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Organizagdo Maria Laura Silveira Continente em chamas Globalizacao e territério na América Latina CIVILIZAGAO BRASILEIRA Rio de Janeito ‘2005 COPYRIGHT © Maria Laura Silveira, 2008 CAPA Evelyn Grumach PROJETO GRAFICO Evelyn Grumach e Jodo de Souza Leite s artigos das p. 21, 55, 85, 117 © 145 foram teaduaidos por Eliana Aguiar CIP-BRASIL. CATALOGAGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, Rj C781 _Continente em chamas: globalizagio e teeritério na Amé= rica Latina / (organizagio] Mavia Lauea Silveira; treducio Eliana Aguiar. ~ Rio de Janeiro: Civilizacio Brasileira, 2005. ISBN 85-200-0677-9 1. Globalizagio ~ Aspectos econdmicos. 2. Geopolitica ~ ‘América Latina. L. Silveira, Marfa Laura, DD - 337.18 04-1510 CDU- 339.918) ‘Todos 0s direitos reservados. Proibida a reprodugio, armiazenamento ou transmissdo de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia aurorizagio por escrito. Diteitos desta edigio adguiridos pela EDITORA CIVILIZAGAO BRASILEIRA Um selo da DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVICOS DE IMPRENSA S.A. Rua Argentina, 171 ~ Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 Tel 2585-2000 PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL Caixa Postal 23.052 ~ Rio de Janeiro, RJ ~ 20922-970 Impresso no Brasil 2005 Sumario IwiRopugko 7 Globalizacéo € exclusio no México: um enfoque sociogeografico 21 AMEL HERNBURICOLAS A Venezuela ¢ os desafios territoriais do presente 5s DELFIA TRINCA FIGHERA do territério colombiano 85 Globalizagdes ¢ constr Gustavo Montanez cowez © Uruguai em transito pata uma transformagéo 117 Avvano 16982 GALLeRO Os espacos da globalizagao: a neoliberalizacao do territ6rio no Chile 145 uss mero rénez Argentina: do desencantamento da modernidade & forga dos lugares 177 asin va svENA sumARio iro no contexto da Fluidez e porosidade do territério brasil integragio continental 209 MENICA ARBOYO Estado, territorialidade, redes. Cidades gémeas na zona de fronteira sul-americana 243 {UA OSORIO MACHADO Sobre os autores 285 Introdugao Este livro é resultado de um antigo projeto: oferecer um conjunto de ensaios que revelem os tragos comuns e singu- lares das transformagées ¢ crises politicas, econdmicas, sociais ¢, sobretudo, territoriais nas perspectivas nacionais da América Latina, Cientes da incompletude desta obra, pois nem todos os paises compéem o relato, buscamos reu- nir algumas interpreragdes e, desse modo, contribuir, mo- destamente, para 0 esforgo de elaborar uma teoria critica do nosso continente. Com feig6es diferentes em cada pats, 2 marcha do capita- lismo é suscetfvel de ser cindida em pedacos, em sistemas tem- porais, cuja definigio € dada pela andlise dos materiais que compéem as formas ¢ a vida em cada lugar. A cada momento da hist6ria, a técnica autoriza possibilidades concretas de agao que podem ser vistas como a diviséo social ¢ territorial do trabalho. O retrato é, contudo, mais complexo, pois 0 espago resulta da superposicao e defasagem de varias divisées sociais territoriais do trabalho.* Chamada a ser moderna desde os albores de sua hist6ria européia, a América Latina é um exem- plo claro dessa sucessio e coexisténcia, pois, a cada momen- to, um feixe de vetores externos demanda uma mudanga na organizagio da sua base material e, reciprocamente, uma adap- "Milton Santos, A naturesa do espago, 1996, Fluidez e porosidade do territério brasileiro no contexto da integragéo continental Ménica Arroyo Na década de 1990 aprofundacse a relagio entre o territério brasileiro e o mercado externo através de um aumento inten- 0 nos fluxos de mercadorias. Tém contribuido pata isso, por um lado, o alargamento da base material formada por aque- les fixos produtivos que facilitam o tragado de variadas rotas para o escoamento de produtos e, por outro, o aprimoramento da base normativo-institucional incumbida da regulagao des- se movimento. Destarte a fluidez ¢ a porosidade territorial adquirem novas qualidades e novas espessuras. Portos, aeroportos e vias de transporte informatizam as ‘operagoes, agregam valor a suas atividades. A logfstica des- Ponta como um novo ramo dos servigos. Agdes coordena- das, mais precisas e eficientes, sio seu fundamento. As empresas de transporte ¢ de distribuigao de mercadorias devem adaptar-se a esse imperativo, modernizando suas ati- vidades ou concorrendo com novos agentes especializados. Associado a essas transformagées instala-se um processo de privatizagio que promove a ampliagio do poder dos gran- des grupos empresariais na administragao ¢ gerenciamento. dessa base material, assim como na capacidade para impor suas norma Paralelamente, existe um conjunto de instituigdes pabli- cas e privadas que, através de leis, regras, medidas, progra- mas, acordos ¢ estratégias, opera como estimulo & abertura aan FLUIDEZ E POROSIDADE DO TERRITORIO BRASILEIRO do territ6rio, Recintos aduaneiros para executar 0 controle alfandegério, regimes tributérios e tariférios para taxar ou desonerar o movimento de mercadorias, linhas de financia- mento e seguros que envolvem a circulagao de um dinheiro vinculado as exportacées ¢ atividades relativas & promogio comercial sio, todos eles, criados ou modificados durante a década de 1990. Ora como norma, ora como agio institucional direta, essa base tem uma participagao ativa na porosidade das fronteiras nacionais. Interessa neste artigo analisar as condig6es atuais de flui dez e porosidade territorial no Brasil, visando a observar espe- cialmente suas interagdes com os paises vizinhos do Cone Sul. Apresenta-se, em primeico lugar, um breve histrico da pauta exportadora brasileira ¢ um retrato das empresas que partici pam no comércio internacional. Procura-se caracterizar, segui damente, as bases materiais e normativo-institucionais que garantem a realizagio desse movimento, para finalizar 0 texto com uma reflexio em torno da seguinte questdo: fluidez ¢ porosidade territorial para quem?, & luz da proposta de cria- gio da Area de Livre Comércio das Américas (ALCA). ‘A PAUTA DE EXPORTACAO BRASILEIRA E AS EMPRESAS EXPORTADORAS (s fluxos de mereadorias que anualmente saem do Brasil para 0 mercado internacional apresentam um grau de diversificagao crescente. O peso dos produtos manufacurados' no total das "Entre os produtos manufaturados destacam-, em 2000, avides,automéveis motores, calgados,gasolina sco de lranj, produtos siderirgicos, pepe eeartio, méves, gear refinedo ee 212 3 CONTINENTE EM CHAMAS exportagées vem aumentando sistematicamente, evoluindo de cerca de 30% em meados da década de 1970 para mais de 50% nia década de 1980 e chegando a 60% no fim da década de 1990. Os produtos semimanufaturadas? mostram urna relativa estabi- lidade, com uma participagao que oscila de 1592 18%. Os pro- dutos