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REVISTA

SAMAYONGA
DIÁRIO DE PESQUISA CIENTÍFICA
FICHA TÉCNICA

Editor Chefe
Dr. JORGE RUFINO
(Universidade Agostinho Neto, Universidade Jean Piaget de Angola)

Conselho editorial
Presidente – Dr. C Francisca Manuela Martins Wille
(Universidade Jean Piaget de Angola)

Dr. C Vicente Eugenio León Hernández


(Universidade de Pinar del Rio)

Dr. C Albano Ferreira


(Universidade Katyavala Bwila)

Dr. C Filomena de Jesus Francisco Correia Filho Sacomboio


(Instituto Superior para as Tecnologias da Informação e Comunicação)

Dr. C Klaus- Dieter Gerhard Wille


Dr. C Ivan Machado
(Universidade de Santa Clara)

Revisão
Msc. Imaculada Esperança Lourenço Domingos
(Universidade Jean Piaget de Angola)

Equipe Técnica
Elias Clemente Gonga
Eng. Flávio Geremias Miguel Clemente
Fernando Kubuangueça Feliciano
Paginação & Designer
Vanilson Cristóvão

Revista técnico-científica Samayonga [recurso eletrônico].


Nº. 03 (DEZ. 2023). - Luanda.

Periodo: Semestral
ISSN 0504-0035
1. Ciências Técnicas. 2. Ciência da Educação. 3. Ciências Médicas
REVISTA
SAMAYONGA
DIÁRIO DE PESQUISA CIENTÍFICA
A

PALAVRA DO EDITOR

BEM VINDO A REVISTA SAMAYONGA

Estimado colegas

A revista Samayonga que agora sai a segunda edição no mercado angolano académico
e científico, vai continuar a preencher as grandes lacunas, que as produções e publicações
se denominam.

A revista Samayonga vai continuar a ter como objectivo principal a divulgação de


trabalhar com:

• Trabalho de fim do curso de licenciatura

• Trabalhos relacionados a pedagogia, sociologia e outros fins

• Investigação de projectos científicos e académicos das áreas da engenharia,


medicina e pedagogia

A RICS conta com um corpo editorial de 12 membros, todos com bastantes experiências
de mais 20 anos em educação superior na investigação em publicações em revista
internacionais. As contribuições enviadas são submetidas a revisão a pares interna e
externas e se garante a sua imparcialidade mediante a dupla cega. Os nossos corpos
de árbitros fazem parte de uma rede de professores angolanos do ensino superior que
podem recomendar com base na norma de revisão.

Neste quesito recomendamos que o envio dos trabalhos deve ser realizado por
nosso e-mail: secretariageral@ciap-samayonga.co.ao assim como as normas devem ser
consultada nas nossas páginas web: www.ciap-samayonga.co.ao

Esperamos que esta revista continue a poder preencher o grande vazio que Angola
ainda tem no Ranking do mundo da ciência e da academia.

Luanda, aos 21 de Dezembro de 2023

O editor Chefe

Drº. Jorge Rufino


SUMÁRIO
04 EDITORIAL

09 ARTIGOS

11 CONTRIBUIÇÕES DO PROFETA SIMÃO GONÇALVES TÔCO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO


EM ANGOLA DE 1937 A 1950
ARTIGOS
Contribuições do profeta Simão Gonçalves Tôco
no campo da educação em Angola de 1937 a 1950
Chiquito Afonso Fernando Domingos

RESUMO resultados demonstraram que Simão

A
Gonçalves Tôco contribuiu para defesa
Presente pesquisa trata sobre da educação em Angola, sobretudo, na
as contribuições do profeta escolarização continuada, inclusiva e
Simão Gonçalves Tôco no campo igualitária, bem como, na educação sobre
da educação em Angola, de 1937 a a autodeterminação dos angolanos.
1950. De igual modo, objectivou-se Finalmente, a pesquisa Justifica-se pela sua
neste estudo,descrever as contribuições pertinência, pois, permitirá a sociedade
do referido do Profeta no campo da angolana valorizar as contribuições de
educação. Outrossim, para tornar concreto Simão Gonçalves Tôco no campo da
a pesquisa, recorreu-se ao método de educação.
entrevista e bibliográfico. Ademais, os

Palavras–Chave:Educação,Escolarização,Conscientização.
libertação.

SUMMARY Furthermore, the results demonstrated

T
that SimãoGonçalves Tôco contributed to
his research deals with the the defense of education in Angola, above
contributions of the prophet all, in continued, inclusive and egalitarian
SimãoGonçalves Tôco in the field schooling, as well as in education on the
of education in Angola, from 1937 to 1950. self-determination of Angolans. Finally,
Likewise, the aim of this study was to the research is justified by its relevance,
describe the contributions of the Prophet as it will allow Angolan society to value the
in the field of education. Furthermore, to contributions of SimãoGonçalves Tôco in
make the research concrete, the interview the field of education.
and bibliographic method were used.

Keywords: education, Schooling, Awareness, Release.

