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Flavio de Carvalho Luiz Camillo Osorio COSACNAIFY @spasos da arte brasileira capa quires 196, guice sobre papel, Gy x 48 cm. Pico do Etado de So Palo Frontisicto Fivo de Carvalho, dada de 1940 Qmraape Yelume do devine 9g, Sen sobre wa, 6 x78 em. Col Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderns do Rio d= Janeiro Espagos da arte brasileira/Flivio de Carvalho © Cosae Naif, 2000 (© Luiz Camillo O:orio, 2000 at edigio, 2009 Projeto e coordenacio editorial Rodtigo Naves aisio de arte e projeto grifico Fibio Miguer Coordenagio executiva Célia Euvaldo Desenvolvimento do projeto gifico Germana Monte-Mr Produgio Pablana Werneck Biigio de texto Cristina Fino Revisio. Luiz Eduardo Vicenti, Beatz Morera, Mércia Copola fe Beatriz Moreira ‘Tratamento de imagem Ponto & Melo Nesta edigio, respetou-se 0 20v0 ‘Acordo Ontogrifico da Lingua Poreuguesa Dados lnternacionae de Caalogapio na Publicagio (C2) (Cimara Besileia do Lio st, Besl) ‘Ozonia, Laie Calo -Flévio de Carvahor Lae Camilo Osocio Slo Paulo: Corse Nil, 2099, {Colecdoespacos da arte brass) 120 pp. 9s | Bibliograia soe 978-85-7505-851-2 |. Arce modern 2, Ariss - Brasil -Biogeaia 5. Coralia, Five de 199-1975 +-Tisla. Série 909601 0+709.2 Indices para cadlogo sven: ‘rts brasile'eos Apecipio critics 709.2 } Cosne Naily Rua General Jardim, 770 2" andar 01225 oto Sio Paulo sv Brasil Te gg 1 3218-1444 swourccorscnaificom.br Atendimento 20 profesior 55.11 5218-1473 Fone Joann pel Couch? fosco 1so/m° presi Isis ‘age 2500 POETICA EM TRANSITO FLAVIO DE CARVALHO Luiz Camillo Osorio ‘Agradego 0 apolo Fandamestal de Denise Maras, ace Breno Kasih, iia de (Carvalho Criss, Helotsa de Carvatio Ceisiama Pico, Toledo; do Ceauo de Documentagio Cultural AleandreFulilio, no Instituto de Bados ‘a Lsnguagem da nica: de Antonio F de Bulhses Carvalho, Ana Laci B Coelho, Antonio Manel, Ceo Loredano, Eduardo Jari, ie Renta Maris, Patria Telles = Beuno de Mala Py Agralego tambim aos colcionadones que peemiticam a repeodugio das obras de sus caleses © shriram suas casas prs sinha vst Para 0 Manuel, filho querido # uma grande tentacio acreditar que o pastadoseja determinado €o futuro, indeterminado.Tratase,no entanto d eit que 0 que nfo foi concuiio no passado soja esquecido, Os protagonists da hstriatinham sonhos,planos ambicioss, projetos Paul Ricoeur Abeleza tem apenas uma origem: a ferida, singulay, diferente para cada um, fculta ou visivel, que o individuo preserva e para onde se retia quando quer deixar 0 mundo para uma solidio temporiria, porém profunds, Jean Genet Fivio de Carvalho foi uma usina de ideias e provocagdes.A arte para cle, era ‘mals vontade do que representacZo. A dispersio pottica e a intensidade do seu trago acompanharam-no do comero a0 fim. Era um desenhista de mio-cheta ‘um engenheiro-calculista apaixonado por Freud, Niewsche e por todo tipo de sveatura do espirito. Do corpo também, diga-se de passagem. Como se diz na gia furebolstca, ele atia 0 commer e corria para cabeceat © seu lugar na histéria da arte brasilelra alnda nfo estésacramentado: Injustips & parte, sua originalidade pesou contra, Aos poucos cle val assumnindo © espago que Ihe € devido. Sem fazer concessio de nenhuma ordem, Flivio de Carvalho foi, acima de tudo, um solitirio, Apesar de membro fundador ¢ principal agitador do Clube de Arte Moderna (can) de Sio Paulo no comego dos anos 1930, sua obra foi sempre marginalizada. Este lugar i margem me Interessa, pois abre outras perspectivas de diglogo com o passado. Hle apostou todas as fichas no poder criativo da imaginacio. Sua obra antecipou 0 que velo a ser um dos grandes trunfos da ane brasileira depois 4o neoconeretismo: um “exercicio experimental da liberdade”. Nesse aspecto, Flévio de Carvalho marca um momento singular do nosso modernismo; é, tal- vez, o mais auténtico vanguardista que tivemos por aq © experimentalismo associado 35 propostas da antiarte mio teve, até os anos 1960, praticamente nenhuma penesragio na nossa cultura, Hivio de Carvalho & figura isolada, Nas verses consagradas da historiografla da ane ‘moderna brasileira, © nosso modernisino, capitaneado pelo oficialismo de Portinari e pela “timidez formal”? de um Volpi ¢ de um Guignard, nio tinba contundéncia plistica que fizesse frente 4 produgio modernista europeta. Ou Gamos por demais timidos, ou entio gastévamos todas as Forgas eriativas em atitudes © manifestos, negligenciando uma atuacio mais efetiva no ambito da produgio artistica. A ousadia e a interdisciplinaridade de suas experiéncias, somadas ao caréter sempre piblico