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EDIÇÃO DE JULHO DE 2023

KIKOSOFIA

Francisco Moreira
Número 12 JULHO DE 2023

JULHO
Por Francisco Moreira

Um ano. O tempo passou mais rápido do que


imaginei e aqui estamos. 12 edições publicadas e
uma vontade de publicar mais que não para. A
jornada parece que apenas começou e vamos
brincando com as possibilidades. Espero
sinceramente que a revista tenha trazido algo de
bom aos leitores ao longo desses doze meses e
que as colaborações e comemorações durem por
bastante tempo.

Agradeço ao feedback que alguns amigos e leitores


tem feito. A revista é sempre feita com prazer e
dedicação e busca ser um espaço onde ideias,
risadas e reflexões possam se encontrar de modo
universal, democrático e respeitoso. A beleza de
estamos juntos na jornada da vida é a busca pelo
entendimento que somos raros no universo e por
isso mesmo a diferença e diversidade de ideias, de
cultura, de religião é uma benção que, ao contrário
do que alguns pensam, tornam cada um de nós
especial por ser único.

Boa leitura e feliz aniversário pra nós. Nos vemos


por aqui...

Kikosofia nº 12. © 2023 Este trabalho está licenciado por Francisco


Moreira sob CC BY-NC-ND 4.0. Para ver uma cópia desta licença, visite
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Capa: Buda esculpido em Leshan - China


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KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

JULHO
Celebrar a luta
A luta por liberdade ainda não acabou no Brasil. Há uma
ano celebramos 200 anos de uma independência
proclamada sob as dores de uma diarreia, que na verdade
marcava apenas o reconhecimento de uma luta que já havia
começado muito antes daquele dias às margens do Rio
Ipiranga e que duraria ao menos um ano mais para se
concretizar pela expulsão do exército português ocorrida Se nos
na Bahia em 2 de julho de 1823. Essa é a verdadeira data
entrincheiramos
da quebra do jugo da Coroa Portuguesa.
no refúgio de
A liberdade, no entanto ainda veria muita batalha em seu
nome, a escravidão, a república, as guerras, o regime nossa paliçada
militar, a redemocratização etc. Hoje esta luta por
ficamos a mercê
Liberdade ocorre sob fortes neblinas que nos impedem de
ver totalmente o campo de luta. De ver até mesmo se do avanço da
estamos lutando pela mesma causa. Todos falam em
liberdade e defesa da democracia, mas os objetivos ignorância.
parecem tão opostos que se confundem no sangrento
entardecer ideológico.

Assim como soldados que sangram nas trincheiras e terras


de ninguém, nós somos meros peões que não conhecem o
campo de batalha, que vivem ou morrem seguindo
estratégias de generais que nem conhecemos. Tememos
levantar a cabeça para olhar em redor e ver onde estamos,
se podemos nós mesmos traçar a rota de nossa
sobrevivência e vitória.

Assim é na vida. Se nos entrincheiramos no refúgio de


nossa paliçada ficamos a mercê do avanço da ignorância.
Se nos arriscamos a tentar a travessia podemos chegar a
segurança do conhecimento, mas sofremos o risco de
sermos atingidos pela bala da artificialidade e hipocrisia.
Como sempre é uma questão de escolhas, de qualquer
forma a luta continua.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

A VERDADEIRA
INDEPENDÊNCIA

Francisco Moreira
Pesquisa e texto
O Primeiro Passo para a Independência da Bahia - Antônio Parreiras - 1931

A Independência da Bahia foi um dos episódios mais importantes da história do Brasil, pois
mostrou a resistência dos baianos contra o domínio português e ajudou a assegurar a unidade
nacional.

A Independência do Brasil (1822) foi um ato complexo que envolveu uma série de eventos
em diversas regiões do país. Depois de 13 anos nos quais a corte havia se transferido para o
Rio de Janeiro, o rei português dom João VI (1767-1826) retornou para Portugal no ano
anterior (1821). Com isso, Portugal convocou uma assembleia constituinte para elaborar uma
nova constituição para o reino. Os brasileiros, que faziam parte do reino unido de Portugal,
Brasil e Algarves desde 1815, também enviaram representantes para essa assembleia. Porém,
os portugueses não queriam reconhecer os direitos dos brasileiros e tentaram impor medidas
que reduziam a autonomia do Brasil. Os liberais de Portugal tentaram impor uma nova
constituição que reduzia os direitos dos brasileiros.

Na Bahia, essa situação era agravada pela disputa entre os nascidos em Portugal, que queriam
a manutenção de prerrogativas coloniais e aqueles nascidos na Bahia, preocupados com as
vantagens conseguidas com a vinda da família real ao Brasil. Entre essas a liberdade de
comércio e a nomeação de portugueses nascidos no Brasil a cargos importantes.

Vale lembrar que a região do Recôncavo Baiano já era um reduto de revoltas desde o fim do
século 18, a exemplo do levante separatista conhecido como Conjuração Baiana ou Revolta dos
Alfaiates, ocorrido entre 1798 e 1799 que contou com a participação de pessoas humildes,
como alfaiates, sapateiros, escravos e ex-escravos inspirados na Revolução Francesa e na
independência do Haiti para defender ideias como a república, a democracia, a abolição da
escravidão e a liberdade de comércio. A revolta foi descoberta pelas autoridades e seus
líderes foram presos e executados (enforcamento e esquartejamento em praça pública).
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Em janeiro de 1821, o General Madeira de Melo foi nomeado Governador das Armas e
desembarcou na capital baiana com reforços vindos de Lisboa, e logo iniciou uma série de
ataques contra os baianos, que haviam tentado impugnar a posse deste. Oficiais baianos
tentaram resistir, mas em 19 de janeiro tropas portuguesas invadiram o forte de São Pedro,
os quarteis da Mouraria e Palma em Salvador. Manuel Pedro de Freitas Guimarães,
governador deposto foi preso e enviado a Portugal.

Na sequência, soldados portugueses perseguiram os brasileiros que escaparam do Quartel da


Mouraria, que ficava próximo ao Convento da Lapa. Foram até lá e tentaram invadir o
xxxxxxxxxxx
recolhimento das irmãs Concepcionistas, cujo claustro era vedado aos homens. A Sóror
Joana Angélica tentou evitar a entrada e foi mortalmente ferida a golpes de baioneta pelos
soldados. Ela morreu aos 60 anos, pronunciando as palavras: "Morro pela religião e pela pátria".
Ela é considerada a primeira heroína da independência do Brasil e uma mártir da Igreja
Católica.

Batalha de Pirajá - Carybé - 1978

Após a ocupação militar de Salvador, Madeira de Melo recebeu reforços de tropas


portuguesas oriundas do Rio de Janeiro. Várias famílias baianas abandonaram a capital
seguindo para o recôncavo (Santo Amaro, Cachoeira, Maragogipe etc.). Várias conspirações
para depor o novo governador se iniciaram, defendendo a instauração de um governo
central no Brasil, sob autoridade do Príncipe regente, Dom Pedro.

Em 25 de junho de 1822, a Câmara Municipal de Cachoeira se rebelou contra o governo


português e declarou lealdade ao Príncipe. Essa foi a primeira cidade a reconhecer a
autoridade do futuro imperador do Brasil. Os cachoeiranos enfrentaram as tropas do
brigadeiro Madeira de Melo, que tentava reprimir o movimento emancipador e havia
enviado uma escuna canhoneira, que disparou contra a cidade. Uma batalha se iniciou contra
os portugueses e, após quatro dias terminou com a vitória dos brasileiros. Cachoeira se
tornou a sede do governo provisório da Bahia. Várias vilas aderiram ao movimento,
declarando Dom Pedro como único Chefe do Executivo e passando a organizar um exército
de voluntários. Cachoeira é um símbolo da resistência na luta pela independência da Bahia e
do Brasil. Por isso, todo ano, no dia 25 de junho, Cachoeira é considerada a capital simbólica
da Bahia.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Proclamação da Independência - François-René Moreaux -1844.