basicos*, por sua vez, respondem por parcelas cada vez menores das exportagies totais, caindo de mais de 40% na dé- cada de 1980 para 20% no fim da década de 1990, Esse proceso de diversificacéo da pauta exportadora, com crescente participagao dos produtos manufaturados, revela 0 processo de transformacio estrutural experimentado pela eco- nomia brasileira nas tiltimas décadas. Essa tencléncia coexiste, todavia, com uma perda de dinamismo das exportagies a par. tir da década de 1980, Ao longo da década de 1970 hé uma crescente participagéo de produtos sidertrgicos, de celulose, de calgados, material de transporte, material elétrico e bens de capital. Durante a década de 1980 esse desempenho exporta- dor varia significativamente. Enquanto os setores de siderur- gia e de celulose continuam 2 expandir sua participagao nas exportagées, acompanhados por produtores de bens quimicos € plisticos e de papel, sctores como material de transporte, bens mecanicos de capital e material elétrico perdem posi¢ao ao lon- go dessa década. A composigao da pauta de exportagées industriais tende, assim, ase especializar em setores cuja competitividade depen *Eatce os prods semioanufaturados destacam-se, em 2000, aicar de eana Druro, pastas quimicos de madeira, produtossemimanufacurados de ferro on 890, alumfnio bruto, cousose pele, madera serrada, blo de soja, horracha sintticae artificial et, Entze os produtes bisicos destacam-se, em 2000, minrio de ferro, café cru «em gr80, soja (gro, farelo e residuos,fumo, carnes congeladss, slgodio, castanha de eaju ete. FLuloez € POROSIDADE OO TERRITORIO BRASILEIRO de essencialmente da disponibilidade de uma ampla base de recursos naturais, potencializada muitas vezes por escalas e! cientes de produgao na geracdo de bens intermedirios — ce- lulose e papel, siderurgia, alumfnio, entre outros. Trata-se de commodities manufatucadas* intensivas em recursos naturais e/ou enetgia que apresentam, em geral, uma tendéncia a satu- ragio dos mercados ea um comportamento declinante dos pre- ‘40s, Daf que se fale de perda do dinamismo das exportagées, sobretudo em um contexto do mercado internacional de cres- cente sofisticagio e de segmentacio das especialidades. ‘Jano fim da década de 1980 e no inicio da de 1990 0 di namismo das exportag6es se reduz significativamente, levan- doa perdas de participagio dos manufaturados brasileiros nos principais mercados (EUA, Japao ¢ Alemanha) e a uma cres- conte coneentragio de especializagao comercial em commo- dities intensivas em recursos naturais’,Paralelamente, os paises da Amética Latina — em particular os paises do Mercosul — aumentam sua participagéo como mercados para os produ- tos manufaturados brasileiros ndo intensivos em recursos naturais, Ao fim da década de 1990 registra-se um bor “Paro BNDES, so considerats“cmmodies matteo os podon ferals woes de proaos nds qu rps um Beeiamento {uma matri-pan ina eon poe ecolgia srlament fund da, polendo tt nines eel ln denen er recurs ai tas como nos eases do sino ao, dos ret eerergieay, ds derivado de pele «patron bens (Ws, 1994 A pai do nunfsurados bates as nprages dos Eads Uns ea ene 1985 1390, de 1,76 pra 1.398 00 mercado do J plo, a parc dsmanufrrados ratlorclde 3418 at 168 Em 1996 es papa dn presesiando 09596 on Exes Un dos © 0,799 10 Jat (Vig, 2000), “Desa se, nese Seno, 0 tenet das exports braiies de bens ecopi vets atm ec cay aoe mare, OPES, Spaclonwasmivors on ecpore «components aro ales oe. aia CONTINENTE Em CHAMAS desempenho exportador de produtos de maior valor agrega- do, tais como avides, méquinas ¢ aparelhos eletrénicos ¢ de comunicagio e pegas ¢ veiculos, sobretudo para os Estados Unidos. A diversificagao dos mercados compradores € outra ca- racteristica dos fluxos de mercadorias que anualmente saem do Brasil, Em termos de blocos econémicos, a Unido Euro- Péia ocupa, nesses tiltimos anos, 0 primeiro lugar, com mais de 25%, seguida pela ALADI, com aproximadamente 2396 (incluido 0 Mercosul, que absorve de 12% a 1596), Em ter- mos de paises, destacam-se os Estados Unidos, com cerca de 2406 das vendas brasileiras, seguidos pela Argentina, que os- cila entre 9% € 1196. As empresas exportadoras brasileiras (16,246 empresas) formam um grupo pequeno em relagio ao universo total de empresas existentes no pais (3,5 milhGes de empresas). Ou seja, as firmas voltadas para 0 mercado externo compreendem menos de 0,5% do total, conforme dados para o ano 2000 (Tabela 1). Ao longo da década de 1990, no entanto, registra- se um aumento de 80% no niéimero de firmas exportadoras, que, em 1990, eram 8.537, ‘Trata-se de um universo fortemente concentrado em tor- no de empresas de grande porte, Aquelas que exportam anual- mente acima de US$ 10 milhées eram, em 1990, 507 (69 do total de empresas exportadoras), respondendo por 809% das, exportag6es brasileiras (USS 25,3 bilhées). Em 2000 esse gru- po de empresas chega a 686 firmas (4% do total de empresas exportadoras), com vendas externas que alcangam US$ 46,2 bilhGes, equivalentes a 849% das exportaces. No outro extremo desse universo encontram-se as empre- sas exportadoras de pequeno e médio portes, aquelas cujas vendas no exterior néo ultrapassam um milhio de délares a0 ais CONTINENTE EM cHAMAS ano, Formavam, em 1990, umn geupo de 6.533 empresas (76% do total), com uma contribuicéo para a pauta muito reduzida \ (3% das exportagdes totais). Em 2000 as empresas nessa fai- aes xa de valor chegama ser 13.340 (8296 do total), mas com uma €(5/3/8 13/818) $ Participagao que nao aleanga 4% das exportacées totais. En= Fe Se}elels] tre as pequenas e médias empresas, chama a atengao o ingres- -| Islalalelelsis{s s0 de significativo nimero de novas empresas nas atividades Si leisleis[2}"] ls exportadoras, especialmente na faixa de valores entre US$ 10 3/8 + mil e US 100 mil, que passam de 2.535 a 5.578 firmas no z|"Jelslalsls|sials : perfodo de 1990 a 2000. 