e bastante concreto de suas Intervencies, {solam Flivio de Carvalho dessas duas tendéncias predominantes. Entre parénteses, gostaria de salientar que considero tanto a timider como a arrogincis retérica dos manifestos ¢ a transgressio comportamental antiburguesa tipicas da Semana de 22 e seus desdobramentos como tendo valor espectfico, no necessariamente negativo, na qualificacio dos modemismos de vanguarda da primeira metade do século; isso, no caso brasileiro, cujas SnstituigSes, na sua fagilidade tacanha, sempre foram tio provincianas, ganba coutra relevincia. De certo modo, aproximaria a conduta transgressora de nossos modernistas antropofigos do que disse Octavio Paz em relagio a Mallarmé: 0 seu legado no é sua palavra, mas 0 espago que ela abre. Por outro lado, ssa hesitagio entre ser ou nfo ser moderna no € apenas um travo de resisténcia conservadora, antimodernista, © que nfo deixa de ser o caso, mas & também ‘uma pergunta sobre que tipo de modernidade nos interessa © nos diz respett. bom deixar claro que nio pretenderei explicar a produsio experimental dos amos 1960 a partir da obra de Flivio de Carvalho ~ estabelecet uma relagio do tipo causa ¢ efeito. © caminho inverso tampouco é 0 correto, como se ele "Beebo Experimental da berdade foto termo cctado por Miro Padeost pare qualifiear 1 produgio de ane brasilei nos anos 196 ~ Hélio Oise, yin Chae, Lg Pape, Anton Manel ete * xa nocio de tmidee formal foi complarmente tesbalhada poe Redrgo aves em ee lo A forme dif, Segundo o autos “ums dicaldade de forma espa bos pare de nossa mebor are Tasers A retina foxtemente 08 teialhos, € com so entepiloe 3 wine ‘consivénca mais postive eonfituade fun 0 mundo eos 8 fro e rexaido, Aisanie do eariter prospectiva de parela considerivel da ace soderna".R Naw Afar fia, So Pal, Sea, 1996. p21 isin rn com fo trje New Look Sio Paulo. 1956 so fosse um artista contemporineo avant la lettre. As questées que se propiem sto proprias & sua época, embora sejam mais bem compreendidas quando tratadas sob a perspectiva do presente ‘Aiimportincia de Flivio de Carvalho para a histéria da arte brasileira, por ‘mals pontual que seja, estérelacionada & energia e inventividade que emanam de suas atitudes, Atitudes essas que no se estertizam em um culto bizarro da ersonalidade, mas que abrem todo um universo novo de experimentacio artis- tica, 2 margem das instituigdes e das priticas tradicionais, Portanto, devemos dizer que a medida de sua exemplaridade nfo nos chega atrelada 20s resultados concretos da obra ~ o que também & o caso ~, mas muito mais de uma poténcia ‘rlativa que é Uberada por uma atuagio arriscadamente plural. Por mais cabtica que tenha sido essa energia, la nio deve ser desprezada; afinal, seu poder de lnradiagio ainda ndo se esgotou. Esa possibilidade de pensar a atitude enquanto forma nos obriga a reavaliar, sem reducionismes, a propria nocio de obra e de seus modos de disseminagio dentro de contextos culturais especificos. Apesar do interesse contemporineo pelo “artista experimental” é claro ‘que as performances ¢ a irreveréncia de Flavio de Carvalho dio-Ihe wm acento particular, deve ser acrescentado que as pinturas ¢ os desenhos que produzie ‘ém uma lncensidade ainda pouco notada por nossos criticos « historiadores, Especialmente os deseahos, os quals revelam uma ansiedade grifica mais con- tundente e desenvolts, Observada em perspectiva histérica, sua pintura dos anos 1930 € 1940 & mals do que simplesmente peculiar, pois mostra uma von tade de expressio, por meio de unna materialidade que é distinta, mais vigorosa ® original do que o acanhamento formal de seus pares. A concentragio na figura humana e a énfise no gesto cromitico, no corpo expressivo da cor, vinculam-no muito mais & tradisio expressionista do que i hegeménica vertente cubista-abstrata, que iria desembocar no concretismo, ssas duas vertentes ndo devem ser excludentes; 20 contrisio, devem ser vistas como complementares, Nosso didlogo com o modemnismo genha mais oxigénio ‘com esse quadro poético ampliado. ‘Quem entendeu bem a forga © a singularidade da pintura de Flivio de Carvalho e soube perceber sua unidade com o resto da obra fol a artista Marla Leontina, em uma pequena passagem que mostra aguda sensibilidade: 2 Fea paesgern cerita por Maris Leonia fot ‘noontzada em uma praeeia onde esavam pequenos desenos, sbopos e anotares, include ma exporigfo Mion Dacost © Marie Jecnrins em Dislogo, no cr88, Rio de Janeiro. ence 1g de able 25 de mio de 199 +1. Daher, Alivio de Canoe voldple 1h ora, So Palo, oem, 1984 p21 No trago expressionista dinimico e