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ica da disponibilidade de recursos, A atividade econdmics A visio mercantilista implicava uma percepgio estiti ‘0s ganhos de um pais rém lugar em detrimento dos res. cra, portanto, reduzida a um jogo de soma zer0, 10 qual tados obtidos pelos demais (Appleyard & Field, 1998). oe Como lembram Sodersten & Reed (1994), a doutrina mercantilista era altamente nacionalista, 20 priorinar 9 bem-estar do préptio pals ao mesmo tempo em que favorecia a regulagio e o planejamento da atividade econ a como meios eficientes de atingir os objetivos estabelecidos. Ela também via o comércio externo com suspeisio: tum governo devia tratar de promover 20 méximo suas vendas a0 resto do mundo enquanto impunha barreiras is aquisigdes de produtos estrangeiros. ‘A desconfianga de que a motivagio principal dos agentes econémicos nfo é a acumulagao pura ¢ simples de metas preciosos, masa satisfagio de suas necessidades bisias levou, no final do século XVIII, os chamados autores “clissicos” a proporem um enfoque alternativo, com énfase ido mais nos objetivos da nago, mas a partic das mot vagées de cada individuo (ou “agente econémico"). Esse era o petlodo de consolidagfo dos impérios e de exploraséo sistemdtica das colénias com propésitos econdmicos. A motivagao para a atividade econémica passava a ser a satis- facio das necessidades de consumo. 2. ao classica em 1752, com 0 seu Political Dizcurses, Entre os primeiros a atacar a logica mercantilista esté David Hume, que, ») sem com questionou 0 argumento bésico de que uma economia poderia acumular indefinidamence divisas (ouro) isso afetar sua propria posicio competitiva no mercado internacional. Seu argumento era de que a acumulagao de ouro via superivits comerciais acabatia por afetar a oferta interna de moeda e, com isso, elevaria o nivel de pregos ¢ salérios internos, Esse aumento, por sua vez, comprometeria a competitividade das exportagdes do pais superavi- tirio, reduzindo sua possibilidade de continua gerando excedente comercial. Em outras palavras, 0 movimento de divisas entre dois paises opera como um mecanismo automitico que leva & igualdade entre os valores das exporta- ges € importagbes. Esse raciocinio € conhecido como mecanismo preyo-fluxo-espécie de Hume, Note que, para chegar a tais conclus6es, sio necessirios alguns pressupostos a existéncia de um vinculo direro entre a quantidade de moeda eo nivel de precos (teoria quantitativa da moeda)s demanda por bens eistica ao nivel de pregos; concorréncia perfeita nos mercados de bens e farores de produgio; oferta monetéria do tipo padrdo-ouro (ver Appleyard 8 Field, 1998). ‘A légica basica da visio clissica, _ para que duas economias mantenham espontaneamente vinculos comerc | motivacio dos agentes em relagio 20 comércio internacional jada com Adam Smith (1776) é de que — & diferenga da razio mercanti- tre si é preciso que ambas lista —, tenham a ganhar com essas transag6es. A principal zo € 2 acumulagdo pura e simples de metais preciosos, mas asatisfagio de suas necessidades bisicas: ndo ha just- ficativa para a acumulasao por si s6;€ importante haver uma razdo para 0 uso dos recursos obtidos via ganhos com ‘0 comércio. ‘Para encender a argumentacio — baseada em processos produtivos centrados em um tinico fator de produgio —, € preciso uma pequena digressio reativa& chamada teoria do valor-trabalho. 2.1 Teoria do valor-trabalho Os economistas cléssicos desenvolveram sua argumentacio a partir de um modelo em que 0 processo produtivo na economia depende de apenas um fator de producio, o trabalho. Para 0 economista do século XXI acostumado a discussées sobre fatores produtivos, como recursos naturais, capital humano e outros, a énfase em trabalho pode parecer uma simplificagio excessiva. No entanto, € possivel defendé-la nao apenas fazendo referéncia 20 momento histérico de sua formulagdo — quando as técnicas produti- vvas eram efetivamente mais intensivas em mao de obra do que nos dias atuais — como, sobretudo, porque é possivel teoricamente conceber uma “tradugio” de outros fatores de produgao em termos de unidades equivalentes de mio de obra, através de algum “fator de conversio equivalente”. E claro que uma condigio bisicaadicional para o funcionamento desse enfoque & considerar que o trabalho é | algo homogéneo, nao havendo qualquer atributo (por exemplo, anos