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ALCIDES MAYA (Academia Brazileira ) cA Cronicas e Ensaios EDITORES BARCELLOS, BERTASO & C. — Successores de L. P. Barcelos & C. Tivraria do Globo: Porto Alegro — Filiaes: Senta Maria e Cruz Alts ivr : — 2% — pavam das lides pastoris. Fechou-se 0 ciclo das nossas guerras de limites ¢ do nosso pastoreio patriarcal, Vieram as estradas de ferro, as maquinas, os capit os bracos extranjeiros. E ELLES, os nossos pequeninos patricios do sertao, os atuais analfabetos de onze annos, os descendentes dos parias que rasgaram as estradas de penetracdo, afron- tando féras e indios, fomes e tormentas? Eucrasicamente inclinados 4 luta, serao futuros bandidos, em novos Contestados e Canudos. Mas, a Republica é forte, e o futuro do Brazil depende da im- migragao... VI Notavel de per si sé, envolvendo questdes de eco- nomia e de moral, o plano do sr. Ministro da Agricul- tura sobre catequese dos selvajens e o seu aproveita- mento em nucleos rurais, sob a chefia de autoridades da Republica, impde aos poderes publicos outro assumto de colonizagao, mais do que esse ponderoso e grave. Referimo-nos ao nosso proletariado de campo, 405 elementos que vivem da pequena lavoura e da pequena criagaéo no esquecido interior brazileiro, a todas aS Populagdes que, de norte a sul do pais, laboram aspera- mente a terra, sem educac&o tequinica, sem propriedade oe Capital que lhes permitam o desenvolvimento rie € a transtormagio da proprit te rodugael entar, num superior rejimen futur’ 5 pens ae ee de sociojenese patria, se nie do sélo, gragas a's nacionais para a posse definitiv iqueza da lavoura e da industria, — 27 — pode preocupar os pensadores € os estadistas oe num momento, qual este, assinalado pelo contras esmagador entre o nosso atrazo, a nossa inercia, o nosso parasitismo coletivo e a rude, franca, vitoriosa expan- sdo profissional das outras ragas que nos demandam em levas constantes 0 territorio e a fortuna? Seremos, ao menos, um agregado super-organico em evolugao, ga- nhando ao tempo, carateres inconfundiveis, ou dos fa- tores etnicos que aqui, desde a conquista, se encontra- ram, representamos apenas restos inviaveis pera a vida? O Brazil j4 formulou nitidamente o seu destino. Prolongamento da civilizacgio iberica, dando um tipo novo pela incorporagio progressiva aos brancos dos negros, dos indios e dos seus descendentes mesticos, segundo a formula, inspirada no positivismo, de Annibal Falco, ou produto sextiario de evolucdo, resultante de portugueses, africanos, selvajens, meio fisico, idéias européas, como quer Sylvio Romero, constituimos, ja pelo condicionalismo de meio, ja pelos ajentes morais, uma_unidade 4 parte no seio dos povos ocidentais, Europeus de alma, presos ad—Veélho Mundo pela relijiao e pela cultura moderna, devemos, todavia, acen- tuar de todos os modos um feitio orijinal, costumes par- ticulares, virtualidades de sentir formas de pensar que se traduzam, dentro da civilizagéo, num ideial dis- tinto de patria. Eis a concepgiio historica aceita, entre nés, por todos Os publicistas, concepgao verdadeira e justa, unica pos- sivel ; Porque, se a considerassemos como simples aco- modagao de principios gerais ao caso brazileiro, seria- mos forgados a compreender a Nossa existencia de Povo como transitorio fenomeno de inferior colonialismo na vida americana. — 2— Sao necessarias tres condigées para que uma patrig se consi autSeaBa lado SE Delas pro- cede a nacionalidade, que, lepois de tormada, tambem opéra_ estaticamente, diferenciando-se. A partir dai, ndividuade e variavel, consoante os influxos de €poca e de progresso exterior, que sempre se lhe refletem no viver intimo pela arte, pela ciencia € pela industria, a patria delimita e mantém a sua area e exerce a sua funco no concerto humano. Ora, as aludidas condigdes possuimol-as e, gracas a elas, mantivemo-nos unidos até hoje, mau grado todas es lutas de um passado curto, porém tumultuario. Mas a situaco da America, exije que se nao aban- done 4 forca inconsciente da historia o trabalho de agru- pamento, de fusdo e de surto economico de povos saidos para a vida autonoma, de um sistema colonial exte- nuante e numa fase marcada por vasto movimento mi- gratorio de ragas fortes, armadas de todos os recursos para a exploragao dos continentes virjens e irresistiveis no choque com as populagées atrazadas de outras par- tes do mundo. E dada a colonizacio dos tratos mais ferazes 40 Brazil pelo Europeu,dada a entrada vitoriosa na indus ‘ria local, de grandes correntes de capital extranjeite. 