De junho a outubro de 1822 vários “Batalhões patrióticos” surgiram a exemplo da


“Companhia de caçadores de Santo Amaro”, “Voluntários da Vila de São Francisco” e o
famoso “Batalhão dos Periquitos”, assim chamados pelas cores das fardas, foi nele que serviu
Maria Quitéria, uma das heroínas da luta pela independência.

Em 7 de setembro de 1822, com o famoso grito de "Independência ou Morte!" do príncipe


regente Dom Pedro I o Brasil se declara independente de Portugal. Mas isso não significou
que houve reconhecimento do Reino ou que todas as províncias aderiram à independência
imediatamente.

A luta pela independência durou mais de um ano e envolveu batalhas sangrentas em


Salvador e no Recôncavo. Os baianos contaram com o apoio de tropas enviadas por D. Pedro
I. Além disso, eles tiveram a ajuda de voluntários, como negros, índios, mulheres e religiosos
e até alguns senhores de engenho, que se juntaram à causa patriótica, formando um exército
popular que enfrentou as tropas portuguesas em várias batalhas sangrentas.

A mais importante batalha teria sido a de Pirajá, ocorrida em 08 de novembro de 1822,


travada no que hoje seria a periferia de Salvador. Uma luta sangrenta na qual os brasileiros
em clara desvantagem de 10 para 1 resistiram bravamente, mas estavam fadados a perecer,
até que num das viradas mais espetaculares da história, o Cabo Luís Lopes, corneteiro, após
receber ordens de tocar “Em retirada”, não se sabe bem por que, toca “Cavalaria avançar e
degolar”, fazendo os portugueses acharem que as tropas baianas haviam recebido reforços e
fugirem em desespero.

O cerco a cidade de Salvador foi intensificado e garantido em várias batalhas na ilha de


Itaparica, na defesa da Barra do Paraguaçu e finalmente com a chegada de uma pequena
armada comandada pelo Lorde Cochrane, que seria o núcleo da futura marinha brasileira. O
bloqueio a capital restringiu o abastecimento de gêneros alimentícios e de primeira
necessidade. Em 1º de julho de 1823, Madeira de Melo começa a abandonar a cidade,
embarcando com seus oficiais de retorno a Portugal.

Em 2 de julho de 1823 os últimos soldados portugueses foram expulsos da cidade de


Salvador. Esse dia ficou marcado como o Dia da Independência da Bahia e é comemorado
até hoje com festas e desfiles cívicos. A independência da Bahia foi fundamental para
consolidar a independência do Brasil pois afirmou a separação política e impediu que os
portugueses retomassem o controle do Nordeste e ameaçassem o restante do país anulando
qualquer ponto de apoio para uma invasão armada, garantindo assim a unidade nacional.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

A FORÇA FEMININA
Mulheres guerreiras na luta pela liberdade
As mulheres foram fundamentais na luta pela
independência da Bahia. Além de Joana Angélica, que
bravamente resistiu aos soldados portugueses na
defesa do claustro de seu convento, Maria Quitéria e
a mítica Maria Felipa combateram corajosamente em
batalhas que inspiraram e inspiram os baianos até
hoje.

Maria Quitéria nasceu em São José das Itapororocas,


antiga Freguesia de Nossa Senhora do Porto da
Cachoeira, atual município de Feira de Santana, a
segunda maior cidade baiana. Seu pai era o lavrador
Gonçalo Alves de Almeida. Ela cresceu criada por
madrastas e gostava de cavalgar, seu pai a levava
em caçadas e ela manejava armas, como a
espingarda, algo incomum para a época.

Ao saber notícias da guerra, Maria Quitéria tentou


convencer o pai a deixar que ela participasse em seu
lugar, o que foi prontamente recusado. Foi Então, à
casa de uma das irmãs, Teresa, e pegou a roupa de
seu cunhado, José Cordeiro de Medeiros, cortou os
cabelos e foi se apresentar ao Batalhão de
caçadores, nascia ali o "Soldado Medeiros".

Depois que seu o pai descobre o artifício vai à cidade


de Cachoeira, encontra a filha e informa ao major
José Antônio Silva Castro de que o soldado Medeiros
era uma mulher. Ele lhe pede que volte para casa,
mas ela se recusa.

O major vendo as habilidades de Maria Quitéria com


armas de fogo, permite que ela permaneça na luta e
pede ao Governo Provisório da Vila de Cachoeira que
enviasse "saiotes, e uma espada" para que ela fosse
devidamente fardada como mulher.

Há registros da participação de Maria Quitéria em


pelo menos três combates, o primeiro deles em
outubro de 1822, na região da Pituba. Em fevereiro de
1823, em Itapuã. quando ela foi promovida a 1º
cadete.

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Número 12 JULHO DE 2023
Em abril de 1823, Maria Quitéria comandou um grupo
de mulheres que se uniram para lutar contra os
portugueses na Barra do Rio Paraguaçu, no litoral do
Recôncavo. Essa resistência foi fundamental para
assegurar a vitória contra as tropas de Madeira de
Melo e ajudou a fundamentar a imagem guerreira da
jovem.

Após a guerra, Maria Quitéria foi recebida por D.


Pedro 1º e é condecorada com a insígnia de Cavaleiro
da Ordem Imperial do Cruzeiro, medalha criada como
símbolo do poder imperial para homenagear
brasileiros ou estrangeiros que lutaram pela
independência do Brasil.

Maria Felipa teria nascido na Ilha de Itaparica em


data incerta, provavelmente em 1799 e morrido em 4
de julho de 1873. Ela seria descendente de sudaneses
foi uma escrava liberta, que trabalhou como
marisqueira. Não existem relatos documentais da
época que façam referencia a ela, que só aparece
pela primeira vez no livro "A Ilha de Itaparica:
História e Tradição" escrito por Ubaldo Osório
Pimentel mais de um século depois da guerra. Livro
que se baseia em relatos orais recolhidos pelo
escritor, que é avô do também escritor João Ubaldo
Ribeiro. Sendo tido por alguns historiadores como
uma ficção apropriada pelo Movimento Negro.

Maria Felipa teria se destacado na defesa de


Itaparica, quando os portugueses atacaram a ilha em
7 de janeiro de 1823, queimando vários navios. a
tradição diz que ela era líder das 'vedetas',
sentinelas que vigiavam os barcos que se
aproximavam da ilha. Ponto estratégico para o
abastecimento das tropas portuguesas. Mais tarde,
teria se engajando na luta, atuando em vários
combates.

A atuação mais famosa foi quando juntou várias


mulheres que seduziram soldados portugueses e os
levou para um local deserto, onde após estes tirarem
a roupas empolgados, foram surpreendidos por uma
surra de cansanção (uma planta que causa ardor e
intensa coceira).Talvez Maria Felipa nunca tenha
existido. Ainda assim assume uma forte importância
para a cultura baiana e nacional.
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Vila de Cachoeira por volta de 1823 - Biblioteca Nacional

A Heroica

Em 1531, a expedição de Martim Afonso de Souza chegou ao Brasil


com a incumbência de estimular o cultivo da cana-de-açúcar e a sua
indústria. O Recôncavo baiano foi escolhido para início da produção
em razão de terras férteis, e lá se instalaram os primeiros
engenhos.

