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‘mut origin NOTA SOBRE 0 AUTOR ‘René Zazzo 6 Professor de Paicologia Genética na Universidade de Nanterre. Desde 1062, aucedeu a Wallon na Diteogio do Lnboratério de Psicologia da Crianga da Eacola Pritia de Altos Estudos de Paris ‘Antigo assistente de Wallon e discipolo de Arnold Gesell, com (quem trubalhow nos Extados Unidos e de cujes obras fol Introdutor em Prange, Zazz0 6 por sua vez um psiedlogo da Inflneia com individualdade prOpris. Dos numerosos livros © trtigos que publica, destacamn-ae Devenir Zntelligence et Quo- font d’Ages (1941), Payoholopues et Paycholopies @ Amérique (4949), Les umeaus, le couple et la porsonno (3062), Conduites fet oonscionce (1962), Manuel de Peramon payohologique de Ponfant (1962), Travté de Prychologic de PEnfant (1980) © Les Débltés (1969), Achilles Delari Junior HENRI WALLON PSICQLOGIA eMARXISMO esteto Secif = s Adbiles Dela Junir RENE ZAZZO HENRI WALLON PSICOLOGIA eMARXISMO Prothcio de JOAQUIM. BAIRAKO Professor ne. S. P. A. @ Director do Centro de Orientaglo @ Observeglo Medico-Pedog6siea (M.A. S.) Posticio de JEAN PIAGET doras & Wands, Pigron e Michotte» Diret sobretudo que se sente entre nds a falta de personalidadcs como Wallon, onde © cientita se liga atenta © militantemente ao politico, contri- Duindo para as grandes trensformagsee. Como nos dis Zaz «Ba cibucia que faz 0 marsiemo ¢ ndo 9 marsismo que fas a oiéncias Da resisténoia a Ubertapio, da longa noite da destruigao dda razio —0 fasciomo— a alvorada de tibertagdo, Wallon {foi exemplar, congregano, apesar de tudo e de todos, amigos © colaboradores que «2 sua lus» flzeram progredir as ciéncias {do Homem ¢ contribusram, na medida do possvel, para wma sociedade mais justa, Da libertagio € dessa colaboragio, recordo a Reforma Lan- ‘gevin-Wallon, que ainda hoje a Franca no ousou por russes boing pér em pratica na sua totalidade. Vejamas em seguida um outro capitulo, que escalhemos or nos parecer ser um resumo da obra de Wallon, feito em fntengio dos peiodlogos amerioanoy que praticamente 0 des- conhecom. # 0 capitulo «Quem & Henri Wallon, Como nos ‘diz Zaz20, Wallon é conhecido por toda a parte, mas existe «tum ittimo wniverso para conguistar, 0 do mundo anglo-eass- nico>, Talves que esse desconhecimento se dova & compleridade 4a obra, quo propoe wma via original para explicago do com- portamento, Bm 1985, com a publicagdo de L’Enfant Turbulent, Wallon prope oquilo que mais tarde se chamaré uma eneyropsicol- gins. Br 1925 ndo tem ainda a possibilidade de erigir tal idm ‘ia, que 8 certos aspectos aprofunda por volta dos anos qua- renta, em Les Origines du Caractire ches Enfant. ‘Na primeira obra ele tenta mostrar (descrever) + explicar como 0 sistoma nervoso se vi hicrarquizando, De comporta- tmontos simples (actos) ele vai diferenciando cada vez mais 8 PREFACIO A EDICAO PORTUGUESA, [Nao nos 6 possivel por agora, fazer wma reflexdo aprofen- dada acerca lo trabatho de René Zasz0, Vida e Obra de Henri Wallon, pequeno loro que é, aids, wma bela introdugdo ao pon- samento de Wallon feito pelo seu discipulo © continuador, € que noutra altura aprofunutaret como merooe. Por agora, dada ‘2 ‘ompossbildade de wm tal estudo, eupiro ao leitor am possi vel modo de abordar a presente obra. Comegarei por recordar reeumidamente 0 capitulo «Retrato e Henri Wallon» no qual Zazz0 noe fala do homer, Wallon foi reaimente um mestre que permitiu que algo se organizasse & sua volta, sobretudo o trabalho de vérias pessons, gragas i interligagto do «afectiva> e do «cientifico. B essa presonga fisica, pecaligicne cientifion que Zaazo abora com afecto ¢ admiracio. Assim fot possvel que nascesse yma. escola, uma comic nidade de trabatho ¢ nd ua «seta» ou ceapelas, Dai a impor tincia de certas personalidades que sirvam de modelo a outras ‘para 0 progresso do conhceimento, Silvio Lima dizia mim cor texto aprasimado: «As nossas Universidade ¢ Institutes, tim enfermado da caréncia de poderoons individualidades cria- t (aéncse dos tipos motores © peicomotores) até a génese do _peiquico (ponsamento), Por outras palavras, do comportamento ‘motor ds eatruturas mais voluidas, cognitioas ou eategoriais, 4 conduta se vai organizando. Mas & através de wma nogdo- sohave, a emogdo, que 40 eetabelece a relagdo entre biovigico, social ¢ psico¥igico, Primeiramente ligada ao ténus, seu suport, 1 emopio diferenia-se através da socilizagio (0 papel do so clus ou de outrem na edificagto do psiqusmo), para cxlminar ‘naguilo que 8 poderd, improplamente tale, chamar perso Assim. se estabclece um sistema oguilibrado'e articwado ‘entre aspectos neurobioligicos, aspectes socio-afectivos © as- pectos cognitivos soa newropsicologia, hoje tanto om voga sobretudo nos tatores amerioaros « souiétioos, Wallon foi o primeiro a re ‘conhocé-la endora com 0 nome de Peicobalogia, lids, 0 Labo: ratdrio Wallon, nome que tomou opée a sua morte ocorrida fm 1962, chamaee «Laboratirio de Psicobiologia da crianga>, sume programatico, ¢elucdativo do que vines dizendo, Recor. omos finatmente que no prajecto walloniano de psicobiotogia, fextd tembém para além da fundagdo neurobiolégion © venética (10 sentido do desenvolvimento) uma fundamentagtio patolé- gica. Basta recordar «re 08 tipos psicomotores estdo intima: ‘mente relacionados com os sindromas do ineufiiéncia, poico- smotora Vamos terminar este breve preféciocitando Zeszo; +A. mo- trividade ¢ a consciéncia sto o8 dois pélos entre os quuis se poderia clasifear as virias concopeies de psicologia. A dia- lectica de Wallon consiste om war aguilo que & primeira vista noe surge como nio conctivel: através da sua teoria da emo- i si pee amo entre a mati ¢ erent, tenta a passagom ontre 0 orgdnico¢ 0 peace Bis uma maito brove reflesdo sobre uma obra gigantesca, ‘que parece cuda ves mais actual, dados o8 progressos simul: tdneos dos estudos nexrobiolégicos © da psicologia. Wallon & 0 praoursor de wma nova oidncia, éersa a adver- téncia de Zasee, na presonts obra. Margo de 1978, a Yoaguiam BaIRRAO 0 possivel. Digo o que cle me dé ¢ ux perspectivas que me abre ‘noe campos da psicologia,esperando despertar o apetite do Tei tor e que este desoubra nas obras de Wallon wma outra coi, 0s alimentos de que precisa. Estes estogos também sdo mais conveniontes do que wma exposigdo diddction das monoiras de pensar e de escrever gré= srias de Wallon. Nao porque ele proprio proceda por ‘Mas Wallon considera que as belae declaragbes no reso!- vom nada: a ciénoia no ae dedus do marsismo, 6 0 marzivmo gue dedus 08 sexs principios de argo a partir da ciéncia em Jormacio, a partir das acgdes empreendidas pelo homer. Wal- lon assim o ezprime, claramente, om conclusto da frase ucima citada: Fazer estas constataries no é dar uma solupdo. tiem mesmo é dar uo programa preciso de investigagdo; & ape- ‘nas indicar wma direcgo>. Tanto pela sua abertura em relagio & experiencia inéaita dias coisas, como pela firmeza do seu método, Wallon foo pri ‘cro iuoninor lus do verdadero marsiemo o¥ caminhos da tsicologla; « prcologia, « mais dificil das eine, pois que é nela que as Gussee da sudjectvidade encontram 0 sew itimo refigio, pela insatsfordo e pela impaciéncia que noe faz expe- ‘imentar, 6 propia a.totos 08 mistiismos, a today as impos- ras ‘Wallon & a introdugdo © a iustrapia do método marsista fem matéria de peicoloia 0 leitor encontrard em posfécio uma homenagem de Jean Piaget a Henri Wallon. Esto texto, publicado om 1962, alguns ‘meses antes da morte de Wallon, & de um intoresse excepeional: Piaget declara com muita clareza que aotba finalmente de com- preender o contributo fundamental de Wallon aaa teoria da Fepresentagto © que escape as suas ‘andlises, Empe- suha-se entdo om demoustrar que, pelo menos neste arpecto, 0s ‘obras de ambos ado complementares ¢ no adversas. Agradecemos a Jean Piaget por noe ter permitido repro- ciusir esta homenagem que Wallon recebew como wna stim palavra de amisade © de pax Outworo de 1975. RENE 74220 6 ORIGENS E ACTUALIDADE DO PENSAMENTO DE HENRI WALLON Experimento spre ucts eile a0 falar de Wallon quando so tna ome eta nit de expt, de eon 1 emenca do oa Founmento, A min loge friariase Coma sun obra, ama long claboragio com tl 0 fale dh im ter evita nia vst ten par the soeder te cvoio do ov abocery io me train tree mals ‘at Mato pelo contro, Eston por Gonais commune do ‘ean ht do Inaba naga do Wallon, de deecnertaste te pom econ ua Coa nets o Pet, pra tor 8 oer ter de que no trie dag od uno de en, xen store ave se ptem amplifier sc ae fie demasiado [routcadon «a por tee prostate un srr J, Sree pemento um slstem, gue as eunaaprentes com- Tlesider no pena de un rode fando, dam sortie ‘verbal, Bm Wallon, as complexidades, as asperezas, na contra-! , ee Por conseguinte,ndo hi, em Wallon, uma doutrina, nfo bi sistema —que para o letor & sempre, mais ou menos, um sl tema de seguranga e para o autor uma esperanga de gléct 0 Wallon uma maneira de sbordar ae coins, uma atitade, um imétodo— ¢ 0 mnia diffi, o mals incfmado de toa Por um Indo, propdese como objectivo abarear a realidade tal como ela & (complendade, contradisio, srracionelidade), ‘viendo a assimlagio empobrecedor, deformante, da nossa razio cssica, mas, por outro lad, este métodefuniamenta-se a conviegio de que esta eitacia nfo & nem pole er um de Galgue de realdade, Quanto & atitude qu consists pare o picsiogo em se con- fundir com o seu sujlto, Wallon dentnca-a nfo apenas como toma demisséo clenifca mas também como ma Hho, + de todo 0 misticisme. Rejeta com vigor quase idéntico as preten es dou certo objectivimo, Ciénela objctiva, desert tanto fem mutévia de pslologia como outa qualquer, mas ea obje {vida oe define por ma reorgaizagio conta da razio om contacto com as coisas, Assim, Wallon nko & apenas um pelos Jogo da cranes. O sen projeta € uma eicia do home. ‘Se conagrou a aua obra ao esto da eriang, fo