'atos naturais e necessarios, nao sera de temer que %° desamparo de qualquer solida diregio socioloiis? Prestada intelijentemente, o elemento nacional, re?! Sentado pelas suas classes de trabalho, perega, desapr- Priado, numa lenta, porém segura obra de ataque - es reto voc: > Provocando um resultado final de completa constituica in wig, como Spencer classificou essa verdadel morte de povos ? : — 29 — O problema impde-se, temerosamente ; € {oi pene sando nos seus termos que Euclides da Cunha, a Pp! posito das populagdes sertanejas, es! abeleceu o dilema S Sel i s popula : «Ou_progredimos _ou__desaparecemo: Se tare Talia permaMTu aos poderes publicos do Brazil que havemos de fazer desses doze ou treze milhées de mestigos analfabetos que por A vejetam ; e que, ainda recentemente, Assis Brazil, tido mais alto as nossas camadas agrarias, nao merece menos consideragao que o colono immigrado... Mas € somenté neste que Se ay como causa e justificativa de preferencia a superiorida- de de seu esforco prospero, pela constancia, pela pre- videncia, pela pratica, pela associacgdo sobre o intermi- tente, frouxo, desalentado labor do nosso habitante de sertao e de campanha, escravo das forgas brutas sob o ponto de vista da natureza, e, sob o social, cativo de um rejimen tiranico e exaustivo. Entretanto, nao se compreende que nas mesmas circumstancias iniciais, submetida 4 influencia depri- mente de um habitat immenso e selvajem, isolada e su- jeita durante seculos a porfiadas lutas de tarifas e de fronteira, qualquer outra raga teria chegado, mais ou menos, a identicos resultados; e que, a exemplo de qualquer outra, a nossa, removidos certos obstaculos e assimilados certos processos, apta seria, sem duvida, a envolver normalmente, vencendo-se a si € ao meio, nu- ma éra de mascula e fecunda labuta. Se ha fato lamentavel é justamente o de se nao hz ver afirmado na economia, como nas letra: tica de pais, onde claro ee iS € na poli- j& se denuncia 0 espirito o de ter ticado para traz o de estar immobili- ncompleto de organizagao esbogo it nacion2: 5 7 zada num primeiro utilitaria. Pois nao devia suceder as falhas da sua educag ' cia industrial de hoje ? Viciada desde os primordios pela escravidio, es- terilecida pelos processos coloniais, a sua linha ascen- cional, atravéz de todos os Estados, veio do cativeiro ao trabelho-2_soldo, num _quadro de s miseraveis. Nem propriedade, nem dinheiro; a propriedade nas mos de familias privilejiadas, compondo o nucleo eristocratico dos velhos povoadores brancos; 0 dinhei- ro acumulado no cofre dos negociantes de aventura € dos monopolizadores da industria ; e a populagdo de in- terior, os agregados, os feitores, os capatazes, os pedes, os tropeiros, os carreteiros, Os elementos vivos, milha- res e milhares de grupos proletarios, quasi todos de fundo mestico, analfabetos, infamados de tronco, enver- gonhados da vileza de estirpe e ligados 4 patria apenas pelo imposto, pela compressao policial, pelo voto nos cros eleitorais, pela placa de fila nas guerras ex- assim, atentas @s suas ori- o, eo seu abandono na jens, terrive! concurren| eae et , fee ae regular das classes tor- 8 Casta tavorecida Vv entro do proprio pais, em que no bacharelismo. ‘ieee exgotando aos poucos, perdida sem que © povo the fomes Puolico e na politicajem. ¢40, principios d Srnec’, na area cordial da pro- da em liquidaca © Frenovamento, em que cada fazen- ‘uicacdo, cada enjenho falido, cada estancia mutilada pelas hi , crangas vai SSi gs Propriedades de tore 1 passando para sindicatos € Mais um secull 0, € se nao Soubermos aproveitar 2 tees massa campezina brazileira, fixando-a ao sélo pelo tra- balho rendoso, abrindo-lhe escolas, favorecendo-a com aparelhajem moderna, permitindo-lhe meios de tran- sportes, preparando-a, numa palavra, para a transfor- macao por que estamos passando, e nao conseguiremos nier nem a nossa filiagdo etnica, nem as nossas