agressive, nos retratos de pinceladas ‘explosivas com cores vibrantes de draméticae profunda intencio psieolégica, nas experiéncias e ensaios, Flivio de Carvalho sempre se autorretratou: 0 artista raro € auténtico, o homem polido’e irreverente, ser polémico com a aparincia de MefistSfeles moderna.” Como diziamos, para fazer justiga a obra de Flivio de Carvalho € importan- te reavaliar a dispersio poética ¢ a inclinagfo pela contaminagio dos meios cexpressivos. Sua obra deve ser vista como parte de um passado indeterminado que vem ganhando, com o passar dos anos, uma atualidade renovada, Por mais isolada que fosse sua atuagio, as pinturas, os desenhos e, especialmente, 0 atre- ‘vimento experimental que caracterizaram sua produgio devem ser revistos no sentido de ampliar nossas leituras do modemnismo Nascido no dia 10 de agosto de 1899, na cidade fluminense de Amparo da Barra ‘Mansa, Flivio de Carvalho era filho de Raul de Rezende Carvalho e Ophiéia Crissiuma de Carvalho. A familia rica pode dar 20 fiho uma educasdo europea. Inicialmente ‘em Parise depois na Inglaterra, sua educacio foi a mais lida possivel para a 6poca, Formado em engenharia, retarna 20 Brasil logo apis @ Semana de 22 [Na Inglaterra, em paralelo aos estudos de engenbaria na politécnica, Carvalho matriculou-se em cursos noturnos da King Edward vi School of Fine [Ants Seus primeiros desenhos datam desse periodo: 0 trago jd sala fluente e bem 4 moda da época, marcada pelo art nouveau. Como observa Luiz Carlos Daher, “a vontade de forma do art nouveau, fem muitos casos conhecidos, era animada por uma promogio dionisiaca da vida, distinguindo-se-nesse aspecto do simbolismio € do decadentistmo, ambos Essa ade- tentativasliterdrias e soturnas de superagio do academismo estérill sio inexorivel As poténcias da vida 50 iria se intensificar com o passar dos anos, ni se restringindo, portanto, a um entusiasmo adolescente De passagem, é bom frisar que a interseyio entre arte ¢ vida seré uma ‘marca constante na obra de Fiévio de Carvalho, Por mais delicada © superficial que seja tal afirmagio ~ ela comre sempre o risco de nio significar absolutamente nada ~, a impressio que se tem & que o artista fez de sua vida e obra um finico ‘© mesmo experimento, No seu caso, creio que a honestidade, a coeréncia€ © pio- nelrismo que 0 cerearam tornam a intersegéo arte-vida extremamente significa- Siva, progressista mesmo, vinculando-o a uma experténcia tipiea das vanguardas historicas com o idedrio de uma obra de arte total Depois do contato inicial com © art nouveau, sua produgio artistea logo ind se aproximar do expressionismo, Bsa aproximagio deve ser balizada pelas cspecificidades do meio cultural brasileiro, Como observou o historiador da arte julio Carlo Argan: [+] perante 2 realidade, o impressionismo manifesta uma atitude sensitiva ¢ © expresionisino uma actude roliva, até mesmo agressva |... O expressio- nlomo, spesar de se apresentar como anttese do impressionlsmo, 0 pressupSe. Tanto um como ontro sio movimentos realistas, que exigem 0 compromisso ‘oval do anista ante a realidad, ainda que © primero se resolve no plano do conkecimento €0 segundo no plano da aco. Exela-se assim hipotese simbo. lista de uma realidade fora dos limites da experincia humana, wanscendente! © expressionismo, portanto, é tomado como um compromisso © um gesto de aftrmagio do artista diante da realidade e da possivel transformacio dessa reali dade — tanto do ponto de vista social como do individual, No caso de Flavio de Carvalho, sem que isto implique qualquer tipo ée alienagio politica, muito pelo ‘ontrério, a balanga sempre pesou para o lado do individuo, da subjetividade € suas circunstincias. Em sua obra, seja a pictorica ou a arquitetdaica, os desenhos (ow a parte mais experimental, 0 enfoque é constantemente no individuo e em. suas emogiies originirias:o sentimento de medo, de dor, de prazer, de alegria e de angiistia diante da vida ¢ da morte 0 ato com o elemento mérbido, com a more, niv é encarado na sua ‘obra como negacio da vida, uina angistla imobilizadora e esterilizante, mas como algo que Ihe imprime uma urgéncia existencial, uma vontade singular de lestar limites e de pd-tos em xeque, no desa- dazo que a experimentacio cam a subjetividade ~0 sew co fio aos parimetros que regen: nossos modas de ser no mundo ~ impregiava a obra de Flivio de Carvatho, principalmente as suas Experiéncias,* de alto teor 5.6. Aegon, Blane sodeano, Ylénls, Fernando Teres Balto, 1986, p277 Riso de Carsho chamava de “experienas” sans pesucas lnneeisciplinares gue ao tinham viele com as etegorias vradiciomais de ate Assim a Experéncia 2. 