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DIREITOS REAIS Professor Regente: José Alberto Vieira REGISTO PREDIAL ~ 0 Registo Predial encontra-se organizade em Conservatérias do Registo Predial, a frente das -quais se encontra um conservador do Registo Predial. ~ Aabreviacia de Codigo do Registo Predial seré “CRP”. Nao confundir com a Canstituic¢ao da Repiblica Portuguesa. ESCOPO DO REGISTO: = Dotar a ordem juridica de um dispositive organizado que permita a qualquer interessada aferir a existéncia e titularidade dos direitos reais sobre prédios (Art. 1° CRP). Supde-se que a consulta do Registo Predial faculta ao interessado o conhecimenta da situacdo-juridico-real do prédio em questo. ATOS DE REGISTO: = Sao trés atos de registais: a)_Descricio Predial ‘Tem por fim a identificacao fisica, econamica ¢ fiscal dos prédios (Art. 79°/1 CRP). Tratase de determinar a localizacda fisica, onde se situam, qual a sua area, a sua conformacio (ristico ou urbano), o-Seu valor patrimonial constante da matriz € a situacao matricial (Art. 82°/1 CRP). + De cada prédio ¢ feita uma descricio distinta (Art. 79°/2 CRP). Espera-se que todos os prédios da drea da conservatéria estejam descritos nesta para, a que pode nao suceder. - Nenhum ato registar é feita (inscricaa e averbamento) sem que a descricao esteja lancada. Da mesma forma, a descricao apenas ¢ feita na dependéncia de uma inscricao ou averbamento (Art, 80°/4 CRP) b) Insericao ~ A inscricao visa definir a situacao juridica dos prédios, mediante extrato dos factos a ela referentes (Art. 91°/1 CRP). Reporta-se aos Tactos sujeites a registo segundo o disposto nos arts. 2° @ 3° CRP. Pade ser definitiva ou proviséria: - Ainscricao definitiva constitui o registo final do facto = Ainscricao provisoria tem lugar quando @ facto a registar é insuficiente para produzir a alteracio Juridica do prédio c)_Averbamento + Tanto a descri¢ae predial come a insericao registar padem ser completadas, atuallzadas ou retificadas mediante averbamentos (Art. 88°/1 @ 100°/1 CRP). OBJETO DO REGISTO: = Quando se fala de objeto-do registo tem-se em vista a inscricao registal. O registe tem por vista factos juridicos (compra ¢ venda, permuta, sucessio, étc) ¢ nao situagées juridicas (direitos ou outras). Nao existem registos da propriedade, ou do usufruto. Como decorre do Art. 2° CRP, a inscricio registal so Tactos ¢ nag direitas. Inscrevem-se factos para que © sujeitos interessados possam conhecer a situaco juridica em que se encontra o prédio. TITULO PARA REGISTO: Para que seja promavide o registo, o facto a registar tem de estar titulado em documento escrito (Art. 43°/1 CRP). Narmalmente os factas ligados a prédias J4 exigem forma escrita. Todavia, ha factos que ainda assim dao essa liberdade aos individuas: ¢ o exemplo da usucapiiio. A usucapifi, para que seja registada, deve ser justificada notarialmente ou declarada judicialmente. 0 mesma com o registo da posse (Art. 1295°2 CC}. LEGITIMIDADE PARA REGISTAR: = 0 Art. 36° CRP estabelece que tém legitimidade para registar os sujeitos, ativos ou passives, da respeita-a relacao juridica e, em geral, todas as pessoas que nele tém interesse ou que ‘estejam obrigadas 4 sua promocao. ~ “Todas as partes interessadas” so aquelas cuja posicao juridica possa ser afetada pela falta de registo. Tipicamente, os credares do adquirente sio pessoas interessadas. ~ Também todas as pessoas que, segundo-o disposto do Art, 8°-B CRP, tém o dever de registar o facto tém legitimidade para registar LEGITIMAGAO REGISTAL: Esta regra consta no Art. 9° CRP ¢ no Art. 54°/2 CN. Neste casa j4 nao estamos perante quem, ‘tem legitimidade para registar, mas sim saber quem o pode pedir. Diz-nos o-Art. 9° 1 CRP que ‘0s factos de que resulte transmisséo de direitos ou constituicio de encargos sobre iméveis nao podem ser titulades sem que as bens estejam definitivamente inscritas a favar da pessoa de ‘quem se adquire o direito ou contra © qual se constitui o encargo. Dado