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UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI - UNIVATES

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO - PROPEX

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO -


PPGAD

PAISAGEM CULTURAL DA PRAÇA MARECHAL DEODORO DA


FONSECA, TERESINA, PIAUÍ

Walber Angeline da Silva Neto

Lajeado, outubro de 2019


2

Walber Angeline da Silva Neto

PAISAGEM CULTURAL DA PRAÇA MARECHAL DEODORO DA


FONSECA, TERESINA, PIAUÍ

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Ambiente e Desenvolvimento,
da universidade do vale do Taquari -
UNIVATES, como parte da exigência de
titulação em Mestrado.

Orientadora: Profa. Dra. Neli Teresinha


Galarce Machado

Lajeado, outubro de 2019


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RESUMO

Fundamentado na ideia do novo urbanismo de que o planejamento das cidades


deve partir da conexão entre o ambiente construído e a dimensão humana, ou seja,
os habitantes do lugar, esta dissertação tem como objetivo a investigação da
relação entre os diferentes usos e formas de apropriação existentes na Praça
Marechal Deodoro, em Teresina, Piauí e o conceito de Cidade para Pessoas. Parte
da concepção de que a cidade deve ser interpretada de forma interdisciplinar,
portanto, a partir da sua configuração territorial, seu espaço, como também, a partir
de suas relações sociais. Por isso, busca na etnografia, a metodologia para tal
investigação, defendendo a cidade como local de encontro e de trocas constantes,
focando a atenção em práticas e discursos que emanam daqueles que estão em
interação diária com este espaço. Entre os atores sociais estão os vendedores
ambulantes, profissionais do sexo, transeuntes e empregados de escritórios de
prédios do entorno imediato da praça, para os quais este local é um elemento da
paisagem. Para tanto, será usado o registro dos discursos contidos em falas e
imagens, apoiado em entrevistas, produto fotográfico e nas observações das
relações que as pessoas estabelecem com o referido espaço.

Palavras-chave: Identidade Urbana; Antropologia; Micro-história; Cidade;


Narrativas.
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ABSTRACT

Based on the Idea of the new urbanism that the planning of urban spaces must start
from the conception of Cities for People, this dissertation aims to investigate the
relationship between the different uses and forms of appropriation existing in
Marechal Deodoro Square, in Teresina-PI, Brazil and the City for People concept.
Therefore, this research starts from the conception that the city should be interpreted
in na interdisciplinary way and, not only from its territorial configuration, its space, but
also from its social relations. For this reason, the Ethnography of the Square seeks
the methodology to defend the city as a place of encounter and Constant exchange,
focusing attention on practices and discourses that emanate from those who are in
daily interaction with this space. Social actors include street vendors, sex workers,
passers-byand office workers in the immediate vicinity of the square, for whom this
location is na element of the landscape. To this end, it Will be used the record of the
speeches contained in speeches and images, supported by interviews, photographic
product and observations of the relationships that people establish with that space.

Keywords: Urban Identity; Anthropology; Micro-history; City; Narratives.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Área da praça em relação ao centro da cidade 11


Figura 2 - Igreja Nossa Senhora da Vitória 54
Figura 3 - Mapa de Oeiras, Século XVIII 54
Figura 4 - Fachada da Igreja do Amparo 56
Figura 5 - Antigo Mapa onde se veem as Cidades de Teresina e Timon 56
Figura 6 - Antigo Quartel teresinense 57
Figura 7 - Antiga Mercado Central 57
Figura 8 - Largo do Amparo em 1903 58
Figura 9 - Delegacia Fiscal/Juizado Especial da Justiça Federal 59
Figura 10 - Detalhe de uso do Largo do Amparo. Ao fundo a Igreja ainda sem as
torres. 1910 60
Figura 11 - A Praça em vista aérea, 1934 61
Figura 12 - Praça da Bandeira nos anos 70 62
Figura 13 - Shopping da Cidade (O Diga, Meu Bem!) 63
Figura 14 - Perspectiva do elevado do trem ligado ao Shopping da Cidade 63
Figura 15 - Praça da Bandeira ainda sem o Shopping da Cidade 64
Figura 16 - Mosaico: Evolução Histórica da Praça da Bandeira 64
Figura 17 - Entrada da Praça 67
Figura 18 - Planta-Baixa da Praça 67
Figura 19 - Banco de concreto com pés adornados na Praça da Bandeira 68
Figura 20 - Banco de concreto com encosto e assento de madeira 68
Figura 21 - Passeio com bancos. Observa-se ótimo estado de conservação 69
Figura 22 - Banco fora do padrão faltando-lhe uma tábua 69
Figura 23 - Uso de bancos irregulares 69
Figura 24 - Lixeira na Praça da Bandeira 70
6

Figura 25 - Lixeira irregular na Praça da Bandeira 70


Figura 26 - Iluminação noturna da Praça da Bandeira 71
Figura 27 - Poste com uma luminária 71
Figura 28 - Poste com duas lumináriasna entrada da Praça 71
Figura 29 - Fonte em 1971 72
Figura 30 - Fonte em 2012 72
Figura 31 - Fonte em 2018, ao fundo Museu do Piauí 72
Figura 32 - Obelisco em homenagem à Saraiva 72
Figura 33 - Teatro de Arena recebendo o Encontro de Violeiros 2017 73
Figura 34 - Ponto de ônibus na Rua Areolino de Abreu 74
Figura 35 - Grade divisória 74
Figura 36 - A Praça sem a grade de proteção 74
Figura 37 - Maciço Homogêneo formado pelas copas das árvores na Praça 75
Figura 38 - Maciço homogêneo com copas iguais 76
Figura 39 - Copas cruzadas na Praça da Bandeira 76
Figura 40 - Mapa de Usos da Praça da Bandeira 77
Figura 41 - Praça da Bandeira ainda sem Shopping Popular 79
Figura 42 - Praça da Bandeira com Shopping da Cidade 79
Figura 43 - Mapa dos estacionamentos 80
Figura 44 - Primeira Planta de Teresina - 1852 81
Figura 45 - Planta da Praça da Bandeira 81
Figura 46 - Mapa dos Usos no Entorno da Praça da Bandeira 83
Figura 47 - A Igreja do Amparo em Destaque e seu Entorno 84
Figura 48 - Desenho da fachada da Igreja do Amparo 85
Figura 49 - Museu do Piauí 86
Figura 50 - Planta em "L" do Museu do Piauí 87
Figura 51 - Escola Normal Piauiense (Atual prédio da PMT) 88
Figura 52 - Mercado Municipal Teresinense 89
Figura 53 - Fachada do Arquivo Público 89
Figura 54 - Prédio Sede do Ministério da Fazenda 90
Figura 55 - Planta da Proximidade das Praças da Bandeira e Rio Branco,
destacando o Prédio do Ministério da Fazenda 91
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

1 REFERENCIAL TEÓRICO 15
1.1 Cidade 15
1.2 Praça 26
1.3 Novo Urbanismo 31
1.3.1 Breve Histórico 31
1.3.2 Cidades Para Pessoas 34

2 METODOLOGIA 42
2.1 Introdução 42
2.2 O Método 42
2.3 A Fase Piloto da Investigação 46
2.4 A Segunda Fase da Pesquisa 57

3 HISTÓRIAS QUE SE ENTRELAÇAM: PRAÇA E TERESINA 52


3.1 A Capital de Saraiva 53
3.2 A História da Praça Marechal Deodoro 56
3.3 Aspectos Físicos e Sociais da Praça Marechal Deodoro 65
3.3.1 Equipamentos e Mobiliários Urbanos 66
3.3.2 Vegetação 75
3.3.3 Usos e Apropriações 76
3.3.4 Tráfego de Veículos 78
3.3.5 O Entorno da Praça Marechal Deodoro 80

4 A APROPRIAÇÃO SOCIAL DA PRAÇA 92


8

4.1 Incursões na Pesquisa de Campo 92


4.1.1 Vozes da Praça Marechal Deodoro 98

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 101

REFERÊNCIAS 106

INTRODUÇÃO

As cidades da antiguidade já apresentavam problemas dos quais muitos


habitantes das cidades atuais também enfrentam, tais como complicações
sanitárias, carência de moradia, insegurança. Estas questões evidenciam mazelas
comuns a diversos espaços urbanos que geraram, ao longo da história, teorias e
práticas na busca de resolver as demandas solicitadas a partir do planejamento e
estudo do tecido urbano. Foi, porém, somente a partir da revolução industrial, que
os estudos a respeito do desenho, do desenvolvimento e do planejamento das
cidades se destacou, encontrando, ainda naquela época, muitos pensadores que
desenvolveram teorias e modelos de cidades a serem seguidos.

O aumento da população, devido ao distanciamento entre as taxas de


natalidade e mortalidade, o aumento dos bens e dos serviços, as transformações
nas formas de produção que necessitavam de maior número de pessoas vivendo na
zona urbana das cidades, o processo de modernização dos transportes e a rapidez
com que todos estes fatores ocorreram, levaram a mudanças profundas das teorias
urbanísticas, primeiramente na Inglaterra e, mais tarde, em todo o mundo. Isso
aconteceu porque, naquela época, nas chamadas cidades industriais, o uso das
máquinas a vapor e a nova divisão do trabalho elevaram a importância dos centros
9

urbanos, uma vez que o trabalho humano era, agora, tratado quase que como uma
mercadoria, sendo solicitado em escalas gigantescas. Era natural que as cidades
não acompanhassem as necessidades humanas que se multiplicavam, fazendo
surgir um excedente populacional miserável que vivia em péssimas condições nos
bairros operários, de maneira precária e subvertida socialmente.

(...) com a Revolução Industrial desloca-se efetivamente o centro real do


poder, o que inverte a tendência básica, fazendo com que o “modo de vida
urbano” — e mais ainda o “metropolitano” —, levado pela técnica moderna,
pelos meios de comunicação e de transporte, vá tendendo a permear cada
vez mais todos os níveis da vida social nos mais remotos rincões do globo
(VELHO, 1981, p.7)

Ideias como as de Robert Owen que buscava a combinação entre a


indústria e a agricultura e Ebenezer Howard e suas cidades jardins, para citar
somente dois aclamados teóricos dos séculos XIX e começo do século XX, foram
algumas das que tentaram encontrar uma saída para a crise que assolavam as
cidades industriais. Owen, que viria a se tornar um dos principais nomes do primeiro
movimento socialista europeu, tinha como proposta a criação de uma cidade
racional, composta de construções que abrigavam de 500 a 2.000 pessoas. Para
tanto, desenhou uma cidade quadriculada, em que cada espaço tinha uma função
pré-estabelecida, segundo o modelo, onde espaços verdes isolavam as indústrias.
Um século depois Howard, propôs as cidades-jardim, um modelo que via na união
entre as cidades e o campo, saída para enfrentar os problemas urbanos da época.
Neste modelo, o homem desfrutaria ao mesmo tempo do progresso da vida urbano
e das belezas naturais, portanto, a cidade deveria ser construída, preferencialmente,
de maneira circular, formando cinturões de casas e jardins e no centro a sede
pública. Estas são teorias que, somadas a outras, dão início à ciência das cidades,
ou ao urbanismo (GOITIA, 1992).