de escolaridade) que possa introduzir diff- renciais ene tipos de trabalho. preciso, ainda, que haja concorréncta perf ; gezso 20 marca de trabalho e inexisténcia de uniques at cea rcs de produce, pleno apeeeen ni ‘quaisquer limitagSes institucionais & mobilidade da mio de obra. Asim, ma : Sica a teoria do valor-trabalho afirma que — como esse é 0 tinico fator de produgdo — em umaceonomia fecha o Cha ages cometcais com o resto do mundo), 0 pregos dos produtos so deter- minados por set rcudo ce trabalho. Segue-se que os produtos sao intercam| los de acore as quantidac tears de crabalho que eles concentram. ne? ereambladosdeacordo com as quantiades to perme see ao as relagdes econdmicas entre dois ou mais palses, considerando que a estrutura de custos de produgao em cada pais em cada setor produtivo & composta simplesmente dos custos com o emprego damio de obra. Nio hé outra fonte de custos nessas economiae, Essa teoria proporciona uma ferramenta importante para identificar as raz6es pelas quais uma economia man- tém relagées comerciais com o resto do mundo e as caractertsticas dos fluxos de comércio. 2.2 Vantagens absolutas ‘Adam Smith demonstrou desconforto com a visio predominante em sua época em relagio a0 cométcio internacio- nal, Segundo cle, & diferensa do que propunham os mercantilistas, “a riqueza nao consiste em dinheiro, ou ouro € prata, mas naquilo que o dinheiro pode comprar” (Smith, 1976, p. 459). Isto é, os mercantilistas teriam percebido que 0 comércio internacional traz bem-« estar a uma economia, mas nio conseguiram entender por que isso ocorre. Segundo Smith, uma economia sé manterd transagdes espontineas com outra se perceber claros ganhos deriva- dos desse intercimbio. Como a nogio de ganho esté associada 20 potencial de aquisigio de determinados itens via comércio, a explicasio esta necessariamente associada as caracteristicas do processo produtivo em cada economia. O comércio internacional se justificard apenas quando for mais barato adquiriritens produzidos em outra economia. O argumento das vantagens absolutas pode, assim, set apresentado a partir de exemplo numérico simples. Partindo da nogio de valor-trabalho (0 que determina os custos de producio é apenas o contetido de fator tra- balho), suponha (em um mundo com apenas dois pafses e dois produtos) que, em determinado pais A, a producio deuma unidade de alimentos demande 20 unidades de trabalho, ea produgio de uma unidade de tecidos demande 10 unidades de trabalho. Ao mesmo tempo, em outro pals, B, a produsio de uma unidade de alimentos demanda 10 unidades de trabalho € a produgdo de uma unidade de tecidos requet 20 unidades de trabalho (Tabela 2.1). Tabela 2.1 Pals A Pais B ‘Alimentos 20 unidades de trabalho 10 unidades de trabalho Tecidos 10 unidades de trabatho 20 unidades de trabalho esse contexto, o pais A tem vantagem absoluta na produgio de tecidos (é mais barato produzir tecidos em A), enquanto o pais B tem vantagem absoluta na produgio de alimentos. Na hipétese de haver comércio entre A ¢ B, e se esse comércio ocorrer na relagio de 1:1, isto é com a troca de uma unidade de alimentos por uma unidade de tecidos, ser posstvel 20 pats A a seguinte estratégia: em lugar de despender 20 unidades de trabalho para produzir alimentos, é mais eficiente alocar essas mesmas 20 unidades da seguinte forma: 10 unidades para produzir tecidos e trocar por alimentos produzidos em B e 10 unidades para produzir quantidade adicional de tecidos para consumo interno. O leitor atento jé percebeu a imporcincia da taxa de cimbio, Mas esse tema s6 ser4 tratado nos Capitulos 9.a 11 deste liv. A teoria “pura” de comércio lida apenas com variaveis de estrutura produtiva. . . Haverd ganhos para os palses A e B em assim proceder? A demonstragio de que hd beneficios ¢feia a0 se consi- derararelagao entre os pregos dos dois produtos (alimentos ¢tecidos) no comércio internacional em concraposigio 4 essa mesma relagio vigente em A e em B, Isto é, em A isoladamente, a relagio entre os pregos de alimentos € tecidos era de 2:1. Em B isoladamente, essa mesma relagio era de 1:2. Como a relagio de pregos no mercado in- ‘std situada entre esses dois valores, deduz-se que o comércio entre A ¢ B ¢ factivel e ternacional (1:1, como vimos) com cada pals se especializando na produsio e exportagio de um dos produtos. tari ganhos para ambos os paises, 10 