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g Constta Editorial de Educega: w José Cerchi Pusari \ Marcos Antonio Lorie ‘ Marcos Cezar de Freitas Marli André Pedro Goergen ‘Teresinha Azerédo Rios ‘Valdemar Sguissardi ‘Vitor Henrique Paro bs 33/08] Jd, Ana Maria de Oliveira Galvao | Maria Clara Di Pierro k Preconceito contra o analfabeto Daclos Internacionai: ‘alogagio na Publicagio (CIP) ira do Livro, SP, Braeil) Bibliografa, 07-2080 cDp-205.937 Indices para catélogo sistemético: |, Preconeeito contra analfabeto : Sociclogia 305.937 Seaies Capitulo Il | A consirucao social do preconceito contra o analfabeto na historia brasileira E Como vimos no eapfnulo anterior, a veiculagio de um diseur- so sobre o analfabeto que o identifica, de modo geral, a menorida- de, & falta, & pobreza ¢ a dependéncia & recorrente em diversas instancias da sociedade contemporinea, Cotidianamente, esse tipo de representagao € produzido ¢ disseminado, as vezes pelo proprio analfabeto que o incorpora e 9 legitima, Por outro lado, embora ‘em menor grau, hd outras produgies discursivas que também emer- gem, no nosso dia-a-dia, as quais complexificam o estereétipo que geralmente se associa Squele que nio sabe ler e excrever Como anunciamos na Apresentacio, neste capitulo busca: mos identificar, ao longo da historia do Brasil, q podem ser considerados dec desses discursos. Buscamos, também, mostrar que, ao contrério, te se pensa, a construggo do cstigma cm relat io a0 analfabeto somente pode ser compreendida quando situar dae relacdo a sociedades ¢ tempos determinados. Q.preconcei! iio é, portanto, nem natural nem universal — Na impossibilidade de abarcar todos os periodos relevantes em que a producao ¢ a disserninagao desses discursos ocorreram, i } | 2 DiPeRnO «CAN ‘optamos por, neste capitulo, eleger alguns deises momentos, aqui _/ visualizados ei forma de “cenas", que ilustram o discurso predo- minante em cada época.! Cena 1 — “Invasores” discutem como educar os fndios Estamos no século XVIL Durante 2 anos, os holandeses Ccuparam parte do Brasil. Nesse momento, discutiram, tal como fizeram 03 jesuites cm mais de dois séculos de obra educativa no pais, qual a melhor maneira de eduear —e, sobretudo, catequizar — os indios ¢ os negros. Um documento do Gonselho Politico de Pemambuco, datado de 1636, estabelecia que a ago educativa ceveria estar focalizada nos meninos, © no nos indios adultos, Assim argumentava © Conselho: (Os brasilianos tém pouco conhecimento da religio cristiano ser recitar padres-nossos e ouvir missas(..) como nfo temos quem tes ensine a verdade ¢ otinizo caminho paraa salvagao, eles vio seado exquecidos ¢ tornam As auas antigas superst trias, Com os adultos pouco fruto é de Diante da “estupidez” ¢ do “desimteresse” des adultos, os meninor deveriam ser retirados da companhia dos pais, para que no aprendessem, durante @ obra de catequese cristé protestant, as supersticées ¢ os costumes “birbaros” dos 2003, Fei (1589) Cate Sura OUD, Haddad cDi Pens 2000), Paiva Soares (198). es dadas a Servaca Carpentier por pate do Gosslho Flic, o qual vai ‘emmissio domesino Conselno ao Conselno dos XIX a expora stutglo do Brasil datadas o Recife, 20 defeereire de 1635 (2pud Mello, 2001; 222) ee TANI =H i6eNR Rese we PECONCETO CONTRA O ANALFRBETO 3 nos tndios, a partir dos 5 anos, se alimentariam, dormiriam aprenderiam a ler, a escrever e a religiio cris (as oragées, os dez mandamentos, 0s salmos e, quando estivessem “mais desen- volvidos de entendimento ¢ scnhores da lingua holandesa”, 0 ca- tecismo da Igreja). Poderiam sair da escola soments acs domin- 98, para a igreja. Os pais poderiam visitar os filhos uma vez por semana ou uma vez a cada 14 dias, Na verdade, esse plano nunca foi concretizado, mas pode 1 meio dele, algumas idéias predominantes no s ficil ensinar a ler ¢ a escrever as. to era visto como tomado por ‘ics. Para evitar a “contaminacio” pelos costumes “barbares”, Essas idéias cram compariilhadas pelos jesultas, No traba- Tho da Companhia de Jesus, as criangas também eram tomadas como a base da agao educativa, pois, por meio do trabalho com elas, era possivel formar uma geragao catélica inteiramente nova. Além disso, os meninos indios poderiam finncionar como agent multiplicadores junto aos adultos com quem conviviam, conside- rados inconstantes e ja tomados por vicios ¢ “paixdcs birbares” (Daher, 1998), Cena 2 — Proprietario rural branco, sem saber ler nem