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DIREITOS REAIS Professor Regente: José Alberto Vieira APOSSE NOCAO (Art. 1251° CC): Posse é o poder que se manifesta quando alguém atua por forma correspondente ao exercicio do direito de propriedade ou de outro direito real. Esta definicao & alvo de varias criticas. NOCAO (JAV): Posse consiste no controle material de uma coisa corpérea nos termos de um direito. Odireito reconhece e protege a posse na medida em que através dela se exterioriza um direito sobre a coisa, direito esse que a lei presume estar na titularidade do possuidor (Art. 1268°/1 CC). O controlo material da coisa e a exteriorizacdo de um direito ligado a esse controle sho os elementos estruturantes da posse. FUNCOES D&A POSSE (JAV): + Auibuir provisariamente um direitos a quem tem o-controla material de uma coisa corpérea = Proibicio de ingeréncia de terceiras (garantia da paz social) ~ Funcao de conservacio/ consolidacao + Funcao publicitaria ELEMENTOS DA POSSE (JAY): ~ 0 corpus possessério Toda a posse repousa num dado controle material de uma coisa. E dado o nome, a esse Controlo, de corpus possessério. Traduz-se na possibilidade real de agir materialmente sobre uma coisa: poder de atuacio sobre a coisa. - Afere-se pelo controlo material da coisa, 0 que requer, ag menosna momento inicial, a apreensio fisica da mesma. Isto ocorre através de qualquer um dos factos aquisitives da posse, sejam ariginarios (apastamento ¢ inversio do titulo da posse), sejam derivados (tradicao & constituto possessorio) + Aexteriorizacgao de um direito - Toda a posse reside na exteriorizacio de um direito. Poder-se-A discutir se esse direito tem que ser necessariamente um direito real de gazo ou pade ter outra natureza, mas a passe exerce-se sempre nos termas de um direito, que exterioriza. - Esta ligacao retirase de varios preceitos legais (rt. 1251°; Art. 1263°/a); Art. 1257°/4, entre outros, CC). = Sea ligacdo entre a posse © a exteriorizacae de um direito se quebra, a posse extingue-se, passando a ser um mero detentor (Art. 1253°/¢) CC). - Oefeito presuntive da titularidade de um direito, a tutela da posse, a possibilidade de usucapiaa, todos estes efeitos pressupdem que o possuidar age nas termos de um direito. POSSE VS DETENCAQ = De modo inteiramente diverso da generalidade da doutrina, JAV prescinde em absolute do recurso ag elemento animus para a qualificacio dos casos de detenco. Para este, o animus nao tem qualquer relevo com elemento estruturante da posse e ndo desempenha igualmente nenhuma funcao quanto a distincao entre a posse e a detencao (isto nao implica que nao haja discussio jurisprudencial). = Alinica mencao legal a inten¢do (animus) ocorre no Art. 1253°/a) CC, um preceito que, para ‘0 Regente, cobre apenas os casos de constituto possessrio, degradando o estatuto do ‘transmitente do direito real, ¢ ate ai passuidor, para mero detentor por forca da clausula de constituto inserida no negécio juridico de transmissao. Portanto, por forca do titulo que elucida a quebra na exteriorizacao de um direito. ~ Asegunda situacao de detencao encontra-se precisa noArt. 1253°%/b) CC. Sao meros detentores aqueles que aproveitam a tolerancia do titular de um direito. Um exemplo ‘elucidative é 0 caso de um possuidor deixar o vizinho ir buscar lenha ao seu prédio ou o condémino deixa o vizinha do lado parquear 0 carro no seu lugar de estacionamento por uns dias. Pressupde duas notas distintivas: (1) uma autorizacae a terceiro, por parte do titular de direito real; (ii) ndo gera um direito a favor de terceira. Os atos de mera toleréncia conferem apenas mera detencao, porquanta nao envalvem a exteriorizacao de um direito sobre a coisa. ~ Aterceiro situacio encontra-se preceituada no Art. 1253°/c) CC. Diz-nos que os representantes ou mandatarias do possuidor €, de um modo geral, todos as que passuem em name de autrem, detém a coisa. Aquele que nao afirma um direito sobre a coisa, nao aquando sobre ela de modo a evidenciar para os outras a titularidade respetiva, recebe o-estatuto de mero detentor, senda-lhe negada a passe. Um exemplo pode ser: se um trabalhadar tem o ‘carro. da empresa nos termos do contrato de trabalho, esse contrato fundamenta a detencio em nome da proprietaria (a empresa), ou, se o usufrutuario adquiriu o seu direito por ‘testamento, ess¢ negécio juridico determina que possuir os termos da propriedade alheia, pois o-usufruto é¢ um direito sobre coisa alheia, como todas os direitos reais menores. Ha duas situacdes diversas que cabem nesta alinea: (i) aqueles que atuam sobre a coisa em nome do proprietario, sem afirmarem nenhum direite propria sobre aquela; (it) aqueles que, detentores relativamente a este direito, sao simultaneamente possuidares nos termos de um direito proprio (p.e. 0 usufrutuario: detentor nos terms de direita de propriedade; possuidor nas termos do usufruto) ~ As hipoteses, sintetizando, so as seguintes: a) Possuidor (apenas possivel por referéncia a propriedade singular) b) Possuidor e detentor (quando a posse em nome propria sé reporta a um outro direite real menor ou a um direito pessoal de goz0) €) Simples detentor (quando a coisa se encontra com alguém que ndo exterioriza qualquer direito relativamente a coisa) - Uma situacao de detencaa que nao se encontra prevista no Art. 1253° CC pode ser os casos de ‘incapacidade do possuidor (Art. 1266" CC). Parece que ha uma inibi¢o aos que nao tém o uso da razio relativamente as coisas iméveis. OBJETO DA POSSE: ~ Coisa corpérea, individual, certa e determinada. 