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Comentario ao Codigo © Negécios unilaterais Artigo 457." Principio geral [A promessa unilateral de uma prestacio $6 obriga nos casos previstos na lei Sumario da anotagio: Trabalhos preparatérios (anotagao 1) Bibliografia (anotacao 2) Jurisprudéncia (anotagao 3) ‘Comentario ao preceito (anotagao 4) 1.0 principio da tipicidade dos negécios jurfdicos unilaterais II. A ratio do prinefpio da tipicidade dos negécios juridicos unilaterais IIL A reformulagao das exigéncias impostas pelo principio do contrato IV. Aremissao unilateral de créditos e 0 principio do contrato \V. A rentincia ao beneficio atribuido através de negécio unilateral VI. Regime aplicavel aos negécios unilaterais (breve nota) Trabalhos preparatérios: SeRRa, A. Vaz, «Remissio, reconhecimento negativo de divida e contrato extintivo da relacio obrigacional bilateral», BMJ, n.° 43, 1954, pp. 5-98; «Fontes das obrigagdes - O contrato e 0 negécio juridico unilateral como fontes de obrigacées», BM], n.° 77, 1958, pp. 191-225 ess., e «Direito das obrigacbes (parte resumida)», BMJ, 1960, p. 59 e, no mesmo ntimero, «Direito das obrigacdes (parte extensa), p. 217»; 1.* revisdo ministerial, artigo 414.°, BMJ, 1962, p. 50 (vd. a sintese da evolugdo em Bastos, JACINTO RODRIGUES, Das Obrigagdes em Geral, |, Lisboa, 1971, pp. 177 e s.). Bibliografia: ALMEIDA, CARLOS FERREIRA DE, Contratos I - Conceito. Fontes. Formacio, 62 ed., Almedina, Coimbra, 2017; BENEDICT, JORG, «Das Versprechen als Verpili- chtungsgrung? - Oder: Gibt es einen einseitigen Verzicht im Schuldrecht?», RabelsZ, 2008, pp. 302-325; CANakis, CLAUS-WILHELM, «Schweigen im Rechtsverkehr als Verpflichtungsgrund», Festschrift fiir Walter Wilburg zum 70. 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LA intengao deste preceito é a de sujeitar a criagdo unilateral de obrigagdes a um regime de tipicidade ou numerus clausus: as declaragées unilaterais constitutivas de obrigagdes ~ as promessas unilaterais - 56 obrigam nos casos previstos na lei (sobre ahist6ria deste preceito, od. MENEZES CoRDEIRO, 2010: 677 e ss.). Esta regra surge como corolério da op¢ao pelo principio do contrato, segundo o qual as obrigacdes, por regra, apenas se constitwem, modificam ou extinguem através de acordo entre o credor e 0 devedor (conjugacao dos artigos 406.° e 457.°) (cfr. ALMEIDA Costa, 2012: 463; MENEZES LEITAO, 2018: 273; para uma visao histérica da evolugdo do princfpio do contrato, vd. Marc-PHitirre WELLER, 2009: 59-90). IL Os fundamentos para a limitaco dos negécios juridicos unilaterais so varios. io de MENEZES CORDEIRO, 0 perigo da adstricao ad nutum, em especial no dominio da rentincia a direitos, seria o principal argumento a favor da defesa da tipicidade dos negécios unilaterais (2010: 682 e s.). Para ANTUNES VARELA, 0 fundamento da tipicidade dos negécios juridicos unilaterais seria 0 de «no ser razodveb» manter alguém irrevogavelmente obrigado perante outrem, visto néo existirem «conveniéncias praticas do trdfico que 0 exijam» (1987: 438; no mesmo sentido, F. PEREIRA COELHO, 1995: 104, nt. 271). Jé para MENEZES LEITAO, 0 perigo da existéncia de obrigacdes «precipitadamente assumidas» justificaria a limitagao da sua constituigao por negécio unilateral (2018; 270 e s.). Com base nestes argumentos, a doutrina maioritaria tem fundamentado a tipicidade ou, pelo menos, uma limitagao da admissibilidade de negécios juridicos unilaterais (MENEZES LEITAo, 2018; 273; ANA Prata, 2017: 590; ALMEIDA Costa, 2012: 463; C. Mota Pinto, 2012: 385; Pires pe Lima / ANTUNES VARELA, 1987: 438; para uma lista exemplificativa dos negécios unilaterais no direito portugués, vd. C. Mora Prxto, 2012: 386). Carwtiko DA FRADA entende, com razdo, que o perigo da snes de vincu- lacdes fades 6 uma justificagao «obscura para a tipicidade dos negocios ies Pecan jus ce vibra como poses Aeztagao da promessa contribuir para uma maior ponderacio na sua assungao, Ajustificaca Mie dos nepécios unilaterais constitutivos de obrigagdes justificagdo paraa tipicidade a iigertplectaiier wericlela ai encontrar-se. 5 no princtpio do contrato, cujo fundamento esta ideia do peor ve ida confianga do destinatario na assungao Scordo negocial enquanto representacao da & saddrdaleignit de i % cee do declarante. Nestes termos, 0 acordo significa 0 recon eulacao por parte A promesst. Assim, apenas eM C9S0s eXCecionas Teconhecimento da exigibilidade da promess- a bag dau pet as e igi negocios ju os lipicos que, em razao da sua causa e eens olo da exigibilidade da prestagao Patticularidades, tornariam disp ensavel 0 contr Por referéncia a confianca suscita: dda pela declaragao na contraparte (CARNEIRO Da 207 _S_ Comentario ao Codigo Civil ), Apesar de CARNEIRO DA FRADA ainda sustentar uma snes $ Ges, fa-lo, € certo, au tipicidade dos negocios unilaterais constitutive. i Cae Aitio ae oe vi so deixando de notar que o problema, lc neal nova ea id dito cio gue Sues 4 Tn bretha no entendimento tradicional da tipicidade dos negocios juridicos unilaterais (2004: 57, nt. 41) (od. ponto Il infra). Na opiniao de MENtz#S CORDEIRO, a tip! seria, apesar de tudo, meramente aparente 0% 1 com grande generalidade a proposta negocial Serdadeiro negécio jurtdico unilateral», e negocio una” a teia de deveres acess6rios que integram a relacdo 0” brign ca tes institutos 683 e s,). A amplitude e abstracao