escrever, administra seus bens Agora estamos na primeira metade do século XIX. Um fa- zendeiro paulista ou um senhor de engenho baiano, pertencente & elite rural, administra sua propriedade, comercializa escravos, dé ordens & mulher, aos filhos © & parentela. Vota para as eleigoes do parlamento ¢ plangja tornar-se deputado, pois exerce grande po- der na regio que se situa em torno da sua propriedade, Nao sabe Jer nem escrever st DL PERRO» cALYAO Noseo personagem nao é uma excegio no cenario brasilei- ro, Na época, a circulagio dos escritos era extremamente rara no pats. Os livros somente comecam a ser impressos oficialmente no Brauil em 1808, com a transferéncia da sede da coroa portuguesa para o Rio de Janeiro. Livrarias e bibliotecas eram raras ¢ esta~ vam concentradas nos niicieos urbanos. A maior parte da popula- 580 brasileira, no entanto, niio morava nas cidades, mas em pe- quenas ¢ grandes propriedades rurais, Pode-se dizer que, no Brasil, naquele momento, as formas muito mais importantes do que aqueles centrados na escrita. Muitos comunicados oficiais eram realizados através de “preges" aniin- ios, em pracas publicas, das ditimas Roticias. As pritions religio- sas ocorriam sem a mediag&o de cra tong an tits de "cde transmissio da ‘tadigao se dava por meio da io de histérias, da aprendiza- gem de contos e canto Mesmo nas poucas escolas que existiam, oralidade era a base do aprendizado: recitarmemorizar, repe- tit A Ieivura silenciosa era, nesse momento, quase desconhecida. ‘Alem disso, 0 analfabetismo nfo afastava as camadas pro- Prietarias do exercicio do poder: cleger ¢ ser eleito Sepenclia da am prova de renda ¢ (fo ca capacidade de los estavam os pobres, aqueles que nfo podiam comprovar a ren- da (como alguns tipos de comerciamtes, por exemplo) e as mullhe- Tes, mas no aqueles que fio sabiam ler nem escrever, © analfabetismo, assim, estava presente, embora de manci- ra diffrente, em todas as camadas e grupos sociais: entre. homens heres brancos, proprietérios de terras, homens ¢ mulheres escravos ¢ libertos. Nao temos dados precisos para a época, mas primeiro censo demografico brasileiro, realizado em 1872, apon- tava que o indice de analfabetismo no pats cra de 80,2% entre os _Domens.e de €8,5% entre as mulheres. REDONCETO CONTRA 0 ANALEAEETD 3 Q analfaberisino nao estava,ainda,desse mado, assaciado ial, Seranalfabew na0 era, | bre” € ignorante. O dominio da leimurae BS ado, mais diretamente, 4s camadas mé- Cena 3 — Adultos de meios populares aprendem a ler © eSErever por meio do Cédigo Criminal com um professor que ndo recebe nada por isso Nossa terceira cena se passa em uma aula noturna en provincia brasileira qualquer’ na Os alunos, tod de 15 anos, sio divididos em duas “se- ima destinada Aqueles que no sabiam ler nem escrever ¢ outra planejada para os que ja possufam alguma instrugdo. A aula ‘ocorria na mesma casa em que funcionava, durante o dia, a esco- la para criancas. A Constituigao do Império, algumas leis e Cédigo Crimi- nal serviam de base para o ensino da leitura ¢ da escrita, Percebe- se que o ensino para adultos tinha como uma de suas finalidades a “civilizagéo” das camadas populares, consideradas, principal mente as urbanas, como perigosas e degeneradas. Através da edu- cago, considerada a luz que levaria 0 progresso as almas, pode- riam se inserir ordeiramente na sociedade, Para.as mulheres, acres- centava-se o ensino das prendas domésticas, nogées de higiene « dleveres na familia. Assim, a educagaio das sres adultas, quan- do ocorria, deveria se pautar nas fungées que deveriam desempe nhar na socicdade, até cntio predorninantemente circunscritas a9_espaco daméstico, 3. Ordadce score te Pernambuco Perma tras provincias baseamos paraimmagina a cenarelerensca provincia | emboreretratem uma stuagto cara também em 36 rp «GAL O professor nfo recebe nada a mais pelas aulas que && aos sua remuneragaio é calculada tencente aos meios po- como “perigoso” comega a ser tecida no perfor do e aparece também em outros espagos sociais. Em muitas pro- vincias, também se observa, principalmente na segunda metade do século XIX, a criagio de associagées de intelectuais que, entre suas atividades, ministravam cursos noturnos para adultos como egenerar” a massa de pobres brancos, negros pperceber, nestas iniciativas, alguns principios que norteavam tam- tivas oficiais em relagio a alfabetizagio das cama- Cena 4 — Deputados discutem critérios para 0 voto aprovam a