0 Art. 1302° CC estabelece o objeto dos direitos reais ¢ esse coincide inteiramente com 0 que respeita 4 posse. Sobre conjuntos de coisas nao pode haver uma posse. Apenas pade recair sobre cada uma das coisas que compdem 0 conjunto. ‘Contando que una parte da caisa carpérea possa ter existéncia auténoma coma coisa segundo- 0 Direito, esteja determinada, pode haver posse sobre ela, ainda que permaneca indivisa Nao se confunde a posse da parte de coisa com a compose de cada comunhelra relativa & coisa comum. A quota ou parte abstrata de uma comunhdo nao & suscetivel de passe. O comunheiro possul a coisa comum nos termas do seu direito. Essa posse tem a cofsa integral por objeto € nao qualquer parte dela, ideal ou concreta. ‘Sobre 0 espaco aéreo de um prédia nao pode haver posse, por ndo ser legalmente possivel destacé-lo do solo. 0 mesmo ja nao se afigura para o espaco subterraneo, na medida em que ‘este possa ser autonomizado juridicamente da restante parte do prédio. AMBITO DA POSSE: = Do Art. 1251° CC resulta que a posse é nos termas de um direite real de goz0.A lei tem em vista apenas os direitos reais de goz0. * Esta restricao coloca problemas quanta A interpretacda de autros dispasitivos narmativos. A extensio da tutela possessara opera igualmente fora dos direitos reais, beneficiando titulares de direitos que nao tém natureza reais, tais como: a) O locatario (Art. 1037/2 CC) b) O comodatario (Art. 1133°/2 CC) €) O parceiro pensador (Art. 1125°/2 CC) d) O depasitario (Art. 1188772 CC) - Sao sempre detentores em relacio a propriedade, mas a questo nao é essa. So titulares de um direito que possa exteriorizar a posse. JAV diz que nao ha nenhuma raza para limitar 0 Ambito da posse aos direitos reais de g070. Se a posse repousa numa atuacao material sobre: uma coisa corparea nos termos de um direito, ela pode ser referida a todosas direitos subjetivos que confiram para essa atuacio, independentemente da natureza (real ou pessoal). Nas alineas do Art. 1253°CC, em nenhuma delas hé referéncia para se afastar a posse em ‘qualquer dos casos enunciados. Em geral, a doutrina aceita que a posse pode existir nos ‘termos de direitos reais e nos termos de outros direitos subjetivos, nomeadamente, de crédito, desde que facultem ao titular poderes para uma atuacko material sobre a coisa ¢ aquele tenha a coisa em seu controlo. + TODAVIA, dizer que existe posse foram do Ambito des direitos reais de gozo nao equivale a dizer que o regime dos arts. 1251° s5 CC se aplica integralmente sempre que haja posse. Este regime s6 se aplica integralmente no ambito dos direitos reais de goz0. Do regime da posse, apenas a parte relativa a tutela possessora (Arts, 1276° a 1286" CC) é que pode ser aplicada A posse exercida fora dos direitos reals de 2070, As aces possessoras est 50 20 dispor de qualquer possuidor, assim como o direito 4 indemnizacao por violac3o da posse (rt. 1284 CC). POSSE IMEDIATA E POSSE COM INTERMEDIACAO: Em regra, © possuidor pode atuar diretamente sobre a coisa que controlo fisicamente. E nisso- ‘que consiste 0 corpus possessério. Em alguns casos, porém, a coisa aparece detida por um terceiro, que age em nome do possuidor. Neste casos, nao obstante a coisa estar fisicamente com o detentor, @ possuidor continua a ter posse: uma posse exercida através da detencio de ‘outrem. 0 passuidor mantém o controle material sobre a coisa, dado-que o terceira atua em nome deste (ainda ha corpus possessério) ~ Apposse com intermedi acao tem a sua base legal no Art. 1252°/1 CC: a posse pode ser ‘exercida tanto pessoalmente como par intermédio de autrem. - Adetencao da coisa por terceiro permite a coexisténcia de varias posses nos termos de direitos diferentes, sem impossibilitar a subsisténcia da posse nos termos do-direito real maior quando a coisa deva estar com o titular do direito real menor para o exercicio respetivo. CLASSIFICACAO DA POSSE: = Posse Causal @ Posse Formal - Dizse CAUSAL quando 0 possuidor é simultaneamente titular do direito a que a posse se report. - Diz:se FORMAL quando essa titularidade falta = Odireito portugués nao distingue a posse formal da posse causal. Tanto uma come a outra Constituem esses ¢ estao sujeitas ao regime da posse. «A falta da titularidade do-direita real de g070 ndo representa nenhum obstacule a existéncia da posse a 4 sua tutela, contando que haja corpus ea lei nao qualifique aquela situaco como mera detencio. = Em caso de conflito possess6rio, 0 possuidar formal apenas pode invocar a sua posse contra aquele com o qual tem o conflito, contrariamente ao que sucede com o possuidor causal, que pode sempre invocar o seu direito real de gazo para vencer a oposi¢ao do passuidor formal (Art. 12781 CC) ~ Posse Civil e Posse Interdital - A posse CIVIL reporta-se aos direitos reais de gozo. = Aposse INTERDITAL reportar-se aos restantes direites de natureza diversa. * Posse Titulada ¢ Posse nao Titulada = Segundo o Art, 1259°/1 CC, diz-se titulada a posse fundada em qualquer modo legitimo de Adquirir, independentemente, quer do direito do transmitente, quer da validade substanctal do- negacio juridico. - Com “modo legitimo de adquirir” entende-se que 0 possuider afira a sua atuacdo sobre