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CZ, REVISTA CARIBEN: 2023. ISSN 2254-7630 Za REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: A adesio aos ciclos no 2° bloco dos anos iniciais: enfoque na organizacao do trabalho pedagégico nas escolas da rede publica do Distrito Federal Adherence to cycles in the 2nd block of the initial years: focus on the organization of pedagogical work in schools of public network of the Distrito Federal DOr 1 90S iressv12n6-006 Received ou: September 154, 2023 ‘Accepted on October 17%, 2 ‘Monique Vieira Amorim Bandeira Doutoranda em Educagao Instituigdo: Universidade de Brasilia (UNB) - Campus Darey Ribeiro Enderego: s/n, UnB, Brasilia - DF E-mail: moniquevieiraS3@gmail.com Otilia Maria Alves da Nobrega Alberto Dantas PhD em Educagao Instituigao: Universidade de Brasilia (UNB) - Campus Darey Ribeiro Endereco: s/n, UnB, Brasilia — DF E-mail: otiliadantas@gmail.com RESUMO © presente artigo discorre sobre as andlises dos resultados de uma pesquisa inicial referente a adesao das escolas da rede pablica do Distrito Federal aos Ciclos para as Aprendizagens, nas turmas de 4° e 5° anos do Ensino Fundamental. O objetivo é apreciar os dados coletados por meio de questionirios, adotando como técnica a Anélise de Contetido. Apresentamos, a luz dos estudos recentes realizados no mestrado académico da Universidade de Brasilia, uma reflexio a respeito da organizagio escolar em ciclos e sua relagao com a organizagao do trabalho pedagégico, num liame com outros temas como: formagio continuada, aprendizagem significativa e imersio da escola na sociedade capitalista. Destacamos brevemente a trajetoria da implantagao dos Ciclos para as Aprendizagens pela Secretaria de Estado de Edueagio do Distrito Federal, contrapondo as ages realizadas em 2005, com a efetivacao do Bloco Inicial de Alfabetiza¢ao, com as empreendidas a partir de 2013, com a ampliagao para o 2° bloco dos Anos Iniciais. Palavras-chave: organizagio escolar em ciclos, ciclos para as _aprendizagens, organizagao do trabalho pedagégico, formagao continuada, ABSTRACT This article discusses the analyzes of the results of an initial survey concerning the adhesion of public schools in the Federal District to Cycles for Learning, in the classes of 4th and Sth years of Elementary Education. The objective is to assess the data collected through questionnaires, using Content Analysis as a technique. In the light of the recent studies carried out in the academic master's degree at the University of Brasilia, we present a reflection about the organization of school in cycles and its relationship with the 2576 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS Cit Za (C145 SOCIALES, Miami, ¥-12, 0.6, . 8, 2023. ISSN REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: organization of pedagogical work, in a connection with other themes such as: continued education, significant learning and immersion of school in capitalist society. We briefly highlight the trajectory of the implementation of the Cycles for Apprenticeships by the State Department of Education of the Federal District, contrasting the actions carried out in 2005, with the implementation of the Initial Block of Literacy, with those undertaken from 2013, with the expansion to the 2nd block of the Initial Years. Keywords: school organization in cycles, cycles for leaming, organization of pedagogical work, continuous training. 