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srinsi2024, 18.02 Logica informal 191DE MAR Logica informal DE 2002 LOGICA Aires Almeida Os filésofos procuram resolver problemas. E por isso que apresentam teorias, ideias ou teses. Estas trés coisas no so exactamente © mesmo, mas para simplificar iremos falar apenas de teorias. A diferenga & a seguinte: ao passo que uma teoria é uma forma completamente articulada de resolver um problema, uma ideia ou uma tese é algo mais vago. Mas o que hi de comum entre as ideias, as teorias ¢ as teses & que todas elas procuram resolver problemas. Ora, sempre houve boas e mds teotias, seja qual for o problema que procuram resolver. As teorias dos filésofos nao podem constituir excepgio. Assim, também hd boas més teorias filoséficas. Mas, como é ébvio, apenas estamos interessados nas boas teorias filos6ficas. Por isso se torna crucial saber distinguir as boas das mas teorias. Hé duas maneiras de avaliarmos teorias, para procurarmos saber se so boas ou mis: 1) podemos procurar saber se a teoria resolve 0 problema que pretendia resolver, ¢ se essa solugdo ¢ accitavel; 2) podemos procurar saber quais so os argumentos em que essas teorias se apoiam e verificar se tais argumentos constituem boas razdes a favor daquilo que nelas se defende. Assim, 2 obriga-nos a pensar deste modo: “Que razSes me dé o autor para aceitar a teoria dele?”. E 1 obriga-nos a pensar assim: “Se eu aceitar a teoria dele, consigo explicar melhor o que a teoria procurava explicar, ou consigo resolver o problema que a teoria queria resolver? Serd que ha alternativas melhores a esta teoria?”. Ora, tanto no primeiro como no segundo caso, temos de saber avaliar argumentos, Temos de saber se os argumentos que apoiam a teoria so bons ou nao, ¢ temos de saber se so bons ow nao os argumentos que mostram que a teoria explica o que queria explicar e resolve o problema que queria resolver. No caso dos filésofos, conhecer os argumentos que sustentam as suas teorias é ainda mais importante do que noutros casos. Isso é assim porque os problemas da filosofia so problemas de earicter conceptual e nao empitico. Dificilmente acontece, com base em factos empiricos, mostrar que uma teoria filoséfica é verdadeira ou falsa, a0 contririo do que s verifica com muitas teorias cientificas. Nao hé factos empiricos que mostrem que Deus existe ou no existe; mas a teoria segundo a qual existe vida em Marte pode ser refutada ou confirmada pelos factos. Dai que o valor de uma teoria filos6tfica, mais do que qualquer outro tipo de teoria, dependa essencialmente dos argumentos que a sustentam. Nao podemos, pois, saber se uma teoria ¢ boa se ndo soubermos avaliar a qualidade dos seus argumentos. Esse €, precisamente, o nosso objective ao estudar légica, Eis, entdo, a nossa primeira pergunta: O que ¢ um argumento? Podemos comegar por dizer que um argumento & um conjunto de frases. S6 que ndo se trata de um qualquer conjunto de frases. © seguinte conjunto de frases, por exemplo, nao é um argumento: nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! ans srinsi2024, 18.02 Logica informal Para que um conjunto de frases constitua um argumento tem de haver entre elas uma certa relagZo, de tal modo que uma, e s6 uma, se apresente como conclusdo e que todas as outras sirvam como razées para obter essa conclusao. As frases, ou afirmagées, que oferecemos como razSes chamamos premissas, podendo haver uma ou mais premissas num argumento; 4 afirmacdo que dai obtemos, fazendo apelo as premissas, chamamos, como se viu, conclusio. Fis um exemplo de um conjunto de frases que é um argumento: 1 0s filésofos tém sempre razo, entdo no vale a pena discutir o que dizem, porque se ‘tém sempre razio ndo temos nada para criticar e se nfo temos nada para criticar no vale a pena discutir 0 que dizem. Neste conjunto de frases hd uma delas que é a conclusdo e duas outras que so premissas. Perante um argumento, a primeira coisa a fazer é um trabalho de interpretagao, identificando a conclusio ¢ as premissas (ou premissa, caso haja apenas uma). © que quero defender com o argumento anterior? Ef claro que estou a defender que “se os filésofos tém sempre razdo, entio nao vale a pena discutir o que dizem”, Esta frase, por sinal a primeira, ¢ a conclusdo. E que razées adianto para isso? Duas: “se tém sempre razo no temos nada para criticar” e “se ndo temos nada para critiear ndo vale a pena discutir 0 que dizem”, Se quisermos, podemos reformular o argumento de modo a tomar as suas premissas € conclusio ainda mais claras, Podemos, por exemplo, destacar em primeiro lugar as suas premissas e depois a conclusio, de modo a exibir claramente cada uma delas: Se os filésofos t8m sempre razao, no temos nada para crticar. Se nao temos nada para criticar, nfo vale a pena discutir o que dizem, Logo, se tém sempre raziio, nfo vale a pena discutir 0 que dizem. Toma-se, deste modo, mais fécil ndo apenas identificar premissas e conclusdo como também verificar se a conclusio se segue das premissas, isto é, se as premissas apoiam a conclusio. Nao podemos, contudo, esperar que os argumentos sejam apresentados sempre de modo a tomar completamente claras as suas premissas e conclusdes. Na linguagem comum, ¢ nos textos filos6ficos, as premissas e conclusdes dos argumentos so frequentemente dificeis de detectar, pois nem sempre se dispdem segundo uma ordem fixa. Por vezes surgem até interealadas com outras frases que nem sequer fazem parte do argumento. Veja-se 0 seguinte exemplo: Para qué discutir 0 que os