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AXIOTHÉA

Collana sottoposta a un processo


di double-blind peer review

Direttori

Francesca Gambetti
Stefania Giombini

Comitato scientifico

Miriam Campolina Peixoto


Loredana Rita Cardullo
Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho
Mikołaj Domaradzki
Christoph Helmig
Manfred Kraus
Flavia Marcacci
Lidia Palumbo
Livio Rossetti
Emidio Spinelli
Alonso Tordesillas
Cristina Viano
ὁδοὶ νοῆσαι
Ways to Think.
Essays in Honour of Néstor-Luis Cordero

Edited by
Massimo Pulpito and Pilar Spangenberg
COPERTINA
Jimmy Knows S.C.P.,
Barcelona (ES)
www.jimmyknows.net

IMPAGINAZIONE
Giulio Venturi

STAMPA
Print Group Sp. z. o. o., Szczecin (Poland)

ISBN
978-88-9363-090-0

CASA EDITRICE
© Diogene Multimedia
Piazza di Porta Santo Stefano 1, 40125 Bologna
I edizione, ottobre 2018
Contents

MASSIMO PULPITO – PILAR SPANGENBERG, For Néstor, who makes


the way as he goes 9

Bibliography of Néstor-Luis Cordero 19

I. PARMENIDES

1. ENRIQUE HÜLSZ – BERNARDO BERRUECOS, Parménides B1.3: una nueva


enmienda 31
2. SERGE MOURAVIEV, Ersatz de vérité et de réalité? ou Comment Parménide
(B 1, 28-32) a sauvé les apparences (avec la collaboration épistolaire de
Scott Austin †2014) 61
3. JOSÉ SOLANA DUESO, Mito y logos en Parménides 87
4. NICOLA STEFANO GALGANO, Parmenide B 2.3: dall’esperienza immediata
del non essere alla doppia negazione 101
5. MICHEL FATTAL, Raison critique et crise chez Parménide d’Élée 113
6. ALEXANDER P. D. MOURELATOS – MASSIMO PULPITO, Parmenides and the
Principle of Sufficient Reason 121
7. LIVIO ROSSETTI, Mondo vero e mondo falso in Parmenide 143
8. FERNANDO SANTORO, A Lua, Vênus e as Estrelas de Parmênides 155
9. CHIARA ROBBIANO, Just being: un-individualized. An interpretation of
Parmenides DKB16 and a glance at empirical research 167
10. JAAP MANSFELD, Parmenides on Sense Perception in Theophrastus and
Elsewhere 177
11. LAMBROS COULOUBARITSIS, Réinterprétation de l’eon de Parménide dans
l’éclairage du Papyrus de Derveni 193
12. GIOVANNI CERRI, Parmenide in Lucrezio (Parm. B 12, 3-6 ≈ Lucr. 1,
19-21) 207
13. MANFRED KRAUS, William of Moerbeke’s Translation of Simplicius’ On
De Caelo and the Constitution of the Text of Parmenides 213

II. AFTER PARMENIDES

14. JONATHAN BARNES, ‘Zeno ait nihil esse’ 233

15. MARIANA GARDELLA, Zenón, erístico. Observaciones sobre el testimonio


de Epifanio, Adv. Haeres. III. 505. 30–506. 2 245

16. LUC BRISSON, La déconstruction d’un fragment de Mélissos 257

17. A LBERTO B ERNABÉ , La APXH y Anaxágoras en la columna XIX del


PDerveni 265

III. SOCRATES, PLATO AND BEYOND

18. CLAUDIA MÁRSICO, Sombras de las polémicas intrasocráticas: Antístenes en


la República a propósito de la crítica homérica 279

19. GIUSEPPE MAZZARA, Platone di fronte a Parmenide, Gorgia e Antistene nel


Sofista 289

20. ESTEBAN BIEDA, El carácter político de la muerte de Sócrates 301

21. LUCAS SOARES, Platón y sus multitudes 311

22. THOMAS M. ROBINSON, Democracy and Populism in 5th and 4th Century
Athens 321

23. RACHEL GAZOLLA, Justiça e poder na República de Platão: um breve


comentário 331

24. GIOVANNI CASERTANO, I proverbi del Fedone 345

25. VICTORIA JULIÁ, Divagación sobre cigarras y hormigas (a propósito de


Fedro 258e6-259d8) 357

26. FRANCESCO FRONTEROTTA, La dottrina eleatica dell’‘unità del tutto’:


Parmenide e il Parmenide platonico 365
27. GRACIELA E. MARCOS DE PINOTTI, Filosofía e indagación de hipótesis
según Platón 375
28. PILAR SPANGENBERG, Lenguaje y acceso al ser en el Sofista 385
29. LIDIA PALUMBO, La nozione di immagine in Platone, Soph. 240 395
30. CATHERINE COLLOBERT, L’art mimétique de Platon: un art du portrait 403
31. MARCELO D. BOERI, Apariencia y falsedad en Platón y Aristóteles 415
32. GABRIELE CORNELLI, Aristóteles e os mitos pitagóricos: imortalidade da
alma e protopitagorismo 429

