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Brazilian Journal of Health Review 20586

ISSN: 2595-6825

Manejo do delirium em pacientes com internação prolongada em UTI

Delirium management in patients with prolonged ICU stay


DOI:10.34119/bjhrv4n5-167

Recebimento dos originais: 05/09/2021


Aceitação para publicação: 04/10/2021

Gustavo Gomes Rodrigues


Acadêmico do curso de Medicina pela Universidade Federal Fluminense
Endereço: Avenida Marquês do Paraná, 303, Bairro Centro - Niterói, RJ, CEP:
24033900
E-mail: gustavogomesbhr@gmail.com

Ianna Rodrigues Vitorio


Acadêmica do curso de Medicina pela Universidade Iguaçu - UNIG Campus V
BR-356 / KM 02, Itaperuna – RJ – CEP 28300-000
E-mail: iannavitorio@hotmail.com

Priscila Nunes de Carvalho


Médica pelo Centro Universitário do Espírito Santo - UNESC
Instituição:
Endereço: Av. Fiorante Rossi, 2930 - Martineli, Colatina - ES, CEP: 29703858
E-mail: priscilancarvaho@yahoo.com.br

Isabela Rolim Maia Carvalhaes


Acadêmica do curso de medicina pela Universidade Iguaçu, campus V
BR-356 / KM 02, Itaperuna – RJ – CEP 28300-000
E-mail: isabelarolim@hotmail.com

Gabriella Ferreira Furtunato


Acadêmica do curso de medicina pela Universidade Iguaçu
BR-356 / KM 02, Itaperuna, RJ, CEP 28300-000
E-mail: gaby.furtunato@hotmail.com

Juliana Miyuki Miura


Acadêmica do Curso de Medicina pelo Centro Universitário São Camilo (CUSC, São
Paulo - SP)
Endereço: Av. Nazaré, 1.501, Bairro Ipiranga - São Paulo, São Paulo, CEP: 04263-200
E-mail: jmmiura18@gmail.com

Nayara Pinto Louredo


Acadêmica do Curso de Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior
(IMES- Univaço, Ipatinga-MG)
Endereço: Rua Patrício Araújo, 179, Bairro Veneza 1 - Ipatinga, Minas Gerais, CEP:
35164-251
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Carlos Augusto Wolmer de Carvalho Rocha


Médico pelo Centro Universitário de Belo Horizonte - Unibh
Instituição: Médico na Prefeitura de Paulista - PE
Endereço: Av. Professor Mário Werneck, 1685 - Buritis, Belo Horizonte - MG, CEP:
30575-180
E-mail: carloswolmer@gmail.com

Nestor Augusto Avelino Leite


Médico pela Faculdade de Medicina de Campos – FMC
Instituição: Médico do Hospital Irmã Denise - CASU
Endereço: Av. Alberto Torres, 217 – Centro, Campos de Goytacazes – RJ, CEP: 28035-
581
E-mail: nestormed@yahoo.com.br

RESUMO
O Delirium é um distúrbio de atenção e consciência agudo com alta incidência em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo um marcador de mau prognóstico. Devido a
importância do tema, objetivou-se realizar uma revisão sobre a temática do manejo do
delirium em UTI. Paciente com delirium apresenta alterações de consciência, atenção e
cognição e em alguns casos sintomas hiperativos. Associado ao ambiente de UTI, existem
outros fatores precipitantes para a ocorrência do delirium, como extremos de idades,
desnutrição e outras comorbidades. Apesar de sua alta incidência em UTI, o delirium
permanece subdiagnosticado mesmo com escores mundiais de triagem, como o
Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit . O manejo do delirium
depende de um diagnóstico precoce, associado a prevenção, sendo realizada com manejo
da dor, estímulos cognitivos, prevenção de constipação, entre outros. O tratamento
farmacológico é realizado com uso de antipsicóticos como haloperidol, olanzapina e
quetiapina. Além disso, o tratamento não farmacológico é essencial, promovendo melhor
estimulação sensorial do paciente.

Palavras-chave: Delirium, Manejo do delirium, Unidade de Terapia Intensiva.