filésofos dizem? Nao vale a pena discutir 0 que dizem se no temos nada para criticar e nio temos nada para criticar se tém sempre razo, Nao me interessa perder tempo assim! Nao vale a pena discutir o que dizem se tém sempre razio. Como se vé, este ainda o mesmo argumento, s6 que apresentado de maneira menos ivel. Convém, neste momento, dizer que hé, mesmo assim, palavras ou expressdes que costumam acompanhar quer as premissas, quer a conclusio ¢ que facilitam a sua idemtificagdo. Trata-se de termos ¢ de expresses que muitas vezes anunciam ou introduzem as premissas ¢ a conclusdo de um argumento. Termos e expressdes como “logo”, “dai que”, “assim”, “portanto” e “por isso” costumam servir para anunciar a conclusio inferida; termos € expresses como “porque”, “pois”, “uma vez que”, “posto que”, “tendo em conta que”, “em virtude de”, “devido a” e “dado que” indicam que se irdo oferecer razSes (premissas) para concluir algo. Frequentemente as premissas aparecem ligadas entre si por termos como ”, “ora” ¢ “mas”, ou por uma virgula (uma pausa breve, no discurso oral) ¢ também por um aces: nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! ans srinsi2024, 18.02 Logica informal 8 Tenho estudado logica, uma vez. que se nao tivesse estudado légica nao seria bem- sucedido em filosofia, Mas eu tenho sido bem-sucedido em filosofia, As premissas sdo (i) “se ndo tivesse estudado logica ndo seria bem-sucedido em filosofia” & (Gi) “eu tenho sido bem-sucedido em filosofia”. A conclusio aparece logo no inicio e é “tenho estudado légica”. Qualquer pessoa, ainda que nao tenha estudado légica, consegue ver que se ‘trata de um argumento vilido, na medida em que intuitivamente se dé conta que aquelas premissas conduzem aquela conclusdo. Mas repare-se agora no seguinte argumento: O Luis Figo jé comeu bacalhau porque todos os portugueses jé comeram bacalhau. Temos apenas uma premissa, que é “todos os portugueses j4 comeram bacalhau”, sendo a conelusao “o Luis Figo jé comeu bacalhau”. Mas sera que esta concluso se segue daquela premissa? Muitos serdo os que imediatamente respondem que sim. Outros dirdo que ndo; que aquela premissa, por si s6, nfo constitui uma boa razio para coneluir que o Luis Figo ja comeu bacalhau. Perguntariam estes: ¢ se o Luis Figo for brasileiro? E preciso que se diga que o Luis Figo é portugués para, entdo sim, se poder concluir que ele ja comeu bacalhau. Se nao acrescentarmos a premissa “o Luis Figo é portugués”, também nao poderemos inferir que o Luis Figo ja comeu bacalhau. Ao que possivelmente responderiam os primeiros: nem lo, todos sabemos que 0 Luis Figo é portugues. A verdade é que, sem essa segunda premissa, 0 argumento nao é valido. Assim, a tinica maneira de reparar 0 argumento, de forma a tomé-lo vilido, é introduzir tal premissa. O tinico cuidado que devemos ter é o de verificar que a premissa nao esta ld apenas porque quem apresentou 0 argumento achou desnecessario referir aquilo que the parecia ser Sbvio para toda a gente. A ‘uma premissa destas chama-se premissa suprimida e a um argumento que tem premissas suprimidas chama-se entimema, Saber isto é importante porque muitas vezes nos deparamos com argumentos com premissas suprimidas ¢ nem todos eles so casos ficeis de identificar. Disso pode depender a nossa decisdo de aceitar um argumento como vilido ou de o rejeitar como invilido sequer é preciso dizé-1 Voltando ao inicio, afirmei que um argumento é um conjunto de frases; mas procurei também mostrar que nem todo 0 conjunto de frases é um argumento. Devo agora acrescentar que um argumento no é constitufdo por qualquer tipo de frases. $6 as frases que exprimem proposigdes podem fazem parte dos argumentos. O que ¢ uma proposi¢ao? Acabei de dizer que sé um certo tipo de frases exprime proposigdes. Embora talvez todas as proposigdes se possam exprimir por meio de frases, hd frases que nao exprimem proposigées. As frases seguintes ndo exprimem proposigées: + Que horas sio? ira os pés da mesal + Ser sempre corajoso + Quem me dera saber logica, + Prometo que amanha vou a praia contigo. Estas frases ndo exprimem proposigdes porque ndo sio frases declarativas. Ou seja, nada afirmam; exprimem apenas promessas, desejos, ordens e perguntas. Por isso ndo estamos em nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! ans ‘srinsrene4, 18.02 Léaiea informal Donde se excluem todas as frases que, como acontece nos exemplos anteriores, exprimem promessas, desejos, ordens e perguntas. As seguintes frases podem ser verdadeiras ou falsas, € portanto tém condi s de verdade: + Alguém disse ao Paulo para tirar os pés da mesa. + Nés somos sempre corajosos. + Gosto de aprender ligica. + Prometi a Carla que amanha vou a praia com ela. horas da tarde, Saber se uma frase é declarativa ou nao toma-se facil, embora haja frases muito semelhantes em que uma é declarativa e outra nao, Eis um exemplo, em que a primeira é uma frase declarativa e a segunda nao é: + Rui esté na sala, + O Rui esti na sala? F claro que podemos ter dividas ou nem sequer saber se algumas daquelas frases so verdadeitas ou falsas. Mas, apesar das nossas diividas, quer saibamos ou nao, elas hdo-de ser verdadeiras ou falsas. Quer dizer, tém um valor de verdade. A frase “sto tarde” proferida as nove da manha é falsa e proferida as deixa, contudo, de ter um valor de verdade. Assim como a frase “gosto de aprender ligica”, proferida por umas pessoas pode ser verdadeira e por outras falsa. Mas tem de ser verdadeira ou falsa, Eis alguns exemplos de frases declarativas claramente