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fore ee 1 6 RELACOES ECOLOGICAS ENTRE SERES VIVOS > As joaninhas so inse predadores no caso da foto, de planta 16.1 Tipos de relacao ecologica 0s organismos de uma comunidade biolégica interagem entre si. Essas interacdes, denominadas ‘genericamente relacdes ecolégicas, costumam ser classificadas pelos biélogos em intra-especificas € interespecificas. Relagdes intra-especificas so as que se estabelecem entre individuos de mesma es pécle, enquanto relagdes Interespecificas s30 as que se estabelecem entre individuos de espécies dite- rentes. A tabela 16.1 apresenta um resumo das rela ‘gBes ecoldgicas que estudaremos neste capitulo, (Tab. 16.1) 322 ! 16.2 RelacGes intra-especificas Organismos de mesma espécie quase sempre dis putam recursos do meio; hd situaydes, entretanto, em {que eles se auniliam mutuamente, trocando beneficios. No primeiro caso, fala-se em competicao intra-especi- fica e, no segundo, em cooperacao intra-especifica » Competicao intra-especifica Competicao intra-especitica éa disputa, entre in dividuos de mesma espécie, por um ou mais recursos do ambiente. Dependendo da espécie. pode ocorrer competiglo por gua, alimento, minerais, lz, locais para construiros ninhos, parceiros para reprodusdo et. TABELA 16.1 = Principais relagdes ecolégicas Relacées intra-especificas Colénias: individuos unidos, atuando em conjun funcBes. Ex: coras. 3: 8S vezes repartem ‘Socledades: individuos independentes, organizados cooperativamente. Ex abetnas. Competi¢lo intra-espacifiea:incividios concoerem pols mesmos recursos do mela. Esc tipa do relacdo oxic Relagdes interespecificas ‘Protocooperagao: individuos assoclados se beneficam e a associaga0 nao ® ‘obrigatoria, Ex: carangueyo-eremita e anémona-do-mar. Inquilinisma: individu usa outro come moradia, sem prejidici-lo Ex: plantas epiftas sobre Srvores, Herbivoria’ anima (herbivores) devoram plantas interas ou parte elas. Ex: | ‘dado, que se alimenta de capim, Predagio: animais (carnivoros) matam e devoram outros anima. Ex: gavte, ‘que devore outros pissaros e roedores Competicio interespecifica: individuos com nichos ecolégicos similares ‘competem por recursos do meio. Ex. animais que se alimentam do mesmo tipo de planta ‘Comensalismo: individuo usa restos da alimentagdo de outro, sem prejudicé-o, Ex. hienes, que aproveitam restos das preses dos eves. ‘Mutualismo: individuos associados se beneficiam e a associacSo fundamental & sobrevivéncia de ambos. Ex. algase fungos que formam liquens. Parasitismo. individuo vive &custa de outro, usando prejulzos, geralmente sem levar & morte. Ex. lombrigas que pafastam 0 Intestino humano, Akém da lutafisica poralimento ou por parceiros de reprodugao, a competiao pode manifestarse de outras formas. Por exemplo, se um animal & muito ativo na pro- cura de alimento, ele tende a levar vantagem compet va sobre outro mais lento, principalmente se o alimento for escasso, Plantas podem competir por gua e por nu- trientes disnaniveis no sala, ¢ também por lcais onde a luminosidade seja mais adequada, Em cortas rogides Gesérticas, porexemplo, observa-se uma distribuigao es pacada dos individuos de certas populagdes de plantas. Isso se deve & competicéo pelo suprimento de agua no solo, que fz as plantas manterem uma distancia entre si distribuindo-se com certa homogeneidade na area ocu- pada pela populacao (Fig. 16.1) 4 Figura 16.1 » A comoeticto entre plantas do deseto por 4oua leva distribuicdo espacada dos indviduos da populacio, ‘commas 343 El Cooperagao intra-especifica: colonias e sociedades Colénias Uma das formas de coopera¢ao intra-especiica € 3 colénia, em que individuos de mesma espécie vive anupaclos. interagind deforma mutuamente vantainca Entre; componentes de uma coliniahicempre divisSo de trabalho, cujo grau varia de acordo com a espécie. ‘A complexidade das colonias ea maneira pela qual seus componentes dividem as tarefas de sobrevivéncia \ariam, Por exemplo, diversostipos de bactériaformam colénias relativamente simples, em que um conjunto de individuos semelnantes compariiha uma massa gelat- nosa, produzida pela colaboracio de todos. Outras co lenias séo bastante complexas. sendo formadas por in- dividuos