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Índice

Sinopse:
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Epílogo
COMPRADA PELO CEO
COMPRADA PELO CEO
A PROSTITUTA VIRGEM

JOSIANE VEIGA
1ª Edição
2022
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra
pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios
(eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou
arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
autorização escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são


produto da imaginação. Qualquer semelhança com nomes,
pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser considerado
mera coincidência.

Título:
COMPRADA PELO CEO
Romance
ISBN – 9798773746393
Texto Copyright © 2022 por Josiane Biancon da Veiga
Sinopse:
"Para salvar sua mãe, você terá que ser uma prostituta..."

Foi assim que tudo começou. Quando meu pai apareceu no hospital
que eu trabalhava e me informou que Gael Mello queria me comprar,
eu fiquei enojada. Contudo, só havia um jeito de minha mãe receber
seu tratamento de saúde num hospital particular: aceitar a proposta
de Gael.

Ele me ofereceu o título de esposa. Mas, era só um nome. Eu seria


sua puta. Ele me usaria por dois anos do jeito que quisesse, e eu
teria que aceitar.

Porém, com a convivência, descobri que havia mais em Gael do que


eu supunha. Ele não apenas me deixava em êxtase na cama. Era
também sincero, franco e protetor. O que me fez questionar o que
mais esse homem escondia.
E o quanto eu estava disposta a desvendar seus mistérios.
1

O cheiro de alvejante me deixou um pouco tonta. Observei ao redor


e vi minha colega Maria espirrando com o cheiro forte que invadia
nossas narinas.
— O que é pior, Celina? — ela questionou, me fazendo arquear
as sobrancelhas. — Limpar o vômito dos pacientes ou limpar os
banheiros do hospital?
Dei os ombros porque não sabia direito o que responder.
Aproximei-me do espelho enorme que ficava na parede e
esguichei nele limpa-vidros. Depois, com a esponja comecei a
esfregar para tirar as manchas. Quando terminasse isso, teria que
limpar os vasos sanitários, a pior parte da manhã.
E ainda assim, não a pior parte da minha vida.
Eu podia ter outra vida. Meus irmãos tinham. Um era advogado,
outro era engenheiro. Ambos moravam no topo do país, em casas
enormes perto das lindas praias do nordeste. Ambos tinham vidas
estruturadas, lindas esposas e filhos... Ambos haviam cortado de sua
vida uma parte horrível...
A parte de quem nos gerou.
Mas, eu não tinha tanta força. Eu ouvi de minha mãe tantas
vezes que eu era uma burra, que acreditei nisso. Precisei desistir dos
estudos no segundo grau porque simplesmente não conseguia
aprovar em nenhum vestibular.
“Não me surpreende. É uma estúpida”, disse minha mãe para
meu pai, que concordou.
Até os vinte anos, eu era tão afogada em culpa e complexos
por ser feia, burra e gorda, que rastejava atrás dos meus pais,
implorando por qualquer sinal de aprovação. Eles nunca me deram
nenhum. Crescer num ambiente no qual você é só parte de status
para a sociedade, sem qualquer valor aquém, derruba qualquer um.
Meus pais tiveram filhos porque ter filhos fazia parte da vida de
um contador importante e de uma esposa que gostava de eventos
sociais. Minha mãe nunca cuidou de mim ou dos meus irmãos.
Crescemos com babás que acabavam sendo dispensadas de
tempos em tempos para que “as crianças não se apegassem
demais”.
No meu aniversário de vinte anos, minha mãe me encarou nos
olhos e, ao invés de me felicitar, disse:
“Eu tenho tanta vergonha de você. Todas as filhas das minhas
amigas já estão na faculdade ou namorando alguém importante, mas
você só passa os dias trancada no quarto, comendo e dormindo...
Você é tão inútil”.
Eu engoli o choro naquele dia. Comemos um bolo de
aniversário, e depois que fui para o quarto, me afoguei em lágrimas.
Foi quando eu decidi me mudar. Meus irmãos já estavam longe e
nunca entravam em contato, então não tinha como pedir ajuda – até
porque não tínhamos apego um ao outro, e não sei se eles me
ajudariam.
Peguei meu celular e busquei um trabalho. Com meu pouco
estudo, o que pagava melhor era de faxineira no hospital da cidade.
Mandei um curriculum por e-mail. Fui chamada para uma entrevista,
e aprovada em dois dias.
Depois disso, vendi meu celular para pagar o primeiro aluguel
de uma quitinete. No final de semana após meu aniversário, eu me
mudei.
E, desde então, eu trabalhava com afinco, sabendo que limpar
sujeira era a única coisa que restava a uma burra como eu.
— Então, Celina... Sabe o Henrique? — Maria comentou. Sua
voz ecoava pelo banheiro enorme. Ela estava num dos sanitários, e
eu não podia vê-la, mas sabia que estava sorrindo. — Ele perguntou
de você...
— Perguntou? — indaguei.
Era estranho que qualquer homem perguntasse sobre mim. Eu
era acima do peso, e minha mãe dizia que homem nenhum iria me
querer. Porque além de burra, eu era feia.
— Eu disse que você não tem namorado. Não menti, não é?
— Não...
— Então... Acho que ele vai te convidar para sair.
— Por quê?
Por que diabos alguém me convidaria para sair?
— Como “por quê?”, Celina? Ele está a fim de você.
Outro “por quê?” dançou em meus lábios, mas eu não o disse.
A porta do banheiro se abriu, e Geisa, nossa supervisora, surgiu
respirando fundo e rápido. Sua postura denotava que ela havia
usado as escadas para ir até nosso setor. Ela costumava ser muito
animada, mas dessa vez estava séria.
— Celina, estão te chamando na sala de enfermagem.
— Algum paciente vomitou de novo? — Maria indagou.
— Não... Tem um homem lá...
Um homem?
Limpei as mãos do sabão na minha roupa, e caminhei até a
porta.
— Tem certeza de que é comigo?
— Absoluta — Geisa afirmou e eu volvi, encarando Maria, que
surgiu na porta do sanitário com olhos surpresos.
Todos os meus colegas sabiam que eu não tinha amigos ou
namorados. Homens não costumavam me ver.
Segui Geisa, até metade do caminho. Depois ela me deixou ir
sozinha. Entrei na sala de enfermagem e entrei. O local estava vazio,
não fosse a presença de um homem alto, usando um terno caro, e
com olhar assombrado.
— Oh... Celina...
Minha respiração ficou presa.
Edgar Becker estava parado no corredor.
Senti um nó na garganta porque fazia muito tempo que eu não
o via. E ele não havia mudado nada nesses quatro anos que se
passaram desde que deixei sua casa.
Seus cabelos eram claros, denotando sua origem alemã. Ele
tinha olhos verdes intensos, e uma barba rasa que lhe dava um
charme inegável.
— Pai... — cumprimentei.
— Celina — ele repetiu, sorrindo, o que era raro, vindo dele.
Meu pai trabalhava muito. Ele era contador de muitos homens
importantes. Eu pouco o vi desde minha infância. Ele costumava sair
de casa antes de eu acordar, e não voltava até eu estar na cama.
Nos finais de semana, mamãe e ele iam ao clube ter um tempo para
eles, e nos feriados, ele me pedia para deixá-lo em paz porque
precisava descansar.
Era estranho eu ter nascido dele, eu ter seu sangue, seu DNA,
mas ainda assim, sentir como se fosse um desconhecido.
— Você emagreceu! — ele parecia surpreso.
— Sim, provavelmente...
Eu trabalhava em dois turnos, e não tinha muito tempo para
comer. O exercício braçal e meu tempo escasso acabou diminuindo
meu manequim. Eu ainda era sobrepeso, mas não mais obesa. A
médica que eu costumava visitar para controlar a depressão me
disse que se eu perdesse mais dez quilos, estaria com peso normal.
— Como você está, querida? — ele questionou, buscando uma
cadeira, e estendendo a mão para que eu me sentasse a sua frente.
Eu encarei a cadeira, uma parte de mim implorando para que
eu fugisse. Algo não estava certo, ali. Meu pai nunca me chamou de
querida, tampouco pensou em ir me ver nesses anos todos que sai
de sua casa.
— Celina?
— O que o senhor deseja? — fui direta. — Estou no meio de
um trabalho.
— Limpando o chão, Celina? Ah, sonhei com tantas coisas
para você...
— Coisas?
— Você sempre foi minha princesinha.
Mentira... Mentira...
— Eu sonhava em vê-la casada com algum homem importante.
Sonhava em vê-la nas colunas sociais. Ou talvez você pudesse ter
estudado... Uma médica, quem sabe? Ah, uma pena que você não
nasceu para os estudos.
Lágrimas se formaram nos meus olhos, mas pisquei
rapidamente para espantá-las.
— O que o senhor precisa falar comigo? — exigi.
Minha psicóloga disse que eu precisava ser forte para superar
uma infância com pais narcisistas. Aprender a me impor era uma das
tarefas que ela me deu. Mas, para mim era mais fácil tomar os
remédios do que assumir as rédeas da minha vida.
Eu usava medicação para levantar-me de manhã e ir trabalhar.
Usava para as crises de pânico durante o dia. Usava remédios para
dormir a noite. Eu vivia dopada, e isso parecia amenizar a dor que
nunca amenizava.
A imagem da minha mãe surgiu na minha mente.
Cláudia...
Deus... Eu teria dado tudo... tudo... apenas pela aprovação
dela. Por uma única palavra de carinho... Só por um momento...
— Celina, preciso falar com você... Algo muito sério aconteceu.
Sim, só algo muito sério o faria vir me ver.
— Algo sério? — eu me sentia uma idiota por ficar repetindo
tudo que ele dizia.
— Sim... Sua mãe... Ela... — ele engoliu as palavras, deixando-
me em expectativa. — Sua mãe precisa muito de você.
Minha mãe precisa de mim?
Era impossível não sentir uma profunda emoção transbordando
em meu peito. A criança rejeitada que nunca me deixou pareceu
exultante. Minha mãe me queria? Ela... ela me amava?
— O que aconteceu?
— É uma longa história. Vamos tomar um café na lanchonete
do hospital?
Eu quis negar, mas a expressão em seu rosto me fez
concordar.
—Mas, o que aconteceu? — estava nervosa, enquanto
caminhávamos pelo corredor.
— Para resumir? Um homem te quer, Celina... E isso pode
salvar a vida de sua mãe.
Eu travei, meus passos interrompidos enquanto minha boca se
abria, e meu olhar focava na figura alta e forte do meu pai.
— O quê... O que disse?
— Estou arruinado, Celina. Falido.
— E... O que isso tem a ver com a vida de mamãe? E com um
homem... Que homem...? Do que o senhor está falando?
— Você é minha princesinha, Celina, e eu sempre sonhei em
vê-la como uma médica ou advogada. Mas, para salvar sua mãe,
terá que ser uma prostituta...
2

“Prostituta...”
Uma mancha escura cercou meu olhar, a concentração dificultando
minha mente. Palavras confusas bailavam pelo meu cérebro com
uma força que quase me tirava o equilíbrio.
“Eu acabei caindo em tentação...”
— O senhor... o senhor deu um golpe nos seus clientes? —
indaguei, pasma com a facilidade de sua confissão.
— Era muito tentador, Celina... Eles... eles não olhavam os
balanços das finanças... Era tão fácil criar impostos e despesas a
serem pagas. De todos eu tirei um pouco, o suficiente para que não
percebessem a diferença da conta bancária. Mas, com o maldito
Gael Mello... Ele é tão rico, bilionário... são milhões e milhões de
dólares, como eu iria saber que ele iria perceber um desvio
pequeno...
— Pequeno quanto?
— Três milhões...
Meu Deus!
— Como assim, pai? É claro que uma pessoa perceberia um
desvio desses...
— Celina, isso não é nem dez por cento dos impostos que ele
paga — meu pai se defendeu. — Mas, o desgraçado descobriu. E
agora... Ele pode me colocar na cadeia.
— O senhor devolveu o valor?
Meu pai me encarou. Nós estávamos sentados frente a frente,
e isso pareceu intimidá-lo. Perto de nós, médicos conversavam
animadamente, e uma familiar de paciente bebia café com o olhar
perdido.
Meu pai olhou para a xícara em suas mãos. O café barato não
parecia agradável ao seu paladar, mas ele não reclamou.
— Celina, eu não tenho mais o dinheiro.
— Como não tem? Onde o senhor enfiou milhões...
— É uma longa história.
— Longa história? O senhor me pede para ser uma prostituta e
não quer explicar.
— Precisa fazer isso, Celina. Ou Gael vai me colocar na
cadeia. Ele tem provas.
Era justo que Gael Mello o denunciasse. Meu pai roubou. Ainda
assim, eu senti um peso caindo em mim.
— Sua mãe... eu gastei quase tudo com o tratamento dela.
Você sabe que Cláudia jamais aceitaria se tratar com saúde pública.
Então, eu usei o dinheiro...
— Se tratar? O que está acontecendo?
— Sua mãe está com falência renal.
Oh Deus...
Eu lembro de minha mãe reclamar da pressão alta, do
inchaço... das dores nas costas. Ela costumava se queixar, mas
nunca ia ao médico, porque estava sempre ocupada com outra
coisa.
— E o plano de saúde?
— O cancelei a anos, porque nunca usavámos. E agora... Sua
mãe está fazendo hemodiálise enquanto aguarda um transplante...
Enfim, Celina... Celina... Filha... — Acredito que fosse a primeira vez
que ele me chamou assim. — Só você pode salvá-la.
Lágrimas encheram meus olhos. Eu sempre fui a filha inútil e
estúpida, que tentei de todas as maneiras receber um pingo de amor
de minha mãe... Será que agora, nessa situação, ela me daria seu
amor?
— Meu Deus — eu murmurei.
— Gael disse que ele perdoaria a dívida e custearia o restante
do tratamento, se eu a desse para ele... — Meu pai contou, de
súbito, me fazendo arquear as sobrancelhas.
Busquei em minha mente a imagem do cliente de meu pai.
Gael Mello costumava visitar minha casa quando eu tinha parca
idade. Ele sempre estava impecavelmente vestido com terno escuro
e seus cabelos negros como a noite eram costumeiramente
penteados para trás.
Fiquei em silêncio enquanto minhas lembranças me tomavam.
Gael falou comigo uma vez, não? Ele tinha em torno de
quarenta anos, na época. Seus olhos eram tão negros e misteriosos,
pareciam ler cada detalhe em mim. Recordo-me de ter me afundado
no sofá quando minha mãe chegou até nós e cravou o olhar no prato
que eu segurava.
“Você nem devia estar comendo”, ela apontou. Depois, volveu
para Gael. “É tão triste ter uma filha que não sabe se controlar. Está
enorme, mas ainda assim, só come e come”, ela sorriu, sedutora, e
Gael pareceu surpreso.
Eu não lembro o que aconteceu depois disso, mas Gael não
voltou novamente para minha casa.
— Esse homem... Gael... Quando ele me conheceu, eu era
uma adolescente gorda e... — A palavra “desleixada” dançou em
minha língua, mas eu não disse. — Por que ele iria me querer? E,
como pode garantir que depois de dormir comigo, ele não iria
denunciar o senhor?
— Gael me deu um contrato. Um contrato com prazo. Por dois
anos, você deve morar na casa dele, e estar sempre a sua
disposição. Depois disso, será recompensada com dinheiro. Oh
Deus — ele afundou o rosto entre as mãos. — Estou tão
envergonhado por lhe dizer isso... Mas, que escolha eu tenho? Além
disso, Celina... Seria sua chance de conseguir um dinheiro... Você
não tem futuro, sabe disso... Nunca serviu para os estudos, e apesar
de ter emagrecido, não é bonita.
Tudo isso era tão repugnante.
Eu tentei esconder as lágrimas, enquanto pensava nessa
proposta ridícula, contrastando o desespero nítido nos olhos de meu
pai.
— Celina, se você não aceitar... Eu serei preso e sua mãe irá
morrer. Tem ideia do que é isso...? Você pode viver com isso?
3

Levei cinco dias para decidir. Minha primeira escolha era um sonoro
não. Foi imediato, e nos três dias que se seguiram, eu tentei conviver
com ela. A ideia de meu pai preso e de minha mãe morta pela falta
de tratamento adequado inundou minha mente e eu me vi em
completo surto, que nenhum dos antidepressivos que eu usava,
conseguia acalmar.
No quarto dia, busquei por Gael Mello no Google. Com meu
celular de segunda-mão que costumava travar o tempo todo, eu vi
sua imagem resplandecer num site de notícias.
Ele era tão rico... E só andava com mulheres famosas e
perfeitas...
Sua última namorada foi protagonista da novela das oito. Havia
muitas fotos deles em paraísos caros e privilegiados. O que um
homem desses iria querer com alguém como eu?
No quinto dia eu me convenci que meu pai havia entendido
tudo errado e decidi ir até o escritório da Mello Empreendimentos
para ouvir da própria boca de Gael sobre seus planos comigo.
Eu peguei duas conduções até chegar à avenida em que seu
arranha-céu se sobressaia.
Entrei no prédio e informei meu nome na portaria. Eu não sabia
se me deixariam entrar, mas fui imediatamente conduzida até um
elevador privativo.
Deus... Todo esse lugar era incrível. Quase inacreditável. O
interior era extremamente moderno com máquinas e computadores
tomando tudo, ângulos projetados para que cada canto fosse bem
iluminado. Os móveis caros de linhas finas destacavam-se com
paredes de designer rústico. Era um mundo de contrastes, e o maior
deles estaria me esperando no último andar.
Eu me lembro de Gael...
Vagamente...
Ele era um homem bonito. Pelas fotos que vi agora, ele
permanecia um homem bonito, apenas um rastro de fios prateados
havia adornado a lateral da sua cabeça. Seu queixo era quadrado, e
seus olhos eram profundos. O tempo costumava ser bondoso com os
homens...
Bom, nem com todos...
A porta do elevador se abriu e eu entrei numa enorme sala. A
lateral dessa sala era de um vidro escuro que iluminava o suficiente
para eu perceber os detalhes em ouro e mármore das esculturas
gregas que pareciam recepcionar a quem saia do elevador.
Dei dois passos para frente e travei. Minha garganta apertou
como se duas mãos estivessem prestes a me asfixiar. Não era o
momento... Não devia estar aqui... Mas, estava. Parada na sala,
encarando aquele ambiente enorme como se ele fosse a boca de um
monstro prestes a me engolir.
Ouvi passos. Temerosamente, me virei na direção de um
homem que estava sentado num sofá de couro preto. Ele se
levantou, e estendeu a mão para mim. Não era Gael, ou se fosse,
havia mudado muito.
— Bom dia. Então você é Celina?
— Sim...
— Ouvi falar muito de você — seu sorriso era muito acolhedor.
— Eu me chamo Ivan e sou o assistente pessoal do presidente da
Mello. Vou deixá-los a sós, mas você pode me chamar sempre que
necessitar.
Ele pousou um cartão na minha mão. Ivan Bastos. E seu
número de celular estava abaixo. O que eu devia fazer com isso?
Simplesmente guardei o cartão na minha bolsa enquanto ele se
afastava e descia por outro elevador que ficava do outro lado
daquele que eu havia usado.
Respirei fundo, meus olhos observando a sala, buscando por
aquele a quem vim conversar. Subitamente, a cadeira presidenciável
se mexeu e ele a girou, ficando de frente para mim.
Ali estava.
Gael Mello.
Ele parecia ainda mais imponente com a cidade às suas
costas, outros prédios abaixo dele, como se ele estivesse acima de
tudo e todos.
— Celina — ele me cumprimentou com saudosismo, como se
fôssemos amigos e simplesmente havia anos que nós não tínhamos
nos vistos. — Seu pai havia me dito que você estava na Europa,
fazendo intercambio. Depois me disse que você havia conhecido um
executivo importante, estava namorando, e que não tinha pretensão
de voltar.
O quê?
Eu não sabia exatamente o que responder. Pensamentos
girando rápido na minha mente. Europa? Namorando? Ele havia
perguntado de mim? Por quê?
Ele se ergueu. Era alto. Eu quase não me lembrava disso. Pior,
ele parecia maior que seu próprio tamanho. Era mais que seus
músculos rigidamente forçando o terno caro. Era sua imponência que
me causava temor.
— Eu... Eu nunca estive na Europa...
— Eu sei... Eu descobri isso...
Ele se afastou da sua mesa. Por instinto, eu recuei, o que o fez
travar.
— Senhor Mello...
— Pode me chamar de Gael...
Eu não iria chamá-lo de Gael! Era íntimo demais, e eu estava
apavorada com qualquer menção de intimidade.
— Meu pai... Ele me procurou para falar sobre... Eu acho que
não entendi muito bem...
— Você entendeu bem, sim.
Eu estava quase desmaiando. Era gelo e fogo invadindo minha
garganta. Mal conseguia manter meus olhos nele, mas seu olhar me
queimava, sem desviar um único segundo. Era assustador.
Magnético. Primitivo.
Como se fosse...
Sexual...
Vagamente, desejei estar sentada. Sua voz era como ... algo
realmente pecaminoso. Profundo.
Eu senti minhas vistas escurecerem, não sabia se era pela falta
de comida – eu não havia conseguido tomar café da manhã por puro
nervosismo. Eu também não havia jantado por puro nervosismo – ou
se era o olhar profundo que parecia me fazer afundar em mar ou
lama.
— Meu pai deu a entender que o senhor iria querer... Que eu
fosse... Uma prostituta. Eu realmente... eu realmente não sei o que
dizer...
Eu devia gritar com ele. Dizer que vadia era a mãe dele! Mas,
tudo que eu conseguia pensar era na minha própria mãe fazendo
hemodiálise.
— Eu sei. Fui rude. Mas, conversei com meu advogado, e
podemos fazer um contrato de união estável. Não é preciso que
pense que estará se vendendo...
— Eu estarei me vendendo... — prevaleci
— Bom, Celina... Posso garantir que será a mais cara das
mulheres, porque seu pai já me tirou milhões e ainda assim eu irei
lhe providenciar mais dinheiro para o tratamento de sua mãe... Além
de uma garantia polpuda para você depois de dois anos.
Gael se aproximou. Eu quis recuar, mas estava quase me
encostando na porta do elevador. Então apenas permiti que ele
pairasse sobre mim como uma águia observando seu alimento.
— Por quê? — indaguei.
— Por que o quê?
— Por que eu?
— Por que não você?
Meu coração acelerou. Meu sangue queimou e eu senti meu
rosto enrubescendo. O cheiro desse homem era uma mistura de
madeira e canela. Era tão masculino. Pensei nos romances de P.C.L
Vasconcellos, e Brayan me veio à mente. Quando eu lia ebooks no
celular, e imaginava os mocinhos apaixonantes das minhas autoras
favoritas, era assim que eu os via em minha mente.
Subitamente, ele ergueu a mão. Seu polegar tocou meu lábio
inferior, num carinho gentil. Minha respiração acelerou, e eu quase
desmaiei com aquele simples toque.
O que seria de mim... Se eu dormisse com esse homem?
— Você parece prestes a ter um colapso nervoso, Celina... Por
favor, sente-se...
Mas, eu não me mexi. Então sua mão deixou minha boca e
segurou meu braço. Ele me guiou até um sofá escuro, e depois me
ajudou a sentar-me lá. Só então percebi o quanto eu tremia. Com
certeza eu teria desmaiado aos seus pés segundos atrás.
— Quer um copo d´água?
— Por que está fazendo isso? — exigi.
Não queria água. Queria respostas.
— Eu quero cuidar de você, Celina. Não precisa se preocupar
com nada além disso...
— Me forçando a ser sua prostituta?
— Ou minha esposa, se isso ajuda mais. Não me importo com
o nome que dê.
Meus olhos cravaram nele.
— Como assim não se importa?
— Não vejo diferença. Prostituta ou esposa, tudo que me
importa é tê-la na minha cama.
Foi o suficiente para que enfim minhas vistas escurecessem e
tudo se perdesse na escuridão.
Oh, Deus... Não permita que eu acorde.
4

Senti o cheiro de álcool nas minhas narinas. Fui acordando aos


poucos, e então notei que nada daquilo era um pesadelo. Gael Mello
permanecia parado diante de mim, com olhar sexy e corpo
avantajado, parecendo preocupado pelo meu súbito desmaio.
— Que bom que acordou. Você já comeu algo hoje?
Sua pergunta me deu vontade de lhe desferir um tapa. Como
ele podia fingir que se preocupava comigo depois do que propunha?
Sentei-me ereta no mesmo lugar. Esfreguei as mãos na perna,
certificando-me de que minha saia estivesse lisa sobre mim, e não
houvesse se levantado em nenhum momento, que eu permanecesse
segura em minha postura e imagem.
Volvi meu olhar para Gael. Tentei lê-lo novamente, mas era
difícil. Ele era enigmático ou pragramático demais – eu não sabia -, e
nada em sua expressão denunciava suas verdadeiras intenções.
Porque... de verdade... Não havia como esse homem me
querer.
Qual era a piada aqui?
Ele inclinou a cabeça. Seus olhos ficaram nublados e algo
despontou em mim.
Medo? Aflição?
Ou algo que me fazia palpitar em lugares que nunca antes
foram despertados?
Gael me deixa desconfortável pelas sensações poderosas que
me avassala. Talvez seja pela menção de que ele me quer. Nunca
ninguém antes me quis.
Um sorriso aparece em seu rosto. Ele era tão misterioso. O que
desejava? O que queria de verdade?
— Então... Você não me respondeu. Vai aceitar meu acordo?
— Eu tenho escolha?
— Claro que tem escolha. O que não está em suas mãos são a
consequência de tais escolhas. Seu pai preso e sua mãe sofrendo
sem um tratamento adequado... Bom, seu velho merece, e sua
mãe... Ela pode se tratar com o SUS. Dizem que o serviço deles é
tão bom... Será que ela terá tempo de esperar uma consulta através
do sistema público?
Novamente o pânico me tomou. Mais uma vez eu senti as
vistas escurecerem, mas agora Gael estava pronto, e ele me
segurou perto de um pano embebido em álcool. O calor da sua
proximidade irradiou através de mim. Ergui meus olhos e o observei.
Deus... Ele era lindo...
Lindo demais...
Não tinha como isso estar certo. Não tinha como esse homem
desejar uma mulher comum e sem sal como eu.
— Me responda... Por quê? Por que eu? É somente uma
vingança contra meu pai?
Ele riu. Seu hálito de cravo me tocou e mais uma vez um calor
potente me tomou. Nunca estive assim tão perto de um homem.
— Eu não colocaria meu pau numa mulher só por vingança,
querida.
Querida...
— Eu te quero desde que a vi pela primeira vez — ele
confessou.
Franzi a testa.
— Nunca vou acreditar que o homem que, na época, estava
acompanhado de uma supermodelo iria olhar para a garota
desengonçada que tinha mais de cem quilos.
Ele riu novamente. Era... gostoso ouvir sua risada.
— O que eu posso dizer? Eu gosto de carne.
Eu me senti um objeto desfrutável nesse instante. Meus
costumeiros ataques de pânico pareciam prestes a me tomar
novamente. Eu precisava do meu remédio, uma dose de reforço para
essa manhã horrível.
Subitamente senti novamente seu toque. Seus dedos correram
pela minha face, e então se enroscaram nos meus cabelos. Ele
segurou a minha face com força, e me estudou por alguns segundos.
Imaginei se ele iria me beijar, uma parte de mim queria que ele
beijasse, mas ele simplesmente me deixou e então se afastou em
direção a própria mesa.
Do lado oposto da sala, observou uma papelada sobre a mesa
enorme.
— É um contrato. Seu pai livre, sua mãe tratada, e você terá
dinheiro quando terminar. Muito dinheiro. E talvez até um pouco mais
de autoestima, já que se valoriza tão pouco.
Sua frase me chocou.
— Autoestima me prostituindo?
— Você prefere um casamento? Já disse que se a ajuda...
— Que homem bondoso você é — ridicularizei.
Gael cruzou a distância entre nós novamente. Foi tão rápido
que eu soltei um grito assustado quando ele me segurou com força e
me puxou contra ele, enterrando seu rosto na curva do meu pescoço,
seu toque me fazendo pegar fogo.
Ele era bruto. Mas, não violento.
— Seu cheiro é tão bom — murmurou. — Eu sou muito
bondoso sim — confirmou, apenas para completar: — por não fodê-
la nesse momento, enquanto está tão indefesa...
O empurrei com todas as minhas forças. Consegui escapar em
direção a sua mesa. Parei perto do móvel, recuperando o fôlego. Ele
não me seguiu, apenas permaneceu ereto, como se estivesse no
controle de tudo.
— Qual é a pegadinha? — exigi.
— Pegadinha?
— Você pode conseguir qualquer mulher. Por que eu? Não vou
aceitar nada sem que responda!
Ele riu. Qual era a graça?
— Ah, meu bem... Só o fato de que está aqui explana o quanto
está desesperada para proteger seus pais. Você vai aceitar, não tem
escolha.
Ele se aproximou novamente e eu recuei até sua mesa. Senti a
madeira tocando minhas pernas e logo eu estava sentada na mesa,
ele sobre mim, tão firme que me fez fraquejar. Então Gael estendeu
a mão, correndo um dedo sobre minha face, garganta, baixando
mais, resvalando entre o vale dos meus seios.
— Não vai ser de todo ruim. Porque eu nem a toquei de
verdade ainda e você já me deseja. Apenas é inexperiente demais
para saber isso.
Isso seria verdade? Eu sei que estava quente e aquecida...
Mas? Querê-lo? Isso era repugnante, especialmente por ele estar
usando meus pais para me comprar.
— Eu não quero você — prevaleci, mas senti que era falso.
Seu dedo deixou o vale e subiu o monte do meu seio direito,
encontrando meu mamilo duro. Ele o pegou e o apertou e eu soltei
um gemido de dor e tesão.
Tesão?
Que droga é essa?
— Ah,vai ser tão divertido fazê-la gritar de prazer...
— Nunca.
— Vai gritar meu nome implorando por mais.
Um prazer doloroso bateu no meu clitóris. Suas mãos em
concha agarraram ambos meus seios e eu gritei, enquanto sentia
minhas pernas cambalearem e minhas mãos buscarem seus ombros
para que eu não caísse.
Seu corpo inteiro me prensou na mesa. Uma parte de mim dizia
para afastá-lo, mas outra apenas exigia que eu abrisse as pernas e o
recebesse.
Era tão vergonhoso...
Gael sorriu, malicioso, ciente do efeito que causava em mim.
Então ele resvalou para baixo, suas mãos erguendo minha saia, a
ponta do seu nariz tocando minha calcinha. Eu respirei fundo quando
o senti na parte mais sensível do meu corpo.
— Celina... Você já está toda úmida... pingando por mim... Sua
boceta já está implorando para eu fodê-la.
Meu clitóris doía. Meu corpo inteiro estava em combustão.
Minha respiração era acelerada. Senti seu corpo erguendo e ele
parou novamente contra mim, inteiro, seu pau duro apertado contra
minha barriga.
— Aceite o contrato. Sem neuras ou complexos. Apenas viva.
Comigo. Vamos juntos nos afundar no paraíso.
Ele balançou contra mim, esfregando seu pau, roçando minha
boceta. Meus sucos estavam tão quentes que pareciam despejar e
eu sabia que estava inteira molhada. Era a primeira vez que isso
acontecia comigo, que eu sentia chamas irradiando na minha carne.
Ele me convidou para o paraíso, mas eu sabia que estava
prestes a cair no inferno.
5

As chamas lamberam meu corpo, irradiando, queimando, não havia


misericórdia.
Eu perdi o fôlego, mil pensamentos me tomando. Estava confusa,
quase sem chão, mas sabia que desejava seus músculos duros
embaixo dos meus dedos.
Como assim eu queria tocá-lo? Depois do que ele propunha?
Suas mãos me giraram, senti a mesa contra minha barriga. Ele
me deitou nela, meu rosto batendo na madeira fria, seu pau duro
agora deslizando por minha bunda. Um dos seus dedos invadiu
meus lábios e minha língua dançou contra sua carne.
Era tão sensual...
Por mil vidas eu permaneci alheia a sexualidade, e num único
momento Gael Mello despertou tudo em mim, incluindo minha
desgraça.
— Sua bunda está dando saltinhos para trás — ele me contou,
eu me senti mortificada pela vergonha e humilhação. — Ah, você
quer tanto que eu a foda, não é? Vai se divertir muito quando aceitar
o acordo...
Sua mão direita subiu pela minha coxa enquanto a outra
abandonava minha boca para tocar abaixo de mim. Ele afundou o
mesmo dedo dos meus lábios na polpa da minha boceta, me fazendo
gemer como uma vadia. Eu sentia minha carne latejar, e quando ele
me virou novamente, pude ver meu líquido claro como clara de ovo
deslizando pelo seu polegar. Ele o levou a boca e chupou, me
fazendo perder o fôlego.
— Você tem gosto de virgem... Com esse bocetão, é um
milagre que ainda não teve um homem...
Suas palavras enfim me fizeram despertar pela verdade do que
acontecia ali. De repente, livre de suas mãos eu tive forças para
fugir. Corri em direção ao elevador. Ele não me seguiu, mas vi seu
rosto maldito com um sorriso vitorioso antes da porta automática se
fechar.
No isolamento, eu senti lágrimas de indignação e vergonha
inundando minhas vistas. Encostei-me num dos lados, apertando as
coxas, tentando acalmar meu corpo que parecia prestes a gozar.
Se eu estivesse num local privado, não no elevador cheio de
câmeras, eu enfiaria meus dedos na calcinha e resolveria isso. Mas,
aqui, tudo que eu podia era apertar minha coxa uma contra a outra, e
tentar conter a onda crescente que tomava minha parte de baixo.
A porta do elevador se abriu. O saguão estava repleto de
homens usando ternos, e muitos volveram na minha direção, talvez
surpresos por uma mulher como eu estar usando aquele elevador.
Cruzei por eles, minhas pernas bambas, mal consegui chegar até a
porta e a empurrar.
O vento fora do prédio balançou meus cabelos. O ponto de
ônibus não ficava longe e eu tentei apressar o passo, tentando me
afastar o mais rápido possível daquele monstro em forma de homem.
Gael Mello iria me desgraçar. Eu sentia isso. A sensação quase
tinha um gosto amargo que não escapava aos meus lábios.
Meu celular vibrou na minha mão. Era um modelo simples, sem
muitos recursos, mas pude ver uma mensagem anexada com um
documento. O timbre era da Mello.
Como eles descobriram meu e-mail?
Era o contrato. Ele realmente achava que eu iria ler?
Considerar?
A imagem de meu pai e de minha mãe me tomou. Eles foram
relapsos comigo, por que eu não conseguia dar as costas e cuidar da
minha vida?
Sentei-me no ponto vazio. Lágrimas agora deslizavam por
minha face. Eu tentei conter o choro convulsionado, já que estava
numa área pública, mas estava difícil. Eu nem era acostumada a
chorar, todavia, agora lágrimas pareciam naturais a essa Celina
recém desperta.
Subitamente o som alto do ônibus chegou, e eu levantei-me
apressadamente, subindo nele rapidamente, tentando encontrar um
banco vazio tão logo paguei o cobrador.
Só queria ir para longe daquele lugar o mais rápido possível.
Só queria fugir...
Olhei para a janela. O motorista ouvia alto uma música da
Marília Mendonça e eu pensei no acidente de avião que a vitimou.
A vida tinha dessas coisas...
Ela nos quebrava quando não estávamos esperando...
Pensei na minha mãe. Era tão bonita, com seu corpo esguio e
seus cabelos claros bem cuidados. Sempre foi vaidosa, e perfumada.
Como estaria sendo fazendo hemodiálise? Eu sei que era um
tratamento que arrebentava com você.
Ao menos... Um tratamento particular seria melhor...
Não...
Respirei fundo enquanto a cidade cruzava pela minha janela. O
centro com suas pessoas apressadas, mulheres carregando sacolas,
homens mexendo no celular. Cada qual com seu problema.
Eu não paguei o aluguel esse mês...
A conta de luz veio mais cara, porque estávamos em bandeira
preta. Falta de água nas hidroelétricas...
Era tão fácil me perder nos meus próprios problemas.
Quando cheguei em casa, enfim peguei o tal contrato. A
maioria das cláusulas eram em termos jurídicos e eu não as
entendia, mas o principal estava ali. Durante e após um período de
dois anos, Gael custearia todo o tratamento de mamãe enquanto ela
precisasse. Havia o bônus da não denúncia ao meu pai, e um valor
compensatório para mim pelo período de 24 meses.
As exigências eram simples: eu não devia ter nenhum outro
relacionamento pelo tempo que estivesse com Gael.
Eu chorei um pouco, ao perceber que não tinha escolha.
Especialmente porque não podia deixar minha mãe a própria sorte.
Então, tomei logo minha decisão. Quanto mais eu
pestanejasse, mais difícil seria. Assim, peguei o cartão de Ivan que
estava em minha bolsa e disquei seu número.
— Eu preciso falar com Gael — disse, assim que ele atendeu.
— Ele está na minha frente — Ivan disse, e transferiu o telefone
para seu chefe.
Eu ouvi o riso debochado antes mesmo da voz máscula
aparecer do outro lado da linha.
— Você não demorou nada, hem?
— Eu tenho escolha.
— Já disse que tem. Apenas diga não.
— Você é cruel — murmurei. — Está certo, eu aceito. Mas, eu
quero me casar. Papel passado. Contrato civil.
— Prefere ser uma mulher divorciada do que ser chamada de
prostituta? — ele gargalhou. — Ah, eu sei porque decidiu isso,
Celina...
Fechei meus olhos. Lágrimas despencando de meus olhos.
— Mesmo que faça tudo por sua mãe, ela te chamaria de puta
vendida sem pensar duas vezes. Eu nunca vou entender porque
você não manda seus dois velhos se foderem.
Levei um momento para aceitar a verdade em suas palavras,
apesar de eu mesma tê-las dito a mim várias vezes.
— O nome não vai importar para mim. Vou continuar sendo
uma prostituta, mas ao menos minha mãe... talvez ela...
— Ela tenha misericórdia de você?
Uma vez vi num programa de televisão que filhos de mães
narcisistas viviam em prol de qualquer réstia de aprovação de seus
genitores. Agora eu sabia ser verdade.
— Tudo bem, Celina. Vamos jantar juntos hoje. — Não era uma
pergunta, um convite. Ele estava me avisando de sua decisão. —
Discutir um pouco sobre o acordo. Mais tarde um carro irá buscá-la.
— Eu gostaria de ter esse dia para mim.
Talvez minhas últimas horas de liberdade.
Mas, o som mudo do outro lado da linha me indicou que ele
não ouviu. Após avisar do jantar, ele desligou.
Minha opinião não importava. Como uma coisa – que se
vendeu – agora eu pertenceria a ele, e ele faria de mim o que
quisesse.
6

“Um carro irá buscá-la”.