verdadeiras: ‘is horas da is da tarde é verdadeira. Nao + A Lua ndo é feita de queijo. vezes nove é igual a vinte + Portugal é um pais europeu, + Nenhuma galinha fala portugués. cle, Eis agora algumas frases declarativas claramente falsas: + As bananas tém carogo. + Faro ndo fica no Algarve. + Portugal & o pats mais poderoso da Europa + Nenhum italiano fala portugues. Sabemos agora o que ¢ uma frase declarativa e que s6 as frases declarativas so proposicdes Mas, ainda assim, hé diferencas entre frases declarativas e proposigdes. Tanto que 0 niimero de frases declarativas é superior ao numero de proposigées. O que acontece porque ha diferentes frases declarativas que, apesar disso, exprimem a mesma proposig&o. As frases so entidades linguisticas e as proposigdes so aquilo que tais frases exprimem, isto & 0 seu conteiido, As seguintes frases declarativas exprimem todas a mesma proposi¢Zo: + A.Lua inspira os poetas, + Os poetas sto inspirados pelo satélite natural da Terra ‘+ Os poetas deixam-se inspirar pela Lua. + Poets are inspired by the moon. + La luna inspira los po Mas por que precisamos nds de saber o que so proposigdes? Porque, recordando 0 que disse acima, as frases que constituem os argumentos tém de exprimir proposigdes. Assim, todas as nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! ans srinsi2024, 18.02 Logica informal argumentos nunca so verdadeiros ou falsos. Verdade e falsidade so propriedades das proposigdes e no dos argumentos. Dos argumentos diz-se que so validos ou invilidos. O que é a validade? Dizemos frequentemente que uma ideia, uma pessoa ou uma iniciativa so validas. Com isso queremos dizer que tal pessoa, tal ideia ou tal iniciativa sdo boas ou ‘iteis, ou que tém um, certo valor. Isso é 0 que acontece na linguagem comum. Em légica ¢ filosofia, porém, 0 termo “validade” tem um significado diferente ¢ muito preciso, que jé veremos qual é. Antes disso, hd uma ideia que tem de ficar bem clara, Essa ideia é a da distingdo entre verdade e validade; distingao fundamental em légica ¢ filosofia. De uma proposigo dizemos que é verdadeira ou falsa, Mas de um argumento, que ¢ formado por varias proposigdes, ja ndio podemos dizer que é verdadeiro ou falso. Isso seria um erro enorme. Algumas pessoas pensam que se um argumento é um conjunto de proposigdes ¢ ‘como as proposigées so verdadciras ou falsas, assim também os argumentos podem ser verdadeiros ou falsos. Isso seria o mesmo que dizer que um conjunto de pessoas é alto porque é formado por pessoas altas. As pessoas podem ser altas ou baixas, mas os conjuntos (sejam eles de pessoas ou de outra coisa qualquer) no sio altos nem baixos. Se, como se ver, o mesmo argumento pode conter proposigSes verdadeiras e falsas, por que razio afirmariamos que esse argumento é verdadeiro em vez de falso, ou vice-versa? Aquilo que, primeiramente, nos interessa num argumento é saber se a conclusio se segue das premis ‘No caso de isso acontecer estamos perante um argumento valido. Caso contririo, estamos perante um argumento invdlido, O seguinte argumento é claramente vilido: as. ‘Todos os espanhéis so toureiros, Bill Clinton é espanhol, Logo, Bill Clinton é toureiro, Ao analisar este argumento, a diferenga entre verdade e validade toma-se clara. E facil verificar que tanto as premissas como a conclusio sao falsas. Contudo, a conclusdo segue-se das premissas. Por isso 0 argumento é vilido. Falamos de verdade e falsidade quando referimos as premissas ¢ a conclusio ¢ falamos de validade ou invalidade quando referimos préprio argumento, Veja-se agora o seguinte argumento claramente invalido: Todos os portugueses so europeus. Luis Figo é europeu. Logo, Luis Figo & portugués, E muito facil verificar que se trata de um argument invalido, bastando substituir o nome de Luis Figo por outro nome como, digamos, Tony Blair, mas mantendo tudo o resto. E, apesar de ser um argumento invalido, todas as proposigdes que o constituem sio verdadeiras. S6 que a conclusio nao ¢ sustentada pelas premissas. Mais uma vez se diz que um argumento é vélido ou invalido consoante a sua conclusdo se segue ou no das premissas, sejam elas verdadeiras ou falsas. Mas esta é ainda uma forma imprecisa de dizer o que é a validade. Existe, contudo, uma definigo explicita de “argumento vilido”. Assim, diz-se que um argumento é valido se, e sé se, & logicamente impossivel ter premissas verdadeiras ¢ conclusio falsa. Sabemos agora exactamente 0 que nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! 5s srinsi2024, 18.02 Logica informal no significa que 0 argumento é valido desde que nfo tenha premissas verdadeiras ¢ conclusio falsa, Nao basta que nao tenha as premissas verdadeiras e a conclusdo falsa; & necessario que isso seja impossivel de acontecer. Repare-se no meu iiltimo exemplo: no acontece ele ter as premissas verdadeiras e a conclusio falsa, até porque premissas € conclusio sio todas verdadeiras. Mas se no mesmo argumento substituirmos, como atras sugeri, o nome de Luis Figo pelo de Tony Blair, o que acontece? Acontece que as premissas, continuam verdadeiras mas a conclusdo é falsa. E essa é a tinica coisa que nao pode acontecer num argumento valido. Portanto, é invalido. Para tomar mais clara a nogo de validade, podemos mesmo prescindir de qualquer nome, seja ele Luis Figo ou Tony Blair, ¢ construir um argumento com a seguinte forma: Todo o AEB. él. Logo, ¢ é B. Seja o que for que A, Be ¢ signifiquem, este argumento é claramente valido. Admitindo que as premissas so verdadeiras, a sua conclusio