com que es n rita portugués, conjugada com a «abertura» ja permitida pelos negécios unilaterais fipificados na lei, seria incompativel com a ideia spicidade, uma vez que esta exigiria aexisténcia de uma descrigao pormenorizada e determinada das realidades tipicas relevantes que nao existe (2010: 683). Hi um ponto na argumentacao deste Autor que ndo pode deixar de impressionar 1, Embora a proposta nao constitua © paralelo que traga com a proposta negocial wun negéeio unilateral constitutioo de obrigagdes ~ 0 tipo pressuposto pelo Codigo neste artigo -, podendo, quando muito, em razdo de estruturalmente constituir ima declaracao negocial unilateral produtora de efeitos juriclicos, ser considerada J como um negécio juridico unilateral (neste sentido se parece inclinar FERREIRA DE f ‘ALMEIDA, 2017: 137; sobre a distingao entre vinculagdo aos termos da proposta egocial e o efeito obrigacional; no mesmo sentido, vd. JORG BeNeDIct, 2008: 314; chamando atencao para o facto de que a proposta negocial ndo funda, sem mais, uma pretensdo de cumprimento, LuDWwic Raisék, 1960: 123 e ss.). Voltando a0 ( ponto, o paralelo com a proposta ¢ importante porque a proposta, tal como esté ff delineada no Cédigo ~ por norma irrevogavel apés a sua eficacia ~, constitui uma prova da falta de razoabilidade da regra nao admissibilidade de negécios ju unilaterais constitutivos de obrigacdes, visto que a diferenca entre a aquisi imediata um diteito de crédito ou a sua aquisicao mediata através do exercicio de um direito potestativo é, simplesmente, um problema de técnica juridica. A similitude | € natureza sucedanea dos efeitos da proposta vinculativa e do negécio juridico ists out eter que daponbuin cov achtiic ania katana gts uinteraisalpcos Neste fermen, eltawon pobiee de rere negicios ultras eles Nes s, resulta um problema de interpreta a pretendeu vincular imediatamente ou se contava com a existnci ‘de um ato de consentimento ou aceitagdo da contraparte rout lado, nao > | argumento a considerar, uma vez i 7 ‘cipienda de aceitagao, é um importante impostas pelo principio do coniraid 7 resenta um abaixamento das exigencias | declaragao reipionda ela seri, por regra, de histor itp a em gue odeclaratario nao pretenda aceitar onegoietal cng ee Contr, omega ten cee alae © egéco tal como proposto porque &? de aceitacio —as mais das veves revelat mente celebrado logo que exista a inten¢a° de uma declaragio de ree. Assim, do pomerts ven eee simples ome expectativa de vinculago ime cdiata, i vineals de vista do declarante, existird um Ou» (artigo 234) o geen eeigamentefundada na snatureza do nex” aceitagio do declaratério; antes, ese tl for o caso eae atraves de Ure Quedeverdserdeserspeta eee for 0 caso, uma expectativa de vinculas- rio. Na pureza dos conceitos, ainda ser possive! Frapa, 2004: 784, nt. 875) cidade dos negécios juridicos unilaterais te ou aberta: 0 direito portugués admitiria tualquer tipo de negécio, «um teral permitiria explicar toda .cional complexa (2010: 3o admitidos no direito 208 Artigo 457° ver aqui uma manifestacao do principi ver tencia de uma declavacao tacite emerges ay sabre a mera natureza probatéria da exigencia de cag interg0 aceitar a Propestar, ed. ROLAND Seri sfego juridico, em especial do ponto i ego promes rine ine tose pasa ca $71). exemplo do uso que dispensa existencia de uma deck einen aceite pela doutri " ma declaracdo de aceitacao da fianca, Ps ina e jurisprudéncia alemas (BGH 6.05.1997, : sp34; Wotr / NEUNER, 2012: 426 e, em termos and sasannaddere rhcboneeaa i er ndlogos, sem afirmar a existéncia de um uso, antes decorrendo das circunstancias do caso, Ac. ST} 16.06.2015), ilust bem a hipotese. Assim, aquele que prestarfianga a pedido do credore lhe enviar 0 documento que a titula, nao deve esperar declaracao de aceitagdo da garantia; a retencao do locumento dir-se-ia constituir declaragéo tdcita nao recipienda de aceitacao. Porém, quem a prestar consciente deste uso — ou numa situacéo em que deveria ter conhecimento de tal uso -, nao tem como nao partir da ideia de que a partir do momento que se declara fiador se encontra obrigado, sendo que apenas uma rejeicao recipienda do beneficio altera tal situacao. A «incerteza» da posicao do proponente quanto a aceitacao é tao alta que, na pratica, quem a quiser evitar, deve expressamente exigir ao aceitante uma declaracao recipienda, 0 que significa, ent4o, uma opcao pelo principio do contrato em detrimento do negocio unilateral (sobre esta situacao de incerteza do proponente no ambito § 151 BGB, andlogo ao artigo 234.°, vd. WERNER FLUME, 1992: 657; talvez a razao estivesse do lado de ZITELMANN, 1889: 133 € ss., e, realisticamente, se devesse simplesmente optar por prescindir desta ficgdo de aceitacao). III, No sentido da superacao do principio do contrato, PriLirr HECK afirmava, de forma impressiva, que o principio do contrato «esta em contradigao com duas ideias de protecao cruciais nos direitos modernos, a protecdo da autonomia privada e a tutela da confianga»; mais & frente pergunta: «deverd o devedor, a quem o credor escreveu uma carta a renunciar ao seu crédito, ndo poder confiar nesta declaragao? Que interesses contrérios podem legitimamente justificar este ataque & autonomia privada e a protecdo a confianga?»; @ continua com a respos tais interesses contrdrios, na realidade, no existem; j4 em jeito de balanco, conclui: «0 