Isso denotava o quanto Gael Mello sabia sobre mim. Onde eu
morava, minhas inquietações sobre minha mãe, as potentes coisas
que despertava em meu corpo, e só Deus imaginava o que mais...
O que me incomodava mais era os motivos. Um homem como
ele, exigir um contrato para ter uma mulher...
E mais... Uma mulher como eu...
Devia ter algo por trás. Devia haver segredos que eu
desconhecia.
Talvez uma rixa entre ele e meu pai. Ter a filha do homem que
o roubou podia ser excitante para um bilionário...
Era perto das dezoito horas quando um carro escuro e enorme
estacionou diante do meu prédio. Era uma Suv Volvo que chamou a
atenção de todos que moravam ali. O lugar não era violento, mas
havia um pequeno ponto de drogas no andar abaixo do meu. Percebi
todos os jovens vendedores de maconha imediatamente em alerta
pela presença do veículo.
Mas, pareceram se tranquilizar quando eu entrei nele, após o
motorista abrir a porta como um cavalheiro.
— Boa noite — ele me cumprimentou, formalmente, e foi tudo
que disse.
Eu sentei-me no interior do veículo, já completamente
deslocada com o contraste entre a riqueza do veículo e minhas
roupas de segunda mão. Na juventude eu até usava roupas caras,
mas não havia uma moda para plus size e eu sempre ficava
horrorosa com roupas feias e sem graça. Agora, que era midsize, até
havia roupas legais, mas eu não tinha dinheiro para comprá-las.
Assim, coloquei o que de melhor eu podia, apenas para tentar não
me sentir tão deslocada, apesar de saber que seria inútil, já que
roupas de liquidação pareciam carimbar a pobreza na pessoa.
Alisei a saia bege abaixo dos joelhos com as mãos tremulas. O
motorista não dizia para onde iríamos, e eu não conseguia perguntar.
Tinha dificuldade de começar um assunto com desconhecidos, e isso
se mostrou pior nesse instante.
Recostei-me no banco de couro, a cidade passava por mim
com rapidez, suas avenidas movimentadas.
Subitamente, entramos numa rua que eu conhecia bem, um
condomínio fechado de luxo na zona leste. Era a casa dos meus
pais, e minhas mãos começaram a tremer compulsivamente, ciente
que eu não estava preparada para aquele embate.
Senti que ia desmaiar, o pânico tomando controle de mim.
Comecei a fazer notas mentais se havia tomado meus remédios para
controlar a depressão e a síndrome do pânico, mas não conseguia
me lembrar exatamente. Estava tudo branco.
Eu fui diagnosticada com depressão no mesmo ano que sai de
casa. Foi um médico gentil do trabalho que percebeu e me deu uma
consulta grátis. De lá para cá, durante todos esses anos, eu havia
melhorado muito, mas ainda precisava de remédios. Normalmente
tinha crises quando me lembrava de casa, mas estava
razoavelmente bem.
Até Gael Mello... Seu contrato... E agora, essa visita não
avisada.
O carro estacionou. Gael estava esperando por mim à entrada.
Ele abriu a porta do carro e me ajudou a descer.
Nesse instante, parecia gentil. Até cativante. Havia uma beleza
misteriosa em seu sorriso, e seus lábios estavam apetitosamente
vermelhos.
— Fique calma — ele disse.
Sua mão grande e quente me puxou para ele. Era carinhoso e
inacreditavelmente gentil.
— Eu estou aqui — falou.
E isso só parecia piorar tudo.
Então começamos a andar. Eu o segui porque precisava, mas
minha vontade era de sair correndo. Atravessamos o jardim e eu
olhei para as mesmas flores de minha infância e adolescência. Senti
nuvens multicoloridas surgirem em minha mente e era como se
estivesse pisando em nuvens.
A porta da casa se abriu. Havia muita gente lá. Era uma festa?
Entramos e cruzamos por um garçom. Gael pegou uma taça de
vinho, e me ofereceu outra. Neguei.
A bossa nova invadiu meus ouvidos e, ao longe, vi uma banda
tocando. Não era uma música alta, era apenas confortável, nada que
pudesse distrair os ricos de sua conversa.
Gael me conduziu até uma mesa. Eu sentei-me e senti minha
boca amarga. Deus, eu iria vomitar?
— Por que me trouxe aqui?
Ele arqueou sua sobrancelha perfeita. Tudo nesse homem era
sensual e pecaminoso.
— Sua mãe pode estar doente, mas nunca deixa de dar suas
festas... Eu achei que você iria gostar...
Gostar? Ele estava brincando?
— Quer me mostrar para meus pais como sua prostituta?
Ele sorriu. Seus dentes brancos pareciam iluminar o ambiente.
— Minha esposa. Já gostei do título...
— A esposa prostituta — completei.
Olhei em volta. Onde estavam meus pais?
— Qual seu objetivo? — exigi.
— Já assinou o contrato? — ele rebateu.
Não. Eu ainda não havia assinado. Eu tive aquele encontro
cabuloso com ele de manhã, e no resto do dia passei me culpando e
querendo morrer pelas coisas que ele despertou. Eu nem pensei no
contrato.
— Estava pensando, Celina... Se assinar o contrato, podemos
transar no seu antigo quarto, o que acha?
Enrubesci.
— Você ficou louco?
— Você prefere em público? As mesas aqui têm toalhas longas,
e eu posso usar meus dedos embaixo da toalha. Já gozou com
várias pessoas em volta?
Minha cabeça girou, suas palavras me deixaram tonta, com
vergonha e... excitada. Mas, não queria que ninguém as ouvisse.
Especialmente quando eu esperava ver meus pais a qualquer
momento naquela casa.
Gael ergueu a mão, e eu ouvi passos atrás de mim. Não olhei
naquela direção, mas ouvi a voz de Ivan.
— Pois não?
— Traga os papeis e uma caneta — Gael disse.
Ivan concordou e se afastou. Engoli em seco, encarando o
homem.
Eu iria assinar os papeis, é claro. Eu não deixaria minha mãe
sem tratamento. Mas, eu não pensei que os assinaria nessa noite.
Era minha condenação final, e pensei em ser livre por mais algum
tempo.
Só mais algum tempo...
Porque depois que eu caísse nas mãos desse homem, tudo em
mim seria... dele.
— Onde estão meus pais?
— Não me importo onde eles estão.
Logo Ivan estava novamente perto de nós. Em suas mãos o
mesmo contrato timbrado que eu havia lido no celular. Uma caneta
dourada foi entregue a Gael. Ele assinou e pôs a data. Depois
colocou os papeis diante de mim, numa exigência muda.
Encarei Ivan, mas ele apenas se afastou respeitosamente.
Aliás, todos ali mantinham certa distância, ninguém parecia nos ver,
todos conversando animadamente como se a compra de uma mulher
naquela sala não tivesse qualquer importância.
— É mais que por seus pais — Gael disse. — É por você
também. Você quer experimentar o prazer que lê naqueles livros de
romance que compra toda sexta antes de voltar para casa. Chega de
sonhar com o CEO rico que vai te fazer gozar... Agora você vai viver
a realidade.
Ele sabia que eu comprava romances toda sexta? Sabia que eu
sonhava com uma paixão de conto de fadas? Mas, ele não sabia que
esse mesmo amor que eu tanto ansiava devia vir com respeito
mútuo. Não com um contrato pavoroso, onde eu...
Eu...
Imagens desse homem me possuindo me tomaram. Por algum
motivo, ele me despertava como nunca. Me deixava quente e
ansiosa, e ele me deixou tão molhada... Meu pulso acelerou. Eu
imaginei como seria experimentar a sensação de pertencer a
alguém, de ter alguém cuidando de mim, dos meus boletos, das
minhas necessidades, alguém que me desse roupas bonitas, alguém
que me fizesse gemer a noite...
Eu sou uma puta por pensar isso?
Provavelmente...
— Você está demorando demais, Celina. Sabe que nosso
casamento será bom para ambos. Eu terei alguém que quero, que
quero foder, e você terá compensações financeiras que tanta
precisa.
— Você fala como se fosse fácil se vender. Como se o fato de
eu fazer sexo com você por dinheiro...
— Você não vai fazer por dinheiro. Vai fazer porque eu faço sua
bocetinha latejar. O dinheiro será apenas um benefício adicional.
Subitamente senti sua mão por debaixo da mesa. Seus dedos
deslizaram por minha saia, acariciando minha coxa e subindo.
Ofeguei sem controle, querendo sair correndo na mesma medida que
querendo que ele continuasse. Então sua mão subiu, um dedo longo
roçou o monte da minha boceta.
— O que você ganha com isso? — indaguei, minha voz saiu
esganiçada.
Copos tilintaram, alguém riu de uma piada divertida. A música
agora pareceu mais animada e alguns casais começaram a dançar.
— Você de joelhos com meu pau na boca.
Gael gentilmente empurrou minha calcinha para o lado,
separando as dobras da minha boceta. Seu ato e sua frase me
deixaram em tal estado que eu não conseguia respirar. Só sentir.
Era vergonhoso.
E gostoso.
Senti a ponta de um dedo na minha entrada. Ele deslizou para
cima, tocando meu clitóris, e então foi para baixo, recebendo meus
sucos.
Eu tremia tanto sobre sua mão que mal conseguia me conter.
Ao meu lado, Gael estava com os olhos fixos em mim, se
embebedando de cada reação do meu corpo, observando
detalhadamente a forma como eu mordia o lábio inferior e como eu
parecia ansiar para sentar em cima da sua mão.
Ofeguei, pequenos gemidos me tomaram.
Alguém chamou por Gael ao longe. Ele cumprimentou um
homem de meia idade enquanto permanecia resvalando seu dedo
em mim, me fazendo remexer na cadeira sem conseguir controlar.
E então o gozo começou a vir. Eu tentei esconder minha
reação, enquanto pressionava contra sua mão. Mas, assim que
comecei a gozar, Gael tirou o dedo como se nada tivesse acontecido,
e simplesmente se levantou.
— Vou ir conversar com um parceiro de negócios. Tem o tempo
que desejar para assinar o contrato — disse.
E então ele se afastou.
Eu tremia compulsivamente, estava desesperada, precisando
de libertação, mas sabia que ele não me daria nada enquanto eu não
desse a ele o que desejava. Assim, assinei o contrato.
Estava no inferno mesmo, não custava nada me queimar.
7

Eu não tinha muitos conhecidos, então na manhã seguinte àquele


estranho jantar na casa de meus pais – que não apareceram em
nenhum momento - corri para a única pessoa que eu considerava
amiga. Maria era minha colega de trabalho, e era a pessoa que eu
mais convivia, quase 8 horas por dia, cinco dias por semana. Ela
costumava falar muito da sua vida para mim. Do marido que bebia,
da filha de quinze anos que estava grávida, das contas sempre
atrasadas... mas eu nunca trouxe problemas reais para ela, até
agora.
— Isso não é um problema. Um homem lindo, rico e gostoso
quer você.
— Não um encontro dos sonhos, um romance, um amor... É
mais... Eu me sinto uma vagabunda.
Ela puxou o balde, e o pôs perto de uma das pias. A água
escura estava imunda, e Maria riu como se minhas preocupações
não fossem nada.
— Pelo menos ele vai pagar para transar com você. E eu que
dou de graça? Sabe o que é chegar cansada em casa, lavar roupa,
limpar a casa... E depois de tudo, tentar ir dormir, mas seu marido
pular em cima de você sem se preocupar com seus nãos e meter até
gozar? Isso é que é se sentir uma coisa usada. No seu caso, pelo
que me contou, ele desperta algo em você... Ao menos você vai
gozar.
Ela estava basicamente me contando um dos muitos estupros
que seu marido cometia. Eu queria dizer a ela que isso era crime e
que ela devia procurar a polícia, mas na única vez que tentei alertá-
la, Maria riu e disse que o papel da mulher era esse mesmo.
Lembro de ter ficado feliz por ser solteira e nenhum homem me
querer.
Bom... Agora um queria. Ele também faria isso?
— Então... Você vai continuar trabalhando no hospital? — ela
indagou. — Porque deixar esse emprego dos sonhos, onde temos
que limpar banheiros cagados todos os dias...
Ela riu de novo. Aparentemente nossa vida difícil era cômica.
— Eu tenho medo de tudo dar errado e eu não ter um emprego
para voltar.
Ela assentiu. Então me entregou o esfregão. Eu fui até o
sanitário e comecei a lavar. A limpeza dos banheiros precisava ser
feita duas vezes por dia. E sempre pareciam horrorosos como se não
tivessem sido limpos por meses.
— E Elisa? Como está?
— O médico disse que o bebê dela está bem — Maria suspirou.
— Meu Deus, como vou criar um neto? Essa menina é tão
irresponsável. Ela mal pode esperar para o bebê nascer para voltar a
sair na noite. Eu tento educar, mas não consigo segurá-la.
Pareciam problemas tão mais sérios que os meus. Casar-se
com um homem lindo, rico e que me fazia ver estrelas quando me
tocava não era nada com as contas vencidas no final do mês, com
um marido abusivo e com uma filha irresponsável.
Estendi a mão e toquei o braço de Maria, num carinho mudo,
mas confortador. Ela me deu um sorriso sofrido, aceitando.
— Mas, você não precisa passar o resto da vida limpando
chão, Celina. Não tem aptidão para nada?
— Bom... Eu costumava fazer artesanato. Sabe, fazia coisas
multifuncionais com recicláveis. Adorava cola quente, lixadeiras,
tinta. Pegava uma gaveta velha e transformava num porta livros, ou
pegava panos velhos e transformava em bolsas. Mas, minha mãe
dizia que era tudo lixo e ninguém iria querer ver.
Maria negou.
— Pois devia aproveitar o momento e se focar nisso. Quem
sabe não descobre uma nova profissão e sai dessa vida ruim. Talvez
até me leve junto como sua funcionária — ela apontou e eu ri.
— Você viria?
— Se eu sairia desse emprego? Agora mesmo, se você decidir.
Assenti. Talvez. Eu receberia uma boa quantia de Gael quando
o prazo acabasse. Se eu me dedicasse, aprendesse novas técnicas,
podia abrir uma loja. Eu adoraria me tornar uma artesã profissional.
— Você vai se casar de vestido de noiva? — Maria questionou,
de repente, e eu arregalei os olhos, perdendo os pensamentos.
Não fazia ideia. Eu disse que não queria ser apenas uma
prostituta, mas não falamos sobre um casamento em si.
— Acho que será apenas um casamento no civil.
— Me chama pra madrinha?
— É claro.
Até porque eu não teria outra pessoa para chamar.
Nosso turno iria até a dezenove horas, então quando
terminamos, o sol já havia sumido no horizonte e nos despedimos
num ponto de ônibus iluminado apenas por uma lâmpada suja.
O ônibus dela veio primeiro, e o meu chegou cinco minutos
depois. O transporte estava quase vazio, e eu cumprimentei o
motorista e o cobrador como sempre fazia antes de me sentar à
janela e observar o movimento da cidade.
Eu me sentia estranha. Não estava triste pelo que estava
acontecendo. Talvez um pouco assustada, mas definitivamente, não
estava arrasada. Pensei nos meus pais que não apareceram no
jantar, e imaginei como minha mãe reagiria ao saber que eu iria me
casar com Gael Mello, um homem tão importante.
Ela não se importava com casamento por amor, então iria ficar
feliz porque a filha teria um sobrenome importante. Não é?
A imagem da minha mãe tomou tudo, nesse instante. Será que
ela havia emagrecido mais? Será que o tratamento estava acabando
com ela, por isso não foi a festa? Será que ela precisava de mim
para cuidar dela?
Será que, com essa doença tão terrível, ela me daria espaço?
Ela me deixaria ser sua filha?
Ela me amaria?
A distância entre nós parecia um abismo, mas talvez a doença
tenha criado uma ponte.
Chegamos no meu ponto e eu desci. Caminhei alguns metros
até a entrada do condomínio, e cumprimentei um grupo de rapazes
que costumavam sentar-se perto do calçadão durante à noite.
Meu prédio não tinha elevador, então subi as escadas,
pensando na minha mãe e na possibilidade de eu lhe fazer uma
visita qualquer dia desses.
O hospital que eu trabalhava era público, e minha mãe nunca
colocaria os pés nele, por isso nunca a vi, mas quem sabe ela
quisesse que eu a acompanhasse numa das sessões de
hemodiálise?
De repente, olhei para a frente. Estava com a chave na mão,
mas meus pés travaram no lugar quando percebi a presença de Gael
Mello diante da porta.
— Olá, meu amor — ele me cumprimentou, seu sorriso safado
não escondendo intenções aterradoras.
Eu perdi o ar, não sabendo se devia prosseguir e abrir a porta,
ou se devia volver e sair correndo. Por fim, respirei fundo e avancei.
Não o convidei para entrar, mas ele me seguiu. O apartamento
escuro não escondia sua presença forte e enorme atrás de mim.
Gael era todo energia.
Ele veio dormir comigo? Agora que éramos noivos, ele podia?
Maria diria que era direito dele, como homem.
— Eu não esperava você — disse, acendendo as luzes.
Apontei o sofá, mas ele negou com a face.
— Hoje vou trabalhar até mais tarde, vim apenas avisá-la que
quero que peça demissão. Não quero minha noiva limpando
privadas.
— Preciso do meu emprego. Ainda não somos casados, e eu
tenho dívidas para pagar — apontei, irritada.
Então ele abriu a carteira e atirou várias notas de cem no chão.
Havia pelo menos cinco mil ali, aos meus pés, atirado de uma forma
que eu precisaria me agachar diante dele para pegar. Era humilhante
demais, e meus olhos se encheram de lágrimas. Aquele montante
era pelo menos cinco vezes o meu salário, e ele o atirava no chão
como se fosse uma esmola.
— Amanhã de manhã estarei aqui. Iremos ver um Studio que
irei alugar para você se ocupar com... seus hobbys.
Hobbys?
— Você sabia que eu fazia artesanato?
— Eu sei tudo sobre você — ele apontou. — Até seus
pensamentos. — Então ele caminhou em direção à porta. — Esteja
pronta as oito horas. Irei esperá-la na entrada do prédio e não gosto
de atrasos.
Depois disso, saiu. Eu fiquei encarando a porta por alguns
segundos, lágrimas caindo no chão.
Só então me ajoelhei para recolher as notas.
8

O carro parou. Gael esperou o motorista surgir ao lado da sua porta


e abri-la. Eu o observei saindo do veículo como um rei diante de
seus plebeus.
Gael era tudo que eu desprezava no ser humano. Ele se
considerava superior a todos por causa do dinheiro. Ele não dizia,
mas seus atos respondiam por ele.
Logo o motorista andou até meu lado e também abriu minha
porta. Eu não precisava esperar o pobre motorista tendo que abrir a
porta, eu podia ter saído antes, mas fiquei perdida em pensamentos.
— Obrigada — disse, com um sorriso sincero.
O homem apenas assentiu e se afastou. Logo outro homem
estava ao meu lado. Era Gael, que estranhamente pareceu gentil ao
me estender a mão.
Quis recusar, mas meu coração saltou no peito. Eu o detestava,
mas não podia negar o que ele fazia comigo. Era fogo puro, que
lampejava por minhas entranhas, me deixando em estado crítico.
— Foi Ivan que escolheu esse lugar. Espero que seja do seu
agrado.
Só então eu ergui a face em direção ao prédio no bairro chique.
Era todo espelhado, ornado com flores e folhagens diversas.
Exatamente o tipo de ambiente que me tornaria a artista plástica dos
famosos, diferente da artesã simples que sempre imaginei.
Sua mão largou a minha e então deslizou pelas minhas costas.
Um arrepio de desejo percorreu minha espinha, minha boceta
esquentou. Ele tinha esse poder, ele me deixava em tal estado com
um simples toque.
— Espero que me agradeça pelo local de muitas maneiras —
ele murmurou perto do meu ouvido e eu quase gemi.
— Não pedi por nada.
Ele ergueu uma sobrancelha, como se minha resposta atrevida
o despertasse.
— Vamos entrar — disse.
O prédio, por dentro, era lindo. Um casarão de dois andares,
com várias salas. O rol de entrada era iluminado, tinha piso laminado
e havia um jardim de inverno no centro. Quando se olhava para
cima, percebia-se uma estrutura que cortava o andar superior e
permitia que o sol entrasse por uma clariboia.
Era muito moderno.
— Eu estou muito ocupado hoje, não poderei acompanhá-la ao
hospital, e estar ao seu lado quando pedir demissão. Mas, espero
que não descumpra nosso combinado.
— Não combinamos nada. Você apenas decidiu.
— Vantagens do meu contrato — ele sorriu.
Oh, Deus. Eu estava tão perdida.
Andamos pelo enorme salão vazio. Gael me apontou onde
ficaria a recepção, mostrou uma sala onde ele considerava que seria
ideal para manter o estoque de materiais que eu usaria, e me
comentou sobre o fato de eu organizar materiais para expôr na
galeria de um amigo.
— Casar comigo só vai te trazer vantagens — ele disse.
Eu sabia. Ter um Studio de arte era uma vantagem inegável.
— Que bom que eu pelo menos sou uma puta de valor.
— Uma esposa — ele consertou. — Fui muito gentil em aceitar
que desse um título mais respeitável, então o use.
Chegamos até uma enorme escadaria de madeira polida. Gael
observou-a e então volveu para mim.
— Precisamos mandar lixá-la e envernizá-la.
— Parece bonita para mim.
— Mesmo? — ele volveu novamente para a escada. — Bom,
não entendo muito de interiores ou arquitetura.
— É modelo rústico.
— Falando em modelo rústico, como vai querer seu vestido de
noiva? Tradicional?
Minhas sobrancelhas se ergueram. Como assim, vestido? Mal
havíamos falado do contrato e ele já esperava que eu tivesse tudo
pronto?
— Vestido? Iremos nos casar na Igreja?
Ele sorriu, parecia muito confiante.
— Eu sou conservador.
Fiquei surpresa por esse homem se considerar conservador.
— Então devia guardar um casamento religioso para a mulher
com quem vai passar o resto da sua vida. Nosso casamento só irá
durar dois anos.
— Já tenho quase cinquenta anos, Celina. Não terei muitas
oportunidades de me casar na igreja. E eu gosto da ideia.
Depois disso ele subiu as escadas. Sem escolha, eu o segui.
A parte superior era uma cópia da inferior. Salas espaçosas,
bonitas, prontas para receber artistas, caso eu quisesse abrir um
Studio com mais pessoas.
— À tarde irá com Ivan escolher um vestido. Eu tenho pressa.
— Por quê?
— Não quero te foder sem estarmos casados, e está difícil
manter minhas mãos longe de você.
Subitamente, ele estava tão perto que pude sentir o cheiro de
seu perfume. Recuei e ele avançou, parecendo não se importar com
meus temores.
Pude sentir minhas costas encostarem na parede. Fiquei
imediatamente nervosa por estar tão suscetível.
— Vai me dizer que é virgem — provoquei.
— Oh, não. Eu já tive muitas mulheres. Mas, você é. E quero
que assim seja, até o casamento.
— Você é um machista. Quer dizer que você pôde ter quantas
mulheres quis, e sua esposa tem que ser pura e do lar?
Ele pareceu pensar um pouco.
— Isso mesmo.
Filho da puta! Irritante!
— Não será meu primeiro — disse, nem sei porque.
Eu sequer tive um namorado na minha vida. Nem mesmo beijo
na boca havia dado até esse homem me tomar.
Eu odiei o sorriso debochado que ele me deu. Ele sabia...
Sabia que ninguém me queria.
Suas mãos subiram e tocaram meus seios. Ele lambeu os
lábios, claramente excitado. Eu quis chorar, chutá-lo, senti-me
rebaixada pelos pensamentos que ele tinha sobre mim.
— Você é só um velho tarado que está comprando a virgindade
de uma garota. Mas, depois de dois anos eu serei livre e então terei
um homem de verdade. Um homem que eu ame.
Olhos verdes escuros dele brilharam para mim. Eu engoli em
seco e o empurrei, tentando afastá-lo. Gael não se mexeu.
De repente eu estava espremida contra a parede, suas mãos
alisando as laterais do meu corpo, tocando, apertando, me fazendo
gemer.
Mãos fortes alisaram minha pele, arrumando, arrancando,
acomodando. Então eu senti o vestido apertar e ouvi o chiado do
zíper quando ele lentamente o puxou para baixo. Seu corpo duro
apertou o meu e eu perdi o fôlego, ficando imediatamente quente,
mole e tonta.
Então, tão rapidamente quanto ele me avassalou, abandonou-
me, deixando de pernas bambas, resvalando no chão sobre o
magnetismo que exalava.
— Você é muito fácil, Celina — ele disse, e eu me senti
completamente humilhada.
Lágrimas embaçaram minha visão, enquanto eu o vi se
afastando.
— Recomponha-se e me encontre lá embaixo. Ivan trará o
contrato do prédio para que você o veja.
9

— Você não parece feliz.