sm que cada pafs produ ¢ exporta apenas um jalizagdo completa’ rari oe’, quando cada pals produc ¢ exporta cada um dos ‘completa”, quan Note que aqui se aplica 0 conceito de “esp Produto, a diferenga do conccito de “especilizagio produtos considerados, Em um modelo simples como esse, em que ha apenas dois palses sendo 0 “resto do mundo”), se hd beneficios para ambos os pafses po também para o conjunto das economias, aumentando o bem-estar em nivel mundial Para que houvesse esse beneficio, no entanto, foi preciso identificar uma situagao em que cada pals claramente se beneficiasse da especializa¢io em um dos produtos. No entanto, a situago mais provivel de encontrar € que nio seja. asim, Até pela diferengas em graus de adiantamento eem niveis de complesidade do parque produto, é mais frequente que determinados paises tenham vantagensabsolutas em todo o seu espectro produtvo, sso climinaia a possibilidade de existit comércio espontineo e rentdvel entre economias distintas? A resposta € negativa, mas de- pende do conceito alternativo de vantagens comparativas. + (embora se possa conceber 0 pals B como wle-seinferie que 0 comércio traz beneficios 2.3 Vantagens comparativas imples e previstvel. Se observa A légica subjacente a0 conceito de vantagens absolutas ¢ imediata e relativamente si ; 1d vantagens na especializacio ‘mos uma situacZo como a descrita anteriormente, é quase inevitivel inferir que have completa no comércio, No entanto, ja em 1817, com a publicagio de seu Principios de econ levantou a questio de que & mais frequente encontrar economias que sio mais eficientes na produsao de todos 6s bens. A situagio proposta por Adam Smith seria de faro um caso particular da formulagio mais abrangente de Ricardo. Ainda assim, seré possivel haver comércio internacional e, com isso, ganhos para as economias par- ticipantes. Ricardo notou que a ideia de vantagens absolutas determina o padrao de trocas internas em um pafs com per feita mobilidade de fatores de produgio, levando, no limite, & uniformizagéo dos pregos dos fatores. No mercado internacional, contudo, a lgica& distnta, dada a baixa (ou inexistente) mobilidade dos fatores entre os paises. Hid que se considerar a estrutura produtiva de cada economia. ‘A teoria ricardiana pode ser apresentada de duas maneiras: como uma tentativa de isolar as variéveis relevantes para explicar 0s fluxos de comércio internacional ou como uma tentativa de demonstrar que o comércio internacio- nal proporciona mais beneficios que uma situacao de isolamento (Bhagwati, 1972). ‘O modelo de Ricardo supde que existam dois pases, dois produtos, um \inico fator de produsio (trabalho) € que a telagio entre os pregas dos produtos antes do comércio é uma Fungo apenas das quantidades de fator empre- ¢gadas na produgao de cada item. Seu exemplo hipotético reaciona os custos de produgao (em termos de unidades de trabalho) de vinho e tecidos, na Inglaterra e em Portugal, da seguinte forma: supondo que ambos os paises te- nham a mesma quantidade de trabalhadores e que o processo produtivo nao requer outro fator de produgio além do trabalho. Para simplificar, é importante supor, ainda, que a producio tem lugar em ambiente de concorréncia jomia politica e tribusagao, David Ricardo perfeita e que nao ha barreiras a0 comércio. Tabela 2.2 Custos de produgao no modelo de Ricardo Vinho Tecidos Relagao de progos (vinho/tecido) Portugal 30 90 30/90 = 1:3 Inglaterra 100 100 100/100 = 1:4 Nesse exemplo, Portugal tem vantagens absolutas na produsio, tanto de vinho quanto de tecidos, uma vez que usa menos unidades de trabalho na fabricagio de ambos os produtos que a Inglaterra. Assim, segundo Jégica de Adam Smith, nao haveria espaco para 0 comércio entre os dois paises. Antes do comércio teriamos uma situagio como a indicada na Figura 2.1, com 0 equilfbrio determinado pela intersegio entre a fronteira de dade de produsio em cada pals ¢ a estrutura de demanda, 0 que corresponde aos pontos A e B, respec possi tivamente. v 100 A 30 B e a T ° const: Figura 2.4 No entanto, € possivel haver coméicio, segundo Ricardo, se considerarmos a nogio de ¢ficiéncia relativa na producio' de cada item em cada pais (Ethier, 1995). O niimero relativo de unidades de trabalho requeridas para produzir uma unidade de vinho (30 em Portugal, 100 na Inglaterra, ou 30/100 = 0,3) € inferior ao ntimero relativo de unidades