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INTRODUÇÃO
o opressor, porque “quando uma prática

N
este artigo, debruçou-se sobre educativa não liberta, o sonho do oprimido
“contribuições do profeta Simão é de encarnar a pessoa do opressor”
Gonçalves Tôco no campo da (Freire, 1970).
educação, no período de 1937 a 1950”,
Por isso, quando os missionários
tendo em conta, o empenho deste
determinaram que ele deve ser o único
nacionalista na construção de uma
preto culto no seio da missão, Tôco,
mentalidade africana, em geral, e angolana,
lutou pelo “acesso indiscriminado
em particular, capaz de responder aos
de todos pretos aos estudos liceais”
problemas sociais e políticos do seu tempo.
(Ferreira, 2012), contrariando o projecto
Entretanto, Tôco, teve um papel pragmático
educativo missionário da colonização e
na conscientização e no dispertar do
da subalternização, através da postulação
homem oprimido(pretos de África – Angola
de uma doutrina educatia libertária e
e do mundo), defendendo uma educação
revolucionária.
formal inclusiva e libertária, bem como, a
educação sobre a autodeterminação. Apesar de tudo, em Angola não se fala
sobre as contribuições do profeta Simão
Entretanto, Tôco, estava consciente
Gonçalves Tôco no campo da educação
que toda sociedade dever estar implicada
em Angola. Sabemos que ele defendeu
na educação das novas gerações, e esta
uma educação formal que transcende a 4ª
responsabilidade não deve ser apenas um
classe para os angolanos, e recorrendo a
papel jogado pelas escolas públicas, mas
esta estratégia, fomentou, de igual modo,
de todas instituições sociais, sobretudo, em
a defesa de uma educação institucional
Angola, onde a opressão se tinha instalado
emancipadora e que autodeterminasse os
por muitos séculos. Por isso, era preciso
angolanos, para se combater a opressão,
que movimentos como Tocoismo, fossem
entre 1937 a 1950.
educadores para despertar o preto, que
vivia como homem-objecto e subalterno do Mesmo assim, pouco ou nada se fala
estrangeiro (colono), porque por inerência a respeito desta situação. Assim sendo,
da doutrina colonial, as escolas haviam formou-se aseguinte pergunta de partida:
se tornado em fábricas de controlo e Quê contribuições teve o Profeta Simão
manutenção da submissão – inferiorização Gonçalves Tôco no campo da educação
dos pretos e superiorização dos brancos, em Angola no período de 1937 a 1950? A
convista a perpetuação da colonização. luz do problema levantado, explicitou-se
o seguinte o objectivo geral: descrever as
Neste sentido, Simão Tôco, mais do que
contribuições do Profeta Simão Gonçalves
um profeta, tornou-se num pedagogo
Tôco no campo da educação em Angola no
revolucionário ao defender uma educação
período de 1937 a 1950. De igual modo,
reformadora, inclusiva e reafricanizadora,
determinou-se os seguintes objectivos
focando-se na educação escolar -
específicos: aclarar as razões que
institucional e a autodeterminação, tendo
levaram Simão Gonçalves Tôco defender
mesmo na sua “profissão de professor
a educação em Angola no período de
em 1937”(Domingos, 2007; Kisela, 2013;
1937 a 1950; detalhar as contribuições do
Nunes, 2018), defendendo uma educação
Profeta Simão Gonçalves Tôco no campo
que liberta, para dissolver na consciência
da educação em Angola no período de
do oprimido o desejo de um diareprimir
1937 a 1950.

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Justificativa

O
presente trabalho Justifica-se Outrossim, a presente pesquisa é de
pela sua conveniência, porque enorme relevância, porque dele se reveste
permitirá a socidedade valorizar os contributos pedagógicos, sociológicos
as contribuições do profeta angolano e históricos que se concretizam através
Simão Gonçalves Tôco no campo da da materialização e preocupação deste
educação. De igual modo, poderá permitir Profeta, no processo de criação e construção
com que os professores aprendam mais de um homem angolano, preparado
sobre o papel dos tocoistas na construção e conscientizado com habilidades que
da educação em Angola, e transmití-lo na libertam-no da opressão e do retrocesso
academia, para servir de alicerce para cultural e educativo.
aqueles que desconhecem a história do
Simão Tôco, enquanto figura da linha
da frente do nacionalismo educativo
angolano.

