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| | | | I Li Baneo , Pat Carles DELS pr. Se Poulos Condes 1494. Estudamos, até aqui, os objetivos, tarefas e componentes do Proceso idatico, bem como o processo de ensinn « sexs elementos cominan comtletivos, contetidos, métodas e formas organizativas (destacandon sere como forma bésica de organizacao do ensino), 2 vali dos capftulos, preocupamo-nos em assentar a$ linhas bases realizagao do ensino, r entendimento de que esa tarefa ae Ponto de referénci i dizagem e das condigdes extemas que co-deterninar a cox efetivagio, O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclu’ tanto a Previsio dls atividades didéticas em termos da sua organvayalo € coordenacio em do processo de ensino. O planejamento é um meio par s. Programar as também um momento de pesquisa e reflexdo int mamente ligado & avaliagao, Ha tés modalidades de planejamento, articuldas entre si: 0 plano da escola, o plano de ensino e o plano de aulas 221 Neste capftulo sero tratados os seguintes temas: a importancia do planejamento escolar; requisitos gerais para o planejamento; © plano da escola: © plano de ensino; © plano de aulas. noooag Importancia do planejamento escolar O trabalho docente, como vimos, € uma atividade consciente e siste- matica, em cujo centro esté a aprendizagem ou o estudo dos alunos sob a diregio do professor. A complexidade deste trabalho foi evidenciada a0 longo deste livro: ele nao se restringe a sala de aula; pelo contrario, esta diretamente ligado a exigéncias sociais e & experiéncia de vida dos alunos. A assimilagio de conhecimentos e habilidades e o desenvolvimento das capacidades mentais decorrentes do processo de ensino nao tém valor em si mesmos, mas visam instrumentalizar os alunos como agentes ativos participantes na vida social O planejamento é um proceso de racionalizagao, organizagio e coor- denagio da ago docente, articulando a atividade escolar ¢ a problemética do contexto social. A escola, os professores € os alunos so integrantes da dindmica das relagées sociais; tudo o que acontece no meio escolar esti atravessado por influéncias econdmicas, politicas e culturais que caracte rizam a sociedade de classes. Isso significa que os elementos do planej mento escolar — objetives, contetidos, métodos — esto recheados de implicagies sociais, tém um significado genuinamente politico. Por essa razio, o planejamento € uma atividade de reflexao acerca das nossas opges agées; se néio pensarmos detidamente sobre o rumo que devemos dar 20 ‘nosso trabalho, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos interesses douinantes nz suciedade, A ago de planeJar, portanto, no se reduz a0 simples preenchimento de formulérios para controle administrativo; é, antes, a atividade consciente de previsio das ages docentes, fundamentadas em opgées politico-pedagégicas, e tendo como referéncia permanente as situa- es didaticas concretas (isto é, a problemitica social, econémica, politica e cultural que envolve a escola, os professores, os alunos, os pais, a co- munidade, que interagem no processo de ensino).. 222 O planejamento escolar tem, assim, as seguintes fungdes: Explicitar prinefpios, diretrizes e procedimentos do trabalho docente que assegurem a articulagdo entre as tarefas da escola e as exigéncias do contexto social do processo de participagao democritica. b)_ Expressar os vinculos entre 0 posicionamento filoséfico, politico-pe- dagégico e profissional e as agdes efetivas que o professor iré realizar na sala de aula, através de objetivos, contetidos, métodos e formas organizativas do ensino. ©) Assegurar a racionalizagao, organizagio e coordenago do trabalho docente, de modo que a previséo das ages docentes possibilite ao professor a realizagao de um ensino de qualidade e evite a improvisagi0. © a rotina. 4) Prever objetivos, contetidos e métodos a partir da consideragio das exigéncias postas pela realidade social, do nivel de preparo e das con- digdes sécio-culturais e individuais dos alunos. ©) Assegurar a unidade ¢ a coeréncia do trabalho docente, uma vez que * torna possfvel inter-relacionar, num plano, os elementos que compdem, © processo de ensino: os objetivos (para que ensinar), os conteddos (© que ensinar), os alunos e suas possibilidades (a quem ensinar), os métodos e técnicas (como ensinar) e a avaliacdo, que esté intimamente relacionada aos demais. 1) Atualizar 0 contetido do plano sempre que € revisto, aperfeigoando-o em relago aos progressos feitos no campo de conhecimentos, ade- quando-o &s condigdes de aprendizagem dos alunus, ws métodos, te- nicas e recursos de ensino que vio sendo incorporados na experiéncia cotidiana, £) Facilitar a preparagdo das aulas: selecionar © material didético em tempo hébil, saber que tarefas professor e alunos devem executar, replanejar o trabalho frente a novas situagdes que aparecem no decorrer das aulas. Para que os planos sejam efetivamente instrumentos para a ago, deve ser como um guia de orientagdo e devem apresentar ordem seqilencial, objetividade, coeréncia, flexibilidade. Em primeiro lugar, © plano € um guia de orientagdo, pois nele sio estabelecidas as diretrizes © os meios de realizagdo do trabalho docente. Como a sua fungio € orientar a prética, partindo das exigéncias da propria pratica, ele no pode ser um documento rigido e absoluto, pois uma das caracteristicas do processo de ensino & que esté sempre em movimento, estd sempre sofrendo modificagdes face &s condigées reais. Especialmente em relagio aos planos de ensino e de aulas, nem sempre as coisas ocorrem 223 exatamente como foram planejadas: por exemplo, certos contetidos exigirio mais tempo do que 0 previsto; 0 plano nao previu um periodo de levan- tamento de pré-requisitos para iniciar a matéria nova; no desenvolvimento do programa houve necessidade de maior tempo para consolidagio etc. Sao necessérias, portanto, constantes revisbes. Em segundo lugar, 0 plano deve ter uma ordem seqiiencial, progressiva Para alcangar os objetivos, sto necessérios virios passos, de modo que a aco docente obedega a uma sequéncia I6gica. NBo se quer dizer que, na prética, os passos ndo possam ser invertidos. A ocorréncia dessa possibi- lidade € uma coisa positiva, embora indique que a nossa previsio falhou; somente sabemos que falhou porque fizemos uma previsiio dos passos. Em terceiro lugar, devemos considerar a objerividade. Por objetividade entendemos a correspondéncia do plano com a realidade & que se vai aplicar. Nao adianta fazer previsdes fora das possibilidades humanas e materiais da escola, fora das possibilidades dos alunos. Por outro lado, somente tendo conhecimento das limitagdes da realidade que podemos tomar deci- ses para superagio das condigdes existentes. Quando falamos em realidade, devemos entender que a nossa ago, e a nossa vontade, so também com- ponentes dela. Muitos professores ficam lastimando