sem a- ‘ide porque tnfincia 0 apaixonava foi também porque via ‘a andlive do desenvolvimento, na observagio de uma géneee, ‘uma realiade em vis de e fazer, e melhor manera de pl | caro seu método, te método, esta dinléctia entre rao e realilade, ex- contramo-la praticada, of plo enon afimads, em muitos cutros autores. Em Piaget, por exerplo, Mas Piaget imi. 0 seu empreendimento ap stun da o que fi nko & ‘pouco, Wallon quer absrear a petaonalidade total: por coneo- fuinte, a raxio deverd aplicarse a uma matéria que 6 pelo ‘menos na experiaca, profundamente heterogénea, (0 que acabo de vos dizer sobre a obra de Wallon, ands que ‘© mesma se defina nio por uma doutrina, mas por ima form: nova de abordar as colsas da peieologia, nfo passe, bem o el, do uma afirmagio de ordem muito geral 18 ‘A tradigéo liberal e republicana estava fortemente onrai- zada na familia ¢ Henri Wallon, o nosso Henri Wallon, passou ‘oda & aua inflneia num clima de interesse apaixonada pelns ‘A emogio desta apéetrofe aos leeaie, que & tembésn um compromiaso para si mesmo, vem dos eonfins da sua infineia, do meio generoso em que viveu, e voltaremos a encontri-la ‘muito mais tarde na interrogagdo que ae enoontra no carne dt ua obra cientifiea, © que vai transformar as perpectivas da Psicologia; Qual & a natureza das relagSes que nos unem 808 Ctros homens’? Com este discurso, o primero texto que conhecemes de Wallon, estamos em 1008, Henri Wallon tem vinte © quatro nos. Fez a Escola Normal Superior e & professor efectivo de flosofia desde hi um ano. Mas a sua aprendizagem ainda nio {erminoy, Falimos do seu meio familar; para compreender a sua obra, previsamos também de dizer algumaa palavras acerca dda sun formacio intelectual. Op estudos de medina a que 20 'anga depois da fllosofia, a fim de se tornar neuropeiquiatra © Palcblogo, constituem una opeo preciaa em eircunstincins IistOrieas bem determined, Hojo em dia, em Franca, 6 frequenteo paiquiatra parecer- sna divoreado do picdlogo de profi, e iso acontece sobce ‘do quando este peigulatra despreza a soma, 20 isola ¢a neurologia e opde uma filosofia do vivido as perspectivas objec tivas da eignea, ‘Na époea de Wallon, trata-se muito pelo contririo de fun damentar a psiologia na eiéneia do corpo, de romper com & retafisiea a partir do conhecimento do fini, A grande trad\- (lo médico-tiloséfica da paloologia francesa, inaugurada. por Perze Janet, ilstrada por Georges Damas, por Charles B.on- 1el, por Henri Wallon, 620 ensino militants de Théodule Ribot ‘que deve a sua origem e os seus prinepios. B Ribot quem acon- elha 0g seus alunos mais brilhantes a fazerem estudos de med ‘ina para edificar a peeologi, ra, & obra de Ribot & como que a encruzithada de todos co entinamentos, de todas as osperangas de uma ciéneia em rupture total com 8 tradiglo metafisica: Ribot dia conheert 4 galeotises desenvoivide na Alemanha e a psleologia ingles, fomnase 0 arauto das ideias darwinianas na sua obra sobre Lihérédits peychologique, principalmente e sobretudo transpb ‘pera o plano da paoologia, os prineipios de Claude Bernard que feabava de lovantar a interdigio do positivism, de restaurar 0 valor da razio pela andlise da nogio de facto, de abolir a2 frontairas entre 0 patolégico eo fisiol6gico. As nogOes genia's dle Claude Bernard nio foram, gom dvida, perfeitamente com preendides pelos seus contemporincos. # Ribot, tal como Taine Emilio Zola nos seus dominios respoctives,equlvocou-se. Ms * ‘a nova orientagéo da época, quer se trate da literatura ou da Drleologia, &testemunho de una surpreendente fascinacio pelo haturalismo ¢ pela fisiologia onde Claude Bernard, do mesmo modo que Darvin, desempenhow um eonsidarével papel. «Assim, ‘Wallon situa-ee nesta corrente e neste combate em que cada ur ‘ua maneira se esforeard por defini o estatuto cientifin © a tspecifcidade de uma eitneia do homem, ao passo que ae desen- volver em paralelo, com sibios como Bourdon, Binet, Heari ‘Pigron, a corrente paramente experimentalist também ela sob 0 impulso de Ribot. e todos estes paioblogos-médicos que citi, ¢ que tive = sorte de ter como professores — Dumas, Janet, Blondel — Henri Wallon foi, certamente, o mais médico de todos na soa pratica quotidian, de todos eles fol quem eonsagron mais aten- lo, mais reflexdo & neurologia, quem dedicou mais importancia fo corpo, como base material do psiquismo, de forma que fo! considerado durante longo tempo —e ji veremos que Isto ers tum profunde erro — como o paladine do organieismo. © curso dos seus estudos — Escola Naval Superior, facul- dade de Medicina —foithe mais ox menos imposto por uma © termo ‘que Ihe sobrevivers. Mas o individuo nko & definivel,rigo-oaa- 2 ‘mente, nem por um nem pela outra, Néo & redutivel nem a utn nem a outra, £ um centro de sctividade no qual s¢ reali 4 snteracgo entre ambos, # bem conhecida esta frase de Wallon, tio frequentemente citada: «Jamais pude dssociaro bioligio do socal, nao