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O contexto educacional e sua influéncia na criatividade* Educational context and its influence on creativity Eunice Maria Lima Soriano de Alencar** Resumo ‘Apés focalizar alguns mitos associados & criatividade e contribuigées tedricas sentes que dio destaque & criatividade como fendmeno mi atividade. O antigo finaliza isa da autora sobre critvidede no contexo universitto, ‘qualidade da relagao professor-aluno e tragos de personalidade, comparando 0s resultados obtidos com dados levantedos por outros pesquisadores. Palaveas-chave: Criatividade. Professor. Ensino superior, Abstract ‘The article focuses on some myths associated to creativity and recent theoretical contributions that emphasize ereativity as a multifaceted phenomenon and its complex ature. The need to develop creative abilities in school, in adsition to behaviors through which the teacher may promote the students’ creativity are also discussed, The article concludes with a description of the author's research data concerning creativity at the university level. More specifically. characteristics ofa creative-facilitating and creative- inhibiting teacher (ie. through pedagogical activities, quality of the teacher-student relationship, personality traits) are described and then compared to the results from other researchers Keywords: Creativity. Teacher. University. "Na preparayio deste tex foram aproveitadis partes de artigos de nossa autora (Alencar 2090, 20006: 2001), Agradego an Conselho Nacional de Desenvolvimento Centfico Tecnolegico elo apo ao desenvolvimento de pesquisa de nossa aur citadas no presente aio, * Professors da Universidade Catia de Bestia Ph.D. em Psicologia pela Universidade de Pardve, EUA (1978) e fo postdoctoral scholar no Gifted Education Resource Insite, EUA (1985) vie-presidene da FederagoThero- America da Conselho Mundial parac Superdotido €Talenoso. E-mail eaeneat@ pos ch be Linhas Critica, Bras, WB. n.15, jul dee. 2002 165 podendo a criatividade se apresentar através de distintas formas e em diversos Braus. Ademais, contribuem para sta maior ou menor expressio fatores referentes tanto a0 individuo quanto ao ambiente onde esse se encontra inserido, diferindo, porém, os atributos pessoais e fatores ambientais/situacionais que determinam 2 expressao criativa de pessoa para pessoa. Observa-se que contribuigdes teéricas recentes tém dado destaque & concepedio da criativi uum fendmeno multifacetado e determinado de elementos do contexto sécio-cultural; forgas, eventos e tendéncias de natureza hist6rica para a expresso ctiativa. Estes seriam: inteligéncia, estilos intelectuais, conhecimento, persoralidade, motivacao e contexto ambiental. Lembram ainda esses autores que 0 ambiente que facilita a expressao criativa interage com varidveis pessoais e siiuacionais de forma complexa. CCsikszentmihalyi (1988a, 1988b, 1994) e Amabile (1983, 1990) chamam_ também a atcngao para distintos clementos que contribuem para a expresso criativa, Amabile, por exemplo, propés um modelo componencial da criatividade, no qual esta € descrita como resultado da motivago para a tarefa, habilidades relevantes do dominio (como conhecimento sobre 0 dominio e habilidades téenicas) ¢ habilidades relevantes da criatividade (como estilo cognitivo e dominio 166 eunice Soriano de Alencar - 0 content educacional¢ sua influéncio na eriatividade de estratégias que favorecem a producio de idéias). do local de trabalho e da sociedade que slo televantes para propiciar melhores ou piores condigdes para a expresso criativa. Para Csikseentmihalyi (19885, 1988b, 1994), acriatividade seria resultado de elementos da pessoa, do dominio (area do conhecimento) € do campo (especialistas de uma érea especifica que tém 0 poder de determinar a estrutura do dominio), que interagem entre side forma complexa, Lembra Csikzsentmithalyi (1988, p. 18) que “estudar