You are on page 1of 23
echnenledgment addressed tom, nn forsch ch gece MUSEU sas VAAL BE cs “sean Gcaia BRASIL PORTUGAL ‘AGORI eee Editen | Pabiher @ rept Granasi. catuocagloneronrE ) SOIATO SGA SOS TORE De ca ny ‘co Patrocieio | Sponsorship CAIXA Ministério da 4 Cuttura eC ie Re Fr AVontade de Arte e o Material Existente na Terra dos Homens Arthur Bispo do Rosirio pode concordar com quase tudo sobre a dor da existéne cia em Clarice Lispector, inclusive com a ambivalente assertiva: “porque quem entende desorganiza”.' Por que um homem, com a missdo de organizar o mundo, também desorganizaria 0 que se entende sobre a arte? Bispo do Rosirio esteve & ‘margem do olhar sistematizado da arte. Mais que tudo, 0 artista confinou a socie- ade form de sua obra. Bispo do Rosirio parece nio te sido moxido pela intenciona- Ficade da obra de arte. Nunca teve um professor ou orientador de arte. Fracassaram (98 modelos estétioas que Ihe tenham eventualmente apresentado, No entanto, no cupus de sua obra, o artista demonstra consisténcia formal e construiu um universo pestoal. Mais ainda, dispensava o conecito de arte para o que fazia. A obra de Bise po do Rosario tem algo daquilo que interessou a Claes Oldenburg, pois foi “uma arte quee no cresce se achando are”? A partirde 1964, Bispo do Rosério passou mais decididamente a produzi sua obra. Sua produgi € paralcla& de alguns outros artistas ¢ eéricos aos quais devera ser Justaposto, entre os quais estio Helio Oiticica, Lygia Clark, Roland Barthes, Jean Baudrillard, Gilles Deleuze, Michel Foucault, Claes Oldenburg e a are pacer? Ao :morrer em 1989, Bispo do Rositio deixou um corpus de mais de oitocentos abjetos, mantis juntos salvo poucas excesSes dispersas* Sua stuagio emerge na Historia a Arve brasileira como uma espéeie de “fantasma da modernidade”. Enowdrio que até recentemente a Histéria da Arte nio dava conta de alguns artistas, Arthur Bispo do Rosério é, antes de tudo, um problenta historiogrfico erica, E init buscar classficagies como se fossem necessirias & jusificagao da singular- dade de Bispo do Rosivio, Merecem cautela 2s comparagées formais com artistas insritosna Istria da Arte ovidental com o objetivo de buscar legitimao critica € historiogrifica de Bispo do Rosiro. Sua obra dispensa estes gestos. Unta exem= plar posigao construtora de sentido é a de Lisette Lagnado, que problematizou a justaposigio de Bispo do Rosirio « Marcel Duchamp. Para Lagnado, a indagago €*Com reduira distancia que separa o momento mais concetual da histéria da vel expressio delirante?” Depois de argumentar, a critica conclui ante de uma no que “Bispo goza da condigio duchampiana, porque viveu, & grande, sia maquina descjante”. O interesse esté no fato de que a produgia de Bispo do Rosétio propicie jnstaposigées sob forte base conceitual, O confionto com determinadas obras ou Formulagies teéiricas de tereciros pode apenas clucidar sua obra e permite seu ree conhecimento a partir de sua logica, que sustenta sua singularidade e sua diferenga Pouco hii de dado pessoal cifrivel na obra de Bispo do Rosirio. “Eu vim” esta é sua mais importante revelagio. Quem é este ew que se eserevia fio a fio por toda parte? Nio se vé assinatura ou nome de forma narcisista nos objetos. Nomes de pessoas, lugares ou linhas de Onibus em sitacio indeterminada, que podem, no entanto, parecer indicagdes pouco relevantes para a fiuigio de sua obra. Talvez tudo aquilo devesse estar indicado como seu tertitrio, mas nao esté. Tampouco ‘existe uma caligrafia que, na enervagio da escritura, pudesse identficar 0 trago de PAULO HERKENHOFF to de Arte Cad do Mice de Ate dy Ria / MAR An Gite ad Ctr of ‘Museu de Art do Rio / MAR Introdugao Autoria ua Bispo do Rosério com precisio datiloscdpica. Quando Hugo Denizart levou Walter Firmo para conhecer Bispo do Rositio, este dirigis a sessio fotogréfica indicando como deveria ser fotografado. Bispo do Rosirio insistin para que se fotografasse sua sombra. O autor deve, frente a seus objetos, ser sombra. Ente as outras imagens que solicitou a Firmo, esto as cenas de uso dos objetos pessoais. Numa fotografia cle veste sua capa e noutra simula sono no leito preparado para dormir com Rosan- ‘gela Maria, seu amor platénico, A identificagio visual da obra de Bispo do Rosicio ‘vem de uma idéia de costura ¢ construgéo do mundo. E a consisténcia conecitual ¢.a forma do projeto que permitem a identificaco formal das coisas como Feitas por Bispo do Rosirio. Pode ser possivel ou necessio suprimir sua histiria como, por vezes, a de qualquer artista ~ para que se propicie a emergéncia cristalina da linguagem visual. Essas tamisém seriam condigées muita propicias para o exercicio enomenclogico do olhar sobre a arte de Bispo do Rosério A propésito desta auséneia de posse autoral da obra, pode-se lembrat Roland Bar= thes, que observou, em seu artigo lapidar “La mort de Pautcur” (1968), que a idéia de “autor” ¢ uma invengio moderna surgida no final da Idade Média. Na contramarcha, Joseph Beuys busca neutralizar 0 exeesto autoral da modernicade 20 proclamar que “edermann is ein Kite” (odo mrundo é um artista). Na cultura ccontemporanea, continua Barthes, ha um centramento tirfnico na idéia de autor € sua historia. Ele exemplifica com os casos de Vincent Van Gogh e sua loucura ou Piotr Mich Teaikovsky e seu vicio, A obra é buscada a parti de quem a produz, do autor que emite sua confidéncia, diz Barthes. Iso tem prevalecido também na Historia da Arte brasileira c, em particulas, nas discusses exiticas sobre o significa do de Bispo do Rosirio, Hé os que negam conceitualmente validade artistica & sua obra. Barthes evoca o argumento de Stéphane Mallarmé, que via a necessdade de substituir 0 autor pela propria lingua. Assim, a lingua substitui seu proprietitio. Toda poétiea de Mallarmé, diz Barthes, “consiste em suprimir o autor em benefiio dda eseritura”. Essa é uma postura por vezes necesséria ao conhecimento do projeta de Arthur Bispo do Rosirio e ao entendimento de seu significado. E preciso, pois, observara cena da obra de Bispo do Rositio espago andlogo A “cena do texto” de + que trata Barthes? pois para ele no havia a questio da “morte da autor", mas 0 permanente processo de um violentador anulamento do ser, i = SRT RT “Eu adornei minha sala com moldagens de estituas florentinas. Foi uma extraordi- Taxenomias naria fonte de revigoramento para mim. Estou pensando em ficar rico para poder repetir estas viagens”, escreveu Sigmund Freud a Wilhelm Fliess, em 6 de dezemn- bro de 1896. Alguns artistas desenvolveram extensos sistemas taxondmicos que passaram pela acumulacio de objetos. Esse modo operativo, freqiientemente sedutor ou critico, inclui listas de objetos, colegdes ¢ museus de tudo. Alguns tebricos buscam evi- denciar uma faléncia do Iuminismo das taxonomias excessivas como estratégia de controle do mundo pelo ordenamento, © Huminismo traria uma matriz que de- semboca no Positivismo do século XIX, do qual Freud, de certo modo, aria parte, segundo certos historiadores. Arthur Bispo do Rosério encheu sua sala com cen- tenas de objetos que fez durante quatro décadas, Foi uma extraordinaiia fonte de revigoramento para ele, como as reprodugies florentinas haviam sido para Freud. Bispo do Rosério era um incessante criador de obra nova. No mundo sensorial, Bispo do Rosério sabia algo que Freud no havia experimentado: 0 ato de fazer arte. Esse primeiro Freud colecionador parecia se contentar com o inauténtico,a cépia. 43 ee Na linhagem do colecionismo critico, a obra From The Freud Museum (1991-96) de Susan Hiller se refere & vitvine-instalacio criada para o Freud Museum, em Lon- dres, com caixas que eontém objeios, textos, imagens ou videos, devidamente iden= fiicados € catalogados 0s materias ¢ objetos pessoais que foram silenciados pela instituigdo museologica. Para Hiller, os museus antropoligicos si espacos de recal- aque cultural c histrico como “perturbagdes psiquicas, nicas, sexuais ¢ politicas”.® Essa € sua taxonomia ética: 6 caos do aciimulo & exposto por esta classificagio dos modos perversos de recalcar; ‘Tais taxonomias conformam sistemas de totalizagéo {que seguem exclusivamente a ligica de uma poética da acumulagio, Louise Bour- geois preparava listas. “Lembrar-se ¢ estar viva”, diz ea. Claes Oldenburg tinka algo de reconstrair o mundo das coisas moles em plistico, o material eminentemen= te industrial, Bispo do Rosirio deixou aparenionente incompleto seu museu pessoal do mundo como territério da individuagio, Ao longo de décadas, Jorge Luis Borges organizou levantamentos infinitos, Escre- veut Biblioteca de Babel € sintetizou tudo 20 Aleph. O Lievo des Sees Imaginérios elenca (0 anjos de Swedenborg, animais sonhados por Poe e Kafka, animais metafisicos ¢€ animais dos espelios, além do devorador das sombras, dos seres térmicos e do péssaro que causa chuvas. Ei seu delisi, Bispo do Rosério parecia nao admit seres ou coisas imaginatias que competissem com sua propria visio de seu lugar no mundo. Se a Biblioteca ¢ itimitada, Borges desenvolseu uma taxonomia que parecia sem fim na organizagio de ordens de coisas: O Lira de Ci edo Inferno, 0 ‘Mise cum tas, O Aleph & um dos pontos no espago que contém todos os pontos. Em seu Meu, gragas ao rigor da ciéncia, © mapa tina a intl e exata dimensio do proprio terstéri. to Ba Um vigotoso ponto de inflexto da obra de Bispo do Rosirio com a arte Pop eram ‘os concursos de Miss Universo e as ers misses Brasil lendvias: Marta Rocha, Tere- zinha Morango ¢ Adalgisa