de trabalho requeridas para produzir uma unidade de tecido (90 em Portugal, 100 na Inglaterra, ou 90/100 = 0,9). Essa diferenga faz com que ambos os paises tenham um incentivo a comercializar. E qual seria a 1 do comércio entre ambos? Aqui é preciso incluir m: uma condigio bisica, a chamada “lei do prego tinico”, que assegura que os pregos no mercado internacional so os mesmos para ambos os paises. Comparemos esses indicadores correspondentes aos precos relativos vigentes em cada pais antes da existéncia do comércio, como indicado na Tabela 2.2. Em Portugal, uma unidade de vinho podia ser trocada por apenas 0,3 uni- dade de tecido. Na Inglaterra, uma unidade de vinho podia ser trocada por 1,0 unidade de tecido. A produsio de vinho é, portanto, relativamente mais barata em Portugal do que na Inglaterra. Assim, Portugal tem um estimulo a se especializar na produgio ¢ exportacio de vinho, enquanto a Inglaterra deve se especializar na produgao de tecido. Se a Inglaterra pode importar uma unidade de vinho a um custo inferior a 1,0 unidade de tecido, teri ganho com o comércio. Se Portugal pode importar mais do que 0,3 unidade de tecido em troca de uma unidade de vinho, também sera beneficiado, Desse modo, se uma unidade de vinho pode ser exportada de Portugal para a Inglaterra em troca de algo entre 0,3 ¢ 1,0 unidade de tecido, ambos os paises serdo beneliciados pelo con Em termos gerais, se chamarmos de ct a quantidade de trabalho requerido para a produgio de uma unidade de um produto, sendo «a quantidade de trabalho requerida para a produgio de uma unidade de vinho, ca quanti- dade de trabalho requerida para a produgio de uma unidade de recido, I (Inglaterra) P (Portugal) indicativos dos dois paises, entéo poderemos dizer que, se ércio internacional. Portugal tem vantagens comparativas na produgio e exportagio de vinhos em relagio 4 Inglaterra. Ricardo expressou 0s ganhos com o comércio em termos de economia de unidades de trabalho porque con- siderava 0 comércio como um mecanismo para economizar “esforgo”. O mesmo argumento pré-comércio pode ser apresentado se considerarmos que, com a existéncia do comércio internacional, um mesmo esforgo produtivo permite consumir uma quantidade maior de ambos os produros. ‘Uma condigao bésica para esse resultado é condicionaras trocas no mercado internacional a deverminada rela- 80 de pregos. No exemplo, vinhos ¢ recidos fo intercambiados em uma proporgio de 1:1. Uma variagio da rlagio de pregos que levasse as possibilidades de comércio além do intervalo 0,3-1,0 levaria a um desequilibrio entre os 7 Um padito idence de produsio implica um situaio em que impose aumentr a produto de wm item sem ter de raluira produgso dooutro wa somércio entre 0s dois palses, pois u ganhos para cada pais, eventualmente, ornaiainvvel a existéncia de comércio palses, pois um dos palses teria uma perda, , Outra condlisio para que ocorram ganhos com 0 ae es sree’ io Pregos no mercado interno de cada pats. Essa é a hipétese de “pals pequeno » regad". A. exo pa condigdes de afetar os vo internacional ambos so “comadores de prego”. A aro para tangy a Pregos no mera 1 pregos relativos internacionais coincid- (0 pregos internacionais sejam distintos dog nenhum dos dois patss tem Fazoavelmente intuitiva, Caso tum dos palses fosse “grande ate at Fiam com os seus prego relatives interios, eno haveria ganho com 0 comércio ror A teoria das oo comparativas pode ser explicada também em termos de re de aes Oi ler, 1936). Em um mundo com apenas dois produtos, Xe Y, 0 custo de um at i a pen y ee Brodaro (de que we deve air mo paper produ una uniadeaiional de X- Asim a econo a © menor custo de oportunidade em um dos produtos possui vantagem comparativa na produglo ¢ exportacio da. quele produto. lacio de A partir do exemplo apresentado na Tabela 2.2, supomos que 0 comércio ocorra em uma relagdo de pregos no mercado internacional de 1:2 entre tecidos ¢ vinhos. Essa relagio (igual a 0,5) é um valor intermedidrio entre as ‘clases de presos vigentes nos dois pases antes do comércio (respectivamente, 03 ¢ 1,0). A medida que ocorre comeércio entre Porrugale Inglaterra, como ambos os pases sfo “tomadores de pregos”,¢ essa relagio 7 ale 4 Vigorar para ambos, Assim, a representagdo das fronteiras de produsao com 0 comércio internacional passa a ser como ilustrado na Figura 2.2, v v 100 45 30 ° 100) 200-7 