acriatividade focalizando apenas o individuo € como tentar compreender como uma macieira produz frutos olhando apenas a érvore e ignorando ool € 0 solo que possibilitam a vida”, tendo incluido em sua teoria sistémica foreas sociais, culturais ¢ da pessoa para explicar o fenémeno da criatividade. Dente 0s diversos fatores considerados relevantes para o desenvolvimento ‘expressio da criatividade, destacam-se distintos elementos do contexto sducacional, cia. Isto tem sido lembrado Neste sentido, ‘Toren (1993) menciona quatro grupos de competéncias desejaveis em profissionais de distintas éreas: comportamentais (como tet iniciativa) perceptuais, (er capaz de lidar com a informagao de distintas perspectivas), afetivas (ter sintonia com o outro) e simbélicas (como a habilidade de pensar de forma criativa), De forma similar. em discussdes sobre 0 perfil do profissional ideal, Lintas Criticas, Bras, 8, 9.15, jl bez. 2002 do que € possivel e escola. ‘A vida no mundo contemporaineo envolve muitos problemas complexos que Somos incapazes de antecipar no presente momento e que exigem solugdes criativas -Saeago © pera ‘medida em que a aprendizagem se dé de uma forma criativa, isso favorece 0 crescimento do aluno e gera prazer, motivando- © para novos avangos. Criatividade no contexto educacional: o papel do professor ‘Ao se examinar a literatura sobre criatividade no contexto educacional, nota-se que uma atengio especial tem sido dlirecionada ao ensino fundamental, tendo grande ntmero de estudos sido realizados com amostras de professores ¢ alunos doensino fundamental. Panto Torrance (1987, 1992, 1995),como Cropley (1997), Renzulli (1992), Martinez (1995), Alencar (1991, 1994, 1995a, 1996, 2000c), dentre indmeros outros, apontaram, por exemplo, distintas estratégias promove nos alunos: - Envolvimento, motivagiio, persisténcia e determinacio, Curiosidade, espirito de aventura na exploragao dos t6picos abordados. Independencia Autoconfianga. + Impulso para experimentar e tentar tarefas dificeis, Torrance (1995) delineou também distintos principios para desenvolver 0 pensamento criativo através de experiéncias na escola, que incluem, entre outros: 168 Eunice Soriana de Alencor - 0 contexto educacional ¢ sua infludncia na criatividade (GRRCIRETROVAR|GEIRS, desenvolver uma atmosfera criativa em sala de aula; ensinar ao aluno estratégias que o ajudem a suportar as pressdes do grupo; propiciar informagées sobre 0 processo criativo; encorajar a aquisi¢io de conhecimentos ern uma variedade de éreas. ‘Também Cropley (1997) chama a ateneio para comportamentos tfpicos do professor propiciador da criatividade, como os seguintes: Encoraja 0 aluno a aprender de forma independente. + Motiva seus alunos a dominar 0 conkecimento fatual, de tal forma que tenham uma base sistida para propor novas idéias. + Encoraja 0 pensamento flexivel em seus alunos. Leva em conta as sugestdes e questdes de seus alunos. Oferece oportunidades ao aluno para trabalhar com uma diversidade de materiais e sob diferentes condigdes, ‘Ajude as afunos a aprender com a frustragio e o fracasso, de tal forma que tenham voragem para tentar 0 novo e o inusitado. + Promove a auto-avaliagao pelos estudantes. ‘Cropley (1997) ressalta ainda que nao se promove a cratividade des atanos simplesmente expondo-os a exercicios de ci De forma similar a outros autores, De forma similar, Renzulli (1992), em seu modelo para odesenvolvimento 4a criatividade produtiva de pessoas jovens, propde trés Componentes principals: 6 aluno, 0 professor e 0 curriculo, sends o professor o componente mais importante ‘dade no ($eaRERRGRRDEIID © 2 odo comemoa ists lemewos io processo de ensino-aprendizagem, como objetivos, métodos docentes, material didatico utlizado, avaliagao ¢ elima em sala de aula. Linhas Critica. Brasilia, 9.8, 9.15, jaL/dee, 2002 cH Quanto a0s objetivos, lembra Martinez que os mesmos devem ser apresentados