que temos perante nds é um anacronismo, um resquicio dos direitos antigos em que as partes se encontravam limitadas a utilizagao ¥ s.). Este famoso ataque & de formas tipicas» (1994: 122; vd. JORG BENEDICT, 2008: 310e concecao tradicional da tipicidade dos negocios unilaterais deixa bem a descoberto as suas fragilidades. srdnion Nao fg se negar que, em determinadas areas, maxime no Direito oe existem boas razdes para se admitir, com maior latitude, a validade le vincula- Bes unilaterais (cfr, CARNEIRO DA FRADA, 2004 758, nt. 875). Pee eee €m razio das especiais exigéncias de tutela da confianca, cnn gem 20 Principio da autorresponsabilidade ou porque as aries, ST NTT me © da informalidade tipicas e essenciais para ° comércio, atuam na expectativa da desnecessidade de existencia de aceitacdo ou consenliTinter tee Prestagio de garantias, este fendmeno é particularmente claro, tendo a juris : ; aaa aca (por eX, Acs. STJ 04.10.2017 e Too oa 8 consis urilater st) 5.07 1997. Sobre a possibilidade 10.05.1989 " a -1989) e, ssim, de penhor me 7.1 7 : Conpemo, 2015: 451 € ss.) rainy razdes aduzidas sao suficientes Pata 2 a "RES DE Lima / ANTUNES VARELA de que nao © i i a iustificassem™, COM *Pectativas dignas de protegao que jUstH edida em que se aceite fr. P. Mota Pinto, 1995: 621; uma conduta que demonstre /ARZE, 2002: 618 e ss.); mas, NO s ja referidas consideragdes de riam conveniéncias praticas ou maior latitude, a admissao 209 Meee Comentario ao Cédigo Civil uuacdes hd que, em homenagem de nexécios unilteras, Bem Pe orig posibiidade de o credor myn eee Fines de afirmar a necessidade da sua aceitacao. Deve «esperar-se Seti que ata prfesionbante no mercado um especial enti de clon jeestatla de compamissuninterso que cei a espe lta, Chota ana contol ode urn a inca scorns is idos no dominio comercial» 0 7 , . smo poste far 9 nesta de ze de tutela da confiong ue justifiquem a admissao de vinculagdes unilaterais, seja ro meee eo Comercial seja em qualquer outra area do Direito Privado; semp: eal te n 35 existam e sejam ponderosas, nao haveré como negar a assunc: feral de ages. TV. Avia a direitos de crditos €um bom exemplo das perplexidades que regra da tipicidade dos negécios unilaterais suscita. No direito portugués, a rentincia a y diteitos de crédito 6, prima facie, possivel apenas através de remiss4o, um contrato celebrado entre o credor e o devedor (artigo 863.”). Nos trabalhos preparatorios, Vaz.Sexka, consciente do problema, entende «ser de admitir» nao ser necessatia a . aceitacdo do devedor para a perfeicao do ato remiss6rio (1954: 22 e ss, maxime 27), Em coeréncia, propée, em linha com a solucao do artigo 1236 CCI, que a remissio, quando gratuita, seja realizada por simples declaragao unilateral, sendo conferido ao devedor a possibilidade de declarar ao credor, em prazo razoavel, que nao deseja a remissao (1954: 92). A solugdo de Vaz SERRA, para além de equilibrada, refletia a situacdo do direito alemao que, por exigéncias da pratica, devidamente sancionadas pelos tribunais e pela doutrina, vem, desde ha muito, a contornar a exigéncia de acordo para remissio (§ 397 1 BGB), andloga a portuguesa. Por um lado, através da aplicagao 0 § 151 — andlogo ao artigo 234." -, reconhecendo a existéncia de um uso faz prescindir a necessidade de existéncia de uma declatacio recipienda de aceitacao da remissao (JeNs KLEINSCHMIDY, 2007: 2271); por outro, a doutrina e os tribunais tém entendido que o siléncio do devedor face a uma Proposta tem o valor de uma aceitacao (entre outros, Kak LARENZ, 1987: 267), sem que exista uma norma ou acordo que oferega ao siléncio tal valor, o que contraria os quadros gerais da dogmatica do negécio juridico (CLAUs-WitlitiM CaNakis, ago ia geral os nina fave a uma proposta negocial favoravel, impede a celebragao do negécio), Nao ha come regal eee eleeto proposta a defesa ou manutencio do principio do contrato nee en erate estas solucbes, O diteito portugués edt oe a eeto seja meramente aparente ou formal. alemao e labors nt hecios ts ate, seguir © caminho do seu congenere lpicidade dos negécios unilaterais e 0 principe es ermualmente garantem 2 Fio, Pode, sem subterfigios técnico-meteddelogh ee conttato ou, pelo contri realidade social subjacente, aceitar oe ines ese Aistanciam o direito da negécion unilaterans Oren eat 8S insufciencias da regra da tipieidade do> ' da admissa, “oo undo Pela segunda alternativa, analisem-se, a propésit0 nissdo da remissao unilateral de créditos, os det an Beral so usados para fundamentar a tipicidade eet oe es arBUMeNtos que em Para Menezes CoRDeIRO © Mentvie trace O funds ios furidicos unilaterals Feqcua Presiteda ou irrefletida (ot, ponte thf assuneao de obrigaydes TRADA a esta ideia & certeita: nao se vidlon ye eet) A critica de CARNEIRO DS de uma proposta ~ acrescente-se amb que a necessidade de aceitasa0 o a0s efeito, kit tTevogdvel e que coloca o declarant Propostos — seja uma forma apta a impedit numa situacdo de sujeig 210 Artigo 457.