a caisa & um facto aquisitivo do direito. Esse facto é relativo & aquisico- do direito a que: se reporta a Posse (p.e. a propriedade) e néo a propria passe. - Esse facto que titula a posse deve ter eficacia real para determinar a canstituicdo au a transmissio para 0 possuidor do direito a que se ref ere a posse (p-e. contrato de compra e venda). - Abstrai-se a validade substancial do facto juridica com eficécia real para qualificar a posse como titulada = O facto juridica tem que ser idéneo, em abstrato, para produzir a constituicie ou transmissio ido direito real em causa, ainda que, em concreto, seja ineficaz. - Ovicia de forma do negécio juridico, diversamente, gera Sempre uma posse no titulada. - Ort, 1259°/2 dispoe que 0 titula deve existir, no podendo ser putativo. Aquele que o invaca tem o énus deo provar. = A posse titulada tem um regime mais favoravel que a nao titulada: a) Presume-se a posse titulada como de boa fé e a naa titulada como de ma fé (Art. 1260°/2 CC). Nao deixa de ser uma presuncio ilidivel. . b) Havendo titulo, a passe: presume-se existente desde a data do titulo (art. 1254°/2 CC). Nao havendo, ter-se-a que provar o momenta do seu inicio, 0 que sera naturalmente relevante para matéria de prazos para a usucapiao e de aquisicae de direito por este facto (Art, 1286° cc). a Erm caso de confito de posses em que haja necessidade de entregar a coisa a um dos litigantes pela methor posse (Art. 1278°/2 CC), a posse titulada tem vantagem sabre a nao titulada (Art. 1278°/3 CC). ~ Posse de Boa Fé e Posse de Ma Fé - OArt. 1260°/1 CC dispae que a posse diz-se de boa fé quando.o possuidor ignorada, a0 adquiri-la, que lesava 0 direito de outrem. Trata-se de boa-fé subjectivo-psicologica au boa fé Subjetivo-ética? O Prof JAV defende que sé trata de uma boa fé subjetivo-ética. A falta de diligéncia ¢ de empenho do possuidor, a incompeténcia, o desleixo, a inciiria ou 0 desprezo que ele releve relativamente aos direites de terceiros devem recair sobre ele ¢ nao sobre os outros. A boa fénio pode ser um prémio que o Direito atribui a0 possuidor que nao tem consideracao pelos direitos dos autros. - Posse Pacifica e Posse Violenta = Oart. 1261°/1 CC diz que a posse é pacifica se fol adquirida sem violéncia. © momenta de apreciagio deste caracter da posse é no momento da aquisicio. Uma posse adquirida sem wioléncia é uma posse pacifica para sempre, ainda que seja depois mantida com violéncia. Inversamente, uma posse adquirida com violéncia, mas mantida pacificamente, é para sempre violenta - Oart. 1261°/2 CC vem dizer que a posse é violenta quando é exercida coacao fisica ou psicolégica, nos termos do Art. 255° CC, sobre o possuidor. Esta pode dizer respeito 4 pessoa ou atrimanio do passuidor au de terceires (Art. 255°2 CC). - A.coacao fisica ou psicoldgica exercem:se sobre o possuidar e ndo sobre a coisa, apesar de poderem envalver direta e imediatamente uma acao sobre esta. Imaginemos que um terceiro usa explosives no prédio para atemorizar o passuidor, forcando a sua saida: a posse é violenta. Contrariamente sera 0 caso de o terceiro usar explosives para entrar no prédio, sendo que o possuidor se encontra fora, nie havendo qualquer coacdo efetuada ag possuidor, apenas estragos na coisa: a posse é pacifica. = Maturalmente, a posse pacifica tera um regime mais favoravel que a posse violenta: 4) O possuidar que for esbulhado com violéncia pade interpor um pracedimento cautelar de restituicao proviséria da posse contra o-esbulhadar (Art. 1279° CC). E condenado a restituir a coisa ao esbulhado sem contraditéria. b) A posse adquirida com violéncia é tida como posse de moa fé, sem possibilidade de prova em contrario (rt. 1260°/3 CC) €) © prazo de um ano para a perda da posse previsto no Art. 1267°/1/d) CC nda se inicia enquanto a violéneia nao cessar (Art. 1267°/2 CC}. d) Enquanto a violéncia perdurar, a posse nao é baa para usucapiao. Nao significa que a posse violenta exclua a usucapiao: nao € 0 os arts. 1297" e 1300°/1 CC consagram. Uma posse adquirida com violéncia pode servir de base & usucapiio, contada que o possuidor possua a coisa pacificamente par tado a prazo legal de usucapiao. Contudo, enquanto durar a violéncia 0 prazo para a usucap lao nao corre. - Posse Pilblica e Posse Oculta - Oart. 1262" CC apenas define a posse piblica. A posse aculta seré aquela que nfo é piiblica. A posse piblica é aquela que se exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados. Contrariamente aos restantes caracteres da passe, esta classificacao nao se afere no momenta da aquisicao, mas sim a0 modo como esta é exercida. = Aposse € publica quando pode ser conhecidas dos interessados. A lei nao exige 0 conhecimento efetiva da posse, 0 que conta é a cognascibilidade da posse, ou seja, esta poder ser conhecida. A cognoscibilidade resulta de uma possibilidade efetiva de conhecimento a partir de um comportamento diligente em relaco a coisa. - Acaracterizacaa da posse como oculta é mais delicada. 