219n1 serfs. Imterveno/pronoragéo cm ua proiso de Corpus Chess a de rimero 5, 1956, 20880 cago de ums toupa rmasclins tropa bent puco convenctonal— com dicta a sla © tudo. Além dso, ee ‘eras o Testo da Feperdnda, em 952, que seria ur grande ahora ete Esperia seria para vo de Carvalho a Indicago de un muleisipinar © experimental mesmo experimento, No seu caso, ereio que a honestidade, a coeréncia eo pio- neirismo que 0 cerearam tornam 2 intersegio arte-vida extremamente significa- tiva, progressista mesmo, vinulando-o a uma experiéneia tipica das vanguardas historicas com o ideério de uma obra de arte otal Depois do contato inicial com o art nouveau, sua produsio artistica logo 1rd se aproximar do expressionisimo, Ksta aproximagio deve sor balizada elas cespecificidades do meio cultural brasileira. Como observou o historiador da arte Giulio Carlo Argan: [Lu] peramte @ realidade, o impressionismo manifesta uma atitude sensitiva © © expressionisno ums acltude volitva, até mesino agressva [.].O expressio- nismo, apesar de se apresentar como anttese do impressionismo, 0 pressupde. Tanto um como outro sio movimentos realistas, que exigem © compromisso ‘oral do antsta ante a realidad, ainda que © primeiro se resolva no plano do conhecimento ¢0 segundo no plano ea agio, Exclu-se assim a hipétesesimbo- list de uma realidace fora dos limites da experigncia humana, transcendeme.! © expressionismo, portanto, ¢ tomado como um compromisso © um gesto de afirmagio do artista diante da realidac da possivel transformagao dessa reali- dade ~ tanto do pomto de vista social como do individeal. No easo de Fivio de Carvalho, sem que isto implique qualquer tipo de aienagdo politica, muito pelo contro, « balanga sempre pesou para 0 lado do individuo, da subjetividade e suas clreunstincias. Bm sua obra, sea pletérica ou a arquitetniea, os desenios oo a parte mais experimental, 0 enfoque é constantemente no individuo e em suns emogGesoriginria:o sentimento de medo, de dor, de prazer, de alegria © dle angistia diante da vida e da more © trato com o elemento mérbido, com a motte, nio € enearado na sua obra como negacio da vida, uma angistia tmobilizadora e eserilizante, mas como algo que he imprime ume urgéncia existencial, uma vontade singulee de testar limites e de pé-tos em seque E caro que a experimentagio com a subjetividace —o seu continuo dess- fio aos parimetros que regem mossos modos de ser no munida — impregnava a obra de Flivio de Carvalho, principalmente as suas Experitncias,* de alio teor 56.6. Argon, sare smodemo, Valencia, Fernando Trees Balto, 1984. .277 “Biv de Carecho chamnaa de “experitncas” suas petcas Ineaisclpinares que ao uinham vines com as eategorias radicionsis de ate Assim a Experiénesa 2. 2,193 ser sn limervengio/prowocagio em uma procssio de Corpus Chis de rimezo 5, 1956, sera tage de uma coups ‘maseulia nopicl bem ouco convenconal — com dieto a sis € tudo Além aso, ee ra oTRato ds xpernca, er 1932, que sera. wn grande hora ete Experi seria pasa vio de Carve a indleaglo de wm mull experiment Flivio de Carvalho Rowo 125 erp 43] Reuato de Marina boerp st] F de Carvalho, Diaivics ds ods, S80 Paso, Comte Nail, 2009 politico. Fosse discutindo a cidade, pro- blematizando as priticas religiosas, ow ‘mesmo refletindo sobre a moda masculina e © vestuirio tropical, uma espécie de micro- politica estava sendo posta & uz do dia. Em nenhum outro momento de nosso modemismo esteve a natureza corpo- val da experincia esttica e existencial tio ‘em evidéncia, Sua relagdo com a danga no € casual, “O bailado & expressio das mais antigas do fluxo de movimentos e taz para 4 tona da consciéncia as formas mais antigas a exteriorizagio e do comportamen- to do homem.”’ De certa mancita, toda a produgio antistica de Flivio de Carvalho, independentemente do melo expressivo, busea exteriorizar emogies primitivas ‘essentials que terlam sido reprimidas pelo processo civilizatrio. A idela, reio eu, nio seria negar esse processo, mas rever suas premissas e alargar o seu alcance Em um desenho a pastel como o Retrato de Marina Crissiuma, de 1922, percebemos o como, ainda singelo, de uma liberagio cromitica que s6iria se {ntensificar com o passat dos anos, Pela materialidade da cor, o artista constrdi a forma e assim radicaliza o t8nus emocional das suas pinturas. De algum modo, fosse por melo da pincelada, da espessura das camadas de tinta, da tensio esta- hhelecida entre a figura e o espago, ou, ainda, pela qualidade fisica da cor, sua pintura teria sempre um apelo ttle uma corporeidade evidentes. Se