Lei Saraiva papel cada vez mais importante na sociedade, a maior parte da populacio brasileira continuava sem saber ler nem eserever e, de ‘modo geral, sem necesitar dessas habilidades para ve inser, efe- tivamente, nas m No entanto, progressivamente, um outro lugar simbélico comeca a emergir na sociedade brasileira para ¢ leitura, a escrita ea a Soo et tanaeenncten steno RH FRECONCETO CONTRA © ANALEABETO 7 e aeducagio, de modo geral. Nao ser educado comega a Gado a rudeza dos costumes. Embora nao fosse uma he necesséria para a inserglo em diversas esfras socials, ATESTUGQO) fe dnimo de polidez. Essas questdes se expressam, com muita forga, na nossa qua ta cena. Estamos agora, no parlamento, nos anos imediatamente anteriores a 1881, quando foi votada a denominada Lei Saraiva, que estabeleceu, no Brasil, pela primeira vez a exclusio do analfi- Leto entre os eleitores* Nas discusses realizadas entre os deputa~ dos, hé os que defendem a plena capacidade dos que nao sabem ler nem escrever; hé os que os remetem a dependéncia e 4 menoridade. Saldanha Marinho, um deputado liberal e magom com atua- io bastante expressiva no Império brasiein diversas ocasi’es, no parl sobre aqueles que nao sal c-escrever As falas de Marinho, um defensor ative do direita do oto -do_analfabero, ngs ajudam a compreender como parze-da ‘Gapaz, Nos trechos abaixo, Marinho destaca uma série de tarefas, que aqucle que nto sabia ler ¢ escrever nha gue desempenhar no seu dia-a-dia, destacando a sua perspicacia e a sua capacidade de discernimento ¢ de acdo: (O chefe de familia tem interesses muitas vezes complicados a diri- sir, ea lei o reconhece capaa; tem grandes deveres morais a cum stoule XIX, ver, repectivamer DIPERRO + cALvto pris, deveres de protecio a mulher, deveres de autoridade © de educagio para com os filhos ¢ a lei zeconhecs o analfabeto capaz ‘de 05 desempenar;¢ entreianto € a esse mesmo homem que a lei politica nega o discernimento preciso para escelher um candida~ to entre os mais honracdas,inteligentes e de melhor conceito! A RRerdade de consciéncia nfo & negada ao analfabeto; « prepria Constituigio The di ic escolba de rligiio; a Constituiclo reconhece em todos 0 discernimento necessério para crer 0 que, ‘melhor Ihe conver € quer-se agora negarlhe ditcernimento para Ofnalfadero ter vontade de indie ante @ lei criminal € apto para conhecé-| pénsdvel conhecimento pars proceder de uma ou de outra forma pansies soubeccosnea pe © allel politea Tid de privaslo até do senso comum para vorar em quem Ihe parega melhor? fo necessario onhecimento, a perspicdcia, o bom senso. Pois bem, se oC@nalfa-) ‘aula Roora, armas in {pud Rodhgues, 1965: 144) Evidentemente, Marinho nfo esta se referindo & mulher adul- ta, masao homem, Nesse momento, nfo se cogitava a possil e de se instituir © voto feminino (0 que somente ocorreria em 1934), embora muitas mulheres, em especial nos niteleos urbanos, {ja soubessem ler e escrever. ‘Uma outra faccao de deputados, por sua vez, posicionava- “Aria ao yoto des “nao instruidos”. O deputado Candido ira, por exemplo, afirmava que “Os analfabetos nao FRECONCUTO CONTRA O ANALEABEI 39 tm opiniao por si, inspiram-se nas opinides alheias, so o refle- x0 do pensamento dos potentados, ¢, a meu ver, seria um grande Perigo para a verdade da elei&o, se eles para ela concarressem sem a consciéacia de sua responsabilidade” (apud Rodrigues, 1965: 145). Rui Barbosa, redator do texto final da Lei, também era cone 8, Pos acreditava que a educacio era senvolver o pals, Para cle, em scu conhe- das a leis protetoras so ineficazes para ica do pals; todos os melhoramentos materiais so incapazes de determinar a riqueza, se nXo partirem a educagaio popular, a mais criacora de todas as forgas econdmi- cas, a mais fecunda de todas af medidas financeiras” (apud Paiva, 1983: 73), ia popular é vista como “a mie da servilidade cdam (76. f Entre a dependéncia ¢ © bom senso; entre a incapacidade € \ a perspicacia; entre a incompeténcia ¢ a dignidade; entre a misé- | Ha € 0 conhecimento; entre a servilidade e a inteligéncia: assim parece se situar 03 discursos sobre o analfabeto no Brasil naque- | le momento, | a tinica forga capaz de cido parecer de 1882, " gerar a grandeza cou Cena 5 — Intelectuais discutem como acabar com a vergonha do pais: 0 analfabetismo cio do sécullo XX. Ja es- tamos na Repiblica ¢ grupos de intelectuais brasileiros discutem, em varias instancias, o analfabetismo no pais, agora referido como a “vergonha” nacional. A primeira Const tro, eliminado a selegao de cleitores por renda. O censo de(1890) mostrava que mais de 80% da populacio brasileira era analfabe- © DiPEO -cALvio Go que gerou, entre os intelectuais brasileiros, um sentimento de *Vergonha” diante dos paises “adiantados”.