Colombo. Na Guerra Fria, os concursos de miss se tor- znaram espago de influéncia dos Estados Unidos, assim como as grandes exposiges internacionais, os jogos pan-americanos, alguns museus ¢ bienais, Os concursos foram mais tarde incorporados 4 pintura de Rubem Gerchman ¢ seu discurso da melancolia das massas, As faixas de misses de Bispo do Rosario devem ser, no mi- nnimo, paralelas as pinturas de Gerchman, jf que no final dos anos 60 os concursos centraram em vertiginoso dectini. O conjumto de 61 faixas completas (mais cerca fginas 278-279) cone de 16 em estudo) conforma um Atlas, Cada “faixa de miss tém informagiics geopoliticas como womes de tios, cidades, ruas ¢ bairros. A idéian do universal em Bispo do Rosirio é uma Geografia Pop, que passa por um processo de contestualizagio do local No oposto da erudigio de Borges, Claes Oldenburg criow uma taxonomia Pop de- liberaclamente pedestre de valorizagio do banal. Seu Museu de Rata (Mouse scum, 1965-1977) € um acervo de 385 objetos da cultura popular cotidiana que foram reunidas por cle. Oldenburg trabalhou sobre alguns objetos enconteados ¢ exiow utros, O museu esté instalado num container na forma de Mickey Mouse, 10 hit no diseurso de Oldenburg uma rantos Ele n busca de entendimento do estatuto ontoligico de um abjeto ou sua busca de com- precnsio na perspectiva da Hist6ria da Arte ocidental, como fizera Perveita Gullar nna Teoria do Nao-Obio (1960), O artista montou sua exposigdo-loja (The Store, na © gosto do homem ordinario, 107 E. 2nd Street), onde havia de tudo & venda: doces, envelopes, tenis, roupas etc tudo feito em gesso pintado, Esses objetos, segundo Oldenburg, se constituiriam ‘num “diario de todas as coisas que me interessaram durante um certo periodo de tempo no Lower East Side”.* Os objeros construides por Bispo do Rosirio também, 15 i so 0 registro de uma jornada: “é material existente na terra dos homens” e exam, cs registros de sua passagem pela Terra, assim como os de Oldenburg resultaram cde sua andanca naquele bairro de Nova York. O estoque da loja de Oldenburg & {quase como uma lista de compras de um mercado em que 2 meméria & comvocada E auma tarefa pritica Alguns artislas operam a idéa de muscu como acémulo, como lugar do muito. O Arquivo de Boltanski guarda 402 retratos de anénimos. No Brasil, uma instalagio (1975, MAM/R)) de Emil Forman & um “museu da pessoa”. Neste espelho de narcso se exibem 2.500 fotografias de Antonieta Clélia Rangel Forman, que sio todos os retratos dela tirados durante sua vida. Jé 0 Mouse Musaum de Oldenburg reuniu 385 objetos. Era muito para um rato. From The Freud Museum, de Hiller, sio vitrines que contém 50 caixas, que por sua vez guardam muitos objetos ada. O programa conceito de Hiller converge para 0 problema do canibalisme muscolé- ico de que trata Donald Preziosi em Tie at of art story (1998). A instcuigho seria devoradora de seus objetos, aniquilando sua fungao simblica, No plano da extica institucional, o muscu de Susan Hiller é 0 espago de recalque social c 0 arquivo de Christian Boltanski é um territério do luto negado. Bispo do Rosirio deixou cerca de 850 obras guardadas em seu quarto, Defendex seu monumento mantendo-o politicamente marginal a qualquer tipo de apropria- io museolégica do género das “perturbacées” perversas denunciadas por Hiller, Em vida, Bispo do Rosirio impeciu que seus objetos se constituissem em “fan- tasmas da modernidade”. © corpus da obra de Arthur Bispo do Rosiria, como A Gatedval da Miséria Exética, de Kurt Schwitters, na acepgo de Elizabeth Gamard, se ‘constituiu em specula de sua vida ditia © em summa teologica de sua vivencia em art. Historicamente no campo artistico, a idéia de totalizagio estivera presente em alguns conceitos como a montagem do TWimdekabinett, ou na pratica artistica do Geamdunstweke de Richard Wagner, na Maz de Kurt Schwitters, no Nivko de Hélio Oiticica on na Cela de Louise Bourgeois. Em outra direcio, Joaquin ‘Torres-Garcia desenvolveu uma perspectiva de siniese do discurso visual simbé- lico, representativo da diversidade cultural do homem, com a idéia da “tcadigio do homem abstrato”. Em sua principal insrigio em prontudrio pablico, apenas 1 palavras descrevem 135 anos de atividades de Bispo do Rosirio.* Dele mesmo, hé duas palavras essenciais: “Eu vim.” Hé algo de enlutado na acumulagio museologica e na logiea dos arquivos, Jacques Derrida descreve os arquivos como doenga 0 mal darcie s Arcies (1987) de Christian Boltanski tratam dessa doenga, ao acumularem 402 retratos imprecisos ituminados com limpadas elétricas modorrentas. Os cetratos estio em taindis de depésito de museus, eufemisticamente denominados pela mux scologia.como “reservastécnicas”, Para Boltanshi, estes rostos nada dizem de seu. destino ¢ da vida que tiveram. Nada justfica que as pestoas desses Archives estejam Juntas, Para um Boltankietolégico, elas aguardam “até que alguém poss Ihes dar uum nome de novo”. O filsofo e 0 artista pensam no mal radical do arquivo. No Brasil, Arthur Bispo do Rosério e Rosingela Renné agregam outros sentidos 20 arquivo. Renné opera a crise da fotografia como producio social de esquecimento ‘A historicidade da Tinguagem através de corpos fotograficos se faz entze silencio, Totalizagoes Anatomia Nomolégica ur (Ce morte, transparéncias ¢ espelhos. Bispo do Rosisio produz arquivos sob motivagio posta. Eles estaro fora da esfera técnica da aneméria socialmente institucionali- zada, Ele aporta nome, algo que nome”. O que se sabe da vida de Bispo do Rosério,aém do nome, 1.aos rostos de Boltanski “eu vim para dar ‘absolulamente aquase nada. Ele deixou poucos setrates, um contraste com os 2.500 de Antonieta Ciélia Rangel Forman esibidos na instalagao de Eail Forman, Esse excesso cegou 60 rsto, O muito eria o oll opaco, “Ex vim.” Vig para o se, é langarse em sub- jetivasZo, O mal cultural softida por Bispo de Rosério foi justamente a auséncia ¢e arquivo, Tal sittacio nfo era do campo filosifico do indizivel, nem se stuava na cesfera social do imencionsivel. O ser estava em estado de abandono, O nome ¢ Bispo do Rositio parecia ter entendido com muita clareza ~ constitu: coset. Em A Prasa do Mundo, Maurice Mesteau-Ponty cogita que os individuos sejam constitufdos por set nome pessoal.” O artista fez-se como Arthur Bispo do Rosirio vim como Bispo do Rosirio. Em comentitio aos angumentos de Merleau-Ponty, Clauele Lefort agreya que, antes da fase do espelho Jacaniana, na qual a erianga descobre sua unidade corporal, existe 6 encontro com ¢ foi constituido poreste nome. Bi 6 nome que determina o inicio de uma nova relagio de alteridade."* Gomo a erian- sade Merleau-Poniy, Lacan Lefort, Bispo do Rosito foi capturado por seu nome; seu signo detcrminantee irreversvel de identidade foi sagrado a 22 de decembro de 1958 c esta do numa estandarte: Ex Precise Dats Paleras Bsa (pagina 115). No standart, a figura masculina retrtada tem um nome Cloves. Bispo do Rositio Dorda una informagio sobre o ser: “no pelo trax duiae name”. Cloves era médica ¢ sua anatomia vernacular tem cop ¢ abna. Sintomaticamente, Bispo do Rosicio faz ume operagio politica ao tomar a figura de um médico para deserever a estraturs do organismo humano, sua libido, mortaidade ¢ fancionamento do corpo: “niols, _gorgnta grt; mambrs ecuis esperma coop da presia / 0 sangue nas vias". Este tstandarte descarna o corpo através da lingua bordada. O texto € a anatomia.* A garganta gta, mas Bispo do Rosisio borda. Ele er na forga da esertura Relagdes de alteridade so montadas a partir do proprio nome do artista. Bispo do Rosirio de quem? Um hispo é 0 dignatirio que dirige um territirio, a diocese Esté bordado num outro estandarte o nome daqueles que reconheceramt o filho do homem, Talvez por isso Bispo do Rosirio cenha produzido tum chapén com acun ‘mulaglo de espelhos sob a aha. Assim, os espelhos poderdo estar sobre a cabrya, isto & acima dos miolos, ou mais precisamente junto ao topo do individue desenhado no estandarte, onde Bispo do Roxirio borda coe, abna e cicultiio do corpo humane, deseritos anatomicamente. Ito é, 0 chapéu de espelhos base da descuberta indivi dual da unidade corporal ~estard perto do centro do ugar do entendimento do set. Vestido, o chapéu é um jogo de alteridades, captando os Outros. O chapéu é um dos rarissimos objotos de Bispo do Rosirio com espelho. & um paradoxal narciso sem fo espelho, Muito pouico ha sobre siem suas obras, salvo a repetigio da data de sua irreversivel identidade e sua missio, “Eu vin” era sua insistence certeza existential No estandarte em que bordou ao centro: Bu Perso Destas Palavas Escrta, Bispo do Rosario grava A dircita: “Names priprio.” Fecha-se um circule de nomes como cespelhamento do ser pela palavra. Abre-se uma lista de quatro nomes proprios de pessoas ¢ lugares iniciados por a, onde estio Aracaju (capital de seu Estado natal) Arthur (aome proprio de Bispo do Rosi}. No espago oposto a seu prenome, [Arthur precisa dezenas de palavras iniciadas pela letra a, entre elas: ancorado, angio- Jogia,alvo, aparecimento, ameaca, abusa, absolut, atitudes, arrasa,arrojamento, atlto, agora, Essa éa densidade dos nomes iniciados por a. Nessa regiio da lingua, as palavras, mais que as coisas, espelham o universo do ser sua letra primeira. 