ABSTRACT
Delirium is an acute attention and awareness disorder with high incidence in the Intensive
Care Unit (ICU), being a marker of poor prognosis with increased mortality. Due to the
importance of the topic, the objective was to carry out a review on the topic of delirium
management in the ICU. Delirium patients present alterations in consciousness, attention
and cognition and, in some cases, hyperactive symptoms. Associated with the ICU
environment, there are other precipitating factors for the occurrence of delirium, such as
extremes of age, malnutrition and other comorbidities. Despite its high incidence in the
ICU, delirium remains underdiagnosed even with worldwide screening scores such as the
Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit. The management of delirium
depends on an early diagnosis, associated with prevention, being carried out with pain
management, cognitive stimuli, constipation prevention, among others. Pharmacological
treatment is performed using antipsychotics such as haloperidol, olanzapine and
quetiapine. In addition, non-pharmacological treatment is essential, promoting better
sensory stimulation for the patient.

Keywords: Delirium, Delirium management, Intensive Care Unit.

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1 INTRODUÇÃO
Delirium é definido como um distúrbio de atenção e consciência que se
desenvolve de forma aguda (HSHIEH; INOUYE; OH, 2017). Segundo Lauretani et al.
(2020), os sintomas não devem ser completamente explicados por um distúrbio
neurocognitivo prévio. Além disso, as alterações cognitivas devem ser o resultado de um
problema clínico, incluindo a intoxicação ou abstinência de drogas e a exposição a toxinas
devido à presença de doenças agudas.
Este distúrbio pode ser encontrado em qualquer ambiente que trate doentes, sejam
eles enfermaria, sala de emergência, instituições de tratamento de idosos, sendo mais
comum em pacientes graves, e acometendo principalmente idosos com outras
comorbidades ou doenças cognitivas prévias. É considerado um marcador de mau
prognóstico, tendo as maiores taxas de incidência observadas em unidades de terapia
intensiva (UTI) e ambientes de cuidados paliativos. O delirium na UTI está associado a
um aumento de 2 a 4 vezes no risco de mortalidade geral, com risco de disfunções
cognitivas até 1 ano após a alta (HSHIEH; INOUYE; OH, 2017).
Segundo Marcantonio (2017), os fatores de risco para delirium podem ser
classificados como predisponentes, os quais geralmente não se podem modificar (idade
maior que 65 anos, doenças graves, demência, deficiência visual e auditiva, polifarmácia,
entre outros) e precipitantes que estão relacionados às drogas, dor, infecções, assim como
ambiente em que o paciente está inserido – UTI ou enfermarias.
Delirium pode se apresentar de diferentes formas clínicas, sendo elas: Hiperativa
– caracterizada por agitação ou agressividade; Hipoativa – redução da atividade
psicomotora; ou mista - alternando entre as duas formas anteriores. Sendo o mais
prevalente a forma hipoativa (LAURETANI et al., 2020)
O rastreamento de tal condição é fundamental, visto o aumento da mortalidade
em pacientes acometidos. Para isso, escalas como a Confusion Assessment Method for the
Intensive Care Unit (CAM - ICU) são importantes para identificação e manejo dos
pacientes com delirium. A avaliação e o diagnóstico perpassam pela identificação da
alteração do estado mental, de consciência e de cognição do paciente. Outras escalas
podem ser utilizadas para triagem do delirium, além de haver necessidade do exame
neurológico detalhado para o diagnóstico e em alguns casos neuroimagem será útil.
(KOTFIS, MARRA, ELY, 2018)
Um dos principais pontos no manejo do paciente em UTI ou enfermarias é a
prevenção do delirium, podendo-se adotar medidas farmacológicas ou não

