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pia arabe de piginas do "Materia Medica" de Dioscérides, c. de 1334. As paginas versam sobre 0 cominho (Cuminum eyminum L,) ¢ o endro (Anethum graveolens L.) (© DrKathleen Cohen, San Jose State University, California, reproduzida com permissio) AS ORIGENS HINDUS ‘A histéria do mundo contemporineo nao se resume A histéria do Ocidente, ¢ muito embora a nossa civilizacio seja a civilizacdo ocidental, ha que verificar os influxos culturais nZo-ocidentais que enriqueceram esta nos- sa civilizagao. E necessirio, por razées que se evidenciar’o, dedicar alguma importancia as origens hindus e chinesas que os historiadores da Quimica detectaram, embora em termos de Ciéncia moderna a contribuigio do Ocidente & ciéncia hindu e chinesa € muito mais importante do que a reciproca. 45 Digitalizado com CamScanner O estudo da influéneia hindu na Ciencia ocidental comegou apenas no século XIX, depois de se iniciar na Huropa 0 estudlo sistemitico do sinsctito, lingua que para os hindus significou © que o latimn significou para os europeus. O pioneiro no estudo do sfinscrito foi Sir William Jones (1746-1794), juiz, inglés na {ndia ¢ fundador da Asiatic Society of Bengal (1784), ¢ 0 primeiro dicionétio sinscrito surgi em 1819, do também inglés Homes Wilson (1786-1860). A patti de 1819 0 poeta ¢ fildsofo do Romantismo August Wilhelm von Schlegel (1767-1845), professor da Universidade de Bonn, comegou a difundir 0 estudo do sanscrito pelo continente europeu. ‘Ao estudar as primeitas idéias ¢ conceitos filos6ficos hindus sobre a otigem, composi¢io ¢ transformagio da _matéria, John M. Stillman (1852-1923) aponta para uma sétie de semelhangas entre as concepgoes grega ¢ hindu (18) : ~ a matéria é essencialmente eterna ¢ indestrutivel; ~ a matéria é constituida por um méimero limitado de elementos, de cuja combinagio surgem as diferentes substincias; ~ inerentes As particulas minimas estio propriedades que permitem esta combinacio e o posterior desenvolvimento de individuos; ~ quséncia de forcas sobrenaturais, a0 menos até a etapa de com- binacio destas particulas. Desenvolvimento independente ou nio ? O préprio Stillman, ¢ mais tarde James R. Partington (19) (1886-1965) apresentam a polémica : ou havia intercimbio intelectual entre gregos € hindus (¢ neste caso os hindus falavam 0 grego € 08 gregos 0 sanscrito), ou as idéias contidas nestas cosmogonias sio idéias “normais” na evolucio do conhecimento sobre © mundo, desenvolvendo-se independentemente em varios lugares. Nao ha evidéncias definitivas para nenhuma destas posicdes. Estudiosos como Max Mueller (1823-1900) ¢ Paul Deussen (1845-1919) defendem o desenvol- vimento independente na Grécia ¢ na India, ao passo que fildlogos como Richard von Garbe (1857-1927) defendem um intercimbio entre Grécia ¢ india, possivelmente através da Pérsia. Ei certo que Alexandre o Grande chegou a India em 327 a.C., ¢ que no periodo romano negociavam-se artigos hindus em Alexandria. Embora Megastenes (c.350 a. C. - 290 a.C,), autor da Indica, Atistbulo, Nearco & Onesicrito tenham registrado suas impresses sobre a india (mais tarde 46 Digitalizado com CamScanner a aproveitadas por Plinio), fio se conhecem tepisttos mais antigos. Contudo, do desconhecimento nao se deve deduzir a incxisténcia desses registros. Os sistemas filos6ficos hindus sio bastante complexos e discuti- Jos ultrapassa com certeza nossos objetivos. Cumpre apenas dizer que tanto os mais ortodoxos como os heterodoxos incluem em suas preocupacées uma cosmogonia (20), O sistema filos6fico de Samkhya (cerca de 550 a.C.) fala de um material ¢ de cinco clementos sutis (som, tato, cor, gosto, odor), dos quais provém os cinco elementos coneretos : eter, Agua, ar, fogo ¢ terra. Estes contém de um a cinco dos clementos sutis, ¢ combinando-se em propor- Ges variiveis formam as diferentes substincias. O sistema Vaiseshika (21), atribuido a Kanada (c.500 aC.) e desenvolvido posteriormente em obras budistas e jainistas do século II a.C., contém uma teoria atémica que contempla atomos como o “anu? = pequeno, € o “param anu” = absolutamente pequeno. Estes atomos sio indestrutiveis e esféticos, e caracterizados por gosto, cor ¢ cheito (diferindo neste particular dos atomos gregos). Os atomos se associam em pares ¢ estes em agregados de pares, e 0 espaco “vazio” entre eles € preenchido pelo éter. O Vaiseshika propde uma cosmologia atomistica, com os quatro elementos materiais agua, ar, terra ¢ fogo. Considera as substincias eternas imatetiais éter, espaco e tempo (0 éter é responsével pelo som, 0 espaco permite distinguir direcio, préximo e distante; e 0 tempo da a idéia de existir simultaneidade ou nao). Ha ainda dois elementos (um total de nove, portanto) que petmitem, tespectivamente, o conhecimento do mundo mate- rial (ama forca “suprassensivel” que explica 0 movimento de agulhas imantadas, a circulagio da 4gua nas plantas, etc.) , € a unio do Homem com a grande Alma universal (22). Mostrar como a Filosofia ocidental encontra um complemento no pensamento hindu, interessante na formulagio de uma Epistemologia das Ciéncias, sera tarefa nao do historiador mas do fildsofo da Ciéncia. A Alqui- mia hindu sera vista mais adiante (pp.122/124), bem como alguns conhe- cimentos praticos dos hindus. A influéncia das origens hindus sobre a Ciéncia ocidental é minima, no entender de Stillman (23) : 1. Por causa da natureza contemplativa da filosofia hindu, pouco propicia ao desenvolvimento cientifico. 