Paulo Dias Adorno, um homem de posses, integrante da comitiva, se


instalou à margem esquerda do Rio Paraguaçu e em sua fazenda
mandou construir uma ermida em homenagem a Nossa Senhora do
Rosário, que se tornaria a atual Capela da Ajuda. Ali surgiu uma
povoação que rapidamente se desenvolveu em torno da economia
açucareira. Em 27 de dezembro de 1693, foi criada a Vila e
Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira,
sendo instalada, pelo Desembargador Estevão Ferraz de Campos, a
07 de janeiro de 1698.

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Número 12 JULHO DE 2023

Logo, a Vila se tornou um local de grande desenvolvimento, que


além da cultura açucareira, se transformou em produtora de outros
cultivos, principalmente fumo. Rapidamente se converteu num dos
principais entrepostos comerciais da província, sendo uma das vilas
mais ricas do Império Portugues. Tanto que a Coroa em 1756,
resolveu criar uma taxa vultuosa para ajudar na recuperação de
Lisboa, que havia sido destruída por um terremoto

A Vila foi foco das primeiras lutas contra os portugueses pela


Vila de Cachoeira por volta de 1823 - Biblioteca Nacional
Independência do Brasil. A 25 de Junho de 1822, antecipando o
Grito do Ipiranga, Cachoeira já proclamava o Príncipe D. Pedro I
como Regente, compondo um Conselho Provisório de Governo, por
não aceitar o governo imposto por Portugal, resultando na ação de
Madeira de Melo, que atacou a cidade com tiros de canhão, levando
a uma batalha armada que culminou com a derrota portuguesa.
Dali surgiram os batalhões patrióticos, liderados por figuras como a
do Barão de Belém, Rodrigo Antônio Falcão Brandão e o Soldado
Medeiros, também conhecido por Maria Quitéria de Jesus e outros.
Foi a eclosão da semente que frutificaria em 2 de julho de 1823,
consolidando a Independência do Brasil.

Cachoeira, a Heroica, foi assim denominada em 1837, pela lei nº


43, de 13 de março. em virtude dos seus feitos, foi a Sede do
Governo Provisório do Brasil durante a guerra da Independência em
1822 e, novamente, em 1837, quando ocorreu o levante da
Sabinada. Desde 2007, a cidade se torna capital do estado em data
de 25 de junho, segundo a lei 10.695/07.

Ponte D. Pedro II - Imagem mais icônica de Capela da Ajuda - Em torno dela a cidade se
Cachoeira - IBGE desenvolveria - IBGE

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Número 12 JULHO DE 2023

ODE AO DOUS DE JULHO


Castro Alves

Era no Dous de julho. A pugna imensa


Travara-se nos cerros da Bahia... O
anjo da morte pálido cosia Uma vasta
mortalha em Pirajá. "Neste lençol tão
largo, tão extenso, "Como um pedaço
roto do infinito... O mundo perguntava
erguendo um grito: "Qual dos gigantes
morto rolará?!..." Debruçados do céu...
a noite e os astros Seguiam da peleja o
incerto fado... Era a tocha — o fuzil
avermelhado! Era o Circo de Roma — o
vasto chão! Por palmas — o troar da
artilharia Por feras — os canhões
negros rugiam! Por atletas — dous
povos se batiam! Enorme anfiteatro —
era a amplidão! Não! Não eram dous
povos, que abalavam Naquele instante
o solo ensanguentado... Era o porvir —
em frente do passado, A Liberdade —
em frente à Escravidão, Era a luta das
águias — e do abutre, A revolta do
pulso — contra os ferros, O pugilato da
razão — com os erros, O duelo da treva
Mas quando a branca estrela matutina
— e do clarão!... No entanto a luta
Surgiu do espaço... e as brisas
recrescia indômita... As bandeiras —
forasteiras No verde leque das gentis
como águias eriçadas — Se abismavam
palmeiras Foram cantar os hinos do
com as asas desdobradas Na selva
arrebol, Lá do campo deserto da
escura da fumaça atroz... Tonto de
batalha Uma voz se elevou clara e
espanto, cego de metralha, O arcanjo
divina: Eras tu — Liberdade peregrina!
do triunfo vacilava... E a glória
Esposa do porvir — noiva do sol!...
desgrenhada acalentava O cadáver
Eras tu que, com os dedos ensopados
sangrento dos heróis...
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração! Tu que
erguias, subida na pirâmide, Formada
pelos mortos do Cabrito, Um pedaço de
gládio — no infinito... Um trapo de
bandeira — n'amplidão!...

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

ESTAR COM VOCÊ


Sueli Magalhães *

Estar com você (...)


Um vício em breves palavras
Acato aos seus atrevidos anseios
Entregando-me nos encantos da paixão.

O suor derramando em sua fronte


Insaciável e profundo implora por mim
Derreto de prazer nos maisíntimos
lugares
Perdida em plenitude e devaneio.

Sussurramos palavras indecifráveis


O que estamos falando?
O que estamos escutando?

Profetizamos declarações de amor


Gemidos de dor e prazer
Gritos de certezas e intensidades
duvidosas
Intercalados nas vibrações de nosso
pulsar.

Tempo passa devagar (...)


Abandone sua crueldade desmedida
Deixa que gozemos uma vez mais
Ao menos até o infinito.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Respiro, te sinto, te clamo


Você está em mim
Você delira em mim
Estou aqui totalmente tua

Paramos um breve momento


Digo coisas sem pensar
Te desafio com meu olhar
Nas artimanhas carinhosas te chamo.

Prendo você aos meus caprichos


Na sintonia desta nossa paixão,
Risos, suor, corações acelerados
Loucura entre eternos amantes.

Neste momento derradeiro, ofegante suplico


Nunca mais se afaste de mim
Agarrada ao teu forte abraço
Confirmo que nosso amor se renova.

* Poetisa- Jequié- Ba

KIKOSOFIA
Número 10 MAIO DE 2023

Não delegue seu cérebro a terceiros


Estrategista do silêncio

Desde pequeno meus pais sempre alertavam que os


“dedos das mãos são irmãos e não são iguais”, mostrando
que eu teria que me acostumar com as diferenças entre as
pessoas, assegurando que ninguém é melhor que ninguém,
que cada pessoa se posta na sociedade frente à sua
qualidade ética e moral, além das condições sócio-
econômicas disponíveis. Respeitar sempre foi a
recomendação de ordem, da mesma forma que alertavam
“que quem anda pela cabeça dos outros era piolho”.

A independência é um bem extremamente precioso e deve


ser preservada. Aos pais cabe a responsabilidade dos
esforços, que direcionem seus filhos menores para aquilo
que se acredita como bom, portar-se inclusive de forma
que materialize seus ensinamentos e valores, evitando que
a incerteza e a fragilidade seja anteparo para o futuro dos
seus pupilos. Aos filhos a boa formação, para que eles
possam de forma livre e convicta, discernir conforme seus
Aos pais cabe a valores, seja recepcionando ou rechaçando conhecimentos
responsabilidade dos e opiniões existentes, sem jamais se ver obrigado a
acreditar em pessoas, fatos ou narrativas de qualquer
esforços.
ordem.

De nada adianta ensinar aos filhos que é errado ingerir


exageradamente bebidas alcoólicas, enquanto se chega
bêbado em casa. Educar a falar baixo é esforço perdido
quando se fala alto demais, inclusive quando se dialoga
lado a lado, da mesma forma que é perda de tempo tentar
convencer o quão importante e bom é ler livros, quando
nunca se senta para folhear um jornal ou revista em casa.
Por isso sempre oportuno lembrar aos pais que digam o
que esperam de seus filhos no futuro, e o que se fazem
para que eles consigam trilhar pela direção apontada. Não
é necessariamente dizer o que ser e o que fazer, mas
mostras os espectros que se devem trilhar.