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farmacológicas. Uma meta-análise de Hshieh et al. (2015) mostra que uma abordagem
multicomponente para prevenção de delirium de forma não farmacológica em pacientes
na UTI resultou em uma redução de 50% na chance de se desenvolver o delirium.
Medidas farmacológicas que podem prevenir o delirium são o uso de antipsicóticos em
baixas doses ou de dexmedetomidina, além de se evitar o uso de anticolinesterásicos.
(SLOOTER; LEUR; ZAAL, 2017)
Assim como a prevenção, o tratamento do delirium pode percorrer medidas não
farmacológicas e o uso de drogas. Como drogas de escolha para o tratamento cita-se os
antipsicóticos típicos (haloperidol) e atípicos (olanzapina e quetiapina), todavia,
atentando-se para possíveis efeitos colaterais. Dessa forma, observa-se que medidas
farmacológicas só devem ser debatidas e optadas quando as estratégias de prevenção não
farmacológicas não surtirem o efeito esperado (HAYHURST et al., 2016).
Portanto, devido a importância do tema, bem como a demanda por atualização e
sobre as recomendações de manejo, esse estudo objetivou realizar uma revisão sobre a
temática do manejo do delirium em Unidades de Terapia Intensiva.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 QUADRO CLÍNICO
O delirium pode ser compreendido como um distúrbio agudo da atenção que
engloba alteração cognitiva e curso flutuante, podendo apresentar sintomas hiperativos,
que ocorre comumente em pacientes com internação prolongada em leito de Terapia
Intensiva. (SILVA et al., 2020)
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da
American Psychiatric Association, quinta edição (DSM-5), existem algumas
características que ajudam a identificar o Delirium. Inicialmente é citado a perturbação
da atenção e da consciência, ou seja, comprometimento da capacidade de direcionar ou
focar a atenção. Outra característica típica é o fato desse distúrbio se desenvolver em um
curto período de tempo (horas a dias) de forma que flutue ao longo do dia. Além disso,
distúrbios da cognição, como déficit de memória, de linguagem, desorientação e alteração
da percepção são frequentes na condição do Delirium. É importante lembrar que esse
contexto clínico não esteja relacionado com outro distúrbio neurocognitivo preexistente,
e não ocorra no contexto de um nível de excitação gravemente reduzido, como o coma.
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013)

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Existem alguns fatores adicionais que podem ser percebidos nesse contexto
clínico do Delirium, como alteração psicomotora do comportamento, o que inclui
hipoatividade, hiperatividade com aumento da atividade simpática e mudança no padrão
do sono. Além disso, podem acompanhar distúrbios emocionais como medo, depressão,
euforia ou perplexidade. (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013)
A perturbação da consciência, geralmente, é um dos primeiros sintomas
relacionados ao Delirium nos pacientes com internação prolongada em Terapia Intensiva.
Muitas vezes, essa mudança no nível de consciência pode ser sútil, logo sonolência,
letargia e distração devem ser sempre observados nesses pacientes. O extremo oposto, a
hiperatividade, também pode ocorrer em casos de abstinência de álcool ou drogas
sedativas, e também merece atenção (FRANCIS; YOUNG, 2021).
Em algumas situações, o Delirium pode se apresentar com sintomas que não são
específicos dessa condição, como agitação psicomotora, reversões sono-vigília,
irritabilidade, ansiedade, labilidade emocional e hipersensibilidade a luzes e sons. É
importante uma análise clínica específica para cada perfil de paciente para identificar o
Delirium até mesmo nos sintomas não específicos. (FRANCIS; YOUNG, 2021)

2.2 FATORES DE RISCO


Fatores predisponentes fazem parte do histórico do paciente como idade, declínio
cognitivo, comorbidades, fragilidade, desnutrição, declínios sensoriais como surdez,
histórico prévio de delirium em outras internações. Fatores precipitantes estão associados
ao quadro clínico atual que levou à hospitalização e suas intercorrências, como por
exemplo procedimentos cirúrgicos, trauma, sepse, hipoglicemia, dor e insuficiências
orgânicas. Os fatores precipitantes podem ser definidos também como fatores cujo início
foi após a internação hospitalar, como alteração do ciclo sono-vigília, alteração da
prescrição de medicações usuais, polifarmácia e redução da interação com a família e
conhecidos. Não raramente, estas condições geralmente se apresentam combinadas e
simultâneas (WILSON et al., 2020; CORTES-BERINGOLA et al., 2021).
Existem medicações específicas que são consideradas fatores de risco importantes
para o delirium, sendo citadas os benzodiazepínicos, glicocorticoides e opióides
principalmente os de longa ação como a morfina. Drogas anticolinérgicas também são
associadas ao aumento de risco de delirium, como prometazina, clorpromazina,
difenidramina e antidepressivos tricíclicos (KOTFIS; MARRA; ELY, 2018).

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Um estudo na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Ostrava na República


Tcheca, Kanova et al. (2017) avaliou os fatores de risco para delirium. O sexo masculino
foi mais associado, sendo homens 58 dos 74 pacientes que apresentaram delirium. O tipo
de admissão inicial também foi dado como fator de risco, sendo os pacientes provenientes
por trauma e causas clínicas com mais chances de delirium que pacientes cirúrgicos. 60%
dos 25 pacientes de causas clínicas e 69% dos 35 pacientes de causas traumáticas
evoluíram com delirium, avaliados pelo CAM-ICU, em contrapartida 16% dos 224
pacientes cirúrgicos evoluíram com delirium avaliados pelo CAM-ICU. A ventilação
mecânica também foi dada como fator de risco, sendo que 82% dos pacientes que
evoluíram com delirium necessitaram de suporte ventilatório mecânico.
Ainda que os fatores de risco para o delirium estão bem elucidados na literatura,
Krewulak et al. (2020) afirma que ainda são necessários mais estudos para definir fatores
de risco específicos para cada tipo de delirium.