que as factos Constitutives, modificatives, translatives ou extintivas estéo normalmente sujeitos a escritura publica (Art. 80°/1 CN), © notario $6 pode outargar a escritura de disposi cao de direito real atinente a prédio caso 0 dissonante tinha registo a seu favor. + 0 Art. 9°/2 © 3 CRP atenuam os efeitos da imposico indireta de registo que resulta no n° admitindo, excepcionalmente, que seja titulada o facto constitutive ou translative em casos nas quais 0 dissonante nao tem registo. = Questiona-se qual é 0 valor juridico de ato de constituicéo ou transmissio-do direito se 0 mesmo houver sido celebrado mesmo sem a disponente ter registo do seu facto aquisitivo: OLIVEIRA ASCENSAO e CARVALHO FERNANDES: Defende a tese de validade deste negdcio juridica, apontando apenas sang6es disciplinares a quem titulou 0 ato em violacaa do preceito. JAV: N30 hé motivo de promover o desvalor da nulidade. Estamos longe da ratio legis do Art. 294° CC que estabelece que ha nulidade quando as partes violem preceito injuntivo. 0 Art. 9°/1 CRP ndo ¢ um comando dirigide As partes, mas ag notario-ou ag juiz que titula 0 ato. Asua violagio no deve atingir a eficicia do negécio pretendido pelas partes, mas atingir somente 0 agente dessa violacio (Em suma, concorda com Oe CF) PRINCIPIOS DO REGIS TO PREDIAL: ~ Principio da obrigatoriedade - Aobrigatoriedade do registo nao contende, de todo, com a eficacia real de negécio juridico. Se 8 brigade aa registo naa o promover, com vialacao do dever Legal, nem par isso estes contratos deixam de ter eficacia real au esta deixa de ocarrer no momento da celebracao do contrato, por mero efeito (Art. 408°71 CC, principio da consensualidade). © comprador adquire o direite real (Art. 879° /a) CC), assim como o danatério (Art. 954°/a) CC) independentemente de haver registo (obrigatoria). A obrigatoriedade prevista no Art. 8°=A CRP nao contende com a eficacia real do contrato. - Aobrigatoriedade do registo predial concretiza-se pela imposicho de um dever de registar a uma categoria de destinatarios (Art. 8°-B CRP). A promocao do registo por algum com legitimidade para o fazer exonera o obrigado (Art. 8°-A/5 CRP) = Principio da legalidade = Previsto no Art. 68° CRP, comporta duas medalidades: 0 controle formal da legalidade €-0 controlo substancial.. . Num sistema em que vigore o principio da legatidade formal, o conservador controla unicamente 0 respeito pela regra da forma legal a legitimidade das partes, sem entrar na apreciacao de outros aspetos da validade do facto a registar . Num sistema de legatidade substancial cabe ao conservador mais do que a apreciacio do Fespeito pela forma legal ea legitimidade das partes. Ha um verdadeiro controle da validade do ato sujeito a registo. = O CRP adotou um sistema de legatidade substancial erguendo 0 conservador como uma instancia de cantrolo dos requisitas de validade negoci al. O conservador deve recusar 0 registo nos casos do Art. 69° CRP e lancar como inscricao registal provisoria nos casos em que tenha duvidas (Art. 70° CRP). - Oconservador no pade, todavia, substituir o juizo do titular do direito a anulacso (0 julz) ~ Principio da instancia - Ainiciativa de pratica dos atos registais pertence aos interessados no registo. O conservador no lanca as registos oficiosamente. E este o significado do principio da instAncia (art. 41° CRP). O pedido de registo deve ser apresentado no madelo oficial aprovada e deve ser entregue com 1s documentos que titulama facto a registar (Art. 43°/1 CRP). ~ Principio do trato-sucessivo . Vem previsto no Art. 34° CRP. Dispée 0 n° que o registo definitivo depende de prévia inscricso dos bens em nome de quem os transmite ou onera. 