz respeito ao observador e ao diálogo
estabelecido em relação à obra.

Depois de haver participado da arte cubista, Mondrian continua


Pesquise... simplificando suas formas até conseguir um resultado, baseado nas
Composição com proporções matemáticas ideais. Que traduza as relações formais de um
Vermelho, Amarelo e espaço estudado.
Azul. Piet Mondrian.
O artista utiliza nesse trabalho, como elemento de base, uma superfície
1927.
plana, retangular e três cores primárias (esquematizadas em retângulos
menores) que são, por sua vez, uma parte de um universo de retângulos
maiores criados pelas linhas pretas. Essas superfícies coloridas são
distribuídas e justapostas buscando uma arte pura.
Enquanto a pura emoção norteia a abstração lírica ou informal, na
abstração geométrica de Mondrian a razão passa por cima da emoção
e se buscam nas formas geométricas a expressão do mundo e da vida.

Embora o abstracionismo em suas várias formas tenha sido iniciado


na Europa, a linguagem se espalha ganhando outros continentes. O

Pesquise... Expressionismo Abstrato, por exemplo, termo usado inicialmente no


início do século XX para designar e descrever as primeiras abstrações
Lavender Mist. Jackson
Pollock. 1950. de Kandinsky é mais conhecido como referência a um grupo de
artistas americanos ou residentes naquele país que se destacaram na
década de 50, em Nova York.

O termo deveu-se ao crítico de arte Robert Coates que o usou em


1946 para se referir a obra dos principais artistas do movimento:
Pollock, Gorky e De Kooning, que mesmo com estilos diversos, tinham
experiências e crenças em comum.Também chamada de Action
Painting (pintura de ação) termo criado em 1952 por H. Rosenberg,
ele abrange artistas que engajavam o próprio corpo na ação de pintar.

No que diz respeito ao abstracionismo formal ou geométrico ele


também migra de suas origens europeias (Neoplasticismo Holandês,

64
Suprematismo, Construtivismo Russo e Concretismo) e se espalha
por outros espaços artísticos. Após a Segunda Guerra Mundial,
como mais outro exemplo, a América Latina passa por um forte surto
desenvolvimentista e industrial. O Brasil encontrava-se em momento
similar. No rastro dessa nova economia que implicava na necessidade
de uma arte com fins práticos o vocabulário concreto foi introduzido
Pesquise...
no país.
Movimento. Waldemar
Cordeiro. 1951.
Nos anos 50 Pollock operou uma renovação radical na ação de pintar
quando colocou telas no chão e gotejava tinta sobre elas diretamente
da lata ou por meio de uma vareta ou uma espátula criando formas
labirínticas.
O trabalho mostra um sentido de harmonia e ritmo e rompe com a
imagem do pintor contemplativo que realiza seu trabalho obedecendo a
um projeto. Os emaranhados de linhas e cores que explodem nas telas
de Pollock afastam qualquer ideia de mensagem a ser decifrada. A obra
tem que ser sentida.

Cordeiro transformou cada obra sua em manifesto, cada exposição


em defesa da tese do concretismo e cada título de obra na ilustração
de uma teoria. A geometria na pintura, expressa em linhas de maior e
menor tamanho e de cores variadas, consegue, através da dinâmica de
prolongamentos e reduções passar a noção de movimento que o título
explicita.
De certa forma, a sequência de linhas e cores se comporta como uma
paisagem em outro contingente de comunicação autor/espectador.

Sobre a introdução do vocabulário


abstrato no Brasil
Pensando em pioneirismo na introdução de um vocabulário abstrato
no Brasil podemos pensar em dois artistas fundamentais: os
pernambucanos Vicente do Rego Monteiro na década de 20 e Cícero
Dias nos anos 40. Vicente voltara de Paris no ano anterior, com forte
influência cubista, mas não obteve grande repercussão dentro do
modernismo brasileiro. Entretanto eles viviam e trabalhavam fora do
Brasil, ambos em Paris. Na década de 40 segundo Cacilda Teixeira
da Costa (2006 p 12) “a introdução da abstração geométrica deve-se
a artistas como Arpad Szenes e Axl Leskoschek”.

Entretanto, de uma maneira geral a figuração permanecia forte


quer entre os artistas que não aderiram às linguagens modernas
quer entre os próprios modernistas. Segundo Zanini (1983: p, 642)

65
repercutiu no país então “o Realismo Social, movimento ideológico
de arte estimulado internacionalmente pelo Partido Comunista, sem
traços renovadores”.