2] [4 al F[8[als Um indicador utilizado para analisar a base empresarial 2 Telelalelelale lf : exportadota €a permanéncia na atividade. Segundo Markwald a] IEIS/S/S[ 3/4/7138 je - (2000), na diltima década, mais de 3 mil empresas ingressa- Bf ale [aS 43 ram anualmente na atividade exportadora. Os novos expor- 3\"lsfslalslalelslg ja tadores representam anualmente 20% a 30% do total de 3 “fals|e[als |g 4 empresas exportadoras, mas respondem por menos de 3% da — g exportagao anual. Por outro lado, apesar da incorporagio de 4) felayS (Bi 8] 318 [gs : novas empresas, a base exportadora aumenta a um ritmo 4] is}syels|2 ale : muito inferior. Nem todas as empresas exportam continua aia relate |é 4 damente todos os anos; em conseqiiéncia, 0 ingresso de novos £l"|a/5]a/8/8/a/& BIS exportadores € compensado pela existéncia de exportadores eit siete |sjals J espordclicos ou desistentes. E justamente no universo de pe ET lelelelelalale a/2 i qucnas ¢ médias empresas que acontece esse movimento; uma fl islsjsl@|"|"| ls 4 : evidéncia de suas dificuldades para se tornarem exportado- a Stet ; res permanentes, 2 = 4 in g 2 UMA BASE MATERIAL QUE GARANTE A FLUIDE2 TERRITORIAL 22lels|Sle|2 4 | __ Ao observar a patticipagio dos modais de transporte no co- Sle al s}s|2 £ : mércio exterior brasileiro, destaca-se 0 forte predominio do alg BlE/S813|, ae transporte aquavidrio, bem acima do transporte aéreo ¢ ro- ai — FLUIDEZ E POROSIDADE OO TENnITORIO BRASILEIRO dovisrio. S40 as vias maritimas as mais escolhidas para facili- tar 0s fluxos internacionais de cargas, com uma participagio, em percentual sobre o valor total exportado, de aproximada- mente 80%. As rodovias conseguem um segundo lugar nas exportacées, com uma participacio acima de 10%, enquanto as vias aéreas nfo superam os 7%. Nas importagdes brasilei- ras também prevalecem as vias maritimas, seguidas pelo trans- porte aéreo, que supera os 20%; as rodovias ficam num terceiro lugar, com menos de 10%. Existem 46 portos, distribuidos pela costa marftima e pe- las vias fluviais interiores, dos quais 36 movimentam cargas para o mercado externo. Pelos portos brasileiros fluem 96,5%, em peso, das mercadorias transacionadas pelo pafs, dado que revela a importancia destes fixos para a fluider territorial. Fortes transformagées técnicas e politicas definem a situa- 40 atual dos portos brasileiros. Novas instalagbes e equipa- mentos sio incorporados de forma acelerada & sua performance operacional, como contéineres, guindastes especializados, armazéns, cais, bercos, armazenagem de cargas refrigeradas, junto a ages informatizadas que se introduzem em todos os processos através da logistica, O volume relativo de carga geral que € transportado em contéineres cresceu aceleradamente no Brasil, saltando de 27% em 1990 para quase 50% em 1998, Essa nova situagio explica 0 processo acelerado de moderni zagio que tém experimentado os terminais portuarios para adaptar-se aos requisitos técnicos que o uso do contéiner exi- ge. Foi necessirio, por um lado, melhorar as instalag6es, au- mentando a rea coberta para armazenagem ¢ ampliando os bergos para operacio dos barcos e, por outro, adquirir equi- pamentos especializados como portéineres (guindastes paraa movimentagio de contéineres entre o cais € 0 navio). A quan- tidade de unidades movimentada foi aproximadamente de dois, 218 CONTHMENTE EM CHAMAS milhOes de contéineres de vinte pés, sendo apenas sete por- 10s, localizadlos nas regides Sudeste e Sul, os responsiveis por mais de 85% dessas unidades, Junto as mudanges técnicas assinaladas, diferentes proces- sos de ordem politica foram acontecendo ao longo da década de 1990, produzindo alteragées na regulacdo territorial, so- bretudo depois de 1993, quando se promulga a Lei de Mo- dernizagio dos Portos, que define as direttizes dos processos de privatizacéo e descentralizagao dos complexos portudrios. A criagio da figura do operador portudrio é uma das for- mas que adotou a privatizagio dos servicos portuatios. A ta~ refa de realizar as etapas de movimentagdo ¢ atmazenagem de mercadorias destinadas, ou provenientes, do transporte aquavidrio tinha sido, até esse momento, prerrogativa tinica € exclusiva da administragdo dos portos, normalmente exercida, direta ou indiretamente, pelo poder pablico. Com a criagao do operador portustio estende-se essa prerrogativa a toda pessoa juridica interessada, isto é, 0 executor da ope- ragdo pode ser uma empresa de natureza privada devidamen- te autorizada. O operador portuario detém 0 comando unificado dos servigos, eliminando a separagéo do trabalho de docas (até 0 costado da embarcacao) e de estiva (entre 0 costado ¢ o interior do navio). Antes havia nitida divisao en- tre 0 trabalho de docas, exercido pela administragdo, e 0 tra- balho de estiva, feito pelos trabalhadores avulsos associados em sindicatos independentes. A nova lei, além de delegar todo © comando das operagdes & pessoa do operador portudrio, uniformiza o diferente tipo de trabalho, definindo como “tra- balhador portuério” todo aquele que realiza capatazia, estiva, conferéncia e conserto de carga, bloco ou vigilancia de em- barcagées, seja com vinculo empregaticio, seja como traba- thador ayulso. Cria-se, paralelamente, o Orgio de Gestao de 219 FLUIDEZ € POROSIOADE DO FERAITORIO BRASILEIRO ‘Mao-de-obra (Ogmo), coma responsabilidade de administrar todos os assuntos relativos 20 trabalhador portudrio. Os sin- dicatos perdem, dessa forma, o direito a definir a composi- ‘40 dos turnos de trabalho ¢ a escolha da miio-de-obra para cada tarefa. Por outro lado, como a introdugio do contéiner izada e re- permitiu a implementacdo de operago meca petitiva, em vex dos procedimentos diferenciados que ocor- riam anteriormente (movimentagdes de sacos, fardos, caixas, tambores etc.), a necessidade de mao-de-obra reduziu-se em ritmo constante, j4 que certas operagées requerem participa~ 40 minima de trabalho manual (em alguns casos a utilizacéo de trabalhadores por turno passou de catorze a quatro ho- mens). O desemprego previsto foi paliado, em parte, pela in- denizaggo de mais de 10 mil trabalhadores; entretanto, 0 contingente atual de 40 mil trabalhadores ainda é bem maior que a demanda. E nesse contexto que aumentam as greves e 0s confrontos nos portos, expresso viva do conllito capital/ trabalho. (Os terminais privativos também sofreram mudangas na sua regulagdo. Antes da lei, os terminais privativos ficavam jurisdicionados aos portos piblicos vizinhos, eram obrigados a0 pagamento de tarifas ¢ impedidos de movimentar cargas de terceiros. Atualmente eles podem operar como se fossem portos independentes, pagando tarifas somente em caso de utilizagao de servigos e operando com cargas de outras em- presas mediante a assinatura de contrato de adesio. Ao per- mitir a recepgio de cargas de terceiros, abre-se a possibilidade de um novo negécio para os donos desses terminais, que se conyertem em concorrentes dos portos piiblicos. Os termi- nais privativos processam em torno de 70% do volume total das exportagées brasileiras, sobretudo produtos primérios como minério de ferro, soja e suco de laranja, enquanto os 220 CONTINENTE Em CHaMAS 30% restantes, relatives & carga geral, sio manipulados pelos portos piblicos. A movimentagao de granéis sblidos é reali- zada principalmente através de terminais pertencentes a gran- des geupos empresariais (minetadoras,sidertirgicts, trading, cooperativas) que, dessa forma, administram o dltimo elo nacional do circuito de produgio por elas controlado, Eo caso, por exemplo, das mineradoras Companhia Vale do Rio Doce, MBR, Samarco, Usiminas, CST, Cosipa, ¢ das empresas de commodities agricolas como Cargill, Glencore, Cotriguagu, Incobrasa. Os granéis