19 Num grande tecido bordadlo por Bispo do Rosato (dito Dicondrio de Nomes ~ Letra A~1 (pagina 116), os nomes iniciados pela letra a, fora de ondem alfabética, ine clufam referéncias & terra natal, aos conterrdncos, militares, pugilistas, vizinhos € médicos: ‘Algusto dos Santos ~ Missdo Japaratuba municipio Sergipe”, “Arthur Rosa ~ fazia sangria no pescogo boi matador Aracaju”, “Américo Bei Comerciei Aracaju Morador Préximo ao Jockey Club”, “Algemiro Alves Tereciro Sargen- to Torpedista Distroey 2 Paraiba’, “Angelo Assobral Pugiista~ Espanol no Rio 1927”, "Alcino de Jesus ~ Jardineiro Rua Sao Clemente 299 Botafogo” e “Albino Soltorio ~ Médico Psiquiatra Rua Doutor Leal Engenho de Dentro 1949 ~ Foi para a Marinha” (sz. A poténcia imagética destes nomes aproxima a lista de Bispo do Rosirio do projeto Arquivo Unizersal,iniciado por Rosingela Renné em 1991, {que reine noticias sobre fotografia ou dramas fotogrsficas em lugar de imagens. A anamnese de Bispo do Rosirio insste em se organiza segundo situagBes plésticas “1opo-nominoligicas”, O nome e sua situago na ordem é a propria imagem. Um sujeito € consignado ao desejo de arquivo. Por tudo aquilo, para Arthur Bispo do Rosétio escrever o nome & um investimento produtivo de tempo. O nome é bordado pacientemente. Quem era 0 outro? A cxcrita configura a subjetivacio possivel dentro de uma taxonomia erritica. S6 podem ser arquivos daquilo que Bispo do Rosario nao podia esquecer num roteiro biografico. Seu esforgo é manter 0 nome, reviver aquilo que, na légica da doenga dos arquivos se registrar para, logo, exquecer. Os objetos construides por Bispo do Rosirio sto domicilios nomol6gicos. O esforco de Bispo do Rosétio ¢ evitara ruina da meméria. Por isso, a minicia do bordado, ainvengio do corpo e a teatralizagio do arquivamento, A fotografia molda ¢ é moldada por uma psicologia ca meméria, Perder a memoria nio seria, entdo, avangar na idade, mas perder um rosto, como no caso de A Mulier Que Peas a Monéria (1991), de René." Bispo do Rosiio oferece o nome ao syjito que no tem imagem. Garante aquilo que se negou aos rostos de Boltanski a AAs vitrinescfichérias (paginas 40-43) de Arthur Bispo do Rosério so conjuntos homo-géneos de nomes sob um vinculo, como 0 Distogy Paraiba 2, Na vitrine, ha um deseno do navio ¢ fichas com nome, patente ¢ fungo. No oposto da pestura nosoldigica de Derrida ¢ Boltanski, nada ha de melancélico ou mérbido nos arqui- vos de Bispo do Rosirio, So evocagies da meméria daqueles que niio devem ser esquecicos. Sua escritura ~ o artista pinta e borda ~ € um processo de individuagio, Bordar é a assinatura de homo faber. final, por que haveria ele de se dedicat ao que, segundo a tecnologia arquivistica, devesse ser consignado ao esquecimento? Esses arquivos mio io monumentos funerarios. Bispo do Rosirio expande campos das pulsdes de vida. Bispo do Rositio bordou placas coletivas sobre fundo azul-marinho com todos os rnomes vinculados a um universo, como & Marinha (S/ Rénio de Jesus / Escrevente (pgina 259) / Corpo [incompleto]} ou a um hospital psiquidteico (Antonio Gilber- to / Praia Vermelha), Nao obstante a disparidade dos contextos, as placas se unem por costura, diagrama das correlagdes da logica da meméria. O fio do bordado no € 0 signo do tempo, mas flamento da meméria reativada. A Marinha de Guerra 2. ca instimigéo psiquidteiea sfo sistemas politicos de defesa do territério nacional ‘ou da higiene piiblica, Bispo do Rosirio une o dispar sob a ligica do poder. Now- tra placa, Bispo do Rosario homenageia os pracinhas mortos na Segunda Guerra (pagina 263). Junto aos nomes, 0 artista bordou o Monumento aos Pracinhas do sico. Num carrinho-arquivo (pégina 45-46), ha fichas coletivas por prenome, Sio pencas de gente, que reiinem as Tones, as Irenes ou as Rio: o domicilio antiam errr 11 eat Lias, por exemplo. Cada nome é pintado individualmente em ato distinto da répida escrita cursiva dos prontusiios. Entre as Hildas esté a poeta Hilda Hils, ¢ entre as Ruths estio as personalidades cariocas Ruth Gobn e Ruth Niskier. A existéncia das aludidas mulheres estaria certificada pela noticia.” Se antes eram abstragies para o espectador, sua existéncia subjetiva agora se eonsigna pela arte. Essasfichas no individaam qualquer Hilda ou Ruth, pois Bispo do Rosirio abre leques dos indi- vidluos distintos feitos pelo mesmo nome, em sua ordem de repetigfo e diferenca ‘Na multi de substantive, Bispo do Rositio fea de tréspalavras esritas em enfiada. Precisa de dfica escrta entre afices caf, Aqui, a inexplicada listagem de idéias nao seria apenas uma “live assocacio” surrealist como acionamento do inconsciente. Bspo do Rosirio é negro, Nessa associagdo,o artista prea de pax lavras que eonstrocm e sintetizam uma meméria essencial da escravidio. A partir do none Affca Kem-se juntas as palavras origem, trabalho (afazeres como raz30 econdmica da escravidio} e panisio ou angistia aft) Ea triplaineorporagio — fisica, espiritual e politica nessa anatomia que tem corpo ¢ aina. A escrita se faa ‘com fios do uniforme azul, cor do estigma psiquidtrico.""B azul a inica cor perce- bida pela vista (ir) olfos na anatomia do estandarte Eu precisa destas pala escrt, A outra percepgio na anatomia de Bispo do Rossrio ¢ pri, designacao da nfo-cos, da auséncia de cor ou dos escravos vindos da Afiiea, Assim, Bispo do Rosdrio se africaniza e veste um manto de Exu (pigina 224), uma incorporagdo paralela aos Porangolés de Hélio Oiticica, em que se lé: “Incorpo a revlta” on “Eistou passuido”. Bispo do Rosétio anunciara sempre: “Eu vim.” Ele precisava da palavra animica {que incorporava a origern, Sto 802 objetos conhecidos.* £ um grandioso metassstema, formado por sistemas de objetos precisamente demarcados, que organiza “o material existente na Terra”, segundo o depoimento de Bispo do Rosivio a Hago Denizart no filme O Prsoecio da Pasagem (1982), Esses objetos trazem a marca da precariedade, No limite, ha ‘um parentesco ético com Lygia Clark e Hétio Oiticica, ainda que intuitivo, porque Bispo do Rositio precisou negociar no context de uma economia simbslica de sobrevivéncia, Por seu turno, Clarke Oiticica pensaram a arte com “desrecalgue” transgressio, Bispo do Rosério constiuiu uma certa order do rmundo. Oiticica fez ie dle Figrafias de ua (1965) no Rio de Janeivo em que registra agrapamen- tos conjunturais de objetos pela populagdo de raa, como pequenos momentos para uma estética da margem social. Essas fotografias lembram certas acumulagdes e objetos organizadas por Bispo do Rosério, No manifesto Nis ecwsemos (1966), lack, artista da precariedade do ser, proclamou: “Propomes 0 precario como novo conccito de existéncia contra toda crstalizacao estitica da duragdo.”® Ali onde ‘Clack afirma a precariedade, Oiticica afirma a adversidade.* Sao também duas condigbes vivenciais de Bispo do Rosisio Como conjunto, o cospus da produgéo de Arthur Bispo do Rosario parece ser obra incompleta, interrompida pela morte em 1989, Nele se opera uma nogo de siste= ‘ma de objetos, como uma ordem logica através da qual as coisas sio produzidas ¢ destinadas a0 mmuncio. Esse sistema de Bispo do Rositio sera visto sob a ética de Le ‘Spulime des Objes, de Jean Baudrillard. A questio central agui é pereeber que esse ‘corpus prope uma fenomenotogia do objeto que se aproxime do seu sentido tanto no nivel da experiéncia de produgio, quanto de percep. A anélise de Bispo do Rosério solicitaria algumas aproximagées com certos postulados da teoria estética. “Mostro fora de mim um mundo que ja fala, assim como mostro com o dedo um Objetos Rea eae a eho a ‘objeto que estava no campo visual des outros”, escreve Maurice Merlesi-Ponty em A Prose do Mido. Com o “material existente na Terra”, Bispo do Rosério monta aprosi de seu mundo. O modelo aqui é desenvolver uma fenomenologia acercada a0s objetos de Bispo do Rosério, mais do que uma Gestalt da percepcio ética da forma ou de leituras conjeturais de sua fantasmitica. “A solugio do mistério 36 pode ser encontraca no exame critico das obras produzidas”, escreveu certa vea -Miio Pedrosa sobre as relagbes entre forma e personalidade. A complexidade da obra de Bispo do Rosin indica ser necessro 0 esforgo nicwscheano de apreender ‘arte do ponto de vista do artista. Seu dseurso no se consti do Jado da soba, por excess, de objetos no mundo. Fles sio necessirios & prépria conformagio do rnundlo, O artista fala do lado ca fate de objetos simbélicas e, mais precisamente, de uma precisa necessidade de trlos esses objetos. Esti no oposto do excesso da cquagio perversa museifcago = mumificagio. Uma vez que nd Iii um ednon tedrico que dé conta satisfatoriamente da obra de Bispo do Rositio, surge a pre- sente necessdade de articular principios metodoldgicos que possam calgar a tarefa analitica (3s signos plisticos mais marcantes da produgio de Arthur Bispo do Rosirio sto a miniatura, 0 bordado, o revestimento com fio azul, as roupas, os arquivos ¢ as acumulacies. Se o caréter da coisa na obra de arte vem da “matéria enformada”, ‘como afirma Martin Heidegger, em. Origen da Obra de Arte, entdo pare da obra de Bispo do Rositio 0 material do mundo que se enforma a partir de si mesmo. O artista elabora centenas de objetos recobrindo-os ou bordando-os com fio azul destecido de seu uniforme. Bispo do Rosirio trabalhou com sua segunda pele: a roupa como materialidade simbilica e origem da obra de arte." O ente ~ corpo e escritura ~se constr de si, A vontade matérica que move a produgio deszes ob- Jetos atua por forca do imaginario. O uniforme se “tanseisfca” (a coisa que vem. dda coisa) para construir um outro ser do ente Ji nda & sé o “uniforme” fa roupa), mas a singularidade de cada nova coisa que deve compor 0 tudo que hé no mundo, Bispo do Rosério