tra- digdes civicas nem a nossa lingua. Na formagdo das ragas e no prevalecer das civili- zagoes a forga integrada por excelencia € a lingua. Sem linguajem propria, ndo ha nacionalidade. Foi pelo idioma que o imperio romanizou as suas Principais provincias; foi pela cultura tendo como instrumento 0 idioma, que ficou em Franga 0 espirito latino ; foi pelo idioma que Dante unificou moralmente a Italia; foi o idioma, definitivamente triumfante nos Lusiadas, que conservou Portugal 4 parte da Hespanha e defronte de as_as outras nacdes modernas. E’ a lingua que perpettia a nacao, que” permite pela arte a consciencia pinturesca do meio, que defini- tivamente carateriza_a nacionalidade Abundariam fora das nossas fronteiras ocidentais os exemplos, se os quizessemos buscar: atravéz de todo o orbe, a ingua tem sido. e serd a suprema vis de -resiste ede exp: ra, no Brazil, o conflito idiomatico entre o por- tugues € 0 alemao e o italiano, por exemplo, jd re- veste feicdo de excepcional gravidade, que se traduz no recuo do primeiro em dilatadas zonas coloniais fortes € florescentes. Est4 provado que € pela relijiao, pelo direito e pela arte mais do que pela ciencia e pela industria, que as linguas se impdem ; mas poderemos em consciencia fiar ura ainda em grande parte de reflexo, da nossa relijiao popular, com base puramente fet. chista e dos nossos institutes juridicos, mal adaptados oy caéticos, 0 prevalecimento do vernaculo em trechos ter- ritoriais de povoamento dia a dia mais denso e€ mais progressista ? ae O problema formula-se em linhas incisivas : ou seremos uma nacionalidade equilibrada economicamente no seu territorio historico, falando, com pequenos va- riantes dialetais, o portugues, ou mos converteremos num conglomerado de ferteis colonias, que, a despeito de uma ficticia independencia, s6 muito mais tarde e sob a influencia de intensa cultura européa, noutro ciclo de sangue branco puro, como nos Estados Unidos, ad- quirird a lucida intuigao de um destino comum supe- rior. Exposto assim o caso brazileiro, vale muito cate- quisar indios, entregando-lhes terras devolutas, forne- cendo-lhes utensilios agrarios e ministrando-!hes com a leitura as nogdes eticas indispensaveis ; mas tambem vale curar dos interesses dos nossos infelizes patricios ja incorporados a patria e presos, por mil vinculos, 4 miseria que os dizima e atrofia. A experiencia vale a pena de ser tentada; e deve scko num pais que possue leguas e leguas de terren0s ibe os, milhdes de habitantes vivendo de colheitas de whe sno fs i coe se acha em latifundios chac pet — yez de valorizar o trabs oo aerolas + pais que em VE : abalho dos nacionais apéla desespera- damente para o braco extranie F -reoandd # xy. anjeiro, sobrecarregande producdo ; pais onde os estadistas sonhz introduzit ne corpo da nagdo multiddes d etal de en- Sinarem a lér as multidd: Selecta es locais... da nossa literat SO — 33 — Que poderao fazer de hoje para ei ae alojados lento e lento pelos novos metot los € 7 adi vas forcas utilizadas na lida fabril, no servigo ag! con nas vias de transporte, oS brazileiros, de num ; prole, dos nossos campos, das nossas serras, do Pro- prio litoral invadido e dominado pelos alienijenas soo a protecao das emprezas € do Estado ? : ane Sao fracos : desaparecam,—respondera 0 darvinis mo imperante ; mas aos teoristas brutais que, irmaos, os esquecem e condenam, poderemos responder que, com eles, perecerd tambem a nacionalidade, de que sao, afinal, a unica e derradeira reserva de enerjia. Vil “., Pacqua clio prendo giemmai non si corse...” (Paradiso-II-7) Todo cronista de jornal é um poeta mais ou me- nos falho, do inedito. Para nds, comentadores efeme- ros de aparencias, vale, sobretudo, o resalto orijinal dos sucessos € dos tipos. Sabemos que 0 nosso pensamen- to, quando muito, viveré em estima a curta vida das libelulas, vibrantes num raio de sol entre o nativo pan- tano € o vago céu azul... Metafora? von ang oe imajem que nos repete, alterando-nos ; cies mie Mas, fraca sentimos ‘et ‘ panei: de serem uniformes ti tat - featasla sti los e, atravéz da palavra, que S a mesma ori ijinal essencia, alee de coisas e de séres, : NO) enigmatico Ec i

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