ADDENDA

33. STEFANIA GIOMBINI, Néstor Cordero concittadino di Parmenide e Zenone 443


34. MEGISTO N. BÊMA – SÄULE CIERRES MONTAÑA, Ontología de la alteridad
en Telefonte de Heraclea 447

Tabula Gratulatoria 453


8.
A LUA, VÊNUS E AS ESTRELAS DE PARMÊNIDES1
FERNANDO SANTORO2

ABSTRACT

The twenty-first century begins with many interpretive turns towards the
pre-Socratic thinkers, among them Parmenides of Elea. Néstor Cordero,
having studied all the surviving manuscripts like nobody else, deconstruct-
ed Neoplatonic orthodoxy, which, recalcitrant in German philology, has or-
dered the fragments into two parts, Truth and Doxa, and relegated all the
cosmological contents of becoming beings to the mere appearance of opin-
ion. Following the steps opened by Cordero, I investigate how the cosmo-
logical contents contained in the fragments of the Poem can be integrated
into the Parmenidean program of knowledge of truth, achieved by thought.
In this way, scientific discoveries concerning the Moon, Venus and the stars
are glimpsed. I also propose that an old way of integrating the knowledge
of astronomical contents to the knowledge of contents related to generation
and sex, which compose the physical subjects of the Poem, takes the form of
an Erotic interpretation of the world, ruled by Eros and Aphrodite.

1 Gostaria de agradecer a Massimo Pulpito e Pilar Spangenberg o honroso convite, e também por
fazer valer línguas da comunidade sul-americana, como o português e o espanhol, que Nestor sempre
quis que fossem valorizadas, face à ideia de uma única língua franca imperial.
2 Universidade Federal do Rio de Janeiro.
154
156 Fernando Santoro

O século XXI começa com muitas viradas interpretativas com relação aos
pensadores pré-socráticos, entre os quais Parmênides de Eleia. Nestor Cor-
dero, tendo estudado como ninguém todos os manuscritos supérstites, des-
construiu a ortodoxia neoplatônica que, recalcitrante na filologia alemã, ao
distribuir os fragmentos em duas partes, a Verdade e a Doxa, relegava todos
os conteúdos cosmológicos do devir à mera aparência da opinião. Seguindo
os passos abertos por Cordero, investigo como os conteúdos cosmológicos
contidos nos fragmentos do Poema podem ser integrados ao programa par-
menídico de conhecimento da verdade pelo pensamento. Neste caminho
vislumbram-se descobertas científicas relativas à Lua, a Vênus e às Estrelas.
Proponho ainda que uma antiga forma de integrar o conhecimento de con-
teúdos astronômicos ao conhecimento de conteúdos relativos à geração e ao
sexo, que compõem os assuntos físicos do Poema, dá-se na forma de uma
interpretação erótica do mundo, regido por Eros e por Afrodite.

Toda interpretação contemporânea do Poema de Parmênides depende de um


primeiro passo hermenêutico que é o ordenamento dos fragmentos que a tradição
nos legou. Mas este ordenamento, ele mesmo, só é possível quando se constituiu
uma visada sobre o que seria o poema inteiro, pois a única indicação objetiva de
posição que possuímos diz respeito ao início, para o fragmento citado por Sexto e
que todos aceitam ser o primeiro. Assim, o interprete do Poema tem de conhecer
bem os fragmentos resistentes e ainda supor como seriam aquelas partes do Poema
que não chegaram até nós. Além de filólogo, o interprete tem de ser visionário, e
um visionário como Calcante, “que vê o que é, o que era e o que está para ser” (Ill.
I, 70), pois tem de considerar como o que temos chegou até nós, para entender o
que chegou, e olhar para o futuro, vendo o que se pode extrair de tal legado. É por
isso que o filólogo sempre há de ser filósofo, e um filósofo que não tem medo de
entrar no círculo hermenêutico, sabendo que tanto a compreensão geral depende
do ordenamento, quanto o ordenamento depende da visão geral. O Poema de
Parmênides é um balé de estrelas, e como bem o sabemos, não é tão fácil ver as
estrelas em uma bela ordem cósmica: precisa considerar o dia e a noite, precisa
colocar alguma referência imóvel em nossa perspectiva de planeta errante, precisa
ver de onde vem a luz que ilumina, precisa saber onde pôr o centro, ou mesmo se
vamos pô-lo em algum lugar.
Por isso é que o trabalho de Nestor Cordero equivale a uma revolução coperni-
cana, não apenas para a interpretação do Poema de Parmênides, mas também de
todo o campo dos estudos pré-socráticos. De fato, todo este campo se constituiu
e se estabeleceu sobre uma canonização da obra de Herman Diels e seu discípulo
Walter Kranz. As edições dos Fragmente der Vorsokratiker de 1901 a 1951 torna-
ram-se um Almagesto ptolomaico, constituindo uma visão ortodoxa poderosa que
a muito custo ainda precisa ser superada. Cordero mostrou-nos várias vezes como
os textos estabelecidos por Diels, seja em suas escolhas dos manuscritos, seja na
reconstrução de partes textuais que nem sempre existiram, seja finalmente no or-
8. A LUA, VÊNUS E AS ESTRELAS DE PARMÊNIDES 155
157