pore os ereia redutivels um ao outro, mas porque me parecem, no homem, to estreitamente eomplementares desde o naseimento due & impossivel encarar a vida psiquca de outro modo que seja sob a forma das suas relagdes reciprocass ‘Mas como podem ser tio estreitamente complementares? ‘estaremos a voltar & definigéo tao facticia de hermosin? Wallon faz agul intervir uma idoia j6 formulada por Baldwin, Por Picrre Janet, mas que aprofunda como neuhum outro pal logo o fizera antes dele: 0 soval, ou, tials precisamente, © ecessidade de outrem, insereve-se no orginico. ‘A anilise do movimento mostra-nos que tos primeirs tem os da vida os gestos so acima de tudo expressées, portanto, ‘ras para outro, gue as pineirasemovies —~ cnn ais, alts, da expresso moiora — aio uma linguagem. B da natureza da emocio, 6 da naturesa do organism hu- ‘sano, ser social, Bata socabildade nio & adquirida no deeurso 4a Vida individual. Bla mesma é um facto biologieo, uma contra. Partida do desnudamento inllal da erianca ‘a0 nascer, ume ‘condigéo absolute da sua sobrevivéneia e do seu desenvolvi- ‘mento, ® uma harmonia por earéneia, por complementaridade ~ a que a flogénese, a hietria das esptces, condusiu (o que no signifi que a erianga seja maleivel e tibutivel & von tde) — a maturago do sistema nervoso impée, por influénela do meio, limites a uma eronologia — 0 que no significa we {todas as eriangas que vivem num mesmo melo serdo modeladas ‘pum mesmo molde — eada erianga tem a sua tipologia @ 0 seu estilo — 0 que nfo significa que nfo possam surgir conflitos ‘om outros individuos, com grupos, com a sociedad: o eu afi. iarse-é nestes confllios © nestas oposigies. o fazem a anise ideoligiea ou estatistica. & proviso partir do ‘que 6 primério na série eronolégica das transformagies, em re- sumo, € preciso estudar a infancia. Nao hé divida de que @ perspectiva genétiea & a inica que nos pode permitiraproendar ‘como & que 0 orginico ve torna psiqulsmo. B sabido que éa observacio da erianga da mais tenra wade, ios eeus movimentos ¢ das suas emogées que conduziu Wallon {sun descoborta fundamental. O papel que destinoy & toniel- ade, & fungio postural na emogio ena representagio esclarece nos, sem divide pela primeira vez, sobre a transformacio do {siokdgico em psiquico. A emogio & um facto fsioligico nas ‘suas componentes humorais e motoras ¢ & também um eoropor- lamento social nas suag fungées areaicas de adaptacdo. A nés, ‘adultes, aparece-noa como uma desordem, uma eonfusko; 10 ‘rianga, 6 um factor de ongenizagio, um meio de eomunieacic, ‘Apareee-noa como uma obnubllagio, pode ser para a orlanea ‘sun primeiro modo conereto © pragmitico de compreensio> 5 paradoxes da emogio derivam do facto da actividade toniea {49 organisma conoernir tanto ao jogo das atitudes visiveis (ex Fressbes do corpo e do rosto) como ia fungbes viscersis. De forma que por intermédio destas atitudea sonaivels ge estabe- lece um lago entre as mais profundas sensbilidades da crianca © 09 seus contactos com outrem; de forma que, pela alterain- clas de Comunhio e de oposido, se esbocam a conseiénca des, 8 representagio, Esta teoria da emogio & elaborada pela obser. vagdo los primeiros meses de vida e 36 podia ser obra de um biologist. B muito menos conecido 0 que Wallon dime acerca de tnteligdncia discursiva, O livro no qual Wallon analisou ag ori irena do pensamento é, contudo, o mais rico, ou, pelo menos, mais elaborado de toda ® aun obra. O Interease suplementae ‘qu este livro nos ofereceé o de comparar, num mesmo dominio, © método de Wallon com 0 de Piaget, Vou dizer algumas paln- ‘rasa atx reepeito para vos incitar a relé-1o ou a Ibo, Isto significa que a oposigio indieiduo-sociedade nio & de cerdem metafisiea, que & de ordem histéricae, por conseguint, perpetuamente modifievel, ultrapassivel Tato significa, mais directamente no que nos respeita. « 1a, paiedlogos, que a solo, a separagha ndo se encontrs na natureza do homem. A imagem tradicional do organismo > a nogio de individuo trazem consigo a idela de um isolamento neil. E 0 noato destino seria ent&o ir &proura da nose alm ferrar em buses de outrem. Dai toda uma filosofia de desespe xanga. Walon inveriou esta perspectiva: nds nfo nascemos #2- parados, alo nascemoa soitirios, Vivemos 08 nossos primoires tempos em eatreit unido com outrem, em simbiose, am mesmo 6 sabermos @ tanto mis profundamente. B o nosso eu formou -*9, foi talhdo neste tecldo primitivo no qual se desenhou ao ‘mesmo tempo una imagem complementar, «esse fantasma de foutrem que eada um traz em eis para toda a vida, © que nos serve de intermediiri, de mediagio com ay outros reais, eom 4 socledade tal como ela 6 ‘A antitese orginico-poiquico & luminada & luz do que die- feomes sobre a antitese individuosocledade. Sobre esta, aore senta a vantagem de uma argumentagio baseada numa’ sbsr- ‘ago mais directa, (0 tarmo de passogom que Wallon emproga pode prestar-so 4 confusdes, pode deixar