Volvi em direção à Gael, sem acreditar nas suas palavras. Como eu
poderia estar feliz nessa situação?
Ivan havia trazido o contrato do Studio. Eles me disseram que
seria um aluguel, então não escondi minha surpresa ao ver que Gael
o estava comprando. E em meu nome. Meu futuro marido estava me
dando aquele prédio chique, e eu devia ser agradecida, mas só
queria desaparecer.
Depois disso, Gael me levou para casa. Eu iria ao hospital na
parte da tarde, mas ainda tinha algum tempo. Imaginei que Gael me
deixaria tão logo chegássemos em casa, mas o percebi entrando no
meu apartamento sem convite.
— Não fique tão irritada — ele disse.
— Não estou irritada — murmurei, mas não era verdade.
— Eu sei que essa bocetinha está pegando fogo, mas em
questão de dias eu irei te dar o pau que tanto quer.
Eu iria bater nesse homem. Iria bater nele! Estava cada vez
mais difícil me controlar.
— O que eu fiz para que me trate assim?
— Nada — disse, simplesmente. — Mas, eu posso tratá-la
assim, já que estou pagando o tratamento de sua mãe e não estou
indo até a polícia denunciar seu pai.
— Eu não tenho culpa do que ele fez.
Gael pareceu surpreso pela minha objeção. De repente ele
avançou no meu pequeno apartamento, chegando tão perto de mim
que não pude negar a descarga de eletricidade que ele despertou.
— Ah, Celina... Você é tão linda... Se eu não me cuidar, vai me
ter na palma da sua mão... — sussurrou.
A excitação aqueceu minha barriga quando Gael deslizou suas
mãos pelo meu rosto, descendo, até chegar à barra da minha blusa.
Então ele agarrou o tecido e o ergueu, deixando-me apenas de sutiã.
Quis cobrir meus seios, mas ele não deixou. Com faíscas
dançando entre nós, ele me girou, apenas para abrir o fecho do
sutiã. Eu senti meus seios grandes caindo, e evitei olhar para baixo,
não querendo ver o quanto eles pareciam excitados. Então minha
saia foi puxada para baixo num único impulso.
Estava apenas de calcinha agora, a roupa jogada no chão.
Gael me puxou. Senti seu mastro duro despontando contra
minha bunda. Pensamentos sobre minha celulite e estrias me
tomaram, minha mãe me dizendo para nunca usar biquíni porque
homens me achariam horrorosa me tomaram. Minha bunda estava
ali, para ele, e Gael começaria a falar sobre minha feiura a qualquer
momento.
— Você é tão gostosa...
Sua boca deslizou pelas minhas costas, enquanto sua mão
agarrava a onda gêmea dos meus seios. Seu toque era áspero, sua
respiração quente. Estava encurralada nas mãos dele, impossível
resistir ou fugir.
Minha boceta latejou. Minhas pernas tremeram. Minha cabeça
caiu para trás, meus cabelos sobre a pele dele.
— Gael — minha voz saiu num gemido.
— Abra suas pernas — ele sussurrou. — Suas coxas estão tão
apertadas que não estou conseguindo colocar minha mão.
Eu mal consegui cumprir o que ele queria. Estava tão rígida,
apavorada, desejosa.
Sua mão deixou meu seio, subiu pela minha nuca, e então
agarrou meus cabelos, tão firme que me fez gemer.
Dor, prazer... Era tudo misturado.
— Gael...
— Quieta... — ele mandou e eu tentei obedecer.
Mas, era difícil. A forma como ele me dobrou contra o sofá,
minha bunda rebolando contra ele, minha cabeça para trás,
enquanto ele segurava fortemente meu cabelo, eu me sentia uma
égua que ele estava montando.
Dedos quentes deslizaram pela minha calcinha. Tudo que eu
vestia era essa pequena roupa íntima e agora ele a tirou, me
deixando completamente exposta.
— Você está tão molhada... Não gosto dessas suas calcinhas
de algodão. Elas me impedem de ver essa bocetinha se derramando
pra mim.
A mão que não estava segurando meu cabelo deslizou entre
minhas pernas. Eu gritei de susto, tesão, submissão. Seus dedos
mergulharam nos meus pelos, e então desceram pela minha
cavidade, recolhendo meus sucos, enquanto meu corpo
convulsionava sem controle.
Gael acariciou minha entrada. Eu sentia minha boceta implorar
para que ele me preenchesse, mas ele não parecia disposto a me
dar o que eu ansiava.
— Você quer meu pau, Celina?
— Sim...
Eu disse isso mesmo? Era tão humilhante.
— Ainda não, Celina.
Eu choraminguei.
— Por favor.
A mão que estava na minha vagina foi para trás. De repente
Gael apertou minha bunda tão forte que eu senti dor. Mas, a dor era
tão gostosa, era impossível não gemer.
— Você tem um bundão...
Uma palmada ecoou nos meus ouvidos. Outra. Eu sabia que
minha bunda estava ficando vermelha com aquela demonstração
de... o quê? Violência?
Eu devia me afastar. O som estalado devia me despertar para a
racionalidade. Mas, tudo que eu sentia era mais tesão, mas vontade,
lágrimas agora desciam pelo meu rosto, meu corpo ansiando,
implorando, minha boceta pulsando desesperadamente por Gael.
Subitamente senti sua carne. Meus olhos desceram e vi o pau
dele surgindo entre minhas pernas. Era vermelho, roliço, grande, sua
cabeça esfregou-se na minha entrada, sem, contudo me entrar.
— Só vou esfregar um pouco — ele disse, seu hálito quente
contra meu ouvido.
Seu movimento suave para frente e para trás me fazia ver seu
pau resvalando contra minha fenda, molhando-se com minha
umidade, minha carne estremecendo pelo seu cacete.
Eu gemi pela sensação poderosa. Era tão bom... tão bom.
Minhas costas arquearam e consegui ficar um pouco mais
ereta. O topo da minha cabeça tocou seu queixo, e pude sentir o
pequeno gesto de conforto de Gael: um leve beijo contra meus
cabelos.
Aquilo me deu tal deleite que mal percebi quando o afastei, e
me ajoelhei diante dele, exatamente como ele falou que eu faria, na
primeira vez que nos encontramos para falar do contrato.
Engoli senti seu pau. Senti sua cabeça provocando minha
boca, minha língua experimentando seu gosto e sua textura. Gael
segurou minha cabeça, fodendo levemente minha boca, cuidadoso
em não me afogar com seu tamanho.
Minha boceta doeu quando ordenhei seu leite. Antes, era eu
que gemia seu nome, agora era ele que chamava por mim.
Eu tinha um pequeno poder... Era incrível... Ter esse poder era
incrível...
Eu gemia em torno do eixo enquanto ele fodia minha boca,
batendo seu quadril contra meu rosto, seu orgasmo chegando
rapidamente.
De repente ele veio em jatos quentes, sacudindo seu corpo
enquanto seu leite derramava na minha boca, no meu rosto, descia
pela minha garganta e então caía sobre os botões dos meus
mamilos.
Desci minha mão sobre minha boceta, batendo na mesma
intensidade, imaginando que esse leite estava lá, esquentando-a
ainda mais.
Quando ele terminou seu orgasmo, sua expressão era uma
incógnita. Eu sabia que ele queria mais, ele queria estar dentro de
mim, mas não o fez. Eu tentei puxá-lo, porque estava desesperada,
eu precisava muito que ele entrasse, que acalmasse o desespero na
minha boceta, mas Gael não avançou.
— Gael, por favor...
Ele negou.
— Esqueça o casamento bonito, com vestido de noiva. Vou
mandar Ivan conseguir um vestido qualquer e chamar o padre. Ele
também falará com um juiz de paz.
Depois disso ele recolheu seu pau nas calças e me deixou
sozinha.
Nua, insatisfeita e assustada.
10

Ele havia ficado irritado porque eu fui fácil. Era isso. Ele queria me
ver como noiva, mas eu fui indigna disso, quando me curvei a ele
sem uma aliança no dedo.
Talvez Ivan me dissesse, durante à tarde, que ele não mais me
daria o título de esposa. Se Gael não se casasse comigo, minha mãe
nunca me aceitaria, porque ela jamais teria amor por uma reles
prostituta.
Curvei minha fronte, escondendo as lágrimas, enquanto
aguardava ser chamada na sala da moça do RH.
Mas no que eu estava pensando? O que importava o título?
Minha mãe provavelmente sabia que esposa ou não, eu estava
sendo uma prostituta.
E ainda havia o fato de que eu me ajoelhei diante dele, tomada
de desejo e paixão.
O que havia sido aquilo?
Eu só havia lido em livros sobre esse desejo incontrolável, essa
vontade que fazia todo o corpo latejar. Nunca pensei que um homem
me despertaria assim, mas Gael tinha esse poder. Ele conseguia me
fazer fraquejar num único olhar.
Ouvi som de passos ao meu lado e fiquei surpresa ao erguer a
face e ver Ivan.
— Já terminou?
— Ainda não fui chamada.
— Certo. Deixe isso comigo, eu enviarei uma carta informando
seu pedido de demissão. Temos hora a cumprir.
— Temos?
— O padre e o juiz de paz já estão nos esperando.
Uma parte de mim ficou apavorada. Era muito rápido, eu mal
conseguia acompanhar o ritmo. De manhã eu estava mamando o
cacete de Gael, agora à tarde eu já estaria me casando com ele?
Ivan me estendeu a mão para me ajudar a levantar-me. Ele me
levou até um enorme carro da empresa e eu mal consigo me lembrar
o trajeto do hospital até uma pequena igreja num dos bairros da
capital.
— Como Gael conseguiu tudo tão rápido?
— Dinheiro consegue qualquer coisa, Senhora Mello.
Senhora Mello...
O local parecia vazio quando eu entrei e fui encaminhada a
uma pequena sala. Entrei e observei um vestido de tom marfim claro,
extremamente elegante. Havia também calcinhas brancas de seda e
um espartilho para me ajudar a esconder a barriga um pouco
saliente.
Eu mal consegui colocar aquela roupa. A calcinha era fácil,
seda e renda pareciam combinar comigo, mas o espartilho era cheio
de laços e botões. Foi confuso e desesperador. Eu gostaria de pedir
ajuda, mas não havia ninguém por perto, e mesmo que houvesse, eu
sei que Gael jamais aceitaria que alguém me visse em roupa de
baixo.
Além dele...
Por fim, com muita dificuldade, eu consegui vestir aquilo. O
vestido caiu sobre mim, moldurando meus quadris. Era tudo muito
bonito, mas eu me sentia sufocada.
Me afastei do espelho e caminhei até a porta. Ivan estava
parado ali, aguardando pacientemente.
— Tudo ok?
— Tudo.
— Está muito bonita — ele tentou ser simpático, talvez porque
tenha notado meu desespero no semblante.
O segui até a nave da igreja. Entrei e percebi o ambiente vazio,
não fosse pelo padre, outro homem usando terno, Ivan, eu e...
Gael...
Minha respiração ficou presa.
Gael estava incrível, seu cabelo escuro penteado para trás,
seus olhos negros fixados em mim, usando um terno preto, com
colete cinza.
Por um breve momento eu senti meu coração transbordar de
algo que não consegui identificar.
Eu iria me casar com esse homem lindo, nem nos meus mais
loucos sonhos românticos imaginava isso.
Porém, esse mesmo homem era arrogante, presunçoso e havia
me forçado a isso. Não fui algo a ser conquistado, fui comprada.
Mais que isso.
Eu me vendi para ele.
Gael sorriu para mim, quase orgulhoso. Ele parecia ter gostado
do objeto que comprou.
Aceitei sua mão quando ele a estendeu, e fiquei diante do
padre e de um juiz de paz. Tudo adiante foi nublado pela minha
mente confusa. Então, veio a pergunta se eu o aceitava como
esposo.
Eu disse sim. Sem vacilar.
Foi surpreendente porque eu pensava que haveria uma parte
de mim que teria dúvidas. As últimas dúvidas antes de ser
oficialmente sua.
Por dois anos...
Dois anos...
— Pode beijar a noiva — o padre disse.
Gael volveu para mim e me puxou enquanto sua língua invadia
meu espaço, possessiva, fazendo meu corpo estremecer e derreter
contra ele.
Meu coração acelerou.
Minha respiração travou.
Não...
Não!
Eu não podia...
Eu não podia me apaixonar por ele...
Ele seria meu dono, mas eu precisava manter minha alma e
minha essência protegida. Apenas por dois anos.
Apenas por dois anos...
Depois disso, eu seria livre novamente.
Ou... eu o perderia para sempre.
Minhas unhas cravaram em seu casaco e ele passou sua
língua contra a minha, nossos dentes bateram um no outro. Por fim,
ele se afastou com o olhar satisfeito.
— Agora você é minha, oficialmente.
Era um aviso. Um comunicado.
Uma ameaça.
A cerimônia civil veio em seguida. Eu assinei o certificado,
enquanto lágrimas me torturavam.
Eu não conseguiria sobreviver dois anos com ele. Eu mal
consegui passar aqueles poucos dias perto dele sem ter me curvado
completamente.
Quando tudo terminou, senti sua mão no meu braço. Ele não se
despediu de ninguém, apenas me puxou com rispidez.
— Gael? — fiquei apavorada.
Era uma faceta dele que eu não conhecia.
— Você me forçou a apressar as coisas, menina — ele disse.
— E eu não gosto de fazer nada sem planejamento. Mesmo assim,
esse seu corpo implorando para ser fodido me fez adiantar a
cerimônia, me fez correr para achar um vestido, me fez gastar uma
fortuna para conseguir o padre e o juiz... E tudo porque quero te
satisfazer.
Ele abriu a porta do carro e me forçou para dentro. Logo em
seguida, entrou no lado do motorista, e saiu em disparada.
— Você não quer tanto ser fodida? Agora vai ser!
11

O sol já havia sumido no horizonte quando o carro avançou para


uma área inabitada da capital. Ao longe era possível ver os prédios,
mas ali, havia apenas terrenos baldios e árvores aleatórias, uma
estrada de chão batido que parecia prestes a ser pavimentada.
Um palavrão escapou dos lábios de Gael. O observei
atentamente, meus olhos descendo pelo seu corpo másculo. Eu o
percebi duro, e soube que ele estava muito apressado para
chegarmos onde quer que íamos, porque ele queria invadir meu
corpo.
Subitamente, estacionou.
Tirou o cinto.
— Vá para o banco de trás — ordenou.
Ele iria tirar minha virgindade na traseira do carro? Eu não
conseguia respirar, não conseguia pensar, aceitei o fato porque
estava completamente ansiosa, minha calcinha encharcada, minha
respiração entrecortada e um desejo avassalador me tomando.
Eu aceitaria tudo.
Pulei entre os dois bancos da frente e caí sobre o traseiro.
Logo, Gael estava em cima de mim, me esmagando, suas mãos
arrancando meu vestido, resvalando pela minha calcinha, me
fazendo gritar seu nome sobre a tortura que ele me submetia.
Eu aceitei o que viesse, não porque estava num contrato, mas
porque eu queria muito. Nunca havia tido um pau em mim, mas esse
homem me fazia ansiar pelo seu cacete, fazia minha boceta latejar
incontrolavelmente, fazia meus seios enrijecer e minha pele se
arrepiar.
Gael me girou no banco do carro, fazendo minha face
pressionar contra o banco de couro. Eu estava tão vulnerável sob
seu olhar.
— Como eu gosto desse bundão — ele disse, batendo na
minha bunda com força, me fazendo choramingar de desejo.
Eu gostava de apanhar assim?
Meu rosto ficou vermelho pela vergonha.
Senti sua mão deslizando pela minha bunda e então
encontrando os elásticos da calcinha. Ele deslizou os dedos,
puxando o tecido para o lado, para observar minha vagina molhada.
Eu choraminguei quando ele deslizou o dedo médio para dentro de
mim, capturando meu néctar, enquanto seu polegar batia contra meu
clitóris.
— Você não faz ideia de quantas vezes bati punheta pensando
nesse bocetão...
Então ele enfiou outro dedo, esticando minhas paredes
internas, separando os lábios escorregadios, me preparando para
receber seu caralho duro e bem maior que seus dedos.
— Gostosa...
— Gael — implorei, e tentei levar minha bunda para trás.
Ela bateu contra meu quadril e pude sentir seu pau duro, ereto.
Quis olhar para trás, mas Gael me empurrou novamente contra o
banco.
— Não — ele disse. — Saiba que quem manda na cama sou
eu. Está no contrato, você não leu?
Eu mal conseguia pensar, quanto mais relembrar um papel que
mal conseguia entender, cheio de palavras jurídicas.
Eu o ouvi se movendo atrás de mim. Senti sua carne lisa
deslizando sobre meus lábios. Ele pressionou a cabeça arredondada
em mim, mas não entrou.
Eu gemi. Minha cabeça girava, meus lábios doíam pela forma
como eu os mordia. Estava ofegante, querendo sentir seu pau
dentro, mas ele apenas o deslizava sobre meus lábios inchados,
fazendo com que meu líquido molhasse seu caralho enquanto ele
segurava minha bunda e me empurrava contra a lateral do veículo.
Eu estava queimando.
Comecei a suar tanto que pingos do líquido salgado caíam de
mim e sujavam o couro. Gael puxou minha bunda e pude sentir suas
bolas batendo na minha boceta.
Era bom demais...
— Você está tão molhada...
A voz pastosa dele me deixava ainda mais excitada. Eu me
sentia suja na mesma medida que desejosa
— Gael...
— Sim?
— Por favor...
— Por favor o quê? — exigiu.
— Por favor, eu quero você...
— A mim? Ou meu pau?
— Seu pau na minha boceta...
Então ele entrou. Num único golpe. Duro. Forte. Eu gritei, dor,
desespero, paixão, loucura. Ele me preencheu de tal forma
avassaladora, uma memória viva do que ele havia se tornado em
minha vida.
Gael não pedia licença. Gael não preparava terreno. O que ele
queria, ele tinha.
Eu lutei por um pensamento que me protegesse daquele vulcão
em forma de homem. Mas, tudo que eu pensava era no quanto sua
impetuosidade me fazia estremecer.
Ele saiu.
— Seu sangue molhou meu cacete — ele disse, e eu
choraminguei. — Gosto disso, Celina. Gosto de saber que só eu tive
seu sangue.
Logo, sua cabeça voltou a pressionar minhas dobras. Ele
empurrou para frente, novamente parecendo me quebrar.
Mas, a dor era até bem-vinda, já que a tortura das suas
provocações sempre me fazia esquecer como nós dois havíamos
chegado até ali.
— Está sentindo meu tamanho? As veias? A forma como eu te
preencho? Agora você é minha mulher.
Sua carne queimava, enquanto ele entrava e saía de uma
forma lenta. Tão lenta que pareceu tocar meu coração e, em algum
momento, a dor acalmou e eu me senti confortada pelo seu tamanho.
— Você é tão linda, Celina...
O ritmo aumentou. Seu pau encheu minha boceta, batendo. O
som invadiu meus ouvidos, e a cada empurrão eu comecei a sentir
uma sensação doce que me fez gemer alto, chamando por ele.
Por Gael...
Uma das suas mãos agarrou meus cabelos. Ele fez um coque e
puxou para trás, levando meu queixo para cima. Meus dedos do pé
enrolaram, meu corpo arqueou e eu gritei cheia de tesão e prazer.
Era bom... tão bom... era delicioso...
Ele estava me engolindo inteira, estava me submetendo a
ele,cada vez mais rápido, sem misericórdia, sons de batida e de
força afundando em mim e eu estava começando a gozar como
nunca aconteceu, mesmo nas noites solitárias em que eu afundava
meus dedos na minha cavidade enquanto sonhava com algum ator
bonito ou algum personagem interessante de qualquer romance.
Porque esse homem era real. E o que ele estava me dando era
real...
— Gael...
— O quê? Diga, Celina... o que está sentindo?
— Eu estou... estou...
Ele se inclinou sobre mim. Seus músculos tocaram minhas
costas, e sua ereção se moveu tão fundo que eu só conseguia gritar,
o som cada vez mais alto, cada vez mais agudo.
— Sua bocetinha está me apertando tão forte... Eu vou gozar,
Celina — ele disse, nos meus ouvidos.
Eu também iria gozar. Eu não queria vir tão rápido, mas não
aguentava mais. Me contorci sobre ele, meus músculos internos
puxando seu caralho, suas estocadas aumentando cada vez mais,
enquanto eu implorava pela libertação.
— Mete... mete — eu gritei.
Uma das suas mãos abriu minha bunda bem forte, e ele meteu
tão fundo que vi estrelas. Então, comecei a gozar, curvando sobre o
couro.
— Minha, Celina... Você é completamente minha.
— Sim...
Jorros quentes de seu sexo despejaram dentro de mim. Eu
gritei, ofeguei, bati mais minha bunda contra seu quadril querendo
mais dele, enquanto alçava uma colina alta, uma energia poderosa
que me fez perder o controle.
Eu gritei quando ele me esmagou com seu peso, caindo sobre
mim, o prazer nos tomando com tal impetuosidade que mal
conseguimos controlar. Então vi estrelas, e juro que não soube mais
o que aconteceu, até sentir seu peso todo sobre mim, e seu pau
mole descansando sobre minha coxa.
Cuidadosamente eu me virei, ficando de frente para ele. Gael
parecia exausto, e apenas deitou-se contra meus seios. Meus dedos
formigaram de vontade de abraçá-lo, mas não me atrevi. O sexo não
parecia tão íntimo quanto um abraço.
Eu estava toda suja de porra, exausta e entorpecida.
Eu só queria tomar um banho e me deitar numa cama quente.
Tudo que aconteceu, parecia um delírio idílico.
De repente ele se ergueu. Vi seus olhos escuros ainda
brilhando e um sorriso despontou no meu rosto.
— Você gostou, Celina?
Assenti, até porque não adiantava negar.
— Doeu?
— Um pouco.
— Certo. Vamos para o hotel que preparou nossa suíte de lua-
de-mel.
Então ele me deixou. Sentou-se no banco e puxou a calça.
Depois, saltou para o banco da frente novamente, eu o observei
quase sem acreditar que Gael estava tão recuperado quando eu mal
conseguia manter meus olhos abertos.
Busquei o vestido, e me preparei para voltar para o banco da
frente. De soslaio, vi a sujeira que havíamos feito, mas tentei não
pensar nisso. Apenas voltei para meu lugar, enquanto o carro
começava a andar.
— Marido e mulher — ele murmurou, fazendo com que eu o
encarasse. — Vai ser divertido.
12

Depois do que aconteceu no carro, eu estava acabada. Com olhos


exaustos, entrei no elevador seguindo pacientemente meu marido –
ou meu dono? — em direção a suíte que Ivan havia preparado para
nossa noite de núpcias.
Acontece que ele me desflorou no banco de trás do seu carro,
de um jeito que nunca imaginei.
Andamos pelo corredor em direção a uma porta suntuosamente
bonita, de madeira polida e verniz avermelhado.
Repentinamente, me vi sendo erguida do chão. Encarei Gael,
mas ele não devolveu meu olhar. Uma parte de mim dizia que era
assim que os maridos agiam na noite de núpcias, eles erguiam sua
noiva antes de entrar no quarto. Contudo, o gesto não parecia
adequado ao nosso acordo vergonhoso.
Gael me carregou pela suíte até uma cama enorme, de lençóis
claros. No centro da cama, um botão de rosa vermelha adornava a
coberta, como a mancha de um sangue de uma noiva virgem.
Eu não era mais a noiva virgem.
E não foi naquela cama que eu perdi meu hímen.
Ao fundo, a enorme janela estava aberta. O hotel era muito
alto, e não havia prédios visíveis na sua altura, mas abaixo dele era
possível ver a cidade despontando com suas luzes brilhantes.
Gael se curvou e puxou meu vestido pela cabeça. Meu corpo
ficou aquecido imediatamente, mas eu estava completamente
fadigada.
Ele iria me querer de novo?
— Vou preparar a banheira para que tome um banho quente —
ele disse.
Eu concordei.
Ele sumiu das minhas vistas e eu me deitei na cama, meus
olhos pesados. Não percebi quando adormeci, mas acordei ao sentir
a água quente me tocando. Gael havia me carregado até a banheira,
e estava me dando banho, como se eu fosse uma peça delicada de
sua vida.
— Eu não queria te machucar — ele apontou as manchas
vermelhas na minha coxa.
Olhei para baixo e vi o sangue.
— Está tudo bem — murmurei.
Ele não me tocou depois disso. Quando terminei o banho, voltei
para o quarto e me deitei na cama. Logo em seguida, senti seus
músculos nas minhas costas, e o confortável sopro de seu sono
contra minha nuca.
Ele era meu marido.
O pensamento me assustou um pouco, mas o aceitei,
inacreditavelmente confortável com o título.
Depois, tudo se apagou em sonhos estranhos. Gael, eu... um
futuro que jamais aconteceria. Sonhei com uma casa grande e
crianças no jardim. Sonhei com amor, apesar de saber que isso não
aconteceria.
Dois anos... E então tudo acabaria.
Quando eu acordei novamente, o quarto estava em completa
escuridão. Gael ressonava com a mão sobre minha cintura, e ao
longe era possível ouvir o som ritmado do climatizador que parecia
com algum defeito.
Com olhos cansados, eu tirei a mão de Gael de mim, e me
esgueirei da cama, em direção ao banheiro. Minha garganta estava
seca, e eu queria beber água e fazer xixi.
Uma parte de mim recordou-se da minha rotina habitual, e no
fato de eu não a havia cumprido hoje. Eu não havia escovado os
dentes, lavado o rosto com sabonete de enxofre, tonificado a pele
com soro fisiológico, passado hidratante, reparador de pontas nos
cabelos, colocado minha toca de cetim...
Nem meu pijama.
Observando-me percebi que estava usando o robe felpudo que
estava no banheiro. Minha parte de baixo estava incrivelmente
dolorida, parecia rasgada, e eu estava com dor de cabeça.
Subitamente, lembrei que não havia tomado meus remédios.
Tudo aconteceu tão rápido. Eu nem tive tempo de respirar. Não
havia sequer arrumado uma necessaire com minhas coisas
importante. Mesmo uma mala eu não havia feito.
Cheguei ao banheiro e procurei o interruptor. Quando as luzes
se acenderam, meus olhos arderam. Olhei-me no espelho e fiquei
apavorada com o quanto eu estava pavorosa, os cabelos
amassados, o rosto vermelho e inchado...
Eu parecia horrível...
Talvez Gael me dispensasse quando me visse assim.
Sentei-me no vaso sanitário, deixando o xixi sair de mim.
O que aconteceria agora?
Eu iria morar com ele?
Eu não sabia nada sobre ele.
Eu não tive tempo de aprender nada sobre ele.
Sequei-me e fui lavar as mãos. Olhei na bancada e vi escovas
de dentes. Azul e rosa. Imaginei que a rosa fosse minha, então a
peguei. Ivan devia ter arrumado isso. Devia ter pensado em cada
detalhe.
Curiosa para ver se havia mais coisas além da escova de
dentes, abri as gavetas. Vi escovas, produtos de higiene, e
cosméticos caros que eu só via em vídeos do Youtube sobre
skincare.
Aquilo tudo era para mim?
Fui para o quarto. Havia um closet na direita e fui até lá,
querendo ver o ambiente do quarto sem que Gael acordasse.
Acendi as luzes do closet e vi várias roupas novas, femininas,
do meu tamanho. Vestidos, calças, sapatos...
Puxei um casaco e olhei a grife da etiqueta.
Oh Deus... Aquilo devia ter custado uns vinte mil.
Eu fiquei em choque, uma parte de mim sentindo-se uma
mocinha de romances que se casa com o bilionário e agora terá tudo
que sempre quis, como uma princesa. Outra, dizendo que era
repugnante, uma prostituta de luxo não deixa de ser uma prostituta.
Minha dignidade não tinha preço. Nem minha alma.
Eu sonhava em ter coisas bonitas e caras. Mas, consegui-las
com meu esforço.
Não sou tola, eu sabia o que eu era. A moça que limpa os
banheiros. Mas, sonhava idilicamente que um dia alguém descobriria
minhas artes e eu seria... eu seria importante.
Volvi em direção a suíte, e percebi Gael de olhos abertos, me
observando.
— Você não gostou dos presentes, Celina? — ele indagou.
— São lindos. Mas, eu não devia aceitá-los.
— Você é minha esposa. Te mimar faz parte do casamento.
Eu assenti, desconfortável.
— Agradeço a generosidade. E por usar esse título. Mas, nós
dois sabemos que você me comprou.
Ele sorriu. O quarto estava escuro, mas era possível ver seu
sorriso e não parecia debochado, apenas sincero.
— Esqueça essa bobagem, Celina. Eu jurei na frente de um juiz
de paz e de um padre, duas autoridades, que seria um bom marido
para você. É só nisso que deve se concentrar.
Então ele abriu espaço na cama.
— Venha, vamos dormir — disse. — Não se preocupe, não vou
tocá-la mais nessa noite. Sei que deve estar toda dolorida. Meu pau
é enorme.
Ele estava se gabando? Não... ele estava...
Abri a boca, surpresa.
Ele estava brincando!
Não imaginava que Gael fosse capaz de brincar com algo
assim.
— Venha, Celina... Eu já sou velho, e preciso dormir, sabia?
Concordei.
— Velho você é mesmo. Já pau enorme...
Ok. Era divertido. A risada de Gael invadiu o quarto.
Era incrível. Não sei se haveria amor nesse casamento, mas
aparentemente amizade teria.
E isso era muito animador.
13

Eu levei um tempo para perceber, naquele hotel luxuoso no centro


da Capital, que a lua-de-mel foi mal planejada, feita às pressas, e
que só estávamos lá porque Gael não podia se ausentar do seu
trabalho com uma viagem, e porque a casa dele estava sendo
preparada para me receber.
Não foi uma estadia romântica, não que eu estivesse
esperando por uma. Contudo, estava determinada em passar esse
período juntos com serenidade, mas mal o vi nesses dias em que
devíamos nos aproximar.
Ele saia cedo para o trabalho, e as vezes só retornava de
madrugada. Contudo, em nenhum desses dias, ele deixou de me
procurar na cama. Depois que tomava banho, sua rotina era
esgueirar-se por debaixo do cobertor, e me buscar com mãos
ansiosas e beijos de tirar o fôlego.
Eu aprendi a acolhê-lo. Uma parte de mim ainda indagava o
que diabos eu estava fazendo, mas outra só queria aproveitar o
prazer que ele estava me dando.
Porque era muito prazeroso.
Gael sabia beijar no lugar certo. Sabia apertar com suas
grandes mãos exatamente nos pontos que me faziam virar os olhos,
ele me fazia contorcer na cama quando me fodia, e eu sempre
passava a madrugada gritando seu nome.
Mas, enfim, aquela semana terminou, e eu fui comunicada por
ele que estaríamos “indo para casa” no sábado de manhã.
Eu fiquei ansiosa, imaginando o que me esperaria. Iria me
adaptar a sua vida? Bom, eu não tinha escolha, já que seria sua por
dois anos.
Enquanto tomávamos café da manhã, eu puxei o jornal e fui ler
as notícias. Todavia, logo meus olhos focaram numa manchete que
pareceu me tirar o fôlego.
“Conto de fadas? Um dos homens mais ricos do país casou-se
recentemente com mulher que trabalhava como auxiliar de limpeza
no hospital metropolitano”.
O restante do texto falava sobre meu passado, como filha de
uma família importante, porém, falida – como eles descobriram isso?
– e sobre minha aparência, não padrão, para o gosto do homem que
escrevia a manchete.
— O que foi?
Eu lhe entreguei o papel e ele leu o texto.
— Como ele se atreve a falar assim de minha esposa? — ele
murmurou e meu coração bateu tão forte que doeu.
Minha esposa...
A proteção em seu tom fez meus olhos lacrimejarem e algo
apertar no meu peito. Eu não era acostumada com esse tipo de
amparo e apoio, mas tentei não deixar transparecer meus
sentimentos.
— Você é linda, Celina — disse, me fazendo encará-lo. —
Nunca permita que alguém a faça duvidar disso.
— É muito gentil de sua parte, mas para ser linda nesse mundo
é necessário ao menos ser magra.
Suas sobrancelhas se contraíram.
— Querida, eu adoro as suas carnes. Você não faz ideia de
como elas balançam quando estou metendo em você.
Meu rosto queimou e eu arregalei os olhos. Ele deu um risinho
baixo e voltou sua concentração para o jornal como se não houvesse
dito nada demais. Porém, em seguida, ele puxou o celular e
começou a digitar uma mensagem.
— Não fique triste, esse homem fará uma nota de retratação,
prometo.
— O quê?
— Ivan vai cuidar disso.
Eu não sabia o que dizer, então apenas o observei, surpresa.
Por algum motivo, meu olhar o deixou desconfortável, e logo ele se
levantou da cadeira.
— Fique pronta para irmos — avisou. — Termine seu café e
arrume suas coisas.
O telefone dele tocou e então ele atendeu, sem me encarar.
Era um assunto de negócios, e eu percebi que Gael investia na bolsa
de valores, porque rebatia a venda de algumas ações com alguém
do outro lado da linha.
Eu não sabia nada sobre ele.
Eu não sabia como seria a casa onde iríamos morar.
Gael apenas me comunicava as coisas, como se eu devesse
adivinhar tudo.
— Não concordo com isso — ele disse.
Era tão calmo, mesmo quando discutia valores astronômicos.
Era incrível como ele era controlado, e em como seu tom nunca
parecia se elevar.
Quando ele desligou o aparelho, voltou para a mesa, para
terminar seu café.
— Estarei em reuniões hoje — disse, e eu soube que ele não
iria me acompanhar até sua casa.
— É sábado.
— Eu sei. Eu não paro.
— Mesmo no final de semana?
— Estarei em casa a tempo de jantarmos juntos — ele avisou.
— Aliás, você precisa falar com Ivan sobre a contratação de
funcionários para o seu estúdio. Não estou te apressando, apenas
lembrando que também tem muito o que fazer.
Assenti. Era estranho ter essa vida.
— Eu gostaria de que minha assistente fosse uma colega do
hospital, que também trabalhava na limpeza.
— Passe o nome dela a Ivan — ele disse. — Aliás, precisa
também passar a Ivan uma relação de materiais que irá usar para
começar seu trabalho.
Gael falava tão sério. Ele realmente respeitava meu sonho de
artesã.
— Muito obrigada, Gael — eu disse.
Um sorriso animado surgiu nos seus lábios másculos. Eu
queimei de vontade de beijá-lo, mas claro, não o fiz. Depois, ele se
levantou e saiu.
14

— Eu não acreditei quando aquele homem bonito chegou no


hospital me ofertando uma vaga de emprego. Você saiu tão
repentinamente, sem aviso-prévio, e daí veio a oferta para mim...
Eu sorri. O café na minha frente estava quente, mas eu não
sentia vontade de bebê-lo. Estávamos na enorme sala de estar,
sentadas em sofás incríveis, cercadas por uma decoração que
lembrava as casas de mostruário das revistas que ficavam na
recepção do hospital.
— Celina, esse lugar é lindo!
— Sim, mas eu me culpo. Estou aqui pelos motivos errados.
— E eu estou pelos certos numa casa de aluguel cujo telhado
está quase caindo na minha cabeça — ela retrucou, irônica. — Quer
parar de se culpar? Além disso, você está famosa, tem fotos suas
com Gael Mello em todos os sites!
— É estranho para mim, Maria.
— Só viva, Celina. Estou te dizendo, tenho mais experiência de
vida que você... Está tendo a chance única de trabalhar no que
gosta, de viver num lugar bom, e pelo que me disse, esse Gael é
gentil com você... Aproveite.
Eu concordei. Era estranho pensar assim, mas eu não havia
tido escolha, não é? Precisava me perdoar por estar vivendo com um
homem que me comprou. Se havia alguma culpa ali, era nele, em
meu pai, e na circunstância.
— Então, você vai aceitar trabalhar comigo?
— E eu vou deixar a oportunidade de limpar banheiros o resto
da vida ganhando metade do que ganharia com você? Está louca?
Eu não pude deixar de rir. Maria era o que de mais próximo eu
tive de amiga. Ela nunca me criticou ou me rebaixou pela minha
aparência e solidão, ao contrário, sempre me tratou como uma igual.
Nos Natais, quando eu estava sozinha, ela me convidava para comer
frango na sua casa mesmo ciente de que seu marido podia causar
algum problema, bêbado.
— E então? Como é a casa?
— É enorme — disse. — Um pouco assustadora.
Viver com Gael era assustador num todo. Eu andei
rapidamente pela casa, três andares repletos de quartos, como se
muita gente morasse aqui.
— Assustadora?
Ela iria me julgar se eu dissesse que queria ter conhecido a
casa na companhia de Gael? Que o som dos meus passos solitários
me davam arrepios?
— Eu... eu estou assustada com tudo que está acontecendo.
— Assustada? Pelo que as ex-namoradas de Gael estão
falando na internet?
Eu pisquei.
— O quê?
— Oh, você não leu... — ela murmurou, percebendo ter
cometido uma gafe.
Meus pensamentos começaram a andar rápido, minha mão
imediatamente buscando o celular.
— Não dê atenção a isso, Celina. Ah, por que fui abrir minha
boca? Celina... São só mulheres despeitadas porque Gael Mello se
casou com você...
A tela do celular abriu num site de fofocas. Uma foto minha
apareceu. Era uma foto do ano passado, numa confraternização do
hospital. Eu usava calça jeans e camisa de flanela. Estava inchada
pelos remédios da depressão, e meu cabelo estava um pouco
quebrado nas pontas. Nos pés, uma rasteirinha barata parecia
estampar o contraste com a foto do lado, de Gael usando um terno
Armani, abraçado a uma atriz famosa, de corpo escultural, cabelos
longos frutos de horas no cabeleireiro, e vestido de grife.
— É despeito, Celina — Maria insistiu.
Eu li a manchete. A atriz questionava o que fez Gael se casar
comigo. Ela parecia revoltada, mas dizia que não acreditava que o
casamento duraria muito, pois Gael gostava de desfilar com
mulheres bonitas e famosas.
“Gael Mello já circulou com as mulheres mais bonitas do país.”,
o site objetava.
“Eu acredito que esse casamento é um acordo de família,
algum enlace de negócios”, a atriz afirmou, acertando em cheio.
Maria se levantou e sentou-se ao meu lado. Ela pôs uma mão
no meu ombro, e a outra me forçou a baixar o celular.
— Ignore isso, Celina. É só inveja. Você se casou com um dos
homens mais cobiçados do país, é claro que vai ter inveja.
Concordei. Palavras maldosas faziam parte da minha vida
desde que eu me lembrava. Já nem doía mais, tanto.
— Acho que Gael tinha essas mulheres lindas, mas era muito
solitário — apontei. — Por isso ele me quis como esposa, ou mulher,
ou prostituta, ou seja lá o que ele quis... Não é só pelo sexo. Eu
percebi como ele gosta de ter alguém com ele no café da manhã, e
ter alguém com ele na cama, não só pra transar.
Maria me encarou por alguns segundos, de repente seus olhos
brilharam.
— Você gosta dele.
Não era uma pergunta. Ele estava afirmando algo que eu já
sabia, mas não queria reconhecer.
— Um pouco.
— É por causa do sexo.
— Não... — Mas, era, também. — Ele diz que eu sou linda —
eu não consegui conter o sorriso.
— Oh, que romântico! Isso me lembra os livros da Penny
Jordan.
— E da Diana Palmer — afirmei, concordando, e nós duas
caímos na gargalhada. — Eu me sinto uma mocinha dos livros dela,
mas acho que no final será um terror do Stephen King, comigo de
coração quebrado e ele voltando para as mulheres lindas da vida
dele.
— Pelo menos você vai sair rica, meu amor! Melhor chorar em
Paris que na favela!
Maria tinha esse poder de me fazer rir, mesmo nos piores dias.
Quando nos conhecemos, eu estava no meio de uma crise de
ansiedade, e tínhamos que limpar um banheiro que havia sido
completamente vomitado por uma grávida. Ela fez tanta piada da
situação, que me animou e me acalmou.
E era incrível, porque a vida dela não era nada fácil.
— Em Paris, ou na favela, eu não quero chorar, Maria...
Ela sorriu, dessa vez era tristemente. Não disse, mas eu
entendi que não haveria escolhas. Eu iria chorar, querendo ou não.
Porque tudo isso começou de uma forma muito errada, ele me
comprou, me forçou a ele e, ainda assim, eu sei que sentirei sua falta
quando esses dois anos acabarem.
15