KIKOSOFIA
Número 10 MAIO DE 2023

É nessa perspectiva que vejo com tristeza tanta


gente defender posições e não conseguirem ao
menos falar sobre os temas, sequer de forma rasa.
Ao que parece, o número de pessoas bitoladas tem
aumentado, sob condução de outras que se
prepararam muito, que ganham muito e não
repartem nada. Defender o defensável, mas o
inalcançável tem sido a grande nota, cenário que
não permite a evolução das pessoas para uma das
principais artes da vida humana, formada pela
tríade pensar, interpretar e decidir. É o
empobrecimento cultural e o auto encarceramento
de vento em popa.

Uma sociedade que recepciona lixo como salmão


não pode dar certo, e essa deve ser uma
preocupação de todas as famílias brasileiras, que
precisam ser justas, na medida em que devem
oferecer aos seus, as mesmas coisas que colocam
na bandeja para outros. Imperioso ensinar aos
filhos que não se deve terceirizar seus cérebros,
uma atrofia perigosa, com forte poder de
aprisionar o presente e o futuro.

Como bem diz o filósofo dinamarquês Soren


Klerkegaard, “as pessoas exigem liberdade de
expressão para compensar a liberdade de
pensamento que usam raramente”, uma realidade
que preocupa o futuro de qualquer país. É preciso
tomar a direção dos nossos cérebros, ensinar
nossos filhos a dirigir o deles, pensar e decidir com
nossas razões, andar com nossas próprias pernas e
sustentar nossas próprias calças, pois do contrário
não seremos mais do que brincantes, em um circo
a céu aberto, como palhaços no picadeiro.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

GIOCONDA
Claudio Pitta *

ELA VEIO COMO UM COMETA EM CHAMAS


E SEM DIZER QUE ME AMA
AQUI SE ESTABELECEU

CHEGOU, FICOU, DOMINOU


E SEM NENHUM PUDOR, TOMOU
AQUELE LUGAR QUE ERA SÓ MEU

SEM FORÇAS PARA LUTAR


TIVE QUE ME RENDER E ACEITAR
O QUE ERA IMPOSTO POR ELA

AQUELA MULHER FASCINANTE, BELA


CHEIA DE VIDA E DE GARRA
QUE ME FEZ CONCORDAR NA MARRA
COM OS DITAMES DE SEU OLHAR

OLHAR CINTILANTE TAL QUAL DIAMANTE


QUE AQUI POR PERTO OU LÁ DISTANTE
NUNCA VI SIMILAR

SÓ SEI QUE O QUE HOJE SINTO


É TÃO INEXPLICÁVEL QUANTO UM CERTO
SORRISO
ABRIU-ME A PORTA DO PARAÍSO
SEM QUE EU PUDESSE NEGAR

ASSIM COMO VEIO PARTIU


NEM SEQUER SE DESPEDIU
AFUNDANDO-ME NUM RIO DE LÁGRIMAS

RIO QUE CORRE PRO MAR


MAR QUE TEM ONDAS
TÃO MISTERIOSO E INDECIFRÁVEL
QUANTO OS LÁBIOS DA GIOCONDA

* Escritor, poeta e contista - Juazeiro - Ba

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Estante
DICAS DE LEITURA PARA SEUS MOMENTOS
Pois ler nos faz entender o mundo

Lançado em 1972 pela Ebal para comemorar o


Sesquicentenário da Independência do Brasil, o álbum
"Uma Estória na Independência" é uma verdadeira obra-
prima dos quadrinhos nacionais. Escrita e desenhada pelo
pintor, escritor, desenhista, quadrinista e historiador Luiz
Antonio Novelli, esta aventura foi a vencedora do I Grande
Concurso de Histórias em Quadrinhos, promovido pela
icônica editora de Adolfo Aizen. Os jurados foram unânimes
em premiar esta HQ! "Os cenários dos quadros têm um
nível que eu nunca vi antes, nem mesmo nas melhores
histórias internacionais", disse na época Ziraldo, o criador
do Menino Maluquinho. Raríssima de ser encontrada e um
verdadeiro item de colecionador, agora esta linda história
em quadrinhos ganha uma nova edição 50 anos depois de
seu lançamento! Por Luiz A. Novelli
Formato Magazine • 64 páginas em preto e
branco

Publicado em 1949 e Traduzido em mais de sessenta


países, é uma obra fundamental para se falar em
totalitarismo, opressão, meios de controle da população,
manipulação da verdade etc. O livro já foi transposto para
minissérie, filmes, quadrinhos, mangás e até uma ópera.
1Na trama, Winston, um funcionário do Ministério da
verdade, é responsável por reescrever artigos de jornais
do passado, de modo que o registro histórico sempre
apoie o Partido. o Ministério também destrói os
documentos que não foram revisados, dessa forma não há
como provar que o governo esteja mentindo. Treinado para
obedecer e calar, Winston começa a questionar essa
realidade e se depara com a oportunidade de fazer algo
Por George Orwell - trad. Karla Lima contra a tirania do Grande Irmão (The Big Brother).
336 pgs -22.4 x 15.4 x 2 cm -
editora Tricaju

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

VOU AI...
KIKO MOREIRA

Beto era um cara boa pinta. Tinha nascido com o que algumas pessoas
chamam de boa genética. Esbelto, de musculatura definida, mas sem
exageros, pele bronzeada, cabelos cheios, um rosto simpático. Era o tipo
que agradava visualmente a mulherada. Amigo desde que entramos juntos
no Colégio da Polícia Militar, Beto chamava a atenção pelo porte e
impressionava a postura elegante quando envergava a farda da escola.
Moradores do mesmo bairro, costumávamos ir a mesma igreja e andar
com a mesma turma de jovens, nas mesmas festas e era nesta últimas que
Beto costumava protagonizar algumas das mais vexatórias histórias.

Beto era um bronco. A finesse passava longe de meu amigo e as


confusões eram terríveis, principalmente quando o assunto eram garotas,
Beto se enrolava, gaguejava e não sabia onde meter as mãos. Lembro
certa feita quando fomos ao aniversário de uma garota na qual Beto
estava interessado. Marcamos na esquina da casa da garota, que era de
família evangélica raiz, rígida. Então a turma combinou de modo
descolado, mas discreto. De repente Beto aparece, jaqueta de couro,
totalmente de preto dos pés à cabeça, brinco de pressão em formato de
cruz na orelha esquerda, uma alegoria surreal de uma novela da globo
que passava na época e que tinha a morte por protagonista. Nem é
preciso dizer que quase fomos expulsos da festa e a garota nem se
aproximou de Beto.