o 90 7 Figura 2.2 ‘Agora a Inglaterra pode obtet mais vinho do que se tentasse prodiuzir internamente. Sua linha de precos relat vos passa a ser V'T* isto &, os termos de troca internacionais. De modo semelhante, Portugal conscgue mais tecido do que na auséncia de comércio externo. Sua linha de pregos relativos_passa a set T'V?, Note que a inclinagao de ViT?e de T'V"€ exatamente a mesma, refleindo a rela entre os pregas deT e de V no mercado intesnacienal, ¢ sua diferenga para esses pregos relativos em cada pals isoladamente, O Ieitor atento jé deve ter reparado que, se introduzirmos variagées de padrdes de demanda na anslise, consic derando outras possives relages de pregos, a posigio de equlibro final sera determinada pela interagdo das str tras produtivas de Inglacerra e Portugal antes do comércio esta intersecSo com a curva representativa de demanda internacional para os dois produtos, E essa possibilidade de obter mais produtos via comércio internacional e isolamento de cada economia que reflete os ganhos com 0 comércio, Assim, supostos do modelo — a existncia de comércio internacional sera sempre benéica, pela possibilidade de atingit tum nivel mais alto de consumo. Note que esa afirmativa¢ estitamente verdadeita 20 se comparar uma situagio de existéncia de comércio com uma alternativa de nfo comécio, Dat nfo se deve infer, contudo, que um nfvel mais alto de envolvimento com 0 comé que um grau de abercura menor -m comparagio com a situacio de € possivel afirmar que — dados os io internacional seja necessariamente melhor 12 | da economia, tema a ser retomado nos Capftulos 4 € 5, Vantagens comparativas reveladas Anogao de vantagens comparativas estd associada a estrutura produtiva e & composigao dos custos de cada economia. Uma forma de avaliar sua incidéncia por setores € a partir da observagao dos padres de comércio efetivamente praticados por cada pals. Isso corresponde ao conceito de vantagens compara- tivas reveladas (VCR), como proposto por B. Balassa (1965). Hd outras variantes mals elaboradas, mas a {6rmula bésica mais empregada é essa, formulada por Balassa. Os coeficientes de VCR indicam se um pats esté expandindo 0 seu comércio naqueles produtos em que tem potencial maior. Pafses que apresentam perfis de VCR similares provavelmente ndo comerciali- zarao muito entre si, a menos que haja comércio intraindistria. 0 Indice proposto por Balassa tem a seguinte formula: onde x, = exportagdes do produto / pelo pats j X= total das exportagdes do pats j x,.= exportagdes do produto / pelo mundo X_ = total das exportagdes do mundo 0 Indice VCR 6, portanto, a razao entre a proporgao de determinado produto na pauta de exportacao do pais em relagao & proporgao desse mesmo produto na pauta de exportagao mundial. Desse modo, quando a proporcao das exportagdes desse produto no pais maior do que a proporcao das expor | tagdes desse pals no mundo, VCR >4, e dizse que 0 pais apresenta vantagem comparativa revelada nesse produto. 2.4 Vantagens comparativas: questionamento Desde sua formulagao, 0 conceito de vantagens comparativas tem sido um ponto de partida para a teoria de comér- cio internacional. Segundo a concepgio de Ricardo, as vantagens comparativas sio determinadas por diferengas nas fungoes de produgao (tecnologia de produgio) de dois paises. E possivel argumentar, no entanto, que ha dificuldades para generalizar esse conceito (Maneschi, 1998), entre outros motivos, pelo faro de que as fontes de vantagens comparativas — originalmente apresentadas por Ricardo como fruto das diferengas nas fungoes de produgio de dois paises — sio de fato muitas e variadas, como diferengas em tecnologias de produto (caracterssticas dos produtos), gostos, dotagéo de fatores de produsio, possbilidade de absorver ganhos de escala, entre outras. Entre as principais fontes de vantagens comparativas esto: a) diferengas internacionais na estrutura da deman- dha (se dois paises so idénticos mas em um deles hd preferéncia por certos produtes, nesse pals 0 prego pré-comeércio ddesses bens serd mais alto e haverd demanda por importi-los); b) as técnicas de produgio podem diferir entre os patses, por caracteristicas espectficas (localizagio, clima, qualificagto de mio de obra etc. como no modelo ricardia- no bisico); ¢) a tecnologia pode ser idéntica entre os paises, mas haver diferencas nas dotagdes de fatores (modelo