Nos anos 50, entretanto, aconteceram mudanças de ordem


econômica com o advento da industrialização no país. O governo de
Juscelino Kubitschek proporcionou novo alento desenvolvimentista. A
construção da cidade de Brasília foi o símbolo desse período. Dentro
desse contexto um novo espaço abriu-se para o diálogo internacional
com a arte abstrata que veio no rastro dessa nova economia, dessas
Saiba Mais mudanças que implicavam na necessidade de uma arte com fins
12
O Salão de Maio,
práticos. Oficialmente, o vocabulársio concreto foi introduzido no país
outra iniciativa paulista por Max Bill e da delegação suíça na I Bienal de São Paulo mesmo o
no sentido de difundir Salão de Maio12, por exemplo, acontecido em plena consolidação do
as ideias modernistas
aconteceu em 1937 modernismo já tivesse trazido artistas representantes dessa tendência
e se repetiu em 1938 artística para expor no país.
e 1939. Querino da
Silva foi o seu principal A primeira Bienal Internacional de São Paulo, criada pelo empresário
idealizador e realizador.
Foi acompanhado nessa Francisco Matarazzo Sobrinho - conhecido por Ciccillo Matarazzo - em
ação por Geraldo Ferraz 1951, deu lugar a 1.800 obras de 23 países, além da representação
e Flávio de Carvalho.
Com o tempo Querino da nacional. Os prêmios concedidos à escultura intitulada Unidade
Silva se afastou e Flávio Tripartida de Max Bill e à tela Formas de Ivan Serpa são sintomas da
de Carvalho tomou a
atenção despertada pelas novas tendências abstratas - construtivas
frente do Salão.
no cenário artístico brasileiro.

Max Bill é o principal responsável pela entrada do ideário plástico


concretista na América Latina, sobretudo na Argentina e no Brasil, no
Pesquise... período após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os princípios
Unidade Tripartida. Max do concretismo afastam da arte qualquer conotação lírica ou simbólica.
Bill. 1949. A obra de arte não tem outra significação senão ela própria. Max Bill
explora essa concepção de arte concreta defendendo a incorporação de
processos matemáticos à composição artística e a autonomia da arte em
relação ao mundo natural.
Este seu trabalho premiado na I Bienal Internacional de São Paulo
reafirma o seu conceito e de seus pares de que a obra de arte não
representa a realidade, mas evidencia estruturas, planos e conjuntos
relacionados, que falam por si mesmos.
Em 1951, Ivan Serpa fez a pintura construtiva Formas, onde demonstra
seu interesse crescente pela abstração geométrica. O contato com as
obras de artistas concretos como e Max Bill reforçou essa postura. Com

Pesquise... Formas, ganha o título de Melhor Pintor Jovem nessa Bienal. Ele adere
ao concretismo e ao Grupo Frente no mesmo ano.
Formas. Ivan Serpa.
Na tela desaparecem referências ao mundo real, bem como a relação
1951.
harmoniosa entre figura e fundo. As obras são feitas bidimensionalmente
e planas, organizadas matematicamente.

66
Essa arte concreta que se instala no Brasil na metade do século XX
deve ser compreendida como parte do movimento abstracionista
moderno, com raízes em experiências como a do grupo Neoplasticista
criado em 1917, na Holanda por Piet Mondrian, Theo van Doesburg,
Gerrit Thomas Rietveld entre outros e popularizado através de Max
Bill, um ex-aluno da Bauhaus13. Atenção
O impacto das representações estrangeiras na bienal se relaciona de
13
A escola Bauhaus
foi fundada por Walter
perto às modificações verificadas no meio social e cultural brasileiro. Gropius em 25 de abril
Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo iniciam processos de de 1919. Foi uma escola
de design, artes visuais e
metropolização, alimentados pelo surto industrial e pela pauta
arquitetura. Ela funcionou
desenvolvimentista, que alteram a paisagem urbana, social e artística entre 1919 e 1933 na
das duas maiores cidades brasileiras. Do ângulo das artes visuais, Alemanha e treminou
graças a perseguição
a criação dos museus de arte e de galerias que também criam nazista.
condições para a experimentação concreta nos anos 1950.

Nessas cidades formaram-se os grupos Ruptura (São Paulo) e Frente


(Rio de Janeiro). Em são Paulo, o grupo, de princípios ortodoxos foi
formado por artistas liderados por Waldemar Cordeiro. Dele fizeram
parte Lothar Charoux, Geraldo de Barros e Luis Sacilotto entre outros. Pesquise...
O grupo realiza exposição no MAM/SP e redige manifesto onde Concreção, Luis
afirma seu conteúdo objetivo. Como teóricos do grupo encontramos Sacilotto. 1956.

os poetas Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari.

As primeiras incursões abstratas do artista no desenho a nanquim e na


monotipia, remontam a 1947. Para a definição do espírito construtivo
de sua arte, desenvolvida em amplo espectro de materiais e técnicas
foi necessário a experiência que ele adquiriu exercendo funções de
desenhista técnico.
Observa-se neste trabalho a concentração em figuras regulares. Sacilotto
trabalha com um número reduzido de figuras, organizadas sob uma
geometria rígida. Relações permanentes e sintéticas conferem qualidade
e força à sua obra.