dificuldades e acabam por se esquecer de que as limitagdes e 05 condicionantes do trabalho docente podem ser superados pela agao humana. Por exemplo, no inicio do ano 0 professor logo percebe que os alunos vieram da série anterior sem certos pré-requisitos para comegar matéria nova. Pode até acontecer que 0 pro- fessor da série anterior tenha desenvolvido a matéria necesséria, mas os alunos esqueceram os conhecimentos ou ndo os consolidaram. Essa cir- cunstancia € um dado de realidade. Nao resolvera nada criticar 0 professor da série anterior ou tachar os alunos de burros. Ao contririo, trata-se de omar esta realidade como ponto de partida e trabalhar os pré-requisitos, sem os quais € impossivel comecar matéria nova. Em quarto lugar, deve haver coeréncia entre os objetivos gerais, os objetivos especificos, contetidos, métodos e avaliactio. Coeréncia é a relagaio que deve existir entre as idéias e a pritica. E também a ligagdo légica entre os componentes do plano. Se dizemos nos nossos objetivos gerais que a finalidade do trabalho docente é ensinar os alunos a pensar, a de- senvolver suas capacidades intelectuais, « organizaglo dos conteddos e mé- todos deve refletir esse propésito. Quando estabelecemos objetivos espe- cificos da matéria, a cada objetivo devem corresponder contetidos e métodos compativeis. Se queremos conseguir dos alunos autonomia de pensamento, capacidade de raciocfnio, devemos programar tarefas onde os alunos possam desenvolver efetivamente, ativamente, esses propésitos. Se temos em mente ue no hé ensino sem a consolidagao de conhecimentos, a nossa avaliagio 224 da aprendizagem nfo pode reduzir-se apenas a uma prova bimestral, mas devemos aplicar muitas formas de avaliago a0 longo do processo de ensino. Em quinto lugar, o plano deve ter flexibilidade. No decorrer do ano letivo, 0 professor est sempre organizando e reorganizando o seu trabalho. ‘Como dissemos, o plano é um guia e nfo uma devisdu inflextvel. A relagao pedagégica estd sempre sujeita a condigGes concretas, a realidade est sem- pre em movimento, de forma que o plano esta sempre sujeito a alteragées. Por exemplo, is vezes o mesmo plano é elaborado para duas classes di- ferentes, pois nio é posstvel fazer previsdes definitivas antes de colocar 0 plano em execugdo; no decorrer das aulas, entretanto, o plano vai obriga- ‘oriamente passando por adaptagdes em funcio das situagées docentes es- pecificas de cada classe. Falamos das finalidades e das caracteristicas do planejamento. Resta dizer que ha planos em pelo menos trés niveis: 0 plano da escola, 0 plano de ensino ¢ 0 plano de aula. O plano da escola é um documento mais global; expressa orientagbes gerais que sintetizam, de um lado, as ligagées da escola com o sistema escolar mais amplo e, de outro, as ligagdes do projeto pedagdgico da escola com os planos de ensino propriamente ditos. 0 plano de ensino (ou plano de unidades) € a previstio dos objetivos ¢ tarefas do trabalho docente para um ano ou semestre; é um documento mais elaborado, dividido por unidades seqlienciais, no qual aparecem ob- Jetivos especificos, contetidos e desenvolvimento metodolégico. O plano de aula € a previstio do desenvolvimento do contetido para uma aula ou conjunto de aulas e tem um cariter bastante especifico. planejamento néo assegura, por si s6, 0 andamento do proceso de ensino. Mesmo porque a sua elaboracdo est em fungio da diregio, orga- nizagdo e coordenacao do ensino. E preciso, pois, que os planos estejam continuamente ligados & pratica, de modo que sejam sempre revistos ¢ refeitos. A aco docente vai ganhando eficdcia na medida em que o professor vai acumulando e enriquecendo experiéncias ao lidar com as situagées concretas de ensino. Isso significa que, para planejar, 0 professor se serve, de um lado, dos conhecimentos do processo didatico ¢ das metodologias especilicas das matérias e, de outro, da sua prépria experiéncia pritica. A cada etapa do proceso de ensiny conven yue © professor va registrando no plano de ensino no plano de aulas novos conhecimentos, novas ex- perigncias. Com isso, vai criando e recriando sua prépria didatica, vai en- riquecendo sua pritica profissional e ganhando mais seguranga. Agindo assim, 0 professor usa o planejamento como oportunidade de reflexio avaliagdo da sua prética, além de tomar menos pesado o seu trabalho, uma vez que niio precisa, a cada ano ou semestre, comegar tudo do marco zero. 225 Requisitos para o planejamento Conforme vimos, 0 planejamento escolar é uma atividade que orienta a tomada de decisdes da escola ¢ dos professores em relagio as situagoes docentes de ensino e aprendizagem, tendo em vista alcangar os melhuies resultados possiveis. O que deve orientar a tomada de decisies? Quais sto ‘os requisitos a serem levados em conta para que os planos da escola, de ensino e de aula sejam, de fato, instrumentos de trabalho para a intervenga0 e transformagio da realidade? s principais requisitos para o planejamento sio: os objetivos e tarefas da escola democrética; as exigéncias dos planos e programas oficiais; as condigdes prévias dos alunos para a aprendizagem; os princfpios e as con- digdes do processo de transmissio e assimilagio ativa dos contetidos. Objetivos e tarefas da escola democrética A primeira condigao para o planejamento so conviegdes seguras sobre a diregdo que queremos dar ao proceso educative na nossa sociedade, ou seja, que papel destacamos para a escola na formagio dos nossos alunos. Desde o infcio deste livro mostramos que os objetivos e tarefas da escola democratica estdo ligados as necessidades de desenvolvimento cultural do ovo, de modo a preparar as criangas e jovens para a vida e para o trabalho. Sabemos que a escola piblica de hoje ¢ diferente da escola do passado. A escola piiblica do passado era organizada para atender os filhos das familias das camadas alta e média da sociedade, que, geralmente, j dis- punham de uma preparagao familiar anterior para terem éxito nos estudos. Era uma escola que proporcionava uma formacio geral e intelectual para 0s filhos dos ricos, enquanto os pobres que conseguiam ter acesso 2 esco- larizagio tinham outra escola: a de preparagao para o trabalho fisico (para profissdes manuais), com conhecimentos reduzidos e quase nenhuma preo- cupagao com o desenvolvimento intelectual. A situaga ponco mudou no que se refere aos contetidos do cnsino, mas houve uma modificagao fundamental: a escola piblica de hoje — e aqui falamos das escolas dos centros e periferias urbanas das grandes dades, das escolas das cidades de médio e pequeno porte e das escolas Turais — recebe um grande contingente de criangas e jovens pertencentes a populacdo pobre. Esta realidade impde as escolas e aos professores a exigéncia de recolocar a questio dos objetivos e dos contetidos de ensino, 226 no sentido de proporcionar a essa populacao uma educagio geral, intelectual