Fundamentos Teóricos
Contexto educativo e currícular angolano na época colonial

O
sistema educativo angolano elusitanizaçãoou imposição coerciva dos
consubstanciado num conjunto valores portugueses aos angolanos.
de conhecimentos e valores,
que formam parte da nossa identidade, Todos estes aspectos leva-nos
começou apenas em 1975, data da nossa consistentemente a percepção de que antes
independência até nos dias de hoje. de 1975 não se leccionava conteúdos sobre
Neste sentido, somente a partir de 1975, os valores de Angola, pois,“para o Europeu
começou-se a leccionar nas escolas, (com uma equivocidade exacerbada)
conteúdos sobre a nossa história, sobre o África é um continente sem história e com
nosso povo, nossos heróis, nossa tradição plenas necessidades de serem altamente
e nossos valores. civilizados” (Keita, 2009), dando-se assim
a violência cultural consbustanciada na
Entretanto, é óbvio que antes da substituição forçada dos valores angolanos
emancipação de Angola, vivíamos pelos portugueses.
sob égides dos padrões ou doutrinas
coloniais,baseados no ensino de um Por isso, Simão Gonçalves Tôco, na
conjunto de valores meramente Europeu dimensão e postura nacionalista, defendeu
(Português), em contraste com a nossa uma educação institucional reformada,
identidade, que se refletiu em função do cujas as bases orientam-se na escolarização
contexto da colonização. igualitária entre brancos e pretos e na
busca pelos padrões culturais angolanos,
Por isso, não se dava seriamente para dar consistência a identidade
espaço para ensinar algo originalmente angolana, bem como, na educação sobre
angolano nos currículos daquele a autodeterminação dos povos, para
tempo (colonial), que eram forjados contrapor a exploração, escravidão e a
para produção de um tipo de preto dominação da minoria branca sobre a
subalterno ao europeu, mantendo-se maioria negra.
intactas as premissas dadestribalização

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A estratégia do currículo pobre para o africano

O
colono português implentou Contudo, entende-se que a colonização
em Angola um plano curricular elaborou um projecto educativo que negaria
que descontitui os padrões do angolano o sonho do “ser superior”,
educativos que remontam na prática e porque tornar o preto num “ser menor”, foi
na memória dos pretos, e constituiu um a questão central dos programas educativos
tipo de educação que serviu de fábrica coloniais, tanto nas escolas do Estado, quanto
da destruição da identidade angolana e das missões.
coisficação do homem negro, para torná-lo
submisso e obediente ao opressor-colono. Ademais, na corrida das missões católicas
Entretanto, este curriculo foi inspirado no e protestantes para educação dos negros,
discurso de Norton de Matos, que defendia as autoridades colocaram condições, que
um projecto educativo “embasado num impediria os missonários de dispertarem os
aprendizado que deixaria os pretos pretos. Logo, as missionários teriam de se
literalmente analfabetos, pois, centra- tornar colaboracionistas de uma prática e
se no ensino sobre ofícios e trabalhos política educativa baseada na discriminação e
manuais” (Silva, 2017, p. 68-69), que inibem inferiorização do negro.
o desenvolvimento intelectual e o espírito
Esta ideia sustenadora da doutrina colonial,
crítico do angolano.
construiu um negro que por muito tempo,
Entretanto, o colono desponibilizou ficou acomodado e conformado com a
um tipo de educação incapaz de libertar, realidade, perdendo a capacidade de reagir
porque estava milimetrizada na construção e lutar pela suas dignidade. Uma dignidade
de um homem – objecto, laboratorizado, que não lhe seria possivel, senão a força
com base nas proscriçõess coloniais, o que da sua própria mente. Uma mente que era
levou Simão Tôco a criar uma doutrina oficina de doutrina bloqueadora do “ser
educativa da libertação – o Tocoismo, superior”, porém, proponente e produtora
para desgrudar os angolanos da doutrina do “ser menor”. Por isso, o negro demorou
educativa da opressão. para ser livre, porque tanto a educação do
Estado e das igrejas, eram orientadas num
De igual modo, Silva (2017)reitera que único principio: “construir pretos inferiores
“o curriculo das colónias portuguesas e submissos”. Assim sendo, era necessário
no século XIX e XX, foi fundamentado no surgir um preto como Simão Tôco, como
ensino da lingua portuguesa, por meio da uma visão libertadora e reformadora, para
relegação das línguas nativas, ensino sobre redenção de uma educação consciente e
valores cristãos eivados de proselitismo ao bloqueadora dos vírus subalternizadores da
branco, bem como, técnicas de marcinaria, colonização.
pedreira, comércio e outros ofícios que
tornariam um preto apenas submisso ao
colonizador, do que um agente activo na
construção e transformação da própria
sociedade”.

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Simão Tôco e sua Contribuição na educação formal dos
angolanos