de uma forma a favorecer 0 envolvimento dos alunos ¢ ainda incluir, de forma e ° aluno, aed a relevancia da leitura i e criativa, ss ‘com 0 dominio do conhecimento, sendo esses ingredientes que se complementam para aa ot ste pode ser implementado por meio de estratégias diversas, como as seguintes: Insfigar no aluno confianga em suas potencialidades. Impulsionar 0 desenvolvimento de interesses e motivos - Evitar a €nfase nas avaliagoes. Individualizar o processo de ensino. Valorizar e utilizar 05 produtos criativos dos alunos. Paroutrolado, Alencar (1993, 1996b), em seu modelo para desenvolvimento da criatividade, sugere que, para se promover « desenvolvimento do potencial criador em sala de aula, 0 professor deveria: + Utilizar atividades que possibilitem ao aluno exercitar 0 seu pensamento tative. + Fortalecer tragos de personalidade, como autoconfianga, curiosidade, persisténcia, independéncia de pensamnento, coragem para explorar situagdes ‘novas € lidar com o desconhecido, Ajudar o aluno a se desfazer de bloqueios emocionais, como 0 medo de errar, o medo de ser criticado, sentimentos de inferioridade e inseguranga. Instrumentar 05 alunos no uso de técnicas de produgio de idéias e de resohigdo criativa de problemas. Propiciar um clima em sala de aula que reflita valores fortes de apoio a criatividade. Dentre 0 varios prineipios em que este apoio se traduz, salientam-se: Valorizagao da pessoa do aluno. + Confianga em sua capacidade © competéncia. Apoio & expressdo de novas idéias. + Provisio de incentivos as novas i + Implementagao de atividades que oferegam desafios e oportunidades de ‘atwagio criativa. £ relevante destacar que varios dos aspectos aqui apontados como promissores para a expresso da criatividade em sala de aula sio similares 170 Eunice Soriano de Alencar 0 contexto educacignal e sua influéneia na criaividade Aqueles descritos na literatura sobre criatividade nas organizagdes. Ao descrever ‘umambiente que estimula.acriatividade no ambiente de trabalho, Amabile (1995) embra, por exemplo, a presenga do encorajamento por parte do supervis atividades percebidas como desafiadoras, interessantes e importantes, além do reconhecimento e premiagdo as idéias criativas. Por outro lado, Frost (1995) ressalta que, para as organizagdes fortalecerem a pritica da criatividade entre individuos € grupos de trabalho, trés elementos sdo essenciais: empo, ‘oportunidade e encorajamento. Criatividade em cursos universitarios Com relagdo & criatividade em cursos universitérics, nota-se que dentre (8 autores que analisaram o ensino universitirio, apantando falhas no que diz respeito & promocdo da riatividade, salientamt-se Paulovich (1993), nos Estados Unidos, Tolliver (1985), no Canads e Alencar (1995b, 1997, 2000a), Castanho (2000) e Rosas (1985), no Brasil Paulovich (1993) critica a educagdo universitaria, por nao encorajar 0 pensamento criativo ¢ independente. Segunda essa autora, “estudantes ansiosos por notas silo forgados a memorizar e regurgitar um volume incrivel de fatos em um ritmo que impede mesmo o mais entusiasta de refletit sobre o material censinado ou set intelectualmente estimulado” (p. 565). Por outro lado, Tolliver (1985) lembra que os professores universitérios inibem os estudantes criativos por meio da selegdo de conhecimentos apresentados ¢ também pela fun¢ao reguladora da educagio, que busca padronizar e socializar com vistas @ metas especificas. Considera ele que. em fungao do que ocorre comumente na universidade, “os educadores podem estar encorajando os estudantes a cometer atrocidades intelectuais para sobressair” (p. 35). Também no Brasil, o pouco espago para o desenvolvimento da criatividade ‘nos cursos universitarios tem side apontado por autores diversos, como Alencar (1995b, 1997), Castanho (2000) ¢ Rosas (1985) se as escolas c/ou departamentos de artes, parece que os demais professores tém muito mais o que