Iiquidos sio movimentados fundamen. talmente pela Petrobras, através de oito term localizados nos portos piiblicos. As transformagées técnicas e politicas experimentadas na liltima década pelo sistema portustio sto concomitantes as acontecidas pela navegagao maritima. Os fluxos maritimos de cargas trouxeram para os portos navios cada vez mais especializados, de maior porte e, por conseguinte, operacio- nalmente mais caros. Atualmente, alguns desses navios especializados requetem operagées portuérias completas em no maximo 48 horas. A introdugio do contéiner exigiu uma atualizagao quanto ao tipo ¢ a0 porte dos navios, assim como As praticas gerenciais e de prestacdo de servigos, Entre 1986 ¢ 1995, a frota brasileira de longo curso foi reduzida em 118 embarcag6es, perdendo a metade de sua capacidade operativa, em decorréncia de venda para empre- sas estrangeiras, de transferéncia para subsididrias no exteri or ou para operacéo de cabotagem. Na década de 1970, os navios brasileiros conduziam cerca de 50% das trocas comer- iais, caindo esse percentual para 17% em 1990 e para ape- has 4% em 1995. Nesse perfodo o Brasil aumentou seu comércio externo de 130 milhdes para 220 milhées de tone- ladas anuais. Tal situagdo acarretou um déficit crescente na ais privativos aa — FLUIDEZ E FOROSIDADE 00 TERRITORIO ORASILEIRO conta de servigas, relativo as importagdes, além da perda de receitas em fretes de exportagio. Concomitantemente, as gran- des poténcias comerciais, a comecar por EUA, Alemankia ¢ Ja- po, aumentaram as suas rendas em divisas vendendo também © frete, ou seja, 0 transporte dos produtos negociados, tanto na exportagao quanto na importagao. ‘A concentracio verificada nas companhias de navegagao nao é um fendmeno isolado. Outros setores, como as agén- cias maritimas ¢ os operadores portudrios, também esto fazendo fusdes e aquisig6es, além de estabelecer acordos ope- racionais, procurando mais poder para negociar fretes e tari- fas portudrias. Para circular dentro do territério nacional, a rodovia continua sendo a opeao mais escolhida pelas empresas que transportam mercadorias. Dos 627 bilhdes de toneladas movimentados no Brasil em 1999, 0 transporte rodoviério ficou com 396 bilhdes (6396), 0 ferroviério com 132,5 bi- Ihdes (219) eas hidrovias com 73,5 bilhdes (12%). A maior parte das empresas ainda prefere o modal rodovidrio para realizar 0 transporte aos portos € aeroportos de embarque para o exterior. Além disso, os fluxos de mercadorias des- tinados aos pafses vizinhos realizam-se principalmente pe- las rodovias. Nas exportag6es brasileiras para a América do Sul, esse modo de transporte prevalece, inclusive, sobre o marftimo. Nas importag6es oriundas de paises da América do Sul, embora os fluxos maritimos ocupem o primeiro lugar, o trans- porte rodovirio ainda participa com aproximadamente 40%. Até 1995, o modal rodoviario vinha em crescimento constante de participagio, havendo, a partir de entao, reverséo dessa tendéncia. Isso se explica por que nas importagées prevalecem produtos de menor valor agregado, como granéis sdlidos (em 222 CONTINENTE EM CHAMAS especial trigo), que sio transportados predominantemente em navios graneleiros, Foi assinado, em 1990, 0 Acordo sobre Transporte Inter- nacional Terrestre entre Brasil, Argentina, Bolivia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai, que propicia regulamentagao con- junta do transporte internacional terrestre no Cone Sul, per- mmitindo a garantia de regularidade de atendimento, bem como definigdes pertinentes a direitos e obrigacées de usuérios ¢ transportadores, Existe, desde esse ano, o Conhecimento In- ternacional de Transporte Rodovidrio (CRT), documento de emissio obrigatria que funciona como contrato de transporte rodovisrio, como recibo de entrega da carga e como titulo de crédito, visando a regular os movimentos além das fronteiras nacionais. 0 crescimento dos fluxos comerciais entre os paises do Cone Sul foi um estimulo para muitas empresas de transpor- te rodovidrio iniciarem projetos na area de logistica. Varias firmas comegaram a investir renovando sua frota, oferecen- do servigos diferenciados (carga consolidada, servigos porta a porta etc.) ¢ inclusive se associando com empresas dos paf- ses vizinhos. Apesar de sua origem estar ligada ao mercado externo, atualmente a participagao do transporte ferroviario no comér- cio exterior é muito reduzida, com média de 0,4%. O proces- s0 de privatizacio das ferrovias comegou em 1996, cobrindo quase a totalidade da malha nacional. Na composicao socie- taria dos concessionérios ferroviérios participam sobretudo ‘0 grupos econdmicos ligados 4 exportagdo, que escoam seus produtos a partir dos portos maritimos. Trata-se de empresas que em geral operam granéis sélidos minerais (principalmen- te minério de ferro e carv4o) e alimentares (soja e derivados, trigo, citricos, agticar, sal etc.). 223 FLUIOEE € PORDSIDADE 00 TEARITORIO BRASILEIRO ‘A conexio das ferrovias do Brasil com os pafses latino americanos ainda é pequena, ea diferenga de bitola é um dos entraves técnicos que impedem a dinamizagio do tréfego ‘mtituo, em virtude da necessidade de transbordo de cargas na fronteira. Quanto &s questdes burocréticas, nao existem im- pedimentos, jé que o Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre de 1990 definiu, para os patses do Cone Sul (Brasil, Argentina, Bolivia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai), um for- mulario Gnico de transporte e transito aduaneiro para o modal ferrovidrio, ‘Apés o processo de privatizacéo das ferrovias argentinas e brasileiras, define-se 0 projeto da chamada Fetrovia do Mercosul, com a assinatura, em 1997, de um acordo entre a Ferrovia Sul Arlantico (FSA), a Fepasa (atual Ferroban) ¢ as argentinas Ferrocarriles Buenos Aires al Pacifico (BAP) e da Ferrocarriles Mesopotamico General Urquiza (FMGU)”. Nesse momento foi oficializado o Cargosul, trem idealizado para o transporte de contéineres através de um servico intermodal, porta a porta, para atender inicialmente o trecho Campinas-Buenos Aires. Em 1999 a FSA adquiriu as duas ferrovias argentinas, conseguindo, dessa forma, aligagdo com © Pacifico’. Apés essa operagio, o Cargosul continua em operagio, levando & Argentina e a0 Chile graos, farelos e pro- dutos siderargicos e industrializados ¢ importando arroz ¢ trigo. Do total transportado pela ferrovia brasileira FSA, 69 partem rumo a esses dois pafses. E essa operadora ferrovidria "Ambas as Fercovias extavam, desde 1991, sob concessio do grupo argentino escarmona, que ficou mum stuagdo prvilegiada por estar em condigoes de imegear uma rede de transporte ferrovistio que vineula Chile com Parag, Unuguai e Brasil, através da Argentina (Blanco, 1999), 8 composigo societria da FSA 6aseguinte:Interérrea, GrogatJudori, Ralph