profissional. A escola democritica, portanto, € aquela que possibilita a todas as criangas a assimilagio de conhecimentos cientificos e o desenvolvimento de suas capavidades intelectuals, de modo a estarem preparadas para par- ticipar ativamente da vida social (na profissio, na politica, na cultura) Assim, as tarefas da escola, centradas na transmissio e assimilagio ativa dos conhecimentos, devem contribuir para objetivos de formacao profis- sional, para a compreensio das realidades do mundo do trabalho; de for- ‘magio politica para que permita 0 exercicio ativo da cidadania (participacao nas organizagdes populares, atitude consciente e critica no proceso eleitoral etc.); de formagao cultural para adquirir uma visio de mundo compattvel com os interesses emancipatérios da classe trabalhadora, Ao planejarem 0 processo de ensino, a escola e os professores devern, pois, ter clareza de como o trabalho docente pode prestar um efetivo servico populagtio e saber que contetidos respondem as exigéncias profissionais, politicas e culturais postas por uma sociedade que ainda nao alcangou a democracia plena. Se acreditamos que a educagao escolar tem um papel na democratizagio. nas esferas econémica, social, politica e cultural, ela sera mais democritica quanto mais for universalizada a todos, assegurando tanto 0 acesso ¢ ermanéncia nas séries iniciais, quanto o dominio de conhecimentos bésicos € socialmente relevantes eo desenvolvimento das capacidades intelectuais or parte dos alunos. Exigéncias dos planos e programas oficiais A educagio escolar € direito de todos os brasileiros como condicao de acesso ao trabalho, & cidadania e A cultura. Enquanto tal é dever dos governos garantir 0 ensino bésico a todos, tragar uma politica educacional, rover recursos financeiros e materiais para 0 funcionamento do sistema escolar, administrar e controlar as atividades escolares de modo a assegurar © direito de todas as criancas e jovens receberem um ensino de qualidade € socialmente relevante. Sabemos que em nosso pais as coisas nao se passam assim, ¢ em todos os lugares a educagao escolar do povo tem sido relegada ‘a0 segundo plano. Entretanto, os diversos setores organizados da sociedade — organizagdes ¢ movimentos populares, pais, professores, alunos — tm exigido dos governos o cumprimento das suas obrigagdes piblicas em re- ago ao atendimento do direito & educagao. 227 Uma das responsabilidades do poder piiblico é a claborago de planos € programas oficiais de instrucdo, de ambito nacional, reelaborados ¢ or- ganizados nos estados e municipios em face de diversidades regionais ¢ lo- ‘ais. Os programas oficiais, 2 medida que refletem um ntcleo comum de conhecimentos escolares, tém um carster demoeratico, pois, a par de serem garantia da unidade cultural e politica da nacio, levam a assegurar a todos 6s brasileiros, sem discriminagao de classes sociais e de regides, o direito de acesso a conhecimentos bisicos comuns. 5 planos e programas oficiais de instrugo constituem, portanto, um outro requisito prévio para o planejamento. A escolae os professores, porém, devem ter em conta que os planos e programas oficiais sao diretrizes gerais, so documentos de referéncia, a partir dos quais so elaborados os planos diditicos especificos. Cabe & escola e aos professores elaborar os seus proprios planos, selecionar os contetidos, métodos e meios de organizacZo do ensino, em face das peculiaridades de cada regitio, de cada escola e das particularidades e condigdes de aproveitamento escolar dos alunos. A conversio dos planos e programas oficiais em planos de ensino para situagdes docentes especfficas no & uma tarefa fécil, mas é 0 que assegura a liberdade e autonomia do professor e a adequagio do ensino as realidades locais. Além disso, nenhum plano geral, nenhum guia metodo- Jégico, nenhum programa oficial tem respostas pedagégicas e didéticas para garantir a organizagao do trabalhio docente em situagdes escolares concretas. Na verdade, cabe ao professor, mais que o cumprimento das exigéncias dos planos ¢ programas oficiais, a tarefa de reavalié-los tendo em conta objetivos de ensino para a realidade escolar onde trabalha. Conta-se, aqui, com a criatividade, 0 preparo profissional, os conhecimentos de Didatica, de Psicologia, de Sociologia e, especialmente, da disciplina que esse pro” fessor leciona e seu significado social nas circunstaneias concretas do ensino. Condi¢ées prévias para a aprendizagem © planejamento escolar — seja da escola, seja do professor — esta condicionado pelo nivel de preparo em que os alunos se encontram em relacZo as tarefas da aprendizagem. Conforme temos reiterado, os contetidos de ensino so transmitidos para que os alunos os assimilem ativamente os transformem em instrumentos teéricos e priticos para a vida pratica, Saber em que pé esto os alunos (suas experiéneias, conhecimentos ante- lores, habilidades e habitos de estudo, nivel de desenvolvimento) é medida 228 indispensivel para a introducdo de conhecimentos novos e, portanto, para © éxito de agdo que se plangja. Em relago aos alunos da escola piblica, a verificago das condigSes potenciais de rendimento escolar depende de um razodvel conhecimento dos condicionantes sécio-culturais ¢ materiais: auibiente social em que Vi- vem, a linguagem usada nesse meio, as condigdes de vida e de trabalho, Esse conhecimento vai muito além da simples constatagio da realidade; deve servir de ponto de apoio pedagégico para o trabalho docente. E preciso que © professor esteja disponfvel para aprender com a realidade, extrair dos alunos informagées sobre a sua vida cotidiana, levé-los a confrontar (95 seus préprios conhecimentos com a informagao embutida nos contetidos escolares. O fato € que os determinantes sociais e culturais da sua existéncia conereta influem diretamente na apreensio dos objetos de conhecimento trazidos pelo professor e, portanto, constituem ponto de partida para a as- similagio doc conhecimentos sistematizados. planejamento da escola e do ensino dependem das condigGes esco- lares prévias dos alunos. De nada adianta introduzir matéria nova, se os alunos carecem de pré-requisitos. A introdugio de matéria nova ou a con- solidagao da matéria anterior requerem necessariamente verificar 0 ponto de preparo em que os alunos se encontram, a fim de garantir a base de conhecimentos < habilidades necesséria para a continuidade da matéria. ‘Um professor niio pode justificar 0 fracasso dos alunos pela falta de base anterior; o suprimento das condigdes prévias de aprendizagem deve ser previsto no plano de ensino. Nao pode alegar que os alunos sio dis- persivos; é ele quem deve criar as condigées, os incentivos e os contetidos ara que os alunos se concentrem e se dediquem ao trabalho. Nao pode alegar imaturidade; todas os alunos dispdem de um nivel de desenvolvi- mento potencial ao qual 0 ensino deve chegar. Nao pode atribuir