2. Por causa do acesso tardio (século XTX) aos esctitos sinscritos. 47 Digitalizado com CamScanner AS ORIGENS CHINESAS > das origens chinesas do esquema de conceitos tedticos da Quimica vation muito nos tiltimos decénios. Joseph Needham (1900-1995) publica a partir de 1954 sua monumental “Science and Civilization in China”, em 7 volumes, na qual a Quimica ocupa 0 quinto volume ¢ patte do segundo. Ainda 35 anos antes, Edmund O. von Lippmann (1857-1940) dedica cm sua “Entstehung und Ausbreitung der Alchemie” (1919, “Formagio ¢ Difusio da Alquimia”) apenas 13 paginas ao conhecimento quimico/alquimico chinés. F.Rex (1931-) observa que as teorias greco-irabes nao sio sé gregas ou arabes, mas que é preciso consi- derar uma corrente sino-drabe, ainda pouco explorada. Os “elementos” chineses adquitem importancia diante de uma caracteristica do pensamento chinés, ainda segundo Rex: os acontecimentos césmicos, terrestres, politicos e naturais (biolégicos e quimicos) esto interligados. Numa tentativa de simplificar 0 universo espititual chinés em poucos fatores haveria a consi- derar duas filosofias, 0 confucionismo, que nao nos interessa por causa de seu antropocentrismo e distanciamento da natureza, e 0 taoismo, e duas concepcées fundamentais - a teoria dos 5 elementos chineses ea teoria dos dois principio opostos, yin e yang (existe de certa forma uma analogia com ‘os sistemas dualistas ocidentais dos séculos XVIII e XTX). O caminho para © conhecimento é 0 Tao, s6 encontrado na natureza. O Tao dissolve (unifica) os dualismos como ocorrem no mundo ocidental: deus-mundo, espitito-natureza, idealismo-materialismo, fé-ciéncia, etc. Aqui surge a primeira grande diferenca entre o pensamento grego, que procura dife- renciar ao definir, e o pensamento chinés, que procura integrar. A sistematizagio dos elementos chineses deve-se a Tsou Yen (c. 350-c.270 a.C.), fundador de uma escola naturalista proxima do taoismo, a “escola Yin-Yang”. Ao lado dos trés elementos terra, gua, fogo ha os elementos madeira e metal. Os 5 elementos se interconvertem e formam um ciclo : a madeira deixa surgir 0 fogo (combustio) - 0 fogo deixa surgir a terra (cinzas) - e assim por diante. Por outro lado, os dois principios opostos yin e yang niio sio totalidades, mas o yin manifesto contém o yang latente. 48 Digitalizado com CamScanner Os elementos chineses como resultantes do yin ¢ yang podem ser assim dispostos : maximo figua minimo muito madeira menos yin igual tetra igual yang, menos metal muito minimo fogo maximo No clemento terra hi um equilibrio entre yin e yang. Vale comentar algumas diferengas em relagio ao que pensavam os gregos sobre os elementos (24) : 1, Segundo Rex, nenhuma das tcorias “clementares” dos antigos parte de ouro, p ou outros metais efetivamente existentes € j4 conhecidos. Embora a idéia de “elemento” entre os gregos seja diferente daquela dos chineses, ¢ interessante notar que os chineses tinham o elemento “metal”, que os gregos mio tinham. (O nome ¢ 0 ideograma chin é 0 mesmo para 0 “elemento” metal ¢ 0 metal propriamente dito), Na existéncia desse ele- mento ‘metal’ evidencia-se uma maior relacio entre teoria e pratica. 2. O “elemento” merctitio de teorias posteriores estd associado ao yin, € 0 enxofte ao yang. O mercitio ¢ 0 enxofre quimicos formam o cindbrio, que tem um papel importante na Alquimia chinesa. Aqui surge um elo de ligagio da alquimia chinesa com a posterior alquimia arabe : 0 merctirio ¢ enxofre alquimicos, os hipotéticos princfpios da “teoria enxofre-merctirio” dos alquimistas arabes teria ali sua origem, e estes dois principios entrariam em conflito com os elementos originais. O posterior acréscimo de um terceiro principio leva aos éria prima propostos por Paracelso : 4 elementos gregos > 2 principios arabes > 0s Tria Prima O nico dos grandes sistemas cientificos ocidentais que nio encontra um correspondente no pensamento chinés é a teoria atomica. A GUISA DE CONCLUSAO Vimos assim as concepgdes tedricas que esto na origem do que vir a ser a Quimica como estrutura, As idéias basicas so as mesmas em Jinhas gerais, embora devidamente trabalhadas pelas caractetisticas do 8 ’ . “-— Ps . pensamento dominante da civilizagio que as produziu ; a logicidade dedu- 49 Digitalizado com CamScanner

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