persistir a iso de duas realidades listintas, de duas entidades, ou como se se tratasse de pasar de uma a outra regiéo, A bem dizer, & de promogéo, de cons trugho, de génese que Wallon quer falar: como & que o movi ‘mento, inicialmonte pura agitagio, como 6 que os gritos e 0s chores, puras descargas motriacs se tornam pslquicas (psiquico tno sentido de ligagio signifieativa an meio ambiente), eo & aque a representagio emerge da emogio e do gesto, eto & que (© aentimento do ea se destaca da simbioge {nicial? Bem entendido, para descobrir como se eonstrol o pi quismo, nfo convém recorrer a conjuntos jé consituidos como 2 alo &0 méteo quem fal, No se rata de analinr ns comlgber orgies ou sda do eomportamento. Wallon Nise plano de dscrcto plcligien Ar evancan que ‘Samina tam Be eno ante ss. Sek nto qe opeaamesto Sligo ho tare? So, Walon fn, noua ras Go tal icin dan aftugiva, aquela ue 2 eogola completamente nas eesti que wisn nos entadce que produz Nee ir, project de Wallon connie en estar ra wactividede ue ce dscorres, as orgens do pensanentodscursiv. Na idade das cocoate anon eneontramonae no pedo que Piaget designs pela expresso da operates cocretas. nde Piaget fetch do gin, Wallon fr obra 4 pelo. Page interes pla formagio da rao lies. Wallon inte esse deforma muito tain ampla elo penmmento. B digo {No som eabelecr valor atv ete a duns obras, Tats fe dun propectias de dls oto de wnt ferentes By al, Page fa reflec as clangas sobre o materia, no pao ave Wallon manta obervagho nm plano verbal ‘ho multiper os eilogoe om a eran, a0 reloma os swan Sc ao tagline or xr ah ee ‘S'tae malas rgnfcngs, Wallon tra hs do dl 08 0be- ot cen cee en ee er tieigee se enbarage o seu pentamento:contradgbe ente 8 Craigs nun experiencia, cotradichs ene formalism Sn ngungen e-afuder doe dadon seats est mesnos ‘Satrtio, entre real e mn rpresetagh. A cberracho ‘Sharsobrem srlang prologue ni plop eral do ete ‘mento, do pentmesto a tal como ae pole formalin {lato de hin sas tal como Yerdndeivament ve deen. 1S 'Somrealgdes dove ser utapaseadaa para gus em els Nesuivn de difuade 0 pnmament concorde om o rel ‘pon atm qu jel desaparege totalmente um dnfeamento $e tugum nolo ewencia dis Walon, ae deve nla 0 pent mots novos cforge, 4 noas satay 29 Achilles Delari Junior 4, talves, nesta investigagto sobre as origens do pensa- ‘mento que se doscobre melhor esse eaforga ecm dispositives ‘experimentais, sem o aparelho nocional do médieo, que se dee= ‘cobre melhor a primitiva voeagéo de Wallon, aun arte de aur citar, de escutar um dito, «sua curiosidade e a sua simpatia, cenfim, o jogo por vezes atordoante das suas hipétoses, da sua ‘maginagho ‘Wallon disse um dia que os saltos do imagine aio indie. [pensiveis ao peicdlogo, como, alii, 20 matemtico e ao fsion ‘cAquele que se profbe Imaginar nio descobre nada, declarava, Timite-se a acrescentar algumte migalhas de erva a0 relvador 6 cconluia: eImaginar & o primeiro dever, 0 segundo & verificar & legitimidade das suas imaginagdes pela comperacio rigoresa com o objecto em questo» ergunto a mim mesmo ae néo resiirk ai, nessa dupla exe aéncia de rigor e de risco, de imaginagio e de verifiacio, uma ‘las razdes do isolamento de Wallon. Ela nfo pode ver adoptado pela familia doa verificadores sem imaginagio, nem pela fam in dos imaginativos que salvaguardam og bonefiios da lay nado, ejeltando toda. a verifieagio, Espero que estes comentérios voo ajudem a comprecnaer fem que consiste a atitude walloniana, Espero que possim reco: hever em que medida sf esquemiticos © pobrea os meus ‘omentérios. Para terminar, gostaria de saientar certosaspec- tos do pensamonto de Wallon através doa juizos que formula sobre alguns dos seus contemportineos ‘Em primeiro lugar, sobre Bergson, que foi seu professo: na scola Normal, mas do qual nunca gostou, Bergaon fol 9 fil sofo do Impulso vital, da duragio, Wallon eensura a Bergson ‘wr mistifieado a nogio de duragio. Com Bergson, tar dae suas expeculngées, di ele, sio preisamente essas nosde= ‘fe devir eriador e de participagio em conjuntos onde o homem Gieveria encontrar as suas razées de existir. Despojadas des ‘seus impulsos misticos, & exactamente para elas que somes vientados pelas necesidades da investigacko cientifica. Mas ‘nde a metafisiea, apaixonada pelo absolute e pela imobiliade, pie ser © consciéncia, a ciénca essencialmente relativista es. forga-se por tecer novas relagdes entre os sistemas pelos quais se reparte a noasa experincia das eolsas ¢ da vida, por fundl- og eada vex mais uns nos outros e, consoante o vend a exigir festa obra de unificagdo pelo conhecimento, pr reformar ou abo lir a distingSes ou categoria intelectuais do passado que a al 0 poderiam opor ‘A roacedo a respeito de Georges Dumas, sou amigo, mals vvelho do que ele, & de ordem completamente diferente. G, Dumas ‘pada tem de mistco, Wallon censura-he que pratique 0 métod clético, Que se esforce por concillar todas as divergéncias