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ALCIDES MAYA (Academia Brazileira ) cA Cronicas e Ensaios EDITORES BARCELLOS, BERTASO & C. — Successores de L. P. Barcelos & C. Tivraria do Globo: Porto Alegro — Filiaes: Senta Maria e Cruz Alts ivr : gst a0 ne cul? —19— | mediocres. Historia, lendas, sumtos € vultos do pais, tudo isso provoca sorrisos. Aludir a uma patria futura orijinal, herdeira de tra- digdes Proprias, perpetuando uma lingua propria rejida por leis proprias, que tolice ! Faces conheco, palidas de impudor, em cuja flacidez essas linhas que escrevo provocam, unica contragio muscular Ppossivel, um esgar de mascara encomendada, Que esses recebam a ligao de Bilac. Ela conseguird talvez corrijir os pen- dores viciosos de um folhetinismo de emprestimo, tao corrosivo quanto falso. —’ necessario cue voite a ser nossa a arte no Brazil; nossa e do n sso tempo pela assimilagao do espirito universal, brilhante nag grandes épocas, nos grandes meios, nas grandes obras, nos grandes sistemas; nossa e humana. Se isso nio su- ceder, ela nao viverd... Usos € costumes, as- XLV Sob esta epigraphe, O Carater Nacional, e em adi- tamento ao discurso de Olavo Bilac, estampou o Paiz um brilhante artigo do Sr. Oliveira Vianna. Entende o confrade que o Brazil, como povo, esta dividido em dois escassos milhdes de urbanos e a massa Colossal de vinte milpSes de camponezes, pro- letariog Turais e grandes senhores da terra. Depois, Pondo de parte aqueles, para s6 atender aos ultimos, pase antropolojica e social da nacionalidade, afirma S. fv due o nosso carater coletivo esta intacto e incorru- ' Pois guardou a pureza da tempera primitiva 7 {ue ocorre no Brazil, segundo o publicista, é — 190 — coisa de outra natureza. O que 4 sociedade nos ¢, presta uma aparencia de corrugdo e degeneragag este desalento e este egoismo de hoje tém outras causag Eil-as em férmula sintetica : ‘ «Tendencia de orijem recente, das classes Supe. tiores e dirijentes do pais a se concentrarem nas ¢q. pitais, e dai, como consequencia, uma crise intensa ¢ extensa nos seus meios profissionais de subsistencia. Dai, a crise... E a que medicina recorreremos para a debelar? Indica-a o escritor : «Quando os nossos doutores e os nossos politicos atuais assentarem, COMO A GERAGAO DE HA TRINTA AN- NOS PASSADOS, na posse tranquila de um dominio rural o seu ideial de felicidade, a alegria voltard 4 nossa reco; 0 tonus moral da sociedade se revitalizard de promto; a luta pelas posi¢ées ndo impord ds consciencias o sacri- ficio dos seus escrupulos superiores; as classe culias e dirijentes terdo dado a sua vida uma outra estabilidade; eo virus do faciosismo, se fard menos nocivo & eco- nomia do pais.» Assim dissertou o distinto colega. O periodo se- guinte 6 interrogativo. — «O leitor sorri?» pergunta o autor. Pois, nao ha de sorrir? O Sr. Oliveira Vianna tambem é um poeta... Nos conceitos que articulou, ha uma conira- digéo fundamental. S. Ex. afirma que ainda possuimos fora das cidades a mesma enerjia devassadora dos Ban- deirantes, diz que 0 movimento colonizador, iniciado ha mais de tres seculos, com os boiadeiros setentrionais € os sertanisias de S. Vicente, ndo parou nem retroajin, cita a faina dos sertées de Piauhy, do Maranhdo, de Goyaz, do Paranapanema, do Piraji, do Rio Doce, entoa um hino a todo e pois, para rejenerar a sadio e, de- recomenda 408 dois mi- da gos doutores, 20s buroc s urbantos, & volta ao campo, > a Olavo Bilac 8, georjicas ! agricola. Véde este resumo sociolojico : «Doutores e politicos (e tambem Poetas) sempre existiram com abundancia, neste como no antigo rejimen, no imperio, a relagdo social de IS duas classes podia ser figurada pela equagdo : pouttico -+ pouTor = = FAZENDEIRO ; € na Republica esta equacdo se altera r formulada assim : pouitico + pouTor = Surocrata. Parece nada, mais é a revolucdo.» Sem duvida, é a revolugdo, mas a revolugdo apenas indicada num dos seus simtomas. Sim; porque dire- tamente se prendem 4 nagdo e com fidelidade a repre- ‘Mou das suas cojitagdes sobre o carater nacional, Pra, logo em seguida, cond como_responsaveis Delos _m, da_atualidade,/ Muito mais grave a Tudanea dos doutores para a cidade € 0 incon _. Pelo elemento popular — pela prol avel, beta, abandonada das Bandeiras... ie sn anna € demasiado opfimista sobre a vida Serides, | : 4 no remedio que ridem por is nao progridem Pp 6 rais nao Pp! : indi. reado nos tempos colo- : ae ainda vijente. No Em certas zonas, 0 perigo esl caysy H#@ = a8 popu Niais 40 rejimen de latifundio, Sk Em nN Mo durante & mon ee adicional tome a m Cutras, a grande propriedade 1" caltivados Sten