no pode ser falsa. Mas como sabemos que este argumento é valido se ndo sabemos ainda o que significam A, B ec? Sabemos isso porque a validade de um argumento nio depende daquilo que nele se afirma, isto é, do seu contetido, mas da sua forma légica. Para sabermos se um argumento é valido nada mais temos de fazer sendo atender a forma como esté estruturado. F por isso que um argumento pode ser valido mesmo que nele se afirmem as coisas mais inverosimeis do mundo, Um bom exemplo disso é 0 seguinte: Se as bananas tém asas, 0 ouro & um fruto seco. Acontece que as bananas tém asas, Logo, o ouro & um fruto seco. Também aqui a conclusao teré de ser verdadeira, caso as premissas o sejam. Contudo, dificilmente alguém estaria disposto a aceitar um argumento destes. © que acontece é que no é suficiente um argumento ser valido para termos de o aceitar, mostrando a todos os argumentos validos sao bons. Nao estamos interessados em aceitar a conclusio de um argumento vilido quando essa conclusio é inferida de falsidades. Queremos também que um argumento seja s6lido. Ou seja, que, além de ser valido, tenha premissas verdadeiras. Assim, se um argumento for vilido e tiver premissas verdadeiras, somos, racionalmente, obrigados a aceitar a sua conclusio, Se ndo quisermos aceitar a conclusio de um argumento valido, s6 nos resta, entdo, mostrar que alguma das premissas é falsa Pelo que disse até aqui, dir-se-ia que apenas existem argumentos vilidos e invdlidos. E que 0s invlidos, ao contrario dos validos, apresentam uma forma que nao permite preservar sempre na conclusio a verdade das premissas. Assim, a ldgica seria apenas o estudo da forma dos argumentos, ocupando-se exclusivamente dos argumentos validos. S6 que isso nao corresponde a verdade. Ha outros tipos de argumentos cuja aceitabilidade nao depende da forma que apresentam. Tais argumentos fazem, por isso, parte da chamada “logica informal”, Que tipos de argumentos ha? nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! ens ‘rose02, 18.02 Léaica inforal de argumentos cuja forma garante a verdade da conclusio, no caso de as premissas serem também verdadeiras. A sua forma légica 6, portanto, decisiva. O mesmo nao se pode dizer de outros tipos de argumentos, residindo ai a diferenga entre lgica formal e légica informal, Para além dos argumentos dedutivos temos entio os argumentos + Por analogia Indutivos (generalizagdes a partir de exemplos) + Sobre causas + De autoridade Juntamente com os argumentos dedutivos, os argumentos por analogia so os mais, utilizados pelos filésofos. Os argumentos por analogia costumam apresentar a seguinte forma: Os x tém as propriedades A, B, C, D. 0s y, tal como os x, tém as propriedades A, B, C, D. Os x tém ainda a propriedade E. Logo, os y tém também a propriedade E. Podemos resumir e dizer: Os x, como os y, tém as propriedades A, B, C, D. Os x tém ainda a propriedade E. Logo, os y tém a propriedade B. Resumindo ainda mais: Os x so E. Os y so como os x. Logo, 0s y sto E. Os argumentos por analogia partem da ideia de que se diferentes coisas so semelhantes em determinados aspectos, também o sero noutros. Veja-se o exemplo seguinte: 05 soldados de um batalhio tém de obedecer as decisdes de um comandante para atingir 08 seus objectives. Uma equipa de futebol & como um batall Logo, os jogadores de uma equipa de futebol tém de obedecer as decisdes de um comandante (treinador) para atingir os seus objectivos. termo “como” na segunda premissa esté destacado. Esse termo indica que estamos a estabelecer uma comparacao entre situagdes andlogas, caracteristica dos argumentos por analogia. Mas sera que apenas pela forma do argumento ficamos a saber se é aceitavel ou no? Para tornar clara a resposta a esta pergunta, compare-se o argumento anterior com o seguinte: (Os soldados de um batalhdo andam armados quando treinam, ‘Uma equipa de futebol é como um batalhao. Logo, os jogadores de futebol andam armados quando treinam, A primeira coisa que se torna evidente é que, ainda que o primeiro argumento possa ser aceitvel, este tltimo nio o & com toda a certeza. Acontece, porém, que ambos exibem exactamente a mesma forma. Concluimos, assim, que a mera inspee¢do da sua forma no nos nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! 78 srinsi2024, 18.02 Logica informal a © maus argumentos por analogia. Por isso é que tais argumentos no fazem parte da logica formal. Por isso também nao dizemos que um argumento por analogia é valido ou invalido, coisa que s6 se aplica aos argumentos dedutivos. Recordo a definigao de validade, segundo a qual é logicamente impossivel obter conclusdes falsas de premissas verdadeiras, o que acontece nos argumentos por analogia, Nos argumentos por analogia nunca podemos g: logicamente que de premissas verdadeiras se obtém sempre conclusdes verdadeiras. Isto 6, os argumentos por analogia ndo possuem a caracteristica de preservar logicamente a verdade. Assim, ndo temos outro remédio sendo olhar para aquilo que as premissas e a conclusio afirmam, de pouco servindo a anélise do seu aspecto formal. Repare-se no seguinte argumento: rantir Os bombeiros dividem-se em batalhdes, obedecem a uma hierarquia e tém um quartel, como os policias, 0s policias usam farda. Logo, os bombeiros usam farda. Vimos que um argumento por analogia ndo ¢ valido ou invélido, mas que nem todos os argumentos por analogia so maus, Costuma-se dizer que os argumentos por analogia sio fortes ou fracos. Como distinguimos uns dos outros? O argumento anterior é constituido por premissas e conclusio verdadeiras. Aparentemente & um argumento forte por analogia. Mas veja-se agora um outro argumento por analogia (com a mesma forma do anterior, claro) com premissas também verdadeiras, mas cuja conclusao é manifestamente falsa: Os bombeiros dividem-se em batalhdes, obedecem a uma hierarquia, tém um quartel e uusam farda, tal como os policias. Os policias usam arma, Logo, os bombeiros usam arma, Este argumento é, sem divida, fraco. Até porque a conclusio ¢ falsa. Ao avaliar um argumento por analogia no sentido de saber se & forte ou fraco, temos de estar atentos a trés ctitérios, os quais se manifestam nas seguintes perguntas: 1. As semelhangas apontadas nos casos que estdo a ser comparados so relevantes para a conelusdo que se quer inferir? 