O final do século XX viu as teorias do urbanismo se ampliarem para aquilo


que hoje é conhecido como novo urbanismo que estudam os problemas das cidades
sob a ótica do usuário, do citadino. Foi a partir desta concepção de participação
popular que as novas ideias de desenvolvimento urbano aproximaram as questões
urbanas e seus habitantes, entendendo que “o espaço é formado por um conjunto
indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas
de ação” (SANTOS, 2002, p.63).
10

Por esta ótica, a cidade deve ser interpretada de forma interdisciplinar, ou


seja, a partir de sua configuração territorial, seu espaço, como também, a partir de
suas relações sociais. Nesta ótica, Gehl (2012), defende a cidade como um local de
encontro e de trocas constantes, que não englobam apenas aspectos técnicos ou
formais, físicos e territoriais, mas, também, os saberes e cultura da população.
Portanto, as cidades podem ser caracterizadas hoje, por esta confluência entre os
aspectos formais e os aspectos simbólicos que se relacionam diretamente com as
experiências que cada indivíduo tem com o espaço que habita.

O estudo das formas de apropriação que se desenvolvem no tecido urbano


é, desta maneira, revelar experiências múltiplas e distintas, frutos destas trocas
diversas que as pessoas desempenham nos espaços que ocupam. Deste modo, o
presente trabalho que tem como tema central a apropriação urbana, busca dialogar
com a população para que se compreendam as vivências que se estabelecem no
espaço da Praça Marechal Deodoro em Teresina, Piauí. Deste modo, este trabalho
contribui ainda para a valorização da história oral teresinense que, sendo uma
cidade planejada, raramente apresenta a história sob a ótica dos habitantes, mas
sob uma visão institucionalizada. A Praça, marco zero de construção da capital
piauiense, é um importante sítio patrimonial que simbolicamente carrega parte da
história teresinense, neste sentido, a temática assume como plano de fundo o
exame da relação daqueles que usufruem do sítio e as questões que envolvem a
conservação e manutenção do patrimônio edificado da cidade.

Esta relação entre patrimônio construído – instituído pelo estado como um


conjunto de artefatos que devem ser preservados por conterem parte da história e
da memória dos espaços – e as práticas sociais que se desenvolvem nestas áreas,
desencadeia questionamentos por parte dos técnicos de como conservar, manter e
proteger os bens e, ainda, como considerar as apropriações humanas dos lugares
patrimoniais. Estudar a apropriação do recorte urbano da Praça Marechal Deodoro
é, contar sua própria história através dos elementos que compõem aquela
paisagem, os materiais que duraram, os vestígios do tempo e, principalmente, as
experiências humanas ali estabelecidas.

O Estatuto da Cidade (2001), instrumento que reúne diretrizes urbanísticas


e jurídicas para garantir a efetividade da política urbana e do desenvolvimento das
11

funções sociais da cidade, é um importante aliado nesta aproximação dos estudos


da cidade e da participação popular, uma vez que, apoiado nos artigos 182 e 183 da
constituição de 1988, estabelece a gestão democrática, garantindo a cooperação da
população urbana em todas as decisões de interesse público. Portanto, este
trabalho, alinha-se ao referido estudo urbanístico ao evidenciar a importância do
citadino na compreensão dos espaços da cidade, afastando-se da técnico-
urbanística que, muitas vezes, volta-se apenas para as análises de legislações e
teorias, excluindo aqueles que são, verdadeiramente, a dimensão primeira da busca
por melhorias dos espaços urbanos, os habitantes da cidade.

Partindo desta prerrogativa, o texto pretende apresentar e discutir as formas


de apropriação que se deflagram na Praça Marechal Deodoro - a Praça da
Bandeira, como é popularmente conhecida. Situada no centro da cidade (FIGURA
1), margeada pelo Rio Parnaíba e ladeada por importantes edificações da Capital do
Estado, como o Mercado Público - chamado Mercado Velho - o Museu do Piauí
Casa Odilon Nunes, a Prefeitura da cidade e a Igreja Nossa Senhora do Amparo, a
igreja matriz da cidade – primeira edificação da capital - é hoje considerada, pelos
técnicos do patrimônio e da ciência das cidades, um dos espaços públicos de maior
representatividade da história da cidade. Isto porque, sendo Teresina uma cidade
planejada, neste espaço desenrolavam-se boa parte das atividades sociais
teresinenses e onde estavam edificados os principais prédios públicos, espaço este,
que mesmo após sucessivas intervenções formais e transformações sociais,
continua a existir como eixo central da cidade, área de grande fluxo e praça principal
da capital.
12

Figura 1 - Área da praça em relação ao centro da cidade

Fonte: FUNDAC. Editado pelo autor (2018)

A história da Praça se confunde, portanto, com a própria história da cidade


de Teresina, pois foi neste local que o então presidente da província do Piauí
ordenou a edificação, no ano de 1850, da Matriz de Nossa Senhora do Amparo.
Inicialmente conhecida como “Largo do Palácio”, fazendo referência ao Palácio
Governamental ali localizado foi, posteriormente, denominada Praça Marechal
Deodoro em 1941.

Desde sua criação, o logradouro é palco de importantes acontecimentos


históricos, de rica e variada arquitetura e de experiências humanas diversas que
contemplam as mais variadas formas de apropriação. A importância deste trabalho
se dá, exatamente, na observação, exposição, análise e compreensão destas
apropriações, como forma de posicionar os usuários do espaço urbano no centro
dos estudos da cidade, evidenciando a relevância desta abordagem para o
planejamento urbano. Este trabalho se justifica, portanto, pela tentativa de introduzir
princípios de planejamento urbano que coloquem as pessoas no centro das
decisões urbanísticas, afastando aquilo que Jacobs (2011) chama de “morte das
grandes cidades”; na intenção de promover discussões que sirvam para formulação
de políticas urbanas, setoriais ou específicas; e ainda, pelo interesse particular do
autor, que graduado em Arquitetura e Urbanismo, encontrou na ciência das cidades
mecanismo capaz de extrapolar os limites da prancheta e dos programas de
computador e reivindicar por uma profissão menos esteta e mais social, humana.
13

Parte-se, em vista disto, do pressuposto de que, além das qualificações


formais da Praça Marechal Deodoro, esta recebe outros qualificativos por parte da
população teresinense, expressos em práticas e discursos. Assim, o problema desta
pesquisa é: em que medida os diferentes usos e formas de apropriação existentes
na Praça Marechal Deodoro, em Teresina-PI, relaciona-se com o conceito,
apresentado pelo novo urbanismo, de Cidades para Pessoas? O objetivo geral
desta pesquisa é, portanto, investigar a relação entre os diferentes usos e formas de
apropriação existentes na Praça Marechal Deodoro e o conceito de Cidade para
Pessoas. Para tanto, têm-se como objetivos específicos: Revelar qual a
percepção que frequentadores da Praça têm em relação a este espaço público;
Apurar quais transformações nas práticas sócias podem ser percebidas ao longo da
história da Praça, e; Identificar as significativas mudanças formais/estruturais que se
apresentam no referido logradouro.

A Praça Marechal Deodoro é um espaço público central da cidade de


Teresina, onde se observa um intenso fluxo de pessoas que desenvolvem diversas
atividades – comércio, descanso – ou estão de passagem para outras regiões
centrais (está localizado, na lateral da Praça, um dos maiores pontos de transporte
coletivo público da cidade), é, assim sendo, um espaço de contínua vivência e
trocas sociais. Para além desta indicação, a Praça guarda ainda aspecto histórico-
arquitetônico ímpar, por ser o local onde se deu o surgimento da capital piauiense,
de importantes exemplares da arquitetura de Teresina, bem como de símbolos
edificados como a pedra fundamental da cidade e o obelisco de homenagem ao
idealizador do traçado urbano teresinense. Estes olhares justificam o trabalho,
porque, apoiada na ideia do novo urbanismo de que o planejamento das cidades
deve privilegiar as pessoas, a investigação das apropriações e discursos que
emanam da Praça serve de baliza para práticas de desenvolvimento urbano, para a
proteção da memória urbana e, sobretudo, para a valorização do olhar do usuário
urbano.

Para tanto se realizou pesquisa bibliográfica sobre diversas concepções de


cidade que sirvam de instrumentos para refleti-la como espaço social, de relações
humanas, de (re)construção e exposição de identidades e de expressão cultural.
Esta etapa da pesquisa contemplou ainda o estudo do espaço urbano público,
praça, na intenção de compreender sua função no tecido urbano como elemento
14

formal de valores simbólicos; e ainda, a apreensão das características do novo


urbanismo, com foco na prática de cidade para pessoas. Procedeu-se, em paralelo,
pesquisa documental e iconográfica que permitiu conhecer e analisar a história e os
aspectos arquitetônicos e sociológicos envolvidos no significado da Praça objeto de
estudo, bem como, para facilitar a análise e apresentação das mudanças formais e
não-formais decorridas, as atuais amostras de uso, discursos e identificações que
partem daqueles que estão em interação diária com o referido espaço público.

Em conjunto, foi empregado trabalho de campo no qual se utilizou de


instrumento de pesquisa etnográfica, a observação direta dos atores sociais que se
relacionem com a Praça Marechal Deodoro. Procurou-se com este procedimento
metodológico, levantar informações que permitiram abordar os diversos processos
de apropriação, bem como elucidar as relações de pertencimento com o espaço
pesquisado. Ainda, levantamento de informações por meio de questionário semi-
aberto, tendo como propósito a análise comparativa de diferentes olhares, ideias e
pensamentos acerca da Praça que permitam refletir sobre a sua multiplicidade de
significados.

A dissertação está estruturada em cinco capítulos, iniciando-se pelo


Referencial Teórico, no qual está apresentada a fundamentação teórica sobre os
conceitos de cidade, praça e novo urbanismo, justificando as reflexões propostas na
pesquisa. No segundo capítulo, Metodologia, será apresentada a proposta
metodológica utilizada na pesquisa. O capítulo seguinte, Histórias que se
entrelaçam: Praça e Teresina, apresenta a história da Cidade que se entrelaça à
história da Praça Marechal Deodoro, além dos aspectos físicos e sociais desta. No
quarto capítulo, Apropriação Social da Praça, apresentam-se os dados empíricos
sobre os significados e práticas recolhidos através das entrevistas, documentos e
iconografias, bem como das observações levantadas nas visitas, experiências e
inserção na Praça, mostrando diversas perspectivas de se pensar a Praça, como
também elementos da vida social. A última parte constará das Considerações
Finais, momento em que será apresentado o pressuposto defendido em paralelo à
discussão acerca dos resultados levantados.
15

1 REFERENCIAL TEÓRICO

Esta pesquisa versa sobre as simbologias sociais da Praça Marechal


Deodoro, em Teresina, Piauí, conhecida como Praça da Bandeira, tendo como foco
as práticas e discurso daquelas pessoas que dela usufruem ou estão de alguma
maneira, em interação com este espaço. Parte-se da ideia, levantada pelo novo
urbanismo, de que o objetivo geral dos espaços da cidade deve ser de maior foco
nas necessidades das pessoas que deles se utilizam, portanto, a compreensão das
formas de apropriação e das impressões dos usuários da Praça, alinham-se ao
modelo de cidades para pessoas, defendido pela ciência das cidades.