desenvolveu inconfundiveis sistemas de construgio dos objets: ‘© peculiar modo de enformacio da matéria ¢ 0 ordenamento da acumulagio. As ~acumulagdes por classes de coisas poem a nu as diferencas nao essenciaisexistentes etn cada objeto do conjunto, embora sem a ocorréncia de idealidade dos modelos. “As miniaturas permitem a minha transformagio”, revela Bispo do Rosivio ainda a Denizart. Certos objetos recobertos com fio azul So proporrionais 20 tamanho convencional dos objetos referentes (o fio de pram, alguns sdo miniaturas os diversos elementos arquitet6nicos, como as escadas ¢ os palanques) ¢ outros so até maximizados (0 pio). A experiéncia sensivel daqueles objetos perdle seu ponte cle contato com 0 campo funcional e se submete 2 regéncia do imaginirio determinado por Bispo do Rosério. A partir dessa saturagio dos mevanismos de discernimento ¢ de apreensio conceitual, o espectador se encontrar no campo do ilégico ou da desrazio como a ideologia, a metafisica, o amor, a loucura, Se existe uma involugao logiea produzida elas estratégias do artista, ela foi instalada 10 Outro como possibilidade da divida. compas da obra de Bispo do Rosirio é percebido como constitutivn de uma arqu ologia da cultura material de sea tempo. No entanto, diante da interpretagio de Ivo Mesquita, que diagnostica que Bispo do Rosério “mumific cotidiano”, pode-se preferir 2 nogao heideggeriana de “matéria enformada” 2" O ra. os objetos do seu artista criou aquelas centenas de objetos encobertos por fios,cuja forma tambérn permitiria entendé-los como saidos de seu cotidéano. Frederico Morais denominow OREA a “obra recoberta de fio azul”, Diferentemente do sistema industrial dos 155 SS RR Rare a bjetos, nos objetos en fio azal a en € abstrata ¢ necessita encontrar sua equivaléncia pléstica. Dai a meticulosidade ryia despendida por Bispo do Rosério nao icagio do fio azul, a ponto de parecer que a soma dos gestos houvesse se dlissolvido, Se Jean Baudrillard, em Le Sptéme des Obes (1968), argumenta que “o bjeto funcional éo objeto real”, portanto, os objetosireais de Bispo do Rositio sé ‘podem ser fiancionais como objetos-cispositives do imaginario e negécio simbético. A logica de articulagii clo enrpus de objetos produzdos por Bispo do Rosério soicita sua justaposigd com o “sistema de objetos” teorizado na critica de Baudrillard a0 proceso industrial avangado. Bispo do Rosério ¢ Alfredo Volpi parecem suspender fo acclerado tempo da industrializacgo e urbanizagio para uma obra que poderia simplesmente ser “inatual” a0 nao buscar sua legitimaco em seu presente historico, Seo fio erat tetirado do uniforme do artista ou de terceiros ¢ tudo recobria, também, se potleria dizer que 0 primeiro objeto reveste de azul todos os demais, e neles se repete, A cor convencional da roupa é a metifora das significagdes culturais in- dexadas no contexto social da disciplina e da vigilincia, Cada objeto é 0 ator que protagoniza o azul. “O objeto é um bom ator”, disse Matisse. Essa cor azul esti hierarquizada, em posigio subalterma num sistema de poder. No sistema de objetos de Bispo do Rosirio, a fenomenologia da cor indica uma “couleur vécue", ou seja, a idéia de uma “cor vivida”, ranscrita da propria nogko de “corpo vivenciado” (cops sou") sob o sistema de constrangimentes na distribuigio social dos corpos no espago. A idéia sensorial de corps weu esteve nas disputas entre Jean-Paul Sartre ‘¢ Maurice Merleau-Ponty. Bispo do Rosario empresta seu corpo aos objetos, em- presta sua pele-uniforme e seu azul estatutirio. O artista faz operagio andloga a do pintor que empresta sew corpo & pintura, como ainda observou um Merleau-Ponty marcado pelo poeta Paul Valéry: (O grande signo cromético de Bispo do Rosario é este fio azul que se expande sobre ‘o mundo como um véu, No sistema de objetos do artista, os objetos revestidos de fio azul formam um exo sintagmat amplamente prevalecemte no conjunto monocromitico dos objetos em fio de Bispo cia ao artista francés Yves Klein ¢ a seu Internation -0 com enorme forga de identificagao. O azul, do Rosisio, conduz a uma refe nal Kein Blue KB), a cor que patentcou. Klein considerava que “a monocromia é ineita psiquica de pintar que permice atingir a0 absoluto espiritual".” O antista entrelagou con, vida pessoal e metafisca. Para seu casamento com Rotraut Uecker vestiu-se solenemente com as vestes da Ordem dos Arqueiros de S30 Se- bastiao, Em sew periodo azal, Ywes Klein no prescindia de uma agio ritual ou de por diferentes planos da consciéncia, Bispo do Rositia & sua propria parddlia incomparivel. Escolhido por Deus ¢ abandonado pela estagisria Rosangela Maria, s6 the resta encenar a vigilia tum gesto simbilico."! Klein ¢ Bispo do Rosirio moviam amorusa vestido com sua capa ¢ tendo au lado sua espada de escolhido. A vigilia esti entre 0 real ¢ 0 metalisico, entre o sono € o sono. Ao discutir repetigdo diferenga, Gilles Deleuze redine Kietke P agregar Bispo do Rosirio como o sinerético. Deleuze diseute 0 trio europeu, obser= soria fundamental da Poderfamos ray para formar um tiptico do pastor, do anticrsto ¢ do eat vando que cada um 4 sua maneira fez da repetigio una “cat filosofia do fiaturo, A cada um corresponde um ‘Testamento, ¢ também um Teatro, uma concepgao de teatro e um personagem eminente neste teatro como herd © protagonista da repeticio”.® A repetigio, agregs Deleuze, é a universalidade do singular: Também Bispo do Rosicio recorreu & repetigo como poténcia propria da Tinguagem, como o artista, nas cireunstncias da obra de-Cildo Meireles, em situagdo de gueto. O paradoxo de Bispo do Rosario &olerecer, enti, uma espécie 137 de falsa repetigio do Mesmo, Ele estava incumbido de representar o mundo para assim transformar-se para se apresentar 4 humanidade. Bispo do Rosisio declarou fem O Prisionero da Passagem que néio faria tudo aguila se no tivesse sido charmado a fizé-lo, Em Yves Klein ou num messiinico Bispo do Rosario, certos interesses cespitituais nao dao conta da de uum dado arqueoligico do imagin: jclade estética da obra, apenas acrescentando-lhe E necessrio examinar melhor os objetos de Bispo do Rosiro. O olhar se defronta, pois, com uma aparentetautologia 0 objet seria idenifiade pela forma e nome aco. Ainformagao visual €reiterada pela ect do substantivn comm bordae do sobre o objeto a que correspondera:chave-tubo, cabaga musical ou moinho de carne, Talvez jade ano aqui um velbo “wis” sobre aexposigiexpl jdaica do espirto da Lei, evocado por Donald Preziosi. © “nidat” diz Celtarse para o muro”, Nio se rea para o muro para imaginar quc deus eivesse aevis do muro, mas precisamente para entender que ce (la do ext al, Como 1 “inidvasl, ver a forma e ler 0 nome do objeto é precisamente entender que ele no est ali ja ele uma chave-tubo, uma cabaca musieal ou um moinho de carne. ‘So meros simulacros recobertos de fio azul. Ver nao é ler, deve-s insistir com a afirmagdo de Jean-Francois Lyotard em Discus jue No entanto, aqui ji nao basta este Lyotard, jé que ler poderia apenas confirmar a informagfo vinda do ver. A palavra c&o no morde, diria 0 filésofa William James diante destas circunstan- cian B, pois, apenas nos desvios homolégicos que os objetosencobertos par fio azul poderiam ser reduzidos a mumificagdes. A posigio de Bispo do Rosario parece confluir para as asertivas de Magritte em Les Mats ees Images: “Ui obj efit jamais leméne office que son nom ou que son image.” [A mancbra do simulacro de Bspo do Rosso se aproxima da posigi extabelecca por Glaes Oldenburg, Depos de suas esulturas duras de objetos do coviiano em The Sia” Claes Oléenivarg passou afer objets moles cm irl, em 1963. B sua grande marca autora, asim como os objetos recobertos de fio azul ~ as dias OR- Fs- sio wma das marcas visas de Bispo do Resi. Quando Bispo do Rosirio apresenta coisas com uma forma ¢ seu significante si- rmulado, scria possivel pensar na proposicio conceitual Linae Tés Cadeiras (1965), nna qual Joseph Kosuth justapde a coisa em si (a cadcira), sua imagem (ama fo- tografia frontal) seu significante (0 verbete cade num dicionério}, que confor- ‘mam uma nogio universal de cadeira, E possivel, no entanto, pensar os objetos recobertos por fio azul a partir da pintura La Trahan des Images (1929), de René Magritte, na qual o jogo semidtico langa um texto (cei n'est pas une pipe) que alte ‘ma que estamos diante de uma representagio ¢ no da coisa em si. Os objetos recobertos por fo azul sio diferengas vazias de conteddo. Tamém é possive! colocar em discussie outra obra de Cildo Meireles, a Aroore do Dineiro (1969), cuja etiqueta explicita que 0 volume € formado por 100 notas de 1 cruzeinw e que scu valor é de CRS 2.000 cruzeiros. De modo desconcertante, Meireles trata do “valor de troca” do objeto artistica, deixando transparente a operagio econdimica que implica a acio artistica. “A coisa deve deixar-se no seu estar em si", observa Heidegger. Essa idéia pode ser problematizada na obra de Meireles © de Bispo do Rosario, As OREAS nio podem estar em si apenas como os abjetos que apa- rentam ou simulam, Esto ali por seu valor simbélico. Portanto, apesar da real aparéncia de “mimia", esses abjetos criados por Bispo do Rositio, enformados por fios ou sendo acumulagio de coisas concretas, esto ali por um designio da cxisténcia cumprido incessantemente ao longo de décadas. Seguramente o dito de Boltanski ~ “36 podemos preservar as coisas s¢ pararmos 0 curso da vida" 39 ~ nfio se aplica a Bispo do Rosario, A coisa, para Bispo do Rosiio, ¢ “matéria