* Diante desse quadro, as primeiras décadas do século XX foram mareadas por intensa’ mobilizagtes, cm diversas esferas da sociedade, em tomo da alfabetizacio de adultos. Foram muitas as campanbas pela alfabetizagao no periodo. Ao lado de associagoes que congregavam intelectuais, varios estadot, muitos dos quais_/ administrades na érea educacional pelos intelectuais vinculados C ao movimento qa Excola Nova, tomaram iniciativas diversas em|« relagio A questo. Em 1915, por exemplo, foi fundada, no Clube Militar do Rio de Janciro, a Liga Brasileira conéra 0 Analfabetismo, que, como afirmam seus Estatutos, pretendia se caracterizar como um “movr mento vigoroso € tenaz contra a ignarancia visando A estabilidade e a grandeza das instiuigdes repablicanas” (apud Paiva, 1988; 96-97), ‘Os debates em toro da necessidade de eliminar o analfabe- tismo, por meio da disteminagio da edueagio por todo 0 pals, também foram centrais no interior da Associagio Brasileira de Educagéo.' A ignorancia, cm muitos discursos formulados por higienistas e sanitaristas, é cansiderada uma “calamidade publi- ca” € comparada & guerra, a peste, a cataclismos, a uma praga’ A falta de educagio “é comparada ao ‘efincer que tem a voltipia ao corrver célula a célula, fibra por fibra, inexoravelmente, 0 or ganis ando a nasao a ‘subalternidade’ a ‘degenerescén- 5. Fransa, por exemplo difto da albetaagto cm consitnca da general dvcajao exo fer dom que, j& nox primero anor do ssulo XX, 97% dos 99% dat mulheres asiassem sexs nomes nos registro de casa (Aris © 1981), 6. Param etd aprofundado sabre ARE, ver Carvalho (1098. 7-Farauma andlse das imagens do aralfabetae do anafabeismo do ponto de vst smécico higinis, ver Rocha (1995), FREDOWCATO CONTRA © ANALEABETD “ de outras expresses, com fortes cargas discursivas, ¢ 0 breza, a criminalidade, 03 sertdes, o alcoolismo ¢ outros vicios, as verminoses ¢ outras doengas. O analfabeto € visto, n microcéphalo, de visio payquica es- ro, @ enorme massa das nogoes los passam palavras » idéas como 5 0 seu campo de apercepgao é uma igencia o vacu ciocins, no entende, nfo prevé, nko {magina, nao cria, Muitos 50 sahem da indiflerenga musulmana. nos expasmes do banditismo, (Couto, 1923, apud Ro- cha, 1995: 80.) 1 x Para os intelectuais, as “elites esclarecidas” deveriam desem- penhar um papel fundamental nesse processo de regencragio da nagdo, através da obra educativa, considerada redentora, como pode se obscivar no irecho abaixo, publicaclo em 1928, também. de Miguel Couto: © analphabetismo & 0 cancro que anniquila 6 nosso organismo, com as suas milkiplas merastases, aqui a ociosidade, ali o vicio, além o crime, Exilado de si mesmo como em um mundo deshabitado, quase repellido para fora da especie pela sua inferio- ridade, 0 Em todos os lugares do pafs, surgiam idéias e propostas que visavam erradicar 0 analfabetismo no menor prazo possivel. Abner de Britto, bacharel em ciéneias juridicas e sociais, promotor pii- ‘camente a0 ensino dos analfabetos. Segundo seu autor, 08 sujeitos submetidos ao método “ficam lendo e escrevendo apés haverem a Di ERR cALIAD tecebido sete ligdes”. Cada ligio tinha a duragio de wés dias, Abner afirma propager seu método por todo o pafs, dando “com. bate co analphabetismo tio deploravel em nossa cara Patria”! intelectuais também havia, por outro lado, wm cer to ae, a alfabetizagao pura e simples — caso nio viesse acompanhada de uma formagéo moral — se transformasse em luma arma que, por sua prépria natureza, ¢ “perigosa” (Heitor Lyre da Silva, apud Carvalho, 1998: 150). Cameiro Leto chega 2 afirmar, em 1916, que temia que a alfabetizagéo generalizada Pudesse aumentar a “anarquia social”, pois “Toda essa gente que, inculta c ignorante, se sujeta a vegetar, se contenta em ocupagées inferiores, sabendo ler e escrever aspiraré outras coisas, querer ultra situagao ¢ como nf hé profissées préticas nem temos caps cidade para crié-las, descjara também ela conseguir emprego Publico” (apud Paiva, 1983: 92), Improdativo, doente, degenerado, vicindo, servil ¢ incapay. (Os intelectuais republicanos parece referendar, assim, discursos que vinham sendo