2. A comparagdio tem por base um mimero razoayel de semethangas? 3. Apesar das semelhangas apontadas, no haverd diferengas fundamentais entre os casos que esto a ser comparados? Aplicando os eritérios patentes nas perguntas anteriores, podemos verificar se uma analogia & forte ou fraca. No caso do argumento anterior, por exemplo, verificamos que falha os critérios 1e 3. As semelhangas entre os bombeiros ¢ os policias siio muitas, mas no s4o relevantes para a conclusdo que se quer tirar. Nenhuma delas esta sequer relacionada com 0 uso de arma, falhando assim o critério 1. Mas também falha o critério 3 porque existe uma diferenga fundamental entre os bombeiros ¢ os policias. Estes fazem parte de uma forga da ordem, necessitando por isso dos meios para a restabelecerem quando é perturbada; aqueles so membros de uma forga de paz, ndo necessitando de quaisquer meios de coacgao. A seguinte analogia também € claramente fraca: 0s franceses, como os ingleses, tém varios filésofos famosos, Os franceses estudam filosofia no ensino secundério, nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! ans srinsi2024, 18.02 Logica informal E discutivel se a semelhanga referida ¢ ou nio relevante para a conclusio, mas ndo ha qualquer divida que o critério (ii) ndo satisfeito. Nao podemos inferir seja 0 que for sobre 0 ensino da filosofia em Inglaterra baseados apenas numa semelhanga com o caso francés. Um famoso argumento por analogia a favor da existéncia de Deus é o seguinte: ‘Todas as maquinas tém um criador que as pde a funcionar de forma precisa, regular € intcligivel ‘© mundo é como uma maquina. Logo, 0 mudo tem um criador. Sera um argument forte? Nao é dificil admitir que as semelhangas sao relevantes para a conclusao, passando satisfatoriamente 0 critério |. Também nao é dificil admitir que as semelhangas entre as maquinas ¢ a natureza so numerosas, passando também no eritério 2. E quanto ao critério 3? Sera que ha diferengas fundamentais? Parece-me que hé uma diferenga que no pode ser desprezada: enquanto as maquinas nio se modificam nem evoluem com o tempo, a nao ser pela intervensio de alguém, os seres naturais modificam-se ¢ aperfeigoam-se constantemente por si proprios. Esta diferenga é determinante para pdr em causa a necessidade de um criador para a natureza. O argumento falha, portanto, o critério 3. Por isso é um argument fraco. Se os argumentos dedutivos e por analogia so muito utilizados na filosofia, 0 mesmo jé nao acontece com os argumentos a partir de exemplos — mais conhecidos como argumentos indutivos ou generalizagées. Contudo, sao os argumentos mais utilizados fora da filosofia. Grande parte das opinides das pessoas resulta de processos indutivos de raciocinio. Fo que se verifica em afirmagSes comuns como “os alentejanos sdo preguigosos”, “os alemaes so racistas”, “ r amanha”, “as mulheres so mais sensiveis do que os homens”, etc. A forma dos argumentos indutivos é a seguinte: ‘todos os seres humanos morrem”, “o Sol vai nas Alguns A sio B. Logo, todos 0s A sto B. Neste caso a premissa é apenas o resumo de um conjunto mais ou menos extenso de casos particulares. Mas por muito extenso que seja o namero de exemplos de que se parte num argumento indutivo, nunca temos a garantia ligica de que a conclusdo seja verdadeira, Também aqui corremos o risco de encontrar premissas verdadeiras e conclusio falsa, Portanto, os argumentos indutivos, como jé acontecia com os analégicos, niio so vilidos ou invalidos. Veja-se 0 seguinte exemplo: Os cisnes observados até agora sio brancos, Logo, todos os cisnes sio brancos. ‘Note-se que a premissa, ao referir todos “os cisnes observados até agora”, esta a referir apenas alguns cisnes e nao todos os que existem. Apesar disso, dificilmente diremos que no constitui uma boa razo para coneluir que todos os cisnes so brancos. De facto, durante muito tempo se pensou que todos os cisnes eram brancos até ao dia em que se descobriu um lugar até entio desconhecido (a Austrilia) em que os cisnes so pretos. Bastava, alids, que uum sé cisne fosse de outra cor para tornar falsa a conclusio anterior. Mas sera que alguém considera fraco 0 argumento seguinte? nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! ens srinsi2024, 18.02 Logica informal E claro que este é um bom argumento. Nao é logicamente impossivel que a conclusio seja falsa. Mas é improvavel. Assim, uma indugao é forte se, e s6 se, for improvavel, mas nao logicamente impossivel, que a sua conclusio seja falsa. Caso contrario a indugiio é fraca. Tudo depende, como é dbvio, da forga com que as premissas apoiam a conclusio. Os argumentos indutivos no so, de resto, invulgares nas ciéncias empiricas. Algumas das descobertas cientificas so o resultado de generalizagdes fortemente apoiadas em