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USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL A LUZ DA LEI 13.105/2015


Nome da Aluna (o)

RESUMO

Este estudo analisa o Instituto da Usucapião Extrajudicial a luz da lei 13.105/2015.


A Usucapião é um direito que o cidadão adquire pelo uso do bem móvel ou imóvel
em decorrência do tempo de uso deste. Uma posse que devera ser mansa e
pacifica e não e não ter a oposição do proprietário pelo prazo de 5 (cinco) anos.
Transcorrido esse tempo caracterizará o usucapião. O novo Código de Processo
Civil traz uma nova modalidade de usucapião que lhe confere o direito de ser
extrajudicial. Ou seja, via cartorário. Esta modalidade de usucapião pode ser
processada no Registro da circunscrição imobiliária em que se situar o imóvel
usucapiendo. São apresentadas igualmente ao longo desse estudo a o Instituto da
Usucapião a partir da Lei n. 14.010/20 promulgada em razão da pandemia do novo
Coronavirus e estabelece um regime emergencial e transitório para regular as
ações de direito privado durante um período de tempo da pandemia.

Palavras-chave: usucapião, extrajudicial, pandemia.

ABSTRACT

This study analyzes the Institute of Extrajudicial Usucapião in the light of law
13.105/2015. Usucapião is a right that the citizen acquires for the use of movable
or immovable property as a result of the time of use of this. A possession that must
be meek and peaceful and not and not have the opposition of the owner for a
period of 5 (five) years. After that time, it will characterize the usucapião. The new
Code of Civil Procedure brings a new modality of usucapião that gives it the right to
be extrajudicial. That is, via cartorio. This modality of usucapião can be processed
in the Register of the real estate circumscription in which the property is located
usucapiendo. The Institute of Usucapião is also presented throughout this study
from Law No. 14,010/20 promulgated due to the pandemic of the new Coronavirus
and establishes an emergency and transitory regime to regulate actions under
private law during a period of time of the pandemic.

Keywords: usucaption, extrajudicial, pandemic.


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INTRODUÇÃO

Na seara do Direito Privado, um dos institutos que apresenta maior


controvérsia é a propriedade. Controvérsia esta que já se inicia na própria
conceituação para sequencialmente adentrar a análise de sua natureza jurídica
bem como de seus atributos para finalmente se apreender qual seja a função
social da propriedade.

Instituida no Novo Código de Processo Civil sua meta central era,


sempre que possível desjudicializar a obtenção de dada propriedade por
usucapião. Um processo que oportuniza celeridade bem como economia em
questões de cunho processual.

A Usucapião é a maneira de se adquirir uma propriedade quando


presentes requisitos como a posse qualificada exercida pelo decurso do tempo
necessário à modalidade pretendida e coisa hábil de ser usucapida. A priori, os
processos judiciais de Usucapião são complexos e morosos e não obstante
são anos para a resolução, muitas vezes mais de cinco, dez ou até mais anos
para serem resolvidos.

Em decorrência das transformações processadas pelo CPC/2015 na


Lei de Registros Públicos torna-se possível regularizar em Cartório - sem
longos e custosos processos judiciais, através da Usucapião Extrajudicial - os
imóveis nos quais estiverem identificados os requisitos legais de acordo com a
modalidade de usucapião escolhida. Para que esse procedimento ocorra, hverá
sempre a necessidade de se constituir um advogado.

Assim, para desenvolver este artigo, o mesmo se divide em 4 (quatro)


tópicos, a saber, A Usucapião - Função Social da Propriedade e da Posse,
no qual se explana sobre o que seja propriedade bem como sua função social.
No tópico a seguir, nomeado Instituto Da Usucapião Extrajudicial explana-se
sobre o surgimento deste Instituto e sua relevância para que se minimize
significativamente tanto custas quanto tempo com ações judiciais.
3

Na sequencia explana-se sobe a Usucapião e seu papel tanto com


relação a Lei Número 13.465/2017 quanto com a Lei N. 14.010/20 (Lei Da
Pandemia) Para a Usucapião.