° ais pa pelo menos em poténcia, a justea definicio sao constituidos garantir tal resultado ( sultar do ‘mecanismo apto a garantir, 's Negécios unilaterais, que por Setiam naturalmente incapazes de 6). Na smula de LorENz, do sei Por apenas SCHMIDT-Ripty ‘Ucontetido; os ne; uma parte, FastRICH, Para ANTUNES VARELA, como se viu, nao existiria conveniéncia pratica, interesse ou expectativas do devedor que justificassem manter o credor obrigado sem a aceitacao da contraparte. O argumento prova demais. Se assim fosse, também nao existiria qualquer conveniéncia Pratica em sujeitar 0 Proponente, Hssdo de divida; como se disse, a diferenca entre inte formal (vd. ponto II supra). O reconhecimento teral 6 atest ‘ado pelas formas que a prética forjou para contornar a sua celebracao através de aceitacao e proposta recipiendas (Jens KLEINSCHMIDT, 2007: 2271 e ss.), um indicio de que, por regra, o devedor aceita a Temissao a titulo gratuito e ap enas excecionalmente se Ihe opse. Nesta linha, Vaz SERRA entendia «que é de presumir que o devedor a ni recusa la proposta de remissao], £0 seu siléncio pode interpretar-se como assentimento it remissdo», presungao da qual resultava a sua jé referida proposta de permitir ao devedor manifestar-se couten 0 efeito extintivo da declaracao de remissao unilateral do credor. Na mesma linha de argumentacio, F. PekéI&a COELHO entende que a renincia atributiva — naquela em que existe, por parte do renunciante, «a intenedo de atribuir © direito objecto de remincia abdicativa, ou a intencdo de atribuir a essa ‘mesma pessoa a Rantagem decorrente do direito renunciado» (1995: pp. 3.¢ 88. © 33 e ss.)~estard, 20 Sntrario da rentincia abdicativa, sujeita ao principio do contrato (1995: 103 e ss.) Aceitando a dificil distincao entre renuncia abdicativa e atributiva, que as mais das eves serd substituida por presungdes (F. PEREIRA COELHO, pp. 105 € ieee 277), 0 Autor conelui: «foi pensando no grupo das remissoes atributivas que se estabeleceu @ regra da contratualidade — a remissio abdicativa, que assim fica de ee ee declaracdo unilateral» (1995: p. 124). Na remissao atributiva de me a lizada em beneficio do devedor, nao se descortinariam Sraeeene Oiablemiuant Manter o credor obrigado «antes» da aceitagdo (1995: 104, nt. stencia de prey ostas argumento é, para além da sua dificil convivéncia com a israel aelde-aecie jn ie Regociais irrevogaveis, a assuncao da premissa da eon Gaaesieis atetitivs 4 Tatio i ontrato. Respiga : A e airbus co pee rede lets na eters jr do devedors for por ete aceite (beneficia non obtruduntur ou invito ae os teat ponto II supra). pene se viu, pouco consistente para o principio Nao devem, contud o estar duvidas que ninguém pode ser constrangido a aceitay contra a sua vontade, um direito criado através de uma promessa unilateral ou de aa es bal a naoé Parte (princfpio aflorado no artigo 447." 0 artige nL. ate ae . ee Tegra especifica para a rentincia de beneficios decorretits 1 Tn jure unilaterss), A rerséneia ao benetcio, uma declaragio negoci Xt Ma wren A pend deve ser comunicada ao declarante acarretando a correspondente sem demora, ®xtingdo do dever de prestagdo. 1. No que concerne a formagao, vicio Unilaterais constitutivos de obrigasocs aplicaveis as regras gerais do negocio como pressuposto a existéncia de um NB! 5 ¢ interpretagao dos negécios juridicos sao, na medida do possivel, diretamente vidico, sempre que estas ndo tenham jateral (C. Mora PINTO, gcio juridico bil 213 Comentdrio a0 Cédigo Civil forgo de sistematizacio do regime dos negéciog or . 385; merece destaque 0 €s} e sist e 35.) aoe eens realizado por DETLEF LEENEN, 20 FERNANDO OLIVEIRA ESA Artigo 458.° eC de divida cumprimento ¢ reconhecimento Promessa de ‘ i jo unilateral, prometer uma prestacio ou 1 Se alguém, por sim ecg da respetiva cas, fica 0 credor dispensado dle prover a relacio fundamental, cuja existéncia se presume até prova em conti, 2. A promessa ou reconhecimento deve, porém, constar te cei 0 srt se outras formalidades nao forem exigidas para a prova da relacao fundamenta Sumério da anotagao: Trabalhos preparatorios (anotagao 1) Bibliografia (anotagao 2) Jurisprudéncia (anotagao 3) Comentario ao preceito (anotagao 4) 1. A natureza juridica da promessa ou reconhecimento de divida TL A forma da promessa ou reconhecimento de divida IIL. A promessa e o reconhecimento como titulo executivo IV. Titulos de crédito prescritos e reconhecimento de divida V. Reconhecimento de divida particular, forga executiva e nulidade da relagio subjacente por falta de forma (AUJ de 12.12.2017) VI. Reconhecimento de divida inclufdo em clausulas contratuais gerais Trabalhos preparatérios: SERRA, A. Vaz, «Negocios abstractos — Consideracoes gerais ~ Promessa ou reconhecimento de divida e outros actos», BMJ, n.° 83, 1359. pe. See (parte resumida)», BMJ, 1960, p. 59, & ministerial, artigo 415., BMI, 1962, Dead ede nea, J iescaat i i Jactnro Ropricuts, Das Obrigacdes em Geral, 1, Lisboa, 1971, spp: Wes). i Biogas Coxoeio, A: MENEZ, Tratado de Direito Civil Portugués, I, Divito das Orig ie Contras, Negécios Unilaterais, Almedina, Coimbra, 2010, pp. 691-695; Coimbra, 2013, uo DE ALMEIDA, Direito das Obrigagdes, 12" ed reimp., Almedina, Tae a ale, pe. ter; LEIrAo, Luis MENEZES, Direito das Obrigagées, vol. | ANTUNES, Codigo Cioil Aen pn 2018, Pp 273-275; Lima, E. Pires DE 7 Vareta, J; go Cioil Anotado, vol. , 4. ed., com a colab. de HENRIQUE MESQUITA, Coimbra Editora, Coimbra, 1 72 @ ¢ ; 11907102010 (573 /08,71BOAZ-A.PLSI) IM TS-A.P1), 10. 11.2011 (4719/10. OTBMTS-A, $1), 04.04. 2014 ), 27.05.2014 (780/13. 3TBEPS. Pn aca 8) Baran yi hy fea re /n0oyx8 118), 20.12 20 ag 12.0TBAGH-A.L1-7), 29, rr 2018 cae aes PY 2 5/1311 15( 575-121 3 PA), 26.05.2015 (665/13.31 “rbhes B-B.LL-1), RP 15.09.2015 (335 /14.5T8OVR-C. 1 (6745/08.0YYLSB-B.LI-1), RC 53/12. 