P
ortanto, a “educação formal é Entretanto, “após um ano lectivo bem-
aquela desenvolvida nas escolas, sucedido, Toco foi oficialmente transferido
com conteúdos previamente em Outubro de 1938 como Professor
demarcados” (Gohn, 2006 como citado no Município de Bembe, na Sociedade
em Cascais e Terán, 2014). Por isso, Missionária Baptista, onde veio a exercer
Simão Tôco defendeu uma educação a sua função como formador de 1938 a
institucional ou formal de qualidade para 1942”(Kisela, 2012, p. 32). “Depois de um
os pretos e o direito ao acesso aos demais tempo no exercício da docência, notou que
níveis de ensino para os pretos, não os alunos do Bembe eram discriminados e
apenas por ter sido “diplomado para o impedidos ao acesso a 4ª Classe”(Domingos,
exercício da docência” (Nunes, 2018), mas 2007, p. 17).
devido a necessidade de conscientizar
os oprimidos angolanos e libertá-los das Por isso, em detrimento da situação,
argolas do colonizador, de maneira que recorreu ao Reverendo Lamborne, da
estes pudessem libertar mais oprimidos, Missão Baptista naquela localidade,
a fim de chamar todos para os caminhos mostrando sua insatisfação e, ao mesmo
da liberdade. tempo propós a solução, dizendo que não
concordava com a limitação imposta e, que
No entanto, Cascais e Terán (2014, p. os alunos pretos deveriam continuar até
1) apontam que a “educação, de modo a 4ª classe e além, portanto não se podia
geral, prepara o ser humano para o discriminá-los daquela forma, porém, a
desenvolvimento de suas actividades no missão tentou impedir, sob pretexto de
percurso de sua vida. Nesse sentido, faz- que “bastava apenas um preto culto como
se necessário uma educação, ao longo você. Que os outros se viram” (Ferreira,
da vida, a fim de dar suporte aos vários 2012), mas doravante, tiveram de ceder,
aspectos sejam eles, econômicos, sociais, e os “meninos passaram ter acesso a 4ª
científicos e tecnológicos, impostos por classe” (Domingos, 2007), porque Tôco
um mundo globalizado”. ameaçou abandonar a missão. Neste
sentido, não podemos olhar Tôco apenas
De igual modo, sendo a “educação formal na vertente profeta, mas um revolucionário
aquela realizada pelas escolas”(Cascais e refeormador dos principios educacionais
e Terán, 2014), Tôco, tomou a iniciativa que respondiam os anseios e a dignidade
de dar seus passos neste contexto, para dos pretos, perantes os desafios das
revolucionar a mente angolana, o sistema igualdades raciais.
e a forma de organização das escolas na
época colonial, aquando do seu regresso
“à Missão de Kibocolo, em Fevereiro de
1937” (Nunes, 2020), onde começou a
exercer a docência, propondo mudanças
objectivas neste sector.

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Simão Tôco e a educação da liberdade – autodeterminação

S
imão Tôco, percebeu que ao longo De igual modo, Nunes (2018) reitara
de séculos, o branco coisificava que a prática educativa libertadora do
o preto, tornando-o objecto das “tocoísmo surge, num momento em que
suas prescrições. Por isso, aproveitou o a África se encontrava sob dominação
processo de crises sociais instalados nas cruel das forças coloniais e toda tentativa
colónias em África, para formar um tipo de de autodeterminação era reprimida, mas
homem consciente e capaz de colocar fim Deus já havia consagrado o mestre Simão
a doutrina colonial da educação amarga Tôco, para que nada pudesse impedir
e opressiva, e produzir a sublevação de a gestação e os efeitos humanos da sua
homens que ultrapassaram estas etapas pedagogia libertadora.
(opressoras) com o exercício de uma
educação da liberdade, porque “até então Entretanto, quando uma educação
tiveram em vigência os valores de uma liberta, os oprimidos reagem a opressão,
sociedade-objeto, reflexa, o povo imerso para contrapor uma prática educativa
e distanciado das elites; formação social opressora. Por isso, Simão Tôco de forma
onde se configurava uma restrição de base silenciosa, foi preparando os africanos,
ao diálogo, à livre comunicação entre os e de 1937 a 1950, tinha alcançado
homens” (Freire, 1967, p. 16) resultados concretos deste tipo de
educação, por meio da conscientização,
Ademais, Simão Tôco estabeleceu regras tendo ao seu lado homens destemidos
e principiosnorteadores da sua abordagem e com capacidade de lutaram pela sua
educacional, e a liberdade era um dos liberdade e resistirem a violêncial colonial.
valores resultante da sua prática educativa,
porque estava ciente da necessidade de Tudo isto, é parte do seu humanismo
ver o preto livre das correntes coloniais. e apresso ao povo, por isso, aproximou-
Por isso, nas suas escolas de alfabetização, se sempre ao povo, porque entende
ensino de línguas e cultura africana, bem que estas massas populares merecem
como, no campo da acação religiosa, dignidade e uma educação crítica, que
preparava mentalmente as pessoas para conduz a iberdade.Diferente de muitos
que pudessem ser livres. políticos, que só se aproximam da
população por razões que podem manter
Entretanto, o profeta estava ciente que o seu poder – eleitoral, tal como, Paulo
era impossivel alcançar a liberdade, sem, Freire (1967) afirma que:
no entanto, uma educação libertadora,
porque aquelas ministradas pelas missões
e escolas seculares, estavam eivadas de
prescrições opressivas, fundamentadas em
políticas que se cingem na perpertuação
da submissão do africano ao branco.

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O educador, a serviço da libertação do homem, dirigiu-se sempre às massas
mais oprimidas, acreditou em sua liberdade, em seu poder de criação e de
crítica. Os políticos só se interessavam por estas massas na medida em que
elas pudessem, de alguma forma, tornar-se manipuláveis dentro do jogo
eleitoral. O educador estabeleceu, a partir de sua convivência com o povo, as
bases de uma pedagogia onde tanto o educador como o educando, homens
igualmente livres e críticos, aprendem no trabalho comum de uma tomada de
consciência da situação que vivem. Uma pedagogia que elimina pela raiz as
relações autoritárias(p. 26).