Hecksher-Ohlin, na secio a seguir); d) o8 pregos dos produtos podem diferir em funcio de economias de escala, concorréncia imperfeita no mercado de origem ou outros determinantes. ‘o comércio internacional tende — se nao existirem barreitas comerciais ou custos os, 0 que torna menos imediata a Do ponto de vista empitico, de transporte — a igualar os pregos dos produtos produzidos em paises identificacio a priori de qual pais deve se especializar em qual produto, Tudo o que se pode afrmar é que as impor- 14 ee ee eee Oy zegos do pals 0s pregos de outro pafy as entre os Pr i “ cam pats tendea importar mercadorias xj tod “ere liguidas de um pats io relacionadas com difeenss cule com livre comércio (isto é, sem barreras comerciais de qualquer tipo ou custos &¢ WNP Uma ver estabelecido que existem beneficios associados com 0 comm tipo de produtos determinado pats tenders a exportar €o que importaré- ico internacional abe tent prg gy 3.3 Teorema de Heckscher-Ohlin cio internacional foi concebido no ing a neoclissico de comét O modelo mais frequentemente usado no enfoque neoclissico te desenvolvido por seu ano Bay do século XX otiginalmente por Eli Heckscher, em 1919, ¢ posteriorment Ohlin, no infcio dos anos 1930. O modelo enfatiza diferengas na dotagio ou estoque de das vantagens comparativas, no comércio internacional, ¢ bus comércio, isto é, 0 padrio de comércio internacional. © modelo esté baseado em um conjunto de pressupostos b: trata ‘io hd restrides a0 comércio nem custos de transporte; c) existe concorréncia pe fatores de produgio; d) as fungGes de produsio sio idénticas entre os pases, distintas entre os setores ¢ apresentam, rendimentos constantes de escala; €) as condig6es de demanda so iguais e homoréticas nos dois paises (isto &, os produtotes se deparam com gostos semelhantes por parte dos consumidores de ambos os paises; ¢ as preferéncas dos consumidores nio se alteram quando varia 0 seu nivel de renda); f) ha diferensas na intensidade de emprego de cada fator por parte de cada secor, eo setor que é intensivo em trabalho em um pais também 0 ¢ no outro pas {nao hé reversibilidade do uso de fatores); g) os fatores de produgio sao totalmente méveis entre os setores ¢ iméveis entre 0s paises, ¢ 0s scus pregos sio totalmente flexiveis; h) os produtos e os fatores so homogéneos em ambos os paises. Em sua esséncia, o chamado teorema de Heckscher-Ohlin afirma que cada pais tem vantagens comparativas no produto cujo processo produtivo emprega de forma intensiva o fator de produgéo abundante naquele pais. Assim, cada pais produziré e exportard o produto cujo processo produtivo empregue de maneira mais intensiva o fitor de produgio abundante no pais. Essa formulagao impie 0 duplo desafio de definir “intensidade rclativa de fatores” ¢ “abundincia” de fatores, Suponha que os dois fatores de produgio considerados sejam trabalho e capital, remunerados, o primeiro, por um salirio por hora de trabalho, 1, €o segundo por uma taxa de remuneracio, r, definida como o custo de aluguel dos servigos do capital. conceito de nao reversiblidade na intensidade do uso de fatores significa que, para qualquer relagéo wh ‘© setor, digamos, X, empregaré de forma mais intensiva o fator trabalho, e o setor Y empregard mais incensiva- mente o fator capital, em ambos os palses.Fica afastada, assim, a possibilidade de que a producio, digamos, de X, possa ser intensiva em trabalho em um pals ¢intensiva em capital em outro. Isso pode ser representado como nna Figura 2.9. Supondo rendimentos constantes de escala, o “caminho de expansao” (isto é, um raio partindo da origem ¢ passando pelos pontos de tangéncia entre as linhas de pregos relativos e as isoquantas, em cada industria, como as linhas OM no setor M ¢ OX no setor X) é linear. Segundo a Figura 2.9, para uma mesma relaco de precos a relagio LIK serd sempre maior para o produto X, Isso significa que o processo produtivo na industria X em- prega sempre mais mio de obra por unidade de capital que M (X é trabalho-intensiva, M é capital -intensiva). fatores de produgio como o principal determinane ca explicitamente explicara composiao dos luxos de Js: a) tratase de um modelo do tipo 2°22; 5) perfeita nos mercados de bens «de £0 exemplo mais foquntementrefrido€x produto de ron que pode se mcanizad (como nos ples desenvohide) ou inensta em trabalho humane, como tipeamente se