Dedica-se aqui ao aprofundamento da relação entre os aspectos físicos


encontrados no logradouro estudado e as demonstrações de pertencimento que
provêm daqueles que estão em interação com o espaço da Praça. Neste capítulo,
apresentam-se os principais conceitos que vão nortear as reflexões acerca das
apropriações sociais do sítio marco zero da capital piauiense, denotando a revisão
bibliográfica sobre a temática exposta, a partir de autores que discorrem sobre a
cidade, as praças, a cultura e ao novo urbanismo. Por fim, serão apresentados,
neste capítulo, os procedimentos metodológicos utilizados na elaboração do
trabalho.

1.2 Cidade

A cidade é um espaço, construído com a participação da sociedade, a qual


estabelece relações de troca com o meio em que vive. Em outros termos, a cidade é
constituída conforme as características sociais e culturais da população e por sua
16

vez, sua configuração influencia no perfil da sociedade. A cidade é, desta forma,


palco de leitura social, fundamentado na ideia de que “ser habitante de cidade
significa participar de alguma forma da vida pública” (ROLNIK, 1995, p.21).
Portanto, é fruto da articulação de muitas pessoas, é uma obra coletiva que
transmite simbologias variadas e que, assim, é mais que sua materialidade, sua
forma física e seus elementos construtivos, arquiteturais, ou seja, é mais que suas
ruas e avenidas, prédios e praças, casas e templos, é o lugar da existência política
do cidadão, é o espaço do usuário, onde se desenvolvem variadas atividades
humanas (ROLNIK, 1995).

O espaço urbano carrega consigo, ainda, um pouco da história dos lugares.


A “natureza fabricada” que é a arquitetura é um dos elementos urbanos que revelam
os vestígios da história da cidade, “por isso, além de continente das experiências
humanas, a cidade, é também, um registro, uma escrita, materialização de sua
própria história” (ROLNIK, 1995 p.9). Este olhar a respeito da cidade fomenta as
discussões que cercam as formas de apropriação dos variados espaços da cidade,
a qualidade urbana e, ainda, a preservação de uma memória coletiva. É, portanto,
interessante investigar em que medida as práticas sociais que se desenvolvem nos
espaços urbanos relacionam-se ao conceito, levantado pelo novo urbanismo, de
boas cidades. Por esta razão, a compressão da grandeza que é o conceito de
cidade é de importância sem par, na consolidação da reflexão teórica desta
pesquisa.

Simmel (1967) sustenta que o indivíduo, a partir da Revolução Industrial,


libertado de seus vínculos tradicionais passou a clamar por sua individualidade,
desvencilhando-se de amarras sociais, políticas e religiosas que conduziram ao
desenvolvimento de um caráter único de cada homem, tornando-se “incomparável”
e, em paralelo, dependente das individualidades dos demais homens que
compunham a sociedade. Sob esta ótica, propõe-se que o estudo das metrópoles
deve investigar como estas particularidades se acomodam frente às heranças
históricas, à cultura e às forças sociais. Atesta ainda que o homem metropolitano é
um ser diferencial em que a mente trabalha pela diferença entre o momento
presente e o momento que o precedeu, assim, este homem se difere daquele de
vida rural, porque as impressões que a metrópole gera fluem menos lentamente,
criando uma vida psíquica mais transparente e consciente, a qual denominou-se de
17

intelecto. Esta certeza permite compreender, portanto, que o citadino reage com a
cabeça, levando-o a uma predominância da inteligência em relação aos sentimentos
e afastando-o da zona mais profunda da personalidade, intencionando-se na
preservação da vida subjetiva (SIMMEL, 1967).

É no meio urbano, ainda em comparação ao meio rural, que os meios de


troca econômica se fortificam, ligando-se intimamente ao domínio da inteligência.
Desta maneira o citadino se afasta da “individualidade genuína” que não se limita às
relações monetárias que as atividades urbanas reivindicam, a estas interessam
apenas as relações objetivas, não emocionais. O citadino, assim, estabelece suas
relações com o objetivo claro de oferecer serviço e ser retribuído, prevalecendo a
anonimidade nesta relação (serviço x retribuição), uma vez que o dinheiro só se
interessa por aquilo que é comum e a produção é convertida para o mercado e não
para o consumidor/comprador que é um desconhecido. Em outras palavras, a
metrópole, é muito menos o coração de um estado que seu intelecto no que Simmel
(1967) chamou de bolsa de dinheiro. Foi a partir desta exatidão calculista da vida,
baseada na economia do dinheiro, que o mundo se transformou em um “problema
aritmético”, disposto por meio de fórmulas matemáticas, estabelecendo-se como um
espaço intelectualizado (SIMMEL, 1967).

Esta relação com o dinheiro determinou uma precisão e uma segurança nos
acordos entre os homens que acabou simbolizada pelo relógio, porque são, estas
relações, marcadas por múltiplos e complicados pontos, diversas preocupações de
diversos homens, que necessitam de pontualidade para que não leve à ruína deste
organismo “altamente complexo”. É preciso ainda apontar que as atividades
humanas não suportam a perda de tempo com esperas e deslocamentos, portanto,
a lógica da cidade é que as relações sejam precisas, rígidas e impessoais. Em
paralelo, como consequência a esta exatidão dos ponteiros, a impessoalidade
tornou-se marca das metrópoles, assim, o comportamento blasé, ou seja, o homem
entediado, é tal qual Simmel (1967) o fenômeno mais próprio da grande cidade,
resultado das rápidas mudanças impostas aos nervos, surgindo ao que parece ser
uma incapacidade de novas excitações, ainda, porque o homem blasé tornou-se
indiferente às coisas, não porque as coisas não sejam percebidas, mas porque, a
reflexo da economia do dinheiro, o homem citadino, enxerga todas as coisas com a
mesma profundidade (SIMMEL, 1967).
18

Esta postura negativa do indivíduo da cidade grande pode ainda ser


observada no trato social, à medida que, diferentemente das relações que se
estabelecem na cidade pequena, onde se conhece quase todo mundo, nas
metrópoles “sequer conhecemos de vista aqueles que, foram nossos vizinhos
durante anos” (SIMMEL, 1997 p.16), no entanto, é esta mesma reserva social que
se reflete em uma aversão aos demais indivíduos, que também garante aos
citadinos um grau de liberdade próprio da cidade grande, não visto em outro lugar.

Quanto menor é o círculo que forma nosso meio e quanto mais restritas
aquelas relações com os outros que dissolvem os limites do individual,
tanto mais ansiosamente o círculo guarda as realizações, a conduta de vida
e a perspectiva do indivíduo e tanto mais prontamente uma especialização
quantitativa e qualitativa romperia a estrutura de todo o pequeno círculo.
(SIMMEL, 1997 p.16)

Simmel (1967) aponta ainda que em paralelo ao crescimento da área da


cidade surge condições necessárias para a divisão econômica do trabalho, uma vez
que, por sua dimensão, pode absorver uma variedade diversificada de serviços, ao
passo que a luta por consumidores força os indivíduos a se especializarem,
mudando a luta com a natureza em uma luta entre os homens, através da
competição, levando os indivíduos, uma vez mais, a um processo de
individualização e busca de traços particulares. Nesta perspectiva, a cidade é o
lugar onde o homem mostra sua singularidade, diferindo-se dos demais habitantes,
portanto, este é o lugar das oportunidades e estímulos pessoais, e tem como papel
ser o palco de tentativas humanas.

A partir da lógica de Simmel, este trabalho busca compreender as diferentes


formas de apropriação, os costumes, que se manifestam na Praça Marechal
Deodoro visando compreensão e análise para que, adiante, se relacione a verdade
encontrada com o ideal de cidade teorizado pelo novo urbanismo. Assim, as
apreensões físicas que configuram uma cidade, seu tamanho, por exemplo,
érelevantes para sua compreensão, mas, a configuração de cidade é dada,
primordialmente, pela ideia de localidade, ou seja, uma comunidade com certo grau
de autonomia em aspectos objetivos, como mercado e exército, mas também por
suas subjetividades, do mesmo modo, não se pode chamar “cidade” aquelas
localidades cuja diversidade industrial inexista (WEBER, 1967).
19

Na teoria weberiana (1967), uma cidade pode fundar-se a partir de dois


modelos. No primeiro ponto destaca-se a cidade que surge de uma existência prévia
de algum domínio territorial onde exista alguma indústria especializada e comércio
de mercadorias. Assim, o elemento que dá sentido a esta tipologia de cidade é o
mercado fixo, em que os habitantes satisfazem suas necessidades diárias e
colocam mercadorias à venda, constituindo-se em um “local de mercado”. A
existência deste mercado, por sua vez, requer a proteção do senhor do domínio que
almeja tanto a regularidade na oferta de produtos como na geração de lucro. A
cidade pode surgir ainda, num segundo ponto, sem o apoio de um senhor
dominante, mas pela reunião de comerciantes ou colonizadores dedicados ao
comércio.

Esta cidade administrativa, portanto, depende do poder aquisitivo daqueles


que a gerenciam e distribuem renda, determinando as possibilidades de lucro dos
comerciantes, ou seja, esta cidade necessita de poder patrimonial e político.
Diferencia-se, portanto, de outro tipo de cidade que, a partir da existência de uma
aristocracia, as rendas são determinadas pelo comércio da cidade (WEBER, 1967).
Neste caso, a cidade configura-se como uma “cidade de consumidores”, em razão
da indispensabilidade destes para as possibilidades aquisitivas dos comerciantes.

A “cidade de produtores”, por sua vez, tem nas fábricas, manufaturas e


indústrias artesanais que abastecem o exterior, o catalisador do crescimento
populacional e de seu poder aquisitivo. Weber (1967) apresenta, em oposição, a
“cidade mercantil” cujo poder aquisitivo de seus consumidores resulta da
importação/exportação de mercadorias e vendas fazendo surgir, portanto, a “City”,
um bairro da cidade exclusivo de casas de negócios ou escritórios.

Não nos propomos oferecer uma casuística mais detalhada, como a que
corresponderia a uma teoria rigorosamente econômica da cidade. Apenas
cabe dizer que as cidades representam, quase sempre, tipos mistos e que,
portanto, não podem ser classificadas em cada caso senão tendo-se em
conta seus componentes predominantes (WEBER, 1967, p.71).