Outra feita estávamos em Itaparica, havíamos ido acampar e, fim de


tarde, estava eu lendo após um dia cheio na praia, Beto chega pra mim
"Kiko, olha que menina bonita ali". Olhei e vi uma garota na beira do mar
passeando com um cãozinho, Beto, "Vai lá véio, pergunta se ela quer sair
comigo". - Oxe Beto, vai tu. - "Eu sou tímido, não sei o que falar, vai lá,
fala com ela." - Insistiu, insistiu - Beto, isso não vai dar certo. - Fui. -
Meia hora depois, voltei - Eu disse que não ia dar certo. - Ela não quis
sair não? - Querer até que ela quis, mas a notícia não é boa pra tu não. -
Beto ficou de cara amarrada dois dias comigo, depois que saí com a
morena.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Mas o fato que mais nos faz lembrar do velho Beto aconteceu num baile de aniversário.
Todos nós fardados, túnica branca, elegantes, havíamos dançado a valsa e agora
celebrávamos descontraídos, alguns conversando animadamente com algumas das garotas
ou simplesmente curtindo a festa. Beto se aproxima de mim e me fala "Véio, acho que
aquela menina ali tá me encarando". - Olhei. Uma garota linda, cabelos longos, pretos,
presos num rabo de cavalo, num vestido longo que valorizava curvas sensuais e deixava
entrever seios fartos e firmes, olhava timidamente para Beto, sorria e desviava o olhar. "E
ai, será que tenho chance?", disse Beto. - Olhei novamente, a menina claramente estava
interessada nele e falei - Ela tá te olhando mesmo, vai lá, puxa conversa. - "Vixe, e vou
falar o quê? Você sabe que sou lerdo" - Poxa Beto, Vai tranquilo, dá boa noite e faz algum
elogio, diz alguma coisa engraçada, diferente, tem mistério não. - "É mesmo, né? Eu vou
lá".

Beto encarou a menina, que percebendo a aproximação, sorriu, desviou o olhar e voltou a
encarar ele provocante. Ele parou, pegou dois coquetéis numa mesa e continuou a
aproximação. Eu chamei a atenção dos colegas ao meu redor - Eita, que agora vai, pegou
até um drinque pra menina. - Ficamos prestando atenção enquanto ele se aproximava da
garota, que agora o olhava de soslaio com um sorrisinho de quem sabia seria abordada.
Beto - "Boa noite" - A menina sorrindo - "Boa noite" - Beto - "Vou aí... Nessas carnes..."

Acho que não preciso dizer que a menina ficou fula da vida, pasma, olhou de volta pra Beto
com uma cara zangada e virou as costas saindo pisando forte. Beto, com os dois copos na
mão, olhou para nós, que não sabíamos se ríamos ou chorávamos e perguntou: "Fiz o quê
errado?" - Esse era o nosso Beto.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Partindo da pesquisa e do exame crítico de um largo leque


de fontes disponíveis, nomeadamente a correspondência
trocada entre Adorno e Benjamin, em articulação com alguns
dos principais escritos de ambos e outras fontes relevantes,
Lucyane de Moraes lança nova luz sobre essa parceria
intelectual única e irrepetível. Primeiro, na “Genealogia dos
afetos” situa a amizade que os uniu – nos tempos
conturbados de guerra, perseguição e exílio – e desfaz
equívocos a esse respeito. Depois, guia-nos através de um
itinerário que percorre tópicos e momentos particularmente
marcantes do debate entre ambos, qual contraponto a duas
vozes, em que, por definição, uma não pode passar sem a
outra, ou, na sugestiva imagem da autora, “relação entre
polos opostos que se atraem, representada pelo conceito de
reflexão” – como uma “imagem no espelho, que reflete o seu
contrário”. Complementa o volume com correspondência de
Gershom Scholem e Hanna Arendt trocada com Adorno a
respeito do espólio de Benjamin. Por fim, há ainda um
apêndice com as muito úteis cronologias da vida e obra de
cada um deles bem como uma nota sobre os critérios e
materiais utilizados na edição.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

O percurso pelos testemunhos de uma amizade de mais de


vinte anos é realizado pela autora, não de uma maneira fria
e distanciada, mas sim, digamos, expressiva, deixando
transparecer a sua própria ligação afetiva ou empatia com
ambos, enquanto filósofos ou pensadores e pessoas humanas,
às quais o contexto social e político, um dos mais trágicos da
história, balizado por duas guerras mundiais, colocava
desafios de toda de ordem e, antes de tudo, o da luta pela
sobrevivência. É sobre tal pano de fundo que se ergue um
fecundo diálogo criativo, aqui reconstruído pela autora num
exercício de pensamento crítico que, sem deixar de ser
cativante para o leitor comum, faz deste livro uma
referência indispensável para pesquisadores ou especialistas
que se aventurem nas temáticas abordadas.

O livro levou-me a colocar uma primeira interrogação: que


há nos escritos de ambos que mais os aproxima? Certamente
em convergência com a autora, uma resposta se impõe: é a
permanente reabertura do processo de produção de sentido.
Adorno questiona a pretensão da ciência moderna à razão
absoluta e denuncia-a como ideologia, enquanto, por outro
lado (e ao contrário de Marx), retira a “arte autêntica” da 2
esfera da ideologia e atribui-lhe um “conteúdo de verdade”.
Põe em causa os sistemas teóricos totalizantes, baseados num
pensamento dedutivo, por sacrificarem à coerência do
sistema a realidade, que não cabe nele. Reclama, para uma
teoria social, exigências idênticas àquelas que reclama para a
“arte autêntica”, irmanando ambas na “esperança de
verdade”.

Resenha Crítica Por Mário Vieira de Carvalho


(Musicólogo e Autor Português) - Extrato
enviado pela autora

O livro terá lançamento em 08 de julho e pode ser adquirido em:


www.almedina.com.br

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

TRIBUTO A CASTRO
ALVES

Semeando vidas em seus versos


Fazendo o povo pensar
A pauta da abolição em processo
Para negros em liberdade caminhar

A trajetória que lhe conduziu


Um sopro de vida foi o mais forte
Amar como gondoleiro lhe permitiu
Um laço de fita atado a sua sorte

Não temer a morte o faz divino


No seu resgate de humanidade
Seu pensamento soa como hino
Naqueles que cultivam a verdade

Amar, amar e viver como os bravos


Em sua ânsia de salvar o mundo
Acolhendo na lida rosas e cravos
Sábia natureza de um canto profundo.

José da Boa Morte*

Auto retrato de Castro Alves (sem data) - Biblioteca Nacional

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

O Movimento Cultural Artpoesia é uma iniciativa


cultural e artística, que reúne poetas e escritores,
simpatizantes da arte e da literatura, com o objetivo
de desenvolver projetos que estimulem o hábito da
leitura e promovam a inserção dos novos talentos no
mercado literário brasileiro.

Tem a pretensão de * Incentivar a produção artística


e das manifestações culturais populares; * Facilitar
a projeção dos artistas e grupos culturais no
mercado cultural; * Estabelecer intercâmbio entre
poetas, escritores e outros artistas; * Divulgar a
poesia baiana e nacional e intensificar a sua
produção.

Para isso foi criada a revista cultural ArtPoesia em


1999, tendo sido publicadas 132 edições ao longo
desses 24 anos com mais de 4000 textos de autores
diversos entre poesias, contos e temáticos. Abaixo
veja uma capa das edições. Para adquirir entre em
contato através do email artpoesia@bol.com.br

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

RETÊTE
JOSÉ CARLOS VAZ *

Não sei nos outros lugares ou noutros tempos, mas, naquele tempo, em Jequié, a palavra
“retête” era uma espécie de interjeição de intensidade, muito comum entre as pessoas,
inclusive os meninos e meninas contemporâneos de brincadeiras e peraltices. É possível
que a interjeição “retête”, seja uma corruptela de “reteté”, que alguns dicionários definem
como “demonstrações de emoções de modo exagerado”.

Pois bem, se um time de futebol era muito bom, os garotos diziam, com eufórica
entonação:

- Retête!!! Que time bom da porra! (Porra, nesse sentido, era também uma espécie de
advérbio de intensidade, porém, poderia servia para outros usos menos dignos).

Mas, voltando ao Retête, agora com maiúscula inicial, era também nome de gente, ao
menos de um homem que vivia em Jequié, a Cidade Sol. Era uma figura enigmática, bem
estranha, parecia uma espécie de mistura de ogro com o corcunda de Notre Dame.