No Rio de Janeiro, em torno da figura de Ivan Serpa, reuniram-se,


Abrahan Palatinik, Helio Oiticica, Lygia Pape, Mary Vieira, Aluizio Pesquise...
Carvão, Lygia Clark, Amilcar de Castro, Hercules Barsotti entre Polivolume, Mary Vieira,
outros. O Grupo Frente, entretanto, não tinha a mesma preocupação dia e mês desconhecidos
1953 - 1962.
formalista rigorosa do Grupo Ruptura e começou a cultivar
características próprias tendo como teórico o crítico e escritor Ferreira
Gullar. Em oposição à investigação paulista centrada no conceito de
pura visualidade da forma o grupo carioca articula arte e vida sem
admitir a obra de arte com o conceito de “máquina” ou de objeto. Eles

67
se manifestavam contra a exclusão total do sensível preconizado pelo
radicalismo concreto paulista. O teórico do movimento Ferreira Gullar
foi também o autor do manifesto Neo-Concreto que acompanhou a I
Exposição de Arte Neoconcreta. Estava fundado o Neoconcretismo
em terras brasileiras.

Os polivolumes da artista, multidimensionais incitam o espectador a tocar


nos elementos móveis. A interação objeto/escultura/espectador começa
a alterar e a variar, infinitamente, as formas que se sucedem. É uma
experiência baseada na visualidade dinâmica. A construção é mais um
objeto que escultura. Cabe ao observador participante criar e recriar as
sucessivas formas e descobertas. Eles dispensam o andar ao redor, pois,
apelando para as mãos do espectador, obtêm a visibilidade e interação
necessárias.

A conceituação teórica que acompanhou o movimento Neoconcreto


advindo do grupo frente não foi jamais aceitos por alguns artistas
advindos do concretismo paulista. Talvez a ortodoxia dos artistas de
São Paulo se devesse ao fato, segundo Zanini (1983:656) de que
“em São Paulo, a necessidade de ir além dos puros valores estéticos
impunha-se normalmente aos artistas, seja pelo seu encaminhamento
profissional como pela busca de formação técnica numa cidade
industrializada”.

Outras concepções abstratas no


universo artístico brasileiro
As manifestações abstratas no país foram múltiplas e contrastantes.
Artistas não engajados em grupos enveredaram pela abstração
concreta ou informal, geométrica ou lírica. O fato manifestou-se nas
mais variadas formas de expressão plástica: na pintura, escultura e
mesmo na gravura.

Alguns artistas se destacaram no interesse construtivo. Como


Pesquise... exemplo, temos Alfredo Volpi que se acerca da abstração geométrica
mesmo negando-se sempre a ser taxado de artista concreto. O
Fachada das Bandeiras
Brancas, Alfredo Volpi. artista investiga inclusive elementos do folclore brasileiro através da
déc. 1950. representação das bandeirinhas juninas. Segundo Zanini (1983-679):

Neste campo da investigação coloca-se também a


longa série de obras baseadas nas bandeirinhas
de papel colorido, típicas das festas juninas, logo
aparecendo os mastros de imagens do santo,
motivos tratados enquanto realidades visuais

68
construtivas. O desenvolvimento desses temas
(não raro entrelaçados) e o uso de componentes
formais mais livres, assim como outras abstrações,
estenderam-se pelos anos 60.

Volpi pesquisa dentro do figurativo, do abstrato ou do concreto. No


trabalho em questão o artista retira de uma realidade um repositório
de imagens, um repertório iconográfico do qual retira formas avulsas
existentes - portas, janelas, telhados, ruas, pátios, barcos, gradis, linhas
do mar ou do horizonte - como se fossem signos abstratos. Volpi chega
nesse momento a uma síntese interessantíssima dos portais e das festas
de São João.

Outra abordagem abstrata que mergulha na vertente do simbólico e


que vai buscar elementos nas religiões afro-brasileiras é a do Baiano
Rubem Valentim que escultor, pintor, gravador, professor. Inicia-se
nas artes visuais na década de 1940, como pintor autodidata. Desde
o início de sua produção, nota-se um forte interesse pelas tradições
populares do Nordeste. Segundo Zanini (1983, p. 680) “vale-se ele
de formas emblemáticas de estudada e rígida ordenação geométrica
para suas pinturas, relevos e objetos tridimensionais”. Dominado pela
carga simbólica dos signos da liturgia africana ele transfigurou-os em
formas abstratas de singular efeito plástico. Pesquise...
Composição, Rubem
O artista transforma uma linguagem simbólica religiosa africana, parte Valentim. 1957 - 1959.
de sua vivência baiana, em signos abstratos de grande carga plástica.
Ao assim proceder ele os retira de seu contexto social e religioso e os
transporta para uma dimensão universal. A evocação desses signos
mágicos retirados da alma negra da Bahia nada tem de folclore. De
certa forma eles se separam de sua função evocativa original. O artista
decompõe esses símbolos religiosos e os geometriza de forma rigorosa
reduzindo-os à essencialidade das formas.