enconta em ples asco, por exemplo, [io nio ide acc ne ddan produtos resumes dos ois proesos orem consid como dies, de modo a preset aldade de amon oe bit Figura 2.9 A questio da abundancia de fatores pode ser definida em termos fisicos ou — mais relevante — em termos dos pregos dos fatores. Em termos fisicos pode-se dizer que o pa(s A é abundante em trabalho (em relago a0 pais B) se, 20 considerarmos os estoques de fatores, obtivermos dog be erica Em cermos de pregos dos fatores, podemos afirmar que o pais A é abundante em trabalho (em relagao ao pais B), se (wir), <(w/r), Esse teorema € rigorosamente demonstrivel em um modelo 2 x 2 x 2. No entanto, as tentativas de sua genera lizagdo para contextos com mais de dois paises ou com mais de dois produtos sio menos promissoras. Por exemplo, com mais de dois paises em que seja possvel ordenar Bet (Py/P,), © prego relative de X € maior no mercado internacional. so leva. opal 4 aumentar a produgio e a exportagio de X. Suponhamos que o setor produtor de X empreguerelatamente mai o far trabalho (X € intensvo em trabalho). Nese caso, o aumento na produgio de X vai demandat que tanto 0 trabalho quanto o capital sejam deslocados do stor M paso setor X, porque a fungbes de produ em ambos o secores uilizam os dois fares Ora a diferensa no uso relativo de fatores em X e em M faré com que os fatores nfo seam iberados na mesma proporeio em que so fequeides. Como consequnci, o prego do fo usido intensivamente ne stor em eps sio (no caso, 0 trabalho) tende a subir em relagfo ao prego do outro fator. | Isso €ilutrado ma caixa de Edgeworth-Bowey pelo movimento do ponto E para o ponto E’, Em Ei menos | produsio de X e menos emprego de L (e, portant, mais prougio de Y) que em E", Em Ee em E', os pontos de rangéncia das isoquantas relaivas a X e a M corresponcem também a relagées de pregos dos dois fatores (note a inclinagio do Angulo das tangentes em cada caso). Em E, essa relagio é (wit), €€ B’ essa relagio € (w/t), Iso fica claro no exame da Figura 2.10, (w/t), < (wl), Existe, portanto, uma relagio direta entre a relagio de trocas no mercado internacional, os presos ratvos no mercado interno de cada pats ¢ o efeco sobre os mercados de fatores em cada pals. Resta considerar 0 proceso de 20 | igualagio dos pregos dos fatores O argumenco £ au © comércio livre que (a) iguala os pregos dos produtos entre os dis pases (b) usando a mesma tecnologia ¢ (c) produzindo os mesmos produtos deve igualar também as remuneragGes dos fatores nos dois passes. O comércio de produtos substituia migragéo internacional dos fatores. ‘Chamemos de Ha relagio entre os estoques de fatores em cada pals. Ela sera uma média ponderada das propor- gesem que 05 tors sf0 empregados nos dois stores. Asim, = chkm= Como, por hipstese; 0 produto X ¢ intensivo em trabalho, existe uma relagio direta entre a relagio (wht) ea relagio (L/K), ¢ essa relagio é mais intensa em X que em M, como mostra a Figura 2.11. wn wn kak) Figura 2.14 Na hipétese de uma redugio de (v/s), haveré um estimulo ao aumento de L/K em ambos os setores. Como consequéncia, a produgio de X — intensivo em trabalho — aumenta mais que proporcionalmente, 0 que provoca uma reduglo no seu prego relativo (P,/P_). Relacionando agora com a questio da equalizacio: segundo o teorema de Heckscher-Ohlin, cada pais exporta 0 produto que emprega intensivamente o fator abundante. A demanda por exportacées eleva o prego daquele pro- duto, 0 que afeta os precos dos fatores, mas de maneira mais pronunciada o prego do fator empregado de forma intensiva no setor exportador. No limite, we rnos dois paises tenderio a convergir. A Figura 2.12 ilustra esse ponto. Aslinhas E, ¢ E, representam os estoques de fatores de producio nos paises A e B, respectivamente, ¢ definem um espaco de possibilidades para que ocorra a igualdade dos precos dos fatores. Para cada pais existe um intervalo de possibilidades de precos relativos, associado as relagdes LIK nos dois setores. Esses intervalos sao identificados na Figura 2.12 pelos nomes dos dois paises. wn an idades de pregos rlativos © 8 relagio LK par, leva a uma convergéncia entee 0s pre505 dos fgg, A caqualizagi de pregos ocotre na dca comm 3 pos paises. Ela indica que a igualdade dos pregos dos produtos n ‘ AA Figura 2.12 sugere eambém que essa equalizagio s6 pode acorrer se a linhas E, € Ey no forem my tantes uma da outra, Em outras palaveas, para que a equalizagio de preses de farores possa ocorer, & alguma proximidade entre as dotagies de ftores nos dois pases razodvelimaginar que, entre pases com pearea co nfvel de sakirios ea remunerasio do capital dificil ois ita dy. ces pie de fatores muito dispates, esse efeito convergentes, digamos, entre os Estados Unidos ¢ 0 Haiti, apenas em 05 dois pafses. Para que haja equalizacio, o intervalo possivel de valores pa aquele no qual algo de ambos os produtos é produrido em cada um dos palses. 