0 passuidor interessado, tendo embora perdido o contralo material da coisa, no sabe nem pode saber quem a tem em seu poder (Art. 4262 CC). - Também ha um diferentemente tratamento consoante a passe seja piblica ou aculta: a) Quando a posse é tomada ocultamente, o prazo de um ano para a perda de posse do- possuidor esbulhado (Art. 1267°/1/d) CC) sé comeca a contar quando a posse aculta se torne conhecida deste Ultimo (Art. 1267°/2 CC). Exige-se um conhecimento efeito da posse, neste caso. b) O prazo para a usucapiia nao comeca a contar enquanto a posse permanecer oculta, tanto para coisas moveis (Art. 1300°/1 CC), coma para as imdveis (Art. 1297° CC}. A posse oculta € uma posse sem usucapio. Tomando-se publica, o prazo para a usucapiao comeca imediatamente a contar. cc) Embora esteja implicito € nao expressamente no Art. 1278°/3 CC, a posse piblica é melhor ‘que a posse aculta e prevalece sobre esta no caso de conflito. d) O possuidar s6 pode obter o titulo judicial para registo da posse desde que tenha possuido publica e pacificamente por tempo no inferior a 5 anos (Art. 1295°/2 CC) FACTOS CONSTITUTIVOS DA POSSE: * Apossamento - Designa a apreensio do controlo material da coisa por aquele que ate ai no tinha em seu poder. Segundo o Art. 1263°/a) CC, seriam necessarios trés requisitos para haver apassarnento: Pratica de atos materials ~ 0 apossamento constitu a tomada de controlo material da coisa ¢ concretizase através dos atos fisicos necessaries 4 sua apreensdo. Coma o que esta em causa é a investidura no corpus possess6rio de alguém que nao tinha a coisa consigo, o agente tem de atuar na medida a té-ta ‘em seu poder, - Um apossamenta nos termos da propriedade singular priva o-passuidor anterior nos termos da propriedade do acesso 4 coisa. Se este puder continuar a atuar sobre a coisa, é porque o -apossamento ndo se consumau. Isto nao implica que um apossamento nos termos da propriedade nao possa coexistir com o controle material que outros possuidores possam ter sobre a coisa, nas termos de outra direito que nao seja incompativel com o exteriorizado pelo novo possuidor (nomeadamente, direitos reais menores ou direitos pessoais de goz0). + 0 apossamento pode ecorrer nos termos de qualquer direito real de gozo e nao apenas quanto ‘a propriedade. ~ 0 apossamento sé se concretiza com a quebra do corpus do possuider anterior. E possivel destacar dois grupos de casos: a) 0 apossamento acarreta a quebra do corpus possessirio de todos os passuidores da coisa, de modo a que @ novo possuidar controla a coisa por inteiro (exteriorizacéo de um propriedade singular nae onerada) b) 0 apossamento apenas quebra o corpus possessério do possuidor que exterioriza o direito incompativel com o exteriorizado pelo nove possuidor. Il. Reiteracao da pratica dos atas materiais = Vem expresso ne Art. 1262*/a) CC. Muitos autores criticam este preceito precisamente nesta parte, pela desnecessidade, em muitos casos, de uma pratica continua para que Se consuma a posse por via do apossamento. Existem muitas situacdes em que um ato é suficiente para ‘consumar a apropriacio fisica da coisa e a tomada de controle material sobre ela. ~ Decisive sera, nao a repeticia, mas a intensidade da atuacdo-sobre a coisa para consumar o controla dela. Um control material da coisa que seja episadico, efémero, nao ¢ suficiente para o apossamento, Este requer que o passuidor esteja em condicdes para atuar sobre a coisa duradouramente, em abstrato. Il, Pubticidade dos atos materiais ~ Também tem referencia expressa no mesmo art. Isto deve ser esclarecida, uma vez que o ‘ordenamenta juridico portugués admite que haja posse oculta. = Aexplicacdo para este requisitos é somente para Se excluir a posse Aqueles que praticam atos materiais de aproveitamento da coisa as escondidas do possuidor, sem que afastem deste o controle material da coisa. O-carater oculto da atuacSo equivale aqui 4 auséncia de um controle material €, portanto, da propria posse. + Inverstio do Titulo da Posse = O Art. 1263°/d) CC dispde que a posse se pode adquirt por inversio-do titulo da posse. Esta Figura vem, depais, regulada no Art. 1265° CC. Inverte-se o titulo da posse por oposicao do detentor do direite contra aquele em cujo nome possuia ou por ate de terceiro capaz de transferir a passe. - Odetentor da coisa passa a exteriorizar um direito praprio sobre ela ou, noutras palavras, a afirmar uma posse em nome proprio. Aquele que ate ai atuava em nome alheia, passa a fazé-lo- os termos do seu propria direito. E indiferente se seja ou nao titular desse direlto: a inversio do titulo da posse nao é um facto aquisitivo do direito, mas sim da posse. - Ainversio opera sempre por um detentor, ou seja, aquele que tem @ control material sobre a coisa, sem que o direito Ihe reconheca a posse. Desde logo, consegue-se perceber as diferenc as entre o apossamento e a inversio do titulo da posse: enquanto que na primeiro a apreensao Fisica da coisa (o controlo} gera apossamento, no segundo a controle material da coisa ja esta nas mos daquele que inverte. - Nao ha razao para limitar a inversao do titulo da posse aqueles que j tem, por si, um direito que thes permita exteriorizar a posse. O Art. 1265° CC tem uma formulacao ampla e permite abarcar 03 casos de meros detentares. - A inversio do titulo da posse tem Lugar cantra a vontade do possuidar contra a qual ela atua Se for compativel com a vontade da passuidor atacado, ocorre uma hipdtese de traditio brevi manu. - Ort. 1265° CC nao esclarece o que deve ser entendido par oposicio do dententor: a) A oposicao pode ser material, juridica ou revestir as duas formas. Isto mostra que a aposicio ndo temnatureza juridico-negocial. A conduta de oposicao nao tem forcosamente um contetido de comunicacéo. 