Parenerse Railtextoternational (BNDES, 1999), 22a CONTINENTE EM CHAMAS que atualmente esté usufruindo do negécio do transporte de cargas no Cone Sul. As hidrovias apresentam uma densidade de circulagéo inferior & dos outros sistemas de engenharia. Entre elas des- taca-se, pelos investimentos recebidos, a Hidrovia Tieté- Parand, Trata-se de um sistema de navegagio formado a Partir de um conjunto de eclusas em cascata, unindo lagos de usinas hidrelétricas situadas nos rios Tieté e Parand, com uma extensio navegavel de 2.400km. Dez. eclusas integram cinco estados brasileiros (Sao Paulo, Goids, Parand, Minas Gerais ¢ Mato Grosso do Sul), com a possibilidade de am- pliagdo internacional mediante a conjugacao com os siste- mas dos rios Paraguai e Uruguai. A previséo, assim que estiver conclufdo 0 sistema de eclusas da Hidrelétrica Binacional Itaipu’, é que a rede de navegacéo fluvial tenha 7.000km, formando a chamada Hidrovia do Mercosul. Serao necessérias, também, obras de alargamento e apro- fundamento do calado para permitir o tréfego de comboios maiores ¢ mais velozes que os atuais. A bacia do rio Paraguai, que faz parte da Hidrovia do Mercosul, liga o oeste brasileiro ao rio da Prata", permitindo a circulacéo de produtos para exportagio, Por Caceres real za-se 0 escoamento das safras de arroz local e através de Corumbé flui manganés, ferro, cimento, soja e gado. A con- centracéo maior de cargas atualmente se encontra no trecho 7O maior obstécuo 60 desnfvl de 130m da repress; por enquanto,aalteraa- tive dispontvel € 0 wansbordo rodovidrio amavés de Ciudad del Este, no Paraguai : "Em junho de 1992, Brasil, Argentina, Urugual, Paragul e Bolivia assinaram ‘© Acordo de Santa Cruz dela Sierra sobre otrensporte fluvial nos 3.000m dda hideovia Parand-Paragui, entre os portos de Caceres (MT) e Nueva Palma, Urugusi, etabelecendo um marco comum sobre o inerchmbio comercial da regido, 22s FLUIDEZ € POROSIDADE DO TERKITORIO BRASILEIRO entre Corumba (MS) ¢ Santa Fe (Argentina), onde as condi Ges de navegagio sio melhores. © Paraguai, com 15 empre- sas de navegagio, e a Argentina, com cinco, so os pafses que mais exploram essa rota, s investimentos nas hidrovias e ferrovias visam 4 ampli- agdo da base material para methorar as condic6es de fluidex territorial, Nesse sentido, na década de 1990 desponta a pro- posta dos corredores de transporte utilizando esquemas multimodais, com énfase no hidrovidrio e ferrovidrio. Preten- de-se assim diminuir a preponderancia do modal rodovisrio ¢ reduzir as grandes distancias a serem percorridas das dreas, de produgiio até os pontos de embarque para exportacio. Esses, corredores estdo associados sobretudo ao escoamento das sa- fras agricolas, com destaque para a soja. Bles tém sido consi- derados prioritérios para o governo federal e constam nos de {ltimos planos plurianuais (1996/1999 e 2000/2003). Varios dos projetos desses planos tém por objetivo reduzir os custos de transporte a granel, promovendo investimentos principal- mente em hidrovias, Trata-se de propostas que, a0 buscar uma melhor fluidez territorial, garantem uma ampliagao do pro- cesso de circulagao do capital. UMA BASE NORMATIVO-INSTITUCIONAL QUE PROMOVE A POROSIDADE TERRITORIAL, A partir do aprofundamento da liberalizagao comercial da dé- cada de 1990, tém aumentado consideravelmente 0 niimero ¢ a variedade dos recintos alfandegados em reas localizadas fora das fronteiras, E uma politica chamada de “interiorizagao das aduanas”, que procuta agilizar o desembaraco das mercadorias para evitar os congestionamentos nos portos, aeroportos € 226 GONTINENTE Em CHAMAS postos de fronteira. Ela permite, portanto, aumentar a porosidade territorial. Nessa variedade de recintos encontram-se 0 Entreposto Aduaneiro (permite a liberaliza¢ao parcelada de mercadorias sob controle fiscal, com 0 pagamento de tributos apenas dos lotes jéliberados), 0 Terminal Retroportuario Alfandegado (si tuado em dreas adjacentes aos portos, requer a existéncia de ‘uma zona primédria contfgua), a Estagéo Aduaneina do Interior {permissionarios aduaneiros em zonas concentradotas de car- gas, geralmente distantes das éreas portudrias), 0 Entreposto Industrial (indiistrias autorizadas a importar, com suspensio temporaria de tributos, mercadorias destinadas a operagdes drawback ou reexportagio para outros paises, desde que per- ‘manegam depositadas em um armazém alfandegado préprio). Destacam-se, pelo seu ntimero, as Estages Aduanciras do Interior (Eadi), também conhecidas como “portos secos”. $0 lugares especiais, de origem normativa e sujeitos a legislagio ‘specifica, que tém a finalidade de fazer com que o transpor- te de mercadorias exportadas e importadas, fundamentalmen- te as acondicionadas em contéineres, possam seguir sem interrupg6es nas fronteiras, portos ou aeroportos pata o con- trole aduaneiro. Sao fixos formados por armazéns, patios para armazenagem de contéineres, cAmaras frigorificas, posto ban- cério, além do posto da Receita Federal e do Ministério da Saiide ¢ da Agricultura, Foram credenciadas, até outubro de 2000, 46 Eadis. O estado de Sao Paulo destaca-se com 21 estagdes credenciadas, seguido por Minas Gerais com cinco, Rio de Janeiro, Espfri- to Santo, Parand e Rio Grande do Sul com trés cada um, San- ta Catarina com duas, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pernambuco © Amazonas com uma, Bis uma mostra da alta porosidade territorial que ganha a regiio Sudeste. 227 PLUIDE? € POROSIDADE DO TERRITORIO BRASILEIRO Os portos secos esto localizados em pontos estratégicos, geralmente préximos de grandes centros produtores ou dos portos e aeroportos. Atuam como verdadeiros enclaves, ja que neles se permite a realizacio de operagdes comerciais ¢ cam- biais nao sujcitas a regulamentagao especifica dos respectivos estados. Ea Receita Federal, atrelada ao Ministério da Fazenda, que define a sua criagio e, portanto, a forma de existéncia desses territérios. Desde 1996, a administragdo desses en- trepostos aduaneiros esta sendo passada a iniciativa privada. ‘O empresario interessado em abrir uma Eadi na regido em que atua precisa cadastrar-se a uma licitagao da Receita Federal e, se ganhar, deve investir de acordo com o edital de licitacao. A permissio para explorar o segmento € valida por cinco anos, renovavel por mais cinco. Grandes empresas transportadoras € de logistica sio as que concentram o maior niimero de con- cessdes; entre clas sobressacm a Coliimbia, com participacio em sete estag6es aduaneiras (S40 Paulo, Campinas, Santos, Santo André, Piracicaba, Curitiba e Salvador), a Multiterminais (Resende, Sao Crist6vao, Juiz de Fora e So Caetano) e a In- tegral (Santos, S40 Bernardo do Campo, Jundiat e Taubaté), que operam quatro terminais cada uma. S40, entéo, as em- presas permissionérias as que prestam