N
o entanto, Simão Tôco, ensinou todos os direitos e liberdades defendidos
aos seus adeptos que todas pelo Simão Tôco e seus adeptos, estão
as liberdades, requer sacrificio instrinsicamente ligada aos padrões da
e homens corajosos para alcançá-los, sua pedagogia libertária. Simão Tôco é o
seja liberdade de expressão, liberdade precursor de uma educação libertadora,
de independência, liberdade religiosa, antes mesmo que os partidos políticos,
liiberdade de resistir e outros. Por isso, tivessem tal petulância.

Nós tocamos o sino, e sem qualquer reserva isto custou-nos muito sangue,
mesmo antes do nascimento de partidos políticos no País. O tocoísmo que é
constituído por homens, mulheres, jovens e crianças provenientes das igrejas:
católica, protestante, testemunhas de Jeová, adventistas do sétimo dia e ateus,
surge como já me referi atrás, como uma força espiritual, para o despertar
das consciências africanas, adormecidas na servidão do pecado e escravatura
imposta pelos impérios ocidentais (Nunes, 2022).

E
sta reflexão, revela que a educação mortes no grupo devido as suas actividades
libertária tocoista, havia atingido sociais e espirituais. Sendo, considerado tão
o seu apogeu, e que, mais do que influente e, capaz de pôr em perigo qualquer
aprender, agora era necessária colocar sistema colonial, as autoridades belgas o
em prática o que se terá assimilado do perseguiram e devolveram-no aos colonos de
mestre e pedagogo, Simão Tôco, pois a Angola (portugueses), que os terão feito pior
conscientização do oprimido foi feita com do que os Belga.
sucesso e sua postura, criativa e crítica,
havia crescido de um modo claro. Logo o Em 1949, quando Tôco foi preso, cerca de
oprimido, já não tinha medo de lutar pela três (3000) adeptos também o terão seguido,
sua liberdade, que na óptica objectiva, e até 1974, muitos se sujeitaram as prisões
ajuda também a libertar o própio opressor e torturas. Ademias, o ciclo de prisões foi
da consciência opressiva. continuando, de Ndolo e Filtra, para Angola -
Vale do Loge Namibe (Ponta Albina), Coconda
Outrossim, como já referimos, a e Chibia (Huila), Luanda, Benguela, Cuanza-
fundação da igreja Tocoista marca o início Sul, Moxico e todas regiões de Angola. Agora
de uma nova era para Simão Toco e os seus nos perguntariamos: porquê os tocoistas
prosélitos com sofrimentos, opressões, não largaram o seu líder? A resposta é
torturas, vigilância, denúncias, prisões e bem simples: porque dele receberam uma

Samayonga | Luanda | ciap-samayonga.co.ao 17


educação libertária, na qual, a coragem suas impressões digitais, em nome
é a condição da conquista da dignidade da liberdade ensinada pelo mestre e
humana. pedagogo, Simão Gonçalves Tôco” (Nunes,
2022), porque não foram covardes e nem
Os tocoistas tinham noção que a dignidade pretendiam compactuar com a covardia.
dos angolanos só seria conquistada com
a manutenção e concretização de uma Este episódio, é reflexo de uma
prática educativa libertadora, pois, o educação libertária de Simão Tôco. É
contrário, não seria possivel. Outrossim, aqui onde reside a nossa afirmação, de
tinha noção que quanto mais desterro ou que o processo de educação libertáia
exílio por toda Angola e o mundo, maior é silencioso, mas seus resultados são
seria a probalidade expandir a educação ressonantes, concrectos, impactantes e
doutrinada pelo profeta Simão Tôco. Uma subversivos (se for necessário, na sua
educação que beneficia não só tocoistas, nobre missão de restauração da dignidade
mas todos oprimidos. da pessoa humana).

Simão Tôco, a partir de 1937, foi Os tocoistas, educados pelo profeta


transmitindo silenciosamento sua a resistirem a toda prática educativa
educação libertadora, porém, em 1949, opressora, foram chamados de
havia alcançado resultados concrectos subversores e desordeiros. Porém, era
e tonou-se público e ressonante a sua normal para Simão Tôco, porque todos
filosofia educativa, porque não é fácil aqueles que lutam pela liberdade, são
(naquela época), mais de três (3000) submetidos numa condição de vilões,
homens no primeiro momento a se em que o opressor aproveta-se do acto
predisporem corajosameente em defesa dos oprimidos, e inverte o seu sentido
da doutrina educativa que os levaria a libertador, considerando-as desumanas,
represálias, por parte do opressor. quando são eles os vilões e os desumanos
prescritores de uma pauta ideológica e
Aqueles três (3000) homens educativa, consubstanciada na coisficação
“abandonaram suas casas, para se do oprimido.
apresentarem voluntáriamente à polícia
belga, sem medo de armas, puretes ou
qualquer forma de retaliação, deixando

Para os opressores, porém, na hipocrisia de sua generosidade, são sempre os


oprimidos, que eles jamais obviamente chamam de oprimidos, mas, conforme
me situem, interna ou externamente, de essa gente ou de essa massa cega
e invejosa, ou de selvagens, ou de nativos, ou de subversivos, são sempre os
oprimidos os que desamam. São sempre eles os violentos, os bárbaros os
malvados, os ferozes, quando reagem a violência dos opressores. Na verdade,
porém, por paradoxal que possa parecer, na resposta dos oprimidos à violência
dos opressores é que vamos encontrar o gesto do amor. (Freire, 1970, p. 24).