Existem ainda as “cidades agrárias” que se distanciam das aldeias, mas que
seus habitantes lançam mão da produção individual de mercadorias para se
abastecerem e até para comercializar. Este tipo de cidade é certamente próprio de
localidades menores, onde comumente se dispõe de terra para cultivo como forma
de produção de alimentos e área para pastos. O conceito de cidade não é, contudo,
20

satisfeito apenas com a coexistência de comerciantes e mercado regulador,


tampouco é o conjunto de casas somente. O que difere a aldeia da cidade é,
sobretudo, a existência de uma “política econômica urbana”, ou seja, a satisfação
das demandas diárias dos habitantes da cidade no mercado local, seja por produtos
originados na própria cidade, seja por produtos de fora da cidade, mas vendidos no
mercado local. Assim, a definição de cidade deve estar vinculada a uma série de
conceitos que estão além dos conceitos econômicos exclusivamente, mas também
dos conceitos políticos (WEBER, 1967).

A cidade a partir deste conceito político-administrativo assume uma


perspectiva urbano espacial, então, o que a diferencia da aldeia é a maneira com
que se dá a regulamentação imobiliária que, no sentido econômico, está atrelado às
formas de aquisição de renda e, no sentido administrativo, depende de princípios
previamente estabelecidos e que se constitui como uma fortaleza (WEBER, 1967).

A cidade-fortaleza, no primeiro estágio de seu desenvolvimento no sentido


de uma estrutura política particular, era, continha ou se apoiava no burgo
de um rei ou de um senhor nobre ou de uma associação destes, que ou
residiam no burgo ou mantinham nele uma guarnição de mercenários,
vassalos ou servidores (WEBER, 1967, p.78).

Nestas cidades fortaleza os habitantes eram obrigados a oferecer algum tipo


de serviço e em troca era garantida a paz interna e externa, situação atraente para
os comerciantes. Então, a cidade ideal, seria aquela que possuísse as seguintes
características: fortificação, mercado, tribunal próprio e associação ligada a este e
autonomia administrativa que de alguma forma permitisse a participação dos
cidadãos, mesmo que para escolha de seu representante (WEBER, 1967).

Neste sentido, a cidade não deve ser lida sob um único óculo, mas na
pluralidade de suas características, na multiplicidade social que nela se estabelece.
Esta pesquisa parte deste pressuposto e, alinha-se ao Estatuto das Cidades –
documento criado em 2001 que reúne instrumentos urbanísticos, tributários e
jurídicos responsável pelo estabelecimento da política urbana na esfera municipal,
pela consolidação das funções sociais da cidade e da propriedade urbana – no que
tange a ampliação do direito dos cidadãos a uma gestão democrática das cidades.

No início da modernidade as cidades se afastam da natureza orgânica,


marcando fortemente este período pelo crescimento das grandes cidades. Assim, é
21

a partir da idade moderna que a concentração humana em torno de um pequeno


aglomerado central, de onde irradiam as práticas civilizatórias, se manifesta em
maior grau. Esta interligação de diversas atividades humanas em um só lugar é que
caracteriza, portanto, a urbanidade que se percebe nos grandes centros, não a
quantidade de habitantes e habitações ali existentes, mas esta conurbação política,
cultura e social (WIRTH, 1967).

Segundo Wirth (1967) esta repentina mudança da ruralidade para o meio


urbano foi acompanhada por profundas alterações nas práticas sociais humanas,
uma vez que a cidade é um produto do crescimento de sua população e não da
criação espontânea. Deve-se compreender, no entanto, que a vida social é
impregnada de referências históricas, portanto, não se pode encontrar uma variação
abrupta entre o perfil de urbano e rural. É por este motivo que defender uma cidade
como urbana tomando como base o seu tamanho é um erro reducionista. Outros
fatores, como a proximidade com demais centro urbanos por exemplo, são decisivos
nos processos de consolidação das cidades como área metropolitana. Nesta
análise, a cidade não pode ter sua urbanidade reconhecida pelo tamanho, também
porque, do ponto de vista de sua área territorial, a cidade é sempre um conceito
político-administrativo delimitado legalmente, excluindo-se deste conceito as
características urbanas que afloram para além destas delimitações (WIRTH, 1967).

O que de fato caracteriza uma cidade, à vista disso, é a aglutinação das


atividades industriais e comerciais, financeiras e administrativas, transportes e
comunicações, além dos elementos de cultura e recreação, os teatros, as
bibliotecas, instituições de ensino. Consequentemente, “urbanização já não denota
meramente o processo pelo qual as pessoas são atraídas a uma localidade
intitulada cidade” (WIRTH, 1967 p.92), mas refere-se também às características que
diferenciam o modo de vida associado ao crescimento das cidades e às mudanças
de sentido destes modos de vida.

Diferenciar comunidades urbanas e rurais pelo adensamento populacional,


sem associar às características sociais, tampouco corresponde a um bom critério de
definição da urbe. Faz-se necessário compreender que o tecido urbano é também
caracterizado por esta concentração populacional, fruto dos processos de formação
das cidades, relativos ao contexto ao qual estão inseridas. Do mesmo modo, a
22

diferenciação não pode ser dada a partir da análise da ocupação de seus


habitantes, ou pela existência de determinadas instalações ou instituições, mas sim
pela capacidade de delinear o caráter de vida social de seus habitantes a uma
condição específica urbana, ou seja, caracteriza-se pela regularização coletiva dos
aspectos particulares da vida (WIRTH, 1967).

A análise das cidades, isto posto, deve denotar suas variações, mais que
encontrar suas semelhanças, uma vez que as características e influências sociais
das cidades variam conforme suas categorias se alteram, ou seja, cidades
industriais possuem características diferentes de cidades comerciais, que por sua
vez se diferem das cidades universitárias e capitais. Os atributos que conferem título
às cidades, cabe ressaltar, não são reflexo do industrialismo ou do capitalismo
moderno, “por diferentes que possam ter sido as cidades de épocas anteriores pré-
industrial e pré-capitalista, não deixavam de ser cidades” (WIRTH, 1967 p.95).

Estas considerações servem de alicerce para que se compreenda a cidade


como uma entidade social, muito mais que suas definições históricas ou seus
processos civilizatórios. Wirth (1967) aprofunda estas observações quando aponta
características que servem de identificação para a cidade e lança como problema
central - daquele que estuda a cidade a partir de sua perspectiva social - a
descoberta das formas de ação e organização social que emergem da
heterogeneidade dos citadinos. Desta maneira, estabelece que a urbanidade se
intensifica à medida que a densidade populacional cresce e múltiplos perfis
coabitam na comunidade.

A cidade tem sido, dessa forma, o cadinho das raças, dos povos e das
culturas e o mais favorável campo de criação de novos híbridos biológicos e
culturais. Ela não só tolerou como recompensou diferenças individuais.
Reuniu povos dos confins da terra porque eles são diferentes e, por isso,
úteis uns aos outros e não porque sejam homogêneos e de mesma
mentalidade (WIRTH, 1967 p.97)

Esta variação populacional influencia e modifica as relações entre os


habitantes da cidade, em virtude da maior quantidade de perfis humanos, interesses
culturais, aproximações religiosas dentre outros tantos aspectos sociais que podem
existir no espaço urbano, transformando-o, muitas vezes, em um ambiente de maior
segregação espacial que a própria zona rural, limitando a possibilidade de
aproximação de muitos de seus membros. Ao mesmo tempo, a sofisticação e a
23

racionalidade são marcas da cidade, à medida que as transitórias relações urbano-


sociais se intensificam neste espaço. Em paralelo, o habitante da cidade que é
caracterizado pelo seu grau de liberdade, perde a espontaneidade e o seu senso de
participação (WIRTH, 1967).

As características sociais são, portanto, de importância ímpar na


compreensão das cidades, mas não se isolam nesta análise, ao contrário,
interrelacionam-se com aspectos formalistas, culturais, econômicos e políticos. Este
trabalho busca confrontar o espaço da Praça, suas características formais e
subjetividades sociais, a fim de compreender as diferentes formas de apropriação ali
presentes.

Assim como o aumento do número de habitantes, a densidade traz


consequências relevantes para a análise sociológica das cidades que são
expressas na forma de especialização e diferenciação humana, reforçando o efeito
de diversificação observado tanto quanto o aumento do número de habitantes. Do
mesmo modo, o adensamento populacional motiva um afastamento da natureza
natural e a aproximação do mundo dos artefatos, resultando, por exemplo, naquilo
que os urbanista chamam de “planejamento moderno das cidades” (JAN GEHL,
2010), onde a diferenciação dos setores da cidade (setor de trabalho, setor de
moradias, setor escolar) assume relevante destaque. “A acessibilidade, a
salubridade, o prestígio, considerações estéticas, a ausência de inconvenientes tais
como barulho, fumaça e sujeira, determinam a atratividade de várias áreas da
cidade” (WIRTH, 1967, p. 102).

Para se decifrar a cidade, portanto, é preciso compreender a visão de seus


habitantes. Lynch (1997), apoiado nesta prerrogativa propõe refletir a cidade a partir
do envolvimento participativo dos cidadãos nas questões urbanas, objetivando na
leitura da “imagem da cidade” que, segundo ele, é composta pelos elementos
móveis e pelas pessoas e suas atividades. Nesta ótica, a percepção da cidade é
abrangente, fragmentária e misturada a considerações de outras naturezas e só
pode ser percebida ao longo dos tempos.

Esta percepção, ou legibilidade - como prefere chamar Lynch (1997) - são


os símbolos identificáveis da cidade, ou seja, uma boa imagem da cidade é aquela
cujo elementos que a compõem são facilmente reconhecíveis, menos por oferecer
24

um sentimento de segurança, mas por estabelecer uma relação harmoniosa entre


os habitantes e o mundo a sua volta, reforçando os potenciais e variações humanos
apontados por Wirth. São justamente estas diferenças que devem transformar a
imagem da cidade e ajustá-la às necessidades que se vão surgindo com o tempo, o
que “indica que o que procuramos não é uma ordem definitiva, mas uma ordem
aberta, passível de continuidade em seu desenvolvimento” (LYNCH, 1997, p. 7).

Nesta ordem, tanto o ambiente quanto o homem, o observador, tem papéis


fundamentais na construção da imagem urbana, em vista disso, ela pode variar
sensivelmente à medida que se mude o observador e o ponto observado, ampliando
a importância da participação efetiva dos habitantes nas questões da cidade.
Entretanto, é a imagem formada por grupos homogêneos, que tem interessado aos
urbanistas na criação de ambientes que serão usados por muitas pessoas, as
“imagens públicas”. Ou seja, segundo Lynch (1997) o interesse das ciências das
cidades têm sido aquelas imagens comuns aos vários citadinos, aqueles que se
decompõem em três grandezas: identidade, estrutura e significado.

O primeiro destes componentes, a identidade, diz respeito ao seu


reconhecimento. Identidade no sentido de símbolo, não de unidade, mas de
individualidade. Depois, a estrutura, implica relação espacial do observador e do
objeto e, por fim, o significado, que são os valores práticos e/ou emocionais que o
habitante tem pelo objeto. Estes últimos são tão variados quanto são variadas as
pessoas que vivem na cidade. “Parece haver uma imagem pública de qualquer
cidade que é a sobreposição de muitas imagens individuais. Ou talvez exista uma
série de imagens públicas, cada qual criada por um número significativo de
cidadãos” (LYNCH, 1997, p.51). Por isso, abordar as questões humanas que se
desenvolvem no tecido urbano carece de uma análise profunda, detalhada e
participativa, ainda da exploração da análise social, sua função e história, e,
igualmente, do conhecimento e compreensão dos elementos formais, os objetos
perceptíveis, ou equipamentos que compõem a paisagem das cidades. Nesta
abordagem, Lynch (1997) estuda o conteúdo da imagem das cidades a partir de 5
(cinco) tipos de elementos que remetem à forma física urbana.

