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ISSN: 2595-6825
Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.5, p. 20586-20598 sep./oct. 2021
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RESUMO
O Delirium é um distúrbio de atenção e consciência agudo com alta incidência em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo um marcador de mau prognóstico. Devido a
importância do tema, objetivou-se realizar uma revisão sobre a temática do manejo do
delirium em UTI. Paciente com delirium apresenta alterações de consciência, atenção e
cognição e em alguns casos sintomas hiperativos. Associado ao ambiente de UTI, existem
outros fatores precipitantes para a ocorrência do delirium, como extremos de idades,
desnutrição e outras comorbidades. Apesar de sua alta incidência em UTI, o delirium
permanece subdiagnosticado mesmo com escores mundiais de triagem, como o
Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit . O manejo do delirium
depende de um diagnóstico precoce, associado a prevenção, sendo realizada com manejo
da dor, estímulos cognitivos, prevenção de constipação, entre outros. O tratamento
farmacológico é realizado com uso de antipsicóticos como haloperidol, olanzapina e
quetiapina. Além disso, o tratamento não farmacológico é essencial, promovendo melhor
estimulação sensorial do paciente.
ABSTRACT
Delirium is an acute attention and awareness disorder with high incidence in the Intensive
Care Unit (ICU), being a marker of poor prognosis with increased mortality. Due to the
importance of the topic, the objective was to carry out a review on the topic of delirium
management in the ICU. Delirium patients present alterations in consciousness, attention
and cognition and, in some cases, hyperactive symptoms. Associated with the ICU
environment, there are other precipitating factors for the occurrence of delirium, such as
extremes of age, malnutrition and other comorbidities. Despite its high incidence in the
ICU, delirium remains underdiagnosed even with worldwide screening scores such as the
Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit. The management of delirium
depends on an early diagnosis, associated with prevention, being carried out with pain
management, cognitive stimuli, constipation prevention, among others. Pharmacological
treatment is performed using antipsychotics such as haloperidol, olanzapine and
quetiapine. In addition, non-pharmacological treatment is essential, promoting better
sensory stimulation for the patient.
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1 INTRODUÇÃO
Delirium é definido como um distúrbio de atenção e consciência que se
desenvolve de forma aguda (HSHIEH; INOUYE; OH, 2017). Segundo Lauretani et al.
(2020), os sintomas não devem ser completamente explicados por um distúrbio
neurocognitivo prévio. Além disso, as alterações cognitivas devem ser o resultado de um
problema clínico, incluindo a intoxicação ou abstinência de drogas e a exposição a toxinas
devido à presença de doenças agudas.
Este distúrbio pode ser encontrado em qualquer ambiente que trate doentes, sejam
eles enfermaria, sala de emergência, instituições de tratamento de idosos, sendo mais
comum em pacientes graves, e acometendo principalmente idosos com outras
comorbidades ou doenças cognitivas prévias. É considerado um marcador de mau
prognóstico, tendo as maiores taxas de incidência observadas em unidades de terapia
intensiva (UTI) e ambientes de cuidados paliativos. O delirium na UTI está associado a
um aumento de 2 a 4 vezes no risco de mortalidade geral, com risco de disfunções
cognitivas até 1 ano após a alta (HSHIEH; INOUYE; OH, 2017).
Segundo Marcantonio (2017), os fatores de risco para delirium podem ser
classificados como predisponentes, os quais geralmente não se podem modificar (idade
maior que 65 anos, doenças graves, demência, deficiência visual e auditiva, polifarmácia,
entre outros) e precipitantes que estão relacionados às drogas, dor, infecções, assim como
ambiente em que o paciente está inserido – UTI ou enfermarias.
Delirium pode se apresentar de diferentes formas clínicas, sendo elas: Hiperativa
– caracterizada por agitação ou agressividade; Hipoativa – redução da atividade
psicomotora; ou mista - alternando entre as duas formas anteriores. Sendo o mais
prevalente a forma hipoativa (LAURETANI et al., 2020)
O rastreamento de tal condição é fundamental, visto o aumento da mortalidade
em pacientes acometidos. Para isso, escalas como a Confusion Assessment Method for the
Intensive Care Unit (CAM - ICU) são importantes para identificação e manejo dos
pacientes com delirium. A avaliação e o diagnóstico perpassam pela identificação da
alteração do estado mental, de consciência e de cognição do paciente. Outras escalas
podem ser utilizadas para triagem do delirium, além de haver necessidade do exame
neurológico detalhado para o diagnóstico e em alguns casos neuroimagem será útil.