Outra poética abstrata a ser lembrada aqui em meio as tantas que se Pesquise...
sucederam ser estarem ligadas a um grupo específico é a do artista
Raul Córdula. Sem
paraibano (de Campina Grande) Raul Córdula. Mergulhado nas Título. s/d. Fonte: Galeria
correntes construtivas ele transporta para o universo do abstrato as Gamela. http://www.
galeriagameladearte.
referências da cultura popular. Segundo o crítico Paulo Sergio Duarte com.br/trabalho.
(2000, p. 1) ele “foi ainda responsável pela preservação de ricas aspx?cod=6&img=38
manifestações da cultura popular que sem essa armadura tecida por
intelectuais da classe média não teriam sido sequer detectadas”.

A escolha estética corduleana, segundo o mesmo crítico, é uma


escolha quase solitária em sua região pelo menos no início de sua
pesquisa. Para Marcos Lontra (2000, p. 1):

69
Os quadros de Raul Córdula são paisagens do
mundo, resultado de uma longa e elaborada
técnica que permite ao artista construir o seu
universo poético. A partir das cores e das
formas do mundo real ele cria novas analogias,
novas linguagens, comprometido com o ideário
modernista determinado pela clareza conceitual e
pela síntese dos elementos.

Partindo de um vocabulário constituído de poucos sinais (o triângulo, o


quadrado e o círculo) Córdula investe não só no patrimônio cultural por
onde navega como por buscas por vezes de caráter esotérico. Longe
de postulados tão somente racionalistas, mas sem incorporar uma ótica
folclórica, o artista cria seu mundo pessoal que decodifica através de uma
simbologia geométrico/existencial, própria.

O abstracionismo lírico não se reuniu sob a forma de grupos, mas se


manifestou através do vocabulário de alguns artistas. No que tange às
pesquisas no Brasil elas se iniciaram na década de 40 com a atuação
de artistas como Arpad Szenes, Axl Leskoschek e Samson Flexor.

Na década de 50 destaca-se a produção de Antonio Bandeira,


Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Flavio-Sriró, entre outros. A força dessa
expressão abstrata torna-se institucionalmente nítida na IV Bienal de
São Paulo acontecida em 1957 que traz o action painting de Jacson
Pollock e premia brasileiros que desenvolviam essa linguagem como
Fayga Ostrower.

Muitos pintores figurativos na década de 50 aderiram à arte abstrata. A


abstração se havia tornado a verdadeira linguagem artística da época.
Antonio Bandeiras foi um deles. A pintura, para ele, é um estado de alma
sem outro objetivo que o de comunicar um sentimento, uma emoção,
uma lembrança. Mora dentro do seu ser. Feita de manchas, respingos,
escorrimentos e pequenos toques do pincel, a pintura de Bandeira não é
um mundo acabado, mas em constante mutação. Como o de todos nós.

Alguns artistas citados no capítulo


●● Wassily Kandinsky: Ver no capítulo 10.

●● Piet Mondrian: O artista nasceu em 1872 na Holanda e faleceu


em Nova York em 1944. Após entrar em contato com a teosofia ele
passou por um breve período simbolista caminhando depois para
a abstração. A partir de 1917 desenvolve sua obra neoplástica.
Caracterizada por pinturas cujas estruturas são definidas por

70
linhas pretas ortogonais. Essas linhas definem espaços que se
relacionam de diferentes modos com os limites da pintura, e que
podem ou não ser preenchidos com uma cor primária: amarelo,
azul e vermelho.

●● Arshile Gorky nasceu em 1904 no leste da Armênia e faleceu em


1948. Foi um pintor expressionista ativo no século XX nos EUA.
Em 1909 começou a desenhar e pintar. Em 1920 frequentou a
Technical High School deProvidence. Depois frequentou a New
School of Design, em Boston, Em 1925 mudou-se para Nova
York, adquirindo o seu primeiro atelier. Pintor abstrato, com
paisagens e retratos de inspiração cubista e surrealista fez parte
do expressionismo abstrato amercicano

●● Willem de Kooning nasceu em 1904 e faleceu em 1997. De


Kooning, artista do expressionismo abstrato, revolucionou a
arte norte-americana depois da Segunda Guerra Mundial. Suas
obras mais importantes, influenciadas pela action painting de
Jackson Pollock e pelo simbolismo abstrato de Arshile Gorky,
são composições abstratas de grande formato, em associações
paisagísticas.

●● Jackson Pollock: O artista nasceu em 1912 nos EUA e faleceu


naquele país em 1956. Expoente do expressionismo abstrato, ele
foi um dos primeiros americanos a ser equiparado, em vida, aos
mestres europeus modernos. Matriculou- se, após se mudar para
Nova York, na Art Students League. Desenvolveu uma técnica
de pintura, o ‘dripping’ (gotejamento), na qual respingava a tinta
sobre suas imensas telas. Os pingos escorriam formando traços
harmoniosos e pareciam entrelaçar-se na superfície da tela.
Desenvolveu também a action painting (pintura de ação) colocando
o corpo do artista em contato com a obra.

