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ARTE,

PRIVILÉGIO
E DISTINÇÃO

José Carlos Durand


introdução
Pedro Américo - A Noite e os Gênios do Estudo e do
Amor (260 × 195 cm, 1883) Museu Nacional de Belas
Artes, Rio de Janeiro
No grande ateliê da Broadway entrava-se, saía-se e
pagava-se quando e como dava jeito: quando a gente se
lembrava de fazê-lo ou tivesse disposição para isso.
Muitos passavam dificuldades econômicas, mas, de
outro lado, dizia-se que no meio dos alunos estavam
alguns milhonários disfarçados. (...) Ninguém sabia
quem era rico ou miserável. Só havia uma preocupação
máxima: A Arte.
Havia uma gaveta mágica na mesa da secretaria. Essa
gaveta nunca se fechava, não empobrecia e nem
enriquecia. Quando faltava o necessário para os alunos
boêmios, a gavetinha ajudava (...); ninguém nunca soube
quem punha ou tirava o dinheiro da gaveta.

ANITA MALFATTI
Reminiscências da temporada na Independent School of
Art, de Nova Iorque, em 1915/1916, reconstituídas por
Marta Rossetti Batista em Anota Malfatti no Tempo e no
Espaço, São Paulo, IBM Brasil, 1985, p. 38.
Deslocamento da
atenção da obra
para o autor
sociologia Conjunto da
da cultura sociedade e suas
influências

Cultura & Poder “Social” na própria


atividade estética

etnografia é o «estudo descritivo das


diversas etnias, de suas características Artista: recompensas
e reconhecimento -
antropológicas, sociais etc.», bem como o
«registro descritivo da cultura material

Entrevistas Etnografia do de um determinado povo» Houaiss.


captar conexões do
com meio artístico sentido da obra
componentes
do “sistema Captar a
da arte” densidade Arte absorveria nivelando ou nivelaria absorvendo
social do Arte como último espaço protegido das coerções do capitalismo
meio artístico

Ateliê (meio artístico) fora da Pierre Bourdieu -


teoria dos campos
Influência da sociedade dos privilégios e culturais como
pequena desigualdades - gratuidade, espaços relativamente
autõnomos de
burguesia desinteresse e vocação produção simbólica
1

a ordem
estética
do brasil
monárquico
Pedro Américo - Fala do Trono (Dom Pedro II na
Abertura da Assembléia Geral) (288 × 205 cm, 1872)
Museu Imperial do Brasil, Rio de Janeiro
A Academia Imperial
de Belas-Artes do
Rio de Janeiro e o
Regime de Pensionato

Período Monárquico no Brasil (1822 - Crítica modernista - estilo da Academia:


1889);
acadêmicos modernistas
Importação do Neoclassicismo da
Europa - Resquícios do contexto político
subservientes
a estética européia x criativos e
autenticidade
francês; David; ultrapassada nacional

Missão Francesa - 1816 & Academia Apogeu e declínio da Academia;


Imperial de Belas-Artes -
Funcionamento “regular” coincide com o Concursos, prêmios e viagens para a
Segundo Império. Europa.
A Academia Imperial
de Belas-Artes do
Rio de Janeiro e o
Regime de Pensionato

Regime de pensionato - Relações entre Academia e o Regime de


Academia de Belas Artes como Dom Pedro II:
alternativa para filhos da baixa
burguesia urbana. Contexto social do Brasil - nação
escravocrata de base rural, pouca
Artistas de destaque: densidade urbana, pouco interesse da
elite pela carreira em artes;

Araújo Porto-Alegre (RS) Dificuldades para a instituição manter


Victor Meirelles de Lima (SC) seus programas e seus pensionistas na
Pedro Américo (PB) Europa e a cobrança enérgica sobre
seus resultados.
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o campo da
arte
acadêmica
Victor Meirelles - Estudos para a Primeira Missa (81 x
59,2 cm, 1859) Museu Nacional de Belas Artes, Rio de
Janeiro
José Maria de
Medeiros - Iracema
(167 × 250 cm, 1884)
Introdução Museu Nacional de
Belas-Artes, Rio de
Janeiro.