os servigos de movie mentagio e armazenagem de mercadorias sob controle aduaneiro, Pata concorrer com os terminais alfandegados tra- dicionais (portos, aeroportos e postos de fronteira), as em- presas apresentam como atrativos as tarifas, o prazo para pagar impostos e a velocidade no processo de desembaraco. Existem outros pontos no territério nacional que esto habilitados para oferecer servigos aduaneiros, afrouxando ainda mais os limites internacionais. Nao se trata de areas, ctiadas especialmente como as Eadis, mas atribui-se tal fun- 228 CONTINENTE Em CHAMAS io a determinadas fiemas industriais ov a grandes armazéns graneleiros, fo caso da Hewlett-Packard, que em 1999 foi autorizada pela Receita Federal a operar o Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (Recof)". Por esse mecanismo, as mercadorias importadas saem dirctamente do avido on do navio para os depésitos da empresa, sendo todo 0 controle aduaneiro realizado por com- putadores. Dessa forma as compras externas so incorpora- das ao estoque regular da empresa, sem a exigéncia de um tratamento diferenciado para os insumos importados (com- ponentes de alto valor agregado), fato que permite um ciclo rapido de produgéo, além de economizar em armazenagem. Outro exemplo é o Complexo Intermodal Armazenador Boa Vista, localizado em Sumaré (Sao Paulo), que € utilizado para a liberalizagao de cargas inseridas no regime Redex (Des- pacho Aduaneiro de Exportagio)", que visa & consolidagao de mercadorias para exportagio de micro e pequenas empre- sas, principalmente destinadas ao Mercosul. £ um conjunto de silos metilicos administrados pela Companhia Nacional de ‘Armazéns Gerais Alfandegados (CNAGA), que trabalha com gros ¢ agticar a granel das usinas locais. Essa companhia opera junto & Ferrovia Sul Atlantico (FSA), com um trem entre Sumaré e Buenos Aires, ¢ junto & Ferroban, com trens que pattem em diregéo a Santos transportando produtos da re- gido de Campinas NO Recof foi eviado pela Recets Federal em 1997 e aplica-se somente as ‘empresas do setor de informéticae telecomunicagbes. "80 Redex foi crado pela Receita Federal em 1998 para a realizagio do des ppacho advaneio de exportagio em recino nio-alfendegado de zona secun déria. O beneficio pode estar localizada no estabelecimence do préprio exportador ou intalado em endereso expecticn para uso connum de vstios exportadores (Revista Global, n° 17, main/1999), 229 FLUIDEZ € POROSIDADE DO TERAITORIO BRASILEIRO Osdifetentes tipos de recintos alfandegados até aqui ass nalados vieram somar-se a outras iniciativas preexistentes, relativas ao aftouxamento do limite internacional. E 0 caso da Zona Franca de Manaus, das zonas de processamento de exportacio e das zonas de livre comércio®. $40 lugares de origem normativa que procuram ampliar a porosidade territorial, nesse caso mediante um tratamento aduaneiro es- pecial. Operam a partir da isengao fiscal — nos dois primei- +08 casos, procurando estimular processos de industrializacio ‘em Areas de fraco dinamismo econémico e, no terceiro caso, facilitando a comercializagéo de bens em éreas em geral iso- ladas por questdes geogrdficas. Muitas vezes esses regimes aduanciros especiais se localizam em éreas fronteiricas, visando a objetivos de ocupagio estratégica ‘A capacidade que tém os governos nacionais de promo- ver uma porosidade territorial maior ou menor, taxando ou desonerando os fluxos de mercadorias, converte-se, paralela- mente, em um instrumento de barganha politica. E 0 caso, por exemplo, do Sistema Geral de Preferéncias (SGP), criado em 1970 com 0 objetivo de facilitar o acesso de produtos origi- nérios de paises em desenvolvimento aos mercados dos pai- ses industrializados"*. Mediante esse sistema, 0s paises industrializados (outorgantes) concedem redusao total ou parcial do imposto de importagdo incidente sobre determi- nados produtos, originarios ¢ procedentes de pafses em de- "SA Zona France de Mansus foi criada em 1967, enquanto as 2onas de processamento de exportasio e as zonas de livre comésciosurgiram no fin dda década de 1980 e incio da de 1990, Apéseriado, esse sistema fol aprovado pela Junta de Comércio de Desen- volvimento da UNCTAD (Conferéncia das Nagdes Unidas para o Comércioe Desenvolvimento). Atualmente € outorgado por catorze pases e pela Unio Eucopeia (nforme Banco do Brasil, n” 28, 2000) 230 senvolvimento (beneficiétios). Cada um dos paises outorgantes divulga, periodicamente, a relagio de produtos— agricolas e industriais — aos quais confere tratamento preferencial, bem ‘como seus requisitos de origem, Os Estados Unidos oferecem, de maneira unilateral, preferéncias tariférias aos pafses em de- senvolvimento através do SGP $6 que varios produtos estéo proibidos de receber tal tratamento, como a grande maioria dos téxteis, rel6gios, calgados, bolsas, malas, artigos de cou- 10, luvas de trabalho e produtos de vestuarios feitos de cou- ro, além dos produtos considerados “sensiveis”, como ago, vidro ¢ eletrénicos, Muitos deles fazem parte das exportagdes brasileiras aos Estados Unidos; portanto, os produtos ampa- rados pelo SGP representam menos de 20% das vendas totais do Brasil aquele mercado. A medida que a liberalizagao do comércio vern avangan- do, desde a década de 1990, ora com a criagio de areas de livre comércio, ora com acordos bilaterais de comércio, os governos nacionais ficam com menos autonomia para ge- renciar a politica tariféria em fungao dos compromissos assu- midos no quadro desses acordos. No entanto, outras normas vao-se criando para regular o movimento das mercadorias. Com efeito, assim como existe barreiras tariférias aos flu- xos internacionais de mercadorias, novos impedimentos apare- cem com a intengdo de restringir 0 cométcio. Sao as chamadas, genericamente, “barreiras nao-tariférias”, Elas abrangem um conjunto muito variado de ages que vio de coras, medidas antidumping, medidas compensat6rias, procedimentos alfan- degarios etc. até regulamentos sanitarios, fitossanitdrios e de savide animal. As barreiras ndo-tarifarias constituem uma verdadeira engenharia normativa que serve de instrumento para fazer politica no contexto das relagées internacionais. Geralmente 234 FLUIDEZ € POROSIDADE DO TERRITORIO BRASILELRO ‘0s pafses com maior forca para impd-las so aqueles com posigao mais confortével na divisto internacional do traba- Iho, Desse modo, essa modalidade ndo-tariféria de protegio como resposta as demandas de setores ameacados pela con- corréncia de importacées € utilizada freqiientemente pelos pafses centrais tanto no caso dos produtos agricolas (clara~ mente 0s Estados Unidos e a Unido Européia), como também para muitos dos produtos manufaturados. Impostos, tavifas, preferéncias, barreiras ndo-taviféries 380 medidas direcionadas pelos governos nacionais para tornar mais