O primeiro destes elementos, as vias, são os corredores de circulação, que


podem assumir diversas tipologias, ruas, rios, alamedas, linhas de ônibus,
25

constituindo-se como locais de locomoção, mas também como local de organização


de outros elementos. Os limites, ao contrário, são os elementos que, por parte do
observador, não são entendidos como corredores de circulação, assumindo
característica de fronteiras entre elementos. Do mesmo modo que as vias, os limites
se apresentam em diversas ordens, podendo ser uma praia ou margens de rios,
uma edificação, ou mesmo elementos mais comumente associados à separação
espacial como muros e paredes.

Os Bairros, reconhecidos por possuírem características comuns que os


identificam e definem, são regiões médias de uma cidade. Dotados de extensão
bidimensional permitem que o observador penetre no espaço e funcionam como
uma espécie de referência mental para a construção da imagem da cidade.
Aprofundando-se nos bairros, têm-se os pontos nodais, isto é, lugares ou pontos
estratégicos de uma cidade, focos intensivos de partida ou chegada dos habitantes.
Cruzamentos, locais de interrupção de transportes, praças, parques, são exemplos
de elementos urbanos que podem assumir características de pontos nodais. A
importância deste elemento se dá justamente na concentração do foco dos
observadores, são núcleos urbanos e, muitas vezes, são o traço dominante de uma
bairro (Lynch, 1997).

O quinto elemento defendido por Lynch (1997), os marcos, se diferem dos


pontos nodais porque não permitem que o observador entre em seu espaço, são
portanto, externos, funcionam como pontos de referências e, em geral, constituem-
se em um objeto físico, um edifício, um monumento, uma loja, uma montanha. Este
elemento então corrobora com a criação de marcas da cidade, promovem a
identidade simbólica urbana, são eles, artefatos referenciais.

A construção da imagem da cidade, como mencionado anteriormente, é


uma criação individual e, portanto, pode se modificar dada a realidade específica do
observador. Desta maneira, a mesma peça, pode caracterizar-se como elementos
diferentes, à medida que se muda o olhar. A praça, por exemplo, pode ser um ponto
nodal para o pedestre, no entanto, funcionar como um limite para o motorista. Estes
elementos, portanto, não existem isoladamente e só ganham sentido completo
quando relacionados ao demais elementos. “Os bairros são estruturados com
pontos nodais, definidos por limites, atravessados por vias e salpicados por marcos”
26

(LYNCH, 1997, p.54).

Os objetos que dão existência às cidades, assim, possuem uma finalidade


única dentro do espaço urbano, a de ligação íntima entre o meio e os citadinos. A
cidade, portanto, é uma organização com muitas funções, construída a partir da
observação e ação de muitas e variadas pessoas em um entrelace único. Algumas
destas funções são essenciais para o estabelecimento de uma imagem coesa e
legível: circulação, usos principais do espaço urbano, ponto focais chaves e o senso
comunitário. Para tanto, o espaço urbano precisa ser organizado e visivelmente
particular, tornando-se um lugar, “notável e inconfundível” (LYNCH, 1997).

A imagem clara das cidades cria uma ligação forte entre as pessoas e as
formas urbanas, as paisagens tornam-se facilmente identificáveis, estabelecendo-se
como parte integrante da vida dos cidadãos. Lynch (1997) argumenta, em vista
disso, que a cidade deve ser erguida com arte, aumentando a legibilidade, ou -
como ele propõe - a “imaginabilidade” do ambiente urbano, de modo a facilitar a sua
identificação e imagem. Isto posto, descreve qualidades que devem ser estudadas
pelo pesquisador urbano para a análise, diagnóstico e tomada de soluções do
desenho urbano que podem ser resumidas em: nitidez de limites, clareza e
simplicidade das formas, continuidade das superfícies, hierarquia de elementos,
relações claras entre elementos, diferenças entre extremidades, alcance visual,
consciência de movimentos real ou potencial do observador, séries temporais e as
características não físicas, como os nomes e seus significados.

1.3 Praça
As cidades não são constituídas apenas de pessoas e edificações, mas
também dos espaços vazios – as praças, parques, largos – que nelas se
apresentam. Dentre este contexto, as praças são um importante elemento
morfológico das cidades e diferem-se dos demais espaços vazios públicos pela sua
“organização espacial e intencionalidade de desenho” (Lamas, 1989, p.100). Desde
as sociedades tradicionais, estes são importantes espaços na configuração do
desenho e das relações sociais da cidade, acompanhando a cultura das sociedades
e consolidam-se como um elemento revelador das questões sociais que se
desenvolvem no tecido urbano.
Na Idade Média, o fortalecimento do comércio e, portanto, o surgimento da
27

burguesia aflorou nos habitantes das cidades uma forte ligação com o espaço
público e com o espírito cívico. Nesta época, as praças não eram um ambiente
intencional, pois acompanhavam o traçado preexistente da cidade que tinha como
elemento fundamental, a rua, que dentro dos muros era pensada para o
deslocamento pedonal e serviam como prolongamento dos principais espaços
públicos: a praça do mercado e a praça da igreja. A primeira funcionava à época
como um espaço de serviço, cercados por um conjunto de edificações que
delimitam um espaço irregular. A segunda funcionava como local de encontro das
famílias e formava um conjunto de praças, bipartido, mas próximo, e sempre coeso,
ou seja, nestas praças existia forte manifestação social e visual monumental. (Pinto,
2003)
A partir da Renascença o desenho geométrico e o rigor métrico passam a
acompanhar o desenho arquitetônico e urbanístico. Este período é marcado pela
aproximação das artes e da ciência exata, transformando a cidade que torna-se um
espaço livre e independente onde seus elementos principais agora respeitavam a
forma retilínea e a perspectiva. Assim, a cidade renascentista torna-se um conjunto
bem pensado e não fruto de uma espontaneidade, suas ruas (na maioria destas
cidades), então, convergem para o mesmo ponto central, ou para vários pontos,
assim, as praças renascentistas diferem-se das medievais porque são concebidas
para uma determinada função, espaço onde estão localizadas as principais
edificações da cidade, assumindo aspectos político-sociais, convertendo-se em um
marco no desenho urbano. Este espaço público não mais apresenta uma coesão
visual, ao contrário, a intenção é criar um foco central, usando da perspectiva para
direcionar o olhar do frequentador para uma única edificação ou monumento (Pinto,
2003).
No barroco – período artístico que floresceu entre o final do século XVI e
meados do século XVIII – por sua vez, busca uma praça “infinita”, com magnitude e
poder. São praças que ainda seguem o modelo geométrico efetivado no
renascentismo, mas que passam então a abrigar edificações de tamanho
monumentais, muitas vezes ocupando um lado inteiro do recinto urbano. Noutro
sentido, as praças deste período não obrigatoriamente têm seus lados cercados por
edificações, muitas vezes delimitam-se visualmente por elementos naturais como
rios e vegetação, ou por grandes parques e avenidas, tornando o espaço mais livre
e aberto (Pinto, 2003).
28

O início do século XIX é marcado pelo fim da rigidez geométrica das cidades
e pelo crescimento das periferias urbanas, os subúrbios. As cidades que agora
cresciam no além-muro, viam seu traçado ser completamente modificados pelo
surgimento e aprimoramento dos meios de transporte, pela transformação dos
meios de produção e pelo advento do capitalismo. Assim, a forma e a estrutura da
cidade são, em tal caso, concebidas pela ótica da praticidade, determinada pelo
domínio financeiro, pela ordem do capital e da mercadoria. Isto posto, as praças
assumem papel secundário na vida urbana que agora, segundo Pinto (2003),
assumem três categorias: “as praças concebidas pelos arranjos setoriais ou do
alargamento de ruas; as praças criadas pela extensão da cidade; e as novas praças
construídas nos novos bairros” (PINTO, 2003, p.61), resultando-se em espaços sem
uma função clara, “podendo servir para qualquer coisa”.
A cidade daquele século é caracterizada por uma enorme urbanização,
advinda de um impressionante crescimento demográfico, tendo a Inglaterra como
primeiro território deste movimento. Choay (2013) afirma que uma nova ordem
urbana se apresenta, a partir da racionalização das vias, da setorização da cidade
(área de comércio, residenciais, lazer, etc) e do desprezo pela concepção artística
das cidades. Isto posto, a praça torna-se um lugar ajardinado, com equipamentos
urbanos - bancos, lixeiros - e pavimentado, assumindo papel de elemento urbano
que funciona como espaço de convivência, contemplação e recreação dos
cidadãos, no entanto, um lugar de pouco privilégio diante do funcionalismo que a
vida moderna impõe. (BENEVOLO, 2003).
No século XX muitas foram as teorias que se colocaram na tentativa de
explicar e reorganizar as cidades, surgindo a ciência das cidades, o urbanismo que,
dentre outras características, apresentava a cidade como palco de leitura de sua
sociedade, ou seja, a cidade como reflexo das construções sociais que nela se
desenvolvem e vice-versa. A partir deste período as cidades foram assumindo
características muito mais distantes uma das outras, observando-se algumas
características comuns como a surgimento dos arranha-céus, o fortalecimento do
zoneamento urbano e a fluidez/rapidez dos deslocamentos. Estes atributos da
cidade contemporânea separaram a edificação da concepção urbana, afastando a
vida em sociedade do meio urbano (Pinto, 2003).
Por consequência desta dissociação da vida particular do espaço público, as
praças se tornaram secundárias no traçado urbano, existindo sem a interligação
29

com os edifícios e o fluxo de pessoas. A partir desta época, portanto, estes espaços
públicos passam a abrigar estacionamentos, servir de cruzamento de vias, ou como
parques verdes (Pinto, 2003). É relevante aqui fazer um paralelo com o objeto de
estudo desta pesquisa - a Praça Marechal Deodoro - que, embora apresente alto
fluxo de frequentadores e atividades, configura-se como espaço de estacionamento,
parada de ônibus e passagem para outras regiões do centro de Teresina.
É somente após os anos 1960 que a cidade começa a ser pensada a partir
da sua capacidade ou não de produzir bem-estar e garantir qualidade de vida para
seus cidadãos. Afloram, neste e nos períodos até meados de 1980 muitos teóricos
que reivindicam pela requalificação das áreas históricas e pela conexão entre a
prática da arquitetura e do desenho urbano, surge assim, já no fim do século XX e
início do século XXI, o “novo urbanismo” que retoma a importância dos elementos
urbanos esquecidos: a rua e seu traçado, o quarteirão e o espaço público urbano,
as praças, reconhecendo este como um grande valor na complexa produção da
cidade (Pinto, 2003).