0 regista deve patentear toda a sequéncia dos factos juridicos juridicos que respeitam a cada prédio descrito. Procura-se que a histéria juridica do prédio seja retratada pelo Regista Predial ¢ que a consulta deste pelos interessados revele os factos juridicos relatives a ele. = O registe feito com violacae do trato sucessivo-¢ nulo (Art, 16*/e} CRP). © principio tem como destinatario o conservador & nio as partes. A violacio deste principio é da respansabilidade do conservador (Art. 34°/1 CRP). ~ Principio da prioridade = Consta do Art. 6° CRP. No n*1 dispoe-se que o direita inscrita em primeiro- lugar prevalece Sobre os que he seguirem relativamente aos mesmos bens, por ordem da data de registos e, dentro da mesma data, pela ordem temporal das apresentacoes correspondentes. E uma regra de prevaléncia entre direitos compativels que vale, antes de mais, para os direitos reais que se constituam Com o registo (a hipoteca, Art. 687° CC @ Art. 4°/2 CRP). - O principio da prioridade nao tem aplicacdo quanto aos direitos reais de gozo, garantia ou aquisicSa que tenham oponibilidade a terceiros sem necessidade de regista. EFEITOS SUBS TANTIVOS DO REGISTO PREDIAL: ~ Aprevaléncia da ordem substantiva sobre a ordem natural infere-se da natureza ilidivel da presuncdo constante no Art. 7° CRP. A validade e existéncia dos factos inseridos na registo podem ser impugnadas e, feita a prova que 0 direito afinal nao pertence aquele que o registo proclama come titular, o registo deve ser cancelado (Art. 8°71 13° CRP). + Adivergéncia ou descanformidade entre a situacdo registal € a situac&o substantiva pode ‘acontecer em quatro casos: a) Incompletude do registo . Diz-se incomplete o registo quando um facto que a ele estava sujeito nao foi registado. imaginemos que A vende a Bo prédio X e este ultimo no regista. Ha uma incompletude do egisto, dado que falta um facta juridico para que a informacso que expde 0 Registo Predial esteja acurada, b) Ineficacia do Registo - Aineficacia abrange as situacGes de inexisténcia de registo (Art. 14° CRP) e de nulidade Fegistal (Art. 16° CRP). O registo inexistente nao produz efeitos, padendo a existéncia ser invacada por qualquer pessoa sem necessidade de declaracaa judicial (Art. 15°/1 e 2 CRP). O registo nulo, por outro lado, tem de ser declarado judicialmente sé depois do transite em. julgado da decisio é que pode ser invocado (Art. 17°/1 CRP) [A inexistncia ou invalidade nem sempre tém por objeto uma divergéncia entre a ordem substantiva e a ordem registal, mas, pode acontecer. Um exemplo & 0 regista de titulos falsos (Art. 16°%a} CRP) £) Inexatidao do Registo - Segundo o Art. 18°/1 CRP, o registo é inexato quando se mostre lavrada em desconformidade com o titulo que the serviu de base ou enferme de deficiéncias provenientes desse titulo que ndo sejam causa de nulidade. O registo inexato pode ser rectificado, nos termas dos Arts. 120° ss CRP. d) Invalidade do facto juridico registado = Nestes casos, o registo é valido e apenas o facto juridico registado se encontra ferido de invalidade. Fala-se em invalidade substantiva para se distinguir da nulidade registal prevista no ‘Art. 16° CRP, - Ainvatidade substantiva de um facta juridico nao é nulo nem se reporta a uma das situaces de inexatidao. E unicamente um registo desconforme a realidade substantiva. Dado o principio da prevaléncia substantiva sobre registal, a registo pode ser cancelado por via de declaracio Judicial ou se as partes acordarem sobre a invalidade e registarem o acordo, em conformidade com o Art. 13% CRP. ~ A desconformidade entre a ordem substantiva e a ordem registal pade Levantar problemas ‘delicados de tutela de terceiro que esteja de boa fé que confia na aparéncia juridica promovida pela publicidade registal. Em alguns casos, a ordem juridica excepciona a prevaléncia da ordem substantiva sobre a registal e permite que esta funde a protecio de terceiro de boa fé. Eo denominado efeito atributive do registo predial (veremos mais adiante). OS EFEITOS SUBSTANTIVOS DO REGISTO PREDIAL: = S40 cinco efeitos juridicos do registo predial: a) Efeito Presuntive Funda-se no Art. 7° CRP. Estamos defronte uma posicéo ilidivel, au seja, suscetivel de ser afastada mediante prova em contrario (Art. 350/2 CC). Quem