aos pais © desinteresse ¢ a falta de dedicagdo dos alunos, muito menos acusar a pobreza como causa do mau desempenho escolar; as desvantagens intelec~ tuais € a prépria condicdo de vida material dos alunos, que dificultam 0 enfrentamento das tarefas pedidas pela escola, devem set tomadas como onto de partida para o trabalho docente. Principios e condigées de transmissao/assimilagdo ativa Este requisito diz respeito ao dominio dos meios ¢ condigdes de orien- tago do processo de assimilacio ativa nas aulas. O planejamento das ui 229 dades didéticas ¢ das aulas deve estar em correspondéncia com as formas de desenvolvimento do trabalho em sala de aula, Uma parte importante do plano de ensino € a descri¢ao das situagSes docentes especificas, com a indicagaio do que os alunos fardo para se envolverem na atividade docente € do que o professor fara para dirigir a atividade cognoscitiva dos alunos em classe. Este assunto jé foi desenvolvido em capitulos anteriores. O plano daescola plano da escola é 0 plano pedagégico ¢ administrative da unidade escolar, onde se explicita a concepcdo pedagégica do corpo docente, as bases tedrico-metodolégicas da organizagio diditica, a contextualizagio social, econémica, politica e cultural da escola, a caracterizacio da clientela escolar, 08 objetives educacionais gerais, a estrutura curricular, diveuizes metodolégicas gerais, o sistema de avaliago do plano, a estrutura organi- zacional e administrativa, plano da escola € um guia de orientago para o planejamento do processo de ensino. Os professores precisam ter em miios esse plano abran- gente, no s6 para uma orientagio do seu trabalho, mas para garantis unidade tedrico-metodolégica das atividades escolares. © plano da escola, enquanto orientagio geral do trabalho docente, deve ser consensual entre 0 corpo docente. Pode ser elaborado por um ou mais membros do corpo docente e, em seguida, discutido. O documento final deve ser um produto do trabalho coletivo, expressando os posiciona- Mentos e a pratica dos professores. Com efeito, 0 plano da escola deve expressar os propésitos dos educadores empenhados numa tarefa comum. A nio-confluéncia em torno de principios basicos de ago pode ser nefasta Para a ago coletiva na escola, com repercussdes negativas na sala de aula, A seguir, sugerimos um roteiro para a elaborago do plano da escola, | 1. Posicionamento sobre as finalidades da educagio escolar na sociedade € na nossa escola. 2. Bases te6rico-metodolégicas da orgat so 0 nosso entendimento sobre: agi diddtica e administrativa + 0 tipo de homem que queremos formar; + as tarefas da educagio geral + 0 significado pedagégico-didatico do trabalho docente: as teorias do ensino ¢ da aprendizagem; 230 _— * as relagdes entre © ensino © o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos; + 0 sistema de organizagdo ¢ administragio da escola, Caracterizagao econémica, social, politica e cultural do contexto em ‘que esté inserida a nossa ¢scola. + panorama geral do contexto; + aspectos principais desse contexto que incidem no processo ensi- no-aprendizagem. Caracteristicas sécio-culturais dos aluno: + origem social e condigdes materiais de vida; * aspectos culturais: concepeao de mundo, priticas de criagao e edu- cacao das criangas, motivagdes e expectativas profissionais, lingua. gem, recreaco, meios de comunicagio etc.; + caracterfsticas psicolégicas de cudla faixa etdria em termos de apren- dizagem e desenvolvimento. Objetivos educacionais gerais da escola quanto a(s): + aquisicio de conhecimentos e habilidades; + capacidades a serem desenvolvidas; + atitudes € convicgbes. Diretrizes gerais para a elaborago do plano de ensino: + sistema de matérias — estrutura curricular; + ctitérios de selegio de objetivos e contetidos; + diretnzes metodolégicas gerais e formas de organizagio do ensino; + sistemética de avaliagao, Diretrizes quanto & organizagio e A administragio: + estrutura organizacional da escola; + atividades coletivas do corpo docente: reunides pedagégicas, con- selho de classe, atividades comuns; + calendétio € horério escolar; + sistema de organizagio de classes; + sistema de acompanhamento e aconselhamento dos alunos; tema de trabalho com os pais; + atividades extra-classe: biblioteca, grémio estudantil, esportes, fes- tas, recreago, clubes de estudo, visitas a instituigdes e locais da cidade; + sistema de aperfeigoamento profissional do pessoal docente ¢ ad- ministrativo; 234 + normas gerais de funcionamento da vida coletiva: relagées internas nna escola e na sala de aula, O plano de ensino © plano de ensino é um roteiro organizado das unidades didéticas para um ano ou semestre. E denominado também plano de curso ou plano de unidades didaticas ¢ contém os seguintes componentes: justificativa da disciplina em relagdo aos objetivos da escola; objetivos gerais; objetivos PLANO DE ENSINO (ANUAL/SEMESTRAL) Disciplina: Série: Ano: | no semestre: Justificativa da disciplina (uma ou mais péginas) Objetivos gerais: Objetivos | Conteiidos | N.° de | Desenvolvimento metodolégico especificos aulas Unidade 1 1). 2. 3. 4), Unidade 11 D. 2. Bibliografia (do professor): Livro adotado para estudo dos alunos: especificos, conteddo (com a divisto temética de cada unidade); tempo Provavel © desenvolvimento metodoldgico (atividades do professor e dos alunos). Sua elaboragao pode ser apresentada de acordo com o quadro da pagina anterior. Justificativa da disciplina Este tépico do plano de ensino deve responder & seguinte pergunta qual a importincia ¢ o papel da matéria de ensino no desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos? Em outras palavras, para que serva ensinar tal matéria? O estudante do curso de Habilitago ao Magistério precisa saber responder a esta questio. A justificativa pode ser iniciada com consideragées sobre as fungaes socials © pedagogicas da educagio escolar na nossa sociedade, tendo em vista explicitar 0s objetivos que desejamos alcangar no trabalho docente com os alunos. Em seguida, descrevem-se brevemente os contetidos bisicos a disciplina para indicar para que serve 0 que se vai ensinar, Com isso Se vo definindo os objetivos prioritérios, tendo em vista a sua relevancia Social, politica, profissional e cultural. Finalmente, trata-se de explicitar as formas metodol6gicas para atingir os objetivos, com base nos principios didéticos gerais ¢ no método prdprio de cada disciplina, tendo em vista a assimilagao ativa dos conheeimentos ¢ o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos. Em resumo, a justificativa da disciplina responderd a trés questées bisicas do processo didético: 0 por qué, o para qué e o como. Este primeito Passo faclitaré enormemente nos passos seguintes da elaboracao do plano. Delimitagdo dos contetidos No passo anterior foram explicitados os objetivos do ensino da matéria, ainda que de forma mais geral. Para que possamos definir