bStituida na formagao de desertos CUNT | "® Pelos sindicatos, nacionais € &X! njeiros. falta de transportes que GEsvalVriea, sweeney BIpede éa falta d& SE rodugao. : te, ’ a pl Mais longe, @ insalubridade a isolar do homem as riquezas naturais, © POF toda @ Fede saa cre: dito agricola, @ pequena propr a2 d eee mente organizada € distribuida, incapaz ce alimentar os habitantes, © trabalho que esmorece 4 mingua de lucro, dificuldades de varia ordem. é As populagdes emigram, procuram os suburbios das capitais, fixam-se em misteres subalternos nas cidades e nas vilas e, ds vezes, conforme os exemplos citados pelo Sr. Oliveira Vianna, demandam o coracdo virjem das florestas, devassando-as, abrindo caminhos a ma- chado, afrontando tudo na luta com a terra. Mas, pensard, acaso, S. Ex. que esse exodo é uma prova incontestavel de que, como diz, continta a vibrar em nds a alma antiga do Brazil? Semelhante avangar, em verdade, nao passa de um exodo. Vai para o Amazonas, para Matto Grosso, para Goyaz, quem nao péde desenvolver-se nos pontos ja povoados. A conquista daquelas rejides sinifica a derroia teed penises um teatro de selvajem atividade ealethalad pera ds portas da nossa chamada civilizacao, rotina, e é uma tristeza nacional. O novo bandei je 4 . ioral tle 4 estancia, 4 fazenda, 4 divisdo ter ’ irrenci: aint priadora do ca; encia da maquina, 4 ameaca expro- ital 5 7 x Vida policiada P ie de fora, 4 competencia industrial, 4 No que de Para o passado que foje. ji5es de aericulten MOS SOP nome de campo, nas Fe mais ou menos inertes ou menos, regular, ficam bardes lertes, os coroneis de direc 8 servidores e apaniguad os descendentes dos S40. Em torno, comi iguados desses elementos , e¢a a enxamear, em colmé?s — 193 : n providas de mel, a familia ext, mranle da immigragao, © Nacional saat das coloniag : vq se justificar. Presta servicog (ett: Tem a . : nomade do parasitismo ancestral Meompara veis, - . o érmo que, a0s poucos, havemos 4 Sterno batedor r 10 capital, a0 brago, 4 maquina .{MeRando ¢ * seu simbolo nao € Fernao in da Europa ", Ahasverus. A molestia de que ol Paes Leme; 8 aj nas cidades, est4 no interior, n raZil sofre nao 3 rocional- Refletimos 0 estado de todos. da_massa i gublico € um refujio, como as selvas do Ac O emprego m os do centro € do oeste, onde pode viver eq eile a com largueza © T0sso irmao rural, inapto pa aoe duas quadras de horta. para cultivar 1 Quer saber o Sr. Oliveira Vianna qual é a ver- at dadeira causa de tao lamentavel situagdo? E? a desidia administrativa, a falta de tino politico, a desorientagio m sociolojica da monarquia. Depois da Independencia, 12 o problema a resolver era o do trabalho, que se fundava i na escravidao, herdada dos portugueses. Mas, de um i lado, a principio, lutas intestinas, e, de outro, a seguir, ; ccentralizagao do pais, ligando, pelo coronelato aleitoral, pela baronia plutocratica e pela burocracia, a classe dos Proprietarios e dos fazendeiros ao trono, adiou a solugao salvadora. Retardamo-nos, por isso, economicamente. Um rapido olhar desvenda o tempo perdido. OS Lo tados Unidos, 0 Prata e, sob & diregdo e com oS capl- 'tis da Europa, 0 Oriente colonia Y Proprias a culturas quais 2s nossas, ; OL por nds, — que nos emancipas do gee zassemos as reser trabalho livre, com as suas fe ” ' i fiada 20 emp 8 peverem concurrencia. Cont! trora peografi de circum as, das primei nossa produc4o foi lento e lento €, depo: invertida. Careciamos da consciencia Estacdmos emquanto 0 mundo progre extraordinariamente as vias de comunic: incorporando aos mapas novas reji ramando sobre todzs o dinheiro aci lado nos bancos, constituindo formidaveis emprezas, submetendo a dustria € a cultura 4 ciencia, dominendo os mer € neles atacando, pela excelencia € pelo preco, os nossos produtos. Estacaramos. Era o tempo dos doutores e dos politicos agrarios romantizados pelo Sr. Oliveira Vianna. Os elementos dirijentes t da propriedade rural. Fomos salvos pelo café e pela borracha, pelo paradoxo feliz de uma monocultura sen simile € pela aventura vejetal da Amazonia. Entretanto, ai mesmo, nesse terreno, j4 conhecemos a primeira re- sistencia de um trabalho rival. Em sintese, foi isso 0 resultou do doutorato bucolico dominante no Braz: £8, data tracada pelo Sr. Oliveira Vianna. S. Ex. quiz dar aos poetas em geral, e a Olavo Bilac em particular, uma licdo pratica; as solugdes qué apresenta nZo passam de devaneios esteticos. S. Ex. procedeu com a nossa Patria comoeum medico que re- ceitasse a um mendigo enfermo... a compra de um cas telo em ameno clima. Sonho...

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