No período atual, segundo Kostof (1992, p.172-187), as praças das cidades


antigas estão morrendo e os espaços públicos passam a ter diferentes
interpretações. Alguns tentam reproduzir modelos antigos de praças em
espaços modernos; ou então, praças são abertas em espaços privados -
nos shoppings, com os mesmos propósitos das praças antigas (lugar onde
as pessoas se encontram, conversa, sentam-se ao redor dos jardins, das
esculturas; um local para encontros e exibições públicas), mas com o
conforto proporcionado pelo ar-condicionado (PINTO, 2003, p. 73)

Nesta ótica, as praças, de um modo geral, continuam sendo consideradas


áreas secundárias do tecido urbano por não apresentarem uma lógica capitalista de
utilidade financeira, em que estes espaços são vistos como espaços não
aproveitados, mas ainda por, com raras exceções, não exercerem a função de
transmissão de conhecimento e troca de ideias que a vida conectada de hoje
necessita (Pinto, 2003).
Alex (2011) corrobora com esta visão e discorre sobre o processo, iniciado
nos anos 1960, de incorporação de influências funcionais no projeto das praças e
das preocupações ambientais que juntas não resultaram em espaços convidativos
para a população. Complementa ainda que o tratamento recreativo ou como
“repositório de vegetação” impulsionou uma separação entre a vida pública e
privada, transformando as praças em barreiras de circulação e local ameaçador.
Nesta ótica, aponta que a inadequação projetual, bem como as apropriações
30

informais, acarretam no “desaparecimento” do espaço público devido à


incapacidade de se estabelecer relação social entre diferentes segmentos sociais.
Pode-se apontar que a produção das praças no século XXI substitui a
produção de um espaço para usufruto da população, por questões técnicas como o
patrimônio, a drenagem, a melhoria da segurança, dentre tantos outros termos que
excluem a prática da convivência humana. Desta forma, propõe Alex (2011) que a
praça seja, a partir de então, compreendida em articulação com seu entorno e ao
fluxo dos pedestres, ou seja, que se observe como circulam as pessoas pelo
espaço, quais atividades são ali realizadas, que edificações existem em seus
arredores e como elas se relacionam com o espaço livre para que se construa um
espaço público de caráter verdadeiramente público e de identidade particular.
Para tanto, as praças devem ser espaços que possibilitem a participação de
todos os habitantes, “lugar da sociabilidade”, portanto, o espaço físico da praça é
importante, pois revela as práticas que podem ou não ser realizadas ali, fazendo-se
relação com o que Lynch (1997) aponta como as cinco dimensões do espaço
público: presença, o direito de acesso, uso e ação, a maneira com que as pessoas
utilizam determinado espaço, apropriação, ou a capacidade de tomar posse,
modificação, ou seja, a possibilidade de que aqueles que se utilizam do espaço
público o altere para que se faça um uso mais apropriado e, por fim, disposição, ou
a possibilidade de se desfazer de referido espaço. Neste sentido, as praças atuais
são percebidas, por boa parte dos habitantes das cidades, como espaços
desconfortáveis e que não se aproximam de suas necessidades reais, pois não
reforçam atividades recreativas, nem contemplam as questões ambientais (Alex,
2011).

Os espaços livres acompanham a evolução das cidades, e suas


delimitações, funções e aparência são muitas vezes indefinidas ou
sobrepostas; os arquétipos tradicionais de suas configurações, como adros
religiosos, praças-mercado e praças cívicas, não mais articulam a
arquitetura à vida pública urbana nem atendem às novas necessidades de
uso (ALEX, 2011, p.61)

A praça, assim, deve ser compreendida muito mais que como espaço vazio,
mas também como um espaço construído, assumindo uma função social importante
de participação na vida da cidade, como também de preservação de um passado
histórico. Portanto, deve contribuir para a formação cultural do cidadão, não
podendo ser compreendida sem que se compreendam os valores culturais, sociais e
31

políticos ali estabelecidos (Alex, 2011).


Alex (2011) complementa apontando que a suburbanização, na América do
Norte - reflexo do momento pós-primeira guerra - contribuiu para o enfraquecimento
da vida urbana público, uma vez que, afastando-se os habitantes do centro da
cidade e criando-se a ideia de jardins particulares - na frente e nos quintais das
casas - que separava a vizinhança e distanciava as pessoas da cidade. Neste
mesmo sentido, a priorização dos deslocamentos feitos por automóveis impulsionou
a segregação entre os habitantes e o centro das cidades.
Cabe aqui pontuar, acerca da cidade de Teresina que se observa uma
tendência, iniciada nos idos dos anos 2000, de algo semelhante ao que acontecerá
na região norte da América, o surgimento de “cidades sem praças” localizadas em
condomínios privados, afastados do centro que corroboram com a não vivência do
espaço urbano público. Do mesmo modo, as “praças sem cidades” localizadas,
especialmente, dentro dos shoppings centers intensificaram o processo de
afastamento do cidadão das ruas da cidade, neste contexto, as cidades foram
tornando-se dispensáveis e os espaços públicos urbanos, as praças, secundárias
na vida dos habitantes.

1.4 Novo Urbanismo

1.4.1 Breve Histórico


Apesar de mesmo as sociedades tradicionais valerem-se de preocupações
estéticas, formais, estruturais, políticas e organizacionais, é apenas após os meados
finais do século XIX que surge uma crítica reflexiva a respeito das cidades. Isso
aconteceu porque as cidades, naquela época, passavam por mudanças
significativas que reformularam o modo e a qualidade de vida dos habitantes -
crescimento demográfico vertiginoso, aprimoramento dos meios de transporte,
transformação dos meios de produção - fazendo com que as cidades
apresentassem uma série de problemas, como o aparecimento de doenças,
dificuldades de locomoção e habitações precárias, que serviram de base para a
elaboração de diversas teorias acerca do planejamento urbano, culminando na
gênese da ciência das cidades, o Urbanismo (Choay, 2013).
É relevante pontuar que mesmo aqueles teóricos intitulados pré-urbanistas -
porque não eram especialistas - já se valiam da relação entre a estrutura urbana e
as questões sociais nela contida. A crítica à reflexão destes pensadores reporta-se
32

às mazelas da sociedade industrial e divide-se em duas vertentes. A primeira


vertente, o pré-urbanismo progressista, entende o homem como um tipo
desassociado do lugar e do tempo que ocupa, portanto, para estes, passam a
pensar a cidade de maneira racional, técnica e científica, a partir do ideal de
progresso (Choay, 2013).
A cidade para os pré-urbanistas progressistas deveria ser um espaço aberto
e intimamente relacionado aos espaços vazios e verdes, com um desenho urbano
ou traçado urbano que favorecesse a prática das atividades ali estabelecidas a partir
da criação de diversas zonas, de habitação, de trabalho, de lazer, além de conciliar
a lógica e a beleza, mas abandonando qualquer vestígio estético do passado. O
segundo modelo, o pré-urbanismo culturalista, por sua vez, enxerga a cidade e seus
habitantes não mais como indivíduos tipo, mas no agrupamento de vários indivíduos
e apregoa uma cidade com limites precisos, formando uma homogeneidade com a
natureza, livrando-se de traçados geométricos, não há, portanto, protótipos neste
padrão de cidade (Choay, 2013).
Choay (2013) mostra que, pelo caráter limitador e repressivo e,
especialmente, pelo distanciamento destas teorias com a realidade sócio-
econômica, tais teorias foram um fracasso. Os primeiros urbanistas, portanto,
diferenciavam-se dos pré-urbanistas por serem arquitetos e, pois, especialistas, mas
essencialmente pela intenção prática de suas teorias. Estes teóricos esbarraram,
porém nas condições econômicas desfavoráveis e, de forma mais moderna,
também se dividem em dois modelos homônimos aos modelos pré-urbanistas:
Urbanismo progressista e Urbanismo Culturalista.
O destaque para as teorias clássicas do urbanismo progressista se vale na
irradiação do pensamento social da cidade, apoiado inteiramente pelos Congressos
Internacionais de Arquitetura Moderna - CIAM que em 1933 lançam a Carta de
Atenas, um manifesto que considerava a cidade um espaço funcionalista que
deveria ser pensado a partir das necessidades dos habitantes, adotando a lógica da
separação da cidade em zonas, da verticalização, criação de áreas verdes e pouca
densidade (Choay, 2013).
Este modelo funcionalista, opõe-se em certa ordem ao modelo culturalista
difundido por Camillo Sitte que defendia a aglomeração urbana em detrimento da
individualidade e o destaque à cultura da cidade (sob a ótica da materialidade
urbana). Assim, os teóricos da cultura reivindicam uma cidade com limites bem
33

marcados, dividida em multi-centros, relacionando-se completamente com o espaço


natural. O mais interessante deste modelo é a preocupação com os fatores
sociológicos e às particularidades de cada sociedade. No entanto, por vezes, perde-
se na utopia de uma cidade subordinada à natureza, recusando-se completamente
à urbanização (Choay, 2013).

A Resposta aos problemas urbanos colocados pela sociedade industrial


não termina nem nos modelos do urbanismo nem nas realizações
concretas que inspiraram. Esses modelos e essas realizações provocaram
uma nova crítica, uma crítica de segundo grau. O movimento começou ao
longo dos anos de 1910, mas foi depois da Segunda Guerra Mundial que
ele conheceu um verdadeiro vôo, ligado à atividade prática crescente do
urbanismo (CHOAY, 2013, p.35)

A cidade do século XX foi objeto de estudo de diversos pesquisadores,


muitos foram os caminhos para compreendê-la, desde a função, as novas
tecnologias, até o estilo de vida do homem moderno. Este período é marcado por
dois aspectos distintos, o aumento populacional e as novas e variadas
necessidades humanas impostas pelo avanço técnico, os meios de transporte, a
comunicação e o ritmo de trabalho. Surge assim, a tecnotopia, o urbanismo
visionário e tecnológico que explora desde cidades subterrâneas, até transportes
coletivos híbridos e automatizados e a antrópolis, um urbanismo que se intenciona
na reintegração de diferentes especialistas na reflexão dos problemas urbanos, ou
seja, resultado do trabalho conjunto de arquitetos, antropólogos, sociólogos, juristas
e historiadores, numa prática que pode ser classificada como urbanismo humanista
(Choay, 2013).
Esta última dimensão do urbanismo assume três tendências que são suas
abordagens metodológicas para compreensão e melhoramento do planejamento
das cidades. A primeira destas dimensões, a localização humana como
enraizamento espaço-temporal busca a leitura urbana através de seu aspecto
histórico, portanto a reflexão urbana só se completa na pesquisa do conjunto de
fatores que se desenvolvem no tecido como a cultura, a relação do homem com as
máquinas, em especial a relação do homem com o automóvel. Assim, a dimensão,
apoiada por Geddes e Mumford, apresenta uma complexidade de problemas
envolvidos na criação e desenvolvimento das aglomerações urbanas da
contemporaneidade, contra as máximas urbanas progressistas e culturalistas que
reduziam tais discussões ao universo tecnológico ou ao universo cultural (Choay,
2013).
34