Maria e eu conversamos pela tarde toda, entre café, bolos e


perspectivas do trabalho que iríamos começar, juntas, na segunda-
feira. Mal percebemos quando Gael apareceu, com seu terno escuro
e seu olhar intimidador.
Maria abriu a boca quando o viu, como se estivesse
deslumbrada pelo homem, e eu gaguejei quando a apresentei a ele.
— É um prazer conhecê-la — ele estendeu a mão a fim de
cumprimentá-la.
Ok. Isso era muito estranho, toda a situação. Maria e eu,
semana passada, éramos as moças da limpeza do hospital. Agora
ela estava cumprimentando o homem que estampava a capa das
revistas do país enquanto eu dormia com esse mesmo cara.
Logo depois ela foi embora. Eu a levei até a porta e ela
sussurrou um “aproveite” que me fez ficar lívida de vergonha.
Quando retornei Gael estava me esperando, sentado no sofá
com as pernas abertas e as mãos repousadas sobre as coxas.
— Estou um pouco cansado — ele disse, e eu percebi as
olheiras embaixo dos seus olhos.
— Algum problema?
Ele inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse
pensando.
— Nosso casamento está sendo comentado em todo lugar.
Eu sabia. Senti algo apertando minha garganta, talvez ele
estivesse com vergonha de mim.
— Sim, eu vi algumas notícias. Suzanne Alencar foi bem
ofensiva.
Ele entendeu minha dica. Suspirou alto, mas não pediu
desculpas.
— Suzanne é um pouco... insistente.
— Ela ainda quer você.
— Ela é muito cara — ele comentou. — Não vale o sexo.
Era isso. Cada mulher da vida dele tinha um preço. Eu nem
sabia me enquadrar onde estava no seu orçamento.
— Seu pai está tentando me extorquir, querendo ir a público
dizer que você foi comprada.
Eu fui.
— Vou pagar o que ele pediu, porque não quero que seja
exposta a fofocas... Só quero que nos deixe em paz.
Ele parecia... um marido protetor. Eu tentei evitar o pensamento
porque qualquer pensamento que não fosse o racional podia acabar
comigo.
— Não sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada. Eu conheço você e sua família. Sei
bem que não faz parte disso.
Eu faço totalmente parte disso, mas ele... ele era gentil em sua
colocação.
— Eu quero fazer isso dar certo, Celina — ele murmurou.
Sua cabeça pendeu para trás e ele fechou os olhos,
suspirando. Era um Gael fadigado que eu não conhecia.
— É algo difícil pela forma que nos conhecemos. Começou
errado...
— Não pode terminar certo?
Podia?
— Eu não sei nada sobre você — comentei. — Podia me deixar
conhecê-lo nesses dois anos.
Ele ficou muito quieto. Então sua cabeça ficou ereta e ele me
encarou.
— Bom, posso me abrir um pouco com você, pelo bem do
nosso casamento. Mas, querei outras coisas em troca...
Era muito sugestivo e não pude deixar de rir.
— Você só pensa nisso?
— Falta poucos anos para eu me tornar um velho brocha, então
tenho que aproveitar.
Eu mal conseguia esconder a gargalhada agora. Era algo
interessante, o fato de que Gael conseguia me fazer rir, quando
poucas pessoas o faziam.
— Também quero saber sobre você. Tipo, há quanto tempo
toma aqueles remédios que esconde na bolsa.
Eu fiquei lívida. Não esperava que ele tivesse percebido.
— São antidepressivos, e faço tratamento desde que saí da
casa dos meus pais. Fui diagnosticada com depressão, ansiedade e
crises de síndrome do pânico.
Fui absurdamente sincera. Ele não pareceu surpreso pelo fato,
apenas concordou com a face, como se compreendesse tudo.
— Isso é vergonhoso para você? — questionei, mesmo assim.
— Não. Também não me surpreende, tendo em vista a forma
como sua mãe te tratava.
Lágrimas brotaram nos meus olhos. Pisquei rapidamente para
dissipá-las.
— Você é minha esposa. Agora eu cuido de você — ele disse,
como se tentasse me tranquilizar.
A forma como ele dizia isso, a maneira como era cuidadoso...
Eu precisava saber...
— Você gosta de mim?
— Evidente. Me casei com você.
— Não esse tipo de gostar. Queria saber se existe a
possibilidade de existir paixão.
— Paixão? — ele pareceu meditar sobre a questão como se
fosse uma reunião de negócios. — Isso é coisa de jovens, Celina. Eu
já sou um homem de certa idade, não seria prudente me apaixonar
por alguém. Especialmente quando também assinei um acordo que
me permite apenas dois anos ao seu lado.
— Eu entendo. O que me incomoda, é o “por que eu”?
— Você parece adequada. Tem boa educação, mas não é uma
dondoca. É gentil, trabalhadora, e eu conheço a forma como foi
criada, o que me faz ver que não é mimada. Além disso, você me
atrai fisicamente. É gostosa.
Eu não sei porque estava tão magoada com essa droga toda.
Esse homem era sincero, estava sendo gentil e não parecia disposto
a me enganar. Ele também estava sendo bom em custear meu novo
trabalho, e parecia disposto a me dar uma boa vida pelo tempo que
teríamos juntos.
Era muito mais do que já haviam me oferecido na vida inteira.
— Então, não me falou sobre você.
— O que quer saber?
Eu não sabia exatamente como articular todas as coisas que eu
queria descobrir. E saber que ele não tinha pretensões de nutrir algo
por mim, meio que me bloqueou sobre saber ainda mais sobre ele.
Porque, ao contrário dele, eu não saberia evitar uma paixão.
— Eu não sei. Você podia começar me falando sobre o seu
trabalho.
Ele riu.
— É uma merda. Cheio de gente tentando me passar a perna,
cheio de gente puxando meu saco, mas torcendo pela minha ruína.
Eu lido com falsidade vinte e quatro horas por dia.
Isso era muito triste.
— Você não tem amigos?
— Amigos? — ele arqueou as sobrancelhas, pensativo. —
Acho que... Não.
Eu queria colocá-lo num potinho e apertá-lo. Não devia, mas
fiquei tão tocada pela sua solidão. Era uma faceta de Gael que eu
não conhecia, mas imaginei como ele ficou assim. Também teve uma
família como a minha? Também teve que experimentar a indiferença.
Sua carapuça era uma proteção contra as dores que já sentiu?
— Ah, Celina... Você é tão bonita quando fica pensativa assim.
Ele se ergueu, me fazendo perceber o volume em suas calças.
Gael cruzou o espaço estreito entre nós. Então me beijou.
E era como se estivéssemos juntos buscando o conforto um do
outro.
Incrivelmente, apesar de tudo ser apenas um acordo, um
contrato, trazia uma segurança inexplicável. Não havia mentiras, não
promessas vazias. O fato de ele ser tão sincero me fez sentir que ele
não iria me magoar.
Ele não.
Mas, se eu me permitisse apaixonar-me, iria acabar me
autodestruindo.
Nossos lábios deslizaram juntos. Ele mordiscou meu lábio
inferior, antes de sua língua escorregar entre meus dentes, impondo
sua força máscula, me fazendo gemer como uma gatinha manhosa.
— Esposa — sua voz me chamou e peguei fogo pelo título. —
Vamos para o quarto.
16

Minha mão deslizou sobre seu peito másculo, meus dedos ansiosos
para traçar o caminho de seus músculos, adorando a sensação
desse homem sobre minha pele.
Eu podia sentir o coração de Gael contra minha mão. Ele tinha
um coração. Será que era de gelo?
Sua boca se moveu no meu ouvido. Seu hálito quente causou
um frenesi de sensações. Eu me contorci em seus braços, sem
saber direito como reagir aos estremecimentos que ele provocava.
O quarto estava escuro. O ambiente era tão silencioso que eu
quase podia ouvir as batidas frenéticas do meu coração. Lá fora, não
havia o som costumeiro do trânsito que sempre me acordava no meu
antigo apartamento.
Era noite e havia silêncio.
Gael estendeu a mão e acendeu o abajur de cabeceira. A
luminosidade me deixou um pouco avergonhada. Agora ele era
capaz de ver as expressões de meu rosto.
— Por que você quer saber mais sobre mim? — ele indagou,
nitidamente curioso, seu corpo elevado acima do meu, suas mãos
não deixando minha pele, mas sua boca não voltando para lamber e
traçar caminhos.
— Não sei nada sobre você.
— Sabe o suficiente. Eu quero você.
Ele abriu o caminho dos meus botões, minha blusa espichando-
se enquanto ele me deixava apenas de sutiã.
Depois, foi a vez dos meus seios serem libertados. Eu podia
sentir o ar quente de sua boca contra meus mamilos enrijados. Então
suas mãos começaram a puxar minha calça. Ele ainda estava
vestido, mas claramente me queria nua. Eu não conseguia pensar
direito no quanto estava exposta, tudo que importava era deixar que
ele me colocasse a seu bel prazer.
— Você está usando as calcinhas de cetim que eu te comprei
— ele parecia orgulhoso do fato. — Gosto como seus pelos marcam
ela...
Seu dedo deslizou pela polpa volumosa do meu centro,
molhando o tecido. Eu gemi enquanto ele sorria satisfeito pelas
reações que provocava.
— Celina... Vou te falar um pouco sobre mim. Preste atenção.
Eu o senti inteiro sob mim. Todos os pelos do meu corpo se
arrepiaram.
— Eu cresci sem pai, e com uma mãe como a sua: que me
culpava pela vida de merda que ela escolheu.
Seus polegares fincaram no cós da minha calcinha e ele a
desceu, me deixando completamente nua.
— Mas, ao contrário de você, eu tive alguém que me ajudou.
Uma tia solitária e que criava gatos, chamada pela minha mãe de
solteirona, foi a pessoa mais feliz e alegre que eu conheci. Ela me
deu um quarto na sua casa, para que eu fugisse do meu lar horrível,
me ajudou a pagar uma faculdade, e me deixou sua propriedade
como herança quando faleceu. Eu vendi a propriedade e investi no
meu primeiro negócio imobiliário, que deu certo. Foi assim que eu
comecei.
Ele me girou na cama. Eu senti o travesseiro contra meu rosto,
sua mão deslizando pela minha espinha.
— Fique de joelhos.
Ele gostava de me foder por trás. Eu não sabia se era porque
meu rosto não era muito agradável, ou porque minha bunda o
excitava.
Eu o ouvi se mover atrás de mim. Ele tirou a roupa rapidamente
e então voltou, seus dedos quentes abrindo caminho os lábios da
minha boceta, acariciando com o dedo. Eu gemi alto, e ele riu
baixinho.
— Mãos para trás — ele disse.
Eu obedeci, mas me arrependi quando senti algemas
apertando meus pulsos. Levei um susto, e tentei me levantar, me
afastar, mas ele não permitiu. Gael ergueu minha bunda para cima,
me deixando sem defesas, completamente ao seu dispor e sua
vontade.
Então ele se afastou. Foi até seu closet. Eu o observei com o
canto dos olhos, quando o vi retirando um chicote de couro de lá.
Ok. Isso estava estranho. Muito estranho.
— Eu... eu não quero fazer isso — disse, mas ele nem se
importou.
Quando ele voltou para cama, senti o material acariciando
minhas costas, enquanto a ponta do seu pau tocava minha entrada
de uma forma quase espontânea.
— Você não leu o contrato, Celina? Você é minha para o que
eu quiser, durante dois anos. E eu a quero submissa, e é assim que
será.
Minha boceta esquentou e estremeceu diante de suas palavras.
Não devia excitar, mas excitou. Era vergonhoso demais que eu
sentisse desejo enquanto ele me deixava naquela posição, e tocava
um chicote nas minhas costas.
Um estalo ecoou nas minhas costas. Eu choraminguei, mas
não era de dor. Minha boceta apertou, e eu só queria que ele
metesse logo e acabasse com aquela tortura.
E ergueu a mão e bateu de novo. Mais uma vez. Eu mal
conseguia respirar, tesão e vergonha eram tão poderosos que
dominavam tudo.
Eu queria me esconder, afundar num canto e nunca mais surgir.
Porque isso não era normal. Não era normal ser subjugada assim e
ainda sentir a boceta implorando por satisfação.
De repente sua pica afundou em mim. Meu corpo sacudiu sem
controle, enquanto uma dor latejando pela intensidade que ele meteu
dominou tudo.
Eu mal conseguia respirar, a cabeça forçada contra o
travesseiro, sem minhas mãos para me apoiar, sua carne afundando
em mim.
Ele acelerou o ritmo. Minhas paredes internas apertaram seu
pau. Gemidos de êxtase escapavam de minha garganta, enquanto
eu sentia meu corpo sendo levado a um local mais e mais alto.
Outra chicotada. Dor e prazer, completamente ao seu controle.
— Implore para que eu a deixe gozar, Celina. Eu quero ouvi-la
falar.
Gemi. Minha dignidade perdeu-se na certeza do quanto eu
precisava ser dele.
— Gael...
— Implore...
— Por favor, mete... mete forte... Gael...
Ele começou a bater seu quadril na minha bunda. Seu pau
inchado cada vez mais e mais fundo dentro de mim. Eu estava tão
sensível que os espasmos de prazer que sentia não me permitia
controlar-me.
Então explodi em mil pedaços, mesmo que ele ainda não
tivesse gozado. Minha boceta e meu clitóris se contraiam com força,
meu corpo se contorcia contra sua carne dura, minha boca gritava
seu nome enquanto me afundava em prazer.
Minha boceta ainda tremia e apertava, enquanto ele metia sem
parar, até despejar jatos dentro de mim. Meu corpo estava caído na
cama, sem forças, mas ele ainda mantinha minha bunda ereta,
metendo e metendo, o som das suas estocadas preenchendo o
ambiente.
— Eu tô gozando na sua boceta — ele disse.
Gael me soltou momentos depois, eu não tinha forças para me
levantar da cama, minhas costas doíam, minha bunda latejava e,
ainda assim, meu corpo estava afundado em satisfação.
17

— Não devia ter emagrecido. Seu nariz ficou maior — minha mãe
comentou, me fazendo sentir um vômito inesperado surgir na minha
garganta.
Nunca era suficiente para ela.
Estávamos sentados à mesa. Meus pais haviam comparecido
aquela noite a um jantar do qual não havia sido avisada, e no qual
não estava preparada para ter.
Eu sempre precisava erguer minhas defesas com minha mãe.
Precisava preparar meu escudo para que não doesse. É incrível
como a gente pode amar alguém que nos magoa tanto.
— Mas, enfim, Celina... Percebeu que eu estava certa o tempo
todo? Foi só você emagrecer que arrumou um marido rico e bonito.
Seu apontamento me fez erguer os olhos para meu pai, que
tomava uma taça de vinho. Ele me devolveu o olhar de um jeito
estranho, e então eu soube que minha mãe não fazia ideia de que eu
havia sido oferecida em sacrifício para seu tratamento.
— Ah, eu fiquei tão magoada, Celina, por não ter sido
convidada para o casamento.
Eu mexi o garfo na massa, sem fome. Depois, olhei para Gael,
que estava estranhamente quieto e observador. Então, ele pigarreou
e explicou:
— Foi um casamento apressado. Nós iríamos ter uma grande
festa, mas quando começamos a planejar, vimos que era complicado
e desgastante.
— Ainda assim, os pais da noiva deviam ter sido convidados —
ela disse, sem o menor tato.
— Sinto muito, foi por impulso — eu disse, cortando o diálogo
entre minha mãe e Gael. Ele tinha um temperamento forte e eles
acabariam brigando.
— Sempre egoísta — ela disse. — Nunca pensa nos outros. Só
em si mesma. É por isso que eu digo que a maternidade é muito
romantizada. Filhos não nos dão toda a alegria que imaginamos. Eu
amo meus filhos, mas odeio ser mãe. Você vai entender quando for
mãe, todos os sacrifícios que precisamos fazer, e ainda assim sequer
nos consulta para seu próprio casamento.
Minhas vistas nublaram. Eu sempre me sentia muito mal
quando conversava com ela. Eu sentia culpa por ter nascido. Pelo
trabalho que dei. Por nada em sua filha ser como em seus sonhos.
Oh Deus... Precisava tomar meu remédio, para não ter um
ataque em pleno jantar.
Quando a imagem começou a ficar nítida novamente, a percebi
bebendo um copo de suco natural. Estava bem, aparentemente,
apesar de sua doença.
— Sinto muito...
Por tudo. Eu queria ter sido uma filha melhor. Eu queria que
tivesse orgulho de mim. Eu queria... que me amasse como eu a amo.
— Mas, ainda temos tempo para um casamento adequado,
uma festa. Por que não?
Eu olhei para Gael, e ele era uma incógnita. Eu não sabia como
recusar aquilo, e buscava sua ajuda. Porém, ele desviou o olhar de
mim, e eu me senti confusa e abandonada.
— Mãe, seria estranho... Nós já somos casados...
— Minha única filha se casa com Gael Mello e eu não posso
expor isso a todos os nossos amigos? Não vou ter essa conversa!
Teremos uma cerimônia de confirmação de votos, e uma festa de
parar a cidade! Seu pai pagará por tudo, vocês dois só precisam
comparecer.
Meu Deus, ela não sabia que meu pai estava falido? Ela não
sabia que ele só não estava preso porque eu havia me vendido para
Gael?
Busquei mais uma vez pelo olhar de Gael. Porém, ele estava
distante e frio. Isso só me deixou mais abatida, mais exausta. Era
como se eu estivesse lutando aquela batalha sozinha.
E, no fundo, estava... Não sei porque queria que Gael agisse
como um marido protetor, quando, na verdade, ele era apenas um
comprador.
Quando finalmente terminamos a refeição, fomos todos para a
sala de estar. Minha mãe começou uma cansativa conversa sobre a
reforma de um dos quartos para uma sala de cinema em casa, e
meu pai permanecia em silêncio, absorvido por algo que parecia
culpa e vergonha.
Depois, ela começou a falar de como planejava o casamento.
Nós três em silêncio, ouvindo seus planos estravagantes – e caros –
como se dinheiro fosse algo que se encontrasse em árvore.
— Gostariam de pernoitar? — Gael indagou, depois de um
tempo.
Não parecia um convite, mas um lembrete de que estava tarde,
e que eles deviam ir embora.
— Será um prazer — minha mãe respondeu.
Ok. Foi inesperado.
Enquanto Gael chamava uma das empregadas da mansão –
que eu sequer tive o prazer de conhecer – e encaminhava meus pais
a um dos quartos, eu permaneci em seu aguardo, tentando ter uma
conversa difícil.
— Gael —murmurei quando ele voltou. — Eu sinto muito.
Seu olhar me queimou. Ele não estava feliz. Nem um pouco
feliz.
— Eu não sei como dissuadi-la de uma festa de casamento,
mas eu...
Ele ergueu a mão.
— Pare. Eu não me importo com a droga de um casamento. O
que me importa é que agora sua mãe vai se enfiar na nossa vida
com a desculpa da cerimônia.
Eu sabia. Era verdade.
— Por favor, eu falarei com ela. Ela está com problemas de
saúde, e com certeza não poderá...
— Preste atenção, Celina — ele me cortou. — Eu quero você.
Só você. Não quero a porra dos seus pais, nem seus primos, tios,
ninguém da sua família. Não quero mais ninguém enfiado na nossa
vida.
— Por favor, tente entender, quando nos casamentos, a família
vem no pacote. E depois vem filhos...
Não sei porque disse isso. Foi automático.
— Filhos? — repetiu, amargamente.
— Não estou dizendo que ficarei grávida — disse, rapidamente.
— Apenas, que um casamento inclui isso.
— Que bom! Porque eu não quero um fedelho chorando a noite
toda na minha casa!
Lá vem... Vômito e vistas nubladas. Porque não tomei a
duloxetina hoje? Teria me ajudado a passar esse dia.
— Você é um desgraçado — eu disse.
Não sei como. Nunca consegui responder alguém assim. Mas,
algo avançou em meu âmago ao ouvir Gael falando isso de um bebê.
Um bebê que ele sequer tinha. Porém, uma possibilidade, já que
fazíamos sexo.
Mas, enfim... era algo que eu teria que saber: Gael pagou por
mim, e no pacote um bebê não estava incluso. Se os
anticoncepcionais falhassem, eu estava sozinha.
A imagem de um bebê no meu colo me trouxe conforto, apesar
das dificuldades que consequentemente ocorreriam. Porque seria um
corte definitivo na solidão.
Não... não... Não podia me ater a isso. Não podia pensar nisso.
Minhas vistas voltaram a clarear, e eu ergui minha face para
meu marido. Percebi um certo olhar divertido nele.
— Desgraçado, Celina? Eu sou a salvação de sua mãe.
Não respondi porque era verdade, e porque aquele jantar me
fez ficar mais e mais ciente de que eu era uma mercadoria
comprada.
Talvez os momentos bons que vivemos me levaram para um
mar de paz, onde eu quase acreditei nesse casamento. Agora, a
enxurrada de palavras me trouxeram a realidade. Assenti. Eu era um
objeto para seu uso. E como tal devia permanecer em silêncio.
— Me peça perdão Celina.
Havia algo no tom da voz dele. Algo inexplicável. Era como se
estivesse absurdamente excitado.
— Me desculpe, Gael.
Ele riu. Talvez pelo meu tom indiferente.
— Não aqui, esposa. No quarto.
18

Quando a porta se fechou, minhas pernas tremeram. O quarto na


semiescuridão parecia cenário de um filme de terror, mas eu sabia
que algo mais pornográfico aconteceria.
Eu podia sentir a respiração de Gael nas minhas costas. O
hálito dele tinha cheiro de canela. Não sei porque, eu passei a adorar
aquele cheiro.
Uma mão pousou no meu ombro e eu precisei esconder um
gemido. Ele tinha essa facilidade, de provocar sensações poderosas
com o olhar ou com um toque leve.
— Você é tão submissa... Eu gosto tanto desse seu lado.
A lembrança sobre o que ele falou sobre filhos me tomou. Gael
não os queria comigo porque eu era sua puta por 24 meses. Ele não
iria querer um bebê de uma mulher que se vendeu.
O misto de dor e calor me tomou quando sua mão percorreu
minhas costas, abrindo o zíper do meu vestido. Sua mão percorreu
minha pele nua me causando arrepios, e achegou-se na minha
cintura. Levemente, ele segurou-me ali e me puxou contra ele.
Eu não pude esconder o som de meus lábios quando senti sua
carne dura pressionando minha bunda.
— Ah, esse seu bundão, Celina... Me deixa doido, tem ideia?
De repente outra mão me empurrou para frente, para que eu
me segurasse no dossel da cama. Eu fiquei curvada, a bunda
elevada para ele, e uma parte de mim se perguntou o que diabos ele
iria fazer.
Era uma posição desconfortável, e vergonhosa. Eu, Celina,
estava abaixo, e minha bunda, acima. Era indigno.
— Pare com isso — murmurei.
— Você tem vergonha? Não teve de me falar sobre fedelhos, e
sobre aceitar a ideia ridícula de uma festa de casamento para sua
mãe. Você me provocou, Celina...
Ele desceu meu vestido. Meus seios suspensos no ar, minha
pele completamente exposta para ele. Uma mão quente se moveu
contra minhas coxas, e a sensação do seu aperto me fez gemer alto.
Vergonha, indignação... Prazer...
Meu coração batia tão forte que achei que não fosse aguentar.
Dedos se moveram pela pele. Minha calcinha foi arrancada
como se não fosse nem um pouco resistente. Subitamente, seus
dedos separaram meus lábios da boceta, e eu choraminguei.
Então ele ergueu a mão. Eu pude ver o movimento por um
espelho lateral. Mesmo assim, uma parte de mim só acreditou
quando senti o tapa forte na minha bunda, boceta, me fazendo
contorcer.
O que era isso. Minha boceta latejou sobre o toque forte e eu
gemi alto, não conseguindo resistir ao prazer que ele provocou.
Sua mão desceu novamente.
Eu gritei. Minha vagina amou a força da palmada, minha carne
estava arrepiada, eu respirava tão forte que só conseguia ansiar pelo
próximo toque.
Eu sei. Era repugnante.
E forte.
E latejante.
Eu não conseguia parar de me contorcer, minha vagina pingava
de antecipação. Eu podia gozar só pelos tapas.
Mais uma palmada. Outra. Eu tentei apertar as coxas para
aliviar um pouco, mas Gael pegou as duas polpas da minha bunda,
abrindo-as, me fazendo gritar alto, chamando pelo nome dele,
fazendo com que eu me sentisse a pior das criaturas.
Ele acelerou o ritmo. Eu comecei a me contorcer, enquanto
meu corpo inteiro sacudia.
— Gael — eu gritei.
— O quê? Você quer gozar?
— Gael! Eu estou... por favor...
Ele colocou uma das mãos na minha boceta, enquanto a outra
continuava a bater na minha bunda. A mão no meu centro começou
a espancar meu clitóris, e eu senti cada nervo de minha carne
explodindo em orgasmos que mais pareciam toneladas a me
esmagar.
Tudo em mim se contraiu. Eu vi estrelas, enquanto perdia as
forças e quase caía para o chão. Gael me segurou e continuou a
bater forte na minha boceta, fazendo com que eu gritasse de prazer.
Foi assim, o maior orgasmo que já tive. Sequer havia tido
penetração. Minha boceta tremia, apertava, latejava como se
estivesse pegando fogo, meu mel escorria pelas minhas coxas, e mal
pude acreditar quando ele me deitou na cama.
Eu podia dormir pelo resto da noite, mas vi seu pau enorme
surgir entre sua calça. Ele se deitou do meu lado, e me encarou.
— Monte, como se estivesse num cavalo. Quero que cavalgue
no meu cacete.
Eu devia recusar porque não tinha mais forças, mas temi o que
ele pudesse fazer, porque talvez eu não resistisse. Além disso, eu
ansiava por esse pau como nada até então.
Resvalei para cima dele, cada perna de um lado. Me ergui e
fiquei montada. Eu sabia que minha boceta estava aberta, ansiando
pelo seu pau. Eu estava exausta, e ainda sabia o quanto queria ser
fodida.
Balancei em cima dele. Minha boceta estava quente e molhada
então foi muito fácil seu pau enorme entrar. Ele empurrou tão fácil,
penetrando na minha entrada lisa, e eu senti alívio por meu corpo
aceitá-lo tão bem.
Então ele me puxou para baixo e eu gritei, sem controle. Eu
podia sentir suas bolas me tocando. Seu comprimento inteiro em
mim. Eu tentei me lembrar que meus pais estavam a alguns quartos
do meu e me ouviriam gritar, mas não era possível controlar.
Comecei a cavalgar. Eu podia escutar o som ritmado do
encontro dos nossos corpos. Estava tão tensa, sem controle, que
mal conseguia acreditar que meu corpo, que havia acabado de ser
satisfeito, pudesse estar explodindo em gozo novamente.
— Você é minha putinha, Celina?
— Sou... sou...
Eu explodi novamente. Eu pude ouvir o riso debochado dele em
algum canto de minha mente.
Mas, não tinha mais forças para prestar atenção. Enquanto
meu corpo sacudia, meus músculos doíam, minha boceta queimava,
eu percebi meus olhos fechando.
Eu estava acabada.
19

Ao longe era possível ouvir o som dos pássaros, no começo


daquele novo dia.
Gael dormia profundamente ao meu lado, mas eu havia acordado
antes do sol raiar, e não havia conseguido dormir novamente,
mesmo exausta e cansada.
Acima de nós eu podia ver o teto num gesso cor marfim. Havia
detalhes em dourado, figuras aparentemente gregas que tomavam
formas com as sombras que se projetavam pela luz que surgia das
cortinas entreabertas.
A manhã era fria, como eram todas as manhãs naquela região.
Meu corpo dolorido sentiu o ar gelado brincando com a pele,
causando arrepios diferentes daquele que Gael causou durante a
noite.
Virei minha cabeça e o encarei.
Esse homem me satisfazia de uma forma louca, que me
constrangia na mesma medida que me causava um turbilhão de
prazer.
Ele gostava de me deixar submissa, de me deixar de quatro,
exposta. Percebi que bater na minha bunda lhe deu muita satisfação.
O pau dele estava absurdamente duro na noite passada.
Rolei para fora da cama, buscando o robe de seda que estava
aos pés dela. Uma das empregadas viria às oito horas limpar o
quarto e arrumar a cama. Gael sempre levantava meia hora antes.
Estava tudo uma bagunça e sujo. Eu fiquei com vergonha,
queria arrumar tudo antes que ela chegasse, mas precisava que ele
deixasse a cama para que eu pudesse trocar os lençóis. Todavia,
não tinha coragem de acordá-lo.
Eu não tinha coragem para muitas coisas nesse casamente...
Casamento... Que patético!
Minha boca ficou amarga com a lembrança do que ele disse
sobre filhos. Esse homem era... um canalha, um cafajeste.
Mas, era sincero também.
Obviamente ele pagou pela mulher, não por adicionais.
Eu precisava consultar um ginecologista rápido, não podia
confiar só no anticoncepcional.
Oh, Deus, nunca o vi usando camisinha.
Fui tomar banho. Não sei porque, a água quente me fez chorar.
Minha garganta doía, e meu coração estava afundado em algo que
eu não era capaz de explicar. Era decepção... nem sei pelo quê.
Acho que no fundo... bem no fundo... eu acabei acreditando
num casamento de verdade. Talvez fosse pelo sexo, mas me iludi
que acabaríamos tendo algo verdadeiro. As palavras de Gael foram
um banho de água fria nas minhas ilusões.
Com o sabonete, eu me desfiz do esperma seco nas minhas
coxas. Quando fui limpar as dobras da minha boceta, senti a dor pela
impulsividade de Gael na noite anterior.
Sério, ele era muito intenso. Ele não hesitava em machucar, e a
ardência me deixaria andando de pernas abertas o dia todo.
Depois do banho, fui até o closet para me vestir. Havia muitos
vestidos, de cores diversas. Provavelmente ele gostava que eu
usasse vestidos porque era mais fácil para uma foda rápida no
horário do almoço. Coloquei um leve, e sai do quarto.
Gael não acordou em nenhum momento, e eu fiquei aliviada.
Estava morando ali há alguns dias e não conhecia as empregadas.
Queria falar com as mulheres que limpavam ou cozinhavam, mas
não tive oportunidade.
Tudo, desde que eu cheguei, foi muito desgastante.
Entrei na cozinha, e vi uma das mulheres ocupadas fazendo
algo que parecia um pão numa sovadeira.
— Olá — eu disse, e ela ergueu a face, assustada.
— Senhora? Algum problema?
Neguei.
— Eu me chamo Celina. Não sei seu nome.
O som abafado atrás de mim me fez girar a cabeça.
— Quem gosta de andar na lama com os porcos, nunca vai se
sentar à mesa do príncipe — minha mãe estava ali, às minhas
costas, dizendo as palavras antigas que usava quando me via
apegada demais as babás.
Eu sabia o que viria, e não queria expor a moça da cozinha
àquilo, então só a encarei como se pedisse desculpas, e me retirei.
Minha mãe me seguiu.
— Por favor, não fale assim com as pessoas que trabalham
aqui.
— Falar? Não se fala com serviçais. Nem se come com o
mesmo talher deles. Não se usa o banheiro deles. Pobreza é uma
praga que pega. Como uma doença, um vírus.
Lá vinha... a ânsia de vômito, a cabeça tonta... As crises de
ansiedade. Eu estava bem, mesmo com o casamento maluco. Eu
estava controlando tudo com remédios. Em dois dias, minha mãe
tirou meu eixo.
— Como a senhora está? — tentei mudar de assunto. Logo
estávamos na sala, sentando-nos no sofá. — O tratamento está
ajudando?
— É desgastante, mas seu pai está custeando o melhor
tratamento no melhor hospital.
Meu pai... Era de rir.
— Que bom — murmurei.
— Seus irmãos me ligaram do Nordeste, para me desejar
melhoras. Falei do seu casamento. Mas, eles não virão. Eles odeiam
o Sul, você sabe.
O que eu sabia é que eles cortaram aquele cordão umbilical há
anos, coisa que eu não conseguia fazer.
De repente, som de passos. Pensei que fosse Gael, mas era
meu pai descendo as escadas. Ele encarou minha mãe com olhar
carinhoso.
— Cláudia, uma das suas amigas está no celular. Deixei no
quarto, para que atenda em privacidade.
Ela assentiu e logo se levantou.
— O café logo ficará pronto? — Meu pai questionou. — Já são
quase oito horas, é um absurdo que ainda não esteja pronto. Você
precisa colocar ordem nos seus empregados.
— O café fica pronto às oito, em ponto. Horário que Gael desce
do quarto.
Meu pai sorriu.
— Ah Celina, está bom o casamento? Sua mãe e eu ouvimos
você gritando ontem à noite.
Era repugnante.
— Você não tem vergonha de me dizer isso?
— Vai dizer que não gostou de ter um homem?
— Ter? Eu fui vendida para Gael.
— Mas, está aproveitando.
Talvez cinco gotas de clonazepam me ajudariam agora. Eu
precisava respirar e me acalmar. Esse tipo de comentário era comum
na minha família. Justificar seus erros, apontando o constrangimento
de outros.
— Minha mãe acha que você está custeando o tratamento.
— E estou. Às custas da minha filha. Acha que não me dói por
dentro?
Ele olhou para mim sem expressão.
— Sobre o casamento que mamãe quer fazer... Será mais
dinheiro...
— Gael pagará. Ele é muito rico e não irá se irritar por dar uma
festa para a mulher dele.
— A prostituta dele, você quer dizer.
A moça que fazia o café comunicou que ele já estava na mesa.
Papai se levantou, e foi até a sala de jantar. Eu não conseguiria
engolir nada, então simplesmente me afastei em direção ao jardim,
buscando ar puro e isolamento.
Ainda bem que meus pais iriam embora no mesmo dia. Eu não
suportaria mais uma hora ao lado deles...
20