tecidos, na sociedade brasileira, sobre o anal- fabcto, agora identificado ao “pov”, Potencialmente perigosa, a alfabetizagao deveria ter dada, por sua vez, de maneira controla- a, pelas elites intelectuais responsaveis pela regeneragto das massas, Deveria vir acompanhada, assim, de uma formago mo- ral, capaz de livrar 0 analfabeto-povo de seus vicios, Cena 6 — Governo federal langa campanha de alfabetizacao de adolescentes e adultos Estamos em 1950, em um curso promovido pelo Ministéxio da Edueag&o ¢ Satide destinado a educadores da Campanha de 8. Arqivo Piblico de Mato Grosto: Ofc o/n) para D Aquine Cortéa— Gover: rd do Bando de Mato Growo, Lata 4-92]. Agradecetnos a Lazara Nanci Amante © 2‘ Canconils Cardoso a refeéncia ao “desanalphabetiador” PRECONCHTO CONTA © ANALABETO 43 Educagao de Adolescentes € Adultos (CEAA). No livro que serve de base a0 curso 0 educacor Lourengo Filho, dirigente miximo da Campanka, caracterizava o analfabeto como alguém que vive em condigio de (.) minoridade econdmica, politica © juridica: produz pouco e mal, ¢ € freqiientemenie explorado em seu trabalho; nde pode votar © ser votado; no pode praticar muitos atos de direito. O analfabeto no possui, enfim, sequer os elementos rudimentares de cultura de nosso tempo. (Citado por Paiva, 1983: 184.) Na mesma publicagio, a professora de psicopedagogia do curso, referindo-se a0 analfabeto como “uma espécie de zero que cujo valor 96 se revela quando a direita dos que sabem ler”, assim 6 caracteriza: fa face para enriquecimento de sua rea, sentirse como crianca se tein as responsabilida- Dependente do contato f experiéncia social, ele tem a grande, irresponsivel ¢ ridfoula des do adulto, manter uma familia ¢ uma profissio, ele o fara em plano deficient (..) O anelfabeto, onde se eacontre, sera um pro- blema de definig&o social quanto aos valores: aquile que vale para ele & sem mais-ralia para os outros e se torna pueril para os que dominam 0 mundo das letras. (..) inadequadamente preparado para as atividades convenientes a vida ad le tem que ser posto & margem como elemento ficagio nos empreendl- ‘Adult-crianga, como as criangas ele tem que viver mum mundo de egocentrismo que tie Ihe permite ocupar os planos em que as decisoes comuns tém que ser tomadas. (Citado por Paivs, 198%: 185-185.) ‘mentos comu Tniciada em 1947, com recursos do Fundo Nacional de En- sino Primario (FNEP), a Campanha enfrentou 0 desafio proposto pelo censo populacional de 1940, que registrou um indice de anal- fabetismo 455%) la populacao com idade superior a 18 anos, Sth “ DiPanHo +catvio respondeu as pressées externas em prol da alfabetizagio da Onga- nizago das Nagées Unidas para a Educagao, Ciéneia e Cultura (Unesco), recém-criada no_pos-guerra, Representou a primeira politica priblica federal de educagio de jovens adultes no pats, nulsionada pela redemocratizagZ0 do Estado brasileiro ao tés- mino do Estado Novo. AGEAA se estendeu até prinefpios da década de 1960, com- portou em seu interior a Campanha Nacional de Educagdio Ru- ral, mas nao alcangou a propalada “ago em profundidad Previa continuidade de estudos, formagao profisional e univers dades populares), restringindo-se & alfabetizacio exiensiva, A ca- pacidade de mobilizagao observaca nos primeiros anos nio se manteve ao longo da década e a Campanha entrou em decinio, ‘mas a experiencia de allabetizagio de grandes contingentes de brasileiro modificou no seu percurso a visao preconceituosa em relagio aos analfabetos, abrindo espago & emergéncia de uma nova concepgio de educagao de jovens ¢ adultes. Cena 7 — Salas de alfabetizagao de adultos funcionam em todo pais: 0 analfabeto é alguém que possui cultura Nossa sétima cena sc passa no inicio dos anos 60 em uma sala de aula — denominada cfrculo de cultura — para adultos em Angicos, sertao do Rio Grande do Norte, Um outro discurso s0- bre o analfabeto vem sendo tecide hé alguns anos. Os edueandos, adultos anaifabetes moradores da regio, dis- Postos em circulo, discutem sobre a sua situagio ce vida. Cada um deles conta sua propria trajetéria, suas dificuldades, suas alegrias, Contam o que sabem, 0 que aprenderam na vida pratica, 0 que ouviram de seus pais, o que ensinam a seus filhos. Narra histérias, recitam poesias, falam do seu dia-a-dia, Depois, com a mediagio do monitor/educador, escolhem uma palavra, denominada pala- i PRECONCEITO CONTRA O ANALEABETD 8 vrargoradora, quesinttize as discussbes realizadas, Povo, voto, xique~ xique so algumas delas, Em um outro momento, com 0 apoio de slides ou de cartazes, voltam a falar sobre suas historias e sobre 0 mundo que os cerca, a partir da palavra escolhida, A palavra, agora dividida em silabas, também serve de base para a sistema- ado da Icitura ¢ da escrita.’ Esse modo de ssim, na idéia de que, a partir do conhecimen- ‘o da realidade do educando, 0 educador seleciona algumas pala- vras que possam desencadear um proceso de problematizagio dessa mesma realidade e as formas de superd-la e, ao mesmo tern Po, sirvam como ponto de partida para o ensino dos padrocs sila bicos da lingua. Utiliza-se, nessa sala, 6 método Paulo Freire” Jéhé alguns anos, ao criticar as bases sobre as quais se orga~ nizavam as Campanhas de AHfabetizagio do governo federal, Paulo Freire indicava que as aulas para adultos deveriam ter por base a propria realidade dos alunos e que 0 trabalho educative deveria ser feito “com” o homem e nio “para” o homem, Os materiais a serem usados com 05 alunos néo poderiam ser uma simples adapta- fo daqueles que ja eram utilizados com as criangas, Subjacente ‘a essas novas praticas propostas estava a concepcao sobre o adulto nao-alfabetizado, que nao poderia mais ser visto como alguém ‘Jgnorante ¢ imaturo, mas como um ser produtor de cultura e de _sabczss Por isso, um dos pressupostos em que baseava a sua pro- pposta de alfabetizacio era o de que a leitura do mundo precedia a Ieitura da palavra. Além disso, afirmava que o problema do anal- fabetismo nfo era o tinico nem 0 mais grave da populsclo: as _condigdes de miséria em que vivia 0 nito-alfabetizado & que deve- riam ser problematizadas dbs sobre a pxcogénese da 10 eatava em quistio de que modo o made notagtoalfabitio, o que viiaa Fereio, 1999), 4“ IER GALA Muitas das idéias de Paulo Freire sobre o analfabeto e a agho alfabetizadora também estavam presentes em Varios outros movi- mentes de educacio e de cultura popular!” que surgiram no perio- do — entre-o final dos anos 50 e inicio dos anos 60, Entre esses movimentos, destacam-se 0 MEB — Movimento de Educasao de Base, da Conferéncia Nacional des Bispos do Brasil (CBB); © MCP — Movimento de Cultura Popular, ligado Prefeinura do Recie; 08 CPCs — Clentros Populares de Cultura, organizados pela Unio Nacional dos Estudantes (UNE; o CEPLAR — Campanha de Eduoagéo Popular da Parafba; o De Pé no Chao Também se Apren- de a Ler, da Prefeitura de Natal, Esses movimentes emezgiram em dlversos locals do pais, mas foi em alguns estates do Nordeste que 7 se concentraram em maior mimero ¢ com populagio brasileira era excluida da vida pot anallabeta. Os movimentos sargem da oxganizagao da sociedade civil visando alterar esse quadro socicecondmicd politico. cientizagio, participagao ¢ transformacao social foram con elaborados a partir das agées desses movimentos{O analfabetiad) visto no como causa da situacdo de pobreza, mas como eleita de uma sociedade injusta ¢ nio iguali: tia. Por isso, a alfabetizacio de adultos deveria contribuir para a transformagio da realidad social. ica nacional, por ser centro do proceso de alfabetizacio. fem muitos etudore public sobre es monienios Consular, pra periods, Favero (1983), 12, Ver Bren (2002), PRECONCETD CONTRA 0 ANALFARETO “ dos do nosso século, Pfios sucessivas edie uma organizagio comum! trazi yara que o aluuno, entao cartas do. ABC podem Tig. 1 Cartiba de ABG de Landetino Rocha * DI PERRO + cuLvko Cena 8 — “Minha mao @ domével": 0 Mobral e a alfabetizagéo de adultos Nossa pemiltima cena se passa nos anos 70 do século XX. Estamos, agora, em uma sala de aula do Mobral (Movimento Bra- sileiro de Alfabetizagio), Adultos de meios populares aprendem a ler ¢ escrever, Utilizam, para isso, um mesmo livro, adotado em todo o Brasil, que apresenta palavras-chaves ¢, a partir delas, 03 padroes silabicos da lingua portuguesa. Nele, podem ser idas men- sagens que enfatizam a necessidade do esforgo individual do edu cando para que se integre ao processo de modernizagao e desenvol- pats. O professor é um estu ue escutou os apelos veiculada no radio e na televiso, que repetia, av som de uma mnisica: “Wicd tanbérn é responder, entao me ensine a eserves tenho a mia mio dora, ex snl a sede do saber". Actedita que, por meio de sua acio sernivoluntéria, pode transmitir 0 seu saber ao outro ¢, assim, tré-lo das trevas do analfabetimmo. Em muites ca- 80s, consegue apenas ensiné-lo a “‘desenhar” 0 nome, Estamos sob a