enformada” por investimentos da libido, Bispo do Rosirio parcee fuer, como Magrite, uma traiglo das imagens no seu valor de troca semiotio. Seria ingénuo considerar que as operagdes lingiisticas de Bispo do Rosiio fossem das como proposighes analticas ou sob as bases platoni- cas que caracterizavam a arte concitual de Joseph Kosuth como continuidade da flosofia. Se no sistema industrial mecanizado 6 homem se toma menos coerente {que seus objetos tampouco se pode entender um objeto em fio za como ut alibi «da forma, como poderia parecer primeira vista. Bio do Resirio nfo opera com “solagies lias, mas foroce manobras de perp, Ble tem ania force into semioligiea que monta aparentes solugbes que constrangem cevtezs ago Entre as OREAs, Bispo do Rosirio imiscuiu uma certa arte de construir siléncio, © oho podetiavsualzaro riuno da mao do artista no enolar do fo em velta do volumefuta, Velar a masta com fios & mantertransparente que ni se faz qualquer promessa de ruido, O tempo esculpe a forma através da diferenga e da repetgio do gestolaborioso, O artista criow umm tro insirumental com tambo- Fim lta‘ maracatecobertos en fio azul Se uma ORFA € um contra-objeto tum simalacro, ver desatentamente no €comprecnder Walercio Caldas colocou sma rolha no urifcio de tum primitive disco de vnil. Ao impediro funcionamen- to do toca-iscos, a rolha também isla 0 ouside. Ver nto € ouvit. um duplo paradoxo visu no inexonivel comércio dos sentidos: visio, tto e andigfo. Cal- das compoe a tadigan do neaconceetimo inaugurada por Lygia Clack e Filo Oiticica« comtimsaca por Cildo Meireles, Mei-Caraie (1970-1971), um dsco- -deartsia de Meirees feito com osclador de freqGéneia encerra escult ras, uma eapiral ou uma ta de Moebius que nfo exstem na visto, mas apenas no capago, Sua plasticidadle ve enforma com feqiéncias €ondas sonoras conforma 0 terrtcio de Bindintond. Ouvie & ver Na produgio conta-acatica de Bispo do Rosirio, 0 olko escuta 0 som abalido por fios ¢ a simulagio dos pseudo- ingtrumentes. Arthur Bispo do Rosiro opetou um agenciamento perveso das formas, a partir das expectativas sonoras fincadas a representagio pela forma, A perversidade fenomenolégica cos instrumentos musicais de Bispo do Rosiio & produzir este silncio ¢ surder, Sopro ¢ percussio estio em ORPAS caladas. Ver E ouvir o silencio, Se o olhar é submetide & loucura dla ordem produzida pelos Prcho-Objets 1964 1974) de Jean-Pierre Raynaud," Waltercio Caldas intitula uma forma serodinin ca.em roferéncia a seu limite gravitacional 0 gue no roa (1977), enquanto um pandeiro de Bispo do Rosévio, na faléneia do alhar cartesi ‘do soa”. Em parafrase, o que ele faz mio & miisica... pois ¢ algadtio, tecido, abafow 0 som nas OREAs. Essa ope nha producio do Cildo Meiseles. Se Flo no estandarte dito Bie preciso destes plarnasesrita, as insti sno, poderia sero que ma cla nagdo de "gueto "ganganta grita”, como borda Bispo do Res: igho se apres Bes (como 0 arquivo, 4 prisio, o hospital psiquiduico, ence outras) abafam a voz. Ba metéfora da evse a liberdacte. Bispo do Rosirio cond para essa nogio de gueto de Meincles, ori ginada nas situages politicas em que pareca fltar ar que propagasse a vu da garganta que grilai sob opressio, Sob uma ditadura, €0 que Meiteles indicou em 1970 com Taadenes:ten-manumento a0 pres polit. Nesse scatido, a propia opera de Bispo do Rosario se revela como vox em movimento de um hipengucto. Afi, quem cala no consente.. Quem Cala Nao Consente 161 Accena da obra de Arthur Bispo do Rosario era um campo de densidade formada por acumulacio da energia simb6tica enformada em objetos. Salvo excegies, sua Singularidade espacial ndo admitia circulago externa de objetos ¢ demandava uum conffonto comparativo com certos mecanismios ¢ espacialidades da produgio da arte ocidental: a Grsamtelunsheert, a Merz, o.Ninko, 0 gueto, a Cela e a Monada de Richard Wagner, Kurt Schwitters, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Louise Bour- G. W. Leibniz, Contra a tentagio das analogias arquiteténicas, o objetivo aqui é comprecnder distinguir a “casa-forte” lugar conquistado por Bispo do Rosério no regime sociopolitico de distribuiglo dos compos a que esteve subme- tido. Em suas romnticas Voyages autour de ma chambre (Fiagns@ volta de meu guart) (1825), Xavier de Maistre fala de livros, do mundo ¢ do Outzo.*' Era seu elogio da imobilidade e da reclusdo voluniéria numa época em que se trata dos relatos dde viagens. Nao bastaria a Bispo do Rosério encontrar 0 lugar de seu corpo, pois seria necessério conquistar a “casa-forte” como a cartografia da vontade de poténcia, Seria ali o lugar de sua viagem cosmogénica em volta de sua cela. Em escuta da vor que mandava que ele fizesse com constancia, Bispo do Rosério cexperimenta 0 estado de devir, Paradoxalmente, os objetos de Bispo do Rosério nao tinham titulo, apesar de sua Precisio, de seus fcharios de gente, de seus arquivos ¢ do ordenamento de coisas ‘zcumuladas em vitrines, Os substantives pareciam se incorporar nas coisas, mas «sta eserita nfo se constitufa nea, O artista tinha a certeza de estar fazendo uma obra total, uxo do mundo, enformacao do material existente na Terra para sua revelagio e apresentacio aos escolhidos. A trajetéria de Arthur Bispo do Rosério sigificou a realizago obsessiva de uma monumental arquitctura do imaginario, Ble parecia pouco interessado num discur- 0 de tipo fantéstico que tanto predominou na earacterizacio da arte latino-ame- sicana. E impossivel enquadrar sia produgio em categorzs desta natureza. Bispo do Rosério inha suas razdes metaiscas, mas também lidou de forma especial com a conereiude de sua sociedad. Produziu uma resposta poitica para sua busca da ‘otalidade capaz. de dar conta de sua visio de mundo, entre o metafisico, o deirante © 0 descjante. A partir dessas variéveis,testemunhou 0 cotidiano, Sua colegio se consttuiu na dizecio de um ponto de vertigem em que seu trabalho pudesse estar inscrito naquilo que alguns chamam de “museu de tudo". 2 RR © conceito wagneriano de Gesamtckunstuer, surgido em 1849 em Das Kumstvrk dr Zehunf, apontava para uma arte total que incorporasse a contribuigdo unificada de todas as artes, Embora Bispo do Rosério nio fesse uma correlacio entre as diversas linguagens artisticas, o conjunto da obra aproximatia a produgio de al- guns elementos que conforniam a concepgo contemporinca de Gesamilunstewr, Para alguns, 0 conceito incluitia Hétio Oiticca e Robert Rauschenberg. Se sua Produgio for observada sob a condigaio de investimento da libido, ser verificivel que Bispo do Rosério se dedicou a construir uma toralidade complexa, superior & soma de suas partes ou de scus objetos individuais. No plano mais intimo, ele se confronta com o ideal grego que estivera na origem do conceito da Gesamiehunsterk estabelecido por Richard Wagner: a expressio de uma idéia avassaladora. O ome fiber Bispo do Rosério atuou por uma incessante repeticio modesta, que cada vez ‘construia um objeto novo ou resgatava um individuo diferente, como um “objeto * supremo da liberdade ¢ da vontade”."” Era a teatralizagio avassalada, nesse vies elewziano, na resposta a ordem para fazer: No entanto, a asa:frte de Bispo do Ro- _ aa Casa Forte Gesamtekunstwerk ahs imitans eden sirio nada tem da grandiosidade épica, viunfante ou trigica, da 6pera wagneriana. No oposto, a grandeza da casa forte se dissolvers no fituro messinico, onde “vai ser tudo plano, Nao vai ter mais abismo, Isso é o que mais me imteressa”, relatou Bispo do Rosia vestide com seu Manto de Apresmtasio (pagina 292). Ele incorporava & obra materials e artefatos que caracterizaram o miicleo de sua construc. Tanto os aspectos Formals quanto © contelido eram de significado fan- damental, Paste de sua agio estava dirigida pelos conceitos de “formar” “de- format”, Os esforgos para buscar os significados incorporados em sua construgio cenfrentavam o silncio que a envolveu, Suas preocupagdes mais obscuras ressoam nna obra, como as alusdes & alquimia, 20 mistcismo, ao hermetismo ¢ ao romantis- mo. Seu métod inclufa énfase no processo, desempenho auiobiografico, unidade onginica ¢ redengio estética. Todos esses angumentos e fatos que foram apresenta- ddos por Elizabeth Gamard descrevem, na verdade, 0 processo historico da grande Merzbau de Kurt Schwitters. Surpreendentemente, os angurmentos de Gamard pare- ‘cent seajustar com cxatidio & disciplina e ao regime produtivo de Bispo do Rositio ao longo de décadas."* Pouguissimos tveram acesso & easafne de Bispo do Rositio ou 20 atelier de Oitici- «a, Durante muitos unos obra de Bispo do Rosério ficou confinada em um quarto Era assim também a grande Mezbau de Schwitters em seu apartamento de classe média om Hannover: Nesse periodo, Bispo do Rosirio trabalhava incessantemente fem seu projeto. Se scus arquivos cram disposiivos para lembraz, no entanto, ele priprio foi submergido, como sujeito, ao siléncio institucional das 13 palavras de seu prontutirio, O significado era nulo.® rechago dos significados nao se susten- tava no inatingivel hermetismo, mas reeusswa sua légica simbélica interna. Essa permanente egfarmagdo do material do mundo, enfatizada no bordado paciente, no enrolar de fios ¢ na acurnulagio de abjetos levava & produgao uma espécie de re- engi estétiea de um mistério drfico de Bispo do Rosétio.