A USUCAPIAO - FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E DA POSSE

Por meio da usucapião torna-se possível a obtenção de propriedade


frente a pratica da posse pacifica e continua ao longe de dado período de
tempo normatizado em lei. Na realidade, como manifesta Pimentel (2019, p.
10) “é o direito que um cidadão adquire em relação à propriedade de bens
moveis ou imóveis, em decorrência de uso continuado durante determinado
lapso temporal”.

A usucapião na opinião de Gama (2016, p. 373-374) “é o modo de


obter a propriedade de bem móvel ou imóvel, pela posse contínua e sem
oposição, no decorrer de um lapso de tempo, conforme os requisitos definidos
em lei”. Contudo, serve igualmente “para aquisição de outros direitos reais
sobre coisa alheia. Este conceito está diretamente ligado a condição
possessória que é habilitada ao se vincular tal ideia à função social”.

Ainda de acordo com Gama (2016, p. 373-374) “trata-se, portanto, de


um modo originário de aquisição da propriedade, não havendo ligação jurídica
entre novo titular da propriedade, obtida através da usucapião, e o antigo
dono”.

O direito de propriedade emerge na Constituição Federal de 1988 e


neste sentido, Ferreira (1996, p.107) retrata que o conceito oriundo da
Constituição sobre propriedade é amplo, “abrangendo o complexo de direitos
patrimoniais traduzíveis economicamente,” o que reforça a opinião de Alvim
Netto (apud Zakka, 2007, p. 110), pois, para ele “não apenas aos bens imóveis
e aos móveis, senão que a todo e qualquer bem de valor econômico”.

A Constituição Federal normatiza o direito de propriedade de modo


amplo, especialmente quando cotejado com o Código Civil. Destarte, Bastos
4

(1997, p. 62) refere que “o desenvolvimento da civilização, bem como, os bens


considerados como de interesse para o homem, não se limitam apenas aos
bens corpóreos”. Ao contrário, este autor pontua sobre “a proteção dada pela
própria Carta Magna em relação à titularidade da exploração de bens
denominados como incorpóreos”.

No tocante as conformações direcionadas para a propriedade, Alvim


Netto (apud Zakka, 2007, p.111) destaca que:

“Cumpre-nos ter em mente novas configurações do direito de


propriedade, como a da alienação fiduciária de bem móvel (art. 66,
Lei 4.728/65, tal como resulta do decreto-lei 991/69) e a da Lei
9.514/97, o que torna evidente que o conceito de propriedade não é
um só, mas acaba assumindo outro(s) significado(s), com vistas a
finalidades próprias e decorrentes do perfil que tais leis imprimem no
que designam como direito de propriedade”.

Primeiramente o direito de propriedade ganhou contornos totalmente


abstratos, assim como, analíticas, incididos dos próprios Códigos Civis,
instituídos pelos ideais burgueses. Quando emerge o novo Código Civil, a
usucapião adquire identidade feminina e de acordo com Sarmento (s/d, p.52)
“não representa um ataque ao direito de propriedade, mas sim uma
homenagem à posse, em detrimento daquele que, tendo o domínio, abandona
o imóvel”.

Conforme o cabedal jurídico de Perlingieri (1982, p.138-139) “as


diferentes formas de propriedade acabam por serem reguladas diferentemente,
mas, sempre cumprem a sua função social”. Na verdade, a teoria do direito
subjetivo de propriedade abarca múltiplas críticas, principalmente, por não
prever nenhuma natureza de dever dos proprietários com relação às demais
pessoas.

A doutrina finda por atribuir ao direito de propriedade a natureza


jurídica de direito subjetivo, que na opinião de Zakka (2007, p.103) é “um
interesse, que o ordenamento jurídico protege por meio da atribuição ao titular,
de um conjunto de poderes de ação (usar, gozar e dispor) em relação à coisa”.
5

Neste desiderato, Duguit (apud Rodrigues, 2000, p. 97) reporta que


“todo indivíduo tem a obrigação de cumprir na sociedade certa função social
que decorre do lugar que ocupa” e, portanto,

“O proprietário, pelo fato de possuir a propriedade, tem de cumprir a


finalidade social que lhe é implícita e somente assim estará
socialmente protegido, porque a propriedade não é direito subjetivo
do proprietário, mas função social de quem a possui”.