fazer do que se preocupar com a imaginacio, fantasia € criagio” (p. 122). De forma similar, Castanho ressalta que “podemos afirmar que nossas faculdades so, no geral, pouco ou nada criativas, Desenvolver a criatividade parece ser um objetivo tdo simples € € uma das caracteristicas, ‘mais raras de se encontrar na maioria de nossos jovens, educados para a atitude conformista e homogénea a que os sistemas escolares os condenam” (p. 77). Também Alencar (1999) aponta a prevaléncia de uma cultura de aprendizagem Linas Criicas, Beas, v8, 1.15, jul /dez, 2002 ne que estabelece limites muito abaixo das possibilidades praticamente ilimitadas do potencial para criar do ser humano, Um caminho para o ensino e desenvolvimento da criatividade de o por meio de cursos de criatividade oferecidos para cestudantes de areas diversas. Nos Estados Unidos, muitos desses cursos foram analisados por McDonough e McDonough (1987), Montgomery, Bull e Baloche (4992, 1993), Baloche, Montgomery, Bull e Salyer (1992) e Bull, Montgomery € Baloche (1995). Os distintos componentes desses cursos, a importancia percebida de seus diversos componentes para o ensino da criatividade, bem ‘como a percepeao de seus professores sobre as caracteristicas da pessoa criativa em relagdo a literatura profissional foram alguns dos aspectos pesquisidos, Conferéncias sobre o ensino de criatividade em cursos universitarics, com 4 presenga de seus professores, t8m sido também organizadas em distntas instituigdes, como mostra a literatura (SHALLCROSS ¢ GAWIENOWSKI, 1989; BALOCHE et alii, 1992). Um dos primeiros eventos neste sentido ocoreu nna Universidade de Massachusetts, em 1986, com a presenga de mais de 400 educadores. Nesse evento, discuriram-se especialmente as questées de come reconhecer ¢ cultivar nos universitérios © potencial para o trabalho criativo & ‘como propiciar oportunidades para canalizar a sua energia criativa. Uma segunda conferéncia com o mesmo objetivo ocorreu no ano seguinte, 1987. Ao descrever a relevancia do tema € 0s t6picos discutidos nesses eventos, Shallcross ¢ Gawienowski ressaltam que o desejo de usar a criatividade se atrofia ao longo do processo de socializagi0 ¢ ainda que a pritica de se ensinar aos alunos as Tespostas “corretas” pode ajudar a destruir a sua natural curiosidade © imaginagéo. Em 1990, ocorren a Primeira Conferéncia Nacional sobre Criatividade nas Faculdades e Universidades Norte-Americanas, com a presenga de professores universitérios que lecionavam criatividade, desde os Primeiros semestres até os cursos de doutorado, ‘Tem sido lembrado por diversos autores, como Chambers (1973), MacKinnon (1978), Necka (1993, 1994), Stemberg (1991), Stemberg e Lubart (1995), Tolliver (1985), além de Alencar (1999, 2000b) que, muitas vezes, 0 professor & um elemento bloqueador & expresso de novas idéias, tendo esses autores descrito um conjunto de préticas inibidoras ao desenvolvimento ‘expressio da criatividade, comuns em diferentes paises. MacKinnon, por exemplo, hé mais de duas décadas, ressaltou que 0 potencial criativo é neglicenciado pelos professores, havendo mesmo diseriminago contra aqueles {que se sobressaem por sua criatividade, em todos os niveis da educacdo norte americana, Nos Estados Unidos, também Stemberg ressaltou a necessidade de 172 Eunice Soriano de Alencar - O contexo educacional ¢ sua infuéncia na eratvidade ‘mudangas na escola, Considera Stemberg que os professores deveriam promover ‘oportunidades para os estudantes definirem problemas, propiciar tarefas que Possibilitassem aos estudantes visualizar objetos ¢ acontecimentos de formas novas e variadas, encorajar tragos de personalidad que se associam & criatividade, além de premiar as manifestagdes da criatividade, ao invés de ignoré-las ou mesmo puni-tas. De forma similar, Necka apontou varias fraquezas dos sistemas educacionais contemporsineos, sendo uma delas no favorecet 0 desenvolvimento