* No texto Bases findementais para uma defniao do Paragolé (1964), Hélio Oiticica con para o sentido de seu Punangolé ao de Merz de Kurt Schwitters, dizendo que a pala- vea ai assume o mesmo carter de “posicdo experimental especifica, fundamental & compreensio toorética € vivencial de toda sua obra”. Gamard observou que uma Merz era movimento no mundo em que se fundou. Era um movimento deste mun- do, Oiticica via a Merz como uma “construgdo aberta”. De certo modo, também cera aberto o insaciivel repertério de Bispo do Rosario, cuja vida estava dedicada a0 recolhimento desses fragmentos do mundo, desde as minticias da anatomia no cestandarte Ex preciso destas palavvas excita, até a aparente mixordia de “brie-a-brac™ de algumas vtrines. Cada objeto ~ um fragmento ~ participava da elaborago escato- lgica do sentido dim dessa totalidade sempre incompleta. Merz ‘Abra de Bispo do Rosario & uma ypecda do cotiiano, inchudente de todas as formas ce afecges da vida. Esse é 0 sentido das eatedrais como “‘otalidales limitadas” que Jjustfican a devominagio Catedral da Miséria Fritica de Schwitters, diz Gamard. Nessa regio, 0 euidado formal de Bispo do Rosétio na organizagio do “material existente ‘no mundo” também denotava o foco nos contetidos, como nas exaustivas narrativas visuais ¢ verbais dos estandaries, objetos misticos ¢ roupas. obra polisémica de Bispo do Roxirio € um observatério do mundo, Tudo se preparava para uma unidade do mundo, que seria a cena da parusia, objetivo final de uma arte monsstica, A primeira vista os ambientes de Hilio Olticica e a casa,frte de Bispo do Rasério ppoderiam parecer uma espécie de maf, um caos doméstico gerado por uma int Sl acumnulago em desorcem, uma bagunga caética, enfim, a enteopia tropicalis ta. Emogées idiorsitmicas podem ser encontradas na busca edénica dos Ninas de Helio Oiticica, nas ansiedades teogdnicas de Bispo do Rosério ow na atordoante “disfuncionalidade” dos afetos nas Calls (Cela) de Louise Bourgeois. Si dimensBes substantivas. O Glaze de Helio Oiticica se oferece como “pice dos desejos huma- nos", como no Edm, com sua érea aberta 20 mito, ¢ os Ninh, ao fr, como a saida para o além-ambiente, onde se criam eélulas vazias, em que se buscaria 0 aninba- ‘mento “ao sonho de construgio de totalidade que se ergue como bolhas de possi- bilidades". No ninho-lazer cada individuo seria uma eéhula meter, afirma Oiticica.* “Tudo 0 que ha de opressivo, social ¢ individualmente, esta em oposigio”, diz Oi- ticica as posigdes de seu Programa ambiental (1966). Em O Prisons da Passagem, Bispo do Rosério anuncia seu mundo edénico, sem doenca, psiquiatria ou tristeza. Li parece ser como no matriarcado de Pindorama, anunciado Manso Antropifago (1928) de Oswald de Andrade: “a alegria é a prova dos nove”. No futuro mundo plano de Bispo do Rosirio a realidade também pareceria ser antropofagica, “sem complexos, sem loucura”, isto é, sem psiquiatras, “sem prostituigdes e sem peni- tenciérias”, como no Manifesto. Oswald de Andrade arremata: “Contra a realida- de social, vestida ¢ opressora, cadastrada por Freud.” Lygia Clark também rejeita Freud como processo: “Recusamos a idéiafreudiana do homem condicionado pelo passado inconsciente.” Ainda em O Prisionio da Fassagan, Bispo do Rosario diz “psiquiatras, nos meus tempos, niio exist no”. Havia 0 boxe, que era seu creer Bispo do Rosario teria sido campedo sulamericano de peso leve leito (paginas 284-285), com seus véus, rendas ¢ bordados ¢ o suntuoso higar aconchegante da sublimagio do amor platénico de Bispo do Rosirio por Rosan- gla Maria. Noutro objeto, um ninho esté de cabega para baixo dentro de uma ola." O objeto de novo é dedicado a Rosangela Maria, o amor sem correspai- déncia. Por fim, o trono é uma cadcira aparelhada com correntes ¢ apetrechs para transfusio de soro (pagina 198). Sua Ginica inscrigio é estagiéria, F) um aparelho rude contra 0 abandono afetivo. Seu objeto é imobilizado como numa camisa de forsa ow por uma dose quimica. Bispo do Rosario lida com a perda definitiva do objeto do desejo, alvo inatingido, do romantismo a ira da rejeigdo. O afeto nio encontra refigio. Este ninho nfo € repouso. O iiico Outro a se aninhar sem dor de abandono nessa cas:frt seria sua propria sombra Roland Barthes escreve que 0 quarto (que € a dimensio da casa-fte| é “espace fechado individual: Allin, ella: fundamento da idiorritmia”, isto é, conduz 20 Ninho Gueto fantasma de “viver juntos”. Em resposta a todo apartheid, Cildo Meireles esta- belecou a categoria das diferengas como “gueto”, que em sua obra é “local de concentragao de informagdes, Lugar por onde o saber circula e portanto adquire velocidade maior que o entorno dele e, no final, provoca uma inversio, tornanda- -8e mais rico. [..] no imerior [do gueto] haverd uma circulagao de informacdo niaior que no exterior dele”. Meirelesilustrou um billete mone gem de um iaio win esquizotiénico, em alusbes também aos modelos de gueto “reserva incigena” ¢ “institu psiquisteiea”. Sao dois modelos de uma danagio dle “viver juntos”. O titulo da obra de Meireles € definido por seu “valor facial” como Ze Grustive (1974-1978). Esti aqui um indice antiedipiano das relagdes entre capitalismno e esquizoftenta, na tradicio de Gilles Deleuze e Felix Guattar 0 ants fe uma critica aologica, pois zero era o valor atrbuido a estes grupos pela sociedade brasileira “A minha opinitio é nula”, insiste 0 estemunho andnimo de O Priioneiw da Passa- {geno filme sobre Bispo do Rosirio, O valor monetario “zero” constitui hipoteti- camente o mundo ccondmico sera diferenca. E como um Eden financeiro. Bispo do Rosario nao admitia vender seus objetos. No entanto, fez uma acumulagio de mocdas em um carro aberto (pagina 196). O modelo nao é 0 coffe, mas a circulagio, Ademais,o carro de moedas es, de certo modo, nesta mesma ordem de todas as demais coisa, sistemati2adas por seu valor simbélico, nunca por seu valor de troca ‘mas pode até ser por seu valor de uso), como os pentes, os pedacos de vidro eas fiehas de Snibus. ‘arte da distibuigo social dos corpos, Bispo do Rosisio delacou asi proprio da condigio de objet enelausuradi sob viginci a seo politico do espag. ur estatuto negocad que pasa pela imvengae de categoria, a partir dos ndvduos € das cola, pla reorganizagio solidria do mundo. £ marcante que Bigpo do Rosivio tenka confinado a sociedad frs de sua obra. Se tvesse conse posigio poderia ser vista como uma parddia da Casa de Orates da literatura de Machado de Assis, Ninguém entrava sem sia permissio ou convite. A easafinte & tum infragueto, sem escape ou refiigio, No encanto, no limite, sua manobra se afi ma como 0 gucto no gueto, A casacforte & 0 quarto-cela de Bispo do Rosirio. A condigo monastica de sua cela —um estado de definitiva clausura institucional - é um espago de escuta da vor que Ihe determina a missio. Afinal, este destino social de clausura parece the ter sido tragado por monges beneditinos na véspera do Natal em 1938, quando Bispo do Rosirio se viu escolhido. Para Louise Bourgeois, a palavra Cell Cilula, titulo de uma série de instalagdes, se refere a miltiplos sentidos, que cla exemplifica com celas de pristio, eélulas comu- ristas € células orginicas® Oiticica via cada sujeito como uma unidade celular matricial da arte. Os expagos de Bourgeois estio vinculados & microfisica do pode, com seu principio da lausura, arquitetura hierarquizada e aparelhos distiplinares, centre o5 quais Michel Foucault discute as “celas” em seu livro Vigar¢ Pic Nase ‘mento da Pristo.® Uma, Cola de Bourgeois pode ser o lugar da amnésia, da falta de ‘escuta, do abandono, da incomunicabildade, da resistincia ao abuso ¢ da vor da histeria, Na contramarcha, a cela de Bispo do Rosévio deverd conter a imensiiio do ser, nas diregdes inconcilaveis exraidas do sentido ambivalente deste verbo ‘Ainda assim, existe um objeto revestido com fio azul que tem a forme de palmate Cela ria. A cela é0 indice e o emblema de um sistema punitivo que se infitra, por no poder escapar, para surgir na obra de Bispo clo Rosirio como o retorna do reprimi- do no campo institucional das penas, Louise Bourgeois cita Jean Genet a0 afirmar que a familia € a primeira cela de prisdo, e observa uma contradicfo nas emogies de uma de suas Cees espago éde Suma cela de prisio, ¢, no entanto, vocé nio pode eseapar e nem mesmo quer es capat”. sua sufocante situagio idiorriemica. O universo de Bispo do Resivio nfo parece sufocado por confinamento out abandono, Contra a imobilidade confinada, Bispo do Rosirio recorte a uma economia da desmedida em seu regime produtive, [Nao ha uma logica de enfrentamento afetivo na obra de Bispo do Rosiio como hit nas Celas de Louise Bourgeois. “As Calas”, diz Bourgeois, “representam diferentes tipos de dor: a fisica, a emocional e psicoldgica, ¢ a mental ¢ intelectual. Quando 1 emocional se transforma em fisica? Quando a fisiea se transforma em emocio- nal?”2” No entanto, a titima coisa que se pode ter experimentado na obra de Bour- geois ou de Bispo do Rosirio seria a insipidez. Em ambos, nao ha cotidianidade sem acontecimentos plstico-imaginrios fortes. O dia-a-dia pode ser projetado em crise de estranhamento. Trata-se de ritmos proprios que se opdem ao dos demais na rede de alteridades. Nas Cela existe a preméneia de integras, fondlir ou desin= tegrar, completa Louise Bourgeois. Jé 0 lugar dos objetos de Bispo do Rosétio é o tempo. E aquele espago de sua “apresentagao” 20 mundo no futuro. Ele esteve confinado sobretudo & espera. Arthur Bispo do Rosario pensava em construir a propria casa, Haveria una ine suficigncia, mais que fisica, do quarto-cela, O repertério dos objetos de fio azul registra imiimeras ferramentas relativas aos oficios da