observagdes ¢ experiéncias realizadas. O que nao significa que essas generalizagdes ndo tenham de ser constantemente testadas pelos préprios cientistas. Uma vez que sabem que nao € logicamente impossivel que as suas conclusdes sejam falsas, ainda que apoiadas em numerosas observagdes, os cientistas procuram testé-las procurando os contra-exemplos que as podem tornar falsas. No caso dos cisnes o contra-exemplo acabou por aparecer, mas isso nio significa que todos os argumentos indutivos sejam maus. Tudo o que devemos evitar & fazer generalizagdes apressadas sem procurar avaliar se as premissas que sustentam as nossas conelusdes sdo suficientemente fortes para isso Também frequentes nas ciéncias empiricas sio os argumentos sobre causas. Neste tipo de argumentos 0 que se faz. é procurar conexdes entre fendmenos de modo a estabelecer uma relagdo causal entre eles. A célebre experiéneia do cdo de Pavlov, a qual levou a descoberta do reflexo condicionado, é um exemplo deste tipo de argumento. Pavlov submeteu o cdo a determinados estimulos, estudando as suas reacgdes. Dessa forma Pavlov conseguiu explicar a relagdo que existia entre o estimulo produzido ¢ o salivar do co. Apesar de este tipo de argumento nao ser habitual em filosofia, ha, ainda assim, um cuidado a ter: ndo concluir que um fenémeno é causado por outro porque a este se segue sempre aquele. Este é um raciocinio muito frequente mas incorrecto. Trata-se, pois, de uma faldcia, Essa falicia & conhecida como post hoc. Um exemplo disso & 0 trovdo vem sempre depois do relampago, Logo, 0 relampago é a causa do trovao. Mesmo sendo verdade que o relmpago antecede 0 trovio, é falso que este seja causado por aquele. De facto, tanto o relampago como o trovio so causados pelo mesmo fendmeno; uma descarga eléctrica. Resta-me falar dos argumentos de autoridade. Este tipo de argumento € principalmente utilizado quando queremos apresentar resultados que nio so do dominio geral e que dependem de alguma forma de competéncia técnica ou de conhecimento especial, Nesses casos, nada melhor do que invocar 0 que os especialistas na matéria em causa afirmam. A sua forma costuma ser: X afirma que P. Logo, P. Estes argumentos nem sempre so maus. Mas so frequentemente utilizados de forma abusiva. Eis um exemplo de um bom argumento de autoridade: Carl Sagan diz que hé mais estrelas do que gros de areia em todas as praias da Terra Logo, hi mais estrelas do que gros de areia em todas as praias da Terra. Por que razo é este um bom argumento de autoridade? Porque obedece aos dois critérios seguintes: nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! sons srinsi2024, 18.02 Logica informal Sio estes mesmos critérios que tornam falaciosos os argumentos de autoridade em filosofia. Como se sabe, seja qual for o assunto, os fildsofos discordam entre si. Por isso, ainda que 0 critério 1 fosse satisfeito, o critério 2 nunca o seria. Utilizar argumentos de autoridade em filosofia é incorrer numa faldcia: a falécia do apelo a autoridade. Contudo, quando, por exemplo, os filésofos enfrentam determinados problemas cuja discussio depende de informagdo cientifica dispontvel, nao sé podem mas devem apoiar-se naquilo que os especialistas nessa matéria dizem. Mas sempre com o cuidado de referir claramente quando e onde & que o especialista afirmou tal coisa. Gostaria ainda de referir uma outra falacia que de alguma forma esta relacionada com a autoridade de quem argumenta, Sé que, neste caso, para a desvalorizar, Essa falicia & conhecida como ad hominem. Em vez de se discutir 0 argumento, critica-se a pessoa que 0 produz. Assim se procura combater as ideias atingindo as pessoas que as defendem. Atacar as pessoas em vez das suas ideias é uma faldcia, infelizmente muito frequente. Na verdade, mesmo as piores pessoas do mundo podem utilizar bons argumentos. E os argumentos nao sdo bons ou maus consoante as pessoas que os produzem. Quando é que um argumento é bom? Em termos gerais, um argumento & bom quando as suas premissas nos oferecem boas razSes para aceitar a conclusio, Mas isto pode nao ser inteiramente esclarecedor. Jé vimos que ha argumentos validos inaceitaveis e que ha argumentos que nao so vilidos mas so aceitiveis, Temos, portanto, maus argumentos validos e bons argumentos ndo vilidos. Sabemos também que todos os arguments invalidos so maus. Mas nos nao estamos apenas interessados em argumentos validos; estamos, principalmente, interessados em bons argumentos. Ou seja, estamos interessados em todos os argumentos que nos conseguem persuadir de forma racional. © que nao se verifica apenas com os argumentos validos. Verifica-se também com argumentos de outros tipos, sejam eles por analogia, indutivos, sobre causas ou de autoridade. Em conclusio: nem todos os argumentos vilidos so bons ¢ nem todos os argumentos no vilidos so maus. ‘Vejamos novamente 0 caso dos argumentos vilidos, procurando, desta vez, distinguir os bons dos maus. Ninguém estaria disposto a deixar-se convencer por um argumento com premissas falsas, mesmo que tal argumento fosse vilido, Frequentemente rejeitamos, como maus, argumentos validos, simplesmente porque discordamos de alguma das suas premissas. Exigimos, pois, que um bom argumento valido tenha premissas verdadeiras. Sem premissas verdadeiras, um argumento no pode ser sélido. Por exemplo, o seguinte argumento é vilido mas nao & sdlido: A cutandsia deve ser permitida, A cutandsia no deve ser permitida. Logo, deus existe, Por estranho que parega, o argumento anterior é valido. Neste argumento nunca ocorre aquilo que no pode ocorrer num argumento vilido: premissas verdadeiras e conclusdo falsa. Nao nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! 