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A
pesar da teimosia dos da soberania, quando aos 11 de Novembro
opressores, somos a realçar de 1975, proclamou-se a independência de
que o pensamento educativo de Angola, pelo Presidente António Agostinho
Simão Tôco triunfou, porque as liberdades Neto. Neste sentido, a prática educativa da
foram alcançadas, por meio da conquista liberdade triunfou.

Materiais e métodos

É
de salientar que a presente pesquisa entre os 28 e 68 anos de idade, sendo
é de natureza qualitativa, porque todos do sexo masculino.
“além de descrever a aparência
do problema em estudo, analisou-se a De igual modo, é de reiterar que o
essência”(Triviños, 1987 como citado em guião de entrevista foi dividido em duas
Oliveira, 2011, p.11) das“contribuições do questões relacionada ao problema em
Profeta Simão Gonçalves Tôco no campo estudo, sendo que a primeira se refere “as
da educação em Angola no período de razões que levaram Simão Gonçalves Tôco
1937 a 1950”. Outrossim, quanto ao defender a educação”e a segunda incide
objetivo, a presente pesquisa segue sobre a “detalhação das contribuições do
sendo descritiva, porque focou-se na Profeta Simão Gonçalves Tôco no campo
busca, análise, compreensão e descrição da educação em Angola no período de 1937
das “contribuições do Profeta Simão a 1950”.Outrossim, além da entrevista, a
Gonçalves Tôco no campo da educação pesquisa serviu-se de método bibliográfico,
em Angola no período de 1937 a 1950”. pois, “recorreu-se às contribuições de
diversos autores sobre o assunto” (Lakatos
Assim sendo, quanto a colecta de & Marconi, 2001, como citado em Oliveira,
dados, a pesquisa serviu-se de entrevista, 2011, p.19 ), tais como livros, artigos de
sobretudo, a semi-estruturada, na qual, revista, Dissertações e monografia.
através de “uma conversa informal
dirigindo questões de uma forma simples,
aberta e liberal”(Aragão & Neta, 2017, p.
35), aos entrevistados confirmou-se a
veracidade sobre as “contribuições do
Profeta Simão Gonçalves Tôco no campo
da educação em Angola no período de
1937 a 1950”.

Neste âmbito, as entrevistas, realizaram-


se com vinte e dois (30) individuos em
2023, sendo destribuidos da seguinte
forma: vinte e dois (22) anciãos e Pastores
da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no
Mundo “os Tocoistas” e oito (8) estudantes
do 4º ano do curso de Ensino da História
da Escola Superior Pedagógica do Cuanza-
norte. Outrossim, os entrevistados estão

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Resultados
espeificação das razões que levaram Simão Gonçalves Tôco
defender a educação em Angola no período de 1937 a 1950

N
este questão, os entrevistados que além da 4ª classe e um aprendizado
foram unânimes em dizer que a baseado nos ofícios, não houve nada
opressão foi a causa maior que que despertasse a consciência do preto,
levou o nacionalista e líder Simão Gonçalves porque o propósito era nos dominar
Tôco defender a educação em Angola, e marginzalizar, por isso, o Messias
porque a educação para os pretos como africano e libertador Mayamoná, Simão
tal em Angola não existia, pois, existiam Gonçalves Tôco, lutou e reagiu a agressão
sim, um plano de instrução baseado na psicológica e cultural do branco em
inferiorização dos pretos. prol da emancipação do homem negro.
De igual modo, os entrevistados, A e L,
Para o entrevistado, V e o W, ambos ambos estudantes da Escola Superior
tocoistas, reiteraram que sob pretexto Pedagógica do Cuanza-Norte, afirmaram
de nos “civilizar” (Keita, 2009), nos taxativamente o seguinte:
desponibilizaram uma educação frágil,

Temos observados os cultos tocoista na TPA e percebemos que esta Igreja é


nossa e lutou por uma educação reflexiva e conscientizadora, mas ainda assim,
em Angola só se fala de Agostinho Neto, Savimbi e Holden Roberto, mas os
tocoistas, foram os primeiros a começar uma a luta corajosa e aberta por uma
educação libertadora. Na década de 1940,já existiu em Angola, Simão Tôco
que ensinou princípios emancipadores. Ele defendia uma educação básica,
média e superior, porque os pretos na época eram limitados e impedidos de
aceder a estes benefício.

detalhação das das contribuições do Profeta Simão Gonçalves


Tôco no campo da educação em Angola no período de 1937 a
1950.