ra Aiversidade dos autores, por apagar as contradigies ma deacri= io dos factos, Wallon estabelece ume ligagio entre esta ati- {ude intelectual de Dumas e a sua sociabilidade, Havia em Pumas, pretende Wallon, como que uma necessidade de reco: hecer em outrem todas as conformidades possives. O tempe- st Hi também, bem entondido, 0 Iaboratério que ele criou @ ‘onde trabalhe actualmente uma vintena de pessoas, metade das ‘guais 0 nko conheceram. Nao pretendo afirmar que eave labo: ‘atério constitua uma eseola wallonians no sentido em que Ge- ‘obra constitul uma escola piagetiana. Nio hi sistema, néo hi ‘escola. E, we nés The somos fie, & de forma bem diferente do aque a de fidelidade a uma ortodoria, a que ele tinka horror. Wallon nfo pertence a ninguém, ‘Tal como bom acentuci, Wallon é uma mancira de sbordar ‘as colsas. B tamblm, bem entendio, a8 deseobertaa que fez ¢ (que lustram 2 focundidade dosta atitude. E estas descobertas pertencem doravente ao patriménio da paicologia. Mas ele tink ‘conseiéneis, e dise-o com excessive modéatia, de que & revi= ‘So que empreendera mal comecara; a sua amibigéo consstia apenas em indlear uma direegho. Ser nesen direeqlo que se orienta a palclogia de hoje? Verifca-se, desde hi certo tempo, uma resbilitagho do corpo. O corpo volta a estar nn moda. Depols do inconsciente, depois do absoluto da relagio com outrem, eis © corpo, com as & ‘rofundas sensibilidades, as suas linguagens anteriores & pala vyra.e A razto, Tsso compraz-me e inguleta me, Temo que este corpo que nos serve multo quente,seja um corpo mistico, um novo absoluto em fungio do qual tudo se explica. Aguardemos. e forma muito mais séria, parecesme que a direcgio walloniana 6 deseoberta, paradoxalmente, nos paises de lingua Inglesa que ignoraram quase totalmente a obra de Wallon. ‘Aludo aqui & prolferagio de trabalhos a que se sssiste desde hd dex anos em Inglaterra, nos Estados Unidos, ¢ que ‘eondusiu & teoria da vineulagdo (attachment). s autores, psicanalistas na sua maior, mas afastadoa «4a metapalcologia freudiana, evidenciaram que'a vinculagdo da crianga 4 mie nfo 6 o resultado de uma aprendizagem, que essa vineulagio resulta de uma mecessidede biclégica fundamental Fa Eales autores eaforgam-se entio por anslisar com extrema fi- nara todos o8 determinantes, todos on processox que esto em Jogo na afeigio, Quando ae sabe que © Homem que mais contr ‘balu para desencadear este movimento de pesqulsas e este ‘subversio da psicandliceclissica é René Spitz, e que René Spitz fe inapirou ma obra. de Wallon, na sua teoria da emocio, 20 mesmo tempo que nas teorias freutlanas, somos levados a per- ‘guntarnos se nfo ge tratara de um inesperado renaseinento(). Tniciador desconhecldo ou precursor, Wallon eugeriu muito mals, ereio, de que aquilo que nos oferece actualmento tooria da afestividade, Desejo que os autores anglo-saxdes, sensibilzados pelas suns proprias peaguisas, descubram finalmente Wallon © Dbeneficiem das sugestes que podem encontrar na sua obra E neste sentide que me empenko actualmente. ‘Num dos seus Gltimos textos, quando a doenga j& 0 pren~ era & sua poltrona, Wallon falou da morte e da sobrevivdnea. Bate texto & como que um eco do discurso que pronuneiou no inicio da sun earreira. Dissera aoa seus jovens aluncs: , que Ihes explicasse o eu, curso, Wallon, a quom tranamiti este podido, opts-se com vveeméncia. Nio pode haver mediagio entre eles @ eu, disseme, fem resumo, no pode haver tradugio para ume linguagem sclaras daguilo que eu digo. Tal tradugio seria um regresso & ‘légieas que me empenho em denunciar. ‘Bmbora nfo me sinta hoje, mais do que hé trinta anos, no ireto de ser seu intérprete, interrogo-me sobre a forma pola ‘qual as suas respostas se distinguem das de Preud e sobre a5 rales de uma audiénca ainda tio restrita, eomparada com a popularidade da. psicanilise, Razies bem evidentes do éxito de Freud: o eseindalo do sexo, contributo de uma psicoterapia, uma ideologia & medida das contestagées do nosso tempo, o rigor de um sistema que tem tums reepesta para tudo com apenas o minimo necessirio de ‘margem de sombra, de forma que os impulso misticos ai encon- ‘trem allmento, tanto como as necessidades de racionalidade. ‘Mais profundamente crio, a diference de eudiéncia entre Wallon e Freud deriva de uma diferenga de interprtatividade. Do ponto de vista da ranfo cldssica, 0 eschndalo walloniano nfo 7 4 menor que o escindalo freudiano, mas 6 muito menos facl- ‘mente susceptivel de ser traduzido ou trafdo em linguagem «clara, e nfo se identifica, evidentemente, com um escindalo e shoe vida e costumes», Hii em Freud o gosto pelo sistema, a tendéncia para expe- clalizar as pegas do aparelho psicobioligico — com uma pes quisa de nogéea ede imagens, alii, sempre inacabada deforma gue 6 diel saber quais sio para ele a parte do real e a das ‘etiforas, Um tal sistema & sem divida dinimico, sem divide que a8 contradigées irvedutivela & razto clissica