ou menos poroso seu territério e fazer dele proprio uma norma, Esse movimento pode ser observado ora como nor- ‘ma, ora como agio institucional direta. Neste iltimo sentido, diversas instituigbes desenvolvem uma série de atividades, préticas, estratégias para estimular a relagéo do territ6rio na- cional com o mercado externo. Uma agio direta que se en- globa no que poderiamos chamar de gerenciamento do comércio exterior. Destacam-se, em particular, as atividades rclativas a promogio comercial, oferecidas por uma plurali- dade de entidades publicas e privadas. Dentro do governo federal, os ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, das Relacées Exteriores e da Agricultura dividem 0 trabalho de regulagéo do comércio exterior. De- pendéncias dos diferentes ministérios tém incumbéncia sobre alguma fase do processo, inclusive muitas vezes superpondo suas atividades e criando contlitos de competéncia no seio do apareltio do Estado. Em 1998 foi criada a Camara de Comér- cio Exterior (Camex), coma finalidade de resolver a desarti- culagao institucional e administrativa dos 6rgdos responséveis pela gestdo do comércio exterior. Ligada a Casa Givil da Pre- sidéncia da Repiblica, a Camex é formada por um consetho composto pelos ministros do Desenvolvimento, Indiistria 232 COMTINENTE EM CHAMAS Comércio Exterior, das Relagdes Exteriores, da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura. Entre as atribuigdes outorga- das 4 Camex, encontram-se as competéncias para fixar aliquotas dos impostos de importagao € exportagio, para impor medidas de defesa comercial nas investigagoes de pré- icas desleais de comércio, para estabelecer divetrizes para a negociagéo de acordos ¢ convénios comerciais, de natureza bilateral, regional ou multilateral, como, por exemplo, a for- magio e implementagao da ALCA. No contexto dessas transformacées institucionais surgiu a proposta de criacdo de uma agéncia voltada para as peque- nas € médias empresas, pelo entendimento de que a base ex- portadora brasileira tem de ser ampliada com a entrada ea permanéncia dessas empresas no universo exportador, Foi instituida, entao, a Agencia de Promocdo de Exportagées (Apex), que comeca suas atividades em 1998, Esta funciona em parceria com o setor privado e com o Sebrae, promoven- do, entre outras agdes, capacitagao ¢ treinamento de pessoal especializado em comércio exterior, pesquisas de mercado, desenvolvimento e adequacéo do produto ao mercado inter- nacional, consultorias em marketing, rodadas de negécios ¢ participa io numerosas as entidades empresariais que esto envol- vidas em agées especificas para promover 0 comércio exte- rior. Particularmente na década de 1990 observa-se uma mobilizacgo em prol desse objetivo. Criam-se programas es- pecificos de treinamento e capacitagao, consultoria, servigos técnicos, banco de informagées, organizagao de missées a0 exterior e rodadas de negécios, ‘No dimbito do esquema formal de representagio dos inte resses empresarias destacam-se a Confederacio Nacional das Inchistrias (CNI) e as federagoes de ambito regional circunscri- em feiras € missGes comerciais, 233 FLUIDEZ € POROSIDADE 90 TERRITORIO BRASILEIRO tas.a0s estacos (FIESP, FIERGS, FIEMG, FIER entre outras). Em meados da década de 1990, uma das primeiras atividades implementadas foi a criagao dos Centros Internacionais de Negécios (CIN), visando a promover 0 processo de inter- nacionalizagao da empresa brasileira. Resinem especialistas que contam com um acervo de informacées para auxiliar os em- presirios nas exportagbes ¢ em negociagao de parcerias. Esses centros trabalham em coordenagéo com a Apex. Sobressaem, igualmente, as associagées sctoriais que atuam em forma direta nos atritos vinculados a tarifas, quo- tas, processos antidumping etc, Nos casos de setores com tradi- 40 na exportacio, geralmente essas entidades se desdobram formando associacées dedicadas especialmente ao comércio exterior, Neste dltimo caso encontram-se a Associagao Brasi- leira dos Produtores ¢ Exportadores de Frangos (ABEF), a Associagio Brasileira da Indistria Produtora e Exportadora de Carne Sufna (ABIPECS), a Associagao Brasileira das Indas- trias Exportadoras de Carnes Industrializadas (ABIEC), a As- sociagao Brasileira de Exportadores de Cftricos (Abecitrus), a Associacdo Brasileira dos Agentes de Exportagao de Calgados ¢ Afins (ABAEX), a Associagio Brasileira dos Importadores de Matérias-Primas Téxteis (Abitex) Paralelamente, existem numerosas entidades diretamente relacionadas ao comércio exterior. $40 associagGes organiza- das no ambito nacional ¢ de forma autnoma, retinem empre- sitios com objetivos afins, sendo a filiagdo e a contribuigao de cardter voluntario. Podem ser mencionadas a Associagao de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a Associacio Brasileira das Empresas Comerciais Exportadoras (ABECE), a Associagao Brasileira dos Executivos de Comércio Exterior (Abecex), a Associagao Brasileira das Empresas Operadoras de Regimes Aduaneiros (ABEPRA), a Associagao das Empresas Brasileiras para Integracio no Mercosul (ADEBIM). Distingue-se, entre las, a AEB, que congrega os grandes exportadores brasileiros ¢ participa ativamente nas negociagées que envolvern a discus- slo de politicas de comércio exterior. A acdo politica das entidades empresariais muitas vezes se desenvolve diretamente na arena parlamentar. Hé perfodos que despertam intensa mobilizacio das atividades de lobby. Por exemplo, no petfodo da tramitagao ¢ votagéo de projetos especificos, como a Lei de Modernizacao dos Portos, foi in- tensa a atuagéo dos grupos de pressio. O discurso que acom- panha a maioria das entidades mencionadas esta dirigido, geralmente, a diminuir o viés antiexportador resultance da estrutura tributéria e dos custos de infra-estrutura ¢ aumen- tar a quantidade e qualidade dos instrumentos de promogéo das exportagées. A partir dessas premissas elas desenham suas, estratégias, tecem sua acdo politica. Trata-se de uma agao institucional que intervém na ampliagao da porosidade territorial para, desse modo, acelerar o processo de circula- gio do capital. FLUIDEZ E POROSIDADE TERRITORIAL: PARA QUEM? Apesar de varios projetos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos ¢ aeroportos serem investimentos anunciados embora nao efetivamente realizados, 0 processo de renovagio da materialidade no territério brasileiro experimentou mudan- «as significativas na éltima década. Da mesma forma, normas €ag6es institucionais intensificaram-se, criando um ambiente de internacionalizagao dos negécios. Nesse contexto, poderf amos nos perguntar: fluidez e porosidade territorial para quem? Talvez seja interessante refletir sobre esta questio A luz 2as FLUIDEZ £ POROSIDADE DO FEARITORIO BRASILEIRO da proposta de criagao da Area de Livre