especializados, que repartem fungSes e podem ser bem diferentes urs dos outros. Quando os indivi- dduos de uma colonia sao semelhantes, fala-se em col nia isomorfa (do greg isos, iqual, emelhante, e morpho, forma); quando a colénia & conetituida por indvidune diferentes entre si, fala se cm colénia heteromorfa (do rego heteros, diferente) Alga colonial Vovox, ue vive em Sgua doce, € um cexemplo de colénia heteromorfa.Col6nias dessa alga po dem conter mais de 1,000 individuos unicelulares bil ¢gelacos, dispostos lado a lado, formando uma esferacca Cloropiasto Flamento de ligagao entre a8 collas Taentra decca esfera ha indivicune gem flagelas, capares de originar,szzenuadamente, colbnias menores que fcam contidas por certo tempo no interior da colénia-mée. Outro exemplo de colonia heteromorfa€ 0 cnidario Phusalia pelagica, conhecido como caravela-portugue- sa. A colénia 6 constituida por individuos de varios t pos. Um deles, o individuo flutuador, é uma bolsa cheia Ue yao, cuja fungav € manter a Lulonia futuandy; outs individuos tem boca e cavidade digestona, sendo res- ponsdveis pela alimentacdo da colénia; outros, ainda, tornaram-se alongadose ricos em célulasurticantes, fr mando 0s longos tentdculos da caravela, que atuam na captura de presas © na protecio da colénia. Nesse nidério, os individuos da colonia apresentam tal espe- cializacao e divisdo de fungdes que praticamente se com- ppartam coma um organismo individual Outro cniddrio que apresenta colénia heteromorfa € a Obelia, em que existem individuos alimentado- res, chamados de gastrozbides, eindividuos reprodutores, chamados de gonozéides. Relembre esses cnidérios no capitulo 10 do volume 2 desta colecéo. Também hé cnidérios que aprecentam coléniae isomoifas. Os corals, porexemplo, constioem um esque leto calcio compartlhado por centenas, milhares ou mi: thoes de individuos muito semelhantes. Na Australia, as col6nias de corais formam um imenso recife chamado de Grande Barreira de Cora, com mais de 2000 km de cextensio. (Fig. 16.2) Indvue futuador Individues imontadoros (oastror6ices) \Cindviduo protetor 1 tentacule) 4 Figura 16.2 + Exemplos de organiemas colonia. ‘A. Colinas da alga verde Volos fotogratadas ‘0 microscopic optica (aumento ~ 100%). Embaixo representacio dos individuoe bflagelados que formam tna. B.O cridério colonia .rador, come mostra a ivetrag30 8 diets. C (pigina odutores (gonoaeides), 1a da 3 a ilustracio absixo, D. (pigina sequinte) Uberacto de medusasjovens Gonozéide Parte de uma Yi colénia adults I SIE Progac da cawdade signa Faringe ™ Exoesqueleto calcio (coral COrganismos unicelulares coloniais, como Volvox € outros, sugerem aue um primeiro passo rumo & origem doe sores multicelulares pode ter eido a organizagSo. colonial. (Fig. 16.3) «Figura 16.3 « 0 pro:ozosrio coanofiagelado colonsl Codosiga €considerado por mutos biologos um exemplo do que pode ter ocorrido nos primérdios da evolucdo da multicelularidade na inhagem que originou as esponjas, dotadas de células semelhantes&s dos coanoflagelados. Sociedades Sociedades cio grupoe de organiemos de mesma espécie em que 0s individuos apresentam algum grou de cooperagao, comunicacao e divisao de trabalho, con- servando relativa independéncia e mobilidade. Estas Lltimas caracteristicas distinguem sociedade de colénia, 1na qual os individuos sio fisicamente unidos. Diversas espécies, inclusive a nossa, vivem em sociedade. Exem- pos de sociedades altamente organizadas sao encon- trados nos insetos sociais das orciens Hymenoptera (abe- thas, formigas e vespas) e Isoptera (cupins) A sociedade das abelhas Uma colméia de abelhas é uma sociedade que pode reunir entre 50e 100 mil individuos, incapazes de subreviver sendv nv grupo social, Em colmélas Ue abe- Tas da especie Apis meliera, as tungoes dos indivi- duos sao muito bem definidas, havendo trés castas so- cials:rainha, zangio e operiria. A rainha é uma fémea {rl dipl6ide,cuja fungio € procrarc origina todos os individuos da colméia, Zangdes so os machos, de cons- tituicio hapléide, que nao possuem ferro nem estrutu- 12s de trabalho. tendo como tinica funcio a fecundacso de rainhas virgens. Operdras so fémeas diplsides es- téreis, que exercem diversas fungées, como