Romantismo -
literatura exalta
glórias e virtudes do
indígena brasileiro;
Indianismo;

Crítica a idealização
do indígena.

Victor Meirelles - Moema (129 × 190 cm, 1866) Museu


de Arte de São Paulo.
Glória e Declínio
de Victor Meirelles
e Pedro Américo

Pedro Américo
- Batalha do
Ivaí (600 x
1100 cm,
1872-1877)
Museu Nacio-
nal de Belas-
-Artes, Rio de
Janeiro.
Glória e Declínio
de Victor Meirelles
e Pedro Américo

Victor Meirelles -
Combate Naval do
Riachuelo (original
820 × 420 cm,
1882/1883) Réplica
se encontra no
Museu Histórico
Nacional, Rio de
Janeiro.
Glória e Declínio
de Victor Meirelles
e Pedro Américo

Victor Meirelles -
Batalha dos Guararapes
(500 × 925 cm, 1879)
Museu Nacional de
Belas Artes, Rio de
Janeiro.
Panorama do Rio de
Janeiro, Victor
Meirelles.

Glória e Declínio
de Victor Meirelles
e Pedro Américo

Victor Meirelles Pedro Américo

Se preocupava em retratar o contexto Mais alternativo e vanguardista;


histórico, era mais “dócil” e “adequado” transgredia a docilidade exigida pela
às expectativas da Academia; Academia conservadora;

Meirelles & Langerock - 1900: panorama Tentativa de recorrer ao governo;


da descoberta do Brasil e a Entrada da
Esquadra Legal - empréstimos com o 1893: encomenda de O Grito do Ipiranga,
governo; após a proposta do artista de vender
sua coleção de quadros ser rejeitada
Não obteve retorno e faliu; doou suas pelo governo.
obras ao governo; panoramas não
foram preservados.
Pedro II como
Patrono das Artes

Academia Imperial de Belas Artes - Educação de Dom Pedro II


pensões para incentivo a estudantes;
Influências de ministros da elite que
Sindicância: informações sobre o queriam que se tornasse responsável e
indivíduo e determinação da quantia não tivesse contato com mulheres,
necessária para doação; portugueses e o clero;

O beneficiado enviava certificado Objetivavam a rejeição dele à paixão e


trimestral ao imperador sobre seu ao desejo porque eram fatores
desempenho; considerados imprevisíveis em seu pai;

Tinha o compromisso de voltar ao Brasil Tentativa de compensação sobre esses


para disseminar os conhecimentos fatores com o ensino de ciências e arte.
adquiridos no exterior.
Pedro II como
Patrono das Artes

"Como você é feliz! Como você é feliz! Legado da fase Acadêmica


(...) como você deve estar consolado
com o amor pelas belas-artes, e como
lastimo não poder refugiar-me Cenas de batalha; eventos
algumas vezes sob a sua influência tão
sã. (...) Como você é feliz de poder da história mais antiga
entregar-se inteiramente às suas (Descobrimento, Invasão
preferências artísticas e a uma
literatura digna do espírito humano!
Holandesa, Independência);
Quase não tenho tempo para esses
estudos que tanto me seduzem. Faço,
entretanto, o que possa para livrar-me
Alegorias de inspiração
dessa política que por vezes me religiosa ou greco-romana;
asfixia." - Dom Pedro II ao Conde de
Gobineau.
Poucas cenas de corte na
iconografia do Segundo
Reinado.
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retratos,
murais, e
outras
oportunidades
de renda
Victor Meirelles - Dom Pedro II (165 × 252 cm, 1864)
Museu de Arte de São Paulo.
A Incursão de
Artistas Estrangeiros

Recebimento de artistas estrangeiros, Início XIX - Elite rural composta por


muitos procuravam nos grandes grandes fazendeiros, gosto pouco
fazendeiros oportunidades de trabalho apurado;
como retratistas; outros apresentavam
em suas viagens caráter de aventura; Final XIX - Nova elite urbana - filhos dos
fazendeiros, educados na Europa e na
Chegada de estrangeiros em meados do corte, aumento do consumo de arte e
século XIX e relatos da probreza de bens de luxo.
quadros e gravuras nas casas das elites
rurais; ao final do século o gosto pela Tabela com artistas visuais ativos no
arte já era percebido nos palacetes. Brasil (nascidos entre 1780 - 1850)
revela que praticamente a metade era
composta de estrangeiros.
O Mercado de Retratos