denamento dos fragmentos, obedeciam a juízos filosóficos que chegaram ao século


XIX influenciados por forte carga de tradição neoplatônica. Para se ter ideia do
tipo de intervenção operada por Diels, vou citar apenas dois reparos apontados
por Cordero. Por mais escandalosas que sejam estas intervenções, fato é que ainda
são poucos os estudiosos que já as suspenderam no estabelecimento crítico dos
textos, como nas recentes edições de Laks & Most (2016) ou Dorandi (2013).
A primeira intervenção acrescentou a palavra εἴργω, inexistente nos manuscri-
tos, em uma lacuna de uma citação feita por Simplício. Sendo uma passagem deci-
siva para determinar as vias de conhecimento que devem ou não devem ser trilha-
das, esta pequena intervenção transformou em um fato textual aceito por grande
parte dos estudiosos uma hipótese duvidosa acerca de três possíveis caminhos, um
a percorrer e dois a evitar. Os três caminhos confirmariam a interpretação de teor
platonizante sobre três categorias ontológicas e epistêmicas: “o que é”, “o que não
é” e “o que parece que é” (doxa). A correção desta intervenção alimenta a tese mais
importante de Cordero, sobre Os dois caminhos de Parmênides, publicada em 1984
e reeditada em 1997, condensada no artigo Tertium non datur, de 2007.
O segundo exemplo de intervenção ocorre numa passagem do testemunho bio-
gráfico de Diógenes Laércio sobre Xenófanes. Diels acrescenta nove (!) palavras
para atestar que Xenófanes esteve em Eleia e, portanto, deu origem à tribo de filó-
sofos eleatas, como quer Platão no diálogo Sofista. Cordero apontou-a pela primei-
ra vez no congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, em Natal, 2009.
A mais importante contribuição de Cordero para o estabelecimento crítico do
Poema, todavia, não está no cuidado com os manuscritos, mas na recomposição
da ordem dos fragmentos. A partir da desconstrução da ideia platonizante de que
tudo quanto fosse relativo ao mundo físico e ao mundo do devir faria parte do
discurso da Deusa sobre a opinião dos mortais, toda a ordenação estabelecida por
Diels é revista. Vou aproveitar aqui apenas as conclusões; para uma apreciação
dos argumentos, remeto a dois artigos, o primeiro, publicado em 2011, e um mais
recente, publicado no último número da RPhA, em 2017. Cordero restringe o dis-
curso sobre a doxa às passagens em que o Poema explicitamente discute a opinião
dos mortais: os nove últimos versos do fr. 8; os quatro versos do fr. 9; os seis versos
do fr. 12 e os três versos do fr. 19. Um total de 22 versos. A consequência dessa
decisão é fundamental para a reconfiguração do sentido do Poema, sobretudo no
que diz respeito a todos os versos que trazem uma discussão e uma configuração
cosmológica – pois estes passam a poder ser considerados de maneira positiva para
a constituição do discurso verdadeiro dentro do Poema.
Para completar essa abertura do sentido, importa um outro passo também rea-
lizado por Cordero: a refutação da arrasadora crítica de Aristóteles a Parmênides
no que diz respeito à sua teoria da imobilidade do ente. Aristóteles inicia o seu
tratado de Física discutindo com os primeiros físicos, como Empédocles, Demó-
crito e outros, os princípios relativos ao movimento e aos entes móveis. A physis é
um princípio de movimento, logo é preciso refutar a hipótese de inexistência do
156
158 Fernando Santoro

