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KIKOSOFIA
Francisco Moreira
Número 12 JULHO DE 2023
JULHO
Por Francisco Moreira
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
JULHO
Celebrar a luta
A luta por liberdade ainda não acabou no Brasil. Há uma
ano celebramos 200 anos de uma independência
proclamada sob as dores de uma diarreia, que na verdade
marcava apenas o reconhecimento de uma luta que já havia
começado muito antes daquele dias às margens do Rio
Ipiranga e que duraria ao menos um ano mais para se
concretizar pela expulsão do exército português ocorrida Se nos
na Bahia em 2 de julho de 1823. Essa é a verdadeira data
entrincheiramos
da quebra do jugo da Coroa Portuguesa.
no refúgio de
A liberdade, no entanto ainda veria muita batalha em seu
nome, a escravidão, a república, as guerras, o regime nossa paliçada
militar, a redemocratização etc. Hoje esta luta por
ficamos a mercê
Liberdade ocorre sob fortes neblinas que nos impedem de
ver totalmente o campo de luta. De ver até mesmo se do avanço da
estamos lutando pela mesma causa. Todos falam em
liberdade e defesa da democracia, mas os objetivos ignorância.
parecem tão opostos que se confundem no sangrento
entardecer ideológico.
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Número 12 JULHO DE 2023
A VERDADEIRA
INDEPENDÊNCIA
Francisco Moreira
Pesquisa e texto
O Primeiro Passo para a Independência da Bahia - Antônio Parreiras - 1931
A Independência da Bahia foi um dos episódios mais importantes da história do Brasil, pois
mostrou a resistência dos baianos contra o domínio português e ajudou a assegurar a unidade
nacional.
A Independência do Brasil (1822) foi um ato complexo que envolveu uma série de eventos
em diversas regiões do país. Depois de 13 anos nos quais a corte havia se transferido para o
Rio de Janeiro, o rei português dom João VI (1767-1826) retornou para Portugal no ano
anterior (1821). Com isso, Portugal convocou uma assembleia constituinte para elaborar uma
nova constituição para o reino. Os brasileiros, que faziam parte do reino unido de Portugal,
Brasil e Algarves desde 1815, também enviaram representantes para essa assembleia. Porém,
os portugueses não queriam reconhecer os direitos dos brasileiros e tentaram impor medidas
que reduziam a autonomia do Brasil. Os liberais de Portugal tentaram impor uma nova
constituição que reduzia os direitos dos brasileiros.
Na Bahia, essa situação era agravada pela disputa entre os nascidos em Portugal, que queriam
a manutenção de prerrogativas coloniais e aqueles nascidos na Bahia, preocupados com as
vantagens conseguidas com a vinda da família real ao Brasil. Entre essas a liberdade de
comércio e a nomeação de portugueses nascidos no Brasil a cargos importantes.
Vale lembrar que a região do Recôncavo Baiano já era um reduto de revoltas desde o fim do
século 18, a exemplo do levante separatista conhecido como Conjuração Baiana ou Revolta dos
Alfaiates, ocorrido entre 1798 e 1799 que contou com a participação de pessoas humildes,
como alfaiates, sapateiros, escravos e ex-escravos inspirados na Revolução Francesa e na
independência do Haiti para defender ideias como a república, a democracia, a abolição da
escravidão e a liberdade de comércio. A revolta foi descoberta pelas autoridades e seus
líderes foram presos e executados (enforcamento e esquartejamento em praça pública).
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
Em janeiro de 1821, o General Madeira de Melo foi nomeado Governador das Armas e
desembarcou na capital baiana com reforços vindos de Lisboa, e logo iniciou uma série de
ataques contra os baianos, que haviam tentado impugnar a posse deste. Oficiais baianos
tentaram resistir, mas em 19 de janeiro tropas portuguesas invadiram o forte de São Pedro,
os quarteis da Mouraria e Palma em Salvador. Manuel Pedro de Freitas Guimarães,
governador deposto foi preso e enviado a Portugal.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
A FORÇA FEMININA
Mulheres guerreiras na luta pela liberdade
As mulheres foram fundamentais na luta pela
independência da Bahia. Além de Joana Angélica, que
bravamente resistiu aos soldados portugueses na
defesa do claustro de seu convento, Maria Quitéria e
a mítica Maria Felipa combateram corajosamente em
batalhas que inspiraram e inspiram os baianos até
hoje.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
Em abril de 1823, Maria Quitéria comandou um grupo
de mulheres que se uniram para lutar contra os
portugueses na Barra do Rio Paraguaçu, no litoral do
Recôncavo. Essa resistência foi fundamental para
assegurar a vitória contra as tropas de Madeira de
Melo e ajudou a fundamentar a imagem guerreira da
jovem.