ditadura instalada ap6s 0 gobpe militar de 1964, Devido repressio a todas as formas de dissidéncia politica, movimentos de eduucago ¢ cultura popular so extintos” € o gover- no federal cria 0 Mahral em 1967 ( suas atividades em 1969), que fimeiona com uma estrutura paralela e autOnoma em Telagin ao Ministério da Educagio, com forga e muitos recursos. Se a pratica da alfabetizagto desenvolvida pelos movimc tos de educagio ¢ cultura popular estava vinculada a pret zas2o € a conscientizagio da populacéo sobre a realidade vivida © 0 ecucando era considerado participante ative no proceso de 13. Except & negra, a obrevivdaci do Movimento de Educajte de Base (MLB) runteoregimerntitar eveuse & influence fry potica dt Igreja Cala, Para eretanto,o Movimento se descaractriou, mite embora alu ‘no meio popular tenham we mantidojieo as comunia PREDONCHTO CONTRA © ARALFABETO transformagio des politico posterior ao golpe militar a alfabetizagao de adultos cum- ppre as fungdes de adaptar o migrante rural aos mercados de tra- balho e consumo urbanos e preparar a forca de trabalho para o dor de riquezas, ao mesmo. cas de analfabetismo, mostrando a comunidade internacional que © Brasil catava “ctvadlicando a vergonha nacional”.!* 14, Tara ane andlie das polis de educagSo de adilos do regime militar « “Mobral em particular, consltar Paiva (1961 € 1982) ¢ Haddad (1991), 50 DIPIRRO + SALVAO Os métodos ¢ © material didatico propostos pelo Mobral assemelhavam-se, aparentemente, aos elaborados no interior dos movimentos de educagao ¢ cultura popular, pois também par tiam de palavras-chave retiradas da realidade do alfabetizando adulto para, ento, ensinar os padres silibieos da lingua portuc guesa, No entanto, as semelhangas eram apenas superficiais, na medida em que todo 0 contetido eritico ¢ problematizador das Propostas anteriores foi esvaziado. Além disso, era um material padtonizaco, utiizado indistintamente em todas as partes do Brasil Muitos outros programas ¢ movimentos de alfabetizaszo de adultos foram criados paralelamente ¢ depois da Gsanga) da Mobral ocorrida em 1985. Naqueles emanados da sociedade civil ares que assurnirarm prefeituras depois da. que- miscavarse resgatar os discurs0s ¢ as pré- de educagio e cultura Popular dos anes 60. © adulto analfuheta ¢ visto como capaz, produtor de cultura, dotado de saberes, formuladar de hipotcses acerca do sistema alfabético, usuario de praticas de leitura ¢ de escrita em seu cotidiano, ‘ Cena 9 — Deputados e instancias da sociedade civil voltam a discutir 0 voto do analfabeto Nos anos que antecederam a promulgacio da Lei n° 7.932, de I* de julho de 1985, que restitui ao analfabeto o diteito de voto, depois referendado pela Constituigio de 1988, o debate em torno do tema yoltou a se instalar no Brasil. Dois meres antes da 18, Em sea artigo 1, a refer let dspbe que “O alitamento ekitor {eto dipensanco- a formaliale deo prépra alitando daiaro respective requeriments ‘quando este no suber assinar o neme, apor s imprette digital de wu plegne dick ‘ho requerimento en fhe de voto, Parigrae dio. O mesina ate sed utlizade no dia da votajao para o clelior que nap touber astnar o nome”. Disponive em PRECONCEITD CONTRA © ANALEABETO 31 digo da lei, por excmplo, AntOnio Rogue Citadini, conselheiro do Tribunal de Gontas de Sao Paulo, publicou, no Ditrio do Cemér- cio ¢ da Indistria,® urn axtigo em que, a0 comentar as mudancas propostas pela comissio interpartidaria ao Congresso Nacional ‘que estudava as mudangas na legislacao eleitoral, situa 0 voto do analfabeto como ponto central dos debates que entdo ocorriam. De um lado, aqueles que defendiam a manutengfo da exclusio dos analfabetos argumentavam que a pessoa que nao sabe ler nem escrever ndo esté apta a escolher seus dirigentes, constituindo-se em. uma frégil massa de manobra nas mios dos mais letrados, Os dis- cursos que conferem ao analfabeto o lugar de incapaz, de cego, de Acpendente ¢ de ignorante continuam, assim, a circular com for- gal” De outro lado, estavam aqueles, entre os quais 0 autor destaca 0 entdo deputado Ulysses Guimaraes, que argumentavam que, se © suftdgio era universal, deveria ser estendido a todos os brasileiros. A Gonstituigéo de 1988 consagra o direito piblice subjetivo dos jovens ¢ adultos a0 ensino fundamental piblico e gratuito ¢ confere ao analfabeto o direito a0 voto, mas na década seguinte programas goveraamentais como 0 AYabolizagto Selidéria continua ram a colocé-lo