Eu tinha tanta coisa para fazer naquela primeira semana em que o


Studio começou a ser montado. Eu estava convicta em trabalhar os
artesanatos com reciclagem, queria me focar em decoração de
jardins, e Maria e eu havíamos ido há alguns pontos de coleta
durante a semana para recolher latas, vinil e qualquer coisa que
poderíamos usar.
Era incrível como, para mim, nada disso era difícil e tudo ficava
perfeito no final. Talvez fosse dom, não sei. Mas, eu realmente
gostava de criar algo, ser a deusa de meu próprio mundinho.
Ivan apareceu na quarta e na quinta, falando sobre a escolha
de uma recepcionista. Ele estava fazendo entrevistas e queria me
apresentar as que julgou serem adequadas. Fiquei perplexa porque
não imaginava que teria qualquer funcionaria além de Maria, mas fui
comunicada que Gael queria dar um ar mais sério ao meu
“passatempo”.
Eu quis bater nele, mas ignorei. Quando meu Studio desse
lucro, ele iria ver uma coisa!
Ri diante do pensamento. Eu realmente acreditava que os
artesanatos pagariam minhas contas? Porém, eu sabia que os
apresentar em uma galeria iria “gourmetizá-los”. Não havia nada que
os mais ricos não faziam por algo que acreditassem serem chiques,
mesmo sendo simplesmente lixo.
Enfim, na sexta, Maria e eu começamos a separar os materiais,
organizando-os em prateleiras. Não era um trabalho complicado, e
foi divertido até alguém tocar a campainha e eu dar de cara com a
minha mãe do outro lado.
— Não é maravilhoso sermos tão próximas agora, Celina? —
ela indagou, me fazendo lacrimejar.
Era meu sonho, quando era menor. Termos uma relação de
amor. Mas, agora, parecia apenas uma enganação. Até porque
minha mãe acreditava que eu havia fisgado o peixe mais caro
naquele aquário, o que era uma mentira.
— É sim, mãe — disse.
Estávamos sentadas no rol de entrada do Studio. Maria havia
feito café e nos servido. Depois ela sumiu do lugar, provavelmente
intimidada pela aparência de minha mãe.
Cláudia era linda. Sofisticada. Tinha olhos claros, e o cabelo
cortado à nuca. Suas unhas estavam sempre perfeitas, e seu
perfume era marcante. Nunca vi minha mãe sem maquiagem, e
acreditei que ela era sempre essa bonequinha perfeita, sem defeitos.
— Como vai sua saúde? — indaguei.
— Você sabe como é. Já trabalhou em um hospital. Mas, estou
bem, agora. — Ela acenou levemente. — Vim aqui porque
precisamos acertar os primeiros arranjos do casamento. Queria que
me dissesse a data.
— Data?
— Ainda não decidiram?
— Mãe... A gente nem queria esse casamento — murmurei,
constrangida.
— Não queria o casamento? Age como se estivesse forçando
você a isso — seu tom era mordaz. — Sabe o que minhas amigas
vão dizer quando souberem que você está casada com Gael sem
uma festa apropriada? Pessoas menos importantes param a cidade
por dois ou três dias, com cerimonialistas famosos, cantores do
topo... E você aí... Sequer um bolo teve!
Eu me senti novamente a menininha massacrada. O ar
começou a me faltar. Aquele aperto no peito que me esmagava
quando as crises começavam.
— Gael foi obrigado a isso, Celina?
— O quê?
— Não sei... Talvez seu pai o tenha forçado a se casar com
você. Está grávida, por acaso?
Eu mal conseguia acreditar.
— Não...
— Ele não age como se estivesse apaixonado. Qualquer
homem apaixonado daria uma festa de princesa a sua esposa. Ainda
mais sabendo o sobrenome que você tem. Porque você sabe, não é?
Não existiam “Mellos” na alta-sociedade. Gael veio de lugar nenhum.
Ele era um pobretão quando começou a dar sorte no campo
imobiliário e financeiro. Seu pai o aceitou porque tem dinheiro, e
pode te dar uma boa vida. Mas, se fosse pelo sangue... Ele sequer
teve um pai. A mãe, pelo que dizem, era faxineira. Não que eu seja
preconceituosa, mas...
Eu queria defender Gael do tom frio. Queria dizer que não me
importava com o que ele foi ou é. Queria dizer que tínhamos um
relacionamento de respeito e cumplicidade. Eu queria dizer muitas
coisas. Mas, era tudo mentira. E tudo teria fim.
— Ele é bom para mim, mãe — disse, por fim.
— Você se adapta muito fácil a tudo, e aceita qualquer coisa —
ela decretou. — Ele não é bom para você, dado a forma como te
trata. Ele não se importa em conhecer melhor sua família.
Pressionei meus lábios. O ar parecia queimar no meu peito.
Então, enquanto ela continuava falando sem parar sobre meu
marido ruim, e sobre meus defeitos, eu consegui repetir um exercício
de infância que muito usava com ela. Eu me desliguei
completamente de minha mãe. Não ouvia ou captava suas palavras,
apenas fiquei muda, afastada daquele mundo cruel.
Talvez num sonho estranho, onde tudo o que ela dizia era
mentira, e eu tinha um casamento real, com um Gael que me amava
e se importava comigo.
Um conto de princesa.
21

Uma das facetas de meu marido, que eu passei a entender no início


daquele casamento, era o fato de que ele odiava pessoas. Gael
parecia muito bem convivendo apenas comigo, com Ivan, e com um
ou outro funcionário de sua empresa. Ele também tratava bem as
moças que trabalhavam na nossa casa. Todavia, isso encerrava ali.
Gael simplesmente odiava pessoas que tentavam impor sua
presença.
E quanto mais minha mãe aparecia em nossa casa, mais de
cara fechada ele ficava.
Era isso. Gael não conseguia fingir qualquer simpatia. Sua
carranca era expressa sem misericórdia. Ele se fechava, e só
respondia em monossílabas.
— Eu paguei por você e não pela sua mãe — ele me disse,
numa das noites. — Diga para ela parar de vir para minha casa.
Como diabos eu falaria isso?
Então, quando minha mãe insistia em ver Gael, eu inventava
que ele estava ocupado. Reuniões. Ou dormindo exausto no quarto –
o que era mentira, ele sumia para o quarto quando a campainha
tocava e ficava jogando vídeo-game. Não descia nem para dar “boa
noite”. Ela ficava revoltada com a personalidade dele, mas, na
mesma medida, estava empolgada em gastar bastante para a festa.
— Quero falar com seu marido — minha mãe disse, naquela
manhã de segunda, no Studio. Volvi para Maria, que me encarou de
olhos arregalados. Ela sabia que Gael odiava minha mãe. — E quero
falar com ele agora!
— Gael está ocupado, mamãe.
— O governador confirmou presença na sua celebração de
casamento. Não é qualquer pessoa, é um político importante. Eu
estou me matando para fazer essa festa, e ele sequer me confirmou
uma data. Vamos agora no escritório dele.
— Mãe...
— Agora!
Nem preciso dizer que Gael odiou ver a esposa e a sogra
surgindo no meio de uma reunião. Todos os acionistas volveram para
mim, encarando-me com o horror de uma presença desajeitada
chegando na sala de conferências.
— Eu sinto muito, Gael — murmurei.
Mas, pelo olhar dele, Gael me faria pagar pela interrupção.
— Gael precisamos conversar — minha mãe disse, colocando
pastas escuras em cima da mesa. — Sei que está no meio de uma
reunião, mas é sobre a festa de sua esposa. Tenho certeza de que
pode tirar meia hora para verificar algumas coisas.
Eu imaginei se ele iria chamar a segurança. Mas, por fim, ele
apenas acenou para os homens, que se levantaram, um a um.
— Fico feliz que possamos conversar, afinal, sua esposa é sua
prioridade, não é? — minha mãe indagou, sentando-se à mesa.
Prioridade? Eu não era prioridade nem dos meus pais, jamais
seria de um homem que pagou por mim.
— Celina é sempre minha prioridade — ele disse.
Eu o encarei, surpresa. Meu coração bateu forte no peito. Em
momentos como esse, eu sempre fantasiava que esse casamento
era real. Contudo, acreditar numa mentira seria apenas abrir margem
para mais dor e sofrimento em minha vida.
Gael me daria dinheiro e prazer. Era isso. E tudo se encerraria
em menos de dois anos. Depois, talvez nunca mais nos víssemos.
— Vocês já decidiram a data do casamento? Eu preciso de
uma data.
Gael recostou-se na sua cadeira de presidente.
— Vinte e um de dezembro. Aniversário de Celina.
Minha boca abriu, espantada. Ele sabia meu aniversário? Era
surpreendente, porque eu não fazia ideia do dele.
— O local?
— Ivan está reservando um resort fora da cidade. Tem uma
floresta linda, com uma clareira iluminada onde podemos trocar os
votos.
— Bom... Precisamos nos encontrar com a gráfica para
escolhermos os convites e também com a confeiteira para os
detalhes do bolo. A cerimonialista também...
— Eu tenho muito trabalho a fazer. Ivan cuidará de tudo.
— Ivan também irá assumir suas obrigações de marido na
cama? Ou para sexo você arruma um tempo para minha filha?
Lá vinha... a falta de ar. Eu iria desmaiar, completamente
envergonhada com toda essa situação. Gael me encarou, e eu sabia
que estava completamente avassalada por um misto de sensações
que mal conseguia acalmar.
— Preciso que reserve um ou dois dias na semana para
vermos os detalhes do casamento.
Ele ficou muito quieto.
O que estaria planejando? O que iria falar?
Será que ele desferiria na minha mãe todas as verdades? Que
eu não passava de uma prostituta?
— A senhora está certa — ele disse, por fim.
O ar voltou aos meus pulmões enquanto minha mãe sorria,
vitoriosa.
— Bom, vou indo então. Mande Ivan me comunicar as datas
que terá de folga.
Ela se ergueu e começou a andar em direção à saída. Eu não
sabia se devia segui-la ou permanecer ali, para ouvir os gritos de
Gael. O quão irritado ele estava?
— Você não vem, Celina? — minha mãe questionou, ao me ver
parada.
Gael se levantou, deu a volta na mesa, e veio na minha
direção. O que ele faria? Iria me bater?
Eu pensei em sair correndo, quando o braço dele me cercou, e
ele me puxou para um beijo.
Não era um beijo de amor. Era um beijo de “mais tarde você me
paga!”.
22

Tatiana, a moça que trabalhava durante a noite em nossa casa, me


estendeu um copo de suco de laranja com olhos piedosos de quem
conseguia compreender minha posição naquela estranha reunião na
nossa sala de estar.
Minha mãe tinha uma planilha na mão, e mostrava um monte
de tecidos e cores para Gael. Ela também tinha fotos de flores, e
parecia muito empolgada com todos os preparativos.
— Eu acho que nasci com o dom — ela comentou. — Sabe...
Eu devia ser decoradora. Sou ótima em gastar o dinheiro dos outros.
Gael sorriu. Deus, era tudo tão falso ali.
— Precisamos também decidir o que darmos de presentes para
os convidados. Sabe... a lembrança de casamento. Sei de um
príncipe na África que deu Iphones...
— Nós não vamos dar Iphones, mãe...
— Por que não? É moderno, útil, e seu marido tem tanto
dinheiro que não faria falta.
Eu queria chorar. E choraria, se não estivesse tão dopada. Eu
tomei sertralina, duloxetina e dez gotas de clonazepam antes de
começarmos a reunião. Eu nem conseguia sentir nada além do calor
confortável de Gael ao meu lado.
Volvi meus olhos para ele. Uma parte de mim se perguntava
como seria se tudo isso entre nós fosse real. Se ele realmente
quisesse um casamento real.
Uma dor absurda me tomou quando me lembrei sobre o que
ele disse sobre filhos.
— Eu quero sabonetes de boa qualidade em caixinhas
personalizadas, feitas artesanalmente por Celina. Eu gosto do
trabalho dela com caixas.
— Artesanato? — Minha mãe parecia horrorizada.
— Eu já decidi — Gael decretou. Depois, ele volveu para mim.
— Tudo bem, querida?
Querida...
— Você faria isso para nosso casamento?
Assenti. Não fazia a menor ideia de que ele conhecia meu
trabalho. Eu lembro de fazer caixas na época que morava com meus
pais. Mas, um dia minha mãe colocou tudo fora, e eu nunca pensei
que um dia voltaria a trabalhar nisso.
— E o que acha dos detalhes em dourado? — minha mãe
mostrou alguns tecidos que iriam adorar as cadeiras e o caminho do
altar. — Eu gosto muito do dourado, mas o rosa também está tão
bonito.
Levei um tempo para perceber que ela estava falando comigo e
não com Gael.
— Eu... não sei...
— É seu casamento, Celina. Não posso fazer tudo.
Senti Gael se mexendo levemente ao meu lado. Subitamente,
sua mão veio até a minha, e ele apertou meus dedos. O encarei. Seu
olhar era tão protetor que eu jurei que ele iria dizer algo em minha
defesa. Implorei com os olhos que não o fizesse. Não queria brigas,
queria apenas que tudo se resolvesse o mais rápido possível.
— Eu gosto de dourado — Gael respondeu por mim.
Minha mãe sorriu, alegremente. Como era fácil deixá-la
satisfeita, percebi. Era só ter respostas rápidas. Como eu era de
personalidade indecisa, sempre houve conflitos.
— Vai ficar tudo tão lindo. Será o casamento da década!
Quando ela se foi, mais tarde, eu enfim consegui respirar mais
tranquilamente. Sentia como se uma tonelada estivesse me
esmagando. Estava cansada, mesmo não tendo feito nada. Era
incrível como passar o dia com minha genitora era exaustivo.
— A senhora quer uma água? — Tatiana indagou, voltando à
sala.
Gael havia acompanhado minha mãe até a porta, e agora
retornava. Seu olhar parecia preocupado.
— Água com gás seria bom — eu disse. — Mas, pode deixar
que eu pego.
— É minha obrigação pegar, senhora.
— Não precisa disso, Tatiana. É tão estranho ser tratada como
se eu fosse alguém especial. Sou de carne e osso como você.
Então me levantei, e fui com ela até a cozinha. Abri a geladeira
e peguei a água.
— A senhora não parece bem.
— Você conheceu minha mãe. É difícil ficar bem com ela.
A garota concordou, temerosamente. Sabia que não queria me
ofender, mas realmente eu não me importava. Era um fato inegável
que Cláudia Becker tinha a pior das personalidades.
Logo depois voltei para a sala. Gael encarava as pastas que
minha mãe havia deixado.
— Nunca pensei que um casamento tivesse tantos detalhes —
ele murmurou.
— E já somos casados — disse. — Não sei porque mamãe
quer tanto perder tempo com essas bobagens. Olhe o gasto que
você vai ter.
— Talvez ela queira te compensar. Talvez a doença tenha
mudado um pouco ela.
— Não parece...
Ele pareceu piedoso, seu olhar trazia um traço de algo que eu
não era capaz de alçar.
— Você está com fome, Celina? Podemos sair para jantar.
— Oh, Deus... eu estou tão cansada — neguei. — Posso fazer
algo para nós dois.
Tatiana não era cozinheira, e a cozinheira estava de folga.
Francamente, eu não me importava com tantos detalhes. Podíamos
fazer um sanduiche, ou eu cozinharia algo. Aprendi a me virar
quando passei a morar sozinha.
— Quer que eu cozinhe algo? — ele me surpreendeu.
— Você sabe cozinhar?
— Eu não fui sempre o executivo importante e ocupado, Celina.
— Sim, minha mãe disse que você vem de uma família pobre.
Não sei porque disse isso quando ele estava sendo tão
simpático. Eu pedi desculpas imediatamente, mas Gael não pareceu
se impor.
— Minha mãe era faxineira. A tia que me criou, cuidadora.
Ambas, também, cozinheiras. Elas trabalhavam com várias funções,
mas sei que recebiam apenas um salário-mínimo. Isso só me faz
amar minha tia. Ela me aceitou em sua casa mesmo em dificuldades
financeiras. Ah, foi uma época difícil. Minha tia chegava exausta em
casa, então eu fazia o jantar. E limpava a nossa casa. Eu tentei ser
um bom "filho".
— Eu gostaria de conhecê-la...
— Ela já morreu — ele disse. — Antes de eu ter sucesso
profissional. Não pude dar nada para ela.
— Gael...
Deus, eu queria abrir meus braços agora e trazê-lo para um
abraço. Mas, eu não tinha essa intimidade apesar de todo o sexo.
Havia um buraco entre nós, algo que a sexualidade não foi capaz de
romper.
— Então, que tal eu pedir uma pizza? — ele indagou. — Vou
perguntar para Tatiana qual ela quer. Você, frango com catupiri, né?
— Como você sabe qual eu como?
— Eu chutei — devolveu, se afastando em direção à cozinha.
Então subi para o quarto. Eu sabia que quando a pizza
chegasse, Tatiana nos avisaria, e eu só queria um pouco de
sossego. Deitei-me na cama, fechando os olhos, quando o som dos
passos de Gael se aproximando me fizeram abri-los.
— Você tomou seus remédios hoje?
Aquela pergunta foi muito constrangedora. Eu tomava os
antidepressivos de forma discreta, os mantinha escondidos na
gaveta. Não pensei que ele cuidava disso.
— Sim.
— Que bom. Sei que não está sendo fácil. Mas, tente não se
abater com sua mãe e seu pai. Eles já são seu passado. Seu futuro
será brilhante.
Sozinha? Terra arrasada por um vendaval chamado Gael?
Como ele podia pensar que eu teria um futuro brilhante depois de
tudo? Ele achava que eu não tinha sentimentos? Que não iria sofrer
depois...
... De perdê-lo?
Meu Deus... Meu Deus...
Eu... eu estava apaixonada por ele?
Gael se afastou da porta e caminhou em minha direção. O
cheiro dele sempre fazia meu coração bater forte. Tentei não reagir
quando o senti se sentando ao meu lado na cama, sua mão
descendo pelo meu rosto num carinho que me fez lacrimejar.
Como eu podia ter me permitido apaixonar-me por esse
homem?
Ele me comprou, pelo amor de Deus!
Que tipo de mulher eu era?
— Você é tão linda, Celina...
De repente sua mão puxou meu rosto em sua direção. Sua
língua invadiu minha boca, e meu corpo inteiro saiu do torpor da
medicação para cair na armadilha do desejo.
— Gael...
— Tão linda, Celina. Vou avisar Tatiana para deixar a pizza no
forno, e não nos chamar.
— Mas... Gael...
— Isso... chame meu nome... Mas, quero que o diga gemendo.
Preciso ouvir você dizendo meu nome com essa sua voz de gata
manhosa, quando está gozando. Que se dane a pizza, essa noite
vou degustar um prato mais saboroso.
23

Tão linda, Celina...


É tão estranho esse homem, que já teve tantas mulheres incríveis,
perfeitas, famosas, me encarar com olhos tão verdadeiros, como se
realmente houvesse um aspecto belo em mim.
Nunca consegui me achar bonita. Evitava espelhos ou fotos.
Não queria que me vissem, o patinho feio. Mas, nas mãos dele, eu
me sentia o cisne.
— Se solte, Celina... está tão rígida como se eu fosse
machucar você — Gael me tirou do torpor.
Na semiescuridão do quarto, eu o encarei.
— Não vai?
— Machucar? Quando eu o fiz?
Meu coração doía no peito.
— “Ainda” não — deixei o “ainda” bem claro. Ele tinha que
saber que eu tinha defesas.
Gael me encarou fixamente. Eu perdi o fôlego.
— Está certa sobre se proteger. Na sua cabeça eu te forcei a
se casar comigo. Mas, na minha, apenas cobrei uma dívida de sua
família. E quando tive você, perdoei seu pai, estou ajudando sua
mãe, e quero te dar prazer. Está certa sobre não termos nos
conhecido de uma forma tradicional, mas eu sei que te deixo em
êxtase na cama. E você também me desperta completamente.
— Para você, o sexo compensa tudo? Acha que eu me sinto
melhor só porque me faz vibrar?
— Se sente melhor? Está querendo me dizer que de resto, é
infeliz? Eu te dei tudo, uma casa bonita, empregados, eu comprei um
Studio para você, eu consegui uma vaga numa galeria famosa para o
próximo ano apenas para te ver feliz... O que mais eu poderia fazer?
Me amar...
Querer ter uma família comigo...
Claro que eu não disse isso. Apenas fiquei absorvida enquanto
ele acariciou meu rosto, de forma gentil.
— Celina, se você não quiser fazer sexo, apenas diga. Eu
posso dormir em outro quarto.
Eu tinha escolha?
— Você dormiria em outro quarto se eu dissesse não?
— É claro. Eu não vou violentar minha esposa. Eu tenho
respeito por você. Achei que isso tinha ficado claro.
Ficou.
Gael podia não ser o mais gentil e bondoso dos maridos, mas
até então ele estava fazendo tudo que podia para me deixar feliz. Até
estava aceitando fazer novos votos apenas porque a minha mãe
queria.
— Eu quero que fique aqui, comigo, Gael.
Sim, eu fui sincera. Como ele era. Sem esconder nada. Ele
estava me dando tudo que podia me dar. Se ele não me dava seus
sentimentos, talvez fosse porque não podia, porque não se atrevia a
sentir nada. Só Deus sabia o tipo de sofrimento que ele já devia ter
passado.
Eu sei, reconheço a dor. Vibrava no meu peito, também.
Então segurei sua mão e a puxei para um beijo.
Era o que podia acontecer entre nós, e estava tudo bem. A
cumplicidade já me deixava feliz, mesmo que fosse com um prazo
determinado. Ao menos eu teria vivido algo para me lembrar para o
resto da vida.
Gael afundou na minha boca, seus braços fortes me puxando
contra ele. Era tão bom, sua ternura mesclava-se a sua necessidade
de me dominar completamente.
Sua boca deixou a minha, apenas para traçar um caminho
gentil entre meus lábios e minha mandíbula. Na mesma medida,
suas mãos empurravam o tecido do meu vestido para cima,
querendo que ele saísse pela minha cabeça. Quando o tecido se
acumulou perto dos meus seios, Gael agarrou meu cabelo, puxando
meu rosto para trás, a fim de morder minha garganta.
Eu gemi. Não conseguia me impedir. Eu estava completamente
entregue a ele.
— Você é tão doce, Celina... — disse ele. — Você me lembra
uma flor do campo em dia de ventania. Eu quase posso vê-la a se
balançar pelas ondas da vida.
Tremi de desejo. As ondas viam em supetão, fazendo minha
carne vibrar. Quando o vestido saiu, ele pôde deslizar as mãos pelos
montes dos meus seios, sentindo a textura, brincando com os
botões, me fazendo compensar o carinho com gemidos que o
instigavam mais.
De repente sua mão desceu. Ele brincou na fenda da minha
boceta, completamente interessado no acúmulo de líquido ali. Gael
adorava perceber que eu despejava por ele.
— De costas, Celina.
Eu não questionei. Apenas me virei, curvando-me na cama.
Deixando minha bunda a sua contemplação. Por algum motivo, Gael
adorava a minha carne grande. Eu sabia que tinha estrias e celulite,
resultado de engordar e emagrecer durante toda a vida, pelos
regimes forçados de minha mãe.
E mesmo assim, ele parecia adorar aquela carne.
Ouvi Gael se mexendo. De repente, ele ficou de joelho sobre a
minha bunda, e afundou o rosto dela, buscando a cavidade da minha
boceta.
Eu gritei seu nome.
Sua língua esfregou contra meu clitóris e eu quase não pude
me conter, quase cheguei ao orgasmo rapidamente, sentindo sua
boca batendo nos meus lábios.
Sua boca sugou. Choraminguei como uma puta, porque era
como eu me imaginava. Então empurrei minha bunda na sua cara,
rebolando, sentindo minha boceta estremecer com o movimento de
cavar de sua língua.
— Gael — chamei, porque estava tão rígida, sentindo o prazer
despontando de forma tão forte que não conseguia conter — Me
foda, Gael! — implorei.
Ele tirou a cara das minhas nádegas. O ouvi rindo.
— Diga o que quer, Celina. Minha língua, ou meu pau?
— Seu pau — abri mais minhas pernas. Queria que ele visse
meu buraco implorando. — Seu pau na minha bocetinha...
Subitamente, ele se levantou. Então, ouvi o farfalhar de suas
roupas. Gael empurrou, enchendo minha boceta com seu
comprimento. Eu pude senti-lo inteiro no meu corpo, na minha alma.
Era tão bom, que eu mal conseguia me segurar na cama.
— Gael!
Então vieram as estocadas. Me desfazendo em pedaços, me
machucando de um jeito que eu gostava. Eu me curvei mais,
agarrando o travesseiro, enquanto ele media, rosnando como um
cachorro no cio, seu pau como ferro, machucando na mesma medida
que me dava espasmos de prazer.
— Você é tão quente, Celina.
Seu eixo grosso e gordo parecia maior conforme ele bombeava
dentro e fora. Meus membros estremeceram, minha boceta se
contraiu, seus jorros pálidos começaram a despejar em mim,
pingando nas minhas coxas, no meu buraco, caindo na cama,
sujando a nós dois com um prazer sem limites.
Então, tudo acabou. Em movimentos calmos, eu o senti soltar
seus últimos suspiros prazerosos, e pouco depois, ele caia sobre
meu corpo, nós dois sobre a cama imunda.
— Você vai me matar, Celina.
Eu comecei a rir. Era bom saber disso.
24

Vocês já tiveram a sensação de que sua presença é indiferente.


Que o mundo pode continuar girando sem que você exista?
O sol aparecia entre as nuvens daquele dia quente de
novembro. Minha mãe conversava com a cerimonialista como se eu
não existisse. Andávamos lado a lado pelo caminho onde a
cerimônia aconteceria no próximo mês e elas conversavam sobre os
detalhes como se a minha opinião não contasse.
Ninguém me perguntava nada. Decidiram por trezentos
convidados sem que eu pudesse expressar a questão de que não
sabiam quem eram aquelas pessoas. Disse que queria que Maria e
as meninas que trabalhavam na minha casa fossem convidadas,
assim como Ivan, mas minha mãe riu com a responsável pela
cerimônia como se eu tivesse dito algum absurdo.
Elas apressaram o passo para verem a clareira onde seriam
feitos a renovação dos votos, e eu travei, parada no lugar, já que não
adiantava de nada estar ali.
Volvi meus olhos para o céu. Uma nuvem em formato de águia
cruzou por mim e eu pensei em como seria ser livre. Ah, tudo isso
era uma quimera, um sonho absurdo, um devaneio.
De repente o som de um carro me fez volver em direção a
estrada asfaltada. Eu vi a SUV de Gael surgindo e meu coração
balançou. Ele havia me dito que iria ao meu encontro, mas quando
não apareceu, acreditei que havia se esquecido.
Contudo, foi apenas um atraso.
O motorista abriu a porta e Gael saiu, rumando na minha
direção.
— O que está fazendo aqui? — ele franziu os lábios. — Não
devia estar lá, com elas, dizendo o que quer e o que não quer para a
cerimônia?
Dei os ombros e ele compreendeu imediatamente. Colocando
uma mão na minha cintura, ele me guiou em direção as duas
mulheres.
— Cláudia — chamou minha mãe — Núbia — cumprimentou a
cerimonialista. — Minha esposa tem algo a falar.
Eu fiquei completamente surpresa com a colocação. Os olhares
femininos fixaram-se em mim, e eu perdi o ar.
— Eu só farei essa cerimonia por você, Celina. Não existe um
único motivo para eu desperdiçar meu tempo e dinheiro se não for
para deixá-la feliz.
Houve um brilho estranho nos olhares fixados em mim.
Ninguém parecia feliz por Gael insistir que minha vontade fosse
destacada.
— Eu acho trezentos convidados... muita gente — murmurei. —
Não conheço ninguém da lista.
— São políticos influentes e parceiros comerciais do seu
marido — minha mãe apontou.
— Os parceiros tudo bem, mas... Políticos? E vi famosos
também... Nem sei quem são, não assisto televisão. Além disso, eu
queria que Maria, Tatiana, e as pessoas da lista que lhe entreguei,
estivessem presentes.
— São empregados, pelo amor de Deus! Criados não devem
sequer pegar o mesmo elevador que nós. Imagine vir a uma festa! A
não ser que venham para nos servir, não devemos sequer respirar o
mesmo ar.
Eu me afundei no meu próprio mundo. Meu mundo onde eu
não tinha voz. Sabia que meus ombros estavam caídos, na mesma
medida que meu corpo inteiro doía pela crise psicológica.
— Não teremos famosos nem políticos na festa — Gael
destacou. — Diminua a lista para cem convidados, Ivan indicará
quem dos meus parceiros comerciais estará aqui. E quem Celina
quer ver na festa terá prioridade.
— Mas...
— É o casamento de Celina, e ela que escolhe.
— Mas, não será o casamento que parará a cidade, sem as
pessoas famosas e os políticos — Nubia avisou.
— Quando você se casar, convide quem quiser. No meu
casamento, virá quem minha esposa quer — Gael foi firme.
Não havia margem para discussão. Os olhares femininos me
fuzilaram, mas meu marido me guiou para longe delas. Eu sabia que
deixá-las sozinha abriria margem para falarem mal de mim, mesmo
assim, fiquei tranquila pelo apoio de Gael.
— Você está bem? — ele perguntou.
— Sim...
— Sabe, eu pouco a vejo chorar. E pela mãe que tem isso me
surpreende muito. Você sempre fica pálida e triste, parece prestes a
desmaiar, mas seus olhos estão sempre apagados, como se nada
pudesse feri-la de verdade.
Sua observação me surpreendeu muito.
— Eu vivo dopada pela medicação — justifiquei.
— Não precisa se sentir culpada. Eu entendo que precisa de
tratamento. Fico feliz que esteja se cuidando. Não é fácil passar por
uma família como a sua.
Eu sorri. Seu apoio me acalmava tanto. Especialmente porque
era sincero. Gael não se esquivava de dizer o que pensava, mesmo
que isso machucasse.
Foi assim com a história sobre filhos.
Ele estava me dando tudo, mas nunca teríamos uma família.
E... para ser verdadeira comigo mesma, eu queria um bebê
dele. Mesmo que tudo terminasse, eu queria uma parte dele que
nunca quebraria o vínculo comigo.
— Celina?
— Sim?
— Quando tudo isso entre nós acabar, eu queria que pensasse
a possibilidade de cortar qualquer laço com seus pais.
Fiquei em choque com sua frase.
— O quê?
— Seus irmãos fizeram isso e hoje são felizes. Você devia fazer
o mesmo.
— Eu estava assim, eu havia cortado os laços até você
aparecer — me defendi.
— Não. Eles cortaram os laços. Não você. Tanto é que me deu
sua resposta em menos de um dia. Porque faria qualquer coisa para
voltar para sua mãe. Eu sei que você anseia pela aprovação dela,
mas mães como ela... não faz bem. Quando você tiver seu próprio
filho saberá que o amor materno é completamente diferente do que
ela expressa por você. Eu sei disso porque fui muito amado pela
minha mãe adotiva.
Tudo que ele dizia era muito difícil de ouvir. Doía. Machucava
como brasa ardente.
— Ei... você ficou com lágrimas nos olhos — ele riu, e eu soube
que era porque estava expressando algo mesmo dopada pela
medicação.
Eu o acompanhei na risada. Então Gael estendeu a mão e eu
aceitei.
— Quero te mostrar uma coisa — ele disse, me puxando em
direção à floresta.
Andamos por cerca de dez minutos numa trilha deserta. As
árvores cobriam qualquer luz solar ali, e estávamos envoltos por um
vento calmo e frio.
— O que quer me mostrar?
De repente ele me empurrou contra uma árvore. Não havia
ninguém ali, e eu pude sentir a mão de Gael pegando a minha e a
pressionando contra seu baixo ventre.
— Quero te mostrar como meu pau está duro.
Eu ri de novo. Era tudo tão excitante. Delicioso. Era como... se
eu fosse amada.
Sua mão áspera deslizou pela minha coxa e subiu. Entrou por
baixo do meu vestido, deslizou pelo cós da minha calcinha e entrou.
Ele bateu o polegar na minha boceta e eu gemi baixinho, fechando
os olhos, desfrutando a sensação.
— Vou tirar meu pau pra fora e te foder aqui mesmo — ele
contou.
Sua narrativa me excitou loucamente.
— Gael...
— Abra bem essas coxas, você é tão gostosa.
Gael me beijou. Forte. Duro. Eu me segurei em seus ombros
enquanto ele me apoiava na árvore e me erguia o suficiente para
ficar na ponta do seu mastro. De repente, sua carne entrou. Como
uma espada envolta em mel.
Ele se afastou e voltou, bateu na minha boceta aberta, e se
afastou de novo. Eu gemi alto, uma parte de mim com medo de que
alguém aparecesse, outra justificando tudo, já que esse homem era
meu marido e eu queria aproveitar cada segundo ao seu lado.
Gael me subiu mais. Meus tornozelos enroscaram sua cintura,
enquanto ele me balançava contra seu pênis. Eu dancei no ritmo
zonzo para cima e para baixo, sem conseguir me conter.
— Adoro essa sua boca. É tão gulosa... Quero tanto foder sua
boca, Celina. Talvez de noite eu te coloque de joelhos para que me
chupe.
A cabeça macia e úmida de seu pênis deslizou entre as
paredes quentes da minha boceta. Eu fechei os olhos, perdida nas
sensações. Ele estabeleceu um ritmo rápido e apressado, como se
soubesse que não devíamos estar fazendo aquilo ali, ao ar livre.
Minha boceta vibrava em explosões de orgasmo. Eu estava
pegando fogo, dor, agonia e necessidade cada vez mais fortes, mais
altas. Pequenos gemidos escaparam da minha garganta enquanto
sentia meu corpo se contraindo em ondas, seu esperma quente
esguichando para dentro de mim, deixando tudo mais quente, úmido
e gostoso.
— Gael... Gael! — eu gritei.
E então me afundei no orgasmo mais quente que já vivi.
— Gael... — disse, enquanto o prazer me fazia revirar os olhos,
a boca de Gael buscando a minha para que eu não mais gritasse.
De repente, eu percebi que o amava. Assim. Enquanto ele
balançava no ritmo final. Enquanto ele terminava de gozar. Enquanto
suas mãos me apertavam e sua boca me beijava.
Eu o amava...
Eu estava perdida...
O sexo acabou assim como aquele casamento também iria
acabar. Tudo tinha prazo de validade. E minha vida ficaria tão vazia
quanto meu corpo estava se sentindo agora, no suspiro final de um
prazer maravilhoso.
25