A Heroica
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
Ponte D. Pedro II - Imagem mais icônica de Capela da Ajuda - Em torno dela a cidade se
Cachoeira - IBGE desenvolveria - IBGE
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Número 12 JULHO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
* Poetisa- Jequié- Ba
KIKOSOFIA
Número 10 MAIO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 10 MAIO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
GIOCONDA
Claudio Pitta *
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
Estante
DICAS DE LEITURA PARA SEUS MOMENTOS
Pois ler nos faz entender o mundo
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
VOU AI...
KIKO MOREIRA
Beto era um cara boa pinta. Tinha nascido com o que algumas pessoas
chamam de boa genética. Esbelto, de musculatura definida, mas sem
exageros, pele bronzeada, cabelos cheios, um rosto simpático. Era o tipo
que agradava visualmente a mulherada. Amigo desde que entramos juntos
no Colégio da Polícia Militar, Beto chamava a atenção pelo porte e
impressionava a postura elegante quando envergava a farda da escola.
Moradores do mesmo bairro, costumávamos ir a mesma igreja e andar
com a mesma turma de jovens, nas mesmas festas e era nesta últimas que
Beto costumava protagonizar algumas das mais vexatórias histórias.
Mas o fato que mais nos faz lembrar do velho Beto aconteceu num baile de aniversário.
Todos nós fardados, túnica branca, elegantes, havíamos dançado a valsa e agora
celebrávamos descontraídos, alguns conversando animadamente com algumas das garotas
ou simplesmente curtindo a festa. Beto se aproxima de mim e me fala "Véio, acho que
aquela menina ali tá me encarando". - Olhei. Uma garota linda, cabelos longos, pretos,
presos num rabo de cavalo, num vestido longo que valorizava curvas sensuais e deixava
entrever seios fartos e firmes, olhava timidamente para Beto, sorria e desviava o olhar. "E
ai, será que tenho chance?", disse Beto. - Olhei novamente, a menina claramente estava
interessada nele e falei - Ela tá te olhando mesmo, vai lá, puxa conversa. - "Vixe, e vou
falar o quê? Você sabe que sou lerdo" - Poxa Beto, Vai tranquilo, dá boa noite e faz algum
elogio, diz alguma coisa engraçada, diferente, tem mistério não. - "É mesmo, né? Eu vou
lá".
Beto encarou a menina, que percebendo a aproximação, sorriu, desviou o olhar e voltou a
encarar ele provocante. Ele parou, pegou dois coquetéis numa mesa e continuou a
aproximação. Eu chamei a atenção dos colegas ao meu redor - Eita, que agora vai, pegou
até um drinque pra menina. - Ficamos prestando atenção enquanto ele se aproximava da
garota, que agora o olhava de soslaio com um sorrisinho de quem sabia seria abordada.
Beto - "Boa noite" - A menina sorrindo - "Boa noite" - Beto - "Vou aí... Nessas carnes..."
Acho que não preciso dizer que a menina ficou fula da vida, pasma, olhou de volta pra Beto
com uma cara zangada e virou as costas saindo pisando forte. Beto, com os dois copos na
mão, olhou para nós, que não sabíamos se ríamos ou chorávamos e perguntou: "Fiz o quê
errado?" - Esse era o nosso Beto.
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Número 12 JULHO DE 2023
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TRIBUTO A CASTRO
ALVES
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Número 12 JULHO DE 2023
RETÊTE
JOSÉ CARLOS VAZ *
Não sei nos outros lugares ou noutros tempos, mas, naquele tempo, em Jequié, a palavra
“retête” era uma espécie de interjeição de intensidade, muito comum entre as pessoas,
inclusive os meninos e meninas contemporâneos de brincadeiras e peraltices. É possível
que a interjeição “retête”, seja uma corruptela de “reteté”, que alguns dicionários definem
como “demonstrações de emoções de modo exagerado”.
Pois bem, se um time de futebol era muito bom, os garotos diziam, com eufórica
entonação:
- Retête!!! Que time bom da porra! (Porra, nesse sentido, era também uma espécie de
advérbio de intensidade, porém, poderia servia para outros usos menos dignos).