●● Waldemar Cordeiro nasceu em 1925 e faleceu em 1976. Artista


visual, designer, paisagista e crítico de arte, Cordeiro estudou na
Academia de Belas-Artes de Roma. Em 1948, veio para o Brasil,
fixando-se em São Paulo. Um dos precursores da arte concreta no
Brasil foi seu teórico em São Paulo. Em 1952, organizou o Grupo
Ruptura. Dirigiu a primeira pesquisa em computador no Brasil, em
1968, à frente de uma equipe de matemáticos, físicos, artistas e
engenheiros, utilizando-se de meios eletrônicos para programação
de arte.

●● Arpad Szenes: O artista nasceu em Budapeste, Hungria, em 1897


– Paris e faleceu na França em 1985. Pintor, gravador, ilustrador,

71
desenhista e professor. Em Budapeste, estuda na Academia Livre.
Muda-se, em 1925, para Paris, onde realiza caricaturas e retratos
em bares e cafés, estuda com André Lhote, Fernand Léger e Roger
Bissiere. Em 1940, após morar por um período em Lisboa, o casal,
fugindo do nazismo, transfere-se para o Rio de Janeiro. Passa a
dar aulas.

●● Axl von Leskoschek: O artista nasceu em Graz, Áustria 1889 e


faleceu em Viena, Áustria em 1975. Gravador, pintor, ilustrador,
desenhista, professor, cenógrafo. Ingressa na Escola de Belas
Artes de Graz e na Escola de Artes Gráficas de Viena, em 1919.
Fugindo do nazismo, refugia-se na Suíça, onde inicia a série de
xilogravuras Odysséia. Em 1939, muda-se para o Rio de Janeiro e
leciona xilogravura no curso de desenho de propaganda e de artes
gráficas da Fundação Getúlio Vargas.

●● Lothar Charoux: Pintor e desenhista, nascido em Viena, Áustria,


em 1912. Morre em 1987 em São Paulo, Brasil. Muda-se jovem
para o Brasil, fixando-se em São Paulo. A partir de 1940, estuda
com Waldemar da Costa no Liceu de Artes e Ofícios em SP.
Em 1948 faz seus primeiros desenhos com uma composição
geométrica rigorosa. Participa da fundação do Grupo Ruptura. E
da I Exposição Nacional de Arte Concreta, no MAM-SP.

●● Ivan Serpa: O artista nasceu no Rio de Janeiro em 1923 e morreu


naquela cidade brasileira em 1973. Pintor, gravador, desenhista e
professor. Estuda pintura, gravura e desenho no Rio de Janeiro.
Em 1949, ministra suas primeiras aulas no MAM/RJ. Em 1954 ao
lado de Ferreira Gullar e Mário Pedrosa, cria o Grupo Frente de
tendências abstratas concretistas, mas sem a ortodoxia do Grupo
Ruptura, paulista.

●● Theo van Doesburg nasceu na Holanda em 1883 e falaceu na


Suiça em 1931. Foi um pintor, arquiteto, teórico e design. Foi um
dos fundadores do Neoplasticismo Holandês (De Stjil) e professor
da Bauhaus. A revista De Stijl foi uma publicação iniciada por ele
em 1927.

●● Gerrit Thomas Rietveld nasceu na Holanda em 1888 e ali faleceu


em 1964. Foi um arquiteto e design. Ainda estudante, Rietveld
trabalhava com marcenaria e produção de mobiliário. Em 1917,
influenciado pelo Neoplasticismo, desenha a Cadeira Vermelha
e azul. Foi um membro importante do movimento, contribuindo
para a revista De Stjil. Em 1924 projetou a Residência Schröder,
localizada em sua cidade natal – um marco da arquitetura moderna.

72
●● Max Bill: O artista suiço nasceu em 1908 e faleceu em 1994. Foi
multidisciplinar: arquiteto, pintor, design, escultor professor e teórico
Tendo uma atuação especial na área de educação dodesign, sua
atuação como professor na Escola de Ulm influenciou a Escola
Superior de Desenho Industrial, no Brasil. Cursou na Arts and
Crafts Academy de Zurique e a Bauhaus do qual foi um seguidor
em termos de princípios. Abraçou o conceito universalista de
arte concreta de Van Doesburg. Influenciou a introdução do
Concretismono Brasil.