no lugar de dependente 20 convocar a populacao a “adoté-lo”."" Permanecem identificande 0 analfabetismo a uma swvneplanalo govbe/ CIVIL 1962, foipubliado 17, Recersementeem 2/8/2006) opresidene do Thibusl de Cons da Unio, Aden ‘Mota, declaroa que o maior etrave A slfabeizagao foi exatamente 0 yoo do aulfbeto, lacm seu see nosmeio decor le Findoaenjo lena ¢ “aco en anal rogram er, por exempo, Hadad e Di Pierro (2000) Di Fierro (2001), 8 DIFERRO® caLAO docnga que precisa ser extispada da sociedad brasileira, na me- ida em que propOem a sua erradizapo em um tempo o mais breve possivel — cinco meses no caso do Ajabetizardo Solidiria, de seis a ito meses no caso do Brasil Afabstizeds.!* Reforgam, ainda, a de que o alfabetizadar de adultos pode ser qualquer pessoa “de boa vontade” que esteja dis a “ajudar”, ¢ nflo um profissio™ nal com formacio qualificada. Desse modo, @ alfabetizagio nfio Se coloca, mais uma vez, como direito, mas como “caridade”, 0 que acaba por legitimar o lugar secundario ocupado pelas politi- cas de educagio de jovens e adultos na agenda piblica. O analfa- beto assemnelha-se a uma crianga que precisa da ajuda de alguém Esse tipo de representagéo, em suas diversas varingées, & re corrente ma midia, como vimos, nos programas oficiais, n curso politico ¢, ao mesmo tempo que nutre o preeonceito, gera & baixa auto-estinya dos nAo-alfabetizados que, apesar de viverem dignamente, incorporam 0 dliscurso da inferioridade a eles atri- bbutda.{ultos alfabetizadores) ao se depararem pela primeira vez com uma turma de adultos nZo-alfabetizados, parecem se portar diante de “tab as” que precisam do saber do outro para iverem. A idéia de que os educadores tém, entre suas tare- implantagdo" de uma suposta consciéncia critica nos edu- candos é, do mesmo modo, muito forte: aqui também se repete uma concepgio ihuminista de educagio, na medida em que se atribui aos intelectuais o papel de dissemninar 2 suposta verclade, 19, Ceiado em 2008 pele governo federal 20, Nos dscursos que proferiuem janeiro de 2008, na pose como minsro da Ea ‘agio, eer stembeo de mesmo ano, ne langamente de programa Brasil Albetendo, ‘Crstovam Buargue defini alfabezasto de adukos como prioidade de sua gestorfe- ‘indo a0analiabetisne cero "chage” ecomparando meta de universalzasto da ala- betnaglo a “sbeligo da csraviio™ Son PRECONCETD CONTRA ANALFAETO 58 lugar simbélico do analfabeto na sociedade é histérico e por isso pode ser transformado fdas as cenas contra 0 analfabeto foi sendo fabricado, em cas sociais, ao longo da historia brasileira. Esse linear, na medida em que as visdes sobre aquele Podemos perceber, depois de perc que 0 precon diferentes processo no que nio sabe ler nem escrever nfo caminharam em uma tinica diregao, Hoje, assim como ocorreu. em outros momentos, discur- vezes antagénicos concorrem, em difer tes esferas, na produgaio de um lugar simbélico para esse suj so: diferentes ¢ mui As cenas ainda nos ajudam a compreender que, quando a cultura escrita no ccupava o lugar de cultura legitima ¢ central a, nfo st podia falar da existéncia de um preconceito contra o analfabeto, Nese momento, também as el tes brancas masculinas proprictarias rurais, com poder de decisiio politica, nfo sentiam necessidade dos usos sociais da leitura e da esorita, Vemos, portanto, que o estigina contra o analfabeto nao € universal, mas relative ao poder da cultura escrita em tempos, grupos sociais ¢ soviedades historicammente determinadas. Os usos ¢ fungSes da escrita diferem enormemente nas diferentes socieda- do pertencimento etirio, des, comunidades, ¢ em conseqiién: de género etc, Para alguns grupos, aprender a ler e escrever ¢ condigio quase impre algumas comunidades rurais tos e impressos ou, de mai isoladas — aprender « ler ¢ eserever nao tem 0 mesmo grau de importancia, “ DIPERRO «crLviO Constatamos também, por meio das cenas descritas, que a pripria condigio de analfabeto nao ¢ tinica mesmo quando esta- mos nos referindo a uma mesma época em ura mesma socieda- de, O estigma pode ser maior ou menor se aquele ler nem escrever é um homem (¢ no uma mulher), um morador do meio urbano (e nao do meio rurall, um jover [e no um idoso) ¢ assim por diante, No préximo capitulo, retomaremos algumas ddas discusses aqui apontadas, na medida em que discutiremos dadlos sobre 0 analfabetismo no Brasil ao longo da contemporaneidade. \e no sabe | i ' |

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