subsistem, ‘a8 of confltos desenvolvem-se entre sistemas elaramente defi. nldos, faclmente imaginavela. Em Wallon, nada existe de comparivel aot tépicos de ‘Froud, nenhum lugar onde a lmaginagio do leitor possn dea- ‘cansar, nenhuma armsdura em que ele poisa buscar 0 apoio. Entre o corpo e a psique, nenbuma insténcla que sirva de me- dlador, meamo a titulo de metéfora, Em Wallon, a dindmica ‘encontra-se como que no estado pure. Toda a sua anilise incide sobre processos. Para tentar explcar como 0 orginico se tora psigulsmo, ou como é o seu substrato, Wallon, com efelto, parte de quatro nogSes para ele estreitamente solidiries: a emocio, a motrieidade, a imltagio, o Soeius, Dove comegar-se por por em divida a logics unilinear dos processoa e das fungies. Com frequéncia, « contradicéo centre as doutrines provem de facto de cada uma dolas 96 ver tum aspeeto das coisas. A contradigéo deve ser procurada na répria realidade, ‘Assim, pondo de parte a nogio de soeius (a qual, aliés, #5 tantiamente aparecerd de forma expliita na obra escrita de Wallon), todos os provessos psicobiolégicos fundamentals aio sbordados a partir de uma busce da sua bipolaridade, da sua ‘ambivaléneia funcional, E 6 quando atace o problema da emo 38 ‘magio uma real contradigio das claus, Mas, como é 0 eso aqui, 4 aproximagio & demasiado esquemétien, demasiado grosetra para fornecer algo mais do que uma orlentagéo goral. Wallon retoma enti o eonjunto dos dados fisoldgicos, decenvalve,e fleando, eada ume das duas eoncopsoes, depois fé-las encon- ‘rar-se, Entre os dois principio expliativos, entre a aetividade cortical ¢ a8 reactSea vegetativas, di ele, abresse tum arco de ‘asiado amplo. Lembra que existam no sistema érebro-epinal centros sobrepostos, mais ou menos submetidos ao eértex, mas que fornceem tambim encrgia e coordenaglo & vide de relagho; que, por outro lado, as manifestagdes viscerais aupéem uma organizagio de uma grande complexidade, cujo papel 6 dovol- vido ao sistema auténomo; finalmente, qué estes dois sistemas no sto totalmente independentes um do outro. ‘A anilise assim condusida rovele,nio uma opocigho radical, ‘mas uma bipolaridade & qual Wallon volta repetidas veaes, «A ‘emogio, afirma, move-se entre duas espéeles de exntros nervo= ‘209, of da vida vegetativa no eérebro central ¢ aqueles que cor- respondem & parte frontal dos hemistérios eerebrais... Pode, feonsoante as circunstincins, aproximar-se mais de um ou de futro polo, mas o seu antagonismo também Ihe pode der. um earieter equivoeo» () ‘Convém nfo eaquecer esta bipolaridadefisioégiea da emo- ‘fo para compreender 0 que sio as contradigdese as diferencia Gos funsionais do desonvolvimento, A emogio seré a matéria doe sentimentos electives, mas & também, e em primeiro lugar, sensibilidade sinertica, econtigio, confusio. Partieuarmente favorével ao estabelecinento de refleros condicionados, con- uz, numa idade em que 6 impossivel qualquer deliberagto, A formagio de complexos irvedutivels a qualquer racielnio, ‘Maa é também um prelidio da representacto, prods em Bnfnce, 1,300, 2 : : 0 ‘fo que Wallon logo ce eoloca no cerne das contradiges, define 0 set métod dialéctico, afirma o seu projecto revolucionéri ‘A emopdo revestese na obra de Wallon de uma importéncia (sonio de uma fungio) comparivel & do Ubido na obra de Freud, nth em primeiro lugar, eronologicamente, na sua elaboragho tedriea,eaté também em primeiro lugar na génese pelcobiolgien do ser humano, A crianga nasce para a vida psiquica pela emo: flo. B pela emogdo que ae aprenite melhor e indistinego primi tiva do orgnieo e do paiquico « em seguida a paasager de um a0 outro, Bla é eaguilo que solda o individuo & vida social pelo ‘que ai pode haver de mais fundamental na sua vide biolgiea>(). ‘Da sua tose de 1025 (+) aos seus éltimes artigos, durante mais de trinta anos, Wallon aprofunderd a sua antllse da emo- so, nas suas condigéesfisioldgicas, como condigio do caricter © da representagio, como prelidio da linguagem, tanto mas ‘origena do pensaimento humano como na ontogénese, O cardcter ‘equivoco da emogio que a fez considerar, segundo as teorlas, ‘ora como uma actividade Gil ora como uma reaegio de desor- dem, deriva em primeiro lugar da diversidade dos contros ner- ‘yoses de que deponde, # na sua obra de 1925 que Wallon inau ura o método repctidaa veses demonstrado mais tarde. Expde, para opd-las uma & ovtra, as teses de Lapioque e de Cannon Lapieque considera apenas as manifostagSes motoras da emo- ‘eo e, por conseguinte, considera 0 eSrtex cerebral como. ponto dd partida desta dtima. Cannon parte des manifestagbes vice ‘ig econverte assim a emogio numa actividade puramente vege tativa e bioguimica, Bvidentemente, nio basta operar a sintese de duas concepoes opostas para se chogar & verdade e, sobre- tudo, para apreender a reaidade nos seus intimoa meeanismos. ( desacordo das doutrinas pode exprimir numa primeira sproxi= reproguiés th Snfance, 