0 seu efeito liga-se a um comportamento nao declarativo do- detentor. b) Pode ser judicial ou extrajudicial. O detentor que demanda 0 possuidor pedindo-ao tribunal que declare ser ele-o titular de um direito nao o passuidor invente o titulo da passe. ©} O comportamento de aposicio deve ser exteriormente reconhecivel pelo passuidor, quando a ‘oposicéo nao the é comunicavel. - Asegunda madalidade de inversio do titulo da posse é 0 ato de terceiro. Consiste num negécio Juridica, unilateral au multilateral, que deve ter, em abstrato, eficdcia real para fundar a Const tuicao ou transmissio do direito real em causa a favor do detentor. Diz-se em abstrato porque a lei nao pressupde a validade do negacio (Art. 1265° CC), apenas a sua idoneidade. = Ao contrério do que acorre na primeira madalidade, o detentor, por forca da negécio juridica, pode exteriorizar um direito real que até ai nao exercia. Ocorre a incidéncia de um navo titulo - Ainversae do titula da posse pode dar-se por um compossuidor contra os restantes. Vern admitida no Art. 1406°/2.CC, quanto aos comproprietarios, mas respeita as mais variadas situagées de composse. - Aquele que inverte o titulo da posse e tem uma posse piiblica e pacifica pode adquiriro direito Teal a que se refere a sua posse, contando que os outros requisites se verifiquem igualmente (art, 1290° CC). O prazo para a usucapiia conta-se da data da inversio do titulo, poiss6.a partir desse momento é que ha posse. FACTOS TRANSLATIVOS DA POSSE + Tradigao - Eo facto paradigmatico de transmissio da posse. Significa a perda valuntaria do controlo material da coisa pelo antigo possuidor, mediante a entrega desta ao novo possuidor. Atradicéo Tequer a passagem do control material da coisa para @ novo possuidar, o que € feito através do- ato de entrega. Todavia, a pouco € pouco se prescindiu da apreensdo material da coisa para admitir em formas crescentemente imaterializadas. Abrangia: a) Tradicée simbalica ~ Representa uma evolucéo do direito comum. E, par exempla, ao invés de se entregar 0 carro, ‘entregase as chaves do mesmo. ~ Esta compreendida no Art. 1263°/b) CC b) Traditio longa manu Desenvolve-se inicialmente quanto as coisa méveis, significanda uma progressiva desnecessidade de a coisa ser entrega & mio para a transferéncia da posse..A posse é ‘transferida par ordem do transmitente mediante a colacacao da coisa A disposicao do. adquirente (por exemplo: depdsito em sua casa) = Ja nio tem uso no-direito-atual portugues ©} Traditio brevi manu Designa os casos de aquisicaa de posse por um detentor com fundamento na alteracao do seu ‘titulo. O locatario que adquire a propriedade adquire-a por traditio brevi manu (ja era mero detentor do direito real da propriedade). Requer, naturalmente, a existéncla de uma detencio prévia. = Deve ser compreendida no Art. 1263*/b) CC d) Constituto Possessério ~ Jase voltara a este - Fora dos casos do constituto possessério, a transmissia da posse da-se por via da tradicha (é a regra geral) = Constituto Possessério - Representa, de certo modo, o oposto da traditio brevi manu . Enquanto que nesta o detentar Lorna-se passuidor pela pratica de um facto aquisitivo do direito real, no constituto passessério o Possuidor passa a detentor, continuando embora a ter a coisa consige. - Um exemplo do constituo possessorio é: 0 proprietario vende a caisa, mas celebra simultaneamente com o comprador um arrendamento, um comodato, um depésito; ou doa a Propriedade e reserva para sio usufrute na contrato de: daacéo. - O constituo possessério integra uma transmissio da posse por simples consenso, assemethando: se ao principio da consensualidade (Art. 408°/1 CC). = Oregime juridico portugués autanomizou o constituta possessdria da tradicao (Art. 1263°%¢) & Art, 1264° CC}. Tudo indica, embora, que o constituto possessario seja uma espécie de tradicao simbélica, sujeita embora aos requisitos do Art. 1264° CC: a) Negécie Juridico de transmissia dé um direito real de 2070 - 0 constitu possessério surge coma um efeito juridica de um contrate real quanto ags efeitos (p.e. compra e venda). A transmissio da posse acompanha a transmissao de direito a ela relativo b)_O transmitente do direito real seja possuidor ~ 0 constitute possessdrio é 0 facto transitive da posse. Se o transmitente do direito real nao é possuidor, nda pode transmitir uma posse que nao tem. Nao ocorre o efeito do constitute possessorio. €) Causa juridica para a detencdo da coisa ~ Esta cailsa justifica legalmente que, sem a entrega da coisas adquirente do direito real torna- se possuidor dela e o transmitente veja a sua posicio descaracterizada para mero detentor. Esta causa é, antes de mais, um contrato. Contrato este que pode ser celebrado em simultneo com © que transmite 0 direito real que exteriorizaré a posse, ou pode este estar abarcado em uma das clausulas do contrato transitive de direito real em causa. 0 contrato ou a convencao negocial justificam que o possuider transmitente nao tenha de entregar a coisa para qué a posse se-considere transmitida ~ Nao havendo uma causa juridica que justifique a nao-entrega da coisa ao adquirente do direito real, nao se produzem as efeitos da constitute passesséria. O constitute passessoria no est para a posse como o principio da consensualidade esta para os direitos reais. Aregra geral continua a ser a da tradicao (material ou simbélica). 