O proprietário, no entendimento de Monteiro Filho (2007, p. 72) “é


apenas um instrumento, pois, é por meio dele que se coloca em prática o que
se entende ser melhor para o interesse social”. A priori, há dois pré-requisitos
que sustentam a usucapião, sendo estes posse e tempo.

Com relação à posse, Pereira (2007, p.140) afirma que a mesma “ad
usucapionem é aquela que se exerce com intenção de dono-cum animo
domini. Este requisito psíquico de tal maneira se integra na posse, que adquire
tônus de essencialidade”. A priori, o ato de adquirir uma propriedade por
intermédio da posse, configura-se como usucapião.

INSTITUTO DA USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL

A origem da palavra usucapião conforme cita os estudos de


Schvambach (2013, p.13) provém do “latim ‘usucapio’ do verbo ‘capio’ ou
ainda, ‘capis, cepi, captum, capere, e usus, uso’ que significa tomar pelo uso,
tomar alguma coisa por seu uso”. Originalmente a autora explica que “a palavra
usus significava a posse (possessio) e estabelecia a regra romana de que o
uso poderia fazer às vezes da posse- usus est pro possessione”.

Na doutrina, se encontrara os estudos de Modestino (apud Cordeiro,


2001, p.91), que preceitua a usucapião como sendo: “modo de adquirir a
propriedade pela posse continuada durante certo lapso de tempo, com os
requisitos estabelecidos na lei”.
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Já no entendimento de Salles (1999, p.36), a usucapião seria “a


aquisição do domínio ou de um direito real sobre coisa alheia, mediante posse
mansa e pacífica, durante o tempo estabelecido em lei”. O Novo Código de
Processo Civil gerou alterações no método de usucapião. Ao inserir o artigo
2016-A inovou a ação de usucapião e dessa forma se origina o instituto da
usucapião extrajudicial.

Este processo ocorre com a cumplicidade do Tabelião de Notas e do


Registrador de Imóveis e eximiu a precisão de reconhecimento da propriedade
por parte do Judiciário e para Modaneze (2015, p. 19) “o reconhecimento
extrajudicial da usucapião será realizado perante o Registrador de Imóveis com
apresentação de documentos e Ata Notarial lavrada pelo Tabelião de Notas” e
acresce que:

O fato de os Tabeliães e Registradores serem profissionais do direito,


prestarem o serviço por delegação do Poder Público (a maioria
aprovada em Concurso Público de Provas e Títulos) e vinculados ao
Poder Judiciário (que normatiza o modo e procedimentos para a
atividade), de forma célere, eficiente, correta e segura, contribui para
essa nova atribuição

O procedimento extrajudicial de usucapião como profere Pimentel


(2019, p. 26) “foi previsto primeiro na lei nº 11.977 de 7 de julho de 2009 e
sofreu modificações pela lei nº 12.424 de 16 de junho de 2011, mas tratava-se
de um procedimento complexo repleto de requisitos”.

Com a normatização do novo Código de Processo Civil de 2015,


promoveu-se uma melhor aplicabilidade da usucapião extrajudicial uma vez
que o Tabelião de Notas lavra a Ata Notorial e com isso possibilita a
importância da usucapião.