●● Geraldo de Barros: Nasce em 1928 em São Paulo, Brasil, e lá


falece em 1998. Fotógrafo, pintor, gravador, artista gráfico, designer
de móveis e desenhista. Ele estudou pintura, a partir de 1945.
Em 1946, faz suas primeiras fotos com uma câmera construída
por ele mesmo. Realizou experimentações que consistem em
interferências no negativo, como cortar, desenhar, pintar, perfurar
e sobrepor imagens. Em 1951, com bolsa do governo francês vai
para Paris, onde estuda litografia na École National Superiéure des
Beaux-Arts. Frequenta a escola de Ulm na Alemanha e conhece
Max Bill. Participa do grupo Ruptura. É um dos referenciais do
concretismo no Brasil.

●● Luis Sacilotto: O artista considerado uma das maipres expressões


do concretismo no Brasil nasceu em Santo André, São Paulo
em 1924 e faleceu em São Bernardo do Campo em 2003. Foi
pintor, escultor e desenhista. Os contatos com o Construtivismo
encaminharam-no rumo à abstração construída com princípios
geométricos. Faz parte do Grupo Ruptura e participa da I Exposição
Nacional de Arte Concreta (MAM-SP, MEC- Rio de Janeiro).

●● Abrahan Palatnik nasceu em Natal, Rio Grande do Norte em


1928. É um artista cinético, pintor e desenhista. Em 1932, muda-
se com a família para a região onde, atualmente, se localiza o
Estado de Israel. Estuda em Tel Aviv. O contato com os artistas
e com o teórico Mário Pedrosa faz Palatnik romper com os
critérios convencionais de composição, abandonar o pincel e o
figurativo e partir para relações mais livres entre forma e cor. Por
volta de 1949, inicia estudos no campo da luz e do movimento,
que resultam no Aparelho Cinecromático, exposto, em 1951, na I
Bienal Internacional de São Paulo onde recebe menção honrosa.
Em 1954, integra o Grupo Frente.

●● Helio Oiticica nasceu no Rio de Janeiro em 1937 e faleceu naquela


cidade em 1980. Artista performático, pintor e escultor. Participa do

73
Grupo Frente em 1955 e 1956 e, em 1959, passa a integrar o Grupo
Neoconcreto. Abandona os trabalhos bidimensionais e cria relevos
espaciais, bólides, capas, estandartes, tendas e penetráveis. Em
1964, começa a fazer as chamadas Manifestações Ambientais.
Na abertura da mostra Opinião 65. Trabalha toda sua vida na
experimentação e na teoria das Artes Visuais.

●● Lygia Pape: A artista carioca nasceu em 1927 e faleceu em 2004.


Escultora, gravadora e cineasta. Aproxima-se do Concretismo
e, em 1957, depois de integrar-se ao Grupo Frente, é uma das
signatárias do Manifesto Neoconcreto. Multidisciplinar a artista
trabalha em várias áreas e inclusive concebe com o poeta Reynaldo
Jardim o Balé Neoconcreto I, apresentado no Teatro Copacabana.

●● Mary Vieira: A artista nasceu em São Paulo em 1927 e faleceu


na Suíça em 2001 Escultora e professora ela estudou desenho e
pintura com Guignard na Escola de Belas Artes de Belo Horizonte.
Estuda também escultura com Weissmann e Amilcar de Castro.
Realiza pesquisas sobre o movimento e a dinâmica das formas
e produz, em 1948, suas primeiras esculturas eletromecânicas.
Faz parte do Grupo Frente. Muda-se, em 1951, para a Suíça,
onde realiza curso de aperfeiçoamento com Max Bill. A partir de
1966, torna-se professora da Escola Superior de Arte, Técnicas de
Planejamento Gráfico e Desenho Industrial, da Universidade da
Basiléia, Suíça.

●● Aluisio Carvão: O artista nasceu em Belém em 1920 e morreu em


Minas Gerais em 2001. Pintor, escultor, ilustrador, ator, cenógrafo,
professor. Inicia sua atividade artística como ilustrador, no Pará.
Atua também como escultor e cenógrafo. Passa a dedicar-se
à pintura em 1946. Muda-se para o Rio de Janeiro. Ingressa no
curso livre de pintura de Ivan Serpa e integra o Grupo Frente.

●● Lygia Clark: A artista nasceu em Minas Gerais em 1920 e faleceu


em 1988 no Rio de Janeiro. Foi pintora e escultora. Iniciou seus
estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, sob a orientação
de Burle Marx. Foi para Paris onde estudou com Arpad Szènes e
Leger. Foi uma das fundadoras do Grupo Frente.

●● Amilcar de Castro nasceu em Minas Gerais em 1920 e morreu em


Belo Horizonte em 2002. Foi um escultor de linguagem abstrata.
Participou do Grupo Neoconcreto no Rio de Janeiro e como
programador visual elaborou a reforma gráfica do Jornal do Brasil.

●● Hercules Barsotti Nasceu em São Paulo em 1914 e faleceu

74
naquela cidade em 2010. Pintor, desenhista, programador visual,
gravador. Inicia formação artística em 1926 e começa a pintar em
1940. Na década seguinte, realiza as primeiras pinturas concretas,
além de trabalhar como desenhista têxtil e projetar figurino para
o teatro. Viaja a estudo para a Europa em 1958, onde conhece
Max Bill, teórico do concretismo. Na década de 1960, convidado
por Ferreira Gullar integra-se ao Grupo Neoconcreto.