tem a presuncio registal a seu favor, no tem que provar nada a que o registo alude (Art. 350°/1 CC}. A presuncdo abrange ‘0s elementos da inscricSo registal, mas no os da descricio. - A presuncao fundada no registo pade colidir com a fundada da posse (Art. 1268°/1 CC). Neste ‘caso, prevalece a mais antiga. = Se o registo-for juridicamente inexistente, 0 efeito presuntivo ndo produz efeitos (O Art. 15° 1 CRP nao deixa qualquer margem a nao producao de efeitos). Se for nula, o efeito presuntivo JA produz efeitos (Para invecar a nulidade do negacio ¢ preciso declaracéo judicial ou acordo ‘das duas partes, Art. 17°/1 @ 13* CRP) b) Efeito Consotidative Por forca do principio da consensualidade (Art. 408°/1 CC), a canstituicao au transmissao de um direito real opera por mere efeita de contrato, independentemente de haver registo. Também outros factas aquisitivos de direitas reais (a usucapida, a acessaa, a deciso- judicial) no carecem de qualquer registo para produzir efeitos. - Neste contexte normativo, 0 registo predial nao é parte do facta aquisitive do direito real. Porém, para além de admitir a disposico, notarial e judicial, do direito real, 0 registo evita a aquisicio tabular de um terceiro. E por isto que se fala de um efeito cansolidativo. c) feito Constitutive ~ 0 registo predial nao tem, em regra, efeito constitutive. Oudnica exemple em Portugal de efeita constitutive do registo predial é a hipoteca (Art. 687° CC € Art. 4°/2 CRP). O punto nao ¢ inteiramente pacifico: OLIVEIRA ASCENSAO: No caso da hipoteca, o registo ¢ meramente condicionante da eficacia absoluta. Antes disso, tinhamas um direite real desprovido de oponibilidade. JAV: Oregista constitui uma parte (a parte final) do proceso de constituicsa do direito real hipoteca e n3o uma merda condicao de oponibilidade. 0 registo tem eficacia constitutiva do direito real (hipoteca). d) Efeito Atributivo ou Aquisigao Tabular ‘Apesar de existir uma obrigatoriedade de registar, pode acontecer que registo fique incompleto e, desse moda, inexato a realidade juridica em que a prédio se encontra em ‘tempos atuais. Uma vez que o registra predial visa dar a conhecer aos interessados a posicio Juridica do prédio (Art. 1° CRP), consagrando uma presuncao de titularidade (art. 7° CRP} ‘que outarga a legitimacao para qualquer ato de disposicao (Art. 9°/1 CRP), se ele estiver incompleto, existe 0 risco de quem vier a praticar um ato juridice nada adquira, por o titular inscrito Ja nao ser o titular do direito na ordem substantiva e ndo ter legitimidade para dispor do seu direito. Atendendo que a ordem substantiva prevalece sobre a ordem registal, 0 titular do direito pode pedir e obter, em principio, o cancelamento do registo predial do nao titular (Art. 13° CRP). * Proteger um terceiro que adquire um direito na base de uma situacSo registal desconforme & realidade substantiva significa preterir sempre o titular do direito real na ordem substantiva, a favor de quem no adquiriu validamente o seu direito. Esta protecio constitui uma inversio da prevaléncia da ordem substantiva sobre a ordem registal e ergue 0 ato de registo a. um verdadeiro facto aquisitivo de direitos reais. Desta forma, a norma juridica que pratege os terceiras de boa fé é uma regra excecional. Esta protecdo de terceira de boa fé contra 0 titular do direito real tem o nome de Aquisico Tabular que tem como fundamento-a fé poblica registal. - Existem quatre preceitas onde se pode radicar uma aquisicéo tabular. Estes sao: 1, Art, 5° CRP - O Art. 5°/1 CRP dispoe que os factos sujeitos a registo s6 produzem efeitos contra terceiros depois da data do respetivo registo. Parece que, no seu sentido literal, este artigo pretende dizer que s4 ha opanibilidade a terceiras depois do registo. Naa é 0 casa. O escopo desta norma & proteger o terceiro que, confiando na aparéncia de uma situacSo registo desconforme & realidade substantiva, celebra um neg6cio juridico invalido camo titular inscrito e regista a sua aquisicso. - O primeira requisita de aplicacdo deste artigo é: o terceira, para ser protegido, tem de inscrever 0 facto aquisitivo do seu direito. Se o titular do direito real registar antes de si, este nao beneficiara da protecde registal prevista no n°1 do Art. 5° CRP. - Para efeitos de protecdo, resta-nos saber quem.