N
este quesão os entrevistasdos, indiscrimidamente brancos e pretos”
afirmaram que Simão Gonçalves (Domingos, 2007) , e não apenas brancos.
Tôco, defendeu uma educação O Entrevistado L afirmou que o próprio
religiosa, baseada no respeito pela Simão Tôco foi alvo de discriminação,
espiritualidade africana, conforme nos porque quando terminou o“Liceu Salvador
foi ensinada pelos nossos ancenstrais. Corrêia, que também tinha feito com
Entretanto, o entrevistado V reiterou que ajuda dos missionários, não conseguiu
Simão Tôco defendeu uma educação cristã entrar na Universidade, porque era ôrfão
que agrega os valores da ancestridade de Pai e mãe, e não tinha mais alicerces
africana. De igual modo, defendeu uma para continuar com a sua formação”
educação escolar que “congregasse (Kisela, 2013).

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Por isso, voltou no Bembe e no sobre independência, porque sabiam que
Kibocolo para defender uma educação com os missionários, sejam católicos
escolar inclusiva e que desenvolvesse ou protestantes, não se aprenderia
verdadeiramente a mente dos angolanos. para liberdade, senão apenas para a
Ele desafiou os missionários que continuidade da colonização, escravidão e
fingiram nos ensinar verdadeiramente e submissão do preto sobre o branco. Mas
até colocou sua posição de professor a Simão Tôco nos ensinavam que um dia
disposição, porque não lhe queriam ouvir, seremos livres e os escravos africanos,
quando defendesse o direito dos pretos tornar-se-iam em governos e homens
a educação de qualidade. Ademais, os livres.
missionários diziam basta ensinar um
preto, que os outros se viram e mantêm- Por isso, quando ele esteve no Kongo,
se atrasados, apendendendo somente enfrentou os belgas e determinou que
programa religioso. dentro de “10 anos vocês voltarão para
vossas terras” (Salomão, n.d.). Em suma,
O entrevistado W, afirmou que na os entrevistados corroboram que Simão
década de 1940 e 1950, Simão Tôco Tôco defendeu não só a educação religiosa,
defendia como professor do Bembe mas escolar e a educação sobre liberdade
e Kibocolo, uma reforma educativa, ou a autodeterminação.
baseada no aprendizado de conteúdos

Discussão

N
o que concerne a razões que transmitir timidamente alguns valores
impulsionaram Simão Gonçalves europeus, que mais do que menosprezar e
Tôco a defender a educação em submeter o africano, não trazia elementos
Angola no período de 1937 a 1950, os reflexivos e conscientizador.O próprio
resultados são significativo, a medida Norton de Matos, subscreveu esta tipologia
que Simão Tôco, reagiu a violência e de educação insuficiente e desumano ao
marginalização educacional e social do declarar que “os pretos devem continuar
branco sobre o preto. Ele se levantou analfabetos e educação ales dirigida, tem
para defender a dignidade dos pretos, de se basear apenas na aprendizagem de
porque uma educação limitada e sem ofícios” (Silva, 2017), nada mais do que isso.
poder de libertar as mentes, não pode ser
considerada dignitária. Por isso, Tôco se Neste sentido, percebe-se que a
terá rebelado, olhando para o perigo que educação apregoada pelo colono em
as insuficiências da educação reservada Angola, era de submissão e perpetuação
para os pretos representava. da colonização, sem compromissos
libertários, porque o opressor teme
Entretanto, os entrevistados V e W, a liberdade ou conscientização do
afirmaram que “sob pretexto de nos oprimido. Por isso, Simão Gonçalves Tôco,
civilizar, nos submeteram a uma educação percebendo esta situação desde muito
frágil”, esta resposta também é significativa cedo, criou uma filosofia educativa da
de maneira que a civilização de que libertação – o Tocoismo, para defender os
os europeus asseguravam era apenas pretos -“desvalidos da sorte” (Rummert,
2005, p. 1).

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O plano curricular que suportava a Relactivamente as contribuições do
formação dos pretos era vazio, voltado Profeta Simão Gonçalves Tôco no campo
para marcinaria, carpintaria, cerrelharia da educação em Angola no período de
e outros ofícios, que não desenvolviam a 1937 a 1950, somos a salientar que a
mente, porém, mantinha o preto prosélito resposta dos entrevistados é significativa,
e parasitário do pensamento e doutrinação convergindo com os anais da história
do branco, o que na prática constituia do Tocoismo. Entretanto, é plausivel a
um extremo retrocesso, e destruição da resposta do entrevistado L ao afirmar que
predesposição natural da criatividadedos “o próprio Simão Tôco voltou no Bembe
pretos. e no Kibocolo para como professor
defender uma educação escolar inclusiva
Por isso, Simão Gonçalves Tôco, não e que desenvolve a inteligência dos
poupou esforço ao reagir e teve de sofrer angolanos” (Kibeta, 2002; Domingos, S.,
até a violência do opressor, porque 2007; Sarró & Blanes, 2008; Domingos,
vinham nele um espírito anarquista com C., 2017), significa que inequivocamente
tendências de chocar e desdogmatizar o contribuiu para a defesa de uma educação
statu quo, pois, o opressor nunca enxerga secular igualitária, na qual, brancos e
em si mesmo a sua alma arrogante e de pretos estejam nas mesmas condições de
predador do oprimido, rotulando como oportunidade no campo educacional.
subversores e inimigos do Estado os
oprimidos que a ninguém oprimem, senão Outrossim, entende-se que esta
apenas se autodefendem da agressão do contribuição de Simão Tôco, foi urgente
opressor – o predador. a medida que percebera que era preciso
descontituir a educação colonial, para
Infelizmente, corrobora-se com os constituir a educação genuinamente
entrevistados quando afirmam que angolana, porque a colonial estava
mesmo em meio a tantas obras de consubstanciada na destribalização
Simão Gonçalves Tôco neste país, o ou destruição de valores inerentes
protagonismo é exclusivamente atribuido a dignidades dos pretos, mas uma
aos políticos como Dr. Jonas Savimbi, educação angolana seria para ele, uma
Holden Roberto e Agostinho Neto, o nova vinculação com as raizes que
que na prática se demonstra uma certa brotam sobre os nossos valores culturais
omissão da verdadeira história de Angola, e sociais. De igual modo, percebe-se que
sobretudo, no campo da educação. Assim para Tôco,apenasum tipo de educação
sendo, sugere-se que as instituições genuinamente angolana, seria capaz de
académicas e políticas, desdobram-se libertar e dispertar a criativaidade que
e buscam condignamente trazer nos impera sobre o preto.
nossos currículos de históra e pedagogia,
elementos que apontam Simão Tôco, Por isso, preferiu desafiar os
como precursor de uma luta baseada na missionários, defendendo uma educação
educação reformista, na qual, os padrões secular que responde os anseios dos
da cultura angolana são restauradas – pretos e igualizam os pretos em relação aos
reangolanização. brancos, no que tange as oportunidades.
Tôco sabia que sua atitude de libertador
dos seus irmãos beliscaria sua relação