5TICBR-A.C1), 02.07.2013 APL), 20.12.201 ), 16.03.2016 (30: 214 » | (647/08.7TBCNT-A.C1), RG 23.11.2017 (3144/13.5TBGMR-A.G1), 27.10.2016 (2855/12.7TBGMR-A.G1) e 30.04.2015 (1072/13. 3TBBCHV-A.G). 1, O reconhecimento de divida e a promessa de cumprimento sem indicagio da causa da constituicao da obrigagdo tem como efeito a presungao da existencia de uma relacao fundamental, de uma fonte constitutiva de uma obrigacao (sobre 0 reconhecimento de divida ou a promessa de cumprimento causal, com indicacao, da fonte da obrigacao, vd. MENEZES LerrAo, 2018: 274, nt. 612). Trata-se, portanto, de um negocio juridico com «mera eficdcia declarativa, limitada it inversio do énus da prova» (MENEZES CORDEIRO, 2010: 693). Em rigor, o reconhecimento de divida ou a promessa de cumprimento nao se apresentam como um negocio juridico unilateral constitutive de obrigagées, mas apenas como um negécio na base da qual se presume aexistencia de uma obrigagao (para Menezes LEITAO, 2018: 272, 0 reconhecimento de divida ou a promessa de cumprimento nao constituiriam negocios juridicos, mas antes simples atos juridicos). Por esta razao, GALVAO TELLES entendia que © preceito se encontrava, do ponto de vista sistematico, deslocado (2010: 181). Reconhecida uma divida ou prometido o cumprimento de uma prestagao, caberé ao devedor alegar e provar a inexisténcia da relagio fundamental, seja porque, entre outras hipéteses, o negécio nao se celebrou, é ineficaz ou se encontra prescrito (cfr. Pires DE LIMA / ANTUNES VARELA, 1987: 440). Alcancando-se tal prova, ndo existe qualquer obrigagao, nao podendo o credor valer-se da promessa de cumprimento ou do reconhecimento de divida. IL. Nos termos do n.° 2, a promessa ou reconhecimento deve observar a forma escrita, uma exigéncia justificada pela necessidade de facilitar a prova de tal ato e para permitir a reflexdo do devedor sobre a «gravidade» do mesmo (VAz SERRA, 1959: 37). Se a validade da relacao fundamental estiver dependente de forma mais solene, a promessa ou reconhecimento deve observar igual forma. Ill. Com a reforma do Cédigo de Processo Civil de 2013, 05 documentos particulares que reconhecam a constituigao de obrigagées sairam do elenco dos titulos exe- cutivos (artigo 703°, n.° 1, do CPC). Assim, a simples promessa ou reconhecimento escrito nao servem como titulo para execucao, devendo seguir para injuncao ou acio declarativa comum. Importa, contudo, notar que 0 TC, no Ac. n.° 408 /2015, declarou, com forca geral obrigatéria, «a inconstitucionalidade da norma que aplica 0 artigo 703.° do Cédigo de Proceso Civil, aprovado em anexo a Lei n.° 41/2013, de 26 de junho, a documentos particulares emitidos em data anterior i sua entrada em vigor, entdo exequiveis por forca do artigo 46.°, n.° 1, alinea c), do Codigo de Processo Civil de 1961, constante dos artigos 703.° do Cédigo de Processo Civil, e 6.%, n.° 3, da Lei n° 41/2013, de 26 de juno, por violacio do principio da protegio da confianca (artigo 2.° da Constituigao)». Nestes termos, 0s reconhecimentos de divida em documentos particulares exarados em data anterior a entrada em vigor do novo artigo 703.° do CPC mantém a forga de titulo executivo. IV. E hoje jurisprudéncia assente do STJ que os titulos de crédito desprovidos de forca cambidria — os que ndo retinem 0s requisitos que permitiriam a aplicagdo do regime de abstragao substantiva previsto na respetiva Lei Uniforme ~ valem como reconhecimento unilateral de divida (entre outros, Acs. STJ 24.05.2011, 10.11.2011, 07.05.2014 e 27.05.2014). Nos termos gerais da interpretacao dos negécios juridicos, € apenas necessério que, «atenta a natureza do titulo», este, segundo as regras da interpretacdo, traduza um «ato de reconhecimento de um débito ou de promessa unilateral de prestacdo, sem indicagdo da respetiva causa» (ST] 07.05.2014), V. Tem sido discutido o problema da exequibilidade de um reconhecimento de divida particular, com data anterior 4 entrada em vigor da reforma do CPC de 2013, (04. ponto IM supra), cuja relagio subjacente, por regra um miituo, seja mula por 215 ntdrio ao Cadigo CP a Quanto aeste ponto, 0ST), no as exigéncias de igencia: «0 documento que seja oferecidg rudéncia: A guiinte juris ees 7, alinea c), do Codigo de Provess, 46.2, n.° 1, alinen Clr : - 1 io ag abrigo do disposto 0 artigh *: 329-A/95, de 12 de Dezembro), e g : ee 1961 react dada pelo Decreto-Let en A tia pecunidria ean Civil de reimento da obrigacao de restituir Wy inde, no que t0C8 40 capital comporte 0 reconke righ goza de exesuibiidade m0 4 pital Jo por falta de forma legal § a ponderacao dos interesses dle miituo nul : epuida Mi sntagao, bem consegi uaaue ag mutuadon, de cuja Fundamentocr i a lucida afirmacae ee on to on ‘e do executado, Tess So ets, oe ecuirso ao processo declarativo, como cose di a aa gic ali cone: cl da iin re erilade processus e, em geral, de wma juste materia msi ecto. Asi, conorinbecimento da divida é aproveitado para * obrigasi egal de resto (artigo 288, n.° 1), sucedinen da obrigacao principal nula por falta de forma, (artigo luao nas cldusulas contratuais gerais de um COA nied confissio de divida do capital mutuado, dos juros & de outros encargos com 0 financiamento néo padece de nulidade (Ac. ST) 16.10.2014). mento d forma aplicaveis- incumpri AUJ de 12.12.2017, fixou a Se} FERNANDO OLIVEIRA E SA Artigo 459.” Promessa priblica 1. Aquele que, mediante aniincio piblico, prometer uma prestagao a quem se encontre em determinada situacao ou pratique certo facto, positivo ou negative, fica vinculado desde logo 4 promessa. 