1INTRODUCAO A organizagio escolar em ciclos, prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educagio Nacional (LDBN. 1996), vem sendo adotada por algumas Secretarias de Educacao brasileiras. Muitos especialistas da area afirmam que esta organizagao escolar rompe com o cariter seletivo e excludente da seriagio e que, a0 propor a reprovagio do estudante ao final de cada ano letivo, interrompe bruscamente 0 processo de aprendizagem (MAINARDES, 2009). Encontramos no Brasil duas formas de organizagdo em ciclos: os Ciclos de Formagio e 0s Cielos de Aprendizagem. Na primeira proposta, de acordo com Freitas (2003), © traballio pedagégico € definido respeitando as fases do desenvolvimento humano (infanecia, pré-adolescéncia e adolescéncia) aliado aos niveis de cognigdo do aluno, rompendo definitivamente com a reprovacio. Ja os Ciclos de Aprendizagem apresentam uma estrntura de organizac3o de ensino em blocos plurianuais com dois ou trés anos de duragdo e a possibilidade de retengao do estudante que nao aleance os objetivos previstos ao final de cada um desses periodos” (DISTRITO FEDERAL, 2014a, p.ll). No ano de 2005 iniciou-se uma nova implantagao dos ciclos na rede piiblica do Distrito Federal (DF), coma criagio do Bloco Inicial de Alfabetizagio (BIA). A Secretaria de Estado de Educagio do DF (SEEDF) antecipou-se aos dispositivos legais que viriam ampliar a escolaridades minima de 8 para 9 anos no Ensino Fundamental conforme aludido na Lei n? 11.274, de 06 de fevereiro de 2006 (BRASIL, 2017). De acordo com os documentos que compéem a politica curricular da SEEDF (DISTRITO FEDERAL, 2014a), no BIA os estudantes ingressam aos 6 anos de idade e completa 0 ciclo de alfabetizagao ¢ letramento aos 8 anos. 2577 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS Cit Za (C145 SOCIALES, Miami, ¥-12, 0.6, . 8, 2023. ISSN REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: Este modelo ¢ uma releitura dos Ciclos de Aprendizagem proposto por Perrenoud (2004), © qual a SEEDF intitulou de Cielos para as Aprendizagens (DISTRITO FEDERAL, 2014a). A sua ampliacdo para os estudantes de 9 a dez anos de idade, se deu a partir de 2013 com a aprovagao do projeto de organizagao escolar em ciclos para os 4° e S° anos, pelo Conselho de Educagdo do Distrito Federal (CEDF) com o Parecer 225/2013 (DISTRITO FEDERAL, 2013). De acordo com os documentos curriculares da SEEDF (DISTRITO FEDERAL, 2014a, 2014b), a reestruturacio da rede configurou 0 seguinte censirio: a) Primeiro Ciclo: Educagio Infantil: Creche - criangas de 0 a 3 anos, Pré-escola - eriangas de 4 e 5 anos (sem retengio); ) Segundo Ciclo: Ensino Fundamental I/ 1° Bloco - 1° ao 3° ano (BIA), 2° Bloco: 4° e 5° anos (com retengao no 3° 5° anos); ¢) Tereeito Ciclo: Ensino Fundamental II/ 1° Bloco: 6° € 7° anos, 2° Bloco: 8° e 9° anos (com retengio no 7° ¢ 9° anos). Entre os anos de 2013 ¢ 2017, a ampliagio dos ciclos para as turmas do 2° bloco do 2° ciclo era de cardter voluntirio. A partir de 2018, toda a rede publica do DF substituiu a seriagio pelos Ciclos para as Aprendizagens. Entendendo que com os ciclos, a reorganizagao do tempo e do espago escolares fundamental, uma vez que as oportunidades de aprendizagem para os estudantes se ampliam, procuramos compreender, a partir de uma pesquisa realizada em duas escolas piiblicas, se a adesdo aos ciclos resultou numa mudanga na Organizagio do Trabalho Pedagdgico (OTP). Informamos que hé época da realizagao da pesquisa em tela, ainda ndo havia encerrado 0 prazo para ampliagtio voluntiria das escolas aos ciclos no 2° bloco dos Anos Iniciais. Por isso, optamos por investigar duas realidades: uma escola que havia feito a adestio e uma que ainda permanecia com a setiagio. Para tal, buscamos nortear nossa reflexdo respondendo algumas questdes que consideramos pertinentes: 8) O que os docentes entendem como Ciclos para as Aprendizagens? b) Existem diferengas na organizagao do trabalho pedagégico da escola que optou pela adesio aos ciclos em relagio 4 escola que niio 0 fez? 2578 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS Cit 2023, 198 2254-7630 Ca REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: 2 METODOLOGIA DA PESQUISA Para a realizagdo da investigaedo, fizemos a escolha pela pesquisa de natureza qualitativa por entender que as relagdes estabelecidas no ambiente escolar so permeadas de situagdes sociais que oportunizam ao pesquisador se debrugar sobre as particularidades dos sujeitos que fardo parte do estudo (CRESWELL, 2010). Nao levar em consideracio © context destes sujeitos