movimento e, mais, também a hipótese de que não é possível pensá-lo. Parmênides


e Melisso são escolhidos como os porta-vozes dessas hipóteses. Mas se assentimos
que a crítica de Aristóteles (nas Preleções Físicas e no Tratado do Céu) é excessiva
e não se deve levar o Poema para uma interpretação de que todas as coisas estão
imóveis, Parmênides pode ser visto também como um físico e também como um
cosmólogo. Já Simplício, no seu Comentário à Física de Aristóteles, quer mostrar
que a interpretação aristotélica tende ao exagero, e para nos provar isso textual-
mente legou-nos a maior parte dos versos de que dispomos. Mas Simplício ainda
reforça a dicotomia neoplatônica de um mundo separado em dois: uma parte eter-
na imóvel e outra no devir do movimento.
A consequência da revisão crítica de Cordero é que, se a verdade do Poema
inclui tudo o que a Deusa diz que se vai conhecer, é preciso convir que o programa
de conhecimento, o programa sobre o verdadeiro, engloba mais do que o discurso
acerca dos sinais do ente, este que sem nascimento nem destruição está todo imó-
vel pelas amarras da necessidade. O discurso do ente não se opõe necessariamente
ao discurso sobre as verdades celestes do cosmos ou sobre a geração dos organis-
mos vivos e sexuados. Talvez não seja tão simples articular estas perspectivas, mas
é preciso desfazer a suposição de que todo conhecimento relativo ao cosmos e à
natureza viva deva ser relegado ao plano da opinião e da ilusão.
A lição de uma leitura atenta ao texto e cuidadosa para não carregá-lo de pre-
concepções platonizantes nos defende de despejar para fora do discurso verdadei-
ro uma série de teorias cosmológicas que são verdadeiras pérolas do conhecimento.
Descobertas inéditas para a astronomia, como a explicação das fases da lua como
reflexos da luz do sol, não são ilusões ou opiniões. Ao contrário, são verdadeiras
demonstrações operadas pelo pensamento que corrigem aparentes ilusões, como a
suposição de que a lua teria luz própria.
Sobre esta revolução copernicana de Cordero, avança uma nova onda de lei-
turas que buscam reconhecer os ganhos científicos das investigações de Parmê-
nides para a história do conhecimento ocidental, ganhos no campo da lógica, da
matemática, da astronomia. Neste sentido caminham estudos de Livio Rossetti
(2017), Luigi Ruggiu (2003), Giovanni Cerri (1999) e outros. Mas eu gostaria
de ir além e propor que, efetivamente, o Poema de Parmênides é um tratado
cosmológico que busca assentar suas teorias no que pode ser construído pelo
pensamento a partir da crítica dos fatos e da correção de convicções ilusórias. Os
versos que estamos há tanto tempo considerando como pertencentes ao discur-
so da Verdade seriam, neste sentido, discursos preparatórios ou metodológicos
para estabelecer como tratar com a força do pensamento as questões relativas
aos fenômenos naturais. O Poema de Parmênides poderia ser assim apreciado
em um mais largo alcance teórico: sem dúvidas é inaugural de uma reflexão on-
tológica e epistêmica, porém não de forma abstrata. Suas posições ontológicas e
epistêmicas servem efetivamente de método para acercar-se do conhecimento do
mundo e sua natureza.
8. A LUA, VÊNUS E AS ESTRELAS DE PARMÊNIDES 157
159

Assim como propõe Cordero, todos os versos que discutem e expõem conhe-
cimentos sobre a natureza fazem parte do discurso da Verdade. Acrescento, de
minha parte, que a Verdade segue um programa apresentado no início em duas
etapas: uma primeira diz respeito ao método e uma segunda ao conteúdo do co-
nhecimento.
O programa relativo ao método é bem discutido, e talvez seja o que mais con-
trovérsias trouxe para as interpretações do Poema. São os versos sobre o coração
da Verdade e sobre as opiniões dos mortais, que cito a seguir:

(DK B 1, 28-32) PROGRAMA 1

28 Mas é preciso que de tudo te


instruas: tanto do intrépido coração da Verdade persuasiva
30 quanto das opiniões de mortais em que não há fé verdadeira.
Contudo, também isto aprenderás: como as aparências
precisavam patentemente ser, por tudo como tudo quanto é3.

28 χρεὼ δέ σε πάντα πυθέσθαι


ἠμὲν ἀληθείης εὐπειθέος ἀτρεμὲς ἦτορ
30 ἠδὲ βροτῶν δόξας, ταῖς οὐκ ἔνι πίστις ἀληθής.
ἀλλ᾿ ἔμπης καὶ ταῦτα μαθήσεαι, ὡς τὰ δοκοῦντα
χρῆν δοκίμως εἶναι διὰ παντὸς πάντα περ ὄντα.

Já o programa relativo ao conteúdo sequer é considerado tradicionalmente


como um programa de conhecimento, posto que aparece, segundo a ordenação de
Diels, depois dos últimos versos do fr. DK B8 que anunciam o discurso enganoso
dos mortais numa ordenação cósmica verossímil, e depois do fr. DK B9 que trata
do erro cosmológico de diferenciar o Dia e a Noite segundo os nomes, porque em
verdade são ambos iguais. Este programa relativo ao conteúdo é o fr. DK B10, o
qual em minha edição também separei do chamado grupo de versos sobre a doxa e

3 Por tudo como tudo quanto é Simplício D, E, F; atravessando tudo através de tudo Simplício
A. É uma das expressões mais intraduzíveis do Poema. Em se aceitando a lição majoritária dos ma-
nuscritos, literalmente: “através de tudo tudo enquanto entes”. Segundo a leitura de L. Ruggiu deste
passo, que adoto, trata-se do fato de que tudo que é deve ser e tem razão de ser; assim também as
aparências, enquanto são entes, enquanto são como tudo quanto é. A prescrição de aprendizagem
apresentada nestes dois versos é difícil de entender e aceitar. Talvez por isso apenas Simplício os cite,
enquanto a prescrição dos versos anteriores é citada com mais frequência. Simplício quer rebater a
crítica de Aristóteles no De caelo (298b 14 = DK A 25) que imputa a Parmênides justamente o fato
de ter considerado o sensível como o inteligível sem distinguir ontologicamente os entes corruptíveis
dos incorruptíveis. Simplício cita a passagem para mostrar que Parmênides faria a distinção entre o ser
inteligível (τὴν μὲν τοῦ ὄντως ὄντος τοῦ νοητοῦ) e o devir sensível (τὴν δὲ τοῦ γινομένου τοῦ αἰσθητοῦ)
porque, segundo Simplício, Parmênides chama de verdade o que é e de opinião o que devém (διὸ περὶ
τὸ ὂν ἀλήθειαν εἶναί φησι, περὶ δὲ τὸ γινόμενον δόξαν). Cf. com. de Ruggiu, in Reale (2003), 200-209
e Ramnoux (1979), 32 ss.
158
160 Fernando Santoro