13068 tO Een turbot, Ato, 380, 39 No entanto, a funclo iniclal da emogdo & a comunhio com outrem, Com efeito, & (*) Deste modo, as influgnolas afectivas do melo tm uma scgio decisiva sobre a eriansa. O que nio significa, evidente- mente, que eriem tudo a partir do nada. Mas infiltram, ear regam de significado, & medida que aparceem, os movimentos, a reacgées (o sorriso, por exemplo) em poténcia na maturacto das extruras nervoses, [Naa primeiras semanas do vide no hi, verdadeiramente, ‘emogio, no sentido em que Wallon & eatende. A motivacio psi col6giea do grito ao nascer, pressentimento ou lamento, 6 pura rente mitica, Neste estidio elementar nio hi distingto no es. ‘paemo entre ainal causa, mals especialmente entre movimento fe sensbilidade (*). © para sm desta indiferenciagéo primitive, perfodo de pura impulsividade, que, por maturagio, o grito s© ‘ferencla como meto de exprestio e xe tora, com ag reacgdes ‘do meto e gragas elas, meio de comunicacio, O social eaptou 0 fisiolégieo para tomniclo psiquleo Contudo, edesde que « mimica se torna linguagem ¢ con- vengio, multiplien 02 matizes, as cumplicidades tctas, 0s subentendids © eubtiiza, ao eontririo do raptus unnime que uma emogio auténtics *). Assim, ag emogdes determinam tuna evolugio que tende & sus prépria redugo Tibvotution prctolopigne de Yanfant, A. Cola, 1098p. 238, 2a mun son de cartala precoe dos candor materoal Rese Spe ("Wahu pyshlopgee de Fenton 9.128. (S) Lamont payload Feat, p30 ‘Tudo quanto acabo de expor ficaria praticamente incom Breensivel se a nogio de movimento nfo estivease constante- ‘mente subjacente de emocio, ‘Na erianga que ainda no fala, «o movimento & tudo quanto Pode testemunhar a vide pxiquice @ tradi-ia inteiramenter (). Além disso, o movimento, pela sua prépria natureza, contém em Boténla an ifereiesdiecsen que vida elquien tomart ulteriormente, Entre as diferentes formas ou funges da motilidade, a que ‘concerne directamente & expresso emocional & @ fungio pom tural, mais amplamente a toniedade, Emogdo e fungio postural slo tssociadas por Wallon desde a sua primeira obra. consa- agrada (sob o titulo de FBnfant turbulent) bs anomalias do de- ‘senvolvimento motor e mental, depois da sua duplaertien das concepgies de Lapioque e de Cannon sobre a emogio, baseadas respectivamente, como devels estar lembrados, no primado do cértex cerebral e no das reacgdes viseerais, que Wallon chega, ‘multo naturalmente, a definir a emogio como reacgio ou ex. rossio afectivo-ténia, ‘intre as reacgdes musculares viscerais © as mimicas do +osto e do corpo, existe parenteaco ou fillagdo através das fun hes primordiais do ténus e do equillorio. Kata teori, apenas ‘sbogada em 1925, seri abundantemente desenvolvida alguns ‘nos mis tarde no seu eurzo na Sorbonne publicado em 1933 sob 0 titulo de Origines du caretire ches Penfant e vetomada, fem numerosos artigos, Consttui, parece-me, a travemestra da psicologia walloniana, A distinglo eatabelecda desde hi muito Pelee fisiologistas entre funcio cinética ou eléniea © funcio éniea, Wallon confere, naa emergéncias do desenvolvimento, lum signifieado psicoligico, A aetividade de ordem cinétiea, 0 ances, Enforce, 3, 106; reproduld 0 nastero tpl Bafa, 8, a isos @ sorrios, atitudes ¢ posturas, mimiess do rosto e do ‘corpo, linguagem dos olhos e das mos, intonacoes Ga vox, por ‘mais que nos afastemos das fontes orgnleas, jamais serio rom Pidas as afinidaes eae flagées, ser sempre possivel o mare- ‘moto emocional. A convengio mais sofiaticads, a mais sublil Atitude de slmulagio sé podem funelonar em referéncia & ver- dade priméria da emosie, Assim, © movimento, tanto no sew aspecto einético como ‘a sus fungio ténlea, nfo é um trago de unido, um simples me ‘eanismo de execugdo entre as eondigdes externas e as condigies subjectivas de um acto ou de uma atitude, B a emogio exterio- rieada, Bo proprio acto, «Pertence A estrutura da vida pel uiea> (*). Prineipio de genética geral,o movimento pode fun- damentar também uma psicologiatipoldgiea ou diferenelal. Com feito, 0 jogo complexo das fungoes motoras, asus exacta coor- denagio pressupsem «uma soma de regraa que podem nio ser 8s mesmas de um para outro eujeitos (), O estudo das diferencas individusis, lerado tanto quanto Doseivel aos seus determinantes neuro-fsioligicos ou lsionais, € um método de anilise. Permite também, ao linio © ao inves: tigndor, fazer corresponder a diversidade que se observa entre 8 individuos a condigies precisas ealicergar sobre estas con- Aigdes a sua distribuigio em grupos mais ot menos claramente iferenciados (*), Assim se eaboca, pela paasagem do. patalé- ‘co a0 normal, do sindroma ao tipo, uma eigneia do indlviduo, 0 tipos deseritos por Wallon e que ele designa como Psicomo: tores sito essencialmente complelgSes afectivo-ténieas, frmu- 1002; rproduiéo on nfaee, 1868, p31, Bnfnce 8285, p. 24024, Ct. tambien des “

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