é terceiro. O Art. 5°74 CRP diz-nos que terceiro é aquele que haja adquiride do mesmo disponente o direito real incompativel. Esta restringida aos casos de dupla disposicao. Se pensarmos em termos praticos, a mesma pessoa dispoe duas vezes do mesmo direita real sobre o prédio. Se o dispanente tem registo a seu favor € o primeiro ato de dispasicao {compra e venda, por exemple) nao é levado ao registo, a situacdo registal fica desconforme a realidade substantiva (registo incompleto). Assim Sendo, a disponente cantinua a vigorarno registo como 0 titular do direito real.4 legitimacao registal (rt. 9°/1 CRP), ligada intrinsecamente a presuncao de titularidade (Art. 7° CRP} permite-Lhe dispor uma segunda vez. O segunda ato de dispasicao é porém nulo (venda de bens alheios, Art. 892° CC), por falta de legitimidade do disponente. Se este dispds do direito no primeiro ato, ja nao tem legitimidade para dispor (ja nia € o titular do direito real}. Contudo, uma vez que o registe esta incompleto, qualquer interessado consegue registar o segundo ato de disposicSo. E aqui que intervém o Art. 5°/1 CRP, na conflito entre-o titular do direito real que nao registou e © pseudo-adquirente, que nada adquiriu validamente na ordem substantiva, mas que efetivamente registou o segunda ato, Este preceito determina a protecio do terceiro pseudo-adquirente, se este registar antes do titular do direito real incompativel. 0 significado desta protecio é a aquisicaa por via tabular de um direito que nao havia sido adquiride por via substantiva. - Porém, para que esta protecdo tenha efetivamente o efeito atributivo, nio ésuficiente que o- terceiro tenha adquirido do mesmo individuo que o titular do direito real e que tenha registado antes. Torna-se ainda necessirio que o terceiro esteja de boa fé e que @ negécio juridico celebrado seja oneroso. - Quanto 4 boa fé, trata-se de uma integracdo sistematica (em todos os artigos sobre a aquisicaa tabular 4 referéncia a boa fé} e tealeoldgica (esta protecdo tem como fim a fé publica Tegistal). Trata-se de uma boa-fé subjetivo-ética (consagrado do Art. 291°/3 CC). = Quanto a onerosidade do negécio, ha um autor que se opés a este entendimento: CARVALHO FERNANDES: Defende que as aquisicGes a titulo gratuite néo prejudicam a posico do terceiro de boa fé que registasse a sua posicao antes do titular do-direito real. JAV: Carvalho Fernandes tem contra si o argumento sistematico, que ¢ muito ponderoso. Em todas as hipéteses em que se enunciam os requisitos da aquisicao tabular do-terceiro, a lei é expressa em exigir que aquisi¢ao seja a titulo oneroso. ‘Assim, os requisitos para que se verifique a aquisicao tabular para efeitos do Art. 5°/1 e4 CRP sao: + Pré-existéncia de um registo desconforme 4 realidade substantiva (registo incompleto} + iAto de disposicio praticado com base na situacao registal desconfarme pelo mesmo sujeite que praticou o primeira ato de disposicao substancialmente valido # Boa fé do terceiro + Carater oneroso do negacio juridico de disposicio ‘© Registo anterior, por terceiro, ao registe do titular do direito real da sua aquisi¢ao, ainda que descanforme a realidade substancial I, Art. 17/2 CRP = Preceitua 0 seguinte: a declaracio de nulidade do registo nao prejudica os direitos adquiridos a titulo oneroso por terceiro. de boa fé, seo registo dos correspandentes factos for anterior a registo da acko de nulidade. Este preceito liga-se 4 disposicdo do n°1 que se refere a declaracio. judicial de nulidade. O terceiro que adquira uma pasicda juridica com base num registo nula pode ter adquirido de alguém que nao era substantivamente 0 titular do direito real que