Nossa primeira encomenda foi feita por uma senhora de oitenta


anos que buscava adornar seu jardim. A decoradora nos procurou
com ideias incríveis para criarmos um mundo de fadas, com duendes
e muito brilho, entre flores e árvores.
Maria e eu estávamos empolgadas. Começamos a montar uma
estrutura de latas, com arames fixamente presos, a fim de criar um
pequeno lago onde, no futuro, colocaríamos plantas aquáticas.
Na segunda, uma jovem de dezoito anos chegou ao escritório
para a primeira entrevista. Eu gostei dela de cara, e não fiz outras
entrevistas. Vanessa era empolgada, alegre e trazia um brilho e um
frescor da juventude que eu considerava que faltava ali.
Colocamos uma televisão na entrada, para visitantes se
distraírem enquanto esperavam, e ela costumava ficar ligada durante
o dia inteiro, o volume alto, e nós ouvíamos a novela ou o noticiário
enquanto trabalhávamos.
Contudo, naquele dia em especial, a televisão estava
conectada num programa de fofocas. Eu parei imediatamente de
aplicar a cola quente quando ouvi o nome do meu marido na boca da
apresentadora.
“Mas, Gael Mello não é casado?”
Ergui a face, encarando Maria que estava na minha frente.
— Não vá prestar atenção em fofocas, Celina — ela me
aconselhou, e então eu soube que ela sabia de algo que eu não.
Provavelmente, a novidade que se seguiria já estava na
internet. Como eu andava ocupada trabalhando e sendo comida pelo
meu marido, eu não havia tocado no celular nos últimos dias.
Larguei a cola quente e sai da sala onde trabalhávamos,
caminhando reto até a recepção. Vanessa fez menção de trocar de
canal quando me viu, mas eu disse que não o fizesse.
Eu queria saber, mesmo que machucasse.
“Bode amarrado também pasta” disse a outra apresentadora,
respondendo à questão da primeira.
Então, sem que eu estivesse preparada, começou a desfilar um
monte de imagens de uma jovem atriz entrando e saindo vários dias
da semana do escritório de Gael. Ela era linda e parecia bem
confortável pegando o elevador privativo dele.
— Celina — ouvi o tom baixo de Maria. — Homem é assim
mesmo. Ignore.
Eu volvi em sua direção, encarando-a. Meu corpo estava
pesado, e eu não conseguia encontrar palavras.
Na televisão começaram os questionamentos se o
relacionamento deles começou após o casamento, ou antes.
Também indagaram sobre um possível divórcio, e havia a sugestão
de que a esposa não era “a altura” de um homem como Gael.
“Não seja tão maldoso”, a apresentadora disse em direção a
um homem gay, terceiro componente daquela bancada. Contudo,
apesar das palavras, ela estava rindo.
Rindo do fato de eu estar sendo traída.
“Mas, a mulher dele não é bonita mesmo”, o homem insistiu,
com trejeitos espalhafatosos. “A mulher que se casa com alguém
como Gael Mello devia ir à academia, ao cabelereiro, cuidar melhor
da aparência. Duvido que ela tenha um personal stylist”.
Eu nem sabia o que era um Personal Stylist. Minhas mãos
tremeram e minha respiração acelerou. Maria pousou a mão no meu
ombro, tentando me dar força. Seu pequeno gesto me fez sentir os
olhos úmidos e logo lágrimas despencavam do meu rosto.
Eu percebi Vanessa aparecer segundos depois ao meu lado,
trazendo uma cadeira. Elas me ajudaram a sentar-me. Tudo correu
depressa depois disso. Água me foi entregue nas mãos, e uma delas
começou a me abanar com uma folha de papel.
— Celina! — Maria insistiu, e então eu parecei retornar do
mundo infernal que caí por alguns segundos. Encarei minha amiga e
a percebi muito preocupada. — Achei que fosse desmaiar. Você está
muito pálida.
— Estou bem.
Em resposta, Maria me envolveu em um abraço forte. Senti as
mãos de Vanessa segurando as minhas. Eu sabia que elas estavam
tentando me consolar, empatia feminina foi bem-vinda nesse
momento.
Então... Gael está tendo um caso.
Eu não entendia direito os homens, mas me perguntei de onde
ele tirava tanta disposição, já que queria foder todos os dias, mais de
uma vez.
— Antes de tomar uma decisão precipitada, converse com ele,
esclareça as coisas — Maria aconselhou.
Decisão? Eu quase ri. Independentemente do que ele fizesse,
eu estava presa a ele. Fidelidade estava no acordo apenas na parte
que destacava as MINHAS obrigações.
— Ela é bem bonita — comentei.
— Querida...
— Não me surpreende. Eu já tinha lido que ele teve um caso
com ela por algum tempo, no passado.
— Talvez ela só tenha ido até o escritório do Sr. Gael para falar
sobre alguma coisa — Vanessa sugeriu. — Não acredite nesses
fofoqueiros da televisão, eles fazem tudo por audiência. Até criam
manchetes. E, tipo, vocês são casados. Ela só seria a amante, mas a
oficial é você.
Eu não aguentei e ri. Maria também riu, e Vanessa ficou
encabulada pela ideia descabida. Ela só queria me consolar, mas era
difícil acalmar os ânimos quando se descobria um chifre.
26

Eu sabia que não tinha o direito de questionar nada.


Eu era uma mercadoria comprada. Alguém cujo dinheiro estava
manchado. Uma prostituta. Mas, ainda assim, tecnicamente, a
esposa.
Por isso, eu saí do Studio e fui direto para a empresa de Gael.
Se ele teria amantes, que fosse de forma discreta, porque eu não
aceitei ser dele, mas não aceitei passar por humilhação pública.
Entrei no rol de entrada, e vi Ivan. Ele pareceu surpreso em me
ver, e caminhou na minha direção. Porém, eu tinha que aproveitar
esse fogo que queimava no meu âmago, então o ignorei e fui direto
para o elevador privativo.
— Senhora? — uma moça desconhecida tentou me interceptar.
— Posso ajudá-la? Para subir a senhora precisa dar seu nome na
recepção. E usar aquele elevador — ela indicou o elevador comum.
Eu sabia que era apenas alguém fazendo seu trabalho, então
temia abrir a boca e ofender a moça. Assim, simplesmente a ignorei,
apertando o botão.
— Senhora?
— Ela é a esposa do Sr. Mello — Ivan disse, chegando até nós.
Ela arregalou os olhos, e começou a balbuciar desculpas.
Tentei sorrir e acenar, em concordância. Eu estava queimando,
mas não era contra uma inocente. Minha raiva tinha um alvo.
— Celina, ele está em reunião.
— Com alguma atriz? Ou talvez uma modelo? Quem sabe
outra filha de executivo?
— Celina... Talvez devesse tomar um café. Vamos até minha
sala?
A porta do elevador se abriu. Eu entrei, e depois impedi que
Ivan entrasse.
— Aceito o café. Bem quente, de preferência. Adoraria atirá-lo
na cara de Gael.
A porta se fechou. Apertei o botão do último andar e o
movimento do elevador fez um vômito estranho surgir na minha boca
amarga.
Eu estava me sentindo mal. Eu tomava muitos remédios de
manhã e normalmente eu ficava ruim do estômago por horas, mas
eu sabia que essa sensação agora tinha outras causas além do
Velija.
A porta do elevador se abriu.
Havia cerca de meia dúzia de homens na sala. Todos os rostos
volveram para mim quando entrei na sala. Ninguém me olhou nos
olhos, provavelmente cientes da minha carranca de alguém prestes a
matar uma pessoa.
Uma pessoa = Gael.
— Estão dispensados — Gael disse e todos se levantaram das
cadeiras onde estavam sentados e foram em direção ao elevador.
Quando ficamos sozinhos, eu pude observá-lo melhor. Ele
estava sereno, como se nada o preocupasse. Com certeza não
pensou que a sua prostituta particular iria vir xingá-lo.
— Oi, Celina. Algum problema?
Seu rosto estava mesmo tão sereno?
— Você sabe bem — eu disse.
— Sei?
Eu estremeci. De repente fiquei tonta, e precisei me segurar na
cadeira.
— Celina? — pela primeira vez senti qualquer dose de
preocupação no seu tom.
Em segundos, Gael estava ao meu lado. Ele me ajudou a
sentar numa poltrona posta na lateral, e foi buscar água.
Mais água salgada na boca. Eu iria vomitar a qualquer
momento. Logo que recebi a água, a engoli, apreciando que era
gelada e que parecia inibir um pouco o vômito.
— Você está bem?
— Bem? — retorqui. — Como eu poderia estar bem, sendo
piada em rede nacional?
— Piada?
— Você não sabe? Estão rindo do fato de sua esposa ser corna
em tão pouco tempo de casamento.
— Hum.
"Hum”?
Era apenas isso?
Ele não iria se defender ou negar algo? Ou confirmar? Ou se
desculpar?
Eu senti um calor descomunal me tomando, e quis ficar em pé
para chutá-lo, mas novamente me senti zonza.
— Acho que devia falar com seu médico para trocar sua
medicação. Ela não está fazendo muito efeito.
— Vá se foder! — gritei, hormônios explodindo minha raiva. —
Meu problema é você! Como foi capaz de me humilhar assim?
Ele levantou uma sobrancelha, não parecia muito
impressionado.
— O que eu fiz, Celina?
— Você sabe o que fez!
— É sobre o que os sites de fofoca estão falando?
— O que você acha?
— Não é nada demais, Celina.
Uau!
— Sério? Nossa, que bom que você me disse isso! — ironizei.
— Não transei com ela. O que você acha que eu sou? Uma
máquina? — debochou. — Talvez um coelho? — riu. — Você anda
acabando comigo, eu vivo exausto.
Ele realmente achava que rir e ridicularizar a situação
acalmaria tudo?
— Isso é tudo que você tem a dizer? Nenhuma explicação do
porque ela estava aqui?
Uma expressão de genuína surpresa surgiu.
— E por que eu teria que lhe dar maiores explicações?
— Porque eu sou sua esposa!
Eu falei isso mesmo?
— Oh... Você sempre fica dizendo que é só uma prostituta
paga... quase esqueci que nos casamos.
Eu iria pular na cara dele a qualquer momento. Mas, recolhi
meu resto de dignidade e fiquei em pé. Tentei me afastar, mas Gael
me impediu.
— Verônica tinha algo que eu queria. Por isso ela veio aqui.
— Sexo?
— A vida não é só trepar, Celina.
— Ah, com certeza para você não!
Por um longo momento, Gael olhou para mim. Ele parecia
pensativo.
— Eu tenho uma coleção de coisas... Coisas que foram
recolhidas do lixo de alguém, mas que para mim tinham muito
significado. Na época que estávamos saindo, Verônica pegou
alguma dessas coisas e... bem... Eu percebi e estava negociando
com ela a meses. Ela ficou com raiva de mim por causa do
casamento, e queria se vingar destruindo tudo, mas por fim, decidiu
que algumas cirurgias plásticas novas, seios novos, e uma viagem
de ida e volta para Paris por um mês com tudo pago, vale mais que
uma vingança.
Foi a explicação mais longa que ele já havia me dado desde
que começamos esse contrato maluco. Eu fiquei um pouco
amolecida com aquela conotação de compromisso e de respeito. Ele
não transou com ela, ele teria me falado se tivesse feito.
— Coleção de coisas? Não sabia que colecionava algo. Nunca
me mostrou.
— Está guardado. Bem trancado. Talvez um dia eu te mostre.
Sua mão ergueu e senti um carinho confortável na bochecha.
Ele era tão gentil quando queria. Lágrimas se formaram nos meus
olhos quando percebi o quão perdida estava. O quão perdida estava
em Gael.
— Não vai acontecer de novo, Celina. Nunca vou admitir que
qualquer coisa machuque você. Irei processar os tabloides, ok?
De repente seus braços me puxaram. Descansei meu rosto nos
seus ombros, sentindo seu cheiro me inundando.
Gael era mágico. Ele me levou do inferno ao céu em segundos.
— Sinto muito que tenha passado por isso. — Ele se inclinou e
me beijou.
Era gentil, quente, delicado. Eu quase podia me perder para
sempre na sensação poderosa que me deixava louca e me
incendiava na mesma medida.
Meu corpo explodiu em calor. Por mais que fosse uma loucura,
eu queria que ele me tomasse agora mesmo, ali mesmo. Estava tão
quente, sensações tão fortes roubando a minha sanidade. Eu
comecei a me apertar contra seus músculos rígidos, e pude ouvir o
risinho satisfeito de Gael enquanto me pressionava contra seu pau
duro.
— Você gosta, né safada?
Bom, não era uma grande revelação. O pau de Gael era
mágico e despertava coisas inexplicáveis em mim.
Meu corpo se moveu, e ele aceitou minhas investidas. Logo
beijava minha garganta, meus seios, suas mãos apertando minha
bunda, movendo-me mais contra ele. Eu suspirei quando ele desceu.
Sentei-me novamente na poltrona e abri as pernas.
Entre nós, tudo acontecia sem as palavras.
Gael puxou minha calcinha. Minha boceta latejava em
antecipação.
— Você é tão fácil de excitar — ele riu, o polegar brincando no
botão da minha xana.
Em seguida, sua boca mergulhou na minha cavidade. Eu gemi
quando ele afundou mais, lambendo meu clitóris. A língua entrava,
imitando o movimento do seu pau, algo que eu já estava me
acostumando toda noite.
— Abra mais as pernas — ela mandou.
Eu gostava quando ele usava esse tom autoritário comigo. Eu
gostava de pertencer a ele. Não devia, mas gostava.
Gael deslizou o nariz pelas minhas dobras, minha boca deixou
escapar gritos de prazer.
— Gael... Gael...
— Você cheira tão bem... Eu gosto do cheiro da sua boceta.
Logo depois ele se elevou acima de mim. Sua calça já estava
arriada até os joelhos. Senti a pressão da sua ponta molhada, e
elevei as coxas, para ele entrar mais fácil.
Eu havia vindo até seu escritório para uma briga. Saia dele
satisfeita depois de receber rajadas de gozo.
27

Eu fiquei sabendo que Gael havia comprado a casa dos meus pais
por minha mãe, que veio me ver no Studio na noite de quinta com
ares de revolta.
— Como ele pôde fazer algo assim?
Então, soube os detalhes. Ele a adquiriu pouco antes de meu
pai me procurar. Não sabia se ele realmente a comprou ou se meu
pai lhe deu como compensação pelo que roubou, mas soube que na
noite que fui levava a assinar o contrato, a casa já era dele.
E ele me fez assinar o contrato ali, talvez como punição. Uma
estranha vingança. Adquirir a casa e a filha de Edgar Becker parecia
uma brincadeira de mal gosto.
— Seu pai me disse que iria fazer uma reforma e por isso
estávamos ficando em uma outra casa, mais modesta... Então,
quando eu lhe perguntei sobre nosso retorno, ele me confessou que
a casa não mais nos pertencia! — ela choramingou. — Agora estou
numa casa minúscula, tem no máximo uns cinco quartos, e nem tem
banheiro separado para os criados. Eu vou ter que dividir o vaso
sanitário com Augusta.
Ela tinha lágrimas nos olhos, muito chocada para indagar onde
supostamente estava o dinheiro da venda e os motivos que levaram
meu pai a vender a casa.
— Papai fez alguns maus investimentos — contei.
O pior deles foi roubar Gael Mello.
— Ele me disse...
— E a senhora está tendo gastos com sua saúde...
— Preferia morrer que perder a casa. São tantas lembranças
boas, lá. Você se lembra da sua infância feliz?
Vanessa apareceu na recepção trazendo café. Minha mãe
ergueu a sobrancelha, olhando com desprezo para a xícara, mas
aceitou. Ela só gostava de café da Colômbia, mas eu comprei o
comum, no supermercado.
— Celina, e você? Como está? Soube que seu marido anda
com uma modelo...
— Bem, ele nega...
— Ah, ele nega — ela repetiu, rindo. — Homens traem,
querida. Eu fiz muita vista grossa com seu pai. Mas, não importa as
estepes, são as principais que precisam se manter altivas. Apenas,
exija discrição. É falta de respeito deixar que as pessoas saibam.
Seu pai sempre foi discreto.
Meu pai a traia? Eu nunca fiz ideia disso.
— Ai, Celina... meu coração de mãe às vezes acha que Gael
Mello não é o ideal para você. É rico e te assumiu apesar de você
não ser uma beldade, mas um homem que só transa com mulher
perfeitas da televisão... Querida, os comentários sempre serão
depreciativos contra você... As pessoas vão compará-la àquelas
mulheres. Talvez deva desistir do casamento.
Suspirei.
Ela mal sabia, mas o casamento iria durar só mais um ano e
alguns meses. Depois, fim.
E passaria o resto dos meus dias a ouvindo dizer: “eu avisei”.
— Gael nega. E eu confio nele.
Sim, eu confiava. Ele não mentia. Era absurdamente bruto com
sua verdade.
— Quão tola você é?
— Mãe, gosto de Gael. Ele é um bom marido, faz tudo para me
deixar confortável.
— Um bom marido te expondo em rede nacional?
— Ele só a encontrou no escritório...
— Garota! Você acha que eles não estavam transando lá? Não
seja cega!
Aquela conversa estava me machucando. Eu tentava sair pela
tangente, mas ela insistia em me trazer de volta. Eu sabia que Gael
podia dormir com outras mulheres e o faria se sentisse vontade, mas
não queria que isso fosse jogado na minha cara o tempo todo.
Não bastava eu ter me apaixonado? Eu já sofria bastante pela
culpa em ter me permitido sentimentos. Queria ter me guardado,
protegido minha alma. Agora, estaria apenas à espera da finalização
de um prazo, quando meu coração ansiava pela eternidade.
Por que me permiti ir por esse caminho perigoso? Garotas
como eu não deviam se apaixonar. Exalei profundamente, pensando
que esconder esse sentimento por tantos meses ainda seria por
demais complicado.
E quando acabasse? Como eu iria conseguir recolher meus
restos?
— Eu confio nele — disse. — É um homem muito sincero. Se
estivesse traindo teria dito na minha cara, não importava o quanto
magoasse.
Minha mãe pareceu um pouco apaziguada, mas aparentemente
ver a filha feliz não era algo que ela esperava ou desejava.
28

Eu evitei o celular durante toda a semana. Os comentários nas


redes sociais eram puro deboche e ironia. Algumas pessoas se
mostravam misericordiosas, mas mesmo sua pena era angustiante
para mim.
Depois de oito dias, enfim eu fui olhar o Facebook. Eu estava
marcada em milhares de matérias, e ignorei todas. Contudo, a
piedade latente de algumas mulheres traídas só me deixou mais
para baixo que eu estava.
Eu acho que Gael sentiu isso. Ele reservou alguns minutos em
sua agenda durante a semana para me levar para tomar café, ou
para caminharmos em alguma praça. Ele também me ofereceu
vestidos novos, e algum colar bonito e caro, mas eu mal reparei nos
agrados.
— Você não parece bem, Celina...
Suas palavras vieram numa tarde em que caminhávamos no
shopping.
Eu estava exausta, um peso enorme sobre meus ombros.
Parecia que a depressão estava me afundando novamente, e eu não
tinha forças para me levantar.
— Celina? — ele insistiu.
— Eu estou bem — retorqui, apesar de ser mentira. — Só
cansada com esse negócio do casamento...
— Celina, nunca mais vou permitir que uma ex vá ao meu
escritório, até o fim do nosso casamento. Eu sei que está se sentindo
humilhada, sei o que estão falando na internet, mas te garanto que
não aconteceu nada.
Ele estava sendo gentil, tentando me acalmar. Isso ou não
queria me ver acabada na depressão, tornando um fardo minha
presença pelos próximos meses.
— Está tudo bem, Gael...
— Nada está bem, querida. Eu não devia ter causado esse
constrangimento. Mas, um dia eu vou te explicar tudo.
Sorri em sua direção, enquanto segurava seu braço.
— Você é bom para mim, Gael...
As sobrancelhas dele arquearam, curiosas.
— Você está com lágrimas nos olhos, de novo... É realmente
estranho porque seus remédios pouco te deixam chorar.
Sim, era verdade. Mas, eu também estava de TPM, sentindo a
barriga e os seios inchados, além de leves cãibras nas pernas.
Minha bunda também doía.
Saímos do shopping, e eu pedi que ele me levasse até uma
farmácia. Eu precisava comprar meus absorventes e talvez um
buscopan.
— Quer que eu pegue pra você? — ele indagou, tirando o cinto
e pronto para deixar o automóvel.
— Você sabe a marca de absorvente que eu uso?
— Eu sei de tudo sobre você, Celina — ele riu.
O pior é que parecia verdade. Normalmente quando eu
pensava em algo, Gael parecia ler em minha expressão.
Especialmente no sexo.
— Me espere aqui — eu disse, descendo do carro assim que
ele estacionou.
A farmácia estava cheia, e todas as atendentes estavam
ocupadas. Fui reto para a sessão de absorventes. Meus dedos
deslizaram por alguns tipos e tamanhos, até parrarem em outra
sessão, aquela antagonista a menstruação.
A imagem de uma mãe segurando seu bebê pareceu...
Mais uma vez, lágrimas surgindo nos meus olhos.
Eu peguei dois tipos diferentes de absorventes, mas não
conseguia ignorar o bebê e sua mãe. O teste de gravidez era quase
um convite.
Então, eu o peguei. Segurei nas mãos, indagando a mim
mesma o que estava fazendo.
— Celina, você está demorando — a voz de Gael atrás de mim,
me fez esconder o teste rapidamente entre os absorventes.
Ele estava na porta. Não era possível me ver dali. Rumei até o
caixa e pedi para a moça colocar tudo numa sacola. Meus olhos
imploraram discrição e ela foi compreensiva o suficiente para não
falar nada.
— Achou tudo o que procurava? — Gael indagou.
Acenei.
Achei mais do que eu procurava.
Em meu peito, meu coração se apertou.
29

As pessoas vagavam na minha volta sem qualquer interesse em


mim. Minha mãe tentava demonstrar uma alegria que nem de longe
ela sentia.
— Ah, eu não aguentava mais aquela casa enorme. Sempre
quis morar num local mais simples, porque sou uma pessoa simples
— ela disse a uma das suas convidadas, enquanto tomava uma taça
de vinho.
Ela nem podia beber. Não álcool. Notei que ela segurava a
mesma taça a horas, provavelmente fingindo bebericar para não
demonstrar a ninguém que estava acabada.
A noite do anúncio do meu casamento foi feito em sua nova
casa, para pessoas que eu não conhecia. As pessoas que convidei
para o casamento não estavam ali. Afundada no meu sofá, eu me
questionava do porquê daquilo tudo, já que oficialmente Gael e eu já
éramos casados, e oficialmente minha mãe tinha perdido sua vida de
sonhos, sua casa dos sonhos, e agora tinha que se submeter a
hemodiálise e a uma casa pequena.
Por que as aparências eram tão importantes para ela?
— Você parece cansada — a voz de meu pai ao meu lado me
fez girar o rosto em sua direção.
— Você parece se importar — devolvi.
— Celina... — disse ele.
— Você me vendeu. Me deixe em paz, pelo amor de Deus.
E não consegui dizer mais nada. Estava tomada pela raiva.
Estava tomada pela indignação de ter que passar aquelas horas ali
com pessoas que não se importavam comigo, todos me olhando com
admiração somente por conta de Gael Mello.
Eu me sentia uma boneca sendo exposta.
E eu era um ser humano. Com sentimentos.
Meu pai se levantou e se afastou. Eu o observei se distanciar,
aliviada porque ele me deixou em paz.
Um peso de toneladas estava em meus ombros. Ansiava para
que tudo isso pudesse chegar ao fim logo e eu voltasse a ter paz.
Mesmo sem Gael...
Mesmo sem o corpo dele me tocando, sua voz me arrepiando...
Porque saber que eu era apenas seu instrumento de prazer
acabava comigo, desgraçava a minha sanidade.
Subitamente, minha mãe sentou-se ao meu lado. Parecia tão
cansada, dessa vez as olheiras em seu rosto estavam visíveis.
— Não está gostando da festa, Celina? Eu a fiz com tanto
carinho para você. Aliás, que horas chega seu marido?
Gael tinha uma reunião com árabes agendada a meses. Ele
ficou puto da vida quando minha mãe começou a exigir que deixasse
a reunião de lado e fosse a comemoração.
— Ele está trabalhando, mãe.
— O trabalho é mais importante que você?
— São coisas diferentes.
Nem sei porque estava defendendo Gael. Não tinha
importância para minha mãe. A vida social dela estava acima de
tudo.
— Como vai seu tratamento? — indaguei.
De repente eu me senti enjoada. Sequer pude ouvir a voz de
minha mãe no fundo, meus olhos apagaram, como numa forte crise
de pressão baixa.
Quando as imagens voltaram a surgir diante de mim, minha
mãe estava ao meu lado, abanando-me, e um dos amigos dela – que
era médico aposentado – verificava meu pulso.
— Eu acho que deve ir para o hospital verificar se está tudo ok
— ele disse.
— Apenas, minha pressão baixou — neguei. — Não comi nada
hoje...
Alguém trouxe um prato com frutos do mar e eu senti o vômito
surgindo na minha garganta. Eu não comia frutos do mar. Eles me
causavam ânsia.
Então simplesmente peguei minha bolsa e chamei o motorista,
que estava na cozinha.
— Celina? — minha mãe indagou.
— A festa acabou para mim, mãe — disse, e sai.
30

Eu estava sentada na cama segurando o teste de gravidez, quando


Gael entrou.
Ele parecia exausto, tinha olheiras profundas, e mal olhou para mim
enquanto tirava o paletó e abria os botões da camisa.
— Foi uma noite exaustiva — disse, mesmo sem eu ter
perguntado. — E você, como passou? — indagou.
Ele me via, mas não me enxergava. E não parecia notar o que
eu tinha nas mãos, então eu fiquei em pé e ergui o teste de cor
branca para que ele visse o sinal vermelho do positivo. Só então
Gael pareceu surpreso. Seus olhos se arregalaram e seus ombros se
curvaram numa postura acanhada.
— O quê...?
— Eu estou grávida.
— Isso... Isso não foi combinado...
Ele estava assustado. Eu sabia. Mesmo assim, eu mal
conseguia acreditar em suas palavras. Ele deixou claro o que
pensava sobre ter um bebê. Ele não usava camisinha, mas queria
que eu usasse anticoncepcional.
Ele pagou caro por mim e, ao menos, esperava que eu fosse
responsável em não engravidar. Mas, aconteceu. Mesmo que um
bebê, definitivamente, não estivesse nos planos.
— Você pagou por mim, não por uma criança, não é?—
indaguei, apenas para ter certeza.
— Sim.
Foi um tapa na cara.
— De verdade, Gael, por que se casou comigo? Você não tinha
pretensões de ter um futuro comigo. Nunca quis um bebê comigo.
Então me faça entender o que te fez pagar tão caro por uma mulher
que você não ama.
Meus olhos ardiam enquanto eu dizia isso. Mas, eu não iria
chorar. Nunca. Jamais. Eu recolheria meu resto de dignidade e
sobreviveria. Por mim, pelo bebê.
— Eu te achei gostosa desde que te vi pela primeira vez.
— Foi por sexo? — eu mal conseguia acreditar. — Você
poderia ter as mais lindas garotas, você pode pagar por prostitutas
de luxo.
— Eu só andava com mulheres magras, sem a menor carne.
Daí vi suas coxas... fiquei louco.
Eu mal conseguia acreditar.
— Você é um porco nojento — disse.
Lentamente, Gael assentiu.
— Mas, eu gosto da sua personalidade, Celina — disse,
achando que isso fosse amenizar tudo. — Por isso quis ajudá-la
depois do casamento.
— Gosta da minha personalidade? — repeti. Era inacreditável.
— Você é doce. É gentil. Você trata todo mundo com respeito,
não importando o cargo da pessoa. Nunca conheci mulheres assim,
além de minha tia. Como eu não pude dar uma vida digna a ela,
pensei que pudesse dar uma a você.
Ele era sincero, não havia como negar esse fato. Gael não
conseguia esconder o que pensava. Mesmo que isso ferisse sem
misericórdia.
— Mas, as coisas mudaram agora. Eu vou ter um bebê.
— Você pode tirar e tudo pode ficar como sempre.
Eu quase avancei nele. Eu queria bater nele. Mas tudo que me
vi fazendo foi buscar a mala que eu já havia arrumado.
— Celina...
— Acabou, Gael...
— O Contrato... Eu posso pôr seu pai na cadeia, e nunca mais
pagar o tratamento da sua mãe. Você não honrou o contrato.
Dei os ombros.
— Faça o que quiser. Eu tenho um filho para cuidar.
Sai do quarto. Ele não me parou, apenas se afastou da porta.
O fim tinha um gosto amargo.
31

Graças a Deus eu não entreguei meu apartamento quando me


casei com Gael. Tudo foi rápido demais, e não tive tempo de
entregar as chaves, até porque meu contrato ia até o final de janeiro,
e eu teria que pagar multa se não o cumprisse.
Então, quando retornei para meu lar – e sim, ele era meu lar,
apesar de pequeno e simples – fui recebida pela escuridão reinante
que me fez exalar paz. Acendi as luzes, meus olhos cravando na
cortina antiga que comprei num brecho e na poltrona confortável à
frente dela.
Era tudo pequeno. Mas, era familiar. Mais confortável que a
casa majestosa de Gael.
Sentei-me na poltrona, mil pensamentos cruzando minha
mente.
O que eu faria, agora?
Eu teria que arrumar um emprego.
Eu teria que me desculpar com Maria.
Ainda tinha o dinheiro que Gael jogou aos meus pés na
primeira vez que esteve aqui, no apartamento. Eu podia dividi-lo com
Maria.
Deus... que vergonha! Eu a fiz deixar o emprego. Talvez porque
no fundo eu sonhasse em viver um sonho de conto de fadas. Talvez
eu realmente acreditasse que em algum momento nesses dois anos,
Gael iria se apaixonar por mim e então nós seríamos
verdadeiramente um do outro.
Eu realmente acreditava nessas coisas? Eu li muito romances
na vida, mas devia saber que a vida real não imita a arte.
Agora cá estou eu. Desempregada, falida, com um bebê na
barriga. E o pai do bebê sugeriu tirar.
— Está tudo bem — murmurei para mim mesma. — Vai ficar
tudo bem.
Eu precisava pensar nos próximos passos. Precisava arrumar
uns bicos para fazer, para guardar dinheiro. Assinar a carteira eu não
conseguiria porque ninguém emprega uma mulher grávida. Também
precisava ir ao médico, ver se estava tudo bem com o bebê.
Quem sabe eu conseguiria alguma ajuda com a assistente
social?
Eu estava tão focada nos meus pensamentos, que mal percebi
quando a imagem do Studio surgiu na minha mente e a lembrança
de que Gael me deu o prédio cravou em mim.
Eu poderia vendê-lo! É isso! Eu conseguiria me manter até o
bebê ter idade para ir a creche. Contudo, será que por eu não ter
cumprido o contrato, Gael não tiraria o Studio de mim?
E se eu entrasse na justiça?
Eu podia exigir pensão.
Não... Eu não quero vê-lo nunca mais. Eu só quero esquecer
que aceitei essa proposta absurda, esquecer a culpa que me
avassala, e seguir a minha vida. Agora eu não estaria mais sozinha e
não podia arriscar.
Uma coisa é uma mulher adulta ter seu coração machucado,
outra é arriscar o bem-estar de um bebê.
Comecei a sentir minha cabeça arder. Eu tinha enxaquecas as
vezes, mas era a primeira vez que meu coração doía na mesma
intensidade. Então comecei a chorar.
Que ódio de mim mesma. Que raiva de mim mesma por ter
permitido que esse homem entrasse no meu coração, quando ele
deixou claro desde o início que não sentia nada por mim.
“Vi suas coxas... fiquei louco”.
Eu me senti um pedaço de carne quando ele disse isso. Meu
rosto se contraiu enquanto as palavras borbulhavam em dor no meu
peito, trazendo soluços aos meus lábios.
Eu ainda chorava quando tomei banho e me deitei na cama. Eu
me afoguei em lágrimas, forçando o rosto contra o travesseiro, e não
notei quando o sono me tomou. Tudo em mim era vergonha e
constrangimento. Eu era tão estúpida.
Quando acordei, o sol já raivava forte no céu. Meu rosto estava
inchado e meus olhos doloridos, mas me forcei a ficar em pé, porque
teria muitas coisas para fazer hoje. Talvez a primeira coisa a fazer
seria procurar um advogado e ver se eu poderia exigir o estúdio.
Escovei os dentes, e me arrumei. Depois, fui tomar um café, e
peguei o celular enquanto a água esquentava.
“Casamento de bilionário chega ao fim?”, estampava a capa
principal de um site. Deus, como eles podiam saber disso tão rápido.
“Influencer Amanda Flores está sendo apontada como pivô.
Assessoria nega”.
Quem?
Oh, Deus... Ao menos quando Gael sumisse da minha vida,
tudo isso teria fim. Era cansativo ser humilhada em sites de fofocas
todos os dias porque não era bonita o suficiente para a opinião
popular.
Subitamente meu celular tocou. Meu coração vibrou porque
pensei que fosse Gael, mas óbvio que não era. Eu me contaminei
quando engravidei e ele devia estar revoltado comigo quando me
recusei a tirar o bebê.
— Sim?
— Celina — era minha mãe. — Você já leu as notícias hoje de
manhã?
Eu fiquei nauseada.
— Sim...
— E? — a voz era questionadora. — O que vai fazer? Já fez as
pazes com seu marido? Porque eu não vou admitir que você coloque
tudo a perder depois de todo o trabalho que eu estou tendo para
realizar o seu casamento. Você não dá valor a nada do que fazem
por você.
Eu desliguei o aparelho. Eu podia gritar, brigar, ou dizer
algumas verdades na cara dela, mas eu simplesmente me recusei a
falar.
E foi tão bom. Foi quase como sexo. Apagar a voz enjoada da
minha mãe da minha mente era orgástico.
Nunca mais... Nunca mais eu permitiria que falassem assim
comigo.
32