2. Na falta de declaracdo em contrario, o promitente fica obrigado mesmo em relagio Aqueles que se encontrem na situagao prevista ou tenham praticado 0 facto sem atender & promessa ou na ignorancia dela. Sumério da anotasio: Trabalhos preparetorios (anotagio 1) Bibliogratia (anotagio 2) Jurisprudéncia (anotacio 3) ‘Comentario ao preceito (anotacao 4) 1 Anatureza unilateral da promessa ptiblica IL A promessa de prestacao IIL. As condigdes da promessa IV.A publicidade da promessa V.O cumprimento da promessa VI. A situagao prevista no n° 2 VII. A renincia do credor & prestagao prometida Trabalhos preparatrios: SERRA, A. Vaz, «Promessa publica», BMJ, n° 74, 1958: 3s >, I, n.° 74, 199% ). 285-324, e «l 5 5 Prem ndrere eDanes hBakees (Parte resumida)>, BAM, 1960, p. 60, © ministerial, artigo 415°, BMT) eens Parte extensa>, pp. 219 es; 1. visi? Bastos, Jaco Ropricues, Das om 30 € ss. (od. a sintese da evolucie & ibliografia: COWEING, A. Mente Tears ot Geral Vol. I, Lisboa, 1971, p: 14 Obrigagdes, I, Contratos, Negorne (ratte de Dirt Civil Portugués, U1, Direi he , Almedina, Coimbra, 2010, PP 0 Civil, Il, Parte Geral, Negécio Juri -gécios Unilat 697; CORDEIKO, A. MENEZES, Tratado de Dineit 216 medina, Coimbra, 2014; FRopE, Cy eed. Al i 4 at naftsfanigkeit, Mohr Sibeck Tubingen 2012, pp. 218 ey Leta, Ls ai ps, Direito das Obrigag d., Almedina, Coimbra, 2018, pp- 275 € Ment PIRES DE / J ANTUNES, VARELA, Ciidigo Ciil Anotado, vol. 1 4 sed, com 5 jab. de HENRIQUE MESQUITA, Coimbra Editora, Coimbra, 1987, pp. 441 € $8. 4 6, Avot Fo DI, Le Promesse Unilaterali, Giuttre, Milan, 1989, pp. 113 € 8s, MENDES, ys10 / SA, FERNANDO OUIVEIRA F, Comentdrio ao Cédiga Civil - Parte Geral, UCE, Prata, ANA, Cédigo Civil Anotado, vol. I, Almedina, Coimbra, 2017, SA, FERNANDO OLIVEIRA E, «2 minutes of jest and Rechtsgeschiift», Cave Laudationer, Festschrift fiir Stephan Lorenz zum Geburtstag, edigao de autor, 2016, 1 69-72; SCHAFER, FRANK, Miinchener Kommentar zum Biirgerlichen Gesetzbuch, Band #7, Autlage, C. H. Beck, Miinchen, 2017, § 657, pp. 461-471; Stitek, HERMANN, Manclener Kommentar zum Biirgerlichen Gesetzbuch, Band 4, 6. Auflage, C. H. Beck, Mainchen, 2012, § 657, pp. 2317-2325; TrLLES, I. GaLVAO, Direito das Obrigacdes, 72ed,, reimp., Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pp. 176 e ss. jurisprudéncia: Acs. ST] 08.09.2015 (201 /09.6TBVRM-A.G1.S1), 20.09.2006 (065490), 30.06.2006 (0641509), RL 17.03.1987, BMJ, n.° 366, pp. 542 e ss., e 02.03.2000 (0090708), CJ, 2000, pp. 77 e ss., RE 05.02.2009 (3193 /08-2. 1,0 Cédigo optou por conformar a promessa unilateral como um negécio juridico unilateral tipico, tendo, tal como o legislador alemao - 0 modelo seguido nesta materia foi o § 657 do BGB -, recusado a visao contratual da promessa publica (1958: 285 e ss.; para uma historia do preceito alemao e dos seus antecedentes, td, CHRISTIAN FRODE, 2012: 218 e ss.). Assim, a promessa ptiblica, enquanto fonte das obrigagées, assenta, por um lado, na promessa de uma prestacao a quem se encontre em determinada situagao ou pratique ou omita determinado facto e, por outro, na publicidade conferida a esta mesma promessa. A promessa ptiblica poderd ser conformada como um negécio juridico oneroso ou gratuito. Serd onerosa se a prestacao prometida representar ocorrespetivo da vantagem econémica proporcionada ao promitente pelo facto praticado. Ao invés, seré gratuita se apenas individualizar 0 sujeito a quem se realiza uma liberalidade (cfr. Pires DE Lima / ANTUNES VARELA, 1987: 441) LO primeiro elemento da promessa ptiblica é a existéncia da promessa de uma prestagio. Esta prestacao, qualquer que seja a sua modalidade, deverd ser determinada ou ser determindvel de acordo com os critérios estipulados no antincio, podendo ainda, nos termos gerais, ser a sua determinagao ser confiada pelo promitente a0 beneficiério ou a um terceiro (artigo 400°, n.° 1). Como qualquer outra prestacao, ésta deve observar os restantes requisitos legais da prestacao (sobre estes requisitos, ad, MeNezeS Le1rA0, 2018: 112 e ss.). Doponto de vista da teoria geral do negécio juridico, a promessa piiblica constitui uma declaragao negocial nao recipienda, sujeita, contudo, a publicidade. Assim sendo, ‘os termos do artigo 224.°, n.° 1, 2.* parte, a declaragao torna-se eficaz a partir do Momento em que é adequadamente publicitada (vd. ponto III infra). Tem aplicacao as regras relativas as divergéncias ¢ ao erro, seja simples ou ‘walificado, Neste dominio, tem especial interesse o regime das declaragdes nao “t'8s (artigo 245.