(KOTFIS, MARRA, ELY, 2018)
Um dos principais pontos no manejo do paciente em UTI ou enfermarias é a
prevenção do delirium, podendo-se adotar medidas farmacológicas ou não
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farmacológicas. Uma meta-análise de Hshieh et al. (2015) mostra que uma abordagem
multicomponente para prevenção de delirium de forma não farmacológica em pacientes
na UTI resultou em uma redução de 50% na chance de se desenvolver o delirium.
Medidas farmacológicas que podem prevenir o delirium são o uso de antipsicóticos em
baixas doses ou de dexmedetomidina, além de se evitar o uso de anticolinesterásicos.
(SLOOTER; LEUR; ZAAL, 2017)
Assim como a prevenção, o tratamento do delirium pode percorrer medidas não
farmacológicas e o uso de drogas. Como drogas de escolha para o tratamento cita-se os
antipsicóticos típicos (haloperidol) e atípicos (olanzapina e quetiapina), todavia,
atentando-se para possíveis efeitos colaterais. Dessa forma, observa-se que medidas
farmacológicas só devem ser debatidas e optadas quando as estratégias de prevenção não
farmacológicas não surtirem o efeito esperado (HAYHURST et al., 2016).
Portanto, devido a importância do tema, bem como a demanda por atualização e
sobre as recomendações de manejo, esse estudo objetivou realizar uma revisão sobre a
temática do manejo do delirium em Unidades de Terapia Intensiva.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 QUADRO CLÍNICO
O delirium pode ser compreendido como um distúrbio agudo da atenção que
engloba alteração cognitiva e curso flutuante, podendo apresentar sintomas hiperativos,
que ocorre comumente em pacientes com internação prolongada em leito de Terapia
Intensiva. (SILVA et al., 2020)
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da
American Psychiatric Association, quinta edição (DSM-5), existem algumas
características que ajudam a identificar o Delirium. Inicialmente é citado a perturbação
da atenção e da consciência, ou seja, comprometimento da capacidade de direcionar ou
focar a atenção. Outra característica típica é o fato desse distúrbio se desenvolver em um
curto período de tempo (horas a dias) de forma que flutue ao longo do dia. Além disso,
distúrbios da cognição, como déficit de memória, de linguagem, desorientação e alteração
da percepção são frequentes na condição do Delirium. É importante lembrar que esse
contexto clínico não esteja relacionado com outro distúrbio neurocognitivo preexistente,
e não ocorra no contexto de um nível de excitação gravemente reduzido, como o coma.
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013)
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Existem alguns fatores adicionais que podem ser percebidos nesse contexto
clínico do Delirium, como alteração psicomotora do comportamento, o que inclui
hipoatividade, hiperatividade com aumento da atividade simpática e mudança no padrão
do sono. Além disso, podem acompanhar distúrbios emocionais como medo, depressão,
euforia ou perplexidade. (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013)
A perturbação da consciência, geralmente, é um dos primeiros sintomas
relacionados ao Delirium nos pacientes com internação prolongada em Terapia Intensiva.
Muitas vezes, essa mudança no nível de consciência pode ser sútil, logo sonolência,
letargia e distração devem ser sempre observados nesses pacientes. O extremo oposto, a
hiperatividade, também pode ocorrer em casos de abstinência de álcool ou drogas
sedativas, e também merece atenção (FRANCIS; YOUNG, 2021).
Em algumas situações, o Delirium pode se apresentar com sintomas que não são
específicos dessa condição, como agitação psicomotora, reversões sono-vigília,
irritabilidade, ansiedade, labilidade emocional e hipersensibilidade a luzes e sons. É
importante uma análise clínica específica para cada perfil de paciente para identificar o
Delirium até mesmo nos sintomas não específicos. (FRANCIS; YOUNG, 2021)
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2.3 DIAGNÓSTICO
É necessário salientar que a maior parte dos casos de delirium em UTIs
permanecem subdiagnosticados, mesmo com ferramentas de triagem diagnóstica como
escalas e manuais padronizados mundialmente. Algumas dessas triagens utilizadas em
UTIs são a Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS), a Confusion Assessment Method
for the Intensive Care Unit (CAM - ICU) e a Intensive Care Delirium Screening Checklist
(ICDSC). As avaliações com as escalas apresentadas devem ser realizadas de forma
contínua durante o período de internação pela equipe multiprofissional atuante na UTI
(KOTFIS; MARRA; ELY, 2018).
Enquanto a escala de triagem CAM - ICU avalia quatro características do
paciente, a ICSDSC avalia oito critérios para o diagnóstico de delirium. A CAM - ICU
pode ser usada em pacientes sob ventilação mecânica ou não, avaliando flutuações agudas
no estado mental, a presença de desatenção, alterações cognitivas indicando um
raciocínio desorganizado e alterações do nível de consciência. Essa escala possui uma
especificidade de 93% e uma sensibilidade 98% (OH et al., 2017; HAYHURST et al.,
2016).