0 transmitente encontra-se ‘obrigado a entregar a coisa ao adquirente. Se nao 0 faz, a posse Continua cam ele. = O constitute possessério depende da vatidade do facto juridice que o desencadeia. Sendo invalida, a eficacia translativa da posse fica atingida, como sucede aos restantes efeitos do negécio juridico. Deste modo, o primeire requisite deve ler-se como um ate juridico valido, SUCESSAO NA POSSE: + Prevista no Art. 1255° CC, designa um fendmeno diferente da transmissio. Na sucesso, a situacdo juridica permanece estatica ¢ é 0 Sucessor que entra na posicao juridica do sucedido. A posse: do sucessor ¢ a posse do de cuius. A lei dispoe que a posse continua nos sucessores. * Nao ocorre uma nova Classificacda da posse: havendo sucessAo da posse, os caracteres sao exatamente os mesmas. = A aquisicao da posse por sucessao nao carece de uma apreensao material da coisa FACTOS EXTINTIVOS DA POSSE: = A posse pade extinguir-se por vontade do possuidor ou sem.que a mesma haja. No caso de no haver vontade, pode acontecer par facto de terceiro, por facto da natureza ou por disposicao legal. = 0 Art. 1267°/1 CC estabelece os factos extintas da pose: a) Abandong (atinea a)) * Consiste na perda voluntéria do corpus possessério pelo possuider. ~ MENEZES CORDEIRO: faz um paralelo entre o abandono e o apossamento, dizendo que é necessério haver um minime de publicidade, de modo a poder ser conhecide pelos ‘interessados. ~ JAV: Nada na lei impae a publicidade do apossamento, nem isso se adequa a generalidade das situacdes. Se alguém quer deitar ao Lixo um televisor velho néo tem de o evidenciar a ninguém. E sea posse: ou o livro forem levados pelos senhores da limpeza, a posse extingue-se por abandono, atendendo perda do corpus, mesmo que mais ninguém saiba. ~ 0 abandono tem mesmo: que se traduzir numa quebra efetiva do corpus. Assim, se o condutor de um automével a deixa no meio da via publica, sem querer saber dele, mas conserva as, -chaves consigo, mantém a sua posse (Art. 1257°/1 CC) b) Perda ou destruicio material da coisa (alinea b)) + Aqui, cantrariamente ao abandono, nao ha voluntariedade por parte do possuidar em quebrar ‘0 corpus da coisa. Aqui ha uma quebra do corpus, sem que tal se deva a um ato de terceiro. - MENEZES CORDEIRO: a perda da posse so implica a extincie da posse quando 0 possuidor ‘estiver impossibilitado de encontrar a coisa. $6 nessas hip éteses ocorre a quebra do corpus. c) Colocacéo da coisa fora do comércio (alinea b)) ~ A apropriacio juridico-privada de coisas corpéreas sé é legalmente possivel relativamente a ‘coisas na comércio (Art. 202°/2 CC). Se uma coisa é posta no-dominio publica, extingue-se a posse que sobre ela incidia 4) Esbulho (alinea d)) * Consiste na privaco da coisa por ato de terceiro contra a vontade do possuidor. O esbulhador ‘toma o contralo material da coisa, afastando o contralo do possuidor. + A lei portuguesa nao prevé a extincdo automética da coisa. O passuidor esbulhado sé perde a posse um ano apés 0 esbulho (Art. 1267°/1/d) CC). Durante esse ano, o esbulhado permanece pessuidor, simultaneamente que a nova posse do esbulhador (coexistem ambas). + Aexisténcia de uma posse sem corpus tem um fundamento de ordem pratica: aa possuidor deve ser dada a possibilidade de reagir judicialmente contra o esbulhador.sA fim de garantir a possibilidade de o possuidor esbulhade reagir, a lei portuguesa concede o prazo de um ano para que 0 faca (Art. 1284° CC). 0 prazo da Art. 1267°/1/d) CC deve ser articulada coma defesa da passe. - Aalinea ¢} do art, 1267° CC nio-constitui um facto extintive da posse, uma vez que se liga & Transmissio da posse para outrem. A passe no se extingue, passa a autrem. EFEITOS DA POSSE: ~ 0 principal efeite da posse vem prevista no Art. 1268/1 CC. A posse faz presumir a titularidade do direito a que a posse se reporta. Quem tem a passe nos termos de uma propriedade, presume-se proprietario. + Apresuncdo da titularidade do direito prende-se diretamente com a func&o de publicidade a ‘que a posse se encontra associada. CONTEUDO DA POSSE: * A.posse é composto por situacGes juridicas ativas e passivas. Encontramos no contetdo da posse: a) Poder de usar a coisa > OLIVEIRA ASCENSAG: 58 0 uso do possuidor de baa fé ¢ licito e nao gera dever de indemnizar. - JAV: no nega o pader de uso, independentemente da boa oumé fé. Se a posse é constituida ‘em violacdo de um direito subjetivo de um-terceiro, o possuidor pode ser chamada a ‘indemnizar o titular. Mas tal n30 impede a consideracZo de um poder de uso pelo possuidor de ma fé. Este poder de uso nao ver negado em nenhuma disposicao da regulacdo juridica da posse. b) Poder de fruir acoisa (possuidor de boa fe) ‘Conforme dispée o Art. 1270°/1 CC, o possuidor de boa fé tem direito a fruicaa. Esse pader ‘extingue-se quando tiver conhecimento de que esta a lesar o direite de alguém. * Ao possuidor de ma fé nao the é& reconhecido nenhum poder de fruic&a. Fica, inclusive, sujeito ‘a uma regime gravoso de responsabilidade, restituir os frutos gerados pela coisa e indemnizar 9 titular do direito real pelos frutos que um proprietario diligente poderia ter obtido (Art. 1271° CC). ~ 0 possuidor de boa fé tem obrigacao de indemnizar o titular do direito real os frutos gerados pela coisa apés a cessacdo da boa fé. = Em todo 0 caso, a0 passuidor de boa fé reconhece-se o direito a ser indemnizado