2.3 DIAGNÓSTICO
É necessário salientar que a maior parte dos casos de delirium em UTIs
permanecem subdiagnosticados, mesmo com ferramentas de triagem diagnóstica como
escalas e manuais padronizados mundialmente. Algumas dessas triagens utilizadas em
UTIs são a Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS), a Confusion Assessment Method
for the Intensive Care Unit (CAM - ICU) e a Intensive Care Delirium Screening Checklist
(ICDSC). As avaliações com as escalas apresentadas devem ser realizadas de forma
contínua durante o período de internação pela equipe multiprofissional atuante na UTI
(KOTFIS; MARRA; ELY, 2018).
Enquanto a escala de triagem CAM - ICU avalia quatro características do
paciente, a ICSDSC avalia oito critérios para o diagnóstico de delirium. A CAM - ICU
pode ser usada em pacientes sob ventilação mecânica ou não, avaliando flutuações agudas
no estado mental, a presença de desatenção, alterações cognitivas indicando um
raciocínio desorganizado e alterações do nível de consciência. Essa escala possui uma
especificidade de 93% e uma sensibilidade 98% (OH et al., 2017; HAYHURST et al.,
2016).
A escala ICDSC avalia oito critérios, podendo o paciente ser classificado: sem
delirium (0 pontos), delirium subsindrômico (1-3 pontos) e o delirium diagnosticado com
quatro critérios positivos. É avaliado por essa escala alterações do nível de consciência,
desatenção, desorientação, psicose, alterações psicomotoras, alterações de fala, alterações

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de humor, distúrbios do sono e alterações dos sintomas. Essa escala, diferentemente da


CAM - ICU, apresenta menor especificidade e sensibilidade, atingindo valores de 82% e
74%, respectivamente (SLOOTER; LEUR; ZAAL, 2017; HAYHURST et al., 2016).
Podemos ainda citar o Testes 4A’s (4AT) como ferramenta de triagem, apesar de
possuir sensibilidade e especificidade menores do que o CAM-ICU, ainda apresenta
valores acima de 80%. Essa triagem avalia através de faixas de pontuação a cognição do
paciente, em caso de deficiência cognitiva, testes mais detalhados para o diagnóstico de
delirium (OH et al., 2017).
Dessa forma, pode-se entender que o diagnóstico de delirium perpassa a avaliação
do estado de consciência do paciente. Essa avaliação deve ser dividida em duas partes,
primeiramente deve-se avaliar o nível de consciência do paciente, ao utilizar a escala
RASS (Tabela 1). Posteriormente deve-se avaliar o conteúdo da consciência, ou seja,
alterações do estado mental, da cognição e da atenção. No entanto, alterações mais
profundas do nível de consciência, como RASS -5 ou -4, impedem a avaliação de tal
conteúdo e aplicação do CAM-ICU. Além disso, podemos ainda observar alterações do
ciclo sono - vigília e distúrbios perceptivos como a presença de alucinações e percepções
errôneas de realidade (KOTFIS, MARRA, ELY, 2018; OH et al., 2017).

Tabela 1. Escala RASS


RASS CONDIÇÃO DEFINIÇÃO

+4 Agressivo / Combativo Paciente violento, de forma que apresente perigo para equipe
de saúde.

+3 Muito Agitado Paciente agressivo, podendo retirar tubos e cateteres.

+2 Agitado Movimentação frequente não intencional

+1 Inquieto Paciente ansioso e inquieto, mas não se apresenta agressivo

0 Alerta e Calmo

-1 Torporoso Paciente não está alerta, mas quando chamado mantém contato
ocular por mais de 10 seg.

-2 Sedado leve Paciente não está alerta, mas quando chamado mantém contato
ocular por menos de 10 segundos.

-3 Sedado moderado Paciente com abertura ocular, mas sem contato ocular com
examinador.