tomarmos, logo em seguida, 0 seu primeiro projeto de arquitetura, realizado em concurso piiblico parz 0 Falicio do Governo de Sio Paulo, em 1927, intitulado pelo préprio autor como Efiedcia, percebemos o quanto a pos ‘ca expressionista gamhava corpo na obra de Carvalho, No primelro dos ts artigos dedicados a esse comcurso escrites para 0 Diério Nacional, Mario de Andrade externa grande insatisfaedo com a pouca crlatividade dos projetos ¢ 2 falta absoluta de ousadia estética construtiva dos concorrentes, “Porque nem sequer a gente pode constatar nos concorrentes uma vontade de criar, um res- peito pela invengio pessoal, um orgulho de personalidade”; "No meio, porém, de todos estes projetos monétonos ¢ colegiais”, acrescenta ele adiante, “tem tum que berra estridente, chamando a atengio de todos para ele [..] €0 projeto ‘modernista apresentado por um engenheiro que se oculta sob o pseudénimo de Bfcicia"* Mesmo percebendo alguns problemas no projeto desse engenhei 10 descomhecido, sio destacadas 2 criatividade, a ousadia ¢ a otiginalidade, io desejadas por Mario de Andrade Observando esse projeto de Flivio de Carvalho, percebemos de saida o seu cariter cenogrifico, 2 intensidade dramética que se revela nos jogos de luz © ma monumentalidade. Como o descreveu Luiz Catlos Daher, “o palécio ima ginado por Flivio de Carvalho teria ao centzo um hall de forma semicilindrica Nas suas laterals leavam a Casa Militar © a Casa Civil, com cobertueas plamas, encimadas por jardins com espeécimes de flora brasileira ¢ viveiros para aves Fm nivel mais superior fieavam os saldes de baile e banquete, com paindis px duzidos pelo artista. Finalmente, no nivel acima a residéncia do presidente do Estado, com suas salas de trabalho. Seria sobre as coberturas superiares laterals que se instalariam as bases de aviacdo e defesa”.’ Além disso, eram previstos Flivio de Carealho Blleics 1927 Projet por Palicio da Gorerno do Exado de Slo Paulo 46 de Aaa, Arquitetara smodetns >, a Nacional Paulo, 2 fe 1998 "LO Dae, Fin de Canale = Angers c expresiomi, Sia Paulo, Pojeto, 8 bs Fivio de Carvalho Projeto para o Farol de Colombo 1928 "de Carvalho, “Manifesto do Teoeeo Salto de Mio ~ 1936" aan (Revista Anal do Salo de Maio). Sio Paulo, 1939 ttés holofotes na parte superior, os dois da extremidade com focos méveis € cruzados € 0 do meio sempre na posigdo vertical, centrando o nosso olhar © orientando as naves que porventura sobrevoassem o Palicio, A combinacio entre o titulo cientificista do projeto ~ Bficécia ~ e a porén- ‘Gia expressiva, twatral mesmo, da fachada poe mostra uma das caracteristicas Disicas da poética carvalhiana: a tensio entre elementos antagénicos. © enge- nnheiro expressionista interessava-se simultaneamente pela tecnologia ¢ pelas pulsdes irracionais da alma humana, Como ele mesmo escreveria, anos mais fo um fendmeno de rurbuléncia, com tarde, “a revolugdo estética nada mais & se consequente polarizagio de forgas animicas bisieas, fendmieno que se manifesta para marcar 0 momento hist6rico da luta”.!" Comegavam a surgir, em 1927, 08, ppontos de contato entre Flavio de Carvalho e Oswald de Andrade, em cuja utopia antropofigica vemos destacadi a figura do “birbaro tecnicizado” ssa tensio de elememios dissonantes, tio propria ao expressionism, também pode ser observada nz relagZo entre a simetria do projeco e seu aspecto cenogrifico, entre 0 equilibrio racional ¢ funcional de um lado e o cariter emo ‘ional aninico de outro, Néo por acaso, os dois painis que seriam construidos zo interior do palicio representariam, um, 2 danga, e 0 outro, o trabalho campo- niés, a vida nural. Fm um, 0 movimento livre, dissonante, dos corpos dangando, no outro, 0 ritmo eadenciado © geomérico das linhas composicionals. © corpo ‘spiritual da danca ¢ © corpo fisico do labor eotidiano com a terra. Amonumentalidade de Eficacia vai ser retomada em diversos outros proje- tos apresentados ao longo de sua carrera. Se observarmos 0 Farol de Colombo, de 1928, vemos que se repere a mesma composigfo com volumes pesados, tendendo para um eixo central que reorienta o olhar verticalmente, Apesar da simettia, hd uma tendéncia a transgredir 2 eseala humana nesses projetos de Flivio de Carvalho, A arquitetura como sfmbolo de uma poténcia sobre-humana é algo ‘que 0 vincula muito mais as tendéncias géticas, roménticas e expressionistas os povos nérdicos do que & tradigio eléssca mediterrinea fincada na medida humana. O nosso artista esta bem préximo de um William Blake, quando este afirma que “a grege é forma matemitica, mas 0 gético € forma viva". Fivio He Carvalho é, sem