Eu estava com vergonha de ir até Maria quando ainda estava tudo


muito confuso na minha cabeça. Então, decidi ir sozinha até o
Studio. Era sábado e não havia ninguém lá, o que foi ótimo, porque
pude me despedir de todo meu material sem que ninguém pudesse
me importunar.
Além disso, um dia inteiro em trabalho manual poderia me fazer
pensar com mais clareza e decidir melhor o caminho que eu devia
tomar.
Eu tive náuseas duas vezes naquela manhã. Não entendia
direito sobre gravidez, mas pensei que na segunda devia agendar
uma consulta com um médico e começar o pré-natal. O fato de eu
não estar bem do estômago podia significar algum problema com o
bebê.
Suspirei.
Por favor, Deus... Que nada de ruim esteja acontecendo com
esse inocente.
O único inocente nessa sujeira toda.
No prédio isolado, eu busquei caixas, colas e alguns adereços.
Talvez eu pudesse fazer uma linda gaveta. Uma gaveta para meias
de bebês, pareceu uma ideia legal.
Eu comecei a passar a lixa na madeira velha e desbotada. O
som da lixa parecia uma antiga música de ninar. Quase adormeci
diante dela, afinal, estava exausta mentalmente, e não havia ainda
tirado um dia para ficar na cama, apenas absorvido todas as
informações que eu tinha desde então.
De repente a campainha tocou.
Meu coração acelerou porque pensei que podia ser Gael. Uma
parte de mim sussurrava como numa oração um pedido para que ele
tivesse se arrependido de tudo que disse, e que desejasse o bebê...
Mas, outra me lembrava que Gael era pragmático e se não pagou
pela criança, não iria tê-la.
Abri a porta. Um homem de um metro e meio pareceu surpreso
ao me ver. Antes que eu pudesse expressar uma pergunta, ele
ergueu a câmera e tirou uma foto minha.
— O quê...?
— Senhora Mello, é verdade que seu casamento terminou por
causa de Amanda Flores? Dizem que seu marido passou a noite no
apartamento dela.
— Eu...
— A senhora a considera uma destruidora de lares?
— Bom...
— Verônica Assunção disse que, abre aspas, tudo que se
planta, colhe, fecha aspas. Verônica comentou que estava mantendo
um relacionamento com Gael Mello, quando a senhora apareceu...
Eu comecei a ficar zonza com a quantidade de informações e
nomes. Me segurei no batente da porta, enquanto encarava o
homem.
— Por que estão tentando jogar uma mulher contra a outra? O
errado não é Gael, que anda por aí saindo com várias garotas sem
ter encerrado o compromisso com a anterior?
Não sei porque disse isso. Estava magoada pela informação
que Gael passou a noite com outra mulher depois de eu ter contado
a ele que tinha o bebê dele na barriga. Não sentia raiva de Amanda,
ao contrário, minha mágoa era toda contra Gael, mesmo ciente que
ele foi sincero demais comigo.
Acabou no momento que eu me recusei a tirar o bebê.
— Desculpe... O senhor quer entrar e tomar um café? —
convidei o moço.
O rapaz pareceu muito surpreso. Ele assentiu, e entrou de
forma tão vagarosa como se estivesse prestes a ser assassinado lá
dentro.
— Eu estou com vontade de tomar café — contei a ele. — Não
estão sendo dias fáceis, mas café sempre ajuda.
Depois de eu preparar o café, pus tudo na mesinha de centro
da recepção e nos sentamos diante dela.
— É verdade que a senhora trabalhava no setor de limpeza de
um hospital.
— É sim.
— Mas, sua família é muito rica.
— Eu sempre fui muito ruim nos estudos e não consegui
prosseguir. Então, não pude ter outra profissão, apesar de adorar
artesanato. Trabalhar no hospital pagava todas as contas.
— E não sente vergonha?
— De quê?
Ele não respondeu, apenas anotou tudo num caderno.
— E sobre seu casamento...
— Foi tudo muito rápido — expliquei. — Eu não saberia
explicar como cheguei a me tornar a senhora Mello. Ainda é confuso
para mim.
Eu sabia como, mas não queria expor. Estendi uma xícara ao
homem, que a aceitou.
— Foi por amor?
Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, pensando na
resposta.
— Foi — disse.
E era estupidamente sincero. De minha parte. Em algum
momento no percurso, eu me apaixonei. Mesmo que eu só
recebesse migalhas da atenção de Gael, eu me apaixonei pelo
pouco que ele me oferecia.
— O senhor gosta de torradas? Vou buscar algumas.
Eu me levantei, e fui até a copa. Minha barriga doía de fome.
Quando voltei, o homem havia largado a câmera e a caderneta
em cima da mesa.
— A senhora é muito gentil — ele comentou.
— Por quê?
Nunca me vi como gentil, apesar de Gael já ter dito que eu o
era.
— O senhor Gael é um homem de muita sorte. Logo se vê
porque ele se casou com a senhora.
— Ele diz que gosta da minha personalidade — contei,
sorrindo.
Lá estava eu. Boba e apaixonada. Lembrando o parco elogio
que ele me deu, como se isso bastasse para eu tentar lutar por um
amor que só existia de minha parte.
— Nós, da imprensa, não pensávamos em vê-lo casado. Ele já
andou com dezenas de mulheres famosas, mas nunca deu sinal de
que se a casaria com alguma. Ele tem essa personalidade arredia
com as mulheres. Deve ser por conta do que aconteceu em sua vida.
Eu não fazia ideia do que aconteceu com Gael.
— Eu não sei muito sobre o passado do meu marido — contei.
— Ele não fala muito disso.
— Oh — o homem deu os ombros. — Eu também não falaria,
se fosse ele. Pelo que sei, o Sr. Mello é filho bastardo de um homem
muito rico. Ele foi atrás do pai, mas este se recusou a reconhecê-lo.
Ele entrou na justiça buscando reconhecimento, mas o homem tinha
ótimos advogados e conseguiu levar o processo até o fim da vida.
Quando morreu, Gael desistiu do reconhecimento, porque tudo que
buscava era que o pai o chamasse de filho. Dizem que, na verdade,
esse era um desejo de sua mãe, pois ela era apaixonada pelo antigo
namorado de infância, que a deixou grávida porque era pobre.
Então Gael havia se machucado com a paternidade antes.
Talvez por isso ele não queria passar por algo parecido, não queria
que um bebê nascesse e ele tivesse que vivenciar a experiência que
lhe lembrava seu trauma.
Olhei para a xícara vazia e busquei mais café.
— Depois — o homem prosseguiu —, ele se apaixonou por
uma jovem rica. Gael ainda era jovem e estava começando a investir
em imóveis, com o dinheiro que ele conseguia das ações. Ele sabia
que seria um caminho longo e difícil até ter uma vida estável, mas
parece que ainda assim pediu a mulher em casamento, mas ela não
aceitou porque ele era bastardo e pobre.
Então era esse o motivo do contrato? Ele me comprou para
poder se vingar, de alguma forma, das jovens de família abastada?
Humilhar-me era sua verdadeira intenção.
— Eu sinto muito que tudo isso tenha acontecido a ele — disse.
— Mas, você parece muito legal — ele sorriu. — Não me
apresentei. Sou Fábio, da coluna Maria-Fifi.
Eu estendi a mão, aceitando o cumprimento.
— É um prazer, Fábio. Espero que possamos ser amigos — eu
disse.
— Com certeza, seremos.
33

“Celina Becker, agora Mello, é uma das pessoas mais doces e


gentis que eu já conheci nesse meio. Gael Mello é o homem mais
sortudo do país”, eu li as letras garrafais e sorri, enquanto buscava a
tinta para cobrir o quadro.
Fábio foi rápido em sua matéria. Ou talvez o mundo girasse
mais rapidamente do que pensava, e as coisas não tinham tempo
para serem pensadas. Nós conversamos de manhã, e nesse
finalzinho de noite, eu já era aclamada no seu site.
Os comentários melhoraram. Muitas mulheres estavam sendo
empáticas comigo por conta do meu peso e da minha aparência.
Aparentemente eu tinha algo que despertou Gael Mello mais que o
rosto perfeito de suas ex-namoradas.
Dei os ombros, não importava. Eu estava muito cansada.
Depois que Fábio se foi, eu passei a trabalhar completamente focada
no projeto da gaveta. Meu primeiro presente para o bebê. Talvez eu
também pudesse criar o berço, até saber que fim teria o Studio.
Olhei brevemente para fora. A noite estava muito quente. Tirei
a blusa e depois a saia, ficando só de calcinha. O ar-condicionado
não estava funcionando, não sei porque, e eu estava pingando suor.
Mas estava tudo bem, porque eu estava sozinha e ninguém veria
meus seios caídos ou minha barriga saliente.
Era confortável a solidão. Depois de dias sob o julgamento
cruel da sociedade sobre minha aparência, o fato de não importar
como eu estava parecia um alento.
Pensei em Gael. Ele não havia tentado me ligar nenhuma vez.
Não me procurou, também. Não fez ameaças por mensagem, ele
simplesmente sumiu. Talvez tenha sido uma recomendação dos seus
advogados, para manter distância de mim. Do jeito que ele era, seu
advogado deve ter sido o primeiro a ser contatado depois que eu lhe
contei da gravidez.
Eram nove horas quando eu terminei. Eu devia sorrir ao ver a
gaveta, estava linda, em tons de azul claro como nuvens em um céu
ensolarado.
Pus a mão no ventre.
Sem conseguir me conter, eu me vi chorando. O buraco no
peito parecia absurdo, essa tristeza era tão dolorosa que nem
mesmo a frase mais cruel de minha mãe parecia conseguir competir.
34

Uma semana depois, a única pessoa que me procurou no meu


apartamento foi meu pai. Era uma surpresa enorme que ele
aparecesse, depois de tudo que havia acontecido. Eu o encarei na
porta, sem saber direito como agir, mas por fim o deixei entrar.
— Como você está? — ele perguntou, me surpreendendo.
Outra surpresa era minha resposta.
— Bem.
No dia anterior, Maria me ligou dizendo que Ivan a havia
comunicado que ela iria continuar a receber seu salário, e que devia
permanecer me ajudando na empresa. Eu sabia que essa havia sido
uma forma de compensação para Gael. Ele havia me engravidado, e
estava tentando conter os danos.
Pelo bem ou pelo mal, ao menos eu não precisava me
preocupar momentaneamente com o dinheiro que devia pagar a
Maria.
Então, eu estava bem.
Eu estava seguindo em frente.
Ser mãe me deu a certeza de que não podia ficar sofrendo pelo
que não tinha jeito.
— Eu conversei com seu marido. E realmente sinto muito,
Celina. Fui muito cruel em fazer você aceitar esse plano.
Eu assenti. Não havia como negar isso.
— Agora você está aí... De barriga, abandonada, com um
bastardo na barriga...
Eu senti lágrimas nos olhos.
— Gael disse que vai tentar uma anulação do casamento — ele
me contou. — Celina... Você precisa falar com ele, e persuadi-lo
dessa decisão.
Uma parte de mim acreditou que havia entendido errado o que
ele estava me pedindo.
— Falar com ele?
— Ele vai me colocar na cadeia, Celina... E vai cancelar o plano
de saúde de sua mãe — sua voz estava destruída. — Celina, precisa
tirar esse feto...
“Esse feto...”
De repente, um soluço de dor despontou de meus lábios.
— Vá embora — ordenei. Não queria chorar na frente dele.
— Celina, você vai matar a sua mãe.
— Vá agora! — gritei.
— Celina, ninguém nem sabe que você está de barriga. Tire
isso... Ninguém saberá...
O empurrei em direção ao corredor e comecei a fechar a porta
do meu apartamento.
— Irresponsável — ele acusou. — Sabia do acordo, e ainda
assim...
— Cale a boca! — gritei. — Você me vendeu como uma
prostituta!
— Nem para prostituta serve! Já pegou barriga!
Eu forcei a porta, mas meu pai conseguiu colocar o pé entre o
vão da porta e me impedir.
— Desculpe, Celina... Não devia dizer isso... É que estou
desesperado.
— Você está? E eu, que não tenho emprego, estou grávida e
não tenho ninguém para me ajudar? — indaguei. — Você é meu pai,
era sua obrigação cuidar de mim, mas foi você que me vendeu!
A expressão de desânimo em seu rosto me pegou
desprevenida.
— Ele gosta de você, Celina. Ele gosta. Está enlouquecido
porque você o deixou. Porque você escolheu o bebê.
— Escolheria o bebê mil vezes.
— Você podia tentar explicar para ele que o bebê não é mais
importante que ele.
O riso desabrochou na mesma medida que as lágrimas.
— O bebê É MAIS IMPORTANTE que ele! — gritei.
— Sua mãe vai morrer, Celina — ele mudou de tática. — Ela se
recusa a ir para o hospital público.
— Problema dela.
— Céus, como você é cruel! Ela é sua mãe!
— E o bebê é meu filho. A balança pende para ele. Agora, vá
embora.
— Só fale com Gael. Apenas isso. Veja se existe uma maneira
de manter o contrato. Quem sabe ele possa te usar até você ficar
deformada pela barriga.
Dois caras que vendiam drogas no andar de baixo cruzaram
pelo meu corredor. Eles viram meu desespero e eu implorei por
ajuda.
— O que está acontecendo? — indagaram.
— Estou grávida, por favor, tirem esse homem daqui! — disse a
eles.
Nunca, em nenhuma comunidade, se permitirá que uma mulher
grávida sofra qualquer violência. Todos eles tinham mães e sabiam
que mãe é sagrado, porque não importa a dificuldade, mãe está
“sempre lá”.
Eles acompanharam meu pai até fora do prédio. Pela janela do
meu apartamento, eu os vi empurrando para fora do condomínio
popular. Provavelmente proferiram ameaças, mas não senti pena
nem culpa.
Eu só queria que me deixassem em paz.
35

— Você tem certeza? Isso nos dá apenas duas semanas para


organizar materiais.
— Eu consigo.
— Mas, você está grávida. Devia estar descansando.
— Eu consigo — repeti, dessa vez mais enérgica.
Maria estava ao meu lado enquanto eu assinava um contrato
para participar de uma feira de artesanato. Diziam que as vendas ali
eram altas, e eu precisava vender, economizar, guardar o que
pudesse para quando o momento oportuno chegasse.
— Eu não acredito que você está grávida.
A frase de Maria me fez encará-la com um sorriso no rosto.
Apesar de tudo, eu estava tão feliz. Pela primeira vez na minha vida
eu tinha forças de lutar, tinha vontade e determinação. Pela primeira
vez, eu sabia que as circunstâncias não iriam me arrastar para onde
quer que fosse.
Maria e eu estávamos saindo do escritório dos organizadores
da feira, em direção ao ponto de ônibus. Outra mulher grávida cruzou
por nós na rua, e meu coração se encheu de esperança ao ver a
barriga avantajada.
— E o pai, Celina?
— Não sei... Ele nunca mais me procurou.
Já se passaram dois meses. Ivan apareceu na terceira semana
entregando um cartão de crédito premium para eu comprar o que
precisasse, e Maria havia recebido um adiantamento do trabalho
equivalente a um ano. Pelo que eu entendi, Gael estava me dando
um espaço para me organizar. Não era muito, mas era alguma coisa,
e eu era grata.
Ele não queria o bebê e foi sincero desde o início sobre isso.
A escolha era minha e eu estava arcando com ela. Estava
focada em conseguir recursos para dar a essa criança tudo que ela
precisasse.
— Você devia cobrar na justiça. Você não fez esse filho
sozinha! Ele tem obrigação.
— Está tudo bem, Maria. Ele está ajudando financeiramente.
— Mas, ele é seu marido, pelo amor de Deus.
Era difícil explicar que tudo não passava de um frio acordo
entre as partes.
— Gael sempre foi sincero sobre ser pai. Não posso culpá-lo.
— Você não fez sozinha, Celina — insistiu.
Nós chegamos ao ponto. Maria observou o relógio de pulso e
suspirou.
— E seus pais? Como reagiram?
— Não sei. Meu pai não entra mais lá na comunidade, e minha
mãe... bem... Eu ignorei suas chamadas. Pareço uma filha horrível,
não é?
— Querida, você devia ter feito isso desde o começo.
Acenei, suspirando algo.
— Celina, você está feliz?
A pergunta me deixou muito surpresa.
— Pelo bebê? Muito.
— Pelo seu casamento, amiga.
Não sabia o que responder. Não era segredo que eu havia me
apaixonado por Gael, mas tentava não pensar no quanto era
descartável para ele. Ele brevemente seguiria sua vida, se é que já
não o fez. Eu não tentei ler as colunas sociais, não queria saber com
quem ele andava. Só estava no aguardo do divórcio, acreditava que
Ivan logo me traria as papeladas.
Sempre fui ignorante sobre o lado prático da vida, então
imaginava que as coisas demorariam um pouco para acontecerem.
De qualquer forma, não era minha decisão, e mesmo que fosse, eu
acreditava que o divórcio era a melhor saída.
— Celina, você ama seu marido, não ama?
Volvi meus olhos para ela. Eu sabia que as lágrimas estavam
ali, seguras pela minha parca dignidade. Ainda assim, Maria foi
capaz de entender tudo.
O ônibus dela surgiu no horizonte. Ela olhou a condução e
depois me encarou.
— Celina...
— Pode ir, Maria. Eu estou bem.
Então ela me deu um abraço. Era um abraço de “pode contar
comigo!” e eu sabia que podia contar com ela. Depois, ela entrou no
ônibus e eu fiquei ali, sentada no ponto vazio, meu coração aos
prantos, minha mão no ventre levemente avantajado.
O amor dói.
36

Um trovão ao longe indicou que a chuva chegaria rápido naquele


fim de tarde. Eu imaginei se o ônibus se atrasaria. Caso chovesse, a
área que levava ao meu condomínio ficaria alagada e era sempre
difícil o ônibus cruzar por ela.
Ergui meu pulso e olhei o relógio. Ainda daria tempo de passar
na farmácia para pegar minhas vitaminas?
Ao longe vi o ônibus vindo na minha rua e me coloquei em pé.
Andei até perto da divisão entre a calçada e a rua. Senti respingos
da garoa contra minha face.
— Celina.
A voz me travou, uma ardência profunda na minha garganta me
fez girar à direita, onde Gael parecia uma visão fantasmagórica.
Talvez eu estivesse alucinando. Fazia muito tempo que eu não
o via. E não imaginava que o veria novamente.
— Tudo bem? — ele indagou.
Eu não sabia o que responder, porque não sabia o que de mim
restava, e o quanto de mim ainda estava bem.
Mesmo assim, eu o observei atentamente. Talvez fosse a
maternidade ecoando em mim, mas fui capaz de perceber coisas
que antes passariam despercebidas para mim.
Gael estava cansado. Não mais aquela postura autoritária e
dona de si. Agora ele estava simplesmente exausto, como se não
dormisse a muitos dias.
— Gael?
— Eu estou com o carro na outra rua.
Eu não entendi sua colocação, mas aguardei que ele me
explicasse. Porém, aparentemente, para ele isso explicava tudo.
— Você quer me dar uma carona? — perguntei.
— Não. Eu quero te levar para casa. Para a nossa casa.
Parecia um sonho. Porém, nada era tão simples.
— Gael. Eu estou grávida, esqueceu? O contrato acabou.
— Acabou — ele concordou. — Chega de contrato, Celina.
Mas, acho melhor conversarmos em casa.
O ônibus estacionou diante de mim. A porta abriu e o motorista
me observou. Eu o encarei, e depois olhei para Gael. Eu tinha que
tomar uma decisão agora.
Por fim, caminhei em direção a Gael. Incrivelmente, não foi
uma escolha difícil.
37

A casa estava vazia. Era estranho vê-la assim, sem as meninas que
cuidavam de tudo. Mas, o silêncio sepulcral parecia proposital. Gael
estava disposto a falar e não queria ninguém além de mim a ouvir,
mesmo os empregados não fossem de ficar atrás da porta,
escutando.
Eu sentei-me no sofá. Minhas mãos automaticamente
pousaram no meu ventre, protetoras. Eu sabia que precisávamos
conversar, colocar tudo a limpo, encerrar o contrato e seguirmos com
nossa vida, mas seja qual for a decisão de Gael, o bebê ficaria bem.
Porque mesmo que ele não o quisesse... eu o queria.
Mais do que quis tudo nessa vida.
Gael tirou o casaco e o jogou no sofá diante de mim. Eu
observei seus movimentos, e o percebi mais nervoso que nunca.
Aliás, antes disso, nunca o percebi sequer inseguro. Ele sempre
pareceu uma rocha, mas agora era humano. Nervoso, cansado,
rugas leves embaixo dos olhos, olheiras que denotavam o quanto
andava dormindo pouco.
— Eu pedi para Ivan providenciar os pagamentos de Maria...
Ele te contou?
— Sim, agradeço sua generosidade.
Não foi irônico. Realmente eu era grata.
— E pedi para ele te avisar do plano de saúde, você está
inclusa e pode conseguir todas as consultas por lá.
— Sim. Ele disse.
— Hum — ele murmurou. — E como se sente?
— Eu estou bem.
Ele sorriu, embora parecesse dolorido.
— O bebê?
— Está bem.
— É menino ou menina?
— Ainda é cedo para saber.
— Certo.
Ele cruzou os dedos entre os cabelos, suspirando.
— Celina...
Eu esperei, mas ele parecia não saber o que dizer a seguir.
— É uma situação difícil, eu sei — disse, apenas para ajudá-lo
a falar algo.
— Não foi planejado — ele concordou.
— Eu sei.
Silêncio.
Eu aguardei pelos próximos dois minutos que houvesse
qualquer som, mas ele parecia não saber o que dizer, então me
preparei para ir embora. Uma parte do meu coração estava tão
machucado e doloroso que eu precisei segurar para não desmanchar
diante dele.
O que diabos eu esperava que ele falasse? Que ele me
amava? Que ele queria construir uma vida comigo?
Então me levantei do sofá, pegando a bolsa.
— Celina — disse, por fim. — Você pode me perdoar?
Eu senti que não conseguiria segurar as lágrimas, então desviei
meus olhos da sua figura derrotada.
— Está tudo bem — disse.
— Não está nada bem, Celina. Eu quero... eu quero te explicar
algumas coisas.
Aguardei. Abruptamente, ele se levantou, e estendeu a mão na
minha direção.
— Venha.
— Para onde?
— Eu não vou conseguir te explicar tudo sem te mostrar
algumas coisas.
Ele já havia me tirado do ponto de ônibus, me trazia a sua
casa, e agora queria me levar a outro lugar.
— Eu sou uma mulher grávida, Gael. Não um objeto para ser
levado de um lugar a outro.
— Eu não conseguirei te explicar as coisas sem te mostrar,
Celina. Te peço que venha comigo. Prometo que será o último
passeio da noite. A não ser, é claro, que você, depois disso, queria
voltar para seu apartamento. Irei respeitar sua decisão.
Por fim, coloquei minha mão na dele. O calor do seu toque era
confortador. Senti algo vibrando no meu íntimo e sabia que o bebê
também estava feliz pela sensação do pai dele, tão perto.
— Celina... — ele me fez encará-lo. — Ajuda se eu disser que a
amo? Que estou apaixonado por você a muitos anos?
Minha boca abriu, espantada.
— Não importa o que você sente... O que importa é que você
não quer o bebê. E se você não quer o bebê, para mim, está
acabado.
Ele assentiu.
— Por favor, apenas venha comigo. Então falaremos disso.
38

Ele deslizou a chave na fechadura. Com um clique, a porta se abriu.


Lá dentro, a escuridão estava reinante.
A casa em que cresci, a casa que Gael comprou dos meus
pais, parecia estranhamente assustadora.
Gael volveu para mim e abriu espaço.
— Por favor, entre.
Eu suspirei, enquanto seguia para dentro da enorme mansão.
Logo, o senti atrás de mim, sua presença impondo sensações que eu
tentava esquecer.
Gael foi meu primeiro homem. Ele havia sido cruel muitas
vezes, mas me despertou para um lado sexual que eu jamais pensei
que teria.
Mesmo assim, ele era passado. Meu bebê era o futuro, e eu
precisava controlar os sentimentos que teimavam em aparecer.
De repete, as luzes se acenderam, revelando coisas que jamais
imaginei que veria novamente.
Estava ali. Cada pequena coisinha que eu criei desde que eu
conheci Gael. Cada quadro, cada arte, cada escultura, cada detalhe
em papel ou tecido, exposto nas paredes da casa, como se
pertencesse ao local, não como se tivesse sido jogado no lixo anos
atrás, por minha mãe.
Eu caminhei, em direção a latas de alumínio prateadas, onde
vasos com detalhes em tons dourados feito com latão mantinham
flores diversas, como num jardim ricamente preparado.
Preparado para mim.
Eu volvi em direção a Gael. Eu o encarei com olhos
arregalados, sem entender como ele havia conseguido todo aquele
material, pedaços de um passado que eu considerei perdido.
— Eu a conheci quando tinha dezessete anos, você lembra
disso?
— É claro que eu lembro...
— Naquela época eu ainda não era o homem que sou hoje, o
homem cheio de riquezas, que podia se dar ao luxo de usar a
ganância de seu pai para colocá-lo numa armadilha. Eu estava
começando, havia ganhado meu primeiro milhão, mas ainda não era
à altura dos Becker. Eu era apenas um cliente desvalorizado que seu
pai acreditava que logo iria falir.
Eu não entendia onde ele queria chegar. Era tudo muito
confuso.
— Na época eu namorava uma moça famosa, você lembra? Na
noite em que te conheci, eu terminei com ela. Entende?
Não. Eu não conseguia entender o que isso tinha a ver com
todas as esculturas que ele mantinha na casa.
— Eu tentei me aproximar de você. Eu falei com seu pai,
sobre... você sabe... Se eu podia... cortejá-la... Mas, ele me disse
que eu já tinha trinta e poucos anos e você era menor de idade. Ele
estava certo, era um absurdo, você era muito nova para mim. Porém,
eu comecei a me preparar para no futuro ter qualquer chance. É
vergonhoso confessar, mas Ivan já trabalhava para mim na época, e
eu o convenci a recolher no lixo as coisas que sua mãe jogava fora.
— Como você sabia que minha mãe jogava minhas coisas
fora?
— Além do fato de eu ser um perseguidor, que conhecia seus
horários, sabia tudo que fazia... Oh Deus, como eu posso dizer isso?
Eu vi a forma como sua mãe te tratou naquela época...
Ele reparou? Não era uma surpresa que tivesse reparado, pois
Cláudia nunca tentou esconder nada, contudo... Por que ele não se
aproximou de mim de forma natural?
— Eu comecei a trabalhar como um louco para ser muito rico, e
poder ter qualquer chance. Enquanto isso você crescia e as coisas
seriam legalmente aceitáveis... Até que você completou vinte anos e
desapareceu...
Foi quando eu fui embora de casa.
— Seu pai me disse que você havia ido embora do país. Eu
entrei em surto por algum tempo, tentei procurá-la na Europa, e
quando pressionei seu pai, ele falou que estava namorando um
rapaz, e iriam se casar. O que eu sentia por você... Eu sei que é
injusto, mas se tornou ódio... E mesmo quando eu descobri que era
tudo mentira, que você estava no Brasil... Que você ainda era
intocada, ainda era destinada a mim... Minha raiva não passou. Eu
não conseguia controlar, eu a queria, mas não conseguia deixar de
me sentir traído.
Isso era horrível. Ele era maluco?
— Como você pôde? Você me magoou tanto por coisas da sua
cabeça?
— Sim...
A dor na minha alma era tão intensa que eu sentia as lágrimas
brotando nos meus olhos, e não conseguia controlar o choro que
despontou na minha garganta. Eu queria bater nele, queria girar em
direção a porta, fechando aquele caminho de todas as formas, para
nunca mais ver esse homem enquanto eu vivesse.
— Não sou idiota, eu vi quando seu pai começou a roubar
pequenos valores, coisas que não chegavam a cem reais... Então,
eu preparei armadilhas para ele. E ele caiu como um patinho. Eu
fiquei em silêncio, apenas ajuntando provas, vendo-o ganhar dinheiro
nas minhas costas e perdendo em investimentos que eu colocava no
caminho dele, apenas para vê-lo perder tudo... Até que sua mãe
ficou doente e então eu joguei a bomba da denúncia em cima dele
tudo de uma vez. Seu pai falido, sua mãe doente... Foi fácil fazê-lo ir
atrás de você e chantageá-la com o negócio de você ser minha. Eu
tinha tanta raiva, que eu queria que fosse minha prostituta, apenas
para vê-la sofrendo nas minhas mãos. Então veio seu pedido para
que fosse minha esposa... Eu havia dito a Ivan que jamais aceitaria,
mas aceitei...
Ele respirou forte. Parecia buscar forças.
— Quando eu a tive... foi tudo muito... diferente... Minha raiva
começou a desmoronar aos poucos...
Sua boca se torceu.
— Então você me contou do bebê. Isso era... irracional... Como
eu podia ter um filho com uma mulher que eu havia comprado por
puro ódio? Eu não queria o bebê... Não queria... De jeito nenhum. Eu
queria que o bebê sumisse...
Ele enrijeceu diante dos meus olhos. Parecia sentir dor, e eu
não sabia como reagir a tanta sinceridade.
— Mas, você se recusou. Você não tinha um puto no bolso, e
ainda assim estava lutando pela criança... E eu... eu comecei a... A
imaginar como seria se fôssemos uma família...
Ele deu dois passos na minha direção. Sua mão segurou a
minha. Eu não me mexi, porque eu estava tão chocada que não
sabia como reagir.
— É isso, Celina... Eu sei que tudo é loucura, que tudo
começou errado, mas... Se você me der uma chance... Eu podia ser
seu marido de verdade... E um pai de verdade...
Senti como se minha alma vazasse do meu corpo, e pairasse
sobre mim. Eu podia me ver gritando, apesar de minha boca estar
fechada e eu não emitir nenhum som. Meus olhos saíram da figura
grande de Gael e olharam as velhas esculturas que eu fiz com lixo.
Eu lidava com lixo porque eu me sentia parte do lixo.
— Celina?
— Eu preciso pensar — disse.
Meus olhos ardiam. Eu não tinha muito sobre o que pensar.
Esse homem me usou para uma vingança sobre algo que só existia
em sua cabeça. Ele não tinha um único motivo para me odiar, mas
ele odiou. Por anos. Ele alimentou ressentimento por alguém
inocente.
E agora ele queria que eu fosse sua esposa porque ele sentia
remorso. E por causa do bebê.
Não por amor.
— É claro — Gael concordou. — Você pode ter o tempo que
quiser.
Então eu finalmente ganhei forças, virei em direção à porta e fui
embora.
39

Você só pode compreender o tamanho da dor depois de senti-la.


Tentei não me afundar nos sentimentos que me machucavam,
porque eu estava gerando uma nova vida, e não queria que o bebê
experimentasse tudo de ruim que me avassalava. Mas, era muito
complicado não colocar a cabeça a noite no travesseiro a noite e não
sentir o choro sufocar minha consciência.
Ainda assim, eu estava buscando forças na minha decisão de
ser mãe. O bebê era o mais importante.
— Eu vou começar terapia na próxima semana — Gael me
contou, enquanto estávamos sentados no corredor do hospital.
Volvi para ele.
No mês que se seguiu a sua confissão, ele passou a estar
perto de mim como amigo. Me acompanhou ao médico algumas
vezes, e passou a cuidar de tudo relacionado ao bebê. Eu não lhe
dei uma resposta, e ele não exigiu uma.
— É mesmo? — fiquei surpresa.
— É... Amanda recomendou.
Amanda era a ex dele. Uma das noites que ele me levou o
jantar, contou que Amanda estava com alguma das esculturas que
eu fiz, e por isso ela apareceu no seu escritório, naquela vez que foi
flagrada por fotógrafos.
— Eu fico feliz por você.
Meu nome foi chamado, e Gael se levantou antes que eu. Ele
estendeu a mão, me ajudando a ficar em pé. Andamos até a porta e
uma jovem médica me recebeu.
— Então... vão querer saber o sexo do bebê, ou querem que
entreguemos o resultado para alguém para fazerem um chá
revelação.
— O que é um chá revelação? — Gael parecia curioso.
Eu achei engraçado a forma como ele escutou sobre a
explicação. Gael parecia disposto a ter um chá revelação, parecia
disposto a vivenciar cada segundo da gravidez, o que me deixou
bastante espantada. Era incrível como ele tinha uma alma mais
feminina que a minha. Eu era pragmática, queria saber logo o sexo
para começar a comprar as roupinhas. Azul se fosse menino, e azul
se fosse menina, porque eu sou gremista e meu bebê vai usar azul o
tempo todo.
— Ah, é menina — a médica disse, depois do exame e da
minha resposta. — Olhe só, uma menina saudável — ela mostrou
uma mancha no monitor, que me fez arquear as sobrancelhas.
De repente, saber que era uma menina tornou tudo mais real.
Em poucos meses eu teria um bebê nos braços, uma criança para
cuidar, cuja vida seria de minha responsabilidade para amar e
educar.
Então veio o medo. Eu havia tido uma péssima mãe e não
sabia se o exemplo de Cláudia podia acabar com meus planos para
a criança.
— Ei... Estou aqui — senti a mão de Gael na minha. Ele
percebeu minhas lágrimas antes mesmo de eu reparar que estava
chorando. — Vai ficar tudo bem.