-4 Sedado profundamente Paciente não apresenta resposta ao estímulo verbal, mas


apresenta resposta ao estímulo álgico

-5 Coma Sem resposta aos estímulos verbais ou álgicos


Referência: adaptado de PESSOA; NACUL, 2006

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O CAM - ICU avalia 4 critérios para diagnóstico de delirium (Tabela 2). O


primeiro ponto, a identificação de alteração do estado mental perpassa por um dos
principais pontos do diagnóstico de delirium que é avaliação do estado mental basal do
paciente. Busca-se entender como o paciente se portava no período anterior à internação,
informação essencial coletada por meio de uma anamnese direcionada a família ou pelo
histórico médico do paciente, identificando assim as variações do estado mental através
da comparação do estado mental atual com o anterior à internação (KOTFIS, MARRA,
ELY, 2018; OH et al., 2017).
O segundo ponto do CAM- ICU, a desatenção, pode ser avaliado pela distração
do paciente aos diversos estímulos ao redor, sendo que um paciente atento pode ignorar
estímulos que não são relevantes. Já a terceira etapa da escala compreende a avaliação do
raciocínio, identificando se está desorganizado ou não, sendo avaliado por perguntas
simples, como “uma pedra pode flutuar na água?” ou “existem peixes no mar?” ou ainda
por comandos simples como “segure a minha mão” e “repita o processo com a outra
mão”, sendo dificilmente avaliado em pacientes intubados sob ventilação mecânica. A
quarta característica avaliada por essa escala, a alteração do nível de consciência, pode
ser identificada pela escala RASS (KOTFIS, MARRA, ELY, 2018).

Tabela 2. Manual CAM-ICU para Diagnóstico do Delirium.


Característica 1: Identificação aguda de alteração do estado mental
- Alterações agudas no estado mental basal
- Flutuações do estado mental nas últimas 24 horas

Característica 2: Desatenção
- Paciente com dificuldades em focar a atenção, (componente visual, componente auditivo)
- Realizado teste de atenção

Característica 3: Pensamento desorganizado


- Sinais de pensamento desorganizado ou incoerente, podendo ser evidenciado por respostas incorretas
a perguntas como “Uma pedra pode flutuar na água?” ou “Existem peixes no mar?”

Característica 4: Nível de consciência alterado


- Escala RASS

Provável delírio se às características 1 e 2 forem presentes, além das características 3 ou 4


Referência: adaptado de PESSOA; NACUL, 2006

O exame físico e neurológico é essencial para identificar possíveis fatores causais,


possíveis diagnósticos diferenciais e o uso de neuroimagem é útil em pacientes com
delirium associados a achados neurológicos focais ou traumatismos cranioencefálicos
(OH et al., 2017).

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2.4 MANEJO
O manejo do delirium depende de um diagnóstico preciso e pertinente. É
fundamental realizar uma avaliação clínica ampla para identificar os possíveis fatores de
risco. Isso engloba uma história patológica pregressa detalhada (priorizando os hábitos
de vida e uso de remédios) e exame físico, aliado a uma investigação diagnóstica focada
na clínica do paciente (REZNIK; SLOOTER, 2019).
Além disso, a identificação das possíveis etiologias do delirium auxilia um melhor
desenvolvimento de ações que visem a prevenção e o tratamento dessa patologia. A sigla
“VINDICATE” foi desenvolvida para recordar as possíveis etiologias do Delirium:
Vascular, Infecções, Nutrição, Drogas, Lesões, Cardíacas, Auto Imunes, Tumores e
Endócrinos. As infecções, por exemplo, auxiliam para otimizar a geração de mediadores
inflamatórios que impedem a função colinérgica das áreas hipocampais. Drogas também
são causas comuns de delírio principalmente em idosos, geralmente ocasionados de várias
patologias (multimorbidade) e tratadas com diversos remédios (polifarmácia)
(LAURETANI et al., 2020).
Antes de se pensar no tratamento é muito importante prevenir os casos de
Delirium na UTI. Os modos de prevenção variam entre os estudos, porém eles
basicamente abordam setores como fisioterapia, reorientação, prevenção da constipação,
manejo da dor, estimulação da cognição, mobilização precoce, estratégias não
farmacológicas do sono, reparação de deficiências que envolvem o aspecto sensorial,
identificação e tratamento de causas de maneira concomitante ou complicações pós-
cirúrgicas, hidratação, nutrição e fornecimento de oxigênio caso seja necessário. O
Hospital Elder Life Program (HELP) é um protocolo que envolve vários componentes de
prevenção do delirium que aborda sistematicamente deficiência visual e auditiva,
imobilidade, desorientação, privação de sono (não farmacológica) e desidratação. A
intervenção é realizada por uma equipe multiprofissional que inclui diversos profissionais
da área da saúde, como: enfermeiras capacitadas, médicos e voluntários (WILSON et al,
2020).
Sobre o tratamento farmacológico empregado nos casos de Delirium apesar do
vasto número de trabalhos publicados no meio científico sobre o tema, ainda existe um
número muito reduzido de grandes ensaios clínicos randomizados. Esse tipo de
tratamento muitas vezes aborda o uso de antipsicóticos típicos (haloperidol) e atípicos
(como, olanzapina, quetiapina e ziprasidona), porém as evidências sobre a eficácia deles
é limitada e conflitante (HAYHURST; PANDHARIPANDE; HUGHES, 2016).