A antrópolis, como se observa, modificou a maneira de pensar a cidade e os


métodos de planejamento urbano, apresentando outra tendência, “a higiene mental”
que estudava a cidade sob o ponto de vista do comportamento humano. Nesta
abordagem, pensavam os teóricos, o comportamento dos habitantes está
essencialmente ligado às características do meio urbano ao qual estão inseridos,
assim,ao contrário do que pensavam os progressistas, o espaço urbano higienizado
não seriam sozinhos capazes de assegurar sentimentos de segurança ou liberdade,
escolha de atividades positivas e impressão de vida. A participação dos habitantes
da cidade nas tomadas de decisão referentes aos espaços públicos seria para estes
estudiosos - Duhl, Jacobs, Riesman - a tarefa mais urgente do urbanismo (Choay,
2013).
Por fim, a terceira dimensão da antrópolis, a “análise estrutural da
percepção humana” alinha-se à higiene mental e também considera o eco que o
desenho urbano tem sobre o comportamento dos habitantes, entretanto vai além e
discursa sobre a importância de se analisar a cidade a partir da consciência
daqueles que estão em interação com esta, opondo-se à criação de modelos,
enaltecendo o estudo da cidade a partir do conhecimento do juízo feito pelos
habitantes. Defendida por Lynch, esta abordagem torna-se mais complexa à medida
que esta percepção é multiforme, assim como são múltiplos e diferentes os
indivíduos das cidades (Choay, 2013).
Neste sentindo, destaca-se a Carta do Novo Urbanismo, de 1996,
documento que preconiza os ideias de organização de sistemas regionais para que
se evitem o uso e ocupação do solo de maneira dispersa – evitando a cidade
espraiada e, portanto, estimulando uma cidade compacta – bem como, o incentivo
aos transportes coletivos e gestão democrática da cidade. Esta abordagem da
ciência das cidades ganha maior destaque a partir das teorias de Kevin Lynch, Jane
Jacobs e Jan Gehl. A principal obra de Lynch “A Imagem da Cidade” está destacada
na seção cidade deste mesmo capítulo, portanto, adiante serão abordados os
pensamentos de Jacobs e, sobretudo, as ideias levantadas por Gehl.

1.4.2 Cidades para pessoas


Jacobs (2011) denuncia as práticas de planejamento urbano e
reurbanização que assolam as cidades contemporâneas ao confrontar o raciocínio
econômico que apregoa a importância exclusiva do capital para melhoria da
35

qualidade urbana. Assim observa que as práticas de desenvolvimento urbano da


atualidade - que em sua maioria privilegiam o automóvel e o edifício isolado - têm
contribuído, ao contrário do que se esperava, para o empobrecimento dos espaços
públicos das cidades. Portanto, reivindica aos urbanistas e aos pensadores das
cidades que observem a relação que as pessoas têm com o espaço que habitam, e
busquem o afastamento de teorias pré-estabelecidas de planejamento, na
compreensão de que a leitura do tecido urbano é sempre única e diversa.
Nesta perspectiva, as reflexões urbanas se valem muito menos das
técnicas, especialidades e das fontes intelectuais de conhecimento que da
observação, da compreensão e da análise das regiões da cidade, de seus
habitantes e das atividades que estes realizam nos espaços da cidade. Assim é de
relevância ímpar investigar os acontecimentos mais comuns das cidades, como os
habitantes vivenciam os espaços, que comportamentos apresentam e tentar
entendê-los. Do mesmo modo, o estudo da relação entre a aparência dos
equipamentos e mobiliários urbanos e a maneira como eles são utilizados deve ser
encarada como uma forma de ler a cidade, não para que se proponha objetos
esteticamente belos, somente, mas para compreender como os espaços funcionam
(Jacobs, 2011).
Nesta linguagem, a teoria de Jacobs (2011) versa acerca de diversos
elementos da cidade como os passeios, as quadras, os prédios e os bairros. A
atenção aqui será focada naquilo que apregoa acerca dos parques/praças urbanos
e dos usos neles contidos.
É comum à lógica urbana da contemporaneidade conferir aos parques e
praças o título de espaços dotados de qualidade social, “como uma dádiva à
população” (Jacobs, 2011, p.97). O novo urbanismo, porém, inverte esta lógica e
questiona as apropriações, as utilizações que os habitantes das cidades dão à estes
espaços. A partir desta ótica, as análises dos logradouros públicos de convívio
devem permear a ótica da popularidade ou da impopularidade, ou seja, na
compressão do juízo que os cidadãos fazem do referido lugar, assim, o estudo das
praças e parques urbanos deve, portanto, abster-se da lógica normativa de que por
si só garantem o bem-estar social.
Desta maneira, embora as praças urbanas devam ser analisadas caso a
caso, existem alguns princípios gerais que devem ser compreendidos no estudo
destes elementos urbanos. O primeiro destes versa acerca de certos equívocos que
36

fantasiam usos para as praças e parques das cidades, como no exemplo apontado
por Jacobs (2011) - e fantasiado por muitos - de que as praças são os pulmões da
cidade, quando na verdade estes espaços dificilmente contemplam a quantidade de
árvores capaz de produzir dióxido de carbono suficiente para o processo de
respiração humano.
Outro exemplo de equívocos atribuído ao uso das praças está na ideia de
que elas são eficientes na fixação de valores mais altos para os imóveis, posto que
na verdade, por si só, não garante tal estabilização. Estes exemplos corroboram
com a ideia de que as praças das cidades não são intrinsecamente uma dádiva à
população, têm, na realidade, desempenhos instáveis e necessitam da circulação
dos diversos tipos de pessoas e da maneira como a vizinhança nele interfere para
que não se tornem obsoletos e mergulhem na fama de perigosos. Por isso, afirma
Jacobs (2011), uma vizinhança diversa é essencial na composição de uma praça
urbana popular e bem-sucedida, uma vez que propicia uma variedade de usuários
que usufruem do espaço em horários diferentes, conformando uma complexa
sucessão de usos e usuários.

Há, no entanto, uma exceção importante à regra de que é necessária uma


mistura funcional ampla de frequentadores para povoar e dar vida a um
parque de bairro o dia inteiro. (...). Esse grupo é formado pelas pessoas
que têm tempo para o lazer, e não têm responsabilidades domésticas; (...)
são essas as pessoas do (...) parque do submundo. Existe uma grande
aversão aos parques de submundo, o que é natural, já que é difícil engolir a
decadência humana em doses tão cavalares. Também é comum fazer
pouca distinção entre esses e os parques em que há crimes, embora sejam
bastante diferentes (JACOBS, 2011, p.108).

Os parques e praças urbanos, assim sendo, devem ser alimentados por


uma vizinhança diversificada que seja capaz de garantir o uso constante do local
público. Não é, portanto, somente um desenho atraente e vivo, ou uma esplanada
ajardinada e arborizada e uma diversidade arquitetônica que garante a popularidade
das praças, mas a diversidade econômica e social. É evidente que a qualidade
plástica e formal das praças corrobora em conceder à estes o reconhecimento como
lugar de encontro, porém, algumas características não são óbvias e carecem de um
aprofundamento teórico.

A primeira característica inevidente acerca da popularidade das praças e


parques públicos diz respeito à sua singularidade. Segundo Jacobs (2011) os
habitantes das cidades são incapazes de usufruir e dar vida a uma grande
37

quantidade de espaços de lazer, ou seja, a popularidade de uma praça está


intimamente ligada à falta de concorrência com outras áreas livres. Portanto,
assegura que as praças apaixonantes são aquelas que além de possuir diversidade
de uso e usuários, não permitem que os usuários de dispersem entre outras praças
com características similares. Desta maneira, destaca quatro elementos que fazem
a diferença na generalização das praças, permitindo atrair um número maior de
tipos de pessoas.

O primeiro destes elementos, a complexidade, diz respeito às possibilidades


de usos existentes nas praças e parques urbanos, portanto, estes espaços devem
permitir usos diferentes e em horários variados através de mudanças sutis no
cenário do logradouro, como pisos, conjunto de árvores e desníveis. O segundo
elemento, centralidade, relaciona-se ao reconhecimento, por parte dos
frequentadores, de um centro e um local de destaque que permite, mentalmente, a
sensação de deslocamentos, de mudanças de paisagem. Do mesmo modo, a
insolação, ou a sombra em cidades e períodos quentes - o terceiro elemento de
generalização das praças - faz parte desta conjuntura e em conjunto à delimitação
espacial, ou o quarto elemento desta tese, funcionam como aspecto de atração das
pessoas ao espaço, uma vez que criam uma forma definida, destacando o espaço
no meio urbano e permitindo o uso irrestrito das pessoas nas mais variadas épocas
do ano, transformando estes espaços no primeiro plano de visão (Jacobs, 2011).

Algumas outras características são apontadas por Jacobs (2011) como


atrações na conformação de bons parques e praças de bairros, por exemplo, a
qualidade estética, o comércio, o uso da música e da vida cultural e, como
denominado na tese, atividades menores como aluguel de bicicletas ou outras
práticas esportivas e parquinhos infantis. Portanto, devem ser evitadas as praças
extensas, monótonas, mal localizadas, compreendendo que estes espaços não são
em si um conjunto de avanços urbanos e que nada significam sem a presença das
pessoas que dele usufruem e vivenciam.

Quanto mais a cidade conseguir mesclar a diversidade de usos e usuários


do dia a dia nas ruas, mais a população conseguirá animar e sustentar com
sucesso e naturalidade (e também economicamente) os parques bem-
localizados, que assim poderão dar em troca à vizinhança prazer e alegria,
em vez de sensação de vazio (JACOBS, 2011, p.121).

A dimensão humana, ou seja, a iniciativa de se propor um planejamento


38

urbano que tenha foco nos usuários da cidade é uma ideia também defendida por
Gehl (2013) que alerta acerca da baixa prioridade dada aos pedestres e aos
espaços urbanos como locais de encontro, comuns a quase todas as cidades,
independente de sua localização, economia e grau de desenvolvimento. Nesta ótica
atesta que o vertiginoso aumento no número de automóveis em todo o mundo,
modificou a lógica urbana, a partir dos anos de 1960, iniciando um processo de
esvaziamento do tecido urbano, onde as pessoas já não podiam circular livremente,
pelos espaços públicos, devido à grande quantidade de carros. Em paralelo, a
ideologia urbanística do movimento moderno - que agrupa os usos da cidade em
setores comercial, residencial, escolar, hospitalar e rejeita o espaço urbano, focando
atenção nos edifícios isolados - é também vista, atualmente, como outro fator de
esvaziamento urbano, resultando em uma cidade em que o foco do
desenvolvimento não está centrado nas pessoas.