das despesas que suportau ate ao limite do valar dos frutos (Art. 1270°/2 CC) + Seo possuidor formal de boa fé alienar os frutos antes da colheita a terceiro, pode, nos ‘termas do Art. 1270°/3 CC. c) Poder de indemnizacdo por benfeitorias feitas na coisa ~ 0 possuidor pade exercer i uso que tem sobre a coisa inserindo nela methoramentos: chamam- se benfeitorias. _ + O regime juridice das benfeitorias assente na tripartirao entre benfeitorias necessdrias, Cteis € voluptuarias. Quer o possuidar de boa fé como o de ma fé podem realizar benfeitorias. ~ Alei portuguesa nao distingue entre o possuidor de boa fé-au ma fé, sem ser nas benfeitorias ‘voluptuarias que nao se possam Levantar sem o detrimento da coisa (Art. 1275°/2 CC). No resto, 0 regime é 0 mesmo. ~ 0 possuidor tem odireito a ser indemnizado pelas benfeitorias necessarias que realizar (Art. 1273°/1, 1° parte, CC}. Quanto as benfeitarias jiteis, elas podem ser Levantadas pelo possuidora, contando que nao impliquem uma deterioracao da coisa (Art. 1273°/1, 2° parte) ~ © possuidor de boa fé pade levantar as benfeitorias voluptuarias que haja feito na coisa, mas no tem esse direite se o Levantamenta supuser @ detrimento da coisa (Art. 1275°/1 CC). Nesse caso, tem direito a qualquer indemnizacao. d) Poder de indemnizacao por violacao da posse + Aviolacio ilicita da posse, do direito a passe, sujeita o infrator 4 responsabilidade civil pelos danos causados (Art. 1284°/1 CC), sem prejuiza de outras sancdes que the caibam. © possuidar tem direito a ser indemnizado por aquele que ilicitamente violar a sua posse. ©) Poder de usucapiso ~ 0 passuidor tem 0 poder potestative de usucapir a direito real de gozo a que a sua posse se reporta, caso os requisites legais estejam preenchidos. = Este aspetos sera tratado com mais miniicia mais & frente. f) Poder de acesséo da posse ~ Aacessio da posse é um poder que a lei faculta ao possuidor de juntar o seu tempo de posse: ‘ao tempo de posse do passuidor do qual ela foi adquirida (Art, 1256°/1 CC}, de modo a facultar a usucapiéo. ~ Também sera tratado cam mais atencio pasteriormente. 2) Poder de defesa da posse (tutela possesséria) ~" A tutela da posse, como situac do juridica, ¢ efetuada por meio das acdes possessorias. = Também seria tratado com mais cautela mais 4 frente. h) Dever de pagamento dos encargos da coisa (possuidor de boa fé) ~ A posse acarreta néo sé situacées juridicas ativas, mas também passivas. O Art. 1272" CC ‘caloca no passuidor a dever de pagamento dos encargos gerados pela coisa na proporco do seu poder de fruicaa. . + Este dever apenas incube 0 possuider de boa fé, dado que se liga ao poder de Truicdo, que o possuidor de ma fé nao tem. i) Dever de restituir os frutos (possuidor de ma fé) - Nao tendo 0 poder de fruicao o possuidar de ma fé tem que restituir ao titular do direito real de gozo os frutes, naturais ou civis, gerados pela coisa (Art. 1271° CC). Esse dever cessa naturalmente com a éxtingda da posse. j) Dever de indemnizar 0 titular em caso de perda ou deterioracao da coisa © 0 passuidor de ma fé fica sujeite a um regime excecional de responsabilidade civil. Em casa de perda ou deterioracio da coisa, fica sujeito a responder pelos danos, tenha ou no culpa na producao do facto danoso (Art. 1269° CC). - Respondendo o possuridar de boa fé apenas em caso de culpa no Art. 1269° CC, podemas naturalmente deduzir que o possuider de ma fé responde, independentemente de ter tida culpa. E um caso de responsabilidade civil objetiva. ~ 0 Art. 1269° CC consagra, deste mado, uma inversio do risco de perecimento da coisa, que deixa de correr por conta do titular de direito real de gozo (seja menor ou maigr) para passar 4 correr par conta do- possuidor de ma fé. Esta solu¢aa tem sido apontada como desa justada: - HENRIQUE MESQUITA: prapoe uma restricao ao alcance absolute do Art. 1269° CC, mediante a aplicacio direta do regime da mora de devedor (JAV concorda com esta posicio). MEIOS. DE DEFESA DA POSSE: ~ Genericamente, os meios podem ser judiciais ou extrajudiciais. As acbes possessérias respeitam 9 principio da tipicidade (sé podem existir as que a lei dispde}. Atualmente, existem trés: a) Ages de prevencao (Art. 1276° CC) Destina-se a prevenir a pratica d atos de turbacao ou esbutho de terceiro, sejam elas judiciais ‘ou extrajudiciais, neste ultima caso, materiais ou juridicas. Esta acao requer que néo tenha havido ainda perturbacdo na posse da coisa. O seu escopa é unicamente evitar que esta perturbacha venha a ter lugar. Para além de pravar a posse, o possuidor tera ainda de provar o justo receio de ser perturbado ou esbulhado. b) Aces de manutencdo da posse (Art. 1278° CC} * Aacdo de manutencdo supe que um terceiro concretizau uma acho de violacsa da posse, através de pratica de atos de turbacao. Sao atos de turbacao todas aqueles que nao ‘impliquem o esbulho, isto ¢, o desapossamento efetivo da coisa. Ja nao estamos perante uma perspetiva abstrata de violacio da passe (algo que passa acontecer). Pressupde-se ja a efetiva pratica por parte de terceiro de um ato de turbacao. Acdiferenca entre as acdes de manutencdo e as acdes de restituicao esta em que a primeira pressupse que 0 possuidor mantenha a coisa consigo. Areacso a uma tentativa falhada de ‘esbulho deve ser feita por via da acao da manutencio. Cc) Agées de restituicao da posse (Art. 1278" CC) + Tem lugar