nio propiciar’ um resultado coerente, pois, a pesquisa qualitativa mira em “[...] aspectos da realidade que nio podem ser quantificados, centrando-se na compreensio e explicagio da dinimica das relagdes sociais” (DEMO, 1995, p. 32). Como instrumento de coleta de dados Jangamos mao da aplicagdo de questionario, elaborado pelas autoras, com questdes abertas e fechadas, Ressaltamos ainda que: © questionério € um instrumento constituido por uma série ordenada de penguatas que devem ser respondidas por escrito e sem a presenga do cutrevistador. Deve aprescular tuna organizacio na obtengdo de informagaes para facilitar a andlise e tabulagao das repostas. As perguntas devem ser clara © objetivas para evitar erros de interpretacdo, contudo nao devem ser indutivas. (DANTAS: FRANCO, 2017, p. 4, grifo das autoras). Ainda sobre a utilizagao de questionério como instrumento de investigagio, Gil (1999) destaca que com esse instrumento alcangamos um nimero relativamente considerdvel de pessoas e podemos pereeber seu ponto de vista, pareceres ¢ suas expectativas sobre 0 assunto/objeto pesquisado. Para realizar as anélises das respostas, elegemos a Anélise de Contetido apoiada ‘nos estudos de Bardin (1977) © Franco (2008), que tem como ponto principal a categorizagao dos elementos apreendidos, para posterior apreciagao dos dados recorrendo a inferéncias e interpretagdes. Os elementos ou respostas da pesquisa foram agrupados de acordo com 0 critério Iéxico, ou seja, “[...] classificagio das palavras segundo seu sentido, com emparelhamento dos sindnimos e dos sentidos proximos [...]” (FRANCO, 2008, p. 59). Segundo a mesma autora, na Anélise de Contetido “O ponto de partida é a ’. (FRANCO, 2008, p. 12 contexto do sujeito participante da pesquisa, vinculando a alguma base teérica as mensagem [.. sendo de suma importincia considerar o informagaes apuradas em comparagdes contextuais 2579 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS Cit 2023, 198 2254-7630 Ca REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: 3 RESULTADOS E DISCUSSOES Com © objetivo de compreender melhor os resultados obtidos na pesquisa, organizamos este trabalho em trés partes: a primeira contextualiza a investigacao apresentando as escolas e os perfis das professoras participantes. A segunda, esclarece a opcio metodologica da pesquisa e o instrumento utilizado para a coleta de dados e, a terceira parte, evidencia as anilises das respostas das participantes, retomando as questées apontadas no inicio deste estudo. 4 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA A investigagao foi realizada em 2 escolas da rede piblica do Distrito Federal (DF), com doze professores da Coordenagio Regional Ensino de Planaltina (CREP), sendo quatro de uma escola do campo e oito de uma escola da area urbana, que serio Jebana. Tustificamos a escolha destes identificadas como: Escola A~Campo e Escola B— sujeitos e das escolas pela disponibilidade apresentada pelos mesmos em participar voluntariamente da pesquisa e, pelo fato de que as referidas unidades de ensino apresentam a realidade do objeto desta investigagdo: a adesio e a nio adesio aos Ciclos para as Aprendizagens, no 2° bloco dos Anos Iniciais da Secretaria de Estado de Edueacio do Distrito Federal (SEEDF). Sobre a adesio aos Ciclos para as Aprendizagens, a Escola A Campo, fez a opga0 desde 0 inicio em 2013 e, Escola B — Urbana, ainda nao o fez, preferindo aguardar a implementag3o compulséria em todas as unidades de ensino no ano de 2018! Entendemos que, para uma efetiva implementagio dos Ciclos para as Aprendizagens é necessiria uma mudanga de postura de todo 0 coletivo da escola, sobretudo dos coordenadores pedagigicos e dos professores, pois, & na sala de aula que se coneretiza 0 processo educative, com novas priticas que proporcionem uma aprendizagem democritica ¢ significativa para o estudante, levando em consideragio a heterogeneidade das turmas, Nessa perspectiva, a organizagio do trabalho pedagégico precisa assumir um cardter reflexivo, com objetivos bem tragados, de modo que o planejamento das agdes esteja em consonincia com o projeto politico pedagogico (PPP) das escolas e com o Curriculo em Movimento da SEEDF* * Conforme o PDE-Plano Distrital de Educagdo, que prevé na Meta 2, a substituigio da seriagao pelos ciclos tna rede piiblica do DF. até o ano de 2018, (DISTRITO FEDERAL, 2015). 