✽✽✽

— Prometo que se você começar a agir como Cláudia eu roubo


a bebê, e vou embora do país.
Ele estava brincando, é claro. Parecia muito tranquilo com o
futuro, o que só me deixava mais nervosa.
Estávamos numa cafeteria, eu bebia um chá de camomila e ele
tomava café.
— Eu tenho medo — contei.
— Eu tive uma mãe incrível, você sabe — disse, referindo-se a
tia. — Ela cuidou de mim sem a ajuda de ninguém. E ela não teve
mãe, foi criada por tias, depois que minha avó paterna faleceu.
Então, às vezes, o maior exemplo é aquele que a gente carrega no
coração. Não se preocupe, você é bem diferente de Cláudia.
Sorri.
— Então... — balançou a cabeça, como se estivesse tentando
encontrar palavras. — Você já pensou, sobre nós?
Não sabia direito o que responder. Eu entendia que tinha
sentimentos por ele, entendia que o amava, mas não entendia como
poderíamos dar certo.
— Eu não sei...
— Ajuda se eu disser que a amo?
Abri minha boca espantada.
— É a primeira vez que diz isso sem que pareça estar zoando
da minha cara — murmurei.
— Eu sei.
— E diz isso assim, num café? No meio da cidade? Você não
devia me preparar para ouvir tal coisa?
— Bom, eu podia fazer uma noite romântica com vinhos e
queijos, mas você não pode beber álcool e desde que ficou grávida,
alimentos lácteos te dão gases...
Eu não pude evitar a gargalhada que surgiu na minha garganta.
Eu ri tanto que as pessoas em volta de nós começaram a nos
encarar com surpresa, e as atendentes do café imaginavam se eu
não teria um colapso.
— Celina — Gael insistiu. — Me responda.
Eu sequei os olhos das lágrimas que o riso despontou.
— Por que me quer, Gael? Eu não sou mais o fruto da sua
raiva?
— Acabei de dizer que eu a amo.
— Por causa de remorso?
Ele engoliu em seco.
— Provavelmente. — Prossegue. — Começou assim, começou
pela culpa. Mas...
— Mas...?
— Mas, mudou. Antes eu sentia raiva, angústia e vergonha por
gostar de você. Agora... Agora eu me sinto fantástico.
Achei aquilo adorável.
— E você? — indagou. — Como você se sente?
— Me sinto muito adulta e madura tendo essa conversa tão
calma com você — voltei a rir. — Você sabe, essa coisa toda de
sentimentos, a gente devia estar se estapeando, e depois se
agarrando, cheios de química.
— Eu poderia fazer isso, mas você está grávida e eu penso
primeiro na segurança da... O que você acha de Jaqueline?
— Jaqueline?
— Não é um nome lindo. Quem sabe com um C no meio:
“Jacqueline”?
Por um longo momento, aquele sentimento estranho pairando
sobre nós. É tipo... família. Eu nunca havia experimentado, mas
minha alma reconheceu de algum lugar do meu íntimo.
— Eu amei esse nome.
Ele deu uma risadinha.
— Então, Celina? Você tem uma resposta para mim?
Eu olhei adiante. Na rua, vista pela vidraça da cafeteria, percebi
uma mãe segurando um menino pela mão. Ela cruzava a rua,
atarefada com suas ocupações diárias.
A vida era assim, cheia de coisas para a gente fazer. Às vezes
machucava, mas no geral costumava cruzar seus minutos, horas,
dias, sem preocupar-se com bobagens como ressentimento.
— Eu amo você — disse. Não me lembrava se era a primeira
vez que confessava aquilo em voz alta, mas gostei do som que
ecoou.
— Então, isso é um sim?
— Você está muito ansioso por essa resposta?
— Não nego. Estou mesmo.
Sorri.
— É um sim, Gael.
Eu gostaria de tê-lo beijado nesse instante, mas Jacqueline
mexeu-se pela primeira vez em meu ventre, me fazendo arregalar os
olhos e levar a mão a barriga. Logo, o pai estava ao meu lado,
pressionando os dedos no meu ventre, imediatamente constatando a
verdade.
A bebê estava feliz por nós.
Eu estava feliz por nós.
O amor era realmente maravilhoso.
Epílogo

Em torno de um ano e meio depois...

— Você tem que certeza de que ela dormiu? — ele indagou,


puxando a gravata do pescoço, enquanto minhas mãos se ocupavam
em abrir os botões de sua camisa.
Nossos lábios se encontraram, pela primeira vez sem o jugo do
contrato sobre nós. A validade do papel havia acabado nessa noite.
Se tudo houvesse saído conforme os planos iniciais de Gael, hoje eu
seria livre. Por sorte, a vida tomou um rumo inesperado e eu
pertencia a esse homem mais do que nunca.
— Sim, eu disse — separando nossas bocas. — Jacqueline
está dormindo como um anjo. Agora, faça coisas infernais comigo.
Ele riu. Suas mãos percorreram meu corpo, sua língua
deslizando dentro da minha boca. Fazia muito tempo que não
lutávamos mais contra a necessidade latente que nos tomava. Era
uma ótima sensação.
— Gael — pedi, e ele sabia exatamente o que eu estava
pedindo.
Logo ele me ergueu no colo. Rumamos em direção à nossa
cama, e eu me senti tão preciosa pela maneira como ele me colocou
sobre os lençóis.
— Gael?
— Hum?
Suas mãos me viraram de costas. Gael adorava me foder
assim, abrindo minhas nádegas com suas mãos fortes, pressionando
os lábios da minha boceta com seu pau imenso, me expondo
completamente, deixando claro que ele estava sempre no controle.
Suas mãos encontraram meus seios, umedecendo-os com meu
próprio suco. Meu vestido e minha calcinha estavam longe, meu
corpo nu apegado as sensações que ele provocava. Gael despertava
desejo latente e eu correspondia a cada investida.
— É incrível... — disse. — Você é realmente meu marido?
Ele riu.
— Oh, eu sou sim...
Ele esfregou sua ereção inchada na minha bunda. EU dei pulos
para trás, mostrando que queria esse homem mais que tudo, e ele
não pestanejou em obedecer.
Ele se moveu junto com seu caralho. O cheiro de sexo invadiu
o quarto, era um odor agradável dos nossos corpos prontos um para
o outro. Senti a boca de Gael deslizando pelas minhas costas, suas
mãos apertando, ficcionando, exigindo. Eu só conseguia
corresponder com gemidos.
Levantei mais minha bunda. Ele adorava o tamanho, adorava
apalpar, e eu deixei fácil para ele mergulhar as mais entre minhas
fendas, acariciando, antes de tomar-me com a boca, me fazendo
gritar. Era uma delícia, a língua de Gael conseguia alcançar cantos
que eu jamais imaginei.
Minhas mãos buscaram freneticamente por alguma coisa que
conseguisse me manter firme, já que eu estava prestes a despencar
em um gozo. Consegui agarrar a cabeceira, apertando a madeira
contra meus seios, enquanto sentia Gael posicionando melhor.
— Gael! — eu gritei quando seu pau se esfregou lentamente
em minha fenda.
Sua cabeça gorda afundou-se no meu buraco. Eu podia sentir
Gael me preenchendo, e a sensação dele espichando minhas
paredes internas era inexplicável. Tudo em Gael era bom, seu sexo
fazia meu orgasmo fluir em ondas, um mar inteiro, um oceano
completo, jorrando em minha alma.
Eu tentei evitar o grito. Jacqueline dormia no quarto ao lado, e
nós tentávamos manter um pouco de compostura agora que éramos
pais, mas era impossível não sentir todas as terminações nervosas
do meu corpo serpenteando como cargas elétricas, fazendo meus
pés se contorcerem, e meu íntimo vibrar.
Gael era muito bom em foder. E eu amava a maneira como ele
nunca se continha, nunca tentava acalmar o fogo que despertava, ao
contrário, parecia prestes a colocar mais gasolina, a fazer tudo
queimar mais, mais rápido, exagerado, como se tivéssemos pressa,
como se estivéssemos prestes a sermos consumidos pelo ato.
Subitamente, ele tirou seu cacete, me virou, fazendo-me cair
com as costas no colchão. Eu sorri porque amava quando ele vinha
por cima, quando ele parecia tão cuidadoso com seu peso sobre
meu corpo.
Acariciei o rosto do meu marido, sorrindo, apaixonada. Gael era
tão lindo, eu adorava a forma como ele parecia descansar quando
estava prestes a me preencher com sua enorme tora.
Fechei meus olhos e me deliciei com a sensação de seu pau
empurrando. Oh, era tão bom... A tensão no meu âmago tornou-se
liberdade. Enquanto ele media, minha boceta o apertava sentindo a
proximidade do orgasmo.
Então Gael inundou meu corpo, meus sentidos, minha alma.
— Gael — disse seu nome apenas porque chamá-lo parecia a
única coisa que me manteria presa a terra, não me faria perder-me
para sempre no universo ao qual ele me lançava.
Minha boceta agarrou seu pau, as ondas me preenchendo, seu
sêmen jorrando, molhando-me, minhas costas arquearam e meu
corpo balançando em seu impulso. Seu pau bombeava para dentro e
para fora e eu sentia que Gael estava gozando com tanta
intensidade que ele mal conseguia suportar.
De repente, ele despencou. O fim parecia apenas mais um
novo começo. Agarrei seu corpo contra o meu, apertando-o nos
meus braços. Eu quase fechei os olhos, completamente acabada,
quando o choro de nossa bebê invadiu o quarto, e percebi o olhar
escuro de Gael volver para mim, na semiescuridão do quarto.
— Fizemos barulho?
— Não — neguei, mas não tinha certeza.
Ele levantou-se. Foi até o roupeiro e buscou pelo robe. Depois,
saiu do quarto.
Eu senti a torpeza do sono me tomando, mas não tive tempo de
dormir. Logo, Gael voltava ao quarto, Jacqueline sendo embalada
nos seus braços fortes.
— Mamãe, peito — ele indicou e eu ri.
— Tem certeza?
— Não é fralda.
— Talvez seja apenas manha, porque ela mamou pouco antes
de virmos para o quarto.
Ele deu os ombros, então estendi os braços, pegando minha
filha. Foi bem imediato, Jacqueline adorava meu colo. Ela parou de
chorar imediatamente, e eu fechei os olhos, sabendo que aquela
noite seria com ela nos braços.
Sorri quando senti Gael ajeitando travesseiros em volta de mim,
para me deixar mais confortável, e apoiei Jacqueline nos meus seios.
Ela não buscou alimento, apenas as batidas do meu coração a
fizeram parar de chorar.
— Celina?
— Hum?
Eu estava muito cansada, então nem tentei abrir os olhos para
ver seu rosto e o porquê do seu chamado.
— Eu te amo — ele disse.
Sorri.
— Eu sei.
Então Gael acomodou-se ao meu lado.
Em segundos, tudo estava em silêncio. E era um bom silêncio.
Apenas o vento batia na janela, trazendo o frescor da madrugada.
Era uma noite boa. Assim como seriam todas ao lado de Gael.

✽✽✽
— Olhe, ele é um idiota, ok? Qualquer homem iria querer ter
uma família com você. Parece ser uma garota muito boa. Padre
Caetano disse que seu padre da capital só lhe deu elogios.
— Ter uma família... É importante, não é? — sua questão
cortou minhas palavras.
— Claro, é tudo para um homem — respondo, rapidamente. —
Ao menos é tudo para mim. Uma esposa e filhos... é meu sonho...
Ah, que merda. Eu inventei isso. Nunca foi meu sonho. Na
verdade, antes de minha mãe me cobrar isso, eu nem queria ter
filhos. Eu pensava que não havia como eu educar um moleque
sendo que não tinha um exemplo de tal coisa.
— Sonho?
— Eu tenho muitas terras. E tenho dinheiro..., mas, não tenho
para quem deixar. Às vezes acho que todo meu esforço é em vão.
A preocupação surge em seus traços delicados.
— Matteo, você acredita em milagres?
— Milagres? Como assim?
— Por exemplo... Se você conhecesse uma mulher... Uma boa
mulher... Alguém que realmente quisesse ficar com você, mas ela...
sei lá... Ela tivesse uma doença terminal e apenas poucos meses de
vida, por exemplo...
Meus olhos se arregalam. Talvez... será que ela estava
tentando me passar a mensagem de que ela tinha prazo de vida?
Era por isso que ela havia aceitado se encontrar comigo tão
rapidamente? Era por isso que ela não parecia me temer? Era por
que ela estava com seus dias contados?
— Você acha que se Deus tivesse destinado o encontro entre
vocês... O sentimento que surgisse poderia curá-la?
Minha boca abriu, mas eu não sabia o que responder.
Eu realmente... Pela primeira vez... Eu estava querendo ficar
com uma mulher...
Eu estava me esforçando, e não era apenas porque minha mãe
pediu...
Eu gostei de Marcela.
Eu gostei de tudo nela.
Ela me atraia, na mesma medida que ela me fazia querer
protegê-la. Se vivêssemos há séculos, eu já a teria pedido em
casamento para seus pais. Naquela época não havia a necessidade
dos noivos se conhecerem melhor, não é?
Mas, agora eu estava indo devagar. Porque eu queria fazer
tudo certo. Eu queria mostrar a ela que eu era mais que um homem
caipira. Eu queria mostrar que era um cara honesto e bom, que
poderia dar uma vida confortável para ela...
— Marcela, eu não...
— Eu sei que é uma pergunta estranha. Somos basicamente
desconhecidos, mas... Quando eu o vi na igreja... — Ela parou na
minha frente, perto o suficiente para eu pegar seu perfume. — Por
favor, não pense mal de mim. Eu não sou uma mulher promiscua...
Apenas... Você acredita em milagres?
Deus meu, estou perdido.
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Era tão bom... tão bom...
De repente suas mãos agarraram minha cintura, me puxando
contra seus músculos tensos. Felipe era tão grande que me senti
uma coisinha minúscula contra seu corpo forte.
Suas mãos desceram. Aquela sensação deliciosa de que me
tocavam quando ele agarrava minha bunda voltou com intensidade.
Ele me puxou contra ele, e dessa vez fiquei mais consciente do que
ele queria, mais aberta a sensação de ondulação que meus quadris
faziam contra seu baixo ventre.
Uma das mãos abandonou o bumbum e subiu, capturando meu
seio, brincando contra o botão que despertava contra a camiseta.
— Você é tão quente, menina — ele disse. — E você gosta
tanto de um caralho, não é? Não consegue esconder a necessidade
enquanto eu aperto o meu contra sua boceta...
Felipe me devorou através dessas palavras. Um palavreado
que eu jamais admitiria ouvir num momento normal, agora só
intensificava a sensação de posse.
De repente ele segurou minhas duas coxas. Pôs as mãos
embaixo delas e me ergueu, fazendo com que minhas pernas
agarrassem sua cintura. Eu fiquei mais aberta, e agora estava
claramente rebolando sobre sua ponta grossa.
— Ah — suspirei, quando seu beijo quebrou, alguns instantes.
— Eu sei, eu sei — ele disse, beijando-me com força. — Vou te
dar tudo que você quer nessa boceta fogosa.
Subitamente, minhas costas bateram contra a parede. Ele me
apoiou lá, e tirou minha camiseta. Eu não havia colocado sutiã, e
meus peitos caíram sobre seu olhar. Logo seus polegares apertaram
meus botões, massageando, antes que sua boca tocasse meu peito.
Ele chupou, lambeu e mordiscou. Tudo isso fez com que eu
ardesse mais, e sentisse ainda mais meu centro pulsar e molhar. Era
tão bom, essa posição de completa submissão, presa nos braços
desse homem.
Ah, eu queria tanto que ele empurrasse aquela ponta grande
dentro de mim. Estava quase implorando.
Uma réstia de consciência me tomou, antes de se apagar
novamente. Brevemente eu me lembrei de minha mãe, e me lembrei
do que virou sua vida nas mãos de um homem, mas então ele bateu
forte o quadril no meu, me fazendo gritar de puro prazer, e tudo se
perdeu.
— Ah, Felipe...
— O quê? — ele questionou, seus olhos ardendo em chamas.
— Me fode — implorei, rebolando mais. — Por favor... por
favor...
Pouco depois eu senti a cama nas minhas costas. De joelhos
entre minhas pernas, Felipe pegou minha calça de moletom e a
arrancou, deixando visível minha calcinha encharcada.
— Sua bocetinha está latejando — ele disse, colocando um
dedo grosso na entrada dela, fazendo um círculo gentil, capturando
um pouco do meu suco, antes de levar o dedo a boca.
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Eu tenho tanta vergonha... tanta vergonha de mim mesma...
Mas, ele não parece sentir meu peso. Ele parece estar
carregando uma pena.
Meu corpo balança no dele. Sua ponta desponta contra minha
boceta. Estou em seus braços, e estou perdida neles.
— Posso te levar para o quarto? — ele pergunta.
Porque ele quer ter certeza de que eu também quero.
E, sim, eu quero esse homem gostoso demais dentro de mim.
Acontece que eu também temo que ele destrua minha sanidade. Eu
sobreviveria a Lucas?
— Por favor — a súplica é minha resposta.
E ele a entende.
Lucas adentra minha suíte, sem se preocupar em acender as
luzes. Ele me leva até minha cama, e me coloca nela, ficando parado
defronte a mim, seu corpo másculo quase como uma escultura
pecaminosa da cidade que queimou, Pompéia.
Um dos abajures do lado da cama está aceso. Pela rasa luz,
posso ver seu olhar quente me devorando antes mesmo de suas
mãos me tocarem. Meu olhar cai e posso visualizar seu pau quase
rasgando a calça.
Nunca me senti tão desejada. Mas... e quando eu tirasse a
roupa?
Quando ele visse minha barriga cheia de pneus? Quando ele
visse meus seios caídos? Minhas coxas cheias de celulite?
Eu quero apagar a luz, mas ele me para no caminho.
— Não... quero te olhar — ele murmura, percebendo
imediatamente minha intenção.
— Você não entende... eu sou... feia...
Ele nega com a face, enquanto seus dedos puxam sua
camiseta para cima, me mostrando seu peito cheio de pelos escuros
e algumas marcas de queimaduras.
Eu quero tocar em cada uma das suas marcas para ver se esse
homem é real mesmo, e quase me esqueço de minha condição até
ele falar:
— Você é a mulher mais linda que eu já vi.
Era mentira. E eu ficava me perguntando o quanto mais ele iria
mentir para mim.
Lucas subiu na cama com os joelhos, ficando totalmente em
cima de mim. Eu me senti acalorada, desesperada, queria me
contorcer nele, na mesma medida que tentei impedi-lo de tirar minha
camiseta.
— Você não quer? — pela primeira vez vi preocupação nos
seus olhos.
Eu queria.
— Tenho tanta vergonha de mim. Eu sempre tentei perder
peso, já fiz tantas dietas, academia, mas eu sempre fui...
— Você entende que eu adoro as suas curvas? — ele
questiona. — Adoro o quão macia você parece. Me dá tanto tesão...
— Ele lentamente olha meu corpo de cima a baixo. Seus olhos ficam
mais e mais escuros.
A maneira como ele falou, me deu forças para tirar eu mesma
minha camiseta. Deixei que eu olhar pousasse nos meus seios
enormes que quase escapavam do sutiã branco.
— Você parece uma noiva... — ele murmurou.
— Branco é mais fácil de limpar. Só colocar minhas roupas na
água sanitária...
Sério que eu falei isso? Sério que eu trouxe esse assunto a
cama?
Ele riu baixinho.
— Por isso que, além do seu jaleco, você também adora vestir
branco. Eu reparei que todas as toalhas do seu banheiro são
brancas e — ele olhou a cama – seus lençóis também.
— Sim — aceno.
— Bom saber. Nunca pensei nisso. Mais fácil de limpar... — ele
repete minha frase. — Eu adorei. Você é absurdamente perfeita.
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No derradeiro instante em que nos beijamos naquela praça, eu
soube que iria acontecer.
E eu a temi pelo mesmo motivo que ela me fascinava. O que
uma garota linda daquelas iria querer com um cara mais velho e
derrotado como eu?
O dinheiro não importava. Juliana era do tipo que lutava para
ter o seu próprio dinheiro. O que existia entre nós sim, me agoniava.
Porque ela era interessante, jovial, linda e cheia de vida. E eu era um
derrotado, um homem que nunca soube manter o interesse de uma
mulher.
Assim como Luana, ela iria se cansar do que quer que fosse
que existia entre nós. E as coisas iriam se complicar ainda mais. A
minha vida tranquila iria girar em 180 graus por causa dela.
Eu devia parar. Pedir que ela voltasse ao próprio quarto.
Afastá-la do meu corpo e da minha alma.
Contudo, agora, tudo que eu conseguia pensar era em colocar
minhas mãos em sua cintura e a puxar contra mim.
E foi o que eu fiz.
Deus, como ela encaixava direitinho, parecia que havia sido
feita exatamente para mim, para meu corpo. Eu fiquei quente e
derretido quando ouvi seu delicado gemido contra minha boca, e
uma parte do meu cérebro gritou desesperado, mas meu pau já
havia tomado conta da minha mente.
Sem quebrar nosso beijo, eu a levei até meu quarto, empurrei-a
contra minha cama. Eu sabia que não havia mais volta, e ela não
tentou fugir.
Ela estava entregue. Quando nos olhamos, ela deitada, eu de
pé aos pés dela, vi pelo seu olhar entreaberto e seu rosto vermelho
de excitação o quanto não dava para resistir.
Eu nunca quis tanto uma mulher, e imaginava se ela já havia
experimentado tanto desejo por um homem.
Juliana mordeu o lábio inferior, suas ancas se movendo
lentamente, suas coxas bem apertadas, o bico dos seus seios
surgindo na camisa clara, provando que ela queimava.
Quando tomei a decisão de arriscar tudo, nesse momento, meu
corpo ganhou vida, cada terminação nervosa provocando sensações.
Cai em cima dela e voltei a beijá-la. Nunca parecia o bastante.
Minha língua dobrou-se em sua boca, tocando cada centímetro de
sua cavidade, eletrificando suas reações. Juliana gemeu e eu soube
mais que nunca que estava perdido pela paixão que queimava como
um incêndio em minhas veias.
A apertei. Minhas mãos deslizaram pelo seu tronco, fixando-se
nos seus seios. Os massageei, focando-me no bico inchado que
despontava. Ela ofegou, buscando minha boca mais e mais, sua
parte inferior esfregando-se contra meu pênis.
Fazia tanto tempo... Tanto tempo sem sexo, eu nem sabia que
senti tanta falta...
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Talvez fosse a cerveja, mas reparei imediatamente em como as
maçãs do seu rosto estavam coradas e a boca parecia
inesperadamente suculenta. E que coxas ela tinha! Aquilo era uma
perdição.
— Você acha que a gente....
— O quê? Não... não... É loucura — retorqui. Mas, bem que eu
queria. — No entanto, você já pensou na possibilidade?
O silêncio caiu e esperei pela resposta dela.
— Ah, sei lá. Você é meu melhor amigo.
— E você é minha melhor amiga.
— Então, tipo...É estranho.
— Muito estranho.
— E tipo...
— Tipo?
— Se rolasse algo, nossos pais teriam expectativas sobre nós...
casamento, filhos... E você sabe que eu não quero ser mãe.
Ela nunca quis. Dizia isso desde os 5 anos de idade. Acredito
que ser a filha mais velha de cinco irmãos e ter assumido muitas
responsabilidades na criação deles tenha contribuído para isso.
— A não ser...
— Sim?
— Que eles não saibam...
— Que ninguém saiba — eu concordei.
Um estrondo no som da televisão. Jake, o protagonista de Lost,
estava batendo num cara com o rosto marcado. Meus olhos
visualizaram a cena pelo canto dos olhos, porque minha face ainda
estava toda voltada para Layne.
Meu corpo se moveu primeiro. Aproximei-me ainda mais no
sofá, esperando que ela risse e me afastasse e eu voltasse ao
normal. Porque, ora, estávamos bêbados, mas não éramos tão
loucos, éramos?
Profundamente consciente de quão perto seus lábios estavam
dos meus, eu seguro minha respiração, e aguardo.
Layne não se afasta. Agora meu corpo já está inclinado sobre o
dela, seus seios roçando no meu peito, fazendo minha mandíbula
apertar e meu pau pulsar.
— É... já tem um tempo que eu não transo — admito quando
seus olhos baixam e percebem a protuberância na minha calça. —
Você sabe que meu namoro com Manuela deu errado ano passado e
não sai com outra garota desde então. E eu bebi muito... você sabe...
bebi o suficiente para ficar louco. Então você pode me chutar agora?
Pelo bem de nós dois?
Layne me encara. Aqueles lindos olhos brilhantes focados em
mim. De repente, ela se inclina para cima, resvalando seu corpo
delicioso no meu.
Deus, ela também bebeu muito. E agora, quem vai nos parar?
Seguro sua bunda, puxando-a para perto de onde eu sou tão
duro. Ela respira e os lábios se abrem.
— Você já fez? — indago, porque nunca a vejo com um cara
por mais de uma semana.
Ela nega. Eu sabia. Virgem. Vinte e cinco anos e virgem.
— Se você deixar, eu posso chupar sua boceta para ficar mais
fácil.
Layne inclina a cabeça para trás. Ela está analisando.
— Fica mais fácil?
— Sim, na primeira vez é um tanto... doloroso.
Layne passa a mão sobre minha ereção, e eu gemo como um
adolescente diante da primeira transa. Eu mal posso esperar para tê-
la envolta do meu pau, sua boceta, sua boca...
— E chupar facilita?
— Fica mais molhado...
Eu arrasto minha mão para frente e para trás sobre o mamilo
dela.
— Ah, eu lembro de ter lido sobre isso. — Ela moi contra mim,
deixando claro que ela fará o que quiser, e minhas sugestões não
importam. — Você está cheirando a álcool — ela sussurra. — Está
bêbado demais e eu também. A gente devia parar.
Ah, céus...
— Eu realmente quero te foder. — Admito, tentando convencê-
la.
Meus dentes cavam meu lábio inferior enquanto luto pelo
controle.
— Mas, se você não quer... eu juro que paro...
Ela encolhe os ombros, o movimento fazendo seus seios
saltarem levemente, fazendo minha boca secar mais uma vez.
— Olha, que tal um trato? A gente faz, eu perco a virgindade, e
depois a gente segue amigos, como se nada tivesse acontecido.
Nem precisamos falar do assunto. Estamos ambos bêbados, e
ninguém precisa culpar ninguém.
Que trato legal. Ótimo.
— Sem compromisso?
— Exato.
— Então vou deslizar meu pau dentro de você, sentindo pele
contra pele, e sem culpa?
— Combinado?
— Você vai me deixar desfrutar sua bocetinha?
— Vou — ela estava gostando das palavras sujas.
— Então, posso ver sua calcinha? Estou muito curioso em
saber a cor que usa. Acho que é vermelho.
— Não estou usando calcinha — As palavras são suficientes
para me fazer perder a cabeça.
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Seus dedos começam a traçar minha pele, subindo pelo meu
vestido. Estamos escondidos pela toalha da mesa, mas me sinto
pecaminosa com sua ação.
Seus dedos chegam na minha calcinha. Resvalam entre a
renda e a costura, adentrando minha intimidade.
Eu balanço, tesão e desespero, vergonha e adrenalina
correndo soltas pelas minhas veias.
Olho para os lados. Ninguém está prestando atenção em nós.
O dedo de Vitor entra entre meus lábios. Começo a balançar no
ritmo da música, tentando esconder o que está acontecendo.
Sem controle, minha mão desce até ele. Quero que ele sinta o
que eu estou sentindo. Por cima da calça eu posso experimentar a
sensação do toque na sua carne dura.
Vitor respira fundo. Eu o encaro. Nossos olhos estão escuros e
cheios de desejo.
Ele enrola meu clitóris e eu preciso morder a boca para não
gritar. O ritmo da música aumenta, e meu corpo sacode um pouco
mais forte. Meus dedos abrem o zíper da sua calça e seu pau salta
para fora, duro, e eu sei que ele está se segurando para não me
levar correndo para o quarto.
Eu perdi minha virgindade naquela manhã. Fiz sexo mais tarde.
E agora quero mais. Três vezes num mesmo dia, isso está saindo
totalmente do controle.
Arrasto meus dedos, pressionando. A ponta do meu polegar
aperta sua cabeça, e eu a sinto úmida. Reprimindo um suspiro, sinto
a pressão dura e inchada pedindo para que eu lhe bata punheta.
Então eu giro minha mão e começo a socar para cima e para baixo.
Ele tenta esconder o prazer fechando os olhos. Seus dedos
agora estão mais fundos dentro de mim, eu estou prestes a explodir.
— Você está me deixando louco, Núbia — ele murmura.
Sou eu que estou louca.
Desejo. Amor.
Amor mais que tudo.
Meu sentimento me guia, eu sinto meu coração aquecer
naquela farsa porque apesar de tudo ser fingimento, eu sei que o
tesão não é. O coração dele pode pertencer a Ester, mas o corpo é
meu, ao menos nessas 48 horas.
Vitor me encara e então me beija. Sua língua desliza sobre a
minha, enquanto sua boca me suga. Estou inebriada e quente, mal
consigo raciocinar.
De repente ele molha minha mão, esguichos fortes contra meus
dedos. Isso ativa meu desejo ainda mais e mal percebo quando
estou gozando nos seus dedos.
É liberdade. É tão precioso que mal consigo pensar.
Aos poucos meu corpo vai acalmando-se e nos afastamos os
dedos. Busco um guardanapo de papel e limpo seu sêmen, mas ele
não faz o mesmo. Minha umidade está entre seu indicador e dedo
médio, e ele a deixa lá.
A música cessa. Aplausos.
Inclino meu rosto por cima do ombro para ver se alguém
percebeu o que aconteceu. Mas, ninguém parece se importar com o
que rolou naquele canto do restaurante do hotel.
— Eu sou um marido incrível, não Núbia? Eu sempre te faço
gozar... — ele murmura nos meus ouvidos e eu preciso fechar os
olhos com força para aguentar o tesão.
— Sim, Vitor...
— Diga o quanto você precisa do meu pau essa noite?
— Eu preciso... Muito.
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Meu Deus, era meu melhor amigo. Eu tinha amor por ele. Mas,
temia magoá-lo porquê...
Suas mãos me exploraram, e seus lábios se moveram do meu
rosto para o meu pescoço, minhas orelhas e meu pensamento se
interrompeu.
Ele bombeou com tanta vontade, mergulhando cada vez mais
fundo até que comecei a tremer de prazer e tudo meu se perdeu a
certeza de que eu estava gostando – muito – de viver isso com
Vicente.
Em TharnType, um dos protagonistas começou a transar com o
parceiro de quarto por causa da atração e acabou se apaixonando.
E se isso acontecesse comigo?
Essa ideia me fez enrijecer de tal forma que me senti apertando
Vicente dentro de mim ao ponto de ordenhá-lo.
— O que foi? — ele perguntou.
— Nada... Não pare...
Meus pensamentos podiam estar me matando, mas eu tinha
certeza de que queria o que estava acontecendo.
Mais e mais.
Percebi que ele estava crescendo, e isso só aumentou meu
prazer. De repente, um calor me atingiu e me elevou a um nível
inigualável que era quase causou dor. Então explodi em pedaços
enquanto sentia Vicente chegando ao ápice.
Então, depois daquela conexão absurda, meu corpo sacudiu e
descansou. O corpo de Vicente ainda conectado ao meu, pesado
sobre meu peito, uma junção de almas que eu jamais havia pensado
existir.
— Talvez eu realmente esteja apaixonada por você — admiti, e
senti ele balançando num riso sincero.
Leia completo AQUI
Pedro afastou minhas pernas com o joelho e se acomodou na
minha entrada. Ele estava pronto e eu também, mas me deixou guiar
conforme minha vontade.
Montei nele, minhas coxas espalhadas em volta do seu tórax.
Sentei-me devagar, deixando com que seu pau brincasse com o
tecido da minha calcinha.
Era incrível a sensação de beijar e se esfregar ao mesmo
tempo. De repente, os botões da minha blusa voaram em todas as
direções. Meu peito surgiu diante dele e fiquei um pouco
envergonhada.
Pedro se sentou, levando os mamilos até a boca. Sugou,
acariciando a pele mais escura em volta do mamilo.
Soltei um gemido suave. Ele rosnou em aprovação.
— Tire a calcinha — ele pediu e eu me retesei, lembrando-me
imediatamente da primeira vez.
Porém, estava quente demais, com tesão demais, para resistir.
Me levantei e removi a saia e a calcinha. Logo, retornei à
posição montada, seu pau ereto diante da minha boceta um tanto
temerosa.
Ele me puxou em sua direção até que estivéssemos cara a
cara, me deu um beijo rápido, depois me colocou de costas
novamente. Nossos olhos ficaram presos enquanto ele deslizou
entre minhas coxas. Pedro se colocou entre minhas dobras e brincou
com meu clitóris antes de entrar em mim.
Estranhamente, não doeu. Dessa vez, não precisei pedir para
ele parar, ele mesmo ficou imóvel alguns segundos, deixando meu
corpo se acostumar ao seu.
De repente, uma sensação cresceu dentro de mim novamente.
Era algo gostoso, bom, me fez contorcer-me... eu precisava...
— Deus, sua bocetinha me puxa tanto — ele gemeu no meu
ouvido e eu senti que a vontade ultrapassou meus limites.
O corpo perfeito de Pedro começou a empurrar seu pau. Saia e
voltava com um ritmo cadenciado, louco... Eu o empurrei de volta,
rolando meus quadris para sentir mais da sua carne, sua delícia.
Seu corpo bateu contra o meu, novamente e novamente. A
repetição aqueceu nossas mentes, o calor aumentou quando
colidimos juntos em estocadas desesperadas. Assim que eu alcancei
uma sensação tão poderosa, quase me fazendo gritar, ele se
manteve firme e me empurrou no ritmo perfeito. Nós explodimos
juntos, ele derramando-se em mim como se eu fosse parte dele.
Eu não conseguia parar de tremer, mesmo depois que ele caiu
em cima de mim. Minhas mãos o apertaram num abraço gentil e ele
sorriu.
Uma parte de mim ainda queria estar com raiva dele. E não
apenas porque ele foi um canalha comigo. Uma parte de mim ainda
queria se proteger de tudo que eu estava experimentando.
Fechei meus olhos.
— Eu estou tão cansada e preciso de um banho — murmurei.
Ele assentiu.
— Vamos tomar banho juntos? — pediu. — Depois eu te
empresto uma camiseta e você pode dormir o dia todo resto da
vida?
LEIA AQUI
Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde
cedo, apaixonou-se por literatura, e teve em Alexandre Dumas e
Moacyr Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até
então já escreveu mais de vinte livros, dos quais, vários se
destacaram em vendas na Amazon Brasileira.
WWW.JOSIANEVEIGA.COM.BR
Instagram
https://www.instagram.com/josianeveigaescritora/
QUER GANHAR MIMOS E CONVERSAR SOBRE OS LIVROS DA
AUTORA?
CORRE PRO GRUPO DO TELEGRAM:
https://t.me/joinchat/G-FVZbSHSAiSJfHH

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