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com os missionários protestantes que anos que sobravam para o colonizador em
silenciosamente eram foguetes do Áfricacomo resposta a agressão sofrida
imperialismo europeu e americano, de um oficial policial belga, dizendo que,
porém, terá entendido que a dignidade “dentro de 10 anos, já não estareis aqui no
do africano era importante nesta luta, Kongo, e África viverá um processo massivo
todavia, nunca recuou na sua posição. de descolonização” (Salomão, n.d.), e esta
profecia conretizou com a libertação do Gana
Ademais, os entrevistados ao afirmarem em 1957 e Kongo em 1960. Todavia, entende-
que Simão Tôco defendeu a educação se que este profeta é defensor da educação
sobre a liberdade, nos remete as suas sobre autodeterminação, através de uma
discussões sobre autodeterminação, doutrina de libertação e conscientização bem
tal como, o entrevistado W, afirma apurada – o Tocoismo, que desafiou e resistiu
que “na década de 1940 , Simão Tôco contra a educação da opressão.
defendia como professor do Bembe
e Kibocolo, uma reforma educativa,
baseada no aprendizado de conteúdos
sobre independência, porque sabia que
com os missionários, sejam católicos
ou protestantes, não se aprenderia
para liberdade, senão apenas para a
continuidade da colonização, escravidão
e submissão do preto sobre o branco”.
Contudo, esta resposta é significativa,
porque Simão Tôco ensinava aos seus
adeptos que temos de expulsar os
opressores e usurpadores.

A terra é nossa e vocês tem que


continuar a orar. Os nossos avós
entregaram esta terra aos portugueses
para eles civilizarem, mas não foi para
tomar conta dela. Nunca se esqueçam de
orar pela nossa terra. No Congo é que vai
começar a maka [luta] (FERREIRA, 2012, p.
103).

Neste sentido, Simão Tôco construiu o


Tocoismo, não só como uma religião, mas
como uma escola ou fábrica de redenção
e emancipação do preto, especialmente
angolano, para que respondesse aos
principais desafios do século XX em África
para os pretos – a educação sobre a
autodeterminação.

De igual modo, sabe-se que foi Simão


Tôco que em 1950 cronometrar os

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contudo, os resultados demonstram que Simão Tôco é um profeta e nacionalista, que


defendeu uma educação escolar inclusiva, criativa e libertária. De igual modo, buscou
dentro do Tocoismo, uma educação sobre autodeterminação ou independência, onde os
escravos tornam-se livres e se autogovernam, sem quasiquer proselitismo aos brancos.

Entretanto, Simão Gonçalves Tôco foi professor e pedagogo que estabeleceu sua
própria doutrina educativa, na qual, a liberdade é dos elementos que norteiaram
o processo de ensino e aprendizagem dos adeptos, para que, tendo consciência da
opressão, pudessem ser protagonista da sua própria liberdade. A contribuição de
Simão Tôco na educação formal e educação sobrea autodeterminação, foi fundamental
para que o angolano percebem-se que estava sendo marionetizado, por uma ideologia
(colonialismo), cujo objectivo era deixá-lo cada vez mais cego, retrocedido e oprimido.

Outrossim, Simão Tôco ao combater a doutrina educacional do colonialismo que


inviabilizava a autodeterminação e a escolarização quantitativa e qualitativa dos pretos,
estava contribuindo para libertação e conscientização do homem negro, que submissos
a opressão, perdiam, igualmente o foco da sua liberdade, sujando sua mente com
conteúdo que só o conduziam para o obscurantismo e a dependência total ao branco.

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