2 Curriculo em Movimento é o nome da matriz curricular da SEED! 2580 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS CIENCIAS SOCIALES, Za REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: Portanto, apenas o abandono da seriagio e a adesdo aos Ciclos nao garantira a melhoria na qualidade do easino, como ja foi amplamente debatido e abordado em diversas obras por autores como Freitas (2003), Perrenoud (2004), Mainardes (2009) Pereira (2017), entre outros especialistas da area de edtucagao. Para apresentar as anélises dos dados, retomemos as questées norteadoras da pesquisa: “O que os docentes entendem como Ciclos para as Aprendizagens?” e “Existem diferencas na organizacdo do trabalho pedagégico da escola que optou pela organizacio em Ciclos nas turmas de 4° e 5° anos, em relagao a escola que nao 0 fez?”. No intento de respondé-las, seguimos os passos sistemuiticos da Anzlise de Conteiido e, realizamos uma Pi -anilise (FRANCO, 2008) das respostas dos questionarios e formulamos duas categorias: Ciclos e Organizagao do Trabalho Pedagégico. Entendemos que a primeira categoria esté em consonaneia com o primeiro questionamento cujos dados esto sistematizamos na Tabela Tabela 1 - Conhecimento a respeito dos Ciclos Progresso continuada | Aprovacio automatica | Nao tenho uma opinivo das aprendizagens dos estudantes formada a vespeita Escola A~ Campo 4 - Escola B- Urbana 3 + T Fonte: elaborada pelas autoras a partir das respostas do questionario aplicado (2018). Ao responderem 0 questionario, as professoras da Escola A — Campo que aderiu aos ciclos no ano de 2013, demonstraram uma superagao no entendimento comum a respeito desta organizagio escolar que frequentemente ¢ confundida com promogio automitica. Segundo Pereira (2017), essa confusto pode ter como fundamento uma leitura incipiente ou interpretagdo errénea do paragrafo 2°, do artigo 32 da LDBEN que diz “Os estabelecimentos que utilizam progressio regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressio continuada, sem prejuizo da avaliagiio do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino” (BRASIL, 2017). E 0 que constatamos nas respostas das professoras da Escola B — Urbana que apresentou resultados bem divididos, com metade dos docentes relacionando os ciclos 4 promogio automatics dos estudantes. Segundo Pereira (2017), 0 termo regime de progressio continuada empregado na LDBEN nio foi adequado, pois, pode levar o leitor 2581 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS CIENCIAS SOCIALES, Za REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: a uma compreensio equivocada uma vez que esse regime de progressio ndo cabe na organizagao da seriagio, cuja retengdo é prevista ano a ano (PEREIRA, 2017, grifo nosso) ‘Um aspecto primordial se refere ao esclarecimento da conninidade escolar sobre ‘© que vem a ser 0s Ciclos para as Aprendizagens. Conforme os documentos oficiais que norteiam a politica educacional do DF, ja havia disponivel uma diretriz pedagdgica do Bloco Inicial de Alfabetizagao (BIA) que, com a ampliagio dos ciclos, foi revisada para atender também as turmas de 4° e $° anos (DISTRITO FEDERAL, 201 4a) Para mais, conforme o Cademo Tira Diwvidas: Organizagio Escolar em Cielos para as Aprendizagens (DISTRITO FEDERAL, 2016), outras ages foram realizadas para informar e formar os profissionais da educagdo no que tange ao tema referide como, foruns e plendrias de discussio em nivel macro e microrregionais de ensino ¢ unidades escolares, além da realizagao da Conferéncia Distrital de Educagao em 2014. Outro ponto de apoio para a compreensio acerca dos