A via extrajudicial na concepção de Modaneze (2015, p. 21) “será


facultativa: o requerente poderá propor a ação judicial ou realizar
extrajudicialmente o reconhecimento da usucapião” e a autora ainda refere
que:

Suspende-se a ação e aguarda o desfecho do procedimento


administrativo. Se o Registrador não acolher o pedido, retorna-se à
ação judicial - por essa razão aconselhamos a - suspensão’ e não a
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extinção do processo judicial. Quanto a competência destacamos que


o Tabelião de Notas, segundo a lei 8935/94, é de livre escolha das
partes. Entretanto na usucapião administrativa temos uma exceção:
somente o Tabelião da Comarca do Imóvel usucapiendo é quem
poderá lavrar a ata notarial, pois muitas vezes irá constatar
fisicamente o imóvel e somente poderá fazê-lo se situado em sua
área de atribuição. Quanto ao Registro de Imóvel o procedimento de
reconhecimento será processado diretamente perante o Registrador
com competência sobre o imóvel.

A obtenção de bem imóvel pela usucapião extrajudicial pode ocorrer


independente do imóvel estar com matrícula bloqueada, indisponível ou
hipotecado. Imperioso referir que as condições para

É necessário esclarecer que os requisitos para o estabelecimento da


usucapião extrajudicial possibilitam que a totalidade do procedimento seja
efetuado administrativamente. Segundo Albuquerque Junior (2019, p. 134) o
interessado, devidamente constituído por um advogado apresenta registro de
documentos “como a ata notarial que é lavrada pelo tabelião atestando o tempo
de posse, devendo ser atestado o tempo de posse tanto do requerente quanto
de seus antecessores”.

Ainda de acordo com Albuquerque Junior (2019, p. 134), se faz


necessário igualmente “a planta e o memorial descritivo com assinatura do
profissional habilitado e também dos titulares de direito real e de outros direitos
registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e dos imóveis
confinantes” e ainda acresce que?

Faz-se necessário ainda, que o interessado faça a apresentação das


certidões negativas de distribuidores da comarca em que se localiza o
imóvel e do domicílio do requerente; deve haver ainda a
apresentação do justo título ou outros documentos para demonstrar a
origem do imóvel, a continuidade, a natureza e o tempo de posse, tais
como pagamento de impostos e taxas incidentes sobre o imóvel.

A priori, o processo da usucapião extrajudicial necessita ser utilizado


por meio do que preconiza o artigo 216-A da Lei de Registros Públicos e em
consonância ao que propõe o artigo 1071 do Código de Processo Civil de
2015.
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A USUCAPIÃO E A LEI NÚMERO 13.465/2017

A presente Lei 13.465, datada de 11 de julho de 2017, traz


modificações expressivas para os institutos reais, relacionados à propriedade
plena ou limitados. A referida Lei na concepção de Tartuce (2018, p. 5)
“instituiu mecanismos visando à Regularização Fundiária Urbana (REURB),
para uma melhor distribuição das propriedades nas cidades” e ainda adenda
que “também foram incluídas ferramentas para a Regularização Fundiária
Rural, que não serão analisadas neste trabalho”.

Quanto à REURB, estabelece o art. 9º da nova norma que ficam


instituídas no território nacional normas gerais e procedimentos
aplicáveis a essa forma de regularização, que abrange medidas
jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais, destinadas à
incorporação dos núcleos urbanos informais ao ordenamento
territorial urbano e à titulação de seus ocupantes. Um dos objetivos
da nova política, como se percebe, é justamente de regularização de
áreas favelizadas, conclusão claramente retirada da leitura desse
comando. (TARTUCE, 2018, p. 8).

Com a normatização da Lei 13.465/2017, ocorrem diversas


modificações na Lei e Tartuce (2019, p. 3) refere que “suas principais
inovações ou modificações” se encontram devidamente mencionados no
quadro abaixo.