étivida, um romintico deslocado nos tipicos." Durante © Congresso Pan-Americano de Arquitetos, em. 1930, Flivio de Carvalho apresenta uma conferéncia que resume exemplarmente suas intengées de arquiteto e artista, Intitulada “Cidade do homem ou”, essa tese-conferéncia esforga-se para por em questio o desenvolvimento civilizatério tendo em vista a crise espiritual da tradido cristé ocidenta. Diga-se de passagem, tradigio essa rmarcada pela orientagio néedica, antimediterrinea, assentada nas opt espirito/natureza, interloridade/exterioridade, As teses de Févio de Carvalho, mesmo apologéticas em relacdo 20 progresso ¢ 20 desenvolvimento tecnolégi- co, inconscieatemente conspiravain com a légice intrinseca Aquelas oposigdes. ‘A sua vinculagdo romintica ganha ai uma complexidade interessante. A “Cidade do homem mu” deveria libertar 0 homem, deixi-lo “saltar fora do circulo, abandonar 0 movimento recorrente e destruidor de sua alma, procurar o meca- nismo de pensamento que néo entrave o seu desejo de penetrar no desconheci- do". Sair fora desse circulo e desejar 0 desconhecido significam abandonar os quadros de referéncia que pautaram a linguagem e © pensamento na tradi ocidental, apostar na capacidade humana de fandar um novo comeso, de fazer "Bata apronimagio de vio de Carvalho com co romsnlsmn Fi feta por Le Corbusier, ue 0 chamou de revoludonislo rosnintce im converst com o ata Jud Resende, refenise ova mpresto de que a obra de vio seria um spr ttdio do romantsmo em solo medterne9, 0 aque teria ificulado sua germinagio. He iscordava de minha leur prospectva que busca atualieé- lo desde o presente esto que sproxim lo do romanemo nie necesariamente implica afanélo do presene ‘Are, com algumas ‘aang requetids, cen uma possvel conemporanedade do romania, 8B de Carvalho, “Uma ese cuties —A clade {do homer mu", Ditio da Noite, Sto Faulo, 19 Jul 1950, apud Cadlogo «bs exposigio Alig de Carvalho 100 aa08 de um Revolacionsrio Romintico, cee «#842 2g0-n0¥. 1999. p86 ® Reflo-me 20 ext de Marin Heldegget Dullding dling thinking”, pubicade cm Poetry, language, ‘thought, Nova York: Harper & Row, 1976 da arte um exercicio de liberdade. Uma ambigio, talvez desmedida, mas vivida {ntensamente pelas vanguardas historieas. AA pottica de Flavio de Carvalho, na sua dispersio e negatividade, centra- v1.0 foco no que ele denominava “pesquisa da alma”. © interesse era buscar novas maneiras de pensar a subjetividade: 0 “eu” néo como uma entidade aut6- noma, mas sim como algo “inventado” no embate com 0 outro, com a cultura ‘ca istoria, A arte seria um dos mieios de experimentar novos horizontes tanto para o sujelto como para a realidade. A utopia modemista de criar 0 “novo homem” nio aparece em Flivio de Carvalho com o sinal “construtivista” dos russos ow da Bauhaus, que manti- aaham os termos de um projeto racionalistz, Nesse caso, a énfase recal sobre um tempo futuro, quando se concretizariam os ideais do presente. Nele, fazendo eco & desconstrugio antiartistica das vanguardas, 0 que prevalece é a afirma- cio de um processo artistico, a disseminacdo de uma poténcia criativa, que se realizaria integralmente no presente. O que Ihe dava certamente uma nota ori- ginal € que, paralelamente @ irreveréncia vanguardista, emos um engenheiro, alguém que james abriu mio de ume intervencio conereta na realidade. Para muitos intérpretes da cultura contemporinea, 0 deslocamento temporal do futuro para o agora & uma das marcas distintivas da pés-moder- nidade. Nao quero me estender no mérito teérico dessa discussio, Todavia, parece-me precipitada a introdugdo desse pés, que mantém um ideétio teleo- logico, progressista, tipico da estética de ruptura do modernismo, A meu ver, 0 modernismo vivia essa tensio intrinseca entre o presente € o futuro, e, nessa perspectiva, nio deve ser descartado to facilmente. A propria po de Flavio de Carvalho, fineada no modernismo, deve ser resgatada justamen- te para nos permitir repensar ¢ reeserever os desafios de uma modernidade ‘complexa e inacabada (© que interessa propor, nesse atrito entre faturo e presente, é uma outra tensio, também moderna, entre projeto € processo — usando termos mais heldeggerianos, entre construlr e habitar'” Os primelros termos dessas opo- sigdes (Futuro, projeto e construcio) estia ligedos as vanguardas positivas, os construtivismos ¢ a Bauhaus, ¢ 0s segundos (presente, processo © habitasio) is vanguardas negativas, especificamente o dadaismo e o surrealismo, ssa seria a chave positiva da volipia do negative presente em Flivio de Carvalho: a ideia dc habitagio. Como ele mesmo enfatiza, "a