Professional Documents
Culture Documents
Uma Introdução
Author(s): SUSANA VIEGAS
Source: Revista Portuguesa de Filosofia , 2013, T. 69, Fasc. 3/4 (2013), pp. 491-504
Published by: Revista Portuguesa de Filosofia
JSTOR is a not-for-profit service that helps scholars, researchers, and students discover, use, and build upon a wide
range of content in a trusted digital archive. We use information technology and tools to increase productivity and
facilitate new forms of scholarship. For more information about JSTOR, please contact support@jstor.org.
Your use of the JSTOR archive indicates your acceptance of the Terms & Conditions of Use, available at
https://about.jstor.org/terms
is collaborating with JSTOR to digitize, preserve and extend access to Revista Portuguesa de
Filosofia
Resumo
Neste ensaio procuro analisar o movimento reversível que há entre cinema e filoso
pensamento de Gilles Deleuze. A filosofía do cinema é um dos temas deleuzianos po
lência e Cinema 1 e Cinema 2, dois dos seus livros mais estudados. Porém, que pape
o cinema no seu pensamento filosófico? Com o objectivo de analisar os diferentes tip
interferencias que ocorrem entre o campo estritamente filosófico e o campo nao-filos
pretendo demonstrar de que modo o cinema nâo foi apenas considerado como urna art
ilustrava ideias filosóficas já elaboradas, mas como urna arte que contribuiu para a pr
criaçâo conceptual.
Abstract
My aim with the present essay is to analyse the reversible movement that occurs in Gilles
Deleuze s thought between cinema and philosophy. Philosophy of cinema is one of the most
stimulating aspects of the deleuzian thought and Cinema 1 and Cinema 2 two of his most
studied books. However, which role had cinema in his philosophical thought? With the final
objective of analysing the different kinds of interferences that occur between the specific
philosophical field and the non-philosophical field, I want to clarify how cinema was not seen
as a mere artistic illustration of some pre-existing ideas but as a philosophical contribution.
Introduçâo
Vol. 69 -J|
Fase. 3-4 J m JOU | 491-504
-tempo" e "imagem-crista
rápidamente, passaram a
disciplinas do saber.
A aproximaçâo de Deleuz
papel que representou em
Rosier. No ano seguinte, e
particular, Les autres (197
espacial da cámara1 e, em
Henri Bergson ao cinema at
Marie Miéville, Six fois deu
Cahiers du cinema em 19
cinema entrou na sua vid
filosofía, Deleuze nâo im
cinema ainda que um elem
cineastas criavam "verdad
Ora, como compreender
"filosofía do cinema", ten
no seu pensamento e que
Como justificar a ligaçâo,
tâo espontánea que terá le
é deleuziano"?4 Este ensa
doxos. No fundo, o que e
por Gilles Deleuze é urna d
que modo a filosofía se re
tográfico.
1. Deleuze, Gilles - "Un art de planteur". In: Deleuze, Gilles - L'île déserte et autres tex
Textes et entretiens 1953-1974, éd. par Lapoujade, David. Paris: Minuit, 2002, pp. 401-
2. Deleuze, Gilles - Conversaçôes 1972-1990, trad. Miguel Serras Pereira. Lisboa:
de Século, 2003, pp. 59-70.
3. Deleuze, Gilles - Deux régimes de fous. Textes et entretiens 1975-1995, éd. par Lapou
David. Paris: Les éditions de Minuit, 2003, p. 263-271.
4. Toubiana, Serge - "Le cinéma est deleuzien". Cahiers du cinéma, 497 (1995), p. 21
Vol. 69
Fase. 3-4 0 RPF
Vol. 69
Fase. 3-4 ^ RPF
Vol. 69 '
Fase3-4 Q ÏTpf
12. Rodowick, David N. - "An Elegy for Theory". October, 121, 2007, pp. 99-110.
13. Deleuze, Gilles - Cinéma 2: L'image-temps, cit., p. 366.
14. Deleuze, Gilles - Conversaçôes 1972-1990, cit., p. 187.
Vol. 69
Fase. 3-4 O RPF
do cinema à filosofía."15 M
imagens cinematográfica
filosofía, já nào pergunta
natureza da filosofía.
Afinal, quai a verdadeira relaçâo-interferência entre a filosofía e a arte?