7 ‘Outra condigzo bisica para que possa haver equalizagio de pregos de fatores é a inexisténcia de especazas, completa no comércio. Isto & ambos os paises devem produzr alguma quantidade de ambos os produtos, C5 contratio, isto é, se cada pais produzir um tinico item, as relagdes (w/t) nao terdo como convergir, Note que tudo o que se pode inferir dessa racionalizagio & que existe uma tendéncia & equalizasio de prego re, lativos dos fatores, nfo da renda real de cada fator. A renda real depende da cesta de consumo, portanto do impac de cada variagio no prego do produto. Avalidagio empica deve corema € condicionada por alguns elementos. Ple epende da proximided dos toques de fatores entre dois pases, Mas, 20 se considerat, por exemplo, a incorporacao de conhecimentos (0 “capita humano”), as dferengas podem ser ampliadas, Além disso, a condigao de “lei do prego tinico” é afetada na pritca, pela interferéncia de barteiras natura ¢ incereréncias de politicas. Outro conjunto de limitantes estérelacionado com consideragées sobre produtos que podem ser comercial. dos ¢ outros, nfo comercalizéveis, como, por exemplo, alguns tipos de servigos. chamado teorema Balassa-Samuelson, denominado a partir de Bela Balassa ¢ Paul Samuelson, por exemplo, cenfatiza a existéncia de diferengas entre os pregos de servigos em paises de mais alta renda ¢ em paises de renda mais baixa. Isso determina diferencas na produtividade dos setores comercializaveis © no comercializaveis, portanto diferengas nos pregos de fatores em cada caso, ee ingio do dinamismo do comérey a relagio entre 0s presos de iene Fores 3.5 Teorema de Stolper-Samuelson ‘A formulacio mais frequentemente associada & ligica de equalizagio de pregos dos fatores de produsio como resultado do comércio internacional & a de Wolfgang Stolper ¢ Paul Samuelson. Eles analisaram os efeitos da im- posicio de uma barreira & importagio de um produto (tema do Capitulo 4) e associaram os efeitos de uma politica comercial restritiva&I6gica do modelo de Heckscher-Ohlin (H-O). Como resultado, ficou demonstrado —em um modelo do tipo H-O — que qualquer interferéncia no comércio internacional que eleve o prego local do produto importado necessariamente beneficiaré o fator de produgéo usado intensivamente no setor que compete com 0 produto importado. ‘Suponhamos que determinado pais sea rico em trabalho e que haja dois produtos X eM, sendo X intensive n0 uso de trabalho e M intensivo no uso de capital. Nos termos do modelo neoclissico, esse pais tem vantagem com parativa, exporta o produto X (intensivo no uso do seu fator abundante, trabalho), tem desvantagem comparativa ¢€ importa o produto M (intensivo no uso do seu fator escasso, o capital). Se houver uma politica comercial protecionista com relagio ao produto M, haverd substicuiggo de importagbes Esse aumento da produgio doméstica de M significa uma pressio no mercado de fatores, isto é uma presio de demanda pelo fator escaso (capital), Assim, os produtores de M reniderio a excolher téenicas de produgio que usem mais trabalho e menos capital. Esse aumento da relagio LIK na produgio de M implica uma queda do produto marginal do trabalho e, portanto, uma tendéncia de queda do prego do fator trabalho. O resultado é que a protegio e a consequente substituigio de importagdes podem afetar a distribuigéo fun- cional da renda por meio da redugio da relagio entre o prego do trabalho e do capital. Da mesma formna que na apresentagio do teorema de equalizagio de pregos de fatores, tudo 0 que & possivel afrmar & que existe uma tendéncia & melhora da remuneragio de um dos fatores de producio. O efeito concreto sobre a distribuigéo de renda dependeri da participagio de produtos que agora pagam tarifa de importagio mais elevada na cesta bisica 22 | de consumo.

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