das habilidades criativas ¢ mesmo atrofiar 0 descjo dos estudantes de fazer uso de sua ctiatividade. ‘Também Alencar (1997) observou, em estudo realizado com 428 estudantes de duas universidades, que a sua amostra, de modo geral, percebia os seus professores como pouco ou muito pouco criativos. Possivelmente, essa percepy 0 reflete 0 comportamento do professor em sala de aula, que denota pouca ctiatividade. Tal resultado, similar a0 observado em estudo anterior com uma amostra de estudantes do ensino médio (Alencar, 1993), sugere a pouca énfase que se da a criatividade por parte dos professores. Estes estariam mais preocupados como seu papel de transmissor de informaso, como ja havia sido assinalado anteriormente por Rosas (1985), Mais recentemente, Alencar (2000a) desenvolveu um estudo com uma amostra de 92 p6s-graduendos sobre comportamentos tipicos do professor litador do desenvolvimento e expresso das habilidades criativas e também sobre o professor inibidor desse desenvolvimento. ‘Uma andlise de contedido da descrigio apresentada dos comportamentos tipicos do professor facilitador da criatividade resultou em distintas categorias de respostas, sendo que as trés categorias com maior nimero de respostas, em ordem decrescente, foram: priticas pedag6gicas, preparagao/bagagem de conhecimento e relagio professor-aluno. Com relagao as praticas pedagégicas, 0s alunos se referiram especialmente 4 ulilizagiio de discussio e debates, por parte dos professores, como um incentivo ao aluno para questionar, refletir € participar ativamente das discussdes em sala de aula. O professor facilitador foi ainda descrito como aquele que apresenta igrau de preparagio elevado, dominio do contetido ministrado e utilizagio de bibliografia ampla, provocativa e/ou adequada. A forma como o professor se relaciona com 0 aluno foi também ressaltada por um niémero substancial de pés-graduandos que participaram do estudo: ‘trata 0 aluno com respeito cordialidade” e ‘tem relacionamento amigével com 0 aluno’ foram os aspectos mais apontados no que diz respeito a esta categoria de resposta, Na descrigao do professor facilitador, outras respostas que também ‘ocorreram, porém, com menor fregiiéncia, foram: (a) interesse pela matéria/ Linhas Criticas, Brasilia, v8, 0.15, juL/de2. 2002 Tr aprendizagem do aluno: e (b) tragos de personalidade. Dedicam-se ‘completamente ao curso, preparam as aulas, alto nivel motivacional com relagdo ‘40 que ensinam, interesse real em ensinar, paixdo pelo trabalho, sao alguns ‘exemplos de respostas relativas ao interesse pela matéria. Disposto a elucidar todas as dividas dos alunos, estimulador da aprendizagem, suporte constante & compreensdo dos alunos, foram respostas obtidas que denotam interesse pela aprendizagem do aluno e que caracterizam 0 professor facilitador, na opinitio ‘da amostra do referido estudo. Com relagdo aos tragos de personalidade do professor facilitador, foram salientados especialmente: aberiura acriticas e idéias divergentes, pontualidade, assiduidade, senso de humor. O professor escolhido foi ainda descrito como alegre, autoconfiante, flexivel, responsdvel, humilde, dindmico ¢ entusiasmado. Exemplos de respostas relativas ao professor facilitador, apresentadas pelos participantes do estudo, so transcritas a seguir: Tratamento respeitoso, com métodos de ensino variados que despertam interesse, criatividade e ractocinio, Incentiva a livre iniciativa, Alto grau de preparacao e conhecimento da matéria e correlatas, Ele realmente ouve o que temos a dizer Sempre pede a nossa reflexdo sobre 0 assunto e muitas veces incorpore 0 ponto de vista do aluno a discussdo. Conhece varios paradigmas com profundidade, o que o impede de ser bitolado ou dogmdtico. Confia plenamente no aluno ¢ dé a ele uma enorme autonomia na escolha do problema, ra execucdo da pesquisa e na elaboragdo do trabatho final. Seu interesse em conhecer