quando 0 possuidor foi privado da coisa pelo esbulho. Neste casa, o corpus possessirio é destruida pela intervencda de um terceiro, que concretiza um desapossamento da coisa, retirando-a da esfera de pader do possuidor. d) Restituic&o provisoria da posse (Art. 1279° CC). = 0 passuidor que fof esbulhado cam violéncia tem o direito a ser restituido provisoriamente & sua posse, sem que o esbulhador tenha direito ao contraditério. = O Art. 1279° CC fixa trés requisitos: (i) Existéncia de uma posse (ii) Ato de esbulha da posse (iii) Violéncia no esbutho ~ A restitui¢o provisoria da posse tem a sua regulacdo processual como procedimento cautelar, encontrando-se a disciplina respetiva nos Arts. 393° a 395° CPC A legitimidade ativa (suscetibilidade de ser autor na acao) para as acdes possessérias vem regulada no Art 1281° CC, @ qual apenas faz mencdo 4s aces de restituicio ¢ manutencao. ‘Mas afigura-se claro que quem tem legitimidade ativa para propor uma acaa de prevencao ¢ 0 possuidor ameacado. Se este entretanto morre, os seus herdeiros também tém legitimidade catival - Quando a legitimidade ativa das aces de manutencao, 0 Art. 1281°/4 CC diz-nos que é 0 possuidor perturbado ou, casa morra, os seus herdeiros Nas agGes de restituicao, diz-nos o Art. 1281°/2 CC que é 0 possuidor esbuthado ou, caso morta, 05 seus herdeiros No que toca a legitimidade passiva (suscetibilidade de ser réu na aco), novamente ha siléncio no que toca as.acdes de prevencao. Novamente, esta claro que estas acoes so podem ser ‘intentadas contra o autor das ameacas. Dado que nao passam de ameacas, nao faz sentido -considerar a legitimidade passiva para uma acio de indemnizacao no-caso daquele falecer entretanto. ‘Quanto as acdes de manutencio, de acordo com o Art. 1281°/1 CC, a Legitimidade passiva cabe a0 perturbador. Falecendo o perturbador, © passuidor pade intentar uma acao de ‘indemnizacéo contra 0s herdeiros do mesmo (Art. 1284°/1 CC), mas naa uma acao de manutencao. ‘Quando 45 aces de restituicao, j4 hé uma maior problematica. O Art. 1284°/1 CC diz que a acéo de restituicao pode ser intentada cantra o esbulhador, nessa parte, nao restam dividas. ‘Caso o esbulhador faleca e a coisa esteja com os seus herdeiras, a aco de restituicio também pode ser intentada contra estes. Mas no caso de o esbulhador transmitir a coisa a terceiro, ‘questiona-se se a acao pade ser movida contra este. O Art. 1281°/2 CC distingue terceiro de boa fé ¢ terceira de ma fé: 1. No caso de o terceiro ser de ma fé (conheca ou por grave negligéncia sua nde conheca), 0 possuidor esbuthado pode intentar uma acao de restituicao contra este. Il. No caso deo terceire estar de boa fé (nao conheca nem padia conhecer), a posse nao Ihe ‘oponivel. Trata-se de uma questio de inoponibilidade de um direito (a posse}. terceiro de boa fé. A aco. de restituicao, se movida contra terceiro de boa fé, sera improcedente, por falta de oponibilidade do terceiro. CADUCIDADE DAS ACOES POSSESSORIAS: = AS acdes de manutencao au de restituicao da posse devem ser intentadas no prazo de um ano. apés a turbacao ou o esbulho, sob pena de caducidade do direito (Art. 1282° €C). Se os atos de turbacdo ou de esbulhe forem praticados as ocultas,o prazo sé se inicia quando forem conhecidos pelo possuidor esbulhado. CONFLITO DE POSSES EM ACAO DE MANUTENCAO E RESTITUICAO (A MELHOR POSSE): Dado que o esbulho ndo conduz automaticamente 4 perda da posse (subsiste no periode de um ano, nas termos do Art. 1267°/1/d) € 2 CC, se for publica ¢ pacifica), durante esse ano podem coexistir varias passes coexistentes e incompativeis, em canflito, sobre a mesma coisa. 0 Art. 1278°/2 CC preceitua que se a posse née tiver mais de um ano, 0 possuidor sé pode ser mantide ou restituido contra aquele que nao tiver melhor posse. - 0 Art. 1278°/3 CC diz-nos que constitui melhor posse a que for titulada. Se nenhuma ou -ambas as posses forem tituladas, prevalece a mais antiga. Se ambas tiverem o mesma grau de antiguidade, prevalece a posse atual ~ De qualquer das maneiras, 0 possuidor causal pode sempre pravar a titularidade do direito real que acarreta a sua posse (a menos que tenham pasado prazos da usucapiao e a possuidor formal tiver preenchido todos os requisitos legalmente previstos). INVOCAGAQ DAEXCEPTIO DOMINII: = 0 réu pode defender-se contra 0 pedide do autor invacando ser o proprietario da coisa. Esta é ‘0 que tradicionalmente se designa como exceptio dominii. A defesa respeita a qualquer direito real de goz0-e nda apenas a propriedade. Nao se trata de uma excecao de propriedade, mas uma excecao de qualquer direita real de gaza, nao obstante o nome dado. ~ A.acao passa a focar-se na discussio sobre o direito real e nao meramente sobre a passe. No faria sentido que 0 titular do direito real de gozo tivesse que recorrer a autra acho (acao de reivindicacaa) para provar o seu direito. Assim, tudo pode ficar decidido numa Unica agio: a aco possessori a) Se o-direito real de goz0 vier a ser provado pelo réu, a acdo deve ser decidida de acorda com a hierarquizacao entre a posse ¢ o-direito real. de goz0. 0 possuidor vé a sua posicao ceder sobre 0 titular do direito real de gozo. O Art. 1278°/1 CC dispe precisamente que o possuidor perturbado é mantido ou restituida enquante nao for convencido na questao da titularidade do direito.

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