●● Antonio Bandeira nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1922, e faleceu


em París, em 1967, Bem cedo percebeu-se o talento de Bandeira.
Saiu de Fortaleza para o Rio onde ganhou uma bolsa de estudos
para Paris. Em 1946, viajou para aquela cidade, matriculando-
se na Escola Superior de Belas Artes e, posteriormente, na
Academia da Grande Chaumière. Pouco afeito à disciplina, com
ideias próprias que ele tencionava desenvolver, ele rompeu com
o ensino tradicional, juntando-se a Wols um artista expressionista
com inclinação para a abstração. Desenvolveu um abstracionismo
lírico, informal, sendo um dos artistas brasileiros pioneiros nesta
linguagem.

●● Manabu Mabe: O artista nasceu em Kumamoto, Japão, em 1924


e faleceu em São Paulo, Brasil em 1997. Foi pintor, gravador,
ilustrador. De Kobe, Japão, emigra com a família para o Brasil em
1934, para dedicar-se ao trabalho na lavoura de café no interior do
Estado de São Paulo. Interessado em pintura, começa a pesquisar,
como autodidata, em revistas japonesas e livros sobre arte. Em
1945, na cidade de Lins, aprende a preparar a tela e a diluir tintas
com o pintor e fotógrafo Teisuke Kumasaka. Em 1957 vende
seu cafezal em Lins e muda-se para São Paulo para dedicar-
se exclusivamente à pintura. No ano seguinte, recebe o Prêmio
Leirner de Arte Contemporânea. Daí por diante tornou-se um dos
maiores pintores abstratos líricos trabalhando no país.

●● Tomie Ohtake: A artista nasceu em Kyoto, Japão, 1913. Pintora,


gravadora, escultora. Vem para o Brasil em 1936, fixando-se em
São Paulo. Em 1952, inicia-se em pintura com o artista Keisuke
Sugano. Após um breve período figurativo a artista define-se
pela abstração. Surgem em suas obras as formas orgânicas
e a sugestão de paisagens numa gama cromática intensa e
contrastante. Dedica-se também à escultura. Em 2000, é criado o
Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

●● Alfredo Volpi nasceu em Lucca, Itália, em 1896 e faleceu em São


Paulo, Brasil, em 1988. Mudou-se com os pais para São Paulo

75
em 1897 e foi estudar na Escola Profissional Masculina do Brás.
Mais tarde trabalha como marceneiro, entalhador e encadernador.
Em 1911, torna-se pintor decorador. Na década de 1930 passa a
fazer parte do Grupo Santa Helena. Em 1937 integra a FAP. Sua
produção inicial é figurativa, destacando-se marinhas executadas
em Itanhaem, São Paulo. Passa a executar, a partir da década
de 1950, composições que gradativamente caminham para a
abstração.

●● Rubem Valentim: O artista nasceu em Salvador em 1922 e faleceu


em São Paulo em 1991. Escultor, pintor, gravador, professor. Inicia-
se nas artes visuais na década de 1940, como pintor autodidata.
Reside em Roma entre 1963 e 1966. Em 1966 participa do Festival
Mundial de Artes Negras em Dacar, Senegal. Ao retornar ao Brasil,
reside em Brasília e leciona pintura no Ateliê Livre do Instituto de
Artes da UNB.

●● Raul Córdula: Paraibano, de Campina Grande o artista nasceu em


1943. Pintor e escritor ele estudou no espaço de extensão artística
da UFPB. Fundou o Museu Assis Chateaubriand de Campina
Grande, onde foi diretor; foi supervisor da Casa da Cultura de
Pernambuco; hoje e responsável pelo intercâmbio da Casa França-
Brasil e representante da Associação Cultural de Marselha. Mora
em Olinda onde trabalha.

●● Samson Flexor: O artista nasceu na Moldavia em 1907 e faleceu


em São paulo em 1971. Foi pintor, desenhista e professor. Em 1924
mudou-se para Paris e entrou no curso livre da École Nationale
des Beaux-Arts, passando em em 1926 a estudar nas academias
La Grande Chaumière e Ranson, No ano seguinte já fazia sua
primeira exposição individual na galeria Campagne Première.
Durante a II Guerra Mundial foge para o Brasil. Fixou residência
em São Paulo em 1948.

●● Shiro Tanaka (Flavio – Shiro): O artista nasceu em Sapporo,


Japão, em 1928. Pintor, gravador, desenhista e cenógrafo. Chega
ao Brasil em 1932, e instala-se com a família numa colônia
japonesa em Tomé-Açu, no Pará. Reside em São Paulo a partir
de 1940. Estuda na Escola Profissional Getúlio Vargas. Frequenta
o grupo Santa Helena. Em 1947, integra o Grupo Seibi. Com
bolsa de estudo, viaja a Paris, onde permanece de 1953 a 1983.
Na década de 1960, participa do movimento artístico brasileiro e
integra o Grupo Austral (Movimento Phases) de São Paulo. Dedica-
se à abstração informal.