objetivos espe- cificos, que, na verdadc, sio jé us vesultados esperados da aquisigao de conhecimentos ¢ habilidades (ainda que fixados de antemio), devemos de~ limitar 0 contetidos por unidades didéticas, com a divisio tematica de cada uma, Unidades didéticas siio 0 conjunto de temas inter-relacionados que ccmpdem o plano de ensino para uma série. Cada unidade diditica contém um tema central do programa, detalhado em t6picos, 233 ‘Uma unidade didética tem como caracteristicas: formar um todo ho- mogéneo de contetidos em toro de uma idéia central; ter uma relagdo significativa entre os t6picos a fim de facilitar o estudo dos alunos; ter um cardter de relevancia social, no sentido de que os contetidos se tornem “vivos” na experiéncia social concreta dos alunos. selegdo e organizagio dos contedidos passam por determinados re- quisitos e critérios, bem como pela especificidade da matéria. Devernos Jembrar-nos de que os contetidos nao consistem apenas de conhecimentos, mas também de habilidades, capacidades, atitudes e convicgées. procedimento mais simples de organizagao do conjunto das unidades didéticas do plano € 0 seguinte: a) Tendo em mente sua concepgio de educagio ¢ escola, seu posiciona- mento sobre os objetivos sociais e pedagégicos do processo de ensino ¢, ainda, seu posicionamento e conhecimento em relagio a disciplina que leciona, 0 professor comeca a elaborar o programa. Para isso deve consultar o programa oficial da matéria (recomendado pelo estado ou municipio), 0 livro didatico escolhido e outros livros de consulta b) © programa ou contetidos para a série € inicialmente dividido em uunidades didéticas (como se fossem capitulos de um livro), cada uma com seus respectivos t6picos. A primeira versio é o levantamento geral de temas que podem ser trabalhados. Uma segunda versio sera necessdria para adequar 0 programa ao nivel de preparo dos alunos, as condigdes concretas de desenvolvimento das aulas, aos objetivos gerais do ensino da matéria, & continuidade do programa desenvalvida na série anterior e, finalmente, ao tempo disponivel. ©) Concluida a segunda versio, o professor terd um conjunto de unidades didéticas para um ano ou semestre e o niimero de aulas para cada uma, Fard entio uma tltima checagem para verificar: Ge as unidades formam um todo homogéneo e légic © se as unidades realmente contém o contedido bisico essencial em re- lagdo as condigdes de aprendizagem dos alunos e a exigéncia de con- solidagao da matéria assimilada; 3 se 0 tempo provével de desenvolvimento de cada unidade € realista em relago a0 que dissemos no item anterior; 5 se os tépicos de cada unidade realmente possibilitam 0 entendimento da idéia central contida nessa unidade; 1 se 0s t6picos de cada unidade podem ser transformados em tarefas de estudo para os alunos ¢ em objetivos de conhecimentos e habilidades. 234 Resumindo: 0 conteddo (ou programa) da disciplina é selecionado e organizado em unidades didéticas, estas subdivididas em t6picos. A prin- cipal virtude de uma unidade didética é que os seus t6picos no so sim- plesmente itens de subdivisdo do assunto, mas contetidos problematizados em fungio dos objetivos e do desenvolvimento metodolégico, Quanto mais cuidadosamente for formulado 0 conjunto de uaidades, mais facilmente o professor poderd extrair delas os objetivos especificos, ‘05 métodos e procedimentos de ensino. A respeito da selegaio ¢ dos critérios de seleco de contetidos, consultar © capitulo 5. Os objetivos especificos Ao escrever a justificativa da disciplina, professor tragou a orientagio geral do seu plano explicitando a importancia e o seu papel no conjunto do plano da escola, o que espera que os alunos assimilem apés 0 estudo da disciplina e as formas para atingir esse propésito. Agora, partindo dos contetidos, fixard os objetivos especificos, ou seja, os resultados a obter do processo do transmissdo-assimilagdo ativa de conhecimentos, conceitos, habilidades, Uma vez redigidos, os objetivos especificos vio direcionar o trabalho docente tendo em vista promover a aprendizagem dos alunos. Passam, in- clusive, a ter forga para a alteragio dos conteddos e métodos. Na redacio, 9 professor transformard tépicos das unidades numa proposico (afirmagao) que expresse 0 resultado esperado e que deve ser atingido por todos os alunos ao término daquela unidade didatica, Os resultados sto conhecimentos (conceitos, fatos, prinefpios, teorias, interpretagées, idéias organizadas etc.) habilidades (0 que deve aprender para desenvolver suas capacidades intelectuais: organizar seu estudo ativo ¢ independente; aplicar formulas em exercicios; observar, coletar e organizar informagGes sobre determinado assunto; raciocinar com dados da realidade; formular hipéteses; usar materiais e instrumentos dirigidos pela aprendiza- ‘gem da matéria, como dicionérios, mapas, réguas etc.) Na redagio dos objetivos especfficos, o professor pode indicar também as atitudes e convicedes em relagao & matéria, ao estudo, ao relacionamento humano, & realidade social (atitude cientifica, consciéneia critica, respon- sabilidade, solidariedade etc.). Embora dificilmente possam ser transfor- mados em proposigdes expressando resultados, esses itens fazem parte dos objetivos e tarefas docentes. 235 Formular objetivos é uma tarefa que consiste, basicamente, em des- crever 0s conhecimentos a serem assimilados, as’ habilidades, hat atitudes a serem desenvolvidos, ao término do estudo de certos contetidos de ensino. Objetivos refletem, pois, a estrutura do contetido da matéria. Devem ser redigidos com clareza, expressando 0 que o aluno deve aprender. Devem ser realistas, isto ¢, expressar recultados de aprendizagem realmente possiveis de serem alcangados no tempo que se dispée e nas condigdes em que se realiza 0 ensino, Evidentemente, sua formulagdo e seu contetido devem corresponder & capacidade de assimilagao dos alunos, conforme a sua idade e nivel de desenvolvimento mental. Estas orientagdes sio im- ortantes de serem levadas em conta, pois o que importa é menos a redagZ0 formal e muito mais a sua utilidade para motivar e encaminhar a atividade dos alunos. ‘Vejamos alguns exemplos de redagiio de objetivo: 2 No contetido sobre relayaiv entre os seres vivos e o ambiente: — Observar e identificar, numa certa érea da escola ou préxima dela, tipos de seres vivos conforme diferentes habitats em que sio en- contrados: no solo, no ar, em troncos podres, debaixo de pedras € outros. — Apés diferenciar os elementos que compdem o ambiente de uma determinada regio, explicar os seus diversos efeitos sobre os seres vivos. — Dar exemplos da influéncia do ambiente sobre os seres vivos e a imterferéncia do homem sobre o ambiente. & No contetido sobre unidades de medida: — Relacionar unidades de medida (comprimento, massa, volume, tempo, valor) aos tipos de objetos medidos. — Saber aplicar adequadamente essas medidas em vérias situagdes sociais reais (uso do metro, do quilo, da dizia etc.) 3 No contetido sobre concordincia verbal: — Relacionar corretamente sujeito, verbo e complementos, sa- bendo fazer uso da norma pritica de concuidincia verbal, em que 0 verbo deve concordar com o sujeito em nimero ¢ pessoa. © No contetido sobre multiplicagio: — Resolver problemas de multiplicagao de um ntimero com trés al- garismos por outro com dois algarismos. 