Mas, voltando ao Retête, agora com maiúscula inicial, era também nome de gente, ao
menos de um homem que vivia em Jequié, a Cidade Sol. Era uma figura enigmática, bem
estranha, parecia uma espécie de mistura de ogro com o corcunda de Notre Dame.
Um dia, numa das casas em que minha mãe lavava roupas de ganho, vi uma imagem de
um Buda de louça, cheio de moedas em seu colo, e, de pronto, achei que Retête se
parecia muito com o Buda. Pançudo, rechonchudo e bonachão, sua cabeça arredondada e
os cabelos ralos, os olhos apertados, os braços e pernas curtos, portém, estas últimas,
sempre ligeiras.
Quase todos os dias eu o via passar pela minha rua, conduzindo uma galeota, como eram
denominados aqueles carrinhos de mão usados na construção civil. No caso dele, a
galeota servia para conduzir qualquer coisa e, era assim que Retête ganhava o sustento.
Nos dias de sábado, era uma festa, pois passava o dia conduzindo as compras que as
pessoas faziam na feira-livre. Parecia que carregava pena, dada a tranquilidade e o rosto
sempre alegre com o qual desfilava com a sua galeota lotada de tudo o que se pode
comprar na feira.
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Número 12 JULHO DE 2023
- Estou debaixo de ordem Seu! (ou Sua, caso a interlocutora fosse uma mulher).
Certo dia, vi com assombro a galeota passar, conduzida por outra pessoa que não o seu
misterioso dono. Vi, ao me aproximar, com maior assombro ainda, Retête desacordado,
sendo transportado em sua carruagem de trabalho.
Não, não estava morto. No sábado à tarde, quando a feira já estava sendo desmontada,
Retête separava um parte do dinheiro apurado e, já com saliva na boca, pedia uma dose
generosa de destilada. Era a sua bebida preferida. Tão preferida que, geralmente, só
parava de beber após terminar o dinheiro pouco que arranjou naquele dia.
Na segunda pela manhã, lá ia Retête, adorado pela crianças, que sempre o rodeavam
saltitantes e intrigadas com aquela figura que parecia ter saído das histórias de Monteiro
Lobato.
Um dia, mesmo um pouco acanhado, também me aproximei para ver o que realmente
encantava aqueles meninos e meninas, que sorriam serelepes ao ouvirem as palavras de
Retête.
Quando me aproximei, os meninos em coro, numa algazarra infernal, pediam para Retête
dizer o seu nome. Ora, mas não era apenas “Retête”?
Não, decididamente não. Quando não estava debaixo de ordem, apressado, ele gostava
de parar a sua galeota e, gostosamente, respondia às crianças, como se estivesse rezando
um terço, o seu nome:
-Josué Jesus Barreiro Barbosa Lima da Cunha Peixoto Pimenta Bonfim Calvares Dantas
Oliveira Bonifácio Sena da Costa Nelson Ned Pereira dos Santos Nely Macedo Maciel
Morbeck Cordeiro das Meninas... (e terminava efusivo) vulgo gari, Retête!
Era uma explosão de gozo e de riso entre os meninos. Intrigava-nos que um homem tão
pequenininho tivesse um nome tão imenso. Além disso, ficava sempre a admiração pelo fato dele
lembrar-se do nome, na mesma sequência, sem titubear.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
O tempo leva tudo, só não leva as lembranças leves que pousam no lugar do não
esquecido. Depois que cresci e me mudei de Jequié, nunca mais vi Retête. Soube que
ainda era vivo, e que fora acolhido num lar de idosos.
A figura impar daquele Buda do sertão, daquele homem preto, bonachão, que distribuía,
feito incenso, o perfume de sua existência mística, passeia ainda muitas vezes pela minha
memória, com a sua galeota rangendo, entulhada de compras da feira, que nunca eram
suas. De tanto gozo em ouvir dizer, de uma forma muito singular, o seu nome, guardei-o,
na camada dos afetos.
Dia desses, numa consulta médica, a atendente perguntou-me o meu nome e, num lapso
freudiano, para estupefação dela e dos demais que estavam próximos e ouviram,
respondi:
-Josué Jesus Barreiro Barbosa Lima da Cunha Peixoto Pimenta Bonfim Calvares Dantas
Oliveira Bonifácio Sena da Costa Nelson Ned Pereira dos Santos Nely Macedo Maciel
Morbeck Cordeiro das Meninas, vulgo gari Retête...