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●● Fayga Perla Ostrower: Nasce em Lodz, Polônia em 1920 e falece
no Rio de Janeiro, Brasil, em 2001. Gravadora, pintora, desenhista,
ilustradora, ceramista, escritora, teórica da arte, professora. Vem
para o Brasil em 1934. Cursa artes gráficas na Fundação Getúlio
Vargas em 1947. No início dos anos 1950 passa a produzir
obras abstratas. Em 1955, viaja para Nova York como bolsista da
Fulbright Comission. Trabalha no Brooklyn Museum Art School.

Revisão
A Arte Abstrata ou informal surgiu em torno de 1910, na Europa. Ela se inclina para a
emoção, para o ritmo, a cor e à expressão. Kandinsky foi o pioneiro dessa abstração,
Ele retirou da pintura (e consequentemente de qualquer expressão das Artes Visuais) a
obrigatoriedade de representação da realidade, inaugurando o processo abstracionista.
O abstracionismo formal ou geométrico por sua vez parte do princípio de que as formas e
as cores devem ser organizadas de tal maneira que a composição resultante seja apenas
a expressão de uma concepção geométrica: uma construção. Muitos são os artistas e
grupos que se envolveram com esse tipo de representação.

Pensando em pioneirismo na introdução de um vocabulário abstrato no Brasil podemos


pensar em dois artistas fundamentais: os pernambucanos Vicente do Rego Monteiro na
década de 20 e Cícero Dias nos anos 40.

Nos anos 50, entretanto, aconteceram mudanças de ordem econômica com o advento
da industrialização no país. O governo de Juscelino Kubitschek proporcionou novo alento
desenvolvimentista. A construção da cidade de Brasília foi o símbolo desse período.
Dentro desse contexto um novo espaço abriu-se para o diálogo internacional com a arte
abstrata que veio no rastro dessa nova economia.

Oficialmente o vocabulário concreto, que mais se afirmou no contexto brasileiro, foi


introduzido no país por Max Bill e da delegação suíça na I Bienal de São Paulo. Cidades
como Rio de Janeiro e São Paulo iniciam processos de metropolização, alimentados pelo
surto industrial e pela pauta desenvolvimentista, que alteram a paisagem urbana, social
e artística das duas maiores cidades brasileiras. Do ângulo das artes visuais, a criação
dos museus de arte e de galerias que também criam condições para a experimentação
concreta nos anos 1950. Nessas cidades formaram-se os grupos Ruptura (São Paulo)
eFrente (Rio de Janeiro).

O Grupo Frente, entretanto, não tinha a mesma preocupação formalista rigorosa do


Grupo Ruptura e começou a cultivar características próprias tendo como teórico o crítico
e escritor Ferreira Gullar. Eles se manifestavam contra a exclusão total do sensível
preconizado pelo radicalismo concreto paulista. O teórico do movimento Ferreira Gullar
foi também o autor do manifesto Neo-Concreto que acompanhou a I Exposição de Arte
Neoconcreta. Estava fundado o Neoconcretismo em terras brasileiras.

Artistas não engajados em grupos enveredaram pela abstração concreta ou informal,


geométrica ou lírica. O abstracionismo lírico não se reuniu sob a forma de grupos, mas
se manifestou através do vocabulário de alguns artistas. No que tange às pesquisas no
Brasil elas se iniciaram na década de 40 com a atuação de artistas como Arpad Szenes,
Axl Leskoschek e Samson Flexor.

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Atividades
O professor deverá colocar duas imagens da arte abstrata no chat do curso. Uma lírica
e outra geométrica e deve pedir para que os alunos estabeleçam a diferença básica
entre elas no que diz respeito às diferenças entre as duas vertentes do abstracionismo.
Sugerimos que ele coloque uma imagem do Luis Sacilotto do Grupo Ruptura e outra de
Ligia Pape, do Grupo Frente.

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Referências
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CARDOSO, Rafael. A arte brasileira em 25 quadros (1790-1930)


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ZANINI, Walter. (Org.) Historia Geral da Arte no Brasil. São Paulo:


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79
Sobre a Autora

Madalena Zaccara
É doutora em História da Arte pela Université Toulouse II, Toulouse,
França. Professor Associado do Departamento de Teoria da Arte
e Expressão Artística da Universidade Federal de Pernambuco.
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
UFPE-UFPB. Membro da ANPAP (Associação Nacional dos
Pesquisadores de Artes Plásticas). Líder do Grupo de Pesquisas Arte
Cultura e Memória. É autora de vários livros, capítulos de livros e
artigos.

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