o coloquei, junto ao início, logo a seguir dos versos referentes ao programa meto-
dológico. A passagem inicia-se de forma prescritiva, como no início da fala da Deu-
sa: “Conhecerás...”, e nela não há nada que se refira à ilusão ou ao engano. O que
nela há é uma lista de fenômenos que devem ser objetos de investigação e conheci-
mento e a indicação de que se deve buscar a Necessidade de que tais fenômenos se
realizem do modo como são. Se entendermos um pouco prospectivamente a ideia
de necessidade, podemos comparar esta sua previsão incluída no programa como
uma busca pela explicação do fenômeno e de sua condição incontornável, suas
regras (ou leis), ou seja, busca do que explica o fenômeno pelo pensamento e não
apenas pelas opiniões sobre as primeiras aparências. Aquilo que é por necessidade
é uma das primeiras ideias do que se vai entender como conhecimento científico.
Vejamos os versos que põem o programa de conteúdo do conhecimento:

(DK B 10) PROGRAMA 2


Clemente de Alexandria, Miscelâneas, V, 14 (II 419.14-20)

1 Conhecerás a natureza do Éter e também todos os sinais


que há no Éter e as obras invisíveis da flama pura
do Sol resplendente, e de onde surgiram.
Sondarás as obras vagantes da Lua ciclópica
5 e sua natureza, conhecerás também o Céu que tudo abarca,
de onde este brotou, e como a Necessidade o levou no cabresto
a manter os limites dos astros.

1 εἴσηι δ᾿ αἰθερίαν τε φύσιν τά τ᾿ ἐν αἰθέρι πάντα


σήματα καὶ καθαρᾶς εὐαγέος ἠελίοιο
λαμπάδος ἔργ᾿ ἀίδηλα καὶ ὁππόθεν ἐξεγένοντο,
ἔργα τε κύκλωπος πεύσηι περίφοιτα σελήνης
5 καὶ φύσιν, εἰδήσεις δὲ καὶ οὐρανὸν ἀμφὶς ἔχοντα
ἔνθεν ἔφυ τε καὶ ὥς μιν ἄγουσ(α) ἐπέδησεν ᾿Ανάγκη
πείρατ᾿ ἔχειν ἄστρων.

O conteúdo expresso neste programa inclui uma série de objetos e fenômenos


astronômicos: o éter e seus sinais, o sol, as fases da lua, o céu e os astros. Muito
provavelmente o programa se estendia, porque encontramos nos versos do Poema
também outros temas de conhecimento, como, por exemplo, toda a parte relativa
a reprodução sexuada dos seres humanos. Plutarco, quando elenca o conteúdo
da ordenação de mundo, diákosmos ou cosmologia de Parmênides, cita: a terra, o
céu, o sol, a lua, e também a geração dos homens4. O conteúdo é parecido ao de

4 Plutarco, Adversus Colototem 1114b. ὅς γε καὶ διάκοσμον πεποίηται καὶ στοιχεῖα μιγνὺς τὸ
λαμπρὸν καὶ σκοτεινὸν ἐκ τούτων τὰ φαινόμενα πάντα καὶ διὰ τούτων ἀποτελεῖ· καὶ γὰρ περὶ γῆς εἴρηκε
πολλὰ καὶ περὶ οὐρανοῦ καὶ ἡλίου καὶ σελήνης καὶ γένεσιν ἀνθρώπων ἀφήγηται· καὶ οὐδὲν ἄρρητον ὡς
ἀνὴρ ἀρχαῖος ἐν φυσιολογίαι καὶ συνθεὶς γραφὴν ἰδίαν, οὐκ ἀλλοτρίαν διαφορῶν , τῶν κυρίων παρῆκεν.
8. A LUA, VÊNUS E AS ESTRELAS DE PARMÊNIDES 159
161