foi abjeto de disposicio.A lei dispde que, verificadas as requisitos, o terceiro adquirente nao vé a sua posicao ser afetada pela declaracao de nulidade do regista predial. . Este artigo so tem aplicacio nos casos em que 0 ato de disposicBo fundado no registo nulo é invalido por falta de titularidade do direito real com base no qual esse ato de dispasicio é celebrado. Imaginemos que A ¢éo titular do direito real do prédio X, com registo a seu favar lavrado por funcionario sem competéncia para tal. Vende a propriedade a B, que regista a sua aquisicio. O registo de A vem, entretanto, a ser declarado nulo, com fundamento na alinea d) do Art. 16° CRP. A posicao de B nde é atetada pela declaracdo de nulidade do registo deA, dade que 1» contrato de compra e venda nao € afetado por essa nulidade (o que poderia ficar em causa € 0 principio da trato-sucessivo, que, por sua vez, consubstancia a nulidade do regista de B, Art. 16%/e CRP). - Em segundo lugar, o-Art. 17°/2 sé atua em situacdes na qual o titular do direito real nao tenha Tegisto a seu favor. Se este regista existe, este preceito nao tem aplicacao. Imaginemos que A forja a assinatura de B, proprietério do prédia Xno qual tem o seu registo efetuado, e celebra um contrato de compra é venda entre B € C, 0 qual C regista. C, posteriormente, climplice de A, vende aD, que estava de boa fé e regista a sua aquisicao. O registo de C é nula, dado que foi efetuado por via de um titulo falso (Art. 16°/a) CRP}. Mas e D, que esta de boa fé? Nao fica protegido pelo Art. 17°/2 CRP, porque Abeneficia do efeito consolidativo-do registo predial. O efeito atributivo nao prevalece sobre o efeito consolidativo, que é definitive. No caso de.A no ter feito o registo, nesse caso, ja nde beneficia do efeito consolidative e por isso D, terceiro de boa fé que celebrara um neg6cio juridica oneroso, fica protegida pelo Art. 17°/2 CRP. - Assim, sumariamente, as requisitos so os seguintes: * Pré-existéncia de um registo nulo (com desconformidade substantiva), nos termos do Art. 16° CRP. Ficam de fora os casos do art. 14° CRP (registo juridicamente inexistente) # iAto de disposicao fundado no registo nulo- ‘© Tem que haver precedéncia do registo de terceiro do facto aquisitive nulo ao registo da acio de declaracdo de nulidade do registo #0 terceiro tem de estar de boa fe ‘© O negacio celebrado tem de ser oneraso = Ort. 17°/2 CRP distingue-se do Art. 291° CC: O primeira protege um tercetro subadquirente que adquiriu 0 seu pseudo direito com base num registo nulo desconforme com a realidade substantiva. Distingue-se do segunda, que também protege um terceire subadquirente por o seu Simbito de aplicacio supor a pré-existéncia de uma nulidade registal e ndo uma invalidade substantiva. Trata-se de uma sub aquisicio com nulidade registal. IL Art. 291° CC = Segundo o disposto.no n"1 do Art. 291° CC, a declaracio de nulidade ou a anulacio do negécio juridico que respeite a bens iméveis, ou a bens moveis sujeitos a regista, nao prejudica os direitos adquiridos sobre os mesmos bens, a titula oneraso, por terceiro de boa 1é, se o registo da aquisicéo for anterior ao registo da acdo de nulidade ou anulacdo ou a0 registo do acorda entre as partes acerca da invalidade do negécio. = Oart, 294° CC pressupde, desde logo, a pré-existéncia de um registo desconforme & realidade Substantiva por invalidade do negécie juridico registado. O fundamenta é a mesmo que as restantes: a fé publica registal. Imaginemos que 4 doo a B a propriedade do prédio X, tendo este Ultimo registado a sua aquisicao. De seguida, B vende a Co prédio X, que também regista. Entretanta, D faz declarar a nulidade da doacao de Aa B. Com esta nulidade, B vé afetada a sua legitimidade para transferir validamente o direito aC (a venda é nula, nos termos do Art. 892° CC}. Coma, no momento do registo da sua aquisicfo, © registe predial ostentava a prapriedade de B, coloca-se o problema da tutela de de C defronte des. Problema este que o Art. 291° CC resalve. . 