mais & genutno. Na descrigao do professor inibidor da criatividade, as categorias de respostas com maior freqiiéncia foram, em ordem decrescente: préticas pedagégicas. relago professor-altno e tragos de personalidade. Aulas expositivas centradas na reproducao do conhecimento, didética pouco estimulaate, contetido apresentado de maneira mecinica, aulas mondtonas, ilustram respostas referentes as priticas pedagdgicas. No que diz respeito a qualidade da relagdo professor-aluno, os participantes do estudo mencionaram especialmente que 0 professor inibidor ignora contribuigdes do aluno, causa temor e ansiedade, colocando o aluno, muitas vezes. em situago constrangedora. Quanto aos tracos de personalidade, 0 professor inibidor foi descrito sobretudo como autoritario, artogante, pouco flexivel, excessivamente critico. A seguir, respostas que ilustram a descrigo do professor inibidor so apresentadas: 174 uanice Soriano de Atencar- O contexto educacional e sua influéncia ra cratividade Método de ensino rigido, desestimulando 0 prazer pelo curso: certticas ndo construtivas, deixando o ambiente das aulas muito tenso, alterando 0 ritmo do aprendizado. O professor 56 utilizou um sistema metodoldgico: somente aula expositiva. Era agressivo e arrogante, Isto inibia os alunes. Apesar de rofundo conhecedor na sua drea, nao estimulava questées ¢ debates. Aulas excessivamente expositivas. Postura distante e alheia. Os alunos sao tratados como uma turma homogénea, Nao-disponibilidade para o atendimento extra-classe. Incentivo indireto a reproducdo das idéias dos autores lides. 0s resultados obtidos no estudo sobre 0 perfil do professor facilitador e do professor inibidor chamam a atengo para alguns aspectos que também foram apontados por autores diversos, como Chambers (1973), Torrance (1992) € Cropley (1997), que pesquisaram maneiras de se cultivar acriatividade em sala de aula, Chambers, que estudou caracteristicas de professores universitarios facilitadores da criatividade, observa que esse professor apresenta-se como mais interessado no ensino e em seus alunos e como tendo um alto grau de dedicagao ao seu campo de estudo. Eram também mais disponfveis aos seus alunos e encorajavam a discussdo de tpicos que faziam parte do programa, ‘Orespeito pelo alun e por suas idéias, o incentivo a reflexio e& participagao dos alunos. além da atitude de promover no aluno a motivago, a persistencia e a autoconfianga foram alguns dos aspectos salientados por Torrance (1992) no professor propiciadot do desenvolvimento das habilidades criativas. De forma similar, Cropley (1997) chama a atengdo para varias caracteristicas do professor facilitador, sendo que algumas delas foram também ressaltadas pela amostra do estudo descrito. Segundo Cropley, esse professor diversifica as atividades desenvolvidas em suas disciplinzs, oferecendo oportunidades para oaluno trabalhar ‘com uma diversidade de materiais sob diferentes condigées. Consideramos de relevancia maior, neste inicio de milénio, que o professor universitério esteja mais atento ao desenvolvimento da capacidade do futuro profissional de pensar de forma criativae inovadora, algo indispensavel neste ‘momento da Hist6ria marcado pela mudanga, pela incerteza, por um progresso ‘sem precedentes, ¢ por uma necessidade permanente do exercicio da prépria capacidade de pensar. Isto indubitavelmente esté a exigir novas praticas de ensino, constituindo-se no desafio aos educadores de passarem a exercer 0 papel de catalisadores do potencial criativo de cada aluno, Essa nova postura Certamente resultaria em um menor desperdicio de talento e potencial humano, como vem ocorrendo em consequéncia das possibilidades limitadas oferecidas, a0 desenvolvimento e expressio da criatividade no contexto educacional. Linas Criticas, Basia, v8, 0.15, juL/der, 2002 vs Referéncias ALENCAR, Eunice ML. 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