115 srinsi2024, 18.02 Logica informal ser falsa ¢ vice-versa. Isto significa que as premissas sdo inconsistentes. Mas nao ha aqui nada de novo em relagdo ao que disse atris acerca da solidez dos argumentos, pois podemos rejeité-lo como mau por ter obrigatoriamente uma premissa falsa. Dai os argumentos com premissas inconsistentes setem maus, apesar de serem sempre validos. Veja-se agora um outro exemplo, também ele de um argumento valido: Se a minha teoria & verdadeira, entdo deus existe, Se a tua teoria ¢ verdadeira, entio deus nao existe. ‘Mas as nossas teorias s fio ambas verdadeiras. Logo, deus existe e nao existe. Nao ha qualquer circunstincia possivel em que a conclusio seja verdadeira; ela & obrigatoriamente falsa porque ¢ uma proposigdo inconsistente. Mas dado que o argumento é valido, pelo menos uma das premissas tem de ser falsa. Caso contrario, teriamos premissas verdadeiras ¢ conclusio falsa, © que nao é permitido num argumento valido. E facil de ver que, neste caso, a premissa falsa é a terceira: “as nossas teorias sto ambas verdadeiras”. Concluimos, entio, que a inconsisténcia, quer entre premissas quer da conclusio, toma qualquer argumento valido num mau argumento. Mas vejamos agora outro argumento também ele valido, desta vez sem premissas nem conclusao inconsistentes: Portugal é um pais europeu. Portimao fica no Algarve. Logo, 0 diabo existe ou nao existe Mais uma vez, parece estranho que este argumento seja valido. E agora nem sequer temos premissas inconsistentes, até porque so ambas verdadeiras. Mas nem sequer precisamos de saber se as premissas so verdadciras ou falsas. Basta verificar que a conclusio em circunstincia alguma pode ser falsa, Diz-se, nesse caso, que a conclusdo é uma tautologia. E se a conclusio é tautolégica, isto 6, se & verdadeira em todas as circunstancias possiveis, também ndo pode acontecer as premissas serem verdadeiras e a conclusio falsa. Eis a razio pela qual este argumento tem de ser valido. Ainda assim, ninguém tera dividas em consideré-lo um mau argumento. Note-se que nao s6 é vilido como tem premissas verdadeiras. Qual é, entio, o defeito deste argumento? O defeito é que as suas premissas sdo irrelevantes para a conclusio, Como tal, ndo oferecem boas raz6es para aceitar a conclusio inferida. Temos, pois, um problema de irrelevaneia das premissas. A conclusdo no se segue das premissas, ainda que as premissas sejam verdadeiras e 0 argumento vilido, A conclusao ¢ verdadeira por si mesma, por isso & que se trata de uma tautologia. Por mais disparatadas que sejam as premissas, a verdade da conclusio esta sempre garantida independentemente del Estamos agora em condigdes de acrescentar que um bom argumento vilido tem de ser sélido, S6 que, para além do que foi dito atris, a solidez de um argumento implica que a sua conclusio nao seja tautoldgica. Uma conclusio tautoligica toma as premissas irrelevantes, Proponho que se verifique se um argumento é s6lido respondendo as seguintes trés perguntas: nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! rans srinsi2024, 18.02 Logica informal 8 3. A conclusio é tautolégica? A resposta esperada num argumento sélido é “sim” para as primeira e segunda perguntas € Jo” para a terceira. O “sim” da primeira garante-nos que o argumento apresenta uma forma logica correcta; 0 “sim” da segunda (juntamente com o “sim” da primeira) garante-nos que a conelusdo nao se segue de falsidades € que ndo hé premissas nem conclusio inconsistentes; 0 “no” da terceira garante-nos que as premissas no sdo irrelevantes. Se alguma das respostas “lido. E se ndo é sélido, também nao é bom. nio for a esperada, entdo o argumento Mas, como jé referi, hd outros argumentos bons que ndo so vilidos. Esses so os argumentos fortes, sejam eles argumentos por analogia, indutivos, sobre causas ou de autoridade. Resumindo o que disse atrés, as analogias fortes so aquelas em que as semelhangas apontadas dizem respeito a aspectos relevantes para a conclusdo que se quer inferir; as indugGes fortes so aquelas em que a forga das premissas torna altamente improvavel, embora nao logicamente impossivel, que a conclusao seja falsa; os argumentos sobre causas sdo fortes se a sua concluso sugere ndo apenas causas possi veis mas a causa mais provavel, ao mesmo tempo que explica como a causa conduz ao efeito; os argumentos de autoridade sdo fortes se se referem a dominios de conhecimento muito especializados, se a autoridade invocada é reconhecida como tal entre os seus pares, se os especialistas ndo discordam entre si, ¢ se a autoridade ¢ a fonte onde a informagao foi colhida estiverem devidamente identificadas Podemos agora concluir que os argumentos bons sdo todos os argumentos sélidos ¢ todos os argumentos fortes. De que serve, afinal, estudar logica? Sera que as pessoas que nao estudam légica no conseguem argumentar nem pensar consequentemente? E dbvio que o conseguem, tal como muitas pessoas analfabetas falam 0 portugués, aplicando correctamente muitas das regras gramaticais que clas préprias desconhecem. O mesmo se passa em relagdo & matematica. HA muitas pessoas que nunca estudaram aritmética e que dificilmente se deixam enganar nas contas. Se, com relative sucesso, somos intuitivamente capazes de pensar de forma logica ¢ consequente, porque entio estudar logica? Penso que ha trés razGes principais: 1. 