fundamentos da organiza¢ao escolar em ciclos seria a participagio em cursos ofertados pelo Centro de Aperfeigoamento dos Profissionais de Educagio da SEEDF (EAPE) ou por instituigdes conveniadas. A formacio continuada é uma oportunidade para o aperfeigoamento profissional, pois, se constitui como um elemento importante da organizagao do trabalho pedagégico que, além de promover a valorizagao docente deve “...] contribuir para a melhoria dos processos de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar” (DISTRITO FEDERAL, 2014a, p. 22), Nas Tabelas 2 e 3 podemos verificar a participacao das professoras das escolas pesquisadas em formagio continuada e/ou de outros momentos de esclarecimentos a respeito dos Ciclos: ‘Tabela 2 ~ Formago Continuada: Escola A~ Campo Participagao de formacao nos | Eselarecimentos na UE sobre os | Participagae de formagao sobre 0s Sltimos dois anos Ciclos para as Aprendizagens ‘Ciclos para as Aprendizagens SM 3 x 2 NAO) L 7 Fonte: elaborada pelas autoras a partir das respostas do questionario aplicado (2018). Tabela 3 - Formagao Continnada: Escola B— Urbana Parlicipagao de formagao nos | Esclarecimentos na UE sobre os | Participagao de formagio sobre os ‘ltimos dois anos Ciclos para as Aprendizagens ‘Ciclos para as Aprendizagens SIM 2 x 1 NAO) 6 7 Fonte: elaborada pelas autoras a partir das respostas do questionario aplicado (2018). 2582 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS CIENCIAS SOCIALES, Za REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: Constatamos que a participagao em formagio continuada é mais expressiva na Escola A em relacio a Escola B, Percebemos também que em ambas as escolas houve momentos de didlogo sobre os Ciclos para as Aprendizagens. Contudo, na escola que nao fez a adesio, 0 corpo docente das turmas de 4° e 5° anos ainda nio vé com bons olhos o rompimento com a seriagio. Inferimos, a partir das respostas do questionério, que a formagio continuada pode ter feito uma diferenca significativa no que diz respeito a compreensio dos fundamentos e da légica da organizagao escolar na perspectiva dos Cielos para as Aprendizagens, Compreendemos a formagio continuada como um momento oportuno para langar ‘um olhar mais critico para 0 cotidiano, propondo uma reflexdo e uma reorganizagao do trabalho pedagogico, concordando com 0 que encontramos no cademo das Diretrizes Pedagégicas (DISTRITO FEDERAL, 2014a). E importante ressaltar que defendemos uma formagao em consonancia com a pritica docente, que permita ao professor atuar na realidade que esta posta, como bem discorre o professor Antonio Novoa: foemagdo de professores deve ser concebida como uma das componentes da mudanga, em conexao estreita com outros sectores e areas de interven¢do, € ‘lo com uma especie de condigdo prévia da mnudanga. A formagio nao se faz antes da mudanca, faz-se durante, produz-se nesse esforco de inovagto ¢ de procura dos melhores percursos para a transformagao da escola. E esta perspectiva ecolégica de nnudanga interactiva dos profissionaise dos contextos que da um novo sentido as priticas de formagio de professores centradas nas escolas, (NOVOA, 1992. p. 17). Entendemos também que, a ampliagio dos ciclos no 2° bloco do Ensino Fundamental na rede piibliea do DF, nao dispés de um tempo de maturagao do processo, com uma implementacZo verdadeiramente gradual ¢ que permitisse amplo debate da comunidade escolar como foi a época do BIA (DISTRITO FEDERAL, 2014a). Notamos uma conduta fortemente hierarquica que exerceu um poder sobre as escolas, professores e alunos, Sobre essa hierarquizacao da educacdo, Villas Boas (2017) destaca que a escola esta imersa no capitalismo ¢ por isso, reproduz, suas facetas ideolégicas ao reforgar um dos seus pilares: a divisio do trabalho. Essa divisio esti claramente expressa quando se configura, nas esferas educacionais, a distingio entre quem pensa e quem executa. Deixados de fora das discussdes sobra a implementagao dos Ciclos para as Aprendizagens pela