a) introdução do direito real de laje no rol do art. 1.225 do Código


Civil;

b) regulamentação do direito real de laje entre os arts. 1.510-A a


1.510-E da codificação material e também na Lei de Registros
Públicos (Lei 6.015/1973);

c) alteração dos requisitos para a usucapião urbana coletiva,


tratada pelo Estatuto da Cidade;
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d) modificações no tratamento da usucapião extrajudicial ou


administrativa, tornando-a possível juridicamente e sanando
algumas dúvidas (alterações no art. 216-A da Lei de Registros
Públicos, incluído pelo CPC/2015);

e) introdução de novas modalidades de condomínio: o condomínio


de lotes e o condomínio urbano simples;

f) regulamentação do sistema de arrecadação de bens vagos, para


os casos de abandono (o art. 1.276 do Código Civil);

g) revogação de todo o capítulo da Lei Minha Casa, Minha Vida (Lei


11.977/2009) relativo à regularização fundiária, alterando
substancialmente a legitimação da posse e a usucapião
extrajudicial dela decorrente;

h) alterações de procedimentos relativos à alienação fiduciária em


garantia de bens imóveis, facilitando o recebimento dos créditos;

i) modificações na Medida Provisória 2.220, que trata da concessão


especial de uso;

j) alterações da Lei 9.636/1998, que trata da alienação de bens


imóveis da União, facilitando a extinção da enfiteuse sobre terras
da Marinha, por meio da remição;

k) introdução de políticas para Regularização Fundiária Urbana


(REURB); e l) introdução do instituto da legitimação fundiária.

Quadro 1 – Modificações expressivas para os institutos reais.

Fonte: Tartuce (2019).

A Lei Federal nº 13.465/17 se constitui no instrumento normativo que


governa a regularização fundiária urbana e rural no Brasil. O artigo 15 desta Lei
conforme refere Nepomuceno (2019, p. 87) elenca sobre “os seguintes
institutos jurídicos sem prejuízo de outros que se afigurem adequados”:
10

legitimação fundiária e legitimação de posse;

usucapião;

desapropriação em favor dos possuidores e desapropriação por


interesse social;

arrecadação de bem vago;

consórcio imobiliário;

direito de preempção;

transferência do direito de construir;

requisição, em caso de perigo público iminente;

intervenção do poder público em parcelamento clandestino ou irregular;

a alienação de imóvel pela administração pública diretamente para seu


detentor;

concessão de uso especial para fins de moradia;

a concessão de direito real de uso;

a doação e a compra e venda.

Quadro 2 – Artigo 150 da Lei Federal nº 13.465/17.

Fonte: Nepomuceno (2019).

Por meio das proposituras acima elencadas é possível notar as


mudanças que norteiam a Usucapião a partir desta nova Lei. De suma
relevância citar que a Lei 13.465/2017 se origina a partir do surgimento da
Medida Provisória 759, de dezembro de 2016 e de acordo com Tartuce (2019,
p. 3) ambas, Lei e Medida Provisória possuem como meta a “regularização
fundiária urbana e agrária”.
11

Há no Brasil, desde seu descobrimento pelos portugueses, problemas


estruturais concernentes tanto quanto à distribuição de terra quanto de
domínio. Por assim o ser, com a redação da Lei 13.465/2017, conforme explica
Tartuce (2019, p. 3) ampliou-se expressivamente “o conteúdo da sua Medida
Provisória embrionária, o que motivou, entre outras razões, o ingresso de ação
direta de inconstitucionalidade, por parte do Ministério Público Federal, no
início de setembro de 2017 (ADI 5771)”.

Argumenta o MPF, de início, que “61 entidades ligadas à defesa do


ambiente convencidas de que a Lei 13.465/2017 causa ampla privatização de
terras públicas, florestas, águas e ilhas federais na Amazônia e na zona
costeira do Brasil”, solicitaram o ingresso da demanda.

LEI N. 14.010/20 (LEI DA PANDEMIA) PARA A USUCAPIÃO

O mundo amanhece em 2020 sobre uma nova ordem. Um vírus


devasta a humanidade. Seu nome, Coronavirus. Máscara, isolamento social,
inúmeros impedimentos, inclusive a aquisição de propriedades. De acordo com
Brasil (2020, p. 3) “no dia 3 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde editou
a Portaria GM/MS 188/2020 para declarar a Emergência em Saúde Pública e
Importância Nacional, conhecido pelas iniciais ESPIN”.

