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Entendendo o Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade.

Muitas vezes, para descrever o comportamento de uma criança,


utilizamos expressões e adjetivos como “ligada no 220”, “tem um
bicho-carpinteiro”, “vivem no mundo da lua”, “não para quieta”,
“estabanada” ou “avoada”, entre outras.

Em alguns casos, esses são apenas traços da personalidade de


uma criança. Em outros, porém, eles podem ser sinais do TDAH.
Mas até que ponto isso pode ser considerado normal e quando é
um indício de algo mais sério?

O que é o TDAH?
TDAH é a sigla para Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade. Trata-se de um distúrbio neurobiológico que começa
a se manifestar ainda na infância e por vezes a partir dos 12 anos.
Como o nome sugere, é caracterizado pela falta de atenção,
hiperatividade e impulsividade.

Mesmo sendo um transtorno que já nasce com o sujeito, algumas


pessoas só identificam tais sintomas na fase adulta, quando o
transtorno já tem trazido inúmeros prejuízos por toda a vida, e já
está acometida por depressão e ansiedade.

O TDAH é mais comum entre crianças e adolescentes, afetando


entre 3 e 8% da população nesta faixa etária. Em aproximadamente
metade dos casos, o TDAH permanece durante toda a vida, ainda
que de forma mais branda, já que o sujeito vai mascarando os
comportamentos no decorrer da sua vida.

Embora seja reconhecido pela Organização Mundial da Saúde


(OMS), esse transtorno ainda é cercado de preconceitos. Isso
ocorre porque muitas pessoas acreditam que seja falta de educação
ou desinteresse proposital, o que não é o caso.

Causas do TDAH
Estudos indicam que fatores externos, tais como cultura,
comportamento dos pais, criação e educação das crianças, NÃO
são causas do TDAH.
A causa mais frequente do TDAH está relacionada à genética. Nos
portadores do transtorno, há uma alteração no funcionamento dos
neurotransmissores, responsáveis por transmitir as informações
entre os neurônios.

Desta forma, a conexão com a região frontal do cérebro, cuja


função é controlar comportamentos, atenção, memória e a
capacidade de organização e planejamento, fica prejudicada, dando
origem ao transtorno.

Estudos indicam que fatores ambientais e biológicos também


podem causar TDAH, como o consumo de nicotina e álcool
na gravidez, peso baixo ao nascer, e anormalidades cerebrais.

Sintomas de TDAH
Os principais sintomas de TDAH são desatenção, inquietação
motora, impulsividade e hiperatividade. Em geral, os meninos
tendem a apresentar maior impulsividade e hiperatividade do que as
meninas. Entretanto, a desatenção se manifesta igualmente em
ambos os sexos.

Nos adultos, o TDAH gera dificuldades no cotidiano, principalmente


no trabalho, devido a falhas na memória, inquietação e
instabilidade. Pode ainda dar origem a problemas associados, como
consumo excessivo de álcool e drogas, ansiedade, depressão,
síndrome do pânico dentre outros.

TDAH e o aprendizado
Normalmente, os primeiros sinais do TDAH são percebidos na
escola, quando raciocínio, concentração e memória passam a ser
mais exploradas no processo de aprendizagem e as crianças com o
transtorno podem apresentar notas baixas e problemas ao executar
atividades.

Vale salientar que ter o TDAH não significa ter um QI abaixo da


média.

Os sinais do TDAH que podem ser observados nos alunos por


dificuldade de concentração em períodos prolongados, erros
frequentes por falta de atenção, problemas de organização, perda
de objetos, agitação excessiva, não se manter sentado por muito
tempo, entre outros.
Além disso, crianças e adolescentes com o TDAH podem
apresentar dificuldades relacionadas à imposição de regras e
limites, o que causa problemas de comportamento e interação com
os colegas e professores. Além do mais, o TDAH não tratado pode
trazer como comorbidade o TOD que é o Transtorno Opositor
Desafiador.

Entretanto, é importante ressaltar que crianças com TDAH são tão


criativas e inteligentes quanto as demais. As dificuldades são
provocadas apenas pelo transtorno e, com o tratamento e método
de ensino adequados, o desempenho escolar tende a melhorar.

Diagnóstico de TDAH
Por apresentar sintomas tão variados e semelhantes aos de outros
transtornos, como autismo e dislexia, o diagnóstico de TDAH pode
ser complicado, e por isso é necessário que a avaliação seja feita
por um profissional preparado e atualizado no que diz respeito a tal
transtorno, e que tenha uma série de instrumentos de triagem os
quais ajudarão neste diagnóstico, o qual será validado pelo
profissional médico, que vai prescrever a medicação (caso
necessário) e produzir o laudo.