0 Escope desde artigo é definir a protecao de terceiro de boa fé que adquire a sua posicao por base num registo-desconforme por invalidade substantiva do negocio juridico registado. - 0s requisitos do Art. 291° CC coincidem inteiramente com os do srt. 5° e do Art. 17/2 CRP. Ainda consagra um sexta requisito no seu n°2: os direitas de terceiro no sao, todavia, Feconhecidos se a aco for proposta e registada dentro dos trés anos subsequentes & conclusao do negocio. Se a acio de declaracio de nulidade au de anulacio do negécio juridico invalido for Propasta e registada nos trés anos subsequentes 4 sua celebracao do negécio juridice invalido, os efeitos da invalidade produzem-se, arrastando consigo a nulidade dos negécios juridicos subsequentes. O Art. 291° CC consagra, assim, um periodo de tempa no qual os efeitas de Invatidade negacial prevalecem mesmo contra terceira de boa fé. O prazo de trés anas conta-se- a partir do primeiro negécio invalido, aquele que afeta a legitimidade negacial dos restantes negacios posteriormente celebrados. Decorridos trés anos, terceiro: que reuna cumulativamente todos as requisitos fica protegide contra o titular do direito real na ordem substantiva. IV, Art. 122° CRP - Se ha uma desconformidade registal com a ordem substantiva, que vem a gerar, nfo a nulidade do regista, mas um registo inexata, nos termos do Art. 18°/1 CRP. O titular inscrita dispoe do direito a favor de um terceiro de boa fé. Este ultima pode ficar protegida nos termos da Art. 422° CRP, de mado inteiramente coincidente com o que sucede na hipétese do Art. 17°/2 CRP. + evidente que a posicae do titular do direito real fica preterida pela aquisicao tabular de terceiro. 0 efeito atributivo da-se sempre contra alguém, em dltima analise, contra a proprietario do prédio. Pode atetar outros direitos reais menares, mas repercute-se sempre na propriedade. - No caso ded, com a registo a seu favor, doar a B o prédio X, este, por sua vez, nao regista. Pasteriormente, A constitul com C @ direita de usufruto do prédio X. C regista (antes do regista da doacao, de boa fé, negécio oneroso, mesma sujeito a dispor duas vezes). Temos um conflito entre direitos, neste caso, os direitos abrangides pelo usufruto a onerar os da propriedade de B, sem que o mesma tenha constituida um usufruto. Estamos perante um ¢aso do Art. 5°/1 e 4 CC (dupla disposicio). C fica tutelade por este artiga, por preencher todos os requisites. Assim sendo, B fica obrigatoriamente onerado com um usufruto, © de C, apesar de a venda ser substantivamente nula (Art. 892° CC) + Quanto a relacio entre a usucapiio ¢ o-efeite atributive do registe predial, o Art. 5*/2/a) CRP permite considerar como meramente enunciativo a registo da usucapiéo de direitos reais de goz0. Aquele que redial, dado que a usucapiao nao € af etada pelas vicissitudes registrais, valendo por si, mesmo contra o registe da aquisico. O terceira que beneticia de aquisicao tabular nda pode fazer valer a protecso registal contra o titular do direito real adquirido por usucapiao. Fala-se da usucapio contra tabulas. OLIVEIRA ASCENSAO: a usucapiao é como. a ultima ratio dos direitos reais ©) Efeito Enunciative - "A razao para este efeito reside no papel de publicidade que o sistema normativa reserva & posse. Ausucapiio eas serviddes prediais nao aparentes $30 reconhecieis através da posse, ‘que publicita a situacao da titular do direita real, nao carecenda do regista para este efeito. ~ Os atos relatives aos quais 0 registo é enunciativo podem naa constar do registo predial e nao por isso que o titular do direito real fica sujeite a perder o seu direito por falta de registo. O beneficidria da usucapiao pode invocd-la contra o terceiro de boa fé que regista a sua AQusicao. A falta de regista nda impede o sucesso da invocacso, pois & publicidade registal & meramente enunciativa quanto 4 usucapiao (Art.5°/2/a) CRP).

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