Para tanto, a Lei n. 14.010/20 é promulgada em caráter de Regime


Jurídico Emergencial e Transitório no âmbito jurídico do Direito Privado – RJET
na ocasião da pandemia do coronavírus (covid-19). Como refere Leite (2020, p.
4) “a Lei da Pandemia veio impactar as relações jurídicas de Direito Privado em
razão da Pandemia do Covid-19. Trata-se de lei emergencial e provisória que
vigerá até 30 de outubro de 2020” e acresce que:

Nosso Congresso Nacional edita o Decreto Legislativo 6, de 20 de


março de 2020 onde formalmente reconhece o estado de emergência
pública para flexibilizar as rígidas regras orçamentárias. Tais medidas
impactaram com rigor todas as relações de Direito Privado. Empresas
não pagaram seus fornecedores e seus empregados. Inquilinos
suspenderam pagamentos de aluguel e de taxas de condomínios e,
rezam para não serem despejados. Há ainda uma horda de milhões
de pessoas invisíveis que estão sem o pão nosso de cada dia.
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Depreende-se que o direito de propriedade sempre se constituiu como


direito fundamental assegurado na Constituição Federal e no tocante a
Usucapião, o artigo 10 da referida Lei delibera que:

Art. 10. Suspendem-se os prazos de aquisição para a propriedade


imobiliária ou mobiliária, nas diversas espécies de usucapião, a partir
da vigência desta Lei até 30 de outubro de 2020.

Assim sendo, torna-se tácito afirmar segundo Gagliano e Oliveira


(2020, p. 7) que, “se o sujeito exercia posse mansa e contínua, com justo título
e boa-fé (usucapião ordinária - ar. 1.242, CC), há 8 anos, tendo em vista a
superveniência da pandemia, o prazo de prescrição aquisitiva ficará suspenso”.
Isso, de acordo com os autores, “dentro da janela da vigência da nova Lei até
30 de outubro de 2020. Com o advento do termo final, o prazo voltará a correr,
devendo ser computado o lapso já transcorrido”.

Com relação ao Regime Jurídico Emergencial e Transitório, conforme


propõe Gama (2020, p. 4) o mesmo detem a finalidade de “estabelecer um
regime jurídico temporário para algumas relações jurídicas de direito privado
durante a pandemia”. Isso tudo de tal forma que “a data do reconhecimento do
estado de calamidade sanitária, em decorrência da crise epidêmica, é
fundamental para o atingimento dos propósitos da lei”.

Oportuno quando Gama (2020, p. 4) referencia que “quando da edição


do Decreto Legislativo nº 6/20, o RJET ainda estava em estágio embrionário,
não existindo como lei e, portanto, inapto à produção de qualquer efeito
jurídico”. O texto da Lei n° 14.010/20, em dispositivos distintos, discorre acerca
de determinadas relações ao longo da pandemia e se limita ao momento de
entrada em vigor do RJET.

Importante salientar que o artigo 1º da Lei nº 14.010/20 detem


expressivo papel uma vez que alguns dispositivos do Regime Jurídico
Emergencial e Transitório promulgam os acontecimentos oriundos da
pandemia e que foi proibido pelo Chefe do Poder Executivo. Assim, de acordo
com o art. 6º:
13

“As consequências decorrentes da pandemia do coronavírus (Covid-


19) nas execuções dos contratos, incluídas as previstas no art. 393
do Código Civil, não terão efeitos jurídicos retroativos”.

No Artigo 6º é possível depreender como pontua Gama (2020, p. 5)


que “a regulação dos efeitos transitórios remonta a uma data anterior à
vigência da própria Lei nº 14.010/2020, qual seja, o dia 20 de março de 2020”,
uma vez que alude “às conseqüências decorrentes da pandemia, e não a data
de entrada em vigor do próprio RJET que se deu, como visto, apenas em 12 de
junho de 2020”.