O psicopedagogo poderá fazer este processo de avaliação, o qual


necessitará de uma série de sessões (de 4 a 8 sessões em média),
onde será feita a anamnese, aplicação de testes, questionários e
triagens, além da avaliação observacional durante a utilização de
jogos específicos, assim como visita à instituição educacional para
coleta de dados, já que o TDAH tem como um dos critérios
diagnósticos que o comportamento ocorra em vários contextos.

Em geral, é possível identificar o TDAH quando a criança manifesta


sintomas de desatenção e hiperatividade por períodos superiores a
seis meses. Quanto a intensidade, o transtorno pode apresentar
grau leve, moderado ou grave, e isto é indicado por alguns dos
instrumentos utilizados pelo psicopedagogo como a escala ETDH II,
e ETDAH AD.

Já em relação aos tipos de sintomas que se manifestam, o TDAH


pode ser classificado em três tipos: hiperativo/impulsivo, desatento
ou combinado (quando o indivíduo apresenta sinais tanto de
hiperatividade/impulsividade quanto de desatenção).
Tratamento de TDAH
Apesar de não ter cura, é possível conviver com o transtorno,
proporcionando bem-estar e qualidade de vida para os pacientes.

O tratamento do TDAH consiste principalmente em apoio


multidisciplinar com profissionais como psicólogos especialistas em
TCC – Terapia Cognitivo Comportamental e psicopedagogo para
sanar as dificuldades de aprendizagem e desenvolver as funções
executivas.

Em alguns casos, o uso de medicamento é recomendado para


minimizar os sintomas de hiperatividade e impulsividade e ajudar na
atenção e concentração.

A terapia Cognitivo Comportamental associada a medicação e ao


neurofeedback tem trazido os melhores resultados para aqueles
que sofrem com o transtorno.

Hábitos simples também são imprescindíveis para o sucesso e


eficácia do tratamento, como praticar atividades físicas
regularmente e manter uma alimentação saudável, reduzindo o
consumo de açúcar e cafeína.

Importante frisar que ter os sintomas do TDAH não significa que


você tem tal transtorno. Pois é necessário que você preencha os
critérios diagnósticos de acordo com o DSM-V-TR (critérios A, B, C,
D e E), e os sintomas se referem apenas ao critério “A”.

Direitos no TDAH
A Lei nº 14.254, de 30 de novembro de 2021, dispõe sobre o
acompanhamento integral para educandos com dislexia ou
Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)
ou outro transtorno de aprendizagem. A lei visa garantir o direito
à educação inclusiva e de qualidade para esses alunos, bem como
o apoio pedagógico, psicológico e multidisciplinar adequado.
Infelizmente a lei não ficou muito clara e acaba por ter uma dúbia
interpretação em alguns dos seus artigos.
Observe:
Art. 1º O poder público deve desenvolver e manter programa de
acompanhamento integral para educandos com dislexia, Transtorno
do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outro
transtorno de aprendizagem.
Parágrafo único. O acompanhamento integral previsto
no caput deste artigo compreende a identificação precoce do
transtorno, o encaminhamento do educando para diagnóstico, o
apoio educacional na rede de ensino, bem como o apoio
terapêutico especializado na rede de saúde.
No Parágrafo único do artigo 1º, fala em “apoio educacional na
rede de ensino”. Contudo, isto não se refere a um profissional de
apoio em sala de aula. Se refere ao apoio do próprio professor
regente e escola em geral, no que diz respeito a adaptação
curricular, localização do aluno mais à frente na sala de aula, fazer
a prova em ambiente individual para evitar distração...
Vale salientar que o TDAH não é considerado uma deficiência, e
dessa forma a pessoa que tem tal transtorno não está acobertado
pela lei Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015, a qual institui a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência).
Sendo assim, o aluno com o TDAH não tem direito ao profissional
de apoio em sala.
O TDAH NÃO TE LIMITA!
Pessoas com tal transtorno comumente são comunicativas e
criativas, ou mesmo tem um “hiperfoco” em algum tema ou
conteúdo. Sendo assim, acabam por se destacar em trabalhos e
atividades ligadas ao seu hiperfoco. Contudo, é necessário o
diagnóstico e tratamento adequado para fins de evitar prejuízos e
comorbidades.
A medicação e a terapia cognitivo comportamental são
consideradas como o tratamento mais adequado, e deve iniciar já
na infância.

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