SEEDF, muitos professores ndo se sentem parte do processo e no conseguem se comprometer e nem compreender integralmente a politica educacional proposta 2583 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS CIENCIAS SOCIALES, Za REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: (HYPOLITO, 1991). Possivelmente, essa condigao poderé implicar na qualidade da organizago do trabalho pedagégico, que tender’ a continuar descontextualizado, mecénico e sem didlogo entre os docentes. No que se refere a0 questionamento sobre a Organizagao do Trabalho Pedagégico (OTP) nas escolas pesquisadas, apresentamos as Tabelas 4 ¢ 5: Tabela 4 — Mudanca na OTP apis a adesio aos ciclos Escola A Campo “Acoes Gestio da escola ‘Coordenacio Pedagogica Trabalho coletivo Plangjamento "Avaliagio dos estudanies Estrategias pedagogicas como: Feagrupamentos, projeto inierventivo ete. ‘Conselho de Classe ‘Reunides coletivas | _4 Fonte: elaborada pelas autoras a partir das respostas do questionario aplicado (2018). Tabela 5 — Agdes realizadas para a OTP sem adesio a0s ciclos Escola B— Urbana ‘goes ‘Coordenagao Pedagégica Trabalho eoletivo Plangjamento por segmento "Avaliagao formativa dos estudantes Fstratégins pedagogicas como: reagrupamentos, projeto interventivo ete ‘Conselho de Classe ‘Reunides coletivas ‘Desenvolvimento de Projetos didatieos Fonte: elaborada pelas autoras a partir das respostas do questionario aplicado (2018). 8 8 6 A Organizagio do Trabalho Pedagégico & permeada de agdes ¢ momentos que constituem o dia a dia de uma escola. Na aplicagiio dos questionairios foi solicitado as professoras que elencassem as priticas que fazem parte do seu cotidiano, de acordo com as realidades de adestio ou no aos Ciclos para as Aprendizagens. Na tabela 4, foram relacionados os elementos nos quais foi percebida alguma mudanga apés a adesio aos ciclos. Como ja vimos discutido neste trabalho, a reorganizacio da OTP é ponto pacifico quando se implementa esta organizagio numa escola ou rede de ensino que antes se pautava na seriaclo, Pereira (2017) faz o alerta para que nio se reduza essa oportunidade de reconfiguracao ha meras adaptacdes, pois, apenas CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS CIENCIAS SOCIALES, Za REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: encobririam os problemas como evasio escolar, reprovagdo prematura e aprendizagem, deficiente, ao invés de resolvé-los. Quanto a tabela 5, foram arroladas as praticas efetivas numa escola que no aderiu aos ciclos. Sao ages pedagégicas também previstas em qualquer realidade educacional que, mesmo numa perspeetiva seriada, podem se efetivar em um trabalho pedagégico voltado para aprendizagens significativas. Neste sentido, nas escolas pesquisadas, as ages pedagégicas so praticamente as mesmas ¢ estas sio indicadas nos documentos curriculares oficiais da SEEDF (DISTRITO FEDERAL, 2014a). A seriagio serviu por muitos anos para reforgar, dentro da escola, a caracteristica essencial do sistema capitalista: a desigualdade de classes. Para Freitas (2016), essas desigualdades sociais se tornaram desigualdades académicas, pois, desconsideram os percursos e tempos de aprendizagem diferenciados dos estudantes, numa falsa ideia de oportunidades iguais para todos, mas, que no fundo, ancorados na meritocracia, classificam, rotulam e excluem aqueles que nao alcangaram em tempo habil (um ano letivo) 0s objetivos tragados. Os prineipios fundantes dos ciclos pressupdem a abertura de espagos para o dislogo e para reflexdes criticas, num desenvolvimento de uma praxis pedagégica voltada para uma educagio que promova a emancipagio docente discente (MAINARDES, 2009). 