cosmogonias tradicionais, que incluem da ordenação dos astros até a geração da


humanidade. A grande diferença está justamente no programa metodológico que
faz com que o diákosmos seja elaborado a partir de uma reflexão que demonstra
a necessidade dos fenômenos por meio do pensamento e desconstrói as opiniões
fundadas em aparências enganosas. A maior parte do que nos restou do Poema
desenvolve este programa metodológico. Na edição que publiquei em 2011, a qual
contou com a luxuosa revisão de Nestor Cordero, dei o subtítulo “Os Caminhos”
a determinados fragmentos para me referir aos versos que tratavam do estabeleci-
mento metodológico. Sabemos que a discussão sobre os caminhos de conhecimen-
to é talvez o tema que teve, com todas as razões, a maior fortuna entre os leitores
e comentadores de Parmênides. Incluí nesta seção os fragmentos na seguinte or-
dem: DK B5 (que por sua natureza cabe em qualquer momento de transição entre
um fim e um começo), DK B2-B3, DK B6. Os fragmentos DK B7-B8 chamei de
“Caminho do que é”; e chamei de “Caminho da opinião” os nove últimos versos
de DK B8, mais DK B4 e DK B9 – poderia, como Cordero, acrescentar DK B19,
que também cita textualmente a opinião. Deixei-o no final porque meu objetivo
na ordenação proposta não era o de separar todos os fragmentos que tratassem da
doxa, mas de integrar a necessidade de revisão das opiniões dentro de um método.
Por isso, deixei-me guiar pela indicação de Simplício, que comenta estes versos
dizendo terem seguido a exposição diacósmica. O tom conclusivo me fez entender
que o fim da exposição das opiniões poderia muito bem acabar depois da sua re-
visão, pela exposição das explicações e demonstrações verdadeiras da natureza do
mundo. Assim, deixei o fragmento DK B19 no fim. Cordero coloca o fr. DK B12
também entre os fragmentos que tratam da opinião. Para ele, estes versos conte-
riam a exposição de como as opiniões tradicionais veem o cosmos separado em dia
e noite, onde aparece para ordenar “como deus ex-machina, uma deusa anônima”5.
Não coloquei este fragmento na parte metodológica que expõe os caminhos, e em
particular o caminho das opiniões; mas deixei-o na parte de conteúdo do progra-
ma, que chamei de “Cosmos”. Mesmo que seja a exposição de um discurso sobre
o cosmos segundo opiniões que serão revisadas ou refutadas, preferi situar o frag-
mento no seio da discussão geral da ordenação de mundo e não na prévia discussão
metodológica. Porque entendo que a reordenação de mundo segundo a ordem
da necessidade, proposta por Parmênides, se faz justamente com encontrar pelo
pensamento as razões dos fenômenos e de nossos equívocos ao opinar sobre os

“O qual criou de fato uma ordenação de mundo, com uma mistura de elementos, o luzente e o obscu-
ro, e por meio destes produziu todos os fenômenos; assim também disse muitas coisas sobre a Terra e
sobre o Céu e o Sol e a Lua, e dissertou sobre a geração dos Homens. Na condição de homem antigo,
não deixou de falar de nenhum dos principais assuntos relativos ao estudo da natureza e compôs um
texto próprio, sem interferências alheias.”
5 Cordero (2011) 228.
160
162 Fernando Santoro

mesmos. Os versos com conteúdo teórico sobre fenômenos do cosmos não seriam
apresentados como uma outra nova cosmogonia, mas justamente como uma aná-
lise das aparências para encontrar a verdade nas razões trazidas pelo pensamento.
O modelo bem consumado deste método é a demonstração de que a luz do luar é
uma luz estrangeira à noite, contra a aparência e a opinião de que provém da lua
(Cf. Santoro, 2011).
Nós possuímos uma parte diminuta de toda a exposição cosmológica: vinte e
cinco versos, mais três de atribuição duvidosa, antes dos três versos da conclusão.
Chamei este conjunto de “Cosmos”, com o qual não podemos nem atestar todo o
conteúdo programático nem tampouco mostrar como o programa metodológico
foi cumprido, e se foi de fato cumprido. Todavia gostaria de apresentar uma lis-
ta de conteúdos segundo os fragmentos conhecidos, e estabelecer assim um pro-
grama (para nós) de investigação sobre a diacosmese, ou cosmologia ou física de
Parmênides. Esta lista pode ser dividida em dois grupos: o primeiro diz respeito
a objetos e fenômenos celestes; o segundo a fenômenos relativos à reprodução se-
xuada. Reparem que alguns versos foram colocados nos dois grupos, os versos dos
fragmentos DK B12 e B13.

a) Primeiro grupo: o Céu de Parmênides. Quatorze versos e alguns testemu-


nhos.

DK B11, DK A37, DK A43 e A43a Os corpos e lugares celestes: Terra, Sol,


Lua, Éter, Galaxia, Olimpo e Estrelas.
DK B12 e DK A37 < coroas (?)> repletas de fogo com uma divindade no
centro, talvez Eros (DK B13) ou Vênus (Plutarco, Sobre o Amor).
DK B14, DK B15 e A42 As fases da Lua.
DK B15, DK A41 e DK A42 O Sol
DK B15a A Terra (?) (segundo Basílio).
DK A40a O astro de Vênus.
DK A41-44 O Fogo.
DK A44a Trópicos, solstícios e equinóxios

b) Segundo grupo: a reprodução sexuada. Vinte e um versos e alguns teste-


munhos.

DK B12 União cósmica de macho e fêmea.