236 0 Em contetidos de Estudos Sociais: — Explicar por que os servigos de atendimento as necessidades da populacdo (satide, educagao, transportes etc.) sfio direitos do ci dadio ¢ obrigagio dos érgios pablicos. — Apés 0 estudo sobre atividades econdmicas bisicas, os alunos deverio explicar a interdependéncia entre agricultura, industria e comércio, dando varios exemplos. — Ajudar o aluno na compreensdo das mudangas que 0 tempo provoca has pessoas, comparando a seqUéncia de fatos da sua prOpria ex- periéncia de vida (linha do tempo) com a de amigos de idades diferentes, com a da vida da professora, dos pais etc. Nestes exemplos, pode-se verificar que os objetivos se referem a operagdes mentais simples (definir, listar, identificar, reconhecer, usar, aplicar, reproduzir) ¢ operaydes inis complexas (comparar, relacionar, analisar, justificar, diferenciar etc.). Embora a preocupacio do professor deva ser a de formular um objetivo com suficiente clareza para ser com- Preensivel a ele préprio e pelos alunos, sem necessidade de prender-se a sua “forma” de redagio, hé alguns verbos que o ajudam a explicitar com mais preciso 0 que ele espera da atividade de estudo dos alunos. Por exemplo: apontar (num gréfico, num mapa), localizar, desenhar, no- mear, destacar, distinguir, demonstrar, classificar, utilizar, organizar, lis- tar, mencionar, formular etc. Cabe uma observagio sobre 0s chamados objetivos formativos, que so 03 referentes a atitudes, conviccdes, valores, Hé expectativas do professor de que os alunos vaio formando tragos de personalidade e de cardter, que tenham uma postura diante da vida, que formem atitudes positivas em relagio ao estudo etc. Tais expectativas podem ser trans- formadas em objetivos, mas o professor deve ter em mente que eles nao se alcangam de imediato ¢ sua comprovagio nao pode ser constatada objetivamente. Sao projegdes futuras de objetivos cuja consecugio se vai dando ao longo do processo, inclusive com a cooperacio de todos os demais professores, Desenvolvimento metodolégico O desenvolvimento metodolégico é © componente do plano de ensino que dard vida aos objetivos e contetidos. Indica o que o professor e os alunos fare no desenrolar de uma aula ou conjunto de aulas. 237 Devemos lembrar que no processo de ensino hé duas facetas indisso- cidveis: a assimilagao de novos conhecimentos e 0 desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos, a segunda realizando-se no transcurso da primeira, sob a diregao do professor. A forca motriz.do processo de ensino & a contradigao entre as exigéncins de assimilago do saber sistematizado e as condigées internas de atividade mental e prética dos alunos (manifestadas nos seus conhecimentos j4 dis- poniveis, nas suas experiéncias de vida e no seu desenvolvimento intelec~ tual). Os objetivos e contetidos organizados pelo professor devem contribuir para o desenvolvimento intelectual dos alunos por meio de tarefas que suscitem sua atividade mental e pritica. Nao é suficiente, pois, “passar” a matéria; € preciso que a matéria se converta em problemas e indagacoes Para os alunos. A funco deste componente do plano de ensino, o de- senvolvimento metodolégico, é articular objetivos e contetidos com mé- todos e procedimentos de ensino que provoquem a atividade mental ¢ pritica dos alunos (resolugio de situagdes-problemas, trabalhos de ela- boragdo mental, discussdes, resolugio de exercicios, aplicagdo de co- nhecimentos ¢ habilidades em situagdes distintas das trabalhadas em classe etc.). O desenvolvimento metodol6gico de objetivos e contetidos estabelece 4 linha que deve ser seguida no ensino (atividade do professor) e na assi- milagdo (atividade do aluno) da matéria de ensino. Ao preencher este item do plano de ensino, o professor estar respondendo as seguintes questdes: que atividades os alunos deverao desenvolver para assimilar este assunto da matéria, tendo em vista os objetivos? Que atividades o professor deve desenvolver de forma a ditigir sistematicamente as atividades dos alunos adequadas A matéria e aos objetivos? A primeira tarefa é verificar os objetivos e a matéria a ser ensinada, ois eles determinario os métodos e procedimentos, bem como os recursos de ensino a langar mio. Em seguida devem ser especificadas as ages docentes e discentes (do professor e do aluno) correspondentes a cada passo da seqiléncia de desenvolvimento de uma aula ou conjunto de aulas. Conforme estudamos no capitulo 9, a aula pode ter a seguinte sequén- cia: introdugio, desenvolvimento e aplicagio. Introdugéo e preparagdo do contetido Sio atividades que visam a reagdo favordvel dos alunos ao contetido. Pode-se fazer uma apresentac3o global do tema, a fim de aproxim4-lo do 238 interesse dos alunos. Os alunos devem estar informados dos objetivos, for mas de trabalho, durago, material de estudo que serd utilizado, quand. sero dados exercicios de avaliacdo etc. As atividades desta fase poden ser: conversagio dirigida sobre; perguntas sobre; observago de; demons trago do tema através de ilustragdes Gornais, objetoe, cartazes, revistas grafico), leitura individual de um texto. A escolha de métodos e procedi mentos depende do conhecimento da matéria, da criatividade do professor € de cada situagdo conereta. Desenvolvimento ou estudo do contetido E a fase da assimilagdo e sistematizacao do objeto de estudo, visando © maximo de compreensio e elaboragio interna por parte do aluno. As atividades podem ser: exposi¢ao oral pelo professor, conve-sacio, trabalho independente dos alunos, estudo dirigido, exerefcios de compreensio de texto, trabalho em grupos, exereicios de solugo de problemas. Convém que em qualquer atividade escolhida esteja presente a idéia dominante (a pergunta central) da unidade. Ao elaborar este item do plano nio basta o professor citar as atividades, mas mencionar © contetido das atividades. Exemplo: Resolver os seguintes exercicios, Estudo dirigido sobre, No estudo do meio observar os seguintes aspectos. Aplicagéo Ea fase de consolidagdo, que revisa cada t6pico da unidade remetendo & pergunta central. As atividades aqui tém o sentido de reforgo: exercicios de fixago, organizagdo de resumos, depoimentos orais, elaboragio de qua- dro-sintese da matétia, tarefas de aplicagao dos conhecimentos a situagdes novas, debates. O significado mais importante desta fase é a consolidac3o de conhecimentos ¢ habilidades para infcio de uma nova unidade didética. (© comtetido de uma unidade didatica ¢ seu desenvolvimento metodo- l6gico esto exemplificados no quadro seguinte. 