Como homem prático, e como Importância dos retratos


particular, recomendo-lhe muito o
estudo do retrato, porque é dele que para a sobrevivência dos
há de tirar o maior fruto da sua vida: a artistas;
nossa pátria ainda não está para a
grande pintura. O artista aqui deve ser
uma dualidade: pintar para si, para a Pintura à óleo x Fotografia;
glória, e retratista, para o homem que
precisa de meios. - Carta de Araújo
Porto-Alegre para Victor Meirelles. Fotopintura - foto como
esboço e depois cor para
acabamento. Recurso não
reconhecido como legítimo
por Victor Meirelles.
As Decorações Murais

Artigo - O caso da destruição


das pinturas murais da sede da
Fazenda Rialto, Bananal
Regina A. Tirello
Murais atribuídos ao pintor
José Maria Villaronga y Panella
As Primeiras Galerias

Straten-Ponthoz - Levantamento de Dulcília Buitoni - Revistas de moda -


dados do comércio exterior brasileiro litogravuras; Jornal das Famílias
1839/1840 - Informação mais antiga de (impresso em Paris);
comercialização de obra de arte -
Objetos de luxo, que compreendiam Orlando da Costa Ferreira - 1870 -
também pinturas à oléo. Ampliação do mercado litográfico (248
em 1870 e 115 em 1850);
Galeria Ruquet – Rio de Janeiro
“Rica coleção de pinturas à oléo Laemmert - 1870 - 9 casas de gravuras,
(Murillo, Zurbaran, Herrera, Velasquez, estampas e quadros vendiam
Guidorreni, etc)”. oleografias; 1890 - 33 pintores, 27
decoradores e forradores de papel, 22
Gravuras editadas em Paris por François professores de desenho e pintura e 9
Delarue cenógrafos e decoradores.
As Primeiras Galerias

Galerias ativas - Rio de Janeiro - Vieitas, Marques Junior - O mercado dos


Moncada, (La) Grace Elegante, Clément, Estados compensava as dificuldades de
De Wild, Ateliê Fotográfico, Insley venda no Rio de Janeiro
Pacheco;
José de Almeida Santos - Pintores do
Comércio de Pinturas - Galeria Jorge Rio de Janeiro e pintores estrangeiros
“Lojas, ateliês, fotográficos, anquariatos, livrarias e vendiam em São Paulo; Antiquários
charutarias eram os pontos em que pintores
dispunham para exibir e tentar vender, em São Paulo paulistas vendiam em Buenos Aires
e no Rio, até os anos quarenta”
Borges - Pintores itinerantes vendiam
Angione Costa - Mudança de regime - em regiões ricas e em exposições
Riqueza em São Paulo, urbanização de organizadas por voluntários
SP e RJ; beneméritos.
O Ensino de
Desenho e Pintura

Wanderley Pinho - Preferência das Lea Vergine - (1910/1940) - Ruptura à


“boas” famílias pela arte européia; 31% subordinação feminina no campo
dos professores eram estrangeiros artístico;
Poucos salões dedicados à literatura e
artes visuais; Angione Costa - (1926) - Escultores e
pintores tinham muitas mulheres como
Ana Mae Barbosa - Iconografia discípulas; rabalho “civilizatório”
européia, retratos de pessoas, santos e desempenhado por artistas com
estampas européias; vivência européia.

Gilberto Freyre - Ordens religiosas


francesas - colégios femininos no Brasil
Particularidades na relação entre
mulheres e artes.
referências
biblio-
gráficas

equipe
DURAND, José Carlos. Arte, Privilégio e Distinção:
Artes Plásticas, Arquitetura e Classe Dirigente no
Brasil, 1855/1985. São Paulo, Editora Perspectiva. Ana
BARBOSA, Ana Mae. Arte Educação no Brasil.
Antônio
Marianna
O caso da destruição das pinturas murais da sede
da Fazenda Rialto, Bananal Nicolly
Regina A. Tirello, Centro de Preservação Cultural
da Universidade de São Paulo e Faculdade de
Rennan
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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