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Outro ponto fundamental no tratamento de pacientes com Delirium são os


aspectos ambientais. A enfermaria do hospital deve ter uma iluminação adequada durante
o dia e a noite deve ser um ambiente escuro e silencioso. Além disso, devem ser utilizadas
estratégias para melhorar o sensório do paciente, como a instalação de relógios,
calendários e caso o paciente tenha algum grau de deficiência visual ou auditiva deve ser
estimulado a utilizar óculos e aparelhos auditivos. A família também é muito importante
estar junto do paciente durante as visitas para promover orientação e segurança para o
doente (MARCANTONIO, 2017).
Com relação ao papel da família nesses casos há divergência na literatura. Um
ensaio clínico randomizado realizado em 36 UTIs para adultos no Brasil, cruzado de
cluster, implementou uma política de visitação familiar flexível (até 12 horas por dia) a
esses pacientes apoiada pela educação familiar e percebeu que não houve diminuição
significativa da incidência de Delirium entre os pacientes em comparação com a visitação
restrita padrão (1 hora e meia por dia). Isso contradiz algumas pesquisas que dizem sobre
a importância da família na redução de incidência de pacientes com delirium. Este estudo
justifica esse dado conflitante pela duração curta das visitas flexíveis aos pacientes
(ROSA et al, 2019).
Delirium é sabidamente uma complicação frequente em pacientes com quadros
mais graves e traz sérias consequências para o indivíduo. Ainda assim, existem poucas
opções de intervenção totalmente eficazes. Intervenções não medicamentosas
multifatoriais geralmente representam as melhores estratégias para a prevenção dessa
patologia. Não usar medicamentos de alto risco, como benzodiazepínicos e
anticolinérgicos, é fundamental, principalmente em idosos. O tratamento agressivo da dor
com analgésicos não opióides é normalmente utilizado. Os antipsicóticos
preferencialmente devem ser reservados para o tratamento de casos mais graves da
doença, como severa inquietação ou características psicóticas. Devem ser prescritos de
maneira cautelosa. Já a dexmedetomidina pode ser útil como um tratamento adjuvante
para agitação e também pode ser utilizada para sedação de pacientes em ventilação
mecânica (REZNIK; SLOOTER, 2019).
Portanto, os cuidados a serem tomados para o tratamento do Delirium não são
muito específicos e incipientes, visto que as causas ainda não são tão claras, o que
corrobora com seu aspecto multifatorial. Contudo, todas as conquistas percebidas quanto
a melhoria dos sinais e sintomas dos pacientes devem ser celebradas, pois a duração

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prolongada do Delirium pode ocasionar complicações a longo prazo (SOUZA;


AZZOLIN; FERNANDES, 2018).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos achados na literatura após esse estudo, verifica-se que o
delirium é um distúrbio mais comum em pacientes graves e/ou idosos, porém pode ser
encontrado em ambientes em que haja tratamento de doentes. Ademais, é importante
frisar que se trata de um marcador de mau prognóstico estando associado a um aumento
de 2 a 4 vezes no risco de mortalidade geral. Diante disso, faz-se necessário cada vez mais
investir na prevenção deste distúrbio seja com medidas não farmacológicas seja com
medidas farmacológicas, uma vez que ainda não está claro quais as principais causas que
podem levar ao desencadeamento do quadro. Para tanto, é preciso investir na
uniformidade dos protocolos aplicados para o diagnóstico do delirium bem como no
investimento da multiprofissionalização do tratamento buscando sempre o bem-estar do
paciente.

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REFERÊNCIAS

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