Dessa forma, como referem Gagliano e Oliveira (2020, p. 8) houve


impedimentos e suspensões dos “prazos prescricionais para se formular
pretensão em juízo, o que se explica pelas dificuldades de variada ordem
derivadas da pandemia” que incide até mesmo na rotina de trabalho dos
Tribunais. Nesse desiderato, ratifica-se a relevância de citar a ponderação de
Mazzei e Azevedo (2020, p. 5)

Ademais, há que se registrar a ausência do exercício da advocacia


privada no rol de atividades essenciais previstas nos decretos que
regulamentaram o § 8º da lei 13.979/202015, de modo que, a toda
evidência, a advocacia privada está sujeita às restrições de
quarentena e isolamento social eventualmente impostas pelo Poder
Público. Dessa forma, é possível afirmar que, a depender das
medidas impostas pelo Poder Público em determinada região, haverá,
sim, justo motivo que impedirá a parte e o advogado de distribuírem
ações judiciais antes do término do prazo prescricional.

Possivelmente seja necessário se aguardar por novas normativas


acerca da referida Lei 14.010/20, pois, todo processo ora vivificado em âmbito
mundial é absolutamente novo e antes não vivido.

CONCLUSAO

Na era contemporânea, cada vez mais se torna necessária à


compreensão a respeito de em que essencialmente consistem e com quais
finalidades são estabelecidos os princípios constitucionais bem como o exame
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das funções que lhes são atribuídas ou que deles se espera nos modernos
sistemas constitucionais.

Para que um Estado possa vir a ser reconhecido tal como um Estado
Constitucional de Direitos Humanos, não há vislumbre de que uma teoria que
se norteie nesse diapasão se mostre alvissareira quanto ao desenvolvimento e
efetividade dos Direitos Humanos, sobremodo quanto à busca da plenitude da
dignidade humana.

A Constituição brasileira traz como um dos seus alicerces, garantido a


qualquer cidadão, a Dignidade da Pessoa Humana, conforme dispõe o seu art.
1º, Inciso III. Não resta dúvida de que esse princípio é fundamental, tendo em
vista que se encontram nele o respeito ao próximo e a consideração essencial
para se viver em harmonia.

A usucapião extrajudicial se apresenta como um meio mais célere da


aquisição originaria de uma propriedade. Ainda que este Instituto se destine
unicamente a bens imóveis sujeitos a serem usucapidos, a Usucapião
Extrajudicial gerou a possibilidade de aliviar o judiciário, Concomitantemente
assegura direito a titularidade da propriedade àquele que vive em uma situação
fática.

Talvez seja necessário refletir se a Lei 13.465/2017 será capaz de


suplantar os problemas evidenciados com relação à regularização dos imóveis
urbanos no Brasil e ao mesmo tempo alcançar os seus fins sociais.
Possivelmente, exclusivamente o tempo e a prática responderão a estas
explanações. Faz-se necessário destacar que a omissão de Políticas Públicas
por parte do Poder Público incidirá no mesmo papel que as predecessoras.

No tocante ao delicado momento em que o Mundo é acometido pelo


vírus da Covid-19, o governo se vê impelido a publicar a Lei n. 14.010/20, que
institui o Regime Jurídico Emergencial de Direito Privado. Estabeleceram-se
múltiplos vetos em dispositivos de suma relevância do Projeto original, inclusive
no âmbito das relações contratuais.

A pandemia talvez conduza o mundo a refletir sobre os preceitos


iluministas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que previram um dia que
15

tanto a educação quanto suas instituições civilizariam o mundo, no entanto


vemos exatamente o oposto.

Tornaram-se reféns de seu lado mais sombrio, pois tais preceitos


assumiram uma ordem errada de prioridade, porque a liberdade sem a
igualdade e a fraternidade, traz o caos, o vazio, a desordem, e impede a
realização da igualdade e da fraternidade.

A ordem deveria ser – fraternidade, igualdade e liberdade. A


fraternidade entre as pessoas abre espaço para a igualdade e então a
humanidade está pronta para a conquista da verdadeira liberdade.

REFERENCIA BIBLIOGRAFICA

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