Quando ela recobrou-se do susto, perguntou-me, mais uma vez, agora sorrindo, tal qual
as crianças de minha infância:
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Número 12 JULHO DE 2023
DIVERGÊNCIAS
Indo na contramão de certas "correntes" - Francisco Moreira
Tolerância intolerante
Confesso que tenho um problema com a palavra tolerância. Seu conceito revela
uma atitude de má vontade. “A tolerância é o ato de agir com condescendência
e aceitação perante algo que não se quer ou que não se pode impedir”. A
condescendência por sua vez demonstra fraqueza. É aceitar algo que vá contra
sua consciência, por temor, complacência ou lisonja. Prefiro sempre usar a
palavra respeito, cujo sentimento pode ser movido por empatia, apreço ou
deferência. Onde empatia, psicologicamente é vista como “a capacidade que
uma pessoa tem de compreender e sentir o que uma pessoa está passando ou
passou”. Em suma, se colocar no lugar do outro.
NOTÍCIAS IMPORTANTES,
ATUALIZAÇÕES E IDEIAS
Mas é em tolerância que vemos falar diariamente em nossas mídias sociais,
programas governamentais e, como bandeira de intelectuais e “influencers”
(para usar um termo vago que define alguém que tem
2 - Tendências popularidade,
de Gestão
Intolerantes são geralmente vistos como vilões por aqueles cujos valores estão
tentando impor como corretos. E digo impor, porque esse é o sentimento de
quem não se convence ou coaduna com aqueles. O estigma de vilania tem sido
tão difundido, que as pessoas têm muitas vezes se calado ou pior, tentam
adaptar suas crenças a valores que são totalmente díspares do que são. A
diversidade, palavra também tão querida aos “tolerantes” só é permitida se for
referida a aceitação de seus valores, nunca é aceita quando se encontra no
campo das ideias. Se você concorda comigo, ótimo. Se não, você deve ser
“cancelado” por sua intolerância.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
O respeito não se porta assim. Não preciso validar a opção sexual de uma pessoa
para tê-la como amiga, a amizade vai além disso. Não vou estigmatizar uma amiga
que aborte, mas nunca vou lhe sugerir tal coisa. Tampouco irei julgar um usuário de
drogas, mas se puder vou lhe mostrar os perigos de tal caminho. Somos todos
iguais em nossa essência mais profunda. Uma gota de sangue só mostra a quem
pertence se a conhecermos microscopicamente, intimamente. E ainda assim não
vai dizer nada sobre quem somos.
É preciso entender que eu não posso exigir aceitação dos meus valores se não
compreender que eles não são universais. Eu não posso exigir direitos se tripudio
sobre os direitos dos outros. Eu não posso pedir inclusão se meu grito ridiculariza o
valor alheio. Não posso querer me integrar se para isso me afasto, categorizo,
excluo.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
Publique na Kikosofia
A Kikosofia é um espaço de vozes, consonantes,
dissonantes, de livre e respeitosa expressão e opinião. Um
local que se pretende divertido, reflexivo, por vezes louco,
mas sempre acolhendo o outro, independente de diferenças,
somos todos iguais, e isso é o que de mais belo existe no
viver, saber que não somos cópias de outro ser. colabore,
discorde, concorde, opine. Boa jornada.
kikosofia@gmail.com
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Número 12 JULHO DE 2023
O HOMEM E A MOÇA
CLAUDIO PITTA
O homem abriu a porta da casa e deparou-se com uma moça sentada. Olhou rapidamente
para os lados, não havia mais ninguém por perto. Voltou-se para a moça e fitou seu olhar,
deixando um mistério no ar. Ela levantou-se e foi em sua direção, olhou para os lados e
não tinha ninguém na contramão. Chegou bem perto dele e segurou sua mão, com
respiração ofegante e acelerado bater do coração. Olhou-o detidamente e beijou
carinhosamente sua face, fazendo-a enrubescer tal qual camarão. Moça bonita, na flor da
idade, meio maltratada, mas sem carecer de piedade, era um sonho em realidade. O
homem a segurou firme e beijou seus lábios suavemente, fazendo-a desfalecer em seus
braços. Ela respirou fundo e acariciou seu rosto com ternura, ele a convidou a entrar. A
moça o fitou novamente, soltou sua mão e, sem dizer um senão, saiu andando na direção
do cais do porto. Atônito, surpreso, perplexo, o homem não sabia o que fazer. Aquela
moça bonita que estava há pouco ali em sua frente, dando indicativos de que iniciaria
com ele uma grande história de amor, simplesmente foi embora. Passado o susto, emoção
reequilibrada, o homem olhou para a moça que virara a esquina. Inconformado com a
situação, saiu em seu encalço, estimulado e esperançoso.