produzit os favos de cera e 0 mel, impar e guardar a colméia,reco- Iher néctare pélen das flores etc 345 A rainha, ao se tomar sexualmente madura, voa e acasala-se no ar com diversos zanades, armazenando os espermatozbides de tadoe eles em caus recepticuloe sseminais, A seguir, ela retoma a colbnia e comesa a por vos, depositando cada um dentro de uma célula hexa~ gonal de cera construida pelas operétias A rainha pode pér dois tipos de ovo: ndo-fecunda- do € fecundado, Ovos ndo-fecundados desenvolvem-se por um fenomeno conhecido como partenogenese (do rego partends,virgem, nao-fecundado, e aenesis,origeml, iginando machos haplsides com cromossomos exclusi: vamente matemos. Os ovos fecundados desenvolvem- se em fémeas diploides. Estas podem ser operdrias ou rainhas, dependendo do tipo de alimentacdo que rece- ‘bem na face larval Larvae de opeririae @ de zangSee eo imentadas principalmente vom mel, enquanto certs lavas, alimentadas com uma substancia especial, a ge~ Jéia real, transformam-se em rainhas. Ao atingir a matut dade sexual, as jovens rainhas abandonam a colméia, seguidas por um pequeno séqilto de operdtiase zangies, ‘no chamado voo nupcial. Cada rainha fecundada eas ope- ‘rias acompanhantes podem fundar uma nova colméia, fenquanto os zangSes morrem apé= 2 cépula. (Fig. 16.4) 44 Fioura 16.4» A abelha Anis mellifera forma colbnias ‘omplexas. em que as trefas so renartidas com extrema organizacdo entre os inividuos, a ponto de alguns cientistas conwideracem a colmbia um “supercuganisma” Na foto superior, aceta aponta uma tainha, cercada de operas 1a foto inferior, a seta aponta um Zango, 340 rl * ECOLOG! A sociedade das formigas A orden Hymenoptera tem cerca Ue 200,000 es Pécies descritas, das quais mais de 1,000 so formigas. Um formigueiro pode reunir desde poucas centenas até mais de 100,000 individuos. Recentemente descobriu- se, na Europa, um formigueiro que se estende por mais, dle 5.000 km, ao longo do litoral, atravessando as fron- twitas da tdlia © de Portugal Entre as muitas espécies de formigas existentes no Brasil, as savas (género Alta) esto entre as mais conhecidas, pelo prejuizo que causam as lavouras Essas formigas sdo também conhecidas como cor- tadeiras, porque cortam e picam folhastenras de plan- tas. O» pedayos de folhas sév ansportados até v formigueiro, onde so amontoados € semeados com fungos por formigas “jardineiras’. Os fungos nutrem- se da matéria orginica das folhase servem de alimen- to.aos membros da col6nia, Essa curiosa atividade de cultive de fungos serd discutida mais adiante, no item relativo a mutualismo, Na sociedade das sativas ha varias castas: as rai- nnhas, popularmente chamadas de igés, sio fémeas f6 teis, 08 reis, ou bitus, sio machos férteis, os operétios ‘30 individuos assexuados estéreis, que podem se apre- sentar sob diferentes formas, cada uma especializada no desempenho de uma tarefa no formigueiro, esse fe nomeno € denominado polimortismo (do grego pol muitos, e morfos, forma). Um tipo de operdrio 6 0 solda- do, armado de poderosas mandibulas e responsével pela defesa do formigueiro. Outro tipo de individuo é a formiga cortadeira-carregadeira, cuja funcio & cortar e coletar folhas e pequenos gravetos. Hé ainda saivas operatias chamadas de jardineiras, que cuidam dos tun gs que alimentam a colénia Na regio Sudeste do Brasil, a reprodugéo da sativa, corre uma vez por ano, entre outubro e dezembro. As fémeas virgens, aladas, saem do formigueiro junta- ‘mente com os machos, também alados, ¢ voam para se acasalar no ar. Depois de fecundada, cada temea funda seu préprio ninho, iniciando a pastura dos ovas. Os ma- chos perdem as asas € néo retornam ao formigueiro, morrendo em seguida. Arainha das saivas, aid, pode viver até 20 anos; as operérias vivem em tomo de | ano. Em um dnico acasalamento, uma femea de sadva (rainha) armazena mais de 500 milhies de espermatordides em seus re ceptéculos seminais. Os espermatozéides permanecem Vivos e sao utilizados para fecundar os 6vulos, a medida ue vao sendo produzidos. (Fig. 16.5) 4 Figura 165 « De Aa 0, diferent ‘castas de formigas do genero Atta (sana). A. Rainha (i). B. Rei (bite). €. Formigas

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