construgio civil: fio de pruc ‘mo, rolo de pintor, pa de pedreiro, serva, esquadro, entre muitos outros. Bispo do Rositio acumulou o material necessério em vitrines € carros, cuidadosamente se- parados por categoria jolos, ladrilhos para o piso, paralelepipedos, tethas ¢vidro. Técnica, sociedade, “material existente no mundo” ¢ aspiragies individunis nao tstio dissociados dessa consirugiio. Barthes acentua que “nao se pode compreen- der a casa sem relagio com o sagrado” # Por isso, também seu lugar, indepencien- temente da forma anquitetdnica, devesse guardar os objetos da apresentaggo e a regalia do Escolbido. O desejo de ter uma casa se fixa num longo objeto de madeira (11 x 30 x45 em) coberto de cimento com cacos de vidro. E um objeto aflto, Bispo do Rosirio anoa seu projeto pessoal: “434 — como é que eu devo fazer um muro no fundlo la minha ‘asa” (pigina 122). Cobrir muros com cacos de vidro pontiagudos ¢ uma técnica construtiva popular que impede a entrada de estranhos. £ um mecanismo emble- riatico de defesa da propriedade no capitalismo periférico. Conseqiientemente, ca- cos de vidro tém uma carga simbélica marcante na arte brasileira, Ivens Machado fez quatro enormes objetos em cimento recoberto por cacos de vidro: ur mapa do Brasil (0 Mape Mud), um tapete, um bumerangue ¢ um consolador. Machado constitui, com preciso, quatro afliives corpos-espagos de pulsio di redes de subjetividade: a brutalidade social brasileira esté no insidioso mapa; a no-funcionalidade dos pequenos grupos sociais, do trabalho a familia, esta no tapete hostil; 0: conficos com o Outro esto no bumerangue, um indice pértido da equagio sujeito/objeto do desejos € a solido, a autocestruigao ou a masturbagio esto no consolador. Monada TS RNR SO RE 27 oe Essas obras de Ivens Machado e Abaeé, de Cildo Meireles, indicam que a pripria nnatureza dos materiais tem sua carga significante. Na geometria social de Meireles, a perversio da relaggio transparéncia/opacidade com eacos de vidro © outros mate Fiais aporta ruidos, ruina ¢ periculosicade. E algo que também esti controlado na experiencia de Bispo do Rosirio numa caixa fechada com pedagos de vidro (pagina 266). Atranés surgiu com o barulho de uma bola de papel celofane enrugado, reme- tendo idfia dos metais com meméria. um campo constitufdo por objetos amt _guos, que remetem a nogiies de proibigio, No entanto, através desses materiais, ar, o olhar au. calor podem passar, O espectador vai de um limite inferior, como uma linha no solo de um muscu, onde apenas esti presente a tensdo psicolégica, 20 vidro, através do qual apenas a visio pode passat Sao os fluxos do desejo, 0 retorno do reprimido, mas, especialmente, aliberdade constita. Da transparéncia invertida do vidro resultam impenetrabilidade on, no inverso, reelusio. Quando Bispo do Rosério propde que os cacos de vido estcjam no “muro do fundo” de sua casa, ele quer defender sua retaguarda ¢, simultaneamente, manter aberta ¢ aco- Ihedora a entrada da frente de sua casa. Em A Potica de Espap, Gaston Bachelard labora uma fenomenologia da casa, argumentando que “ela & a célula, ela € 0 mundo”; essa ¢ a miitua conversio elaborada pela poética dos objetos de Bispo do Rosirio como 0 espelhamento de arte ¢ existenc Se tral ser niio € a monada cerrada leibniziana, sem portas nem janclas,* a impene dade proposta pelos eacos de video em torno da easa, no entanto, no deixa nonada. Com algumas dezenas de OREAse vittines, Bispo do Rositio propie a fenomenologia da construgo da “eélula” e do “mundo”, cuja mae terialidade construiria o impenetravel, o inexienso e a percepcio. Pensado a partir dda perspectiva de Leibniz retomacio por Deleuze, Bispo do Rosario estabelecen uma conexao entre os dois labirintos: as redobras da matéria € as cobras da alma Hi de permit alusie cope e alma na anatomia de Au Precio Devas Palarras Rwrit. Talvez 0 desatio incon- cluso de Bispo do Rosisio fosse montar um mundo impenetrével ¢ sem lacunas. “E, lagqui que eu devo ser apresentaclo”, disse le cm 0 Prisionira da Passage, Bispo do Rosirio girava a rod ¢ contava histirias. A moda de um poeta épico de si 103) para contar "come Fit do Rei ade esudou fez viegem em. compania de um aca- ddinic.* O eopus da obra de Bispo do Rosizio & um quebra-cabega de miltiplas cexperiéneias ¢ dimensies do tempo, Sem titulo, teoria ou cronologia, os objets corde! nordestino, « sua rod da fovtana ‘piginas 2 oralmente “estéia de Bispo do Rosario também nio tm data, Seu marco temporal parece ter sido a 10 ¢ 0 chamado is vésperas do Natal de 1938. A agiv empitica de Bispo do Rosario compreendia bordar historias emt lugar de eserevé-as, formar objetos com fio enrolados em vez de se apropriar de coisas prontas, colecionar sem fim, produzir arquivos infindos. Tanto quanto enformar a matéria, o artista também enforma o tempo. & monumental tarefa indica que «a produtividade de Bispo do Rosério tinha algo da atuagio de Kurt Schsitters, a qual era, segundo Hans Richter, uma proliferagdo que no parava nunca, era “PRO-arte 24-horas-pordia” A vontace matérica de Bispo do Rosario procuziu tum tempo estendido. Ble sabia que «do the tomaria muito tempo. A instituigio atua para desaccleraro tempo, Sua arquitetura de esmero requeriaobsessio, Foi no tempo da repetio que eonstruiu a diferenca. Bispo do Rosivio pregou centenas de botdes dentro da malha imaging de um tecido, Antes, montou o suposte com esmeto, cerzindo pedagos de pano e forrando 0 verso para formar 6 campo para a Tempo ees ordenada prolferagdo dos botGes. Bm circunstincia andloga, Hélio Oiticica passou uma noite pregando centenas de pregos numa tbua quando sua me foi imternada emestado grave, Eo mesmo gesio acumulativo de Bispo do Roxio. Num e nowt, 0 ato continuo sublima o tempo angustiado da espera. Seu devir foi uma constante orientada pelo chamado a ago. Bispo do Rosario ndo se dedicou a simbolizagio do tempo através de objets me- ‘inicos, como ampulheta, os eldgios ¢ os metrénomos. Muito menos para cle cexisin a melancotia diante do curso inexorivel do tempo da vida, como ocorre com um Richard Strauss das Quavo Citinas Canes, ow na obra de Edvard Munch com suas representagées do proprio sentimento melancélico, Ble nfo buscow reter 6 tempo, mas manter a meméra viva em seus arquivos. ara Bispo do Rositio, no entanto,o tempo ¢ um investimento vital nas pulsdes de vida e contra uma provavel precipitagéo de entropia existenciel Bispo do Rosario sabia que tinha que acumular produtivamente. O tempo inces- sante no admitia a desconstrugo. Arthur Bispo do Rosério montou uma estralé- gia de sobrevivéncia através da ocupaco produtiva que também se constituiu em seu didlogo com a instituigio. Sem tempo suspensivo, Bispo do Rosirio foi uma “contra-Penélope” ou uma “antic -Louise Bourgeois”. Ele nfo desfazia, destecia, desconstrufa, destruia 0 que faa. ‘Nunca faria eco com a “Bourgecis-Penélope-aranha”, em scus acessos de ira ¢ cliame, que dizia: “Ida unde, Ido” (“Bu fago, desfaco, refago” ¢,literalmente, destruia para recomecar. Um dia, Bispo do Rosirio parece ter inicindo o tecido de sua teia existencial e continuou a fazé-lo sem interrupgio. Por isso, vé-se nlo- -sincronia, duragio e simultaneidade na elaboragio de obras. O repetido gesto foi sem fim. A duragio tem uma pluralidade de manifestagies, do ritmo & definicio do focus da meméria. O mesmo gesto méltiplo do fio: bordas; juntas, desfiar, cose, consertar, pregas, sobrepor, ocular, corrigr, escrever, desenhax, dizer através do visvel. Todo era uma tinica sutura do ser Por iso, sua obra, por mais visual tat que Fosse, é mais do tempo do que do espaco, como a Poesia ¢ a Misica. Era x6 no tempo, nio no espago, que o ser poderia construr sua existéncia, E sobreviver & cexistencia entre outros. Sua condigao existencial indica que, para Bispo do Rosi, foi necessario produzir durag3o no campo da libido, mais do que acelerar ou reter o tempo da cronologia. Pode-se falar de uma temporalidade atemporal do processo de Bispo do Rosério.® Os materiais estavam inscritos numa dtica escatoldgica. Seu destino flos6fico él timo era participar da representagio do mundo. O nio parar nunca de Bispo do Rosério estava sitiado pela espera — sua apresentago messinica na parusa~ ¢ 0 pparadoxal tempo lacunar para um mundo impenetrével e sem lacuna. © grande corte foi a causura institucional. Ali, o tempo é sem passado ¢ futuro, andlogo ao tempo do escravo.