Virou a esquina e viu a moça já no final da rua, chegando ao cais do porto. Acelerou o
passo para alcançá-la, porém, quanto mais rápido ele andava ela mais se distanciava. A
orla fluvial ia terminando e a moça continuava andando sem olhar para trás, com o
homem a perseguí-la, firme e voraz. O homem, percebendo que não a alcançaria começou
a gritar, pedindo para que ela parasse. A moça seguia em frente, andando rapidamente.
Ao passar por uma estrada de terra a moça parou repentinamente, voltou-se para trás e
olhou para o homem que vinha um pouco distante. Quando o homem ia se aproximando a
moça recomeçou sua caminhada, levando-o ao desespero. Ele começou a implorar para
que ela parasse e começou a correr para alcançá-la. Não demorou muito para conseguir
seu intento, segurando-a pelo braço. Ela parou, virou-se e fitou-o com um olhar terno,
demonstrando afeição, aumentando a interrogação dentro da cabeça do homem. Sem
dizer uma palavra a moça segurou sua mão e o puxou até debaixo de uma frondosa
mangueira. Olhou-o firmemente e beijo calorosamente seus lábios, deixando mais ainda
confuso. A moça, então, tirou o vestido e saiu correndo, embrenhando-se no mato. O
homem fez o mesmo e saiu correndo atrás dela.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
A lagoa mudou de nome, de Lagoa Escura, passou a se chamar Lagoa dos Amantes, numa
homenagem póstuma ao homem e à moça que viveram uma história de amor fugaz e
intensa.
KIKOSOFIA
Número 12
JULHO DE 2023
REFULGIR URBANO
UM PRISIONEIRO DA PAZ
"Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu tenho prezado pelo ideal de uma
sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e com iguais
oportunidades. É um ideal pelo qual eu espero viver e que eu espero alcançar. Mas caso seja necessário, é
um ideal pelo qual eu estou pronto para morrer."
Nelson Mandela foi um símbolo como tantos outros na luta pelo direito de ser visto como igual
independentemente da cor da pele. Sua luta, mesmo estando preso por 27 anos, conseguiu
mobilizar lideranças internacionais e chamar atenção para o Apartheid que reinava na África do Sul.
Solto com o fim do regime em 1990, inicia junto com o presidente Frederik de Klerk uma reforma
política que culmina na nova constituição do país, formando uma democracia multirracial depois de
300 anos de dominação branca. Tal feito dá aos dois o Premio Nobel da Paz. Mandela é eleito
presidente em meio a um clima de revanchismo e violência, mas busca a reconciliação e a união
entre sul africanos. Estabelece uma comissão da verdade para revisitar a história e os
acontecimentos durante a guerra contra o Apartheid, não para punir ou apontar culpados, mas para
preservar a memória e a reflexão dos fatos, na promoção da igualdade entre todos.
Mandiba, como era também chamado foi um líder carismático e um entusiasta dos direitos civis,
cujo legado foi a busca por restaurar e unir um país marcado por um dos mais terríveis regimes de
segregação da história, que conseguiu atrair olhares do mundo inteiro e influenciar outras lutas em
locais diversos do planeta. Em 2009 a ONU declarou a data de seu nascimento , 18 de julho, como
dia Internacional Nelson Mandela, com fito de celebrar todos que lutam por um mundo com menos
desigualdades.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
CINEOLHAR
Quando Nelson Mandela (Morgan Freeman)
assumiu a presidência da África do Sul em 1994,
as hostilidades resultantes do Apartheid eram
muito fortes ainda. Percebendo que o Rugby era
uma paixão nacional, mas que a seleção era
formada apenas por brancos e que os negros
torciam contra. Resolve usar essa paixão para
criar um sentimento de coesão nacional,
passando a incentivar o time juntamente com o
líder da seleção Piennar (Matt Damon),
executando ações sociais com os jogadores
ensinando crianças e exercitando tolerância e
perdão. Com o apoio e patrocínio da torcida, a
seleção acaba chegando a final da copa do
mundo. Mostrando como o esporte pode Invictus
2009 - 2h 12 min
aproximar pessoas e ajudar a quebras barreiras e
Direção de Clint Eastwood
preconceitos. Com Morgan Freeman e Matt Damon
Mainha Bahia
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023
KIKOSOFIA
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