cidade do homem nu @ ahabitacio do pensamento”. O artista, antecipando-se ao engenheiro, vincula o construir ao habitar A arcee 2 arquitetura devem, mais do que ser uma produgdo de objetos, por em xeque e buscar reinventar as formas de vida do homem civili- zado, Para que cada trabalho ganhe forga e especificidad, seria importante olhar este hortzonte postico mais largo, a invengio da existéncia ~ do ser no mundo =, due é sempre problenmatizada e tematizada por Flivio de Carvalho. Por sinal, os seus textos no sio explicagdes conceltuats, nio pretendem justificar uma produgio artistica paralela. Bes sio pare dessa criagio, ¢ tém valor muito mais estético-artistico do que tedrico. A palavra, a linha, a cor, 0 compo, 2 roupa, a viagem., cada um desses elementos vai gankando significagio muito mais por contaminagio do que por individuacio. E uma obra que privi- legia 0 aberio em oposiel0 ao fechado, o horizonte em oposigio is fronteras; uma postica em cansito Podemos dizer que em Flivio de Carvalho a inteneS0, 0 ato, a obra e sua Aisseminagio cultural devern ser tomados como um todo, Essa visio alargada traz 4 tona a questio mencionada da habitagio do mundo. Mas 0 que viria a sera habi- tagdo na poética carvalbiana? A disseminacio da questéo artistica através do campo ampliado ds experiéncia humana, ou melhor, a arte como um fazer, que € também. , ma interrogagio sobre as possibilidades de ser do homem no mundo, Habitar & ter prosimidade mesmo ma distincia, € querer que a arte nos ponha em contato com 6 outro que trazemos em nés, a0 mesmo tempo que criarelagdes coma alteri- dade que esti no mundo. ideia de habitagio — presente nas poiticas antiartisticas do entreguerras, na obra de Kurt Schwitters, por exemplo — vem atrelada a uma aposta no poder de imaginasio de trazer 0 possivel, a ordem wt6pica do vir a ser, para dentro do real, entranhando-se em nosse linguagem e em nossas formas de ver e falar do mundo. Para isso, era fandamental o equacionamento entre ate ¢ vida. A "Cidade do homem nu”, como sintese de uma utopia attistica que 0 acompanha do comeco ao fim, deve ser pensada como um ideirio poético que quer embaralhar interioridade € exterioridade, subjetividade © mundo. Com essa espécie de manifesto particular, carta de intengies poéticas, Flivio de Carvalho firma o lugar especifico de sua atuagio crlaiva: 0 corpo, Um corpo wera que fala, sente € pensa, que traz 0 erdtico, o estético € 0 ftico irmanados. ‘Chegamos assim a 1931, ano decisivo para a histéria a arte brasileira. No Rio de Janeiro, 0 jovem Lucio Costa enfrentava © conservadorismo da Academia de Belas-Artes inaugurando um salio cevoluciondrio que fez histéria, Os acadimicos nio chegaram a ser excluidos, mas éividiram as galerias com jovens artistas de ideias mais arejadas; entre eles, Flavio de Carvalho, que expos algumas poucas pinturas. esse mesmo ano, outro evento marcante para a histéria da arte brasileira, De inicio sem tanta relevincia atistca, mas com ccerteza muito mals agressive em termos culturals: a Expevignela TEVRARTA TEDEIRA aaa Sa 1.2, realizada por Flivio de Carvalho Em uma So Paulo pro- vinciana ¢ catéliea, ee resolve testar os limites de tolerincia de AduaRoam "RAS M dufa siiciesi nani] ee Capa do lv Bxperiéncia 1.2, So Paul, lems | carlo, 931 Ys primeiea dese Experi & questo conarovers: agus stores airman que seria un afogamento sianulado ma sdolesindls, ones ugar aon exits Detxo a questo aera. tama masse religiosa ferida em seus cédigos de comportamento Durante uma procissdo de Corpus Christi ele usa um vistoso bboné verde de veludo e caminha de forma atrevida na contramio do fluxo de fis, ‘io parece nada, mas para @ época essa attude ~ manter um boné & cabega ~ era algo acintosamente agressvo, Resultado: nosso artistas escapou de um linchamento sg1acas i intervengio da policia. O conflito surgia do embate entre 0 corpo fisico & fiagmentivio do antista € o corpo mistico e unitéio dos ise seu totem, Alguns meses depois, ele langou um livro no qual centa compreender, ‘com uma escrita tedrica bastante selvagem, 2 tensio desencadeada pela sua experincia/ provocagio, Suas leituras de Freud, Nietzsche e Frazer sio condu- zidase fltradas pela experigneia vivida no conffonto com a procisséo. Sem entrar no mérito conceitual — 6 que menos importa é se Flavio de Carvalho dé ow rio uma explicagio cabivel para a psicologia das massas ou sobre a natureza da experincia religiosa ~, 0 que interessa é a ousadia de enfrentar o estabelecido, de se eolocar em risco, de viver 0 desconhecido € o inesperado. Levando-se em conta os virios desenhos