DK B13 Eros, primeiro concebido.
DK B16 Mistura de membros.
DK B17 à esquerda e à direita do útero.
DK B18 A mistura das sementes de Vênus.
DK B20 O prado de Vênus. (fragmento de atribuição duvidosa)
DK A 51 A mistura dos humores.
DK A52, O calor das mulheres.
DK A53, A54 Sobre os lados uterinos.
Há vários testemunhos sobre o fogo e o frio e outros elementos polares que
também poderiam relacionar-se à análise da geração sexuada.
8. A LUA, VÊNUS E AS ESTRELAS DE PARMÊNIDES 161
163

Não sabemos quanto foi perdido do poema, nem como e porque se perdeu. A
conservação de um conjunto de versos depende inteiramente do interesse do autor
que cita. Devemos os grandes blocos de citações a apenas dois autores, Sexto Em-
pírico para trinta versos do fragmento DK B1 e cinco de DK B7, e Simplício para
B2, B6, B7, B8. B9, B11, B12, B13, B19. Sexto estava interessado na interpretação
da imagem inicial da biga segundo a alegoria dos cinco sentidos. Simplício buscava
mostrar que Parmênides separava o mundo em sensível e inteligível, conforme
uma leitura neoplatônica. Como no tempo de Simplício já era raro encontrar uma
cópia do Poema, ele fez por bem citar longos trechos. A isto devemos a maior parte
do que se conservou. Os autores que citaram os versos físicos estavam interessa-
dos nas órbitas lunares, como Plutarco, ou eram médicos, como Galeno e Célio
Aureliano. Os Peripatéticos, seguindo a Metafísica de Aristóteles, se interessam
por questões relativas à percepção sensível e sobre princípios elementares como o
fogo e o frio. É portanto uma tarefa quase onírica imaginar como seria toda a parte
diacósmica ou cosmológica do poema.
O modo como no fr. DK B14 se expõe a demonstração pela movimentação dos
astros, de que a luz do luar é a luz do dia refletida na Lua, me faz acreditar que
trata-se de um excelente modelo de conhecimento refletido. O pensamento, junto
com a observação, é capaz de revisar a opinião proveniente da ilusão que temos de
que a luz se origina na Lua. Ao mesmo tempo que o pensamento expõe a verdade
sobre a origem solar da luz, também nos explica porque vemos com nossos olhos
as fases da Lua tal como as vemos. A verdade do que se vê é demonstrada por um
exercício metódico do pensamento que constrói uma imagem inacessível aos olhos.
O programa metodológico é aplicado sobre um ponto do conteúdo programático.
O modelo de explicação da luz do luar é tão perfeitamente ilustrador do mé-
todo, que eu não consideraria exagero imaginar que todo o Poema fora construí-
do para trazer e demonstrar esta única descoberta astronômica e tudo quanto ela
requisita e que dela decorre em termos cosmológicos. Porque decorrem coisas
muito importantes que aparecem ao longo do Poema, tais como a homogeneidade
do cosmos e a indistinção entre dia e noite, a esfericidade dos astros e também da
Terra, a circularidade das órbitas não coincidentes do Sol, da Lua e das estrelas.
A Deusa inominada que recebe o jovem poderia ser uma divindade celeste, como
a que se menciona em DK B12. Poderia ser, por exemplo, a recolhida Ártemis a
quem outro físico, Heráclito, já dedicara sua obra.
Mas o Poema vai além das questões lunares, com certeza. Toda a parte da re-
produção sexuada não caberia em uma cosmologia Artemísia interessada exclusi-
vamente em questões astronômicas. Devemos imaginar outro eixo para incluir os
conteúdos celestes e os conteúdos sexuais na diacosmese parmenídea?
Outra pista que podemos seguir nos é dada pelos fragmentos DK B12 e DK
B13. Os três primeiros versos de DK B12 parece que falam de coroas ou órbitas de
fogo que são regidas por uma divindade. Esta mesma divindade que regula as órbi-
tas celestes também governa o parto e a cópula, como dizem os três últimos versos
162
164 Fernando Santoro

do fragmento. Simplício diz que esta divindade ocupa a função de “causa eficien-
te” (ποιητικὸν αἴτιον) e talvez seja ela quem “primeiro concebeu Eros”, como diz o
verso citado no Banquete de Platão (DK B13). Uma dupla função cósmico-erótica
também aparece em outro discurso do Banquete (180e), que apresenta duas Vênus:
a Vênus celeste e a Vênus popular.

DK B 12 1-3 Simplício, Physica 39.14-16


2-6 Simplício, Physica 31.13-17

1 Umas são mais estreitas, repletas de fogo sem mistura,


outras, face àquelas, de noite; ao lado jorra um lote de flama;
no meio destas <há> uma divindade6, que tudo dirige:
pois de tudo governa o terrível parto e a cópula,
5 enviando fêmea para unir-se a macho e de volta
macho a fêmea.

1 αἱ γὰρ στεινότεραι πλῆντο πυρὸς ἀκρήτοιο,


αἱ δ᾿ ἐπὶ ταῖς νυκτός, μετὰ δὲ φλογὸς ἵεται αἶσα·
ἐν δὲ μέσωι τούτων δαίμων ἣ πάντα κυβερνᾶι·
πάντων γὰρ στυγεροῖο τόκου καὶ μίξιος ἄρχει
5 πέμπουσ᾿ ἄρσενι θῆλυ μιγῆν τό τ᾿ ἐναντίον αὖτις
ἄρσεν θηλυτέρωι.