"A arte nâo pensa menos do que a filosofía, mas pensa através de afectos e
perceptos. O que nâo impede que as duas entidades passem muitas vezes
de urna para a outra [...] numa intensidade que as co-determina." E, de
seguida, Deleuze e Guattari reafirmam o nivel de familiaridade desta rela
çâo-interferência: "O plano de composiçâo da arte e o plano de imanência
da filosofía podem deslizar de um para o outro, a ponto de alguns lados de
um serem ocupados por entidades do outro."16
Gilles Deleuze proferiu, a 17 de Março de 1987, a famosa confe
rencia na La Fémis sobre o acto de criaçâo, questionando o que significa
ter urna ideia no cinema ou na filosofía.17 Deleuze começa por afirmar
que, para além da raridade do acto de criaçâo, nâo temos ideias em geral
mas sempre num campo específico: os pensamentos sâo sempre algo de
concreto, de imánente ás imagens e nâo algo separado destas. Urna ideia
é, para Deleuze, urna imagem que nos faz pensar, urna imagem pensativa
que é, por natureza, pensamento em potencia, e é deste modo que, conse
quentemente, o cinema se poderá encontrar "cheio de ideias".18 A filo
sofía é, tal como o cinema, urna actividade criadora,19 autopoiética. Deste
modo, a filosofía nâo se define nem pela contemplaçâo, nem pela reflexâo
em abstracto sobre um assunto qualquer, como urna "Filosofía de X"
segundo a fórmula referida. Se o que é próprio da filosofía é criar conceitos
(que nâo se confundem com ideias gérais ou abstractas), à arte em geral
compete criar perceptos e afectos (que nâo se confundem com percepçôes
ou sentimentos). Cada dominio terá os seus conteúdos exclusivos, ainda
que as duas disciplinas comuniquem entre si através da partilha de urna
actividade criadora. Se a filosofía tem conteúdos próprios - os conceitos -,
15. Deleuze, Gilles - Deux régimes de fous. Textes et entretiens 1975-1995, cit.,
pp. 263-264.
16. Deleuze, Gilles & Guattari, Félix - O que é a filosofía?, trad. Margarida Barahona &
Antonio Guerreiro. Lisboa: Presença, 1992, p. 61.
17. Esta conferência está disponível no terceiro DVD de Deleuze, Gilles & Parnet,
Claire - L'Abécédaire de Gilles Deleuze. Paris: Éditions de Montparnasse, 2004, 3 DVD's.
18. Deleuze, Gilles - Deux régimes de fous. Textes et entretiens 1975-1995, cit., p. 197.
19. Deleuze & Guattari - O que é a filosofía?, cit., p. 12.
Vol. 69
Fase. 3-4 $ RPF
Vol. 69 •
Fase3-4 0 RPF
23. Rancière, Jacques - La fable cinématographique. Paris: Seuil, 2001, pp. 151-152.
24. De Lacotte, Suzanne Hême - "L'image de la pensée ou comment le cinéma
nous aide à fonder de nouveaux présupposés philosophiques". Cinémas: revue d'études
cinématographiques / Cinémas: Journal of Film Studies, 16 (2-3), 2006, pp. 54-72.
25. Deleuze, Gilles - Nietzsche et la philosophie. Paris: PUF, 2010, p. 118.
26. Deleuze, Gilles-L'île déserte et autres textes. Textes et entretiens 1953-1974, cit., p. 193.
27. Deleuze, Gilles - Cinéma 2: L'Image-temps, cit., pp. 205-206. Primeiro movimento
sem que seja necessariamente anterior ao segundo movimento, isto é, é-nos indiferente quai
o movimento que ocorre primeiro pois o que importa salientar é o carácter inseparável,
comutativo, dos dois movimentos: o orgánico é inseparável do patético.
Vol. 69
Fase3-4 Q RPF
Vol. 69 "tA
Fase3-4 0
Vol. 69 ~iA
Fase3-4 Q RTF
Vol. 69
Fase.3-4 ¡) RPF
Vol. 69
Fase. 3-4 ö RPF
Vol. 69 *d|
Fase3-4 û RPF
Conclusâo
N^rr
Vol. 69
Fase. 3-4 ()RPF