Um dia, numa das casas em que minha mãe lavava roupas de ganho, vi uma imagem de
um Buda de louça, cheio de moedas em seu colo, e, de pronto, achei que Retête se
parecia muito com o Buda. Pançudo, rechonchudo e bonachão, sua cabeça arredondada e
os cabelos ralos, os olhos apertados, os braços e pernas curtos, portém, estas últimas,
sempre ligeiras.

Quase todos os dias eu o via passar pela minha rua, conduzindo uma galeota, como eram
denominados aqueles carrinhos de mão usados na construção civil. No caso dele, a
galeota servia para conduzir qualquer coisa e, era assim que Retête ganhava o sustento.
Nos dias de sábado, era uma festa, pois passava o dia conduzindo as compras que as
pessoas faziam na feira-livre. Parecia que carregava pena, dada a tranquilidade e o rosto
sempre alegre com o qual desfilava com a sua galeota lotada de tudo o que se pode
comprar na feira.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Quando estava apressado, aumentava as suas passadas curtas e ligeiras, seguindo


adiante, respondendo a quem o pretendia parar para uma conversa:

- Estou debaixo de ordem Seu! (ou Sua, caso a interlocutora fosse uma mulher).

Certo dia, vi com assombro a galeota passar, conduzida por outra pessoa que não o seu
misterioso dono. Vi, ao me aproximar, com maior assombro ainda, Retête desacordado,
sendo transportado em sua carruagem de trabalho.

Não, não estava morto. No sábado à tarde, quando a feira já estava sendo desmontada,
Retête separava um parte do dinheiro apurado e, já com saliva na boca, pedia uma dose
generosa de destilada. Era a sua bebida preferida. Tão preferida que, geralmente, só
parava de beber após terminar o dinheiro pouco que arranjou naquele dia.

Na segunda pela manhã, lá ia Retête, adorado pela crianças, que sempre o rodeavam
saltitantes e intrigadas com aquela figura que parecia ter saído das histórias de Monteiro
Lobato.

Um dia, mesmo um pouco acanhado, também me aproximei para ver o que realmente
encantava aqueles meninos e meninas, que sorriam serelepes ao ouvirem as palavras de
Retête.

Quando me aproximei, os meninos em coro, numa algazarra infernal, pediam para Retête
dizer o seu nome. Ora, mas não era apenas “Retête”?

Não, decididamente não. Quando não estava debaixo de ordem, apressado, ele gostava
de parar a sua galeota e, gostosamente, respondia às crianças, como se estivesse rezando
um terço, o seu nome:

-Josué Jesus Barreiro Barbosa Lima da Cunha Peixoto Pimenta Bonfim Calvares Dantas
Oliveira Bonifácio Sena da Costa Nelson Ned Pereira dos Santos Nely Macedo Maciel
Morbeck Cordeiro das Meninas... (e terminava efusivo) vulgo gari, Retête!

Era uma explosão de gozo e de riso entre os meninos. Intrigava-nos que um homem tão
pequenininho tivesse um nome tão imenso. Além disso, ficava sempre a admiração pelo fato dele
lembrar-se do nome, na mesma sequência, sem titubear.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

É certo que, em período de eleição ou de copa do mundo, Retête, acrescentava ao seu já


colossal nome, alguns outros nomes ou sobrenomes de um famoso da época. Mas, em
tempos normais, o nome era sempre o mesmo, e desfilava alegre nas nossas memórias de
meninos.

O tempo leva tudo, só não leva as lembranças leves que pousam no lugar do não
esquecido. Depois que cresci e me mudei de Jequié, nunca mais vi Retête. Soube que
ainda era vivo, e que fora acolhido num lar de idosos.

A figura impar daquele Buda do sertão, daquele homem preto, bonachão, que distribuía,
feito incenso, o perfume de sua existência mística, passeia ainda muitas vezes pela minha
memória, com a sua galeota rangendo, entulhada de compras da feira, que nunca eram
suas. De tanto gozo em ouvir dizer, de uma forma muito singular, o seu nome, guardei-o,
na camada dos afetos.

Dia desses, numa consulta médica, a atendente perguntou-me o meu nome e, num lapso
freudiano, para estupefação dela e dos demais que estavam próximos e ouviram,
respondi:

-Josué Jesus Barreiro Barbosa Lima da Cunha Peixoto Pimenta Bonfim Calvares Dantas
Oliveira Bonifácio Sena da Costa Nelson Ned Pereira dos Santos Nely Macedo Maciel
Morbeck Cordeiro das Meninas, vulgo gari Retête...

Quando ela recobrou-se do susto, perguntou-me, mais uma vez, agora sorrindo, tal qual
as crianças de minha infância:

- O senhor pode dizer de novo?

Não me fiz de rogado...

* José Carlos Vaz Souza Miranda, é acadêmico de


Letras da UNEB, Campus V, Santo Antônio de Jesus e
Oficial da Polícia Militar da Bahia – Coordenador do
Centro Integrado de Comunicações – CICOM
RECÔNCAVO.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

DIVERGÊNCIAS
Indo na contramão de certas "correntes" - Francisco Moreira

Tolerância intolerante

Confesso que tenho um problema com a palavra tolerância. Seu conceito revela
uma atitude de má vontade. “A tolerância é o ato de agir com condescendência
e aceitação perante algo que não se quer ou que não se pode impedir”. A
condescendência por sua vez demonstra fraqueza. É aceitar algo que vá contra
sua consciência, por temor, complacência ou lisonja. Prefiro sempre usar a
palavra respeito, cujo sentimento pode ser movido por empatia, apreço ou
deferência. Onde empatia, psicologicamente é vista como “a capacidade que
uma pessoa tem de compreender e sentir o que uma pessoa está passando ou
passou”. Em suma, se colocar no lugar do outro.
NOTÍCIAS IMPORTANTES,
ATUALIZAÇÕES E IDEIAS
Mas é em tolerância que vemos falar diariamente em nossas mídias sociais,
programas governamentais e, como bandeira de intelectuais e “influencers”
(para usar um termo vago que define alguém que tem
2 - Tendências popularidade,
de Gestão

independentemente de sua capacidade intelectual, moralde ou


3 - Tendências 2022religiosa). E

intolerantes são todos aqueles que resistem a esvaziar os valores (morais,


culturais, religiosos, éticos etc.) nos quais acreditam e aderir a valores outros
que lhe são estranhos.

Intolerantes são geralmente vistos como vilões por aqueles cujos valores estão
tentando impor como corretos. E digo impor, porque esse é o sentimento de
quem não se convence ou coaduna com aqueles. O estigma de vilania tem sido
tão difundido, que as pessoas têm muitas vezes se calado ou pior, tentam
adaptar suas crenças a valores que são totalmente díspares do que são. A
diversidade, palavra também tão querida aos “tolerantes” só é permitida se for
referida a aceitação de seus valores, nunca é aceita quando se encontra no
campo das ideias. Se você concorda comigo, ótimo. Se não, você deve ser
“cancelado” por sua intolerância.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Quando há respeito (não tolerância), o


sentimento busca compreender e aceitar
outros valores, ainda que se discorde deles.
Existe um esforço empático em entender as
diferenças (religiosas, morais, culturais, éticas
etc.) e buscar conviver com elas. Eu entendo o
seu pensamento, seus valores, seu
comportamento e, mesmo não concordando
com eles, convivo com essa pluralidade de
maneira natural.

O respeito me ensina que não devo julgar, mas


compreender. Eu não preciso aceitar como
certo o que considero errado, eu não irei ver
como normal o que entendo anormal. Mas
terei domínio intelectual suficiente para saber
conviver com qualquer heterogeneidade. Já a
tolerância quer me impor ideias e valores que
não se sustentam para mim, por mais que
sejam lógicos para outros.