feitos para a publicagZo, devemos tomé-lo muito mais, como um livro de artista do que um texto propriamente tedrico, Como esereven o filésofo José Arthur Giannotti em outro contexto, mas aque serve bastance bern para qualificar essa experiéncla, “a moralidade piblica, nna medida em que esconde uma relagio de poder, precisa ser co pensada pela ousadia da Infiasg0, mesmo que por iso, em certes circunstincias, se pague alto prego”. No caso de Flévio de Carvalho, o prego foi o quase linchamento ¢ 2 perseguigio futura de boa parte da comunidade religiosa, Beeurioso que 20 longo de todo o livro no apareya a palavra arte ou artistico «2m nenhura momento para define 0 ocorido, No entanto, olhando com perspec- tiva historia, vemos vinculagSes dretas entre essa experiénciae as pesformances, que apesir de ji estarem em voga desde o fucurisin italiano, e principalimente desde os dadaisas © surrealisias,s6 ganhariam um vocabulisio critica mais con- sistente depois dos anos 1950. 0 fato de nfo ter sido tomado como manifesto atistica di 20 acontecido um acento mais trigico,o de por-se mercé do destina, risco concreto da experimentagio nio pode str minimizado na waliagio. A “atitude” performética surge no momento em que alguns artistas radi- cais procuravam novos meios de expressio que fossem, por um lado, desatrela- dos das amarras institucionals €, por outro, contririos és normas convencionais agredindo 0 senso comum e testando os limites di experimentacio artsiic “As performances téim sido umm melo de apelar diretamente a um pblico mais amplo, obrigando a audiéneta a rever suas nogdes do que seja arte e da sua rel fo com a cultura" [Nese aspecto, mesino nlo tendo uma intengéo artista, a Experincla n, 2 pode ser tatada artsticamente. A incerdisciplinaridade, a oppo anticinstitucio- nal ea procurs por brechas no cotidiano para desafler seus parimetros de orien- 3s. Ali tagio subjazem a multas dessas préticas performs disso, ela apomta na ‘mesma diresio assinalade anterformente de “uma pesquisa da alma”, propria & poética carvathiana, pondo énfase no choque entre alma individual e a coletiva, na tensio entre 0 eu € 0 mundo, Como ele mesmo assinalara, sua atitude arto- gante nada mais era que uma experimentagio, que buscava testar a agressividade de uma multidio religioss ¢ os seus limites de civilidade e tolerincia, Vernosnessa experiéncia um eco de Nictesche, que afirmava, no Nascimento da tragédia, que 0 homem “é salvo pela arte, ¢ através da arte salva-se nele a vide", € que “s6 como fendmeno estético podem a existéncia ¢ 0 mundo justificar-se eternamente”, Justficagdo estética da existéncia e a confluéncia entre arte ¢ vida so temas caros a0 pensador alemio e ao artista paulista. R Goldberg, Performance ~ Live wt 1909 wo the pase, Nowa York, Abrams Pubshers. 1979, 9 7 junto com a exposition secrnpectva de Fivio de Carvalho ma HARPS _ cutadora Dense Matar coordenow a montages Ao espticul com 0 Ahiretor Jose Psst Neto, que fot fandsmental paras roa anise neste ‘momento ¢, quem sabe paras devida renalagio de sea papel na hisria a texto modern po Bras © G.Benphaws, “0 expressionismo no est Inerprengo ‘cenografa e dans 0 Parcerjo. 8-5 1997.89, Revita de ‘ato, Cries e eta, Deparamento deTeoxi Ao Teatro, Universidade (49 Rio de Janeiro (oxen) Seguindo no combate antilerial e na destruigdo dos valores burgueses, Hivio de Carvalho encena no cAMt (Clube de Arte Moderna), em 1933, 0 surpre- endente Bailado do deus morto, pimeizo espetéculo vinenlado ao seu Testro da Experiéncia, ssa estria devera ter sido felta por Oswald de Andrade, mas 0 eu texto © homem e 0 cavalo nio ficou pronto para a ocasiio, Independentemente de qualquer aspecto ideokégico, © que mais Interessa no Ballado'* € 2 fora cexpressiva de um teatro-danga: a invengio de uma experiencia tatral que se afr- ‘maria pela agio eénica e nfo pelo texto cramitic. ‘A enominagio de Teatro da Experiéncia ji fala por si (© teatro seria um laboratério e Funcionarla com o esptito imparcial das pesqui- sas de aboratéro. Li seria experimentado © que surgia de vit no mundo das \deias; eendrios, modos de diego, simica, dramatizagdo de novos elementos de expresso, problemas de sluminagio ¢ de som conjugades zo movimento de formas abswacas,aplcagGes de predeceminados testes (ertantes ou calmantes) ‘para observara reagfo do piblico com o intuito de formar urna base pritia da psicologia do divertinento, realizar espeticulos-provas sb para autores, espe- téculos de vozes, de luzes, promover 0 estudo esmerado da inflaéncia da cor €

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