°), Sempre que através das regras da interpretacao seja possivel “scortinar a falta de seriedade da declaracao, a promessa seré nula; tal acontecera, oe “x, em muitas agdes de publicidade (sobre 0 caso de uma famosa marca de “i8erantes que prometia oferecer um avido de guerra aos seus consumidores por nea Provas de compra, oi. FERNANDO OLIVEIRA E Si, 2016: 69 e ss.). Admitindo da ee da anulabilidade é realizada através de uma agao judicial, a anulagao ssa publica por erro é confrontada com a inexisténcia de uma contraparte IRISTIAN, Willenserklirung, Rechtsgeschaft 217 sntario a0 codigo Civil i 1 parte existiré apenas NOS casos em, quem propor 4 6 promitent Fora destas hipéteses, V4, 1a os possiveis destinatarios dq vel, A propositura de uma agi igado (od. o bem documenta Deverd, assim, pensar-se ilar a sua declaracao, mesmo velamou a prestacaoy G evidente que © errans poders, reclam promessa, mas nem sempre tal opcao ser E messa tenha prazo e nao exista justa causa Co jado a tal direito -, pelo que a de ser desconsi bre a revogacao, wd. artigo oder constitutivo de anular » ao sei es autonomia privada 0 P ‘Toi.2), Asolugao sera conferir a3 Sea public ° co por simples declaraca0, cumprindo, por analog. a 68 da publica ade imposta & revogagao ou dirigindo a declaragao 20 ene! q amon prestacao (par: 4: 91 a anulagao do negécio juridico § CORDEIRO, 2014: 932 € $2 @ ul Pp ; aco (para MENEZES COk a ic produz et faragao de anulacao dirig ‘da ao dec! feitos através da simples de : ida Na interpretagao da promessa, N2 auséncia de um declaratario concreto, deve ser tomado como referéncia 0 «destinatart dio ou normal pertencente, atual ou ‘otencialmente, a certo circulo de interes: es / FERNANDO OLIVEIRA ssados» SA, 2014: 538). IIL A prestagao Come? determinada ¢ que a prestacie jat Serra entendia que promessa>, wma soluc ee contra incertos, precaria sci com ‘Ac, RL 29.06.2000), també am regime unitario due P os em que ninguem™ ‘optar por revogar a exemplo, qu promi sor intentadd C pratica nos cas muitas Vezes, Iicita — bastard, por para a revogacao ou due 0 Mtilidade da anulagao nae Po io méd (Evaristo MEND! por quem praticar certo facto ou a quem se encontrar numa det ‘0. Vejam-se as situagdes em separado. O Cédigo, em linha com a proposta de articulado de VAZ SERRA, esclarece que 0 facto a praticar pode ser positive ou negativo (1954: 295), Tal facto deve, em maior ou menor medida, ser causado ou determinado pelo beneficiério da promessa. Trata-se, portanto, de um facto cuja pratica o promitente pretende estimular e que, 0 ou produto do acaso (cfr consequentemente, nao poder ser meramente fortuit Sees Scriaren, 2017: 469, n2 28). A impossibilidade da conduta requerida nao afeta a rernde da promessa, uma vez que, muitas vezes, a promessa publica terd como Fancao estimular a pratica de factos ou a obtencao de resultados que, ne momento da promessa, no so possiveis; ja impossibilidade da prestago prometida acarreta por repr, a nulidade da promessa publica. indeterminabilidade do facto a pratcar ee do yecultado a obter, por ex., a sua descrigao vaga ou demasiado imprecisa, conduziré também & nuidade da promessa publica (artigo 280°) 7 ele eesaonl Pee : Le para determinar se o ato praticado tem se, pelo contrério, um facto anterior A promess®, que por regra 0 promitente ainda nao conheca, ¢ ainda suscetivel de obrigat © promitente ao cumprimento (HRwANN SHLER, 2012: 2321, n, eraobre a interpre facio, od. ponto III infra). Trata-se de saber se o promitente preten¢ eet se chinedatoba : promitente pretendeu premiar uma juta, passada ou futura, ou se pretend: itica de tim facto novo, posterior ao aniineio da promessa Se o prommitente, n =a m2 nao declarar que apenas se obriga perante « Seo promitente nos tem 3 promensa (od. ponto VI infin), haverd af um forte indielo ne sen fact sender q ilevuicis deriiog Galera! de anincis Ga once (oe PaO viel 7 Antonis VateLa, 1987 441), Se algucm simplesreste ese otee urea ee dinheiro a quem encontrar o seu arimal eee prometer uma quantia em este ter sido encontrado antes do antincio d estimaeap mae parece que oH 7 Seshadri prom a promessa seja suficiente para nee" stando a promessa ligada a pra u jeleaia ‘de utalaio! odie Lan de um facto, haverd que distinguir consoante qual se exige capacidade para o pratica® prometida € exigivel erminada situaca Artign 459.° jicitude do objeto kr aot Tequisitos, ou uma simples conduta sem significado negocial, para a qi Se exigem os referidos requisitos (cfr. FRANK SCHAFER, poi7, n° 26, 468). fmalternativa, a prestacao pode ser prometida a quem se encontre em determinada Ffuacdo, quer o beneticidrio da pro messa nela voluntariament la a fe se tenha colocado ou no. Permite-se, assim, a eficécia de promessas relativas a factos que nao dependem da vontade do beneficisrio (2.¢., nascer em determinado dia), evitando sua qualificagio como propostas de doacdo sujeitas a aceitacao, tratando-as como verdadeiras promessas unilaterais (Vaz Sera, 1958: 296, que afirma: «a vontade do promitente é vincular-se desde logo e ndo somente propor um contrato a pessoa ou pessoas que se encontrarem na situacio prevista. E, como é vantajoso estimular, ¢ ndo contrariar, a renizacio deste objetivo, parece dever compreender-se na promessa ao ptiblico também 0 caso de promessa a favor de quem se encontrar em determinada situagion). Nesta feicao, a promessa € um negécio gratuito, através do qual o promitente pretende beneficiar um terceiro. E importante notar que o promitente pode, nos termos do n.