** O que so as expectativas de tempo para os que vi- vem uma experiéncia sem safda ou retorno? Stella do Patrocinio, uma poeta Agrafa internaca na Col6nia Joliano Morera, disse num poema que “o tempo 6 0 gés, 0 2, 0 espago vazi Quando Walter Firmo o fotografou, Bispo do Rosario dirigiu as imagens ¢ definiu como deveria ser fotografado. O fundamental para ele era que se fotografasse sua Economia sonibra, 0 mais simples e psicolégico dos duplos. O que hi nessa intrineada pro- dagio é um “ser total da escritura” ~ Bispo do Rosério estaria aqui pensado na perspectiva de Barthes. _JeandJoseph Grous estabeleveu relagies analégicas como eseritura/ trabalho, senti- \do/valor no artigo “Mars et Inscription du travail”. Bispo do Rosirio era enfitico. Seus objetos nao eram feitos para venda, Baudrillard ainda diz que “o homem io é livre de seus objetos, os objetos nao sao livres dos homens”." Bispo do Rosério reconhecia, em alta conta, apenas © valor simbélico em seus objetos, mas eram inredutiveis & condigio de mercadoria. Com Aroare do Dinkeve, Gildo Meireles ex- pie com crueza a “defasagem entre valor de troca e valor de uso, ou entce valor simbélicoe valor real” no estatuto ena inscrigo social da obra de arte. Se sua obra permanecen fora do mercado de art, estaria Bispo do Rosario conseqiientemente fora da Historia da Arte? Groux denuncia “a cumplicidade entre logocentrismo « Sflickiome’ do dinheiro ¢ da mercadoria” * A produgo de Bispo do Rositio es- teve fora do proceso ce mercado capitalista e de suas instancias de distribuigio aproptiagii. Nao foi este aparelho ideolégico que projetou sentidos para sua obra. Bispo nao passou pelo canal, segundo Ronaldo Brito, “por onde esto obrigados 2 ppassar todos os trabalhos de arte, na medida em que pretendam sé-lo”. Para entendermas esta produgio como “arte” devemos nos aproximar dela nos termos do artista, como propde Nietzsche para a arte em geral. Portanto, ela deve ser aproximada nos termos de Bispo do Rosério, para quem um conceito de arte parece (er sido irrelovante, Poucos artistas no final do século ¥ CX deixaram uma marca do impactante sobre © meio cultural brasiro como Bispo do Rosirio. Lygia Clark ¢ Hélio Oiticica parecem ter marcado até mesmo muites artistas na cens internacional. F, ademais, porsivel falar de um eleto Bispo do Rosirio na arte brasileira.” Nio se trata sim plesmente de um mapeamentoextensivo, mas de ripida mengio a quatro exemplos paradigmticos: Leonilson, Rosana Palazyan, Walter Goldfarb e Rosana Paulino, tomados a partir da mostra Regios de Minka Pasagen pela Tava, de Bispo do Ros- vio, na Rscola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro, em 1988. Leonilson borda e escreve, em alta voltagem afetva, registros da subjetivagao, das relagdes ce alteridade e seu sentimento do mundo. Rosana Palazyan fez, primeiro, uma analogia com 0 bordado da familia, um ganha-pio da sobrevivente do geno- ‘over e quarto de Sapo do Rocco no me O Pi Siw di Pas, de Hugo Desizare Dees agpector do io de Nevier de Make pbeam biograiamente a Bispo de Rosie. Deeuzesver nota 32 spp. Ne time 0 Prine de Paap (9) de Hugo Deiat © Bit Sts Mechay, The Catal of ie Mi ap. Nova York: Princeton Afutrtral Pret, 2000, pp 8-1. Ene parigraly uma inte em paifrase Asa pasagem dolar de Gamard 0 referdo ensevtado andaio de 29 fle 0 Pisin de Pose: "Mina pita € aula” “0 ages “érco” ale ao Orisa cisco, mio ‘hace qualquer efeéacn Asa OREA. HIGUEIREDO Lcano; PAPE. Tyga © SALO- MAO, Maly" de noveree de 196 Tg angrnde abi. Rio Jano: Roe, 986, 3, “Gedo, Ver gota anterior, pp 13-117, flo 1968 Poseae € Programm, pp 77 es 2 Ni Rerum” 1965. I: ge nk. Rio de _Jneicos FUNARTE, 198, p30. =e informagies fram Teac por ikon sar em ag de 205, Con se nt. Tea de Lata Pere Mon, Sto Palos Marne Font, 205, pp 95-97, Todt as ciugies de Barthes ete explo foram cas dena mt Enuessa de Cdo Mele a Pale Hetkenbolf cml de jan ce 198, Cenarion. a moeda braseira na época da reals zo do rabalho de Meices cei inka a Jerry Corey: Henry Gel laa € Rayon Foye er 8 de serbia de 1991 eqs str por ents Jy Gorey € crt Lyon Trad de Liga Ponde Vasil, Pepa: Ba tora Vous, 157, pp 136 Notas 181 2 BOURGEOIS, Laie, “On Cate fs Gree “rctinal, Lynne Cooke « Mask Francs ferade= tes. itaughe Carnegie Masears of Ar, 1991.7 @. © Gime jt. Trad. de Leh Rerone Moy ‘Sto Paulos Marin: Fonte, 2005, pp 95.97. Todas sp iuger de Bathe te apo Sram etal esa fete agar de Disagaciin Una cnteita om Ci diy Mette", por Nuria Bogut. Ta Gd ils, alec: VAM, 1985, p28 “Tradosio de Antonin dt Gosta Leal e Lis San tus Cel Rio de Jane: Lisi Eldorado Tiara, sem dat p52. O° props, yer DELELZE, Ge Data, Lal- seu Bara (1988), Campin: Papas, 1891 nim, © ate tale pintado a capa a rode Resiie nos teagan homolpcs de comparar ena roa 0 rma dda (1913) ¢ codes ‘om ama caja peta. an Tal de (1916, ‘deMare! Dicey, Hance Dad In: Dade Anton Ano, Trad David Bit. Londres: Thames and Buco, 1865, 138, Fain € na espresso de Ekzabeth Gamard na Inisadagso de Ki Snir’ Mardy The Catal (f Ent May, Ner nota sp. Occ KAR, Sou “Time sd is gre fs Lain ‘Amitica, Ls Tine and he Pipi. Psi UNES- (C0, 197, pp 135-168, Opt ota 27 sp 52 "Mark ot Maseption oa eval owe Pate: Bea 1908p. 198. Noein ei € ptr ds fot nario Arce Ro de Jano: FUNARTE, 1985, . 1, 18 inradugao dew decor Bip do Rosi- sin ambiente Draselo 1 final dos anos 0s de~ eu tontidade de Hugo Denizar, num prio tomes © depois a Lala Wander anos ais deme proissonai snes 4 peri "VA peta dos teabalion expostin, Paons 97. Paul: MAM, 187 Pics hm a pps ee * Vir HOURDIEN, Pree; PASSERON, J-C. Le Reco, Pavi Mit, 1977972 "tpaigan de Pera dos Enron da CML" [Relate de 150) fade avinado), he Ble (lina Jolie Monte. Seco Nacoral de Doengas Mentasysok An" Topp 24, jan pl ISL ® Sem nage exeeser um tat sobre Anbar ipo do Ror que four exhivament diese doa va ane. Egor pers ao final cote ua nia e nga nota de oda nner Align estencah Muito i we exter brea obra {de Big do Rosi, Algom ezeweram Dew, Meat tess sorrponderia 8 ama recesidade estat fide velo goo exch pri de, som In: Thee ‘onion 0 aria ap eat de ineroo da Cox a ano Mover, Tal necesidade esata 6 dena aparece depos que mats se dedasers 2 alta aque profigio bre mais dveraot psomas. Essa Buminagio db camo permit {iors pens now oom Sev spareerente a testo que se optmese an proces de psgaitrzagio ‘dha prada de ip do Resto e Aten, Asinninscenalearseu motor eration. Também sto texan, mesmo que sj pose! magi, que sane € a cura, Por so, foram fas, 9 quando Invites, aguas ena 8 igo pga Sa, clastnae 3 eapin “A arte uma arania ‘de suid”, armon Louse Bourges nda qe frm wt ppt cao matas versa arte no De 6 ‘one rad esta garam. Hla tbe recone een todas, gue arte amibént€ uma instincin ‘Gc aimagd, © eso inlet do texto sobre Big do Rossi sera We wr obra de dente de sSmcsma fe ato de ova, to f pate da doen ineitaioalaada). Adwais ete texo enrearia tums tarelapolica de argurentar em favor do ve lorartstco do trabalho de Arinar Bip do Resin tm spor sos que exchnem do campo da ane wa prvigan que ao correspond a cdnon concent (obra de arte So mum pas como 0 Bras a uni- ‘eridad devia Conets para assasinar Artistas ¢ Sermontara Arte. E uma expéie de soma langads pra sufocar 0 ar do murda. Sempre poderema ‘Sizer que quem cars ex Cont, pois earemos ‘come ajo artista que, aia, Uricanetincia inmate no ssa slim Testor 25 prods ‘em sabes provision Baa a grancerahamile ‘Sa Flot: aber ae wna cons consistence Sms sempee pel de ser cerculda em tz ‘enim se prinipioe em sar conclcdee [ate seria também mn primi texto sabre Bip do Rosi, com una postr provide separa ‘So dos campos, ainda qu howveste wa mengio & ft loeura neta nota derodap, uma vez que ‘standaisiaexiticlano porn ser pagoda, te rwnanioda, Brea jutpesigao ainda € meee isin Chegario dia em que oe dcatid a are de Bio do Reais sem meno 3 lucas Ox, por Hherdade de ecofa, havera mengio 3 lover 3 cess fo, prs lita 0 se hed sn {tal esto no debate No entanto se sabia que 4 itr pig de po do Resiio nko de- ‘erin er conver em spose de seduso para ‘9 logo patemala de sua procugio. A obra do i do Rosiio nip € bes porque le pease ‘dasa como lnc, Porsua densi, atureza ‘corgumentos, eta ta de rodape seria um texto Susinama, as em 5 Asim, oF ds textos, ape Sento justponos conn, cOmporany am ‘Sionyo de ecoeceravabdade atdnema da ob {Go Bip do Rosin « a eariter marcame de 10a ‘anc. O elorga de segundo to sera, pol, 0 de prblemzaro vis da adie pig ow Primates da peedveto de Bispo do Resi. Ao ontarisu propio sca pobre 0 fi enor ete i, ea aura team, em "ao, que reconecer alguras outs comeqicias fines ante de Bro do Rosa dagee- les levantadae no prime texto aca. Diseae slender ow eejetur stato oman de ate indies que pcos rejstam 3 quate fe Ina singular ess jet com un valor a eles Innes. Hi, portant, qu seeonecer que > Feng dow fo pasicor consti poe Bop do Roni fi cps de sutra debate oso 5o- Ire amacuenteabea de ante, Bp co Roxio no evita que emtasen ema ela Pasa a cha, Era igi cm sn cntole sobre a penrtagio de ‘har do Ovivo bre tas obras, Para entra Bae ‘ia que cr comida, Eo cu prepa prone ‘os guid Glia Jaana Move apenas (8 Fale deserve seus 33 anos de ated. B+ po do Rosin dn tao pra conver pune hum coutenplgie "peWoplaica” do mando ‘como reltane pers da comtraedo Gemaco- ulmi, cltica, rine de wma perf to da praia fdcereatenal sobre wm paiente Dsepition. A pacitacia do "pacino" @romstraida fa poraga.Tanibém os inermalzada no "ne to Asin, a ate pens coma parte do campo ‘St higene mena”, oe sabidament,a Tovera eas primes dads seulo NX era pate do fampa du bigene plea, E prc entender e- "hr porque ea obra xia ea ida para ser pro- nia, Joe eabe que algo que Mereau-Poty (dee de Grannee des pints no ari A ds dade Cevanne” A ida eid de Bip do Reso ‘Ema a eqatneeia eo confinamentoinstit- ‘onal, arta me de vela ser. B egos So rig “la mon de Paviow, de Roland Bates, Dedess ize que para Bape do Rocio produ ‘aes abjeton tum expag Biersrgicodestinad 2 ‘iminar coda dfeenes comportmontal defini ‘eomo doonga pote pagustn,e mak do que onto coon ques stor impede a morte presenta do jr tas da anclago mova Jo er pel tie J imag a pensar lw ee E poeta encanta? indagage swombras ‘ebre Niece pr rane Antonie Dix pode Tia wer ernpargaia pa pvr om paras & Fgura de Aethar Bie do Rovira KATZ, Chin ‘Stuck DORIA, Fanci Antonis © LIMA Laie Cinta, Vebee “Nitrate” fe Drie Bin de ‘Goma 2, Rao dais Par Tres, 1975, 312. pena cn a peg pda wed Js penny um tha eneasato? Eu pensador incu? Dede 0 ime de Macha de ‘sg sie na frie eae produ ere a8, falta orn ne Bea Arthur Big de Risso ‘Cum momen peri ee pce, 183

You might also like