Infelizmente, em nome da tolerância, a


multiplicidade intelectual vem sendo podada,
açodada, tolhida de poder se expressar. Em
nome da tolerância padres e pastores
distorcem palavras do Cristo, a Justiça
interpreta leis de acordo com uma agenda
impositiva de pessoalidades, bandidos são
idolatrados como figuras de poder,
autoridades se veem acuadas se discordam do
status quo. Se sou contra o aborto,
intolerante. Se não enxergo defesas bíblicas
para certas atitudes, intolerante. Se reclamo
de músicas ruins e ultrajantes, intolerante. Se
falo contra hiper sexualização de crianças,
intolerante. Se exerço minha liberdade de
opinião, intolerante. Drogas? Não! intolerante.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

O respeito não se porta assim. Não preciso validar a opção sexual de uma pessoa
para tê-la como amiga, a amizade vai além disso. Não vou estigmatizar uma amiga
que aborte, mas nunca vou lhe sugerir tal coisa. Tampouco irei julgar um usuário de
drogas, mas se puder vou lhe mostrar os perigos de tal caminho. Somos todos
iguais em nossa essência mais profunda. Uma gota de sangue só mostra a quem
pertence se a conhecermos microscopicamente, intimamente. E ainda assim não
vai dizer nada sobre quem somos.

É preciso entender que eu não posso exigir aceitação dos meus valores se não
compreender que eles não são universais. Eu não posso exigir direitos se tripudio
sobre os direitos dos outros. Eu não posso pedir inclusão se meu grito ridiculariza o
valor alheio. Não posso querer me integrar se para isso me afasto, categorizo,
excluo.

Não precisamos de tolerância. Abdicar quem somos em nome de aceitar valores


externos. Temos que aprender a respeitar as diferenças, entender que cada um de
nós é um ser individual, com trajetórias de vida dissemelhantes, com valores e
pensamentos múltiplos, mas apesar de tudo isso podemos construir uma sociedade
mais justa, equilibrada e humana, fazendo pelo outro apenas o que gostaríamos
que fosse feito por nós.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Publique na Kikosofia
A Kikosofia é um espaço de vozes, consonantes,
dissonantes, de livre e respeitosa expressão e opinião. Um
local que se pretende divertido, reflexivo, por vezes louco,
mas sempre acolhendo o outro, independente de diferenças,
somos todos iguais, e isso é o que de mais belo existe no
viver, saber que não somos cópias de outro ser. colabore,
discorde, concorde, opine. Boa jornada.

Envie seu texto, poesia, conto, comentário


para

kikosofia@gmail.com

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

O HOMEM E A MOÇA
CLAUDIO PITTA

O homem abriu a porta da casa e deparou-se com uma moça sentada. Olhou rapidamente
para os lados, não havia mais ninguém por perto. Voltou-se para a moça e fitou seu olhar,
deixando um mistério no ar. Ela levantou-se e foi em sua direção, olhou para os lados e
não tinha ninguém na contramão. Chegou bem perto dele e segurou sua mão, com
respiração ofegante e acelerado bater do coração. Olhou-o detidamente e beijou
carinhosamente sua face, fazendo-a enrubescer tal qual camarão. Moça bonita, na flor da
idade, meio maltratada, mas sem carecer de piedade, era um sonho em realidade. O
homem a segurou firme e beijou seus lábios suavemente, fazendo-a desfalecer em seus
braços. Ela respirou fundo e acariciou seu rosto com ternura, ele a convidou a entrar. A
moça o fitou novamente, soltou sua mão e, sem dizer um senão, saiu andando na direção
do cais do porto. Atônito, surpreso, perplexo, o homem não sabia o que fazer. Aquela
moça bonita que estava há pouco ali em sua frente, dando indicativos de que iniciaria
com ele uma grande história de amor, simplesmente foi embora. Passado o susto, emoção
reequilibrada, o homem olhou para a moça que virara a esquina. Inconformado com a
situação, saiu em seu encalço, estimulado e esperançoso.

Virou a esquina e viu a moça já no final da rua, chegando ao cais do porto. Acelerou o
passo para alcançá-la, porém, quanto mais rápido ele andava ela mais se distanciava. A
orla fluvial ia terminando e a moça continuava andando sem olhar para trás, com o
homem a perseguí-la, firme e voraz. O homem, percebendo que não a alcançaria começou
a gritar, pedindo para que ela parasse. A moça seguia em frente, andando rapidamente.
Ao passar por uma estrada de terra a moça parou repentinamente, voltou-se para trás e
olhou para o homem que vinha um pouco distante. Quando o homem ia se aproximando a
moça recomeçou sua caminhada, levando-o ao desespero. Ele começou a implorar para
que ela parasse e começou a correr para alcançá-la. Não demorou muito para conseguir
seu intento, segurando-a pelo braço. Ela parou, virou-se e fitou-o com um olhar terno,
demonstrando afeição, aumentando a interrogação dentro da cabeça do homem. Sem
dizer uma palavra a moça segurou sua mão e o puxou até debaixo de uma frondosa
mangueira. Olhou-o firmemente e beijo calorosamente seus lábios, deixando mais ainda
confuso. A moça, então, tirou o vestido e saiu correndo, embrenhando-se no mato. O
homem fez o mesmo e saiu correndo atrás dela.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Quando saiu do mato o homem deparou-se com a


moça banhando-se numa lagoa ali existente. Ele,
prontamente, mergulhou nas águas frias e foi ao seu
encontro, abraçando-a e beijando-a ardentemente,
sendo plenamente correspondido, não demorando
para estarem fazendo amor sob o sol escaldante, um
pouco arrefecido pelas gélidas águas. Cansados pela
atividade física recém-finalizada, permaneceram
abraçados e imóveis por alguns instantes. O homem
quis saber o nome da moça, ela o olhou
detidamente, soltou sua mão e começou a nadar,
indo cada vez mais para a parte mais profunda da
lagoa, fazendo com que o homem, que não era
nenhum exímio nadador, ficasse temeroso em
segui-la

Ela nadava, mergulhava e o acenava para


ele,chamando-o para perto dela, com uma voz suave
e abrindo seu sorriso lindo. Mesmo sabendo do
risco que correria o homem agiu por impulso e
atendeu ao chamado da moça, começando a nadar
em sua direção. Ela mergulhava, nadava e o
chamava, cada vez mais longe da margem e para
pontos mais fundos, aumentando o risco de
acidentes. O homem, estimulado pela aventura e
enfeitiçado pela bela moça, esqueceu-se dos riscos
e continuou nadando, se aproximando do ponto
mais fundo da lagoa e mais distante da margem. A
moça começou a flutuar e a esperar a aproximação
do homem, não demorando muito para estarem
juntos novamente. Só que a destreza aquática do
homem não lhe permitia tamanha audácia, o risco
que ele corria era enorme. O homem perguntou
novamente o nome da moça e beijou sua testa, já
começando a sentir o desgaste da flutuação. A
moça, sorriu, se afastou um pouco e mergulhou,
desaparecendo nas profundezas.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

O homem esperou um pouco e começou a ficar preocupado com a demora da moça em


emergir. Mergulhou algumas vezes de maneira superficial, mas não conseguiu visualizá-la.
Cansado, o homem começou a nadar na direção da margem da lagoa, a fadiga muscular
começou a atrapalhar seu nado. O homem parou e tentou flutuar, tarefa também
dificultada pelo stresse muscular, o desespero tomou conta dele, olhava ao redor e não
havia ninguém para socorrê-lo, a moça não aparecia, o afogamento era uma possibilidade
iminente e seu choro era incontrolável. Gastando suas últimas reservas de energia na
inglória tentativa de se salvar, o homem olhou para a frente e viu a moça flutuando,
olhando para ele e abrindo-lhe seu cativante sorriso. Ela gritou seu nome, Iara, meu nome
é Iara e mergulhou novamente. Essa foi a última coisa que o homem ouviu antes de perder
os sentidos e afundar nas frias e escuras águas da lagoa. Nunca mais se ouviu falar dos
dois por aquelas redondezas

A lagoa mudou de nome, de Lagoa Escura, passou a se chamar Lagoa dos Amantes, numa
homenagem póstuma ao homem e à moça que viveram uma história de amor fugaz e
intensa.