° 2, determinar que a colocacao na situagao prevista deve ser realizada em atencao a promessa, 0 que acaba por limitar a sua relevancia a situagdes que dependem da vontade do beneficiario. IV. Ooutro requisito fundamental da promessa puiblica é a sua publicidade. Preten- dendo o promitente atribuir uma prestagao a quem se encontrar em determinada situagao ou praticar determinado ato, é necessario que a promessa seja conhecida pelos potenciais interessados (cfr. Vaz SERRA, 1958: 294). Nao existiré aniincio piiblico da promessa quando esta for dirigida a um grupo determinado e individua- lizado de destinatarios (cfr. MENEZES CoRDEIRO; 2010: 692). Tal nao significa que a promessa tenha de ser conhecida, ou pelo menos suscetivel de o ser, por todos os participantes no trafego juridico negocial, podendo, evidentemente, ser dirigida a uma categoria de pessoas (cfr. FRANK SCHAFER, 2017: n.** 20-22, 467; nos exemplos de Vaz SERRA: «aos alunos de determinado liceu, aos pescadores de determinado centro piscatério, os industriais de determinada indiistria», aos quais se podem acrescentar os subscritores de determinada publicacdo ou os participantes numa assembleia; vd., ainda, GALVAO TELLES, 2010: 179). A lei nao determina a forma de dar publicidade 8 promessa e o artigo 225.°, que faz referéncia ao antincio publico de declaragoes negociais através de um jornal da drea de residéncia do declarante, nao impoe a utilizagao exclusiva deste meio de comunicagao (cfr. FERREIRA PINTO / FERNANDO OuiveiRa £ SA, 2014: 508). Assim, o meio de publicagdo deve ser aferido em razio dos destinatarios tipo da promessa, devendo ser apto a permitir que os hipotéticos interessados dela possam tomar conhecimento. Em abstrato, podem ser utilizadas declaragies orais, jornais, sites, avisos afixados na via publica, televisdo ou radio, entre outros (cfr. MENEZES LEITAO, 2018: 275). No caso de incumprimento das exigéncias de publicidade e divulgagao, a declaracao emitida poderd, nos termos do artigo 236.", ser interpretada como uma proposta negocial de contrato andlogo a uma promessa puiblica (BGH 14.06.1955, N]W, 1955, 1473; cfr. FRANK SCHAFER, 2017: nt. 14, 466). V. Validamente constituida a promessa, esta obriga o promitente ao seu pontual cumprimento. Como qualquer outra prestagio principal, esta encontra-se sujeita a0 Tegime geral do cumprimento e do incumprimento das obrigagdes em tudo o que nao contenda com a sua especifica natureza unilateral e nao sinalagmé ° Promitente for uma parte plural, deveré ainda aplicar-se o regime da solidariedade Passiva, VLNon.°2, acolheu-se a ligao do § 657 BGB, uma consequéncia direta da opgio da Promessa publica como negécio unilateral, uma solugao que Vaz SERRA justificou >» 219 Comentério ao Codigo Civil do produzido independentemente o resulta mite pretende, ao fa2er a promess, omitente em daquele qe oT yom mele que pratica 0 facto 0 realize coma vontade tipica do Pr i da motivacao ie o realiza: apes sdir que essa v Be vaateon pati pede ie et aaa a ‘em atengdo @ promessa 4! [...] mao dee vmitenle ha rutela legal» (1958 993), Tratando-se de uma justificacao que apela 1 do promiten regra seja de naturez® supletiva, solugao que 0 Codigo oe a acolhe ao Admitir a possibilidade de eeistencia de declaragao 6" ° ! promtinguindo-se o dever de prestacdo do vtavor de terceiro, rejeitar a Prone, ex e promitente (cfr. cava 010: 180). VAZ Serra, consciente do problema, disposigao expres r n catspensvel (1960: 222; 0 artigo 4.308 DCER contém uma 1B que consagra um ireito de rendinci so por negécio juridico unilateral vincular-se a efe c ier mio [-~ ente st a vontade tfpica ou hipotética norma itente, facilmente se explica que a VIL Deve entender-se eeaga pode tal como 0 terceiro No contraip AO TELLES, 2 I : entendeu que uma .gga sobre a renuincla do credor a prestagao seria peneficio confer! ia a qualquer FERNANDO OLIVEIRA E SA Artigo 460.° Prazo de validade sem prazo de validade fixado pelo promitente ou imposto vuanto nao for revogada. A promessa publica promessa mantém-se end) pela natureza ou fim da Sumario da anotagao: Trabalhos preparat6rios ( Bibliografia (anotacao 2) Comentario ao preceito (anotac30 3) toXatio da validade da promessa até 8 revogaca0 ILA fixagao de prazo pelo promitente posto pela na IHL. Acexisténcia de prazo i {anotagao 1) tureza ou fim da promessa ena, A. VAZ, «Promessa publica», BMJ, n.° 74 1958, Trabalhos preparatérios: 3 e resumida)», BMJ, n.° 101, p. 60, & 0 pp. 300-307, e «Direito das Obrigacbes (part PP smo ntimero, «Direito das Obrigacdes (parte extensa)», pp. 996 € Si L” Fevisi0 ministerial, artigo 417. n.° 1, BM], 1962, p. 51 (oda sintese da evolucao em Basto® Jacinto Ropricues, Das Obrigacdes em Geral, vol. 1, Lisboa, 1971, p. 187). Bibliografia: Pires DE LIMA / ANTUNES VARELA, Codiga Civil Anotado, 4." ed., co™ fab. de HeNRIQUE Mesqutta, Coimbra, 1987, p. 442; Prara, ANA, Cédig? Civil J nolado, vol. I, Almedina, Coimbra, 2017, p. 592. ; TApromessa publica sem prazo de validade ¢ eficaz até que © promitente (obre a revogagio da promessa, vd. artigo 461°). A opcao legislativa contréti2 seria a de estabelecer um prazo legal de validade para a promessa, hipstese &™ que, terminado 0 prazo sem que ninguém preenchesse as condigses da promess* \blica, forcaria 0 promitente a renovar a promessa (Pires DE Lima / ANTUNES vee 1a, 1987: 442). Assim, nao havendo prazo fixado pelo promitente, optou" pele mmanutengao da validade da promessa, lancando sobre o promitente © nus eee lenpate nota, contudo, que o princtpio da proibigo de cinculaco® ree "p ae que a promessa seja valida ad aeternum (artigo 280.°, 9 coos ander que, nos termos gerais,ndo se poderd manter por mais tro lado, valerdo sempre as regras da prescricao: © credor, depos a col a revogue 20

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