Comércio das Amé- ricas (ALCA). Enquanto a ALCA ainda é uma iniciativa em discussao, os paises do Gone Sul tém avangado bastante no caminho da integragio a partir da proposta do Mercosul em 1991. Apés sua formulagio inicial, que aspirava, de forma ambiciosa, & constituicao de um mercado comum em cinco anos, foi ne- cessdrio introduzir certas alteragdes no esquema normativo inicial, atingindo-se, em um primeiro momento, a formagéo de uma drea de livre comércio completada, parcialmente, em dezembro de 1994 c, em um segundo momento, a criagéo de uma unido alfandegéria que comegou a funcionar, de forma imperfeita, em janeiro de 1995, Decorridos 12 anos desde a assinatura do Tratado de Assungao, completou-se a liberacio tariféria intrazonal e chegou-se & implantago — embora in- completa — de uma tarifa externa comum, Essa engenharia normativa converteu-se em um instrumen- to eficar para 0 crescimento dos fluxos de mercadorias entre 6s pafses do Mercosul, que experimentaram um crescimento acclerado no perfodo 1990-1998, Registra-se, concomit temente, um significativo avango do que se poderia chamar a politica externa do Mercosul, ou seja, a atuagdo como um bloco de base diplomatica que the permite participar como ator Ginico nas diferentes instincias mundiais de caréter poli- tico-econdmico. Como diz Aradio (1999, p. 74), "0 Mercosul tornou-se uma entidade acreditada internacionalmente”. Tale Yer hoje este seja seu maior trunfo, embora se tenha enfra- quecido notadamente o intercambio comercial intrabloco. O poder de barganha que Ihe outorga essa dimensio pode ser um ponto central no seu posicionamento diante da ALCA. Além das assimetrias econémicas e tecnolégicas existen- tes entre os Estados Unidos e os patses do Mercosul, cabe 236 CONTINENTE EM cHaMas sublinhar duas caracteristicas relativas ao comércio exterior, Em primeiro lugar, os paises sul-americanos apresentam uma insergao na divisio internacional do trabalho baseada, sobre- tudo, na exportagio de commodities (tradicionais e manufa- turadas). Esse fato, junto a uma pauta de exportagio altamente diversificada por parte dos Estados Unidos, reforca a tendén- ia secular & deterioragio dos termos de intercambio. Em segundo lugar, 0 predominio dos fluxos intrafirma que encerra o comércio exterior norte-americano mostra a existén- cia de um importante mimero de grandes empresas desse pafs com investimentos diretos no estrangeiro, fato que fortalece sua influéncia nos fluxos de comércio tanto no pais de origem quan- to naqueles em que possuem filial. A maioria das empresas exportadoras latino-americanas, pelo contcétio, realiza as tran- sages comerciais de forma autonoma, independente, inserin- do-se nos fluxos de comércio de maneira muito mais passiva. As duas catacteristicas acima assinaladas conferem uma forsa politica aos setores exportadores norte-americanos con- sideravelmente maior, jé que eles nio s6 tém a possibilidade de influir ativamente sobre as politicas domésticas do seu pats como também podem exercer pressio e incidir na tomada de decis6es nos paises que recebem os seus investimentos ¢ inte- resses comerciai A existéncia de atores to desiguais mostra as dificulda- des que atravessa 0 processo de negociacao na configuragdo da ALCA, Do ponto de vista estratégico, a coesao interna do Mercosul pode ser importante para se avangar nas negocia~ ‘ges com a Comunidade Andina, que, ao lado de Chile ¢ Bo- livia — paises j& associados —, permitiria enfrentar as complexas negociagoes da ALCA em melhores condicées de barganha. Essa coesdo permitiria, inclusive, repensat as van- tagens de participar em tal proposta que, ao invés de fortale- 237 FLUIDEZ £ POROSIDADE BO TERRITORIC BRASILEIRO cer uma integracéo continental, tornaria mais vulnerdveis os territ6tios nacionais latino-americanos. Nas palavras de Milton Santos (2000a), “se os pafses da América do Sul se integram politicamente, podem criar entre cles uma teia de relagées horizontais destinada a salvaguar- dar os seus interesses econdmicos e politicos ¢ também bene~ ficiar as respectivas populagées. As horizontalidades densas constituem um freio ao livre exercicio de verticalidades, que so as formas pelas quais os mais fortes se apropriam das possibilidades de fluidez. em seu préprio favor”. fortalecimento do Mercosul ampliado poderia ser uma forma de preservar a soberania deste rincio do continente, rna medida em que também se pretenda uma integragao dife- rente. Isto significaria, entre outros aspectos, procurar os mecanismos para evitar: a) uma integcago orientada funda- mentalmente pelos mecanismos de mercado, sem a imple- mentagio de poltticas industriais, tecnolégicas ¢ territoriais que possam compensar as dificuldades da abertura econ6s a; b) a participagdo privilegiada dos setores mais concentra- dos da economia; e c) © pracesso acentuado de seletividade espacial que uma abertura indiscriminada provocaria. Ainda é possfvel. Depende, mais uma vez, de uma vontade politica que privilegie os interesses da maioria, Acreditamos que a capacidade de tecer aliangas com um outro contetido pode set a possibilidade de construir territ6rios menos fragmenta- dos, menos desiguais, enfim, menos vulneraveis. 238 BRASIL ~ BASES DA FLUIDEZ TERRITORIAL portos, aeroportos, ferrovias, hidrovias PORTO AEROPORTO HIDROVIAS _FERROVAS. esconas thermcones —renpivet —feronsearing one “GMENE resend (Stone sm eno meee ‘gee io___Tpede Gaga Wameade Clone gos i= Terma Area deine “Tat Moa reo Rana Brno OT) 239 BRASIL ~ MANIFESTAGAO DA POROSIDADE TERRITORIAL recintos alfandegadas ~ regimes aduaneiros espectais, anon ey © Zoradetins Conte (© Zena fanca de Maa “Bato sas yew Roan Bn 0) 240 Bibliografia Aatjo, J.T. de. "ALCA: riscos e oportunidades para o Brasil", em Gai- ‘mardes, S, P. (org.)s LCA € MERCOSUL: riscos ¢ oportunidades para © Brasil. 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No entanto, as velhas nogdes de rei- no no coincidem com as modernas nogbes de territ6rio, pi seus limites cram indeterminados e, com freqiiéncia, tempo- rérios. E nos séculos XVIII e XIX que 0 conceito de sobera- nia foi formalmente traduzido na concepeao do territério do Estado como espaco delimitado € policiado pela administra- 40 soberana. Os Estados se tornam formas territoriais de organizagio politica. As coletividades ou os “povos” deveriaim ser diferenciados em espagos territoriais fixos € miutuamen- te excludentes, de dominagio legitima. Somenté em meados do século XVIII é que os tratados de limites entre as prin pais poténcias européias comegam a fazer referéncia a estu- dos de topografia e levantamentos de engenheiros para a demarcagio de limites, porém sem grande preocupaco com acestabilidade das fronteiras. A demarcagdo da maior parte dos 2as

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