6 CONSIDERACOES FINAIS A pesquisa que realizamos em duas escolas da rede piblica do DF, é o marco inicial para futuras investigagdes ¢ produgdes académicas. Entendemos que neste artigo, outros elementos constitutivos da realidade educacional foram elencados e carecem de desdobramentos. Destarte, trouxemos para a andlise aspectos importantes como a busca de qualidade na educagio e a tentativa de romper com a logica capitalista que subjuga professores e estudantes s priticas docentes descontextualizadas da realidade social que circunda nossas escolas. Nao pretendemos culpabilizar docentes, gestores ou outros profissionais da educagio pela condigdo atual de aprendizagem em que se encontram muitos de nossos discentes. Todos sao vitimas de um sistema social que se utiliza das instituigdes para ‘manter sua hegemonia ¢ aumentar ainda mais as diferengas culturais, econémicas, académicas e politicas (FREITAS, 2016). 2585 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS CIENCIAS SOCIALES, Za REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: Contudo, ainda no ambiente escolar que encontramos espago para subverter essa logica dominante, estreitando os Lagos profissionais e resgatando a esséucia eriadora e reflexiva que caracteriza a propria existéncia do magistério. Ao analisar os resultados da pesquisa, pudemos perceber que hé muito o que avangar na implementagilo efetiva dos Ciclos para as Aprendizagens, uma vez que é preciso que toda a rede de ensino do DF se reformule. E um tema polémico ¢ est muito Jonge de ser uma unanimidade entre pesquisadores, politicos e educadores, como aponta Mainardes (2009), destacando que as prineipais divergéneias estio em, considerar a proposta vidvel de ser executada ou a desaprovagio na forma como tem sido implantada pelas Secretarias de Educacdo brasileiras. Como ja mencionamos, nas escolas do DE, a adesio voluntiria, sera compulséria em 2018 e, mesmo com aceitacio por uns é rejeicao por outros, os Ciclos para as Aprendizagens se tomar a organizagao escolar oficial do Distrito Federal (DISTRITO FEDERAL, 2014a). Pensemos enti... A palavra “adesio” no sentido estrito do significado, nos remete a um assentimento livre de uma proposta ou uma condigéo, por uma pessoa ou grupo. (DA, 2017). No contexto da SEEDF, essa expresso perde o sentido, pois, a implementagio ja ¢ prevista na Meta 2, Estratégia 2.3 do PDE, nao cabendo a comunidade escolar a palavra final a respeito desse assunto (DISTRITO FEDERAL, 2015). Durante a pesquisa encontramos docentes, pais e outros profissionais que desacreditam no éxito dessa nova proposta de organizacao escolar. As alegacdes sao as mais diversas, vio desde 0 total desconhecimento tedrico do assunto ao mais completo senso comum de que, sem a ameaga da reprovagao, 0 aluno nao vai mais se forgado a estudar, Sobre isso, advertem Villas Boas, Pereira e Oliveira (2012) que esse é um mito dificil de superar e coloca o estudante na vivéncia da étiea da meritocracia capitalista, que nfo garante a aprendizagem pretendida Por isso, precisam ser resgatados os documentos* elaborados e aprovados pelos membros do Consellio de Educagao do Distrito Federal ¢ do Forum Distrital de Educagao, pelos representantes do poder executivo ¢ legislativo. Neles, estilo contidas as metas as estratégias para a organizaco escolar no DF, os percursos e propostas de seu desenvolvimento, numa ressignificagao do papel social da escola > Os documentos os quais nos referimos sto: A Lei de Gestio Democritica n° 4.751/2012: 0 Parecer N° 225/2013-CEDF e PDE 2015/2014. 2586 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS CIENCIAS SOCIALES, Za REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: Torna-se urgente propor novos momentos de didlogo e de esclarecimento com a comunidade escolar sobre a reorganizagio na perspectiva dos Ciclos para as Aprendizagens. A compreensao superficial ou a simples incompreensao vao, sem diivida, reverberar de forma desfavoravel na organizagao do trabalho pedagégico e, este por sua vez, vai impactar diretamente na sala de aula, 2587 CZ, REVISTA CARIBEN4 DE LAS Cit 0 Ca ISSN (C145 SOCIALES, Miami, ¥-12, 0.6, . REVISTA CARIBERA DE CIENCIAS SOCIALES: REFERENCIAS BARDIN, L. Analise de contetdo. Edigdes 70: Portugal, 1977. BRASIL. Planalto. 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