A escala ICDSC avalia oito critérios, podendo o paciente ser classificado: sem
delirium (0 pontos), delirium subsindrômico (1-3 pontos) e o delirium diagnosticado com
quatro critérios positivos. É avaliado por essa escala alterações do nível de consciência,
desatenção, desorientação, psicose, alterações psicomotoras, alterações de fala, alterações
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+4 Agressivo / Combativo Paciente violento, de forma que apresente perigo para equipe
de saúde.
0 Alerta e Calmo
-1 Torporoso Paciente não está alerta, mas quando chamado mantém contato
ocular por mais de 10 seg.
-2 Sedado leve Paciente não está alerta, mas quando chamado mantém contato
ocular por menos de 10 segundos.
-3 Sedado moderado Paciente com abertura ocular, mas sem contato ocular com
examinador.
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Característica 2: Desatenção
- Paciente com dificuldades em focar a atenção, (componente visual, componente auditivo)
- Realizado teste de atenção
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2.4 MANEJO
O manejo do delirium depende de um diagnóstico preciso e pertinente. É
fundamental realizar uma avaliação clínica ampla para identificar os possíveis fatores de
risco. Isso engloba uma história patológica pregressa detalhada (priorizando os hábitos
de vida e uso de remédios) e exame físico, aliado a uma investigação diagnóstica focada
na clínica do paciente (REZNIK; SLOOTER, 2019).
Além disso, a identificação das possíveis etiologias do delirium auxilia um melhor
desenvolvimento de ações que visem a prevenção e o tratamento dessa patologia. A sigla
“VINDICATE” foi desenvolvida para recordar as possíveis etiologias do Delirium:
Vascular, Infecções, Nutrição, Drogas, Lesões, Cardíacas, Auto Imunes, Tumores e
Endócrinos. As infecções, por exemplo, auxiliam para otimizar a geração de mediadores
inflamatórios que impedem a função colinérgica das áreas hipocampais. Drogas também
são causas comuns de delírio principalmente em idosos, geralmente ocasionados de várias
patologias (multimorbidade) e tratadas com diversos remédios (polifarmácia)
(LAURETANI et al., 2020).
Antes de se pensar no tratamento é muito importante prevenir os casos de
Delirium na UTI. Os modos de prevenção variam entre os estudos, porém eles
basicamente abordam setores como fisioterapia, reorientação, prevenção da constipação,
manejo da dor, estimulação da cognição, mobilização precoce, estratégias não
farmacológicas do sono, reparação de deficiências que envolvem o aspecto sensorial,
identificação e tratamento de causas de maneira concomitante ou complicações pós-
cirúrgicas, hidratação, nutrição e fornecimento de oxigênio caso seja necessário. O
Hospital Elder Life Program (HELP) é um protocolo que envolve vários componentes de
prevenção do delirium que aborda sistematicamente deficiência visual e auditiva,
imobilidade, desorientação, privação de sono (não farmacológica) e desidratação. A
intervenção é realizada por uma equipe multiprofissional que inclui diversos profissionais
da área da saúde, como: enfermeiras capacitadas, médicos e voluntários (WILSON et al,
2020).
Sobre o tratamento farmacológico empregado nos casos de Delirium apesar do
vasto número de trabalhos publicados no meio científico sobre o tema, ainda existe um
número muito reduzido de grandes ensaios clínicos randomizados. Esse tipo de
tratamento muitas vezes aborda o uso de antipsicóticos típicos (haloperidol) e atípicos
(como, olanzapina, quetiapina e ziprasidona), porém as evidências sobre a eficácia deles
é limitada e conflitante (HAYHURST; PANDHARIPANDE; HUGHES, 2016).
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos achados na literatura após esse estudo, verifica-se que o
delirium é um distúrbio mais comum em pacientes graves e/ou idosos, porém pode ser
encontrado em ambientes em que haja tratamento de doentes. Ademais, é importante
frisar que se trata de um marcador de mau prognóstico estando associado a um aumento
de 2 a 4 vezes no risco de mortalidade geral. Diante disso, faz-se necessário cada vez mais
investir na prevenção deste distúrbio seja com medidas não farmacológicas seja com
medidas farmacológicas, uma vez que ainda não está claro quais as principais causas que
podem levar ao desencadeamento do quadro. Para tanto, é preciso investir na
uniformidade dos protocolos aplicados para o diagnóstico do delirium bem como no
investimento da multiprofissionalização do tratamento buscando sempre o bem-estar do
paciente.
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