Aristóteles tece um comentário antes de também citar o verso sobre Eros:

Aqueles que pensavam assim consideraram que o princípio dos entes era ao
mesmo tempo a causa do belo e a causa de onde se instaura o movimento nos
entes. Alguém poderia supor que Hesíodo foi o primeiro a investigar tal coi-
sa, ou algum outro que estabeleceu amor ou desejo como princípio nos entes,
como também Parmênides considerando-o como o articulador da origem de
todas as coisas quando disse... [DK B13] (Metafísica I, 984b).

οἱ μὲν οὖν οὕτως ὑπολαμβάνοντες ἅμα τοῦ καλῶς τὴν αἰτίαν ἀρχὴν εἶναι
τῶν ὄντων ἔθεσαν, καὶ τὴν τοιαύτην ὅθεν ἡ κίνησις ὑπάρχει τοῖς οὖσιν·
ὑποπτεύσειε δ’ ἄν τις Ἡσίοδον πρῶτον ζητῆσαι τὸ τοιοῦτον, κἂν εἴ τις ἄλλος
ἔρωτα ἢ ἐπιθυμίαν ἐν τοῖς οὖσιν ἔθηκεν ὡς ἀρχήν, οἷον καὶ Παρμενίδης· καὶ
γὰρ οὗτος κατασκευάζων τὴν τοῦ παντὸς γένεσιν “πρώτιστον μέν” φησιν ...

Para Aristóteles estava em causa, em Hesíodo como em Parmênides e outros,


o Amor ou desejo como princípio cósmico que move os entes, tanto os corpos
celestes em suas órbitas como os corpos sexuados que se movem para dar origem
a novos corpos.

6 A divindade feminina (daimon he) que dirige o vir-a-ser, Simplício chama de “causa eficiente”
ou “causa produtora”, segundo a terminologia estoica: ποιητικὸν αἴτιον (Physica 31,10; 39,12; 39,14).
8. A LUA, VÊNUS E AS ESTRELAS DE PARMÊNIDES 163
165

Aristóteles voltará a tratar do assunto, discutindo com a mesma tradição de


autores que concebem erótica e teologicamente o princípio motor das estrelas e
a geração dos seres vivos. Isso ocorre no livro XII da Metafísica, seu segundo tra-
tado sobre o Primeiro Motor Imóvel. Aquilo que move sem se mover, Aristóteles
diz (1072a) que é como o desejável (orekton) e inteligível (noeton), pois move en-
quanto é amado (erōmenon) (1072b). Este é princípio tanto do movimento do céu
(movimento circular eterno dos astros e planetas) quanto da natureza (movimento
em vista da geração da vida).
Segundo esta tradição, que vem de Hesíodo e passa também por Empédocles,
a Deusa que governa o movimento das estrelas e o movimento em vista da geração
da vida é Afrodite, Vênus. Assim como houve no caso da Lua uma correção da
opinião comum sobre o luar em vista de um conhecimento astronômico refletido
pelo pensamento; poderíamos pensar que Parmênides reservou também para o
astro de Vênus uma correção da opinião, realizada pelo pensamento. Não nos che-
gou nenhum verso com este conteúdo de conhecimento. Chegou-nos somente um
testemunho de Diógenes Laércio (DK A40a) sobre Parmênides ter sido o primeiro
a reconhecer que a estrela vespertina (Hesperon) e a estrela matutina (Phōsphoron)
são apenas uma e a mesma.

REFERÊNCIAS

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Cordero, N.-L. (1984) (21997), Le deux chemins de Parménide, édition critique,
traduction, études et bibliographie, Paris-Bruxelles.
Cordero, N.-L. (2007), Tertium non datur, Anais de Filosofia Clássica 1, 1-13.
Cordero, N.-L. (2011), Una consecuencia inesperada de la reconstrucción actual
del Poema de Parménides, Hypnos 27, 222-229.
Cordero, N.-L. (2017), La place de la “physique” de Parménide dans une nouvelle
reconstitution du Poème, Revue de Philosophie Ancienne 35, 3-13.
Diels, H.–Kranz, W. (61951) Die Fragmente der Vorsokratiker, Zürich.
Dorandi, T. (2013), Diogenes Laertius Lives of Eminent Philosophers, Cambridge.
Laks, A.–Most, G. (2016), Les débuts de la philosophie, Paris.
Ramnoux, C. (1979), Parménide et ses successeurs imédiats, Monaco.
Ruggiu, L. (2003), Saggio Introduttivo e Commentario, in G. Reale–L. Ruggiu,
Parmenide. Poema Sulla Natura, Milano, 19-80, 153-372.
Santoro, F. (2011), Da Experiência à Ciência, o Céu de Parmênides, in L. Palumbo
(ed.), La filosofia come esercizio del render ragione. Studi in onore di Giovanni
Casertano, Napoli, 115-125.

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