KIKOSOFIA
Número 12
JULHO DE 2023

REFULGIR URBANO
UM PRISIONEIRO DA PAZ

"Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu tenho prezado pelo ideal de uma
sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e com iguais
oportunidades. É um ideal pelo qual eu espero viver e que eu espero alcançar. Mas caso seja necessário, é
um ideal pelo qual eu estou pronto para morrer."

Nelson Mandela foi um símbolo como tantos outros na luta pelo direito de ser visto como igual
independentemente da cor da pele. Sua luta, mesmo estando preso por 27 anos, conseguiu
mobilizar lideranças internacionais e chamar atenção para o Apartheid que reinava na África do Sul.
Solto com o fim do regime em 1990, inicia junto com o presidente Frederik de Klerk uma reforma
política que culmina na nova constituição do país, formando uma democracia multirracial depois de
300 anos de dominação branca. Tal feito dá aos dois o Premio Nobel da Paz. Mandela é eleito
presidente em meio a um clima de revanchismo e violência, mas busca a reconciliação e a união
entre sul africanos. Estabelece uma comissão da verdade para revisitar a história e os
acontecimentos durante a guerra contra o Apartheid, não para punir ou apontar culpados, mas para
preservar a memória e a reflexão dos fatos, na promoção da igualdade entre todos.

Mandiba, como era também chamado foi um líder carismático e um entusiasta dos direitos civis,
cujo legado foi a busca por restaurar e unir um país marcado por um dos mais terríveis regimes de
segregação da história, que conseguiu atrair olhares do mundo inteiro e influenciar outras lutas em
locais diversos do planeta. Em 2009 a ONU declarou a data de seu nascimento , 18 de julho, como
dia Internacional Nelson Mandela, com fito de celebrar todos que lutam por um mundo com menos
desigualdades.
KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

CINEOLHAR
Quando Nelson Mandela (Morgan Freeman)
assumiu a presidência da África do Sul em 1994,
as hostilidades resultantes do Apartheid eram
muito fortes ainda. Percebendo que o Rugby era
uma paixão nacional, mas que a seleção era
formada apenas por brancos e que os negros
torciam contra. Resolve usar essa paixão para
criar um sentimento de coesão nacional,
passando a incentivar o time juntamente com o
líder da seleção Piennar (Matt Damon),
executando ações sociais com os jogadores
ensinando crianças e exercitando tolerância e
perdão. Com o apoio e patrocínio da torcida, a
seleção acaba chegando a final da copa do
mundo. Mostrando como o esporte pode Invictus
2009 - 2h 12 min
aproximar pessoas e ajudar a quebras barreiras e
Direção de Clint Eastwood
preconceitos. Com Morgan Freeman e Matt Damon

O filme é uma comédia musical que se passa no


último dia do carnaval e mostra as desventuras dos
moradores de um cortiço no Centro Histórico de
Salvador. A síndica do prédio resolver fechar a água
por conta das confusões aprontadas pelos
condôminos que precisam dar um jeito de se
entender para resolver a situação. Adaptação de uma
peça do Bando de Teatro Olodum, foi responsável
pela projeção de diversos atores baianos, virou um
seriado de sucesso e deve ter uma continuação em
breve nas telonas. O filme teve coordenação de trilha
sonora por Caetano Veloso.
Ó paí ó
2007 - 1h 36 min
Direção de Monique Gardenberg
Com Lázaro Ramos, Wagner Moura, Dira Paes KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Mainha Bahia

Terra magia de espelhos retorcidos


afã de ogã em Sexta-feira,
vida em dia de festa: Bahia.
Terra minha desperta, carnaval
364 dias ( o resto é ressaca).
Cobre de beijos, terra mãe,
os seios de tuas mulatas;
geme mainha, no chiar
da fritura do acarajé. Vem !
Bahia minha: irmã, mãe e magia.
Vem! Refrigera minh’alma
em tuas praias, molha minha
boca em teus sabores
preenche meu saber com
teus Jorges, Caetanos,
tua música. Gal...
Vem! Terra branca, de pureza
bacanal; virgindade carnaval
de ano inteiro, vem!
Profana castidade: Bahia!
Ah! Terra-mãe de mil culturas,
Babel desvendada; terra negra
de sol, dias de chuva nos telhados;
praias de lindos corpos na areia,
farol de iluminada alegria, Bahia...
Terra, mãe, Mainha.
Com dengo na voz e ginga nos pés,
morena que sorri em tuas curvas
e ladeiras, em tuas igrejas
e terreiros, pretinha...
Mainha, baiana de branco: Rainha.
Bahia, onde a vida é carnaval
e o choro, poesia;
Bahia- magia,
Mainha-Bahia.
Onde a vida tem trilha sonora!

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

Hino Ao 2 de Julho (Independência da Bahia)

Nasce o sol a 2 de julho Nunca mais, nunca mais o despotismo


Brilha mais que no primeiro Regerá, regerá nossas ações
É sinal que neste dia Com tiranos não combinam
Até o sol, até o sol é brasileiro Brasileiros, brasileiros corações

Com tiranos não combinam
Nunca mais, nunca mais o despotismo Brasileiros, brasileiros corações
Regerá, regerá nossas ações

Com tiranos não combinam Salve, ô rei das campinas


Brasileiros, brasileiros corações De cabrito a pirajá

Nossa pátria, hoje livre
Nunca mais, nunca mais o despotismo Dos tiranos, dos tiranos não será
Regerá, regerá nossas ações

Com tiranos não combinam Nunca mais, nunca mais o despotismo


Brasileiros, brasileiros corações Regerá, regerá nossas ações
Com tiranos não combinam Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações Brasileiros, brasileiros corações

Cresce, ô filho de minha alma Nunca mais, nunca mais o despotismo


Para a pátria defender Regerá, regerá nossas ações
O Brasil já tem jurado Com tiranos não combinam
Independência, independência ou morrer Brasileiros, brasileiros corações

Com tiranos não combinam
Nunca mais, nunca mais o despotismo Brasileiros, brasileiros corações
Regerá, regerá nossas ações

Com tiranos não combinam


Brasileiros, brasileiros corações Composição: Ladislau dos Santos Tita.

KIKOSOFIA
Número 12 JULHO DE 2023

SÃO SALVADOR, BAHIA DE SÃO


SALVADOR
A TERRA DE NOSSO SENHOR
PEDAÇO DE TERRA QUE É MEU
SÃO SALVADOR, BAHIA DE SÃO
SALVADOR
A TERRA DO BRANCO MULATO
A TERRA DO PRETO DOUTOR
SÃO SALVADOR, BAHIA DE SÃO
SALVADOR
A TERRA DO NOSSO SENHOR
DO NOSSO SENHOR DO BONFIM
OH BAHIA, BAHIA CIDADE DE SÃO
SALVADOR
BAHIA OH, BAHIA, BAHIA CIDADE DE
SÃO SALVADOR
Dorival Caymmi

KIKOSOFIA

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