239 CONTEUDO DESENVOLVIMENTO METODOLOGICO Unidade II—O que — Pedir aos alunos que citem nomes de plantas, so os scres vivos. _animais, objetivos. A professora iré anotando 0s nomes no quadro-negra, 1. Os seres vivosnas- Os alunos deverdo separar, dentre os elementos cem, crescem, se re- _citados, os que nascem, crescem, se reprodu- produzem e morrem, em morrem. A professora explicard o que s20 0s seres vivos. Os alunos devem repetir a definicao, dar novos exemplos. A professora dirigiré perguntas a di- versos alunos, individualmente. Construir, com os alunos, uma tabela de seres vvivos ¢ seres ndo-vivos assim: SERES VIVOS SERES NAO-VIVOS Animais | Plantas Cachorro | Bananeira | Pedra Gato | Arvore | Cademo Peixe | Legumes | Carteira Gatinha | Laranjeira | Sapato ete, Hortalicas | ete. ete. 2. Hi uma dependén- Reforco: recordar a definigfo, fazer uma sit cia entre os seres vi- ese do topico, dizer nomes de seres e pedir vos ¢ a alimentagdo. aos alunos para identificarem como vivos 3. Precisamos conser- Ndo-vivos. As criancas devem reproduzir a ta- var a flora ca fauna, bela no caderno. (Adaptado do Programa de 1° Grau — 2 série. Secretaria Municipal de Educagdo de Sao Paulo/Departamento de Planejamento e Orientagio, S20 Paulo, 1985.) 240 O plano de aula No capitulo 9 tratamos detalhadamente dos passos ou fases de desen- volvimento de uma aula ou conjunto de aulas. Vimos que a aula é a forma predominante de organizagio do processo de ensino. E na aula que orga- nizamos ou criamos as situagdes docentes, isto é, as condigdes e meios necessarios para que 0s alunos assimilem ativamente conhecimentos, ha- bilidades e desenvolvam suas capacidades cognoscitivas. Vimos, também, que uma das principais qualidades profissionais do professor é estabelecer uma ponte de ligagdo entre as tarefas cognitivas (objetivos ¢ contetidos) ¢ as capacidades dos alunos para enfrenté-las, de modo que os objetivos da ‘matéria sejam transformados em objetivos dos alunos. O plano de aula é um detalhamento do plano do ensino, As unidades © subunidades (‘6picos) que foram previstas em linhas gerais sio agora especificadas e sistematizadas para uma situagao didética real. A preparagio. de aulas é uma tarefa indispensavel e, assim como o plano de ensino, deve resultar num documento escrito que servirdi nllo $6 para orientar as agdes do professor como também para possibilitar constantes revisées e aprimo- ramentos de ano para ano. Em todas as profissdes o aprimoramento.pro- fissional depende da acumulagio de experiéncias conjugando a pritica e a reflexio criteriosa sobre ela, tendo em vista uma prética constantemente transformada para melhor. Na elaboragio de plano de aula, deve-se levar em consideragiio, em primeiro lugar, que a aula é um perfodo de tempo varidvel. Dificilments completamos numa s6 aula o desenvolvimento de uma unidade ou tépico de unidade, pois o processo de ensino e aprendizagem se compée de uma seqlléncia articulada de fases: preparaco e apresentagio de objetivos, con- tetidos ¢ tarefas; desenvolvimento da matéria nova; consolidagao (fixagao, exercicios, recapitulacao, sistematizacio); aplicagao; avaliagao. Isso signi- fica que devemos planejar no uma aula, mas um conjunto de aulas. Na preparagio de aulas, 0 professor deve reler os objetivos gerais da ‘matéria ¢ a sequléncia de contetidos do plano de ensino. Nao pode esquecer que cada tépico novo é uma continuidade do anterior; € necessério, assim, considerar © nivel de preparagio inicial dos alunos para a matéria nova. Deve, também, tomar 0 t6pico da unidade a ser desenvolvido ¢ des- dobré-lo numa seqtiéncia I6gica, na forma de conceitos, problemas, idéias. Trata-se de organizar um conjunto de nogdes bisicas em torno de uma idéia central, formando um todo significativo que possibilite ao aluno uma percepgio clara ¢ coordenada do assunto em questo. Ao mesmo tempo em que sio listadas as nogdes, conceitos, idéias e problemas, é feita a 241 previsio do tempo necessério. A previsio do tempo, nesta fase, ainda nio € definitiva, pois poderé ser alterada no momento de detalhar 6 desenvol- vimento metodolégico da aula, Em relagdo a cada t6pico, o professor redigiré um ou mais objetivos especificas, tendo em conta os resultados esperados da assisnilaglo de conhecimentos ¢ habilidades (fatos, conceitos, idéias, relages, métodos e técnicas de estudo, principios, atitudes etc.). Estabelecer os objetivos é uma tarefa tio importante que deles vao depender os métodos e procedimentos de transmissio ¢ assimilagio dos contetidos e as vérias formas de avaliagio (parciais ¢ finais). O desenvolvimento metodolégico ser desdobrado 10s seguintes itens, para cada assunto novo: preparagao ¢ introdugio do assunto; desenvolvi- mento ¢ estudo ativo do assunto; sistematizagio e aplicagio; tarefas de casa. Em cada um desses itens sto indicados 0s métodos, procedimentos € materiais didaticos, isto é, o que professor e alunos fardo para alcangar 08 objetivos. Para isso, deve-se consultar 0 capitulo 9. Em cada um dos itens mencionados, professor deve prever formas de verificagio do rendimento dos alunos. Precisa lembrar que a avaliagio é feita no inicio (0 que o aluno sabe antes do desenvolvimento de matéria nova), durante ¢ no final de uma unidade didética. A avaliagio deve con- jugar variadas formas de verificagio, podendo ser informal, para fins de Giagnéstico © acompanhamento do progresso dos alunos, e formal, para fins de atribuigdo de notas ou conceitos. Para isso, consultar 0 capitulo 8, Os miwinentos didaticos do desenvolvimento metodolégico nfo sio ri gidos. Cada momento terd duragdo de tempo de acordo com o contetido, com 0 nfvel de assimilagao dos alunos. As vezes ocupar-se-4 mais tempo com a exposigio oral da matéria, em outras, com 0 estudo da mat Outras vezes, ainda, tempo maior pode ser dedicado a exereicios de fixagao ¢ consolidagao. Por exemplo, pode acontecer que os alunos dominem per- feitamente 0s conhecimentos e habilidades necessérios para enfrentar a ‘matéria nova; nesse caso, a preparagio e introdugo do tema pode ser mais breve. Entretanto, se os alunos no dispdem de pré-requisitos bem conso- lidados, a decistio do professor deve ser outra, gastando-se mais tempo para garantir uma base inicial de preparo através de recapitulaco, pré-teste de sondagem, exercicios, No desenvolvimento metodolégico pode-se destacar aulas com fina- lidades espectficas: aula de exposi¢ao oral da matéria (com os devidos Cuidados que jé assinalamos no capitulo 7), aula de discussio ou de trabalho em grupo, aula de estudo dirigido individual, aula de demonstragio pritica 242 ou estudo do meio, aula de exercicios, aula de recapitulagio, aula de ve- rificagao para avaliagio, O professor consciencioso deverd fazer uma avaliagio da prépria aula. Sabemos que 0 éxito dos alunos nao depende unicamente do professor ¢ de seu méiodo de trabalho, pois a situagdo docente envolve muitos fatores de natureza social, psicolégica, 0 clima geral da dinamica da escola etc. Entretanto, 0 trabalho docente tem um peso significativo ao proporcionar condigdes efetivas para 0 éxito escolar dos alunos. Ao fazer a avaliagao das aulas, convém ainda levantar quest6es como estas: Os objetivos ¢ con- tetidos foram adequados a turma? O tempo de duragio da aula foi adequado? Os métodos ¢ técnicas de ensino foram variados e oportunos para suscitar a atividade mental e prética dos alunos? Foram feitas verificacdes de apren- dizagem no decorrer das aulas (informais ¢ formais)? O relacionamento professor-aluno foi satisfat6rio? Houve uma organizagao segura das ativi- dades, de modo a ter garantido um clima de trabalho favoravel? Os alunos realmente consolidaram a aprendizagem da matéria, num grau suficiente para introduzir matéria nova? Foram propiciadas tarefas de estudo ativo e independente dos alunos? 