0 estudo metédico ¢ sistemético da ligica desenvolve uma técnica que, na medida em que 0 fazemos de maneira explicita e consciente, nos permite pér & prova muitos dos nossos juizos intuitivos. 0 treino do uso explicito das regras da légica dé-nos a possibilidade de aperfeigoar 0 raciocinio, 0 dominio da logica permite avaliar a racionalidade de algumas das nossas opinides, na medida «em que as premissas dos nossos argumentos exprimem opinides nossas ¢ as suas conclusdes aquilo que tais opiniGes nos levam a afirmar (novas opinides). Aires Almeida Conceitos principais nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! sats srinsi2024, 18.02 Logica informal a + Oque é um argumento? Argumento, Premissa, Conclusio, Premissa suprimida + Oque é uma proposicao? Proposigio, Frase declarativa, Condigdes de verdade, Valor de verdade. + Oque éa validade? Validade, Forma légica, Argumento sélido. + Que tipos de argumentos ha? Argumento dedutivo, Argumento por analogia, Argumento indutivo, Argumento sobre causas, Argumento de autoridade, Argumento forte, Argumento fraco, Falécia, Exercicios + Exercicio 1: [dentifique as premissas e conclusdes dos seguintes argumentos, tornando cexplicitas quaisquer premissas suprimidas: 1.0 pavilhdo de Portugal na Expo'98 foi desenhado por Siza Vicira. Por isso é bonito, ja que tudo que é desenhado por Siza Vieira é bonito. 2, Sartte era nacionalista, pois pertenceu a resisténcia e as pessoas que pertenceram & resisténcia eram nacionalistas. 3. Gosto muito de arte, uma vez que vou frequentemente a exposig 4, O Aguiar foi multado porque foi apanhado sem os documentos do carro. 5. Pavarotti italiano, portanto € latino. 6. Nao podes ser um bom fildsofo se nao sabes argumentar. Ora, tu sabes argumentar, portanto podes ser um bom filésofo. 7. Oua minha teoria no é verdadeira ou a tua teoria nio é verdadeira, pois se a minha teoria é verdadeira, deus existe, Mas se a tua teoria & verdadeira, deus ndo existe. + Exereicio 2: Diga quais das seguintes frases exprimem proposi¢des: 1. Existe vida fora da Terra, © vinho & um metal raro, . Aceitam-se listas de casamento. Silencio! Tenho uma dor de dentes ‘Ver Veneza e morrer. . Esta frase ndo exprime uma proposigao. Duas frases declarativas exprimem a mesma proposigdo se, ¢ s6 se, tém as mesmas condigdes de verdade. 10. A China é um pais distante. 11, Lisboa nao é a capital de Portugal. + Exereicio 3: Consegue atribuir um valor de verdade a cada uma das frases declarativas Porg 4: Diga quantas frases declarativas se encontram na lista que se segue. E quantas ptoposigdes? 1. Dois mais ts & igual a cinco. Trés mais dois é igual a cinco. een awayn 2. 3. Espera ai! 4, Dois mais trés € igual a cinco, 5. Cinco ¢ igual a dois mais tres, 6. Prometo que vou tirar positiva no teste de légica. 7. Teixeira Gomes foi o autor de Agosto Azul. + Exercicio 5: Dé um exemplo de um argumento valido com premissas e conclusio falsas + Exereicio 6: Dé um exemplo de um argumento invélido com premissas e conclusdo verdadeiras + Exereieio 7: Dé um exemplo de um argumento sélido. nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! sans srinsi2024, 18.02 Logica informal a Os ingleses so violentos, pois basta olhar para os hooligans. 2. Os grandes criadores musicais permitem certas dissondncias nas suas sinfonias com a finalidade de realgar as partes harmoniosas. Ora, 0 mundo é como uma sinfonia. Dai que © criador do mundo permita a existéncia do mal com a finalidade de realgar o bem 3. Impedir alguém que nao & cristo de fazer aborto em nome da santidade da vida & como impedir os cristdos de comer carne de vaca em nome da divindade das vacas para os hindus. Ora, é errado impedir os catélicos de comer carne de vaca porque os hindus consideram que as vacas so sagradas. Logo, & errado impedir os que nio sao cristios de fazer aborto em nome da santidade da vida, 4.0 Papa diz que as relagdes sexuais antes do casamento esto na origem de muitos conflitos familiares. Logo, as relagdes sexuais antes do casamento conduzem a muitos conilitos familiares. 5, Sartre afirma que o homem esta condenado a ser livre, portanto o homem nfo pode deixar de ser livre, 6. Varios estudos mostram que sempre que baixam as taxas de juro aumenta o prego das casas. Logo, a baixa das taxas de juro provoca 0 aumento do prego das casas. 7. Nenhuma pessoa até hoje viveu mais de 150 anos. Logo nenhuma pessoa vive mais de 150 anos. + Exereicia 9: Diga quais dos seguintes argumentos ndo so bons e porqué: 1. Se tudo € arte, entdo este argumento é uma obra de arte e se este argumento é uma obra de arte, o seu autor é um artista, Assim, se tudo é arte, o autor deste argumento é um artista, 2. 0 diabo existe, mas deus foi o seu ctiador. Logo o diabo existe ou nao existe 3. 0 Paulo responde a este exercicio endo responde a este exercicio. Logo, o Paulo ndo sabe ligica, 4. Todos os portugueses so latinos. Luis Figo € latino, portanto Luts Figo & portugués. 5. Faro fica no Algarve ¢ o ferro é um metal. Logo, Femando Pessoa nao ganhou Prémio Nobel da literatura 6. Bill Gates afirma que dentro de cinco anos os aparelhos de televisdo ido passar a ter as mesmas fungdes que os computadores actuais. Logo, dentro de cinco anos os aparelhos de televisdo passardo a ter as mesmas fungdes que os computadores actuais, 7. Todos os espanhdis so toureiros. Plicido Domingo é espanhol. Logo, Plécido Domingo & toureiro Copyright © 2024 criticanarede.com ISSN 1749-8457 nitpserticanarede.comfos_loginformal. him! sits

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