243 Exemplo de um plano de aula: Escola: Sériex_2.* UNIDADE DIDATICA: Expressio oral, leitura e escrita (Text Disciplina:_Portugués _ Data:___ PROFESSOR(A): "0 Domador de Monstros” — Ana Maria Machado) osuenvos | coxteunos |x: | pesenvouviMENTo METODOLOGICO EsPEcirICos AuLas| 1. Expressiio de |. Expressiiol 120 |+ Conversar com as eriangas sobre opinides ¢ senti-| verbalenio-| min, | estérias e figuras de monstros que ‘mentos por meio | verbal. conhecem (TV, revistas,figurinhas da fala, gestos, 2. Compreensio do texto escrito. 3. Expressio ver- bal de experién- tc). Pedir que expressem com estos como imaginam monstros. + Pedir que contem slguma estéria de monstros. + Indagar 0 que acham dos monstros, {assustam? dio medo? dao vontade de rir? serd que existem mesmo? ete.) + Conversar sobre 0 titulo do texto, “O Domador de Monstros”. Como serd a est6ria? Quem ser o doma- dor? Como sera esse monstro? O domador conseguiré domar 0 ‘monstro? Ete. 2. Leitura si- + Pedirleiturasilenciosa do texto. (A. Tenciosa e professora esclarecerd dlvidas so- coments. bre 0 vocabuléio se solicitada pe- Ios alunos.) 3. Expresso + Apés a leitura silenciosa, indagar ‘verbal. as eriangas: quem € 0 domador de monstros? O que 0 domador sen- tiu? O que acham do modo como Sérgio enfrentrou o monstro? Por ‘que 0 monstro da parede se assus- tou € foi embora? Como imaginam ‘© monstro (representar com gestos © sons)? J4 aconteceu isso com al- guém? 244 onsertvos | coxtetpos | x | DEsENVoLVIMENTO MeToDOL6cICO EsPaciRicos AuLas + Ampliar a conversagio: quando formam sombras? Por que apare cem? Jé utilizaram 0 corpo ou ob Jetos para projetar sombras? Que fi ‘guras foram formadas? Jé tiveram| medo como Sérgio? Como foi? 4. Leitura em voz| 4, Leitura| + Pedir leitura oral: alta com expres-| oral. — do trecho que acharam mais in sividade, teressante; = do didlogo de Sérgio com 4 ‘monstro; — do final da estéria, (Se necessétio, a professora pod ler uma vez, antes de os alunos le rem.) 5. Compreensio | 5. Expressao} + Pedir aos alunos que escrevam ou: do texto escrito e| escrita, two final para a est6ria, outra forms] dar asas & de enfrentar 0 monstro, Poderao in- imaginacao. twoduzir outro personagem, se qui- serem. + Pedir que fagam desenhos de mons. tros. + Reproduzir o texto em quadrinhe (@est6ria do texto ov a estéria cor outro final). (Obs.: As tés dltimas tarefas po] dem ser feitas em casa ou em outra aula.) (© DOMADOR DE MONSTROS ‘Ana Mara Mactado va wan stm meninoctamaco Sep. Uma bot, antes de domi ele ficou clhaad as manchas ue 2 sombras das vores lt de fra tam formando ou prde J qt Sergio flcow com medo. Para espantar 0 medo, ojo ea Conver com © monsto: be far me othando assim, euch um mou fas fio und prs We ss ‘Mas omonsto da pared nem gow Eno Serpo sion — Al sem um monsto de um oto 5, dss boess, ts cies, quatro tombs, cinco umbigas, 225 agus, see rabos, oto corcovas, nove pers, der cots, oe cae dove sos ers Fsndeas, ore gugalads,qunze cama SIE Step ia tino uc sem cosa ar iio, Af © monswo pred asso com West a puhagads ft embor. 245 Sugestées para tarefas de estudo Perguntas para o trabalho independente dos alunos Qual a importancia politica e pedagégica do planejamento de ensino? Explicar cada uma das caracteristicas do planejamento. Quais as fungdes do planejamento escolar? Como os objetivos e tarefas da escola democritica devem refletir-se no planejamento? ooao 0 Como devemos articular os planos ¢ programas oficiais no plano de ensino? 2 De que forma o plano de ensino ¢ o plano de aula se conjugam com as condigées sécio-culturais ¢ individuais dos alunos? 3 Por que € importante o plano da escola? 2 Descrever os elementos que compdem 0 plano de ensino ¢ 0 plano de aula. Temas para aprofundamento de estudos 0 Dividir 0s alunos em pequenos grupos, conforme as disciplinas do ensino de 1° grau (Portugués, Matematica, Hist6ria etc.) para a ela- boragio da justificativa da disciplina. © Verificar em escolas da cidade como é feito o planejamento de ensino, se hd plano da escola, planos de ensino, se os professores recorrem a0 plano de ensino ou nao. co Coletar exemplares de planos de ensino para estudo e andlise. Temas para redagaéo A pratica do planejamento escolar e a realidade social. Planejamento escolar e a ago pedagégica critica e transformadora. Planejamento de ensino entre a escola € 0 contexto social. Planejamento ¢ ago integrada do corpo docente. ogaaa Exercicios de aplicagdo o Elaboragdo de planos de ensino e planos de aulas. Conetrusio de programas por séries. a Tomar capitulos (unidades) de livros didéticos ¢ preparar o seu de- senvolvimento metodolégico para um conjunto de aulas. o Bibliografia complementar BALZAN, Newton C. “Supervisto e Didstica”. In: ALVES, Nilda (org. et alii Wduenqdo ¢ Supenisio — O Trabalho Coletivo na Escola. Sto Paulo, Cor- tez/Autores Asociados, 1984. ENRICONE, Délea etait. Ensino — Revisdo critica, Porto Alegre, Sagra, 1988, FUSARI, José C. “O Planejamento Educacional ¢ a Prética dos Educadores” Revista da Ande, (8): 33-35, Sa0 Paulo, 1984. LIBANEO, José C. A Democratizagdo da Escola Piblica. Sto Paulo, Loyola, 1987, LUCKEST, Cipriano C. “Elementos para uma Didstica no Contexto de uma Pe- ‘dagopia parn a Transformaglo”, Anais da IIT CBE. Sto Paulo, Loyola, 1984 PIMENTA, Selma G. “A Organizagio do Trabalho na Escola”. Revista da Ande, (11): 29-36, Sdo Paulo, 1986. RAYS, Osvaldo A. “Planejamento de ensino: um ato politico-pedagdgico”. TV ‘Bneontro Nacional de Didstica e Pritica de Ensino, Recife, 1986 (mimeo. SKO PAULO — Secretaria de Educagéo Municipal — Departamento de Plane- jamento e Orientagdo. Programa do 1? Grau, 1985. VEIGA, lima P.A. (org). Repensando a Didética. Sao Paulo, Papirus, 1988. VIANNA, Tica O. de A. Planejamento Participative na Escola: Um Desafio ao Educador. Sio Paulo, EPU, 1986. AT

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