A partir desta análise, o novo urbanismo propõe que a base do


planejamento das cidades seja a melhoria das condições urbanos para os
pedestres, assumindo uma ligação precisa entre a qualidade dos espaços das
cidades e os padrões de usos neles dispostos. Desta maneira, aponta Gehl (2013)
que a conclusão geral é a de que melhorar os espaços públicos ajuda a garantir o
uso adequado das cidades pelos habitantes, tendo o fato de as pessoas se sentirem
atraídas a caminhar e permanecer nos espaços como ponto de partida das novas
concepções de planejamento urbano.

Neste sentido, a concepção de cidade para pessoas busca o projeto de


cidades que tenha como ponto de partida a mobilidade e os sentidos humanos,
entendendo que esta tarefa garante a qualidade do comportamento e da
comunicação das pessoas no espaço urbano. Para tanto, apresenta aquilo que hoje
é chamado “campo de visão social”, qual seja a distância de 100 (cem) metros para
o desenho de praças de bairros porque, segundo Gehl (2013), esta é a distância
adequada para que seja possível a observação das atividades ali dispostas, bem
como das pessoas ali presentes, tornando-se possível a troca de experiências entre
os frequentadores.

Enquanto a rua sinaliza movimento - “por favor, siga em frente”-,


psicologicamente a praça sinaliza permanência. Enquanto o espaço de
movimento diz “vá, vává”, a praça diz “pare e veja o que acontece aqui”. (...)
Os componentes básicos da arquitetura urbana são o espaço de
39

movimento, a rua, e o espaço de experiência, a praça. (GEHL, 2013, p.38)

Esta mesma abordagem teórica apresenta ainda diferentes formas de


comunicação que ocorrem nos ambientes públicos da cidade e os classificam, em
quatro níveis, de acordo com as diferentes distâncias existentes. A primeira delas, a
distância íntima - de 0 (zero) a 45 (quarenta e cinco) centímetros - é considerada um
intervalo onde ocorrem as emoções mais fortes, raramente expressadas em
espaços públicos. A distância pessoal - de 45 (quarenta e cinco) a 120 (cento e
vinte) centímetros - diz respeito ao contato entre amigos, é a partir deste intervalo
que as conversas públicas acontecem. Do mesmo modo, a distância social - que
atinge os 3,70m (três metros e setenta centímetros) - permite conversas mais
informais e comuns. Por último, a distância pública - acima dos 3,70m (três metros e
setenta centímetros) - é o intervalo que permite que as pessoas participem das
atividades urbanas, como assistir a um artista de rua, ou descansar, sem que para
isso precise estar em contato direto com outras pessoas (GEHL, 2013).

A análise das distâncias nos espaços se mostra importante porque este rigor
métrico serve de termômetro para a análise das formas de apropriação existentes
nos lugares, uma vez que a comunicação entre pessoas faz uso constante da
distância e do espaço. Ora, a distância é importante na construção do sentimento de
segurança, na facilidade ou não dos deslocamentos, “sempre que fisicamente
possível, o indivíduo busca manter uma distância curta, porém vital, que mantém a
situação segura e confortável” (GEHL, 2013, p.49), portanto, a escala humana deve
ser a métrica no desenho de ruas e praças da cidade.

Neste processo de organização das cidades a partir da escala humana o


espaço público deve ser pensado para sustentar atividades que reforçam a vida
urbana - pedaladas, caminhadas, comércio, arte de rua, etc - dado que as pessoas
são atraídas aos locais que outras pessoas estão presentes e que exista a
possibilidade de se realizar diversas atividades.Assim, para a construção de cidades
para pessoas é preciso estimular o tráfego de pedestres e compreender a escala do
corpo humano.

O novo urbanismo, assim sendo, dispara que a cidade para pessoas é uma
cidade viva, ou seja, aquela que emite sinais amistosos e acolhedores na promessa
de interação social, portanto, os espaços públicos que possuem a presença de
40

pessoas já são por si só um indicativo de que o local possui qualidades urbanísticas.


Não se pode, porém, reduzir a experiência da vitalidade das cidades à quantidade
de pessoas que usam os espaços, é importante que haja uma variedade de
atividades sociais possíveis e que exista a sensação de convite e de espaço
popular, criando assim um espaço com significado.

Cidades convidativas devem ter um espaço público cuidadosamente


projetado para sustentar os processos que reforçam a vida urbana. (...) “As
pessoas vão aonde o povo está” diz um provérbio comum na Escandinávia.
Naturalmente, as pessoas se inspiram e são atraídas pela atividade e
presença de outras pessoas. (GEHL, 2013, p. 65)

A partir desta ótica, o entendimento é de que as atividades e os usos


existentes nas cidades estão diretamente ligados aos convites que o espaço urbano
faz aos seus habitantes, portanto, as palavras-chave para um planejamento urbano
que visa à melhoria dos espaços para as pessoas são possuir rotas diretas e
lógicas, espaços de dimensões modestas e uma clara hierarquia dos espaços. A
conclusão é de que, para que os espaços públicos sejam atrativos para os mais
diversos tipos de pessoas é preciso a combinação de espaços físicos bons,
convidativos e o tempo gasto pelos usuários nos espaços públicos (Gehl, 2013).

É preciso ainda frisar que para que se desenvolva uma cidade viva, outros
fatores devem ser considerados, como a segurança e proteção dos usuários e a
sustentabilidade social. “Sentir-se seguro é crucial para que as pessoas abracem o
espaço urbano”, aponta Gehl (2013, p.91). Portanto, a prevenção à criminalidade e
a segurança no trânsito de pedestre são essenciais no sucesso dos espaços
públicos, pois garantem o bem-estar físico e mental daqueles que tomam a cidade.
Como resultado deste processo de segurança, a caminhada deve ser livre de
obstáculos e paradas para que os pedestres possam coexistir com outras formas de
locomoção, criando assim cidades funcionais; além disso, o resultado deve ser uma
cidade protegida da criminalidade, entendendo que muitas vezes esta é um reflexo
de uma sociedade desigual com profundas raízes nas condições sociais (Gehl,
2013).

Do mesmo modo, a sustentabilidade social é pré-requisito fundamental na


consolidação das cidades para pessoas, uma vez que parte do ideal de dar aos
mais diversos grupos da sociedade oportunidades iguais de acesso ao espaço
41

público. Ora pois, a exigência é, portanto, um espaço acessível que sirva como local
de encontro para os tipos diferentes de habitantes da urbe.

Para alcançar a sustentabilidade social, as tentativas das cidades devem


extrapolar as estruturas físicas. Se a meta é criar cidades que funcionem,
os esforços devem concentrar-se em todos os aspectos culturais menos
óbvios, que pesam na forma como percebemos os bairros e as sociedades
urbanas (GEHL, 2013, p.109)

Em resumo, o princípio do novo urbanismo de cidades para pessoas almeja a


reunião, integração e convite das pessoas aos espaços públicos, bem como do
fortalecimento da cidade enquanto local de encontro e da sociabilidade urbana. Para
tanto se apóia na restauração das cidades e dos centros urbanos pré-existentes em
paralelo à requalificação das periferias e dos bairros deslocados dos centros, bem
como da preservação do ambiente natural e da salvaguarda do patrimônio cultural.
Assim, advoga por cidades com estruturas físicas adequadas, estabilidade
econômica e respeito às diversidades sociais.
42

2 METODOLOGIA

2.1 Introdução

Prodanov e Freitas (2013) postulam que cada ciência deve utilizar


determinados procedimentos para que se alcancem os objetivos propostos, se
respondam os problemas norteadores e se verifique a hipótese levantada. Por isso,
nesta seção do texto serão apresentados e descritos os procedimentos
metodológicos e as técnicas que serão adotadas nesta pesquisa, sua tipologia,
instrumentos e participantes que visam a coleta e o processamento dos dados
levantados, bem como da análise destes dados.

2.2 O método

Partindo deste ponto de vista, o conjunto de processos empregados nesta


pesquisa caracteriza-se como método etnográfico ao propor um estudo da Praça
Marechal Deodoro ao longo do tempo, com participação inclusiva do pesquisador no
processo de pesquisa, a partir do contato direto com os dados, o campo, as
pessoas envolvidas e o fenômeno. A intenção desta abordagem, como aponta
Rocha e Eckert (2012), é a de conhecer o Outro, ou seja, conhecer o objeto
estudado, orientando-se pelas questões conceituais e metodológicas das teorias
sociais.

É frequente afirmar que método etnográfico é o que diferencia as formas de


construção de conhecimento em antropologia em relação a outros campos
de conhecimento das ciências humanas. Compõe-se de técnicas e
procedimentos de coleta de dados associados a uma prática do trabalho de
campo, a partir de uma convivência mais ou menos prolongada do(a)
43

pesquisador(a) junto ao grupo social a ser estudado (ROCHA; ECKERT,


2012, p.53)

Com este procedimento metodológico, busca-se o afastamento do


pesquisador de suas próprias prerrogativas, com a finalidade de observar as
diversas apropriações do espaço, livre de pré-julgamentos e participando
efetivamente da realidade investigada. Assim, o trabalho de campo constitui-se na
principal ferramenta de análise das identificações pessoas ali encontradas. Portanto,
a observação direta, instrumento presente nesta pesquisa, visa ao estudo e
aprofundado das percepções sociais da Praça e os contrastes sociais, culturais e
históricos evidenciados através de sua observação.

Além da pesquisa de campo, a pesquisa sobre o significado social da Praça


e sua trajetória como lugar social foi realizada através de pesquisa documental e
bibliográfica. Material reunido com o propósito de fazer levantamento do processo
histórico de construção da Praça, as mudanças que ela sofreu, apoiado em
cartografias e iconografias – mapas, plantas-baixa e fotos – utilizadas no processo
da construção. Esta etapa é defendida por Marconi e Lakatos (2004) como um
processo de compreensão do universo pesquisado e, alerta, para a escolha
cuidadosa dos documentos analisados, na busca por fontes seguras e confiáveis,
para tanto, foram analisados, nesta pesquisa, documentos do arquivo público (o
arquivo público de Teresina localiza-se na Praça Marechal Deodoro), bem como dos
órgãos responsáveis para manutenção dos espaços públicos da capital, como a
prefeitura e o Iphan.

Nesta etapa da pesquisa, a iconografia assumiu relevância, pois, como


aponta Hedgecoe (2012), somos seres visuais e, por isto, a fotografia nos serve
como fala e aponta uma mensagem que pode ser compreendida sob diversas
óticas. Assim, a prática contribuiu na consolidação dos resultados da pesquisa, uma
vez que complementou o instrumento da fala que, no universo do urbanismo, serve
para identificar leituras e percepções dos espaços da cidade.

Foram as visitas à Praça, porém, o principal método de pesquisa explorado


nesta obra. Realizadas durante todos os dias da semana (o tempo de visita variava
de acordo com as respostas obtidas e as observações feitas, buscou-se não
exceder uma entrevista por visita, na tentativa de demonstrar a importância dos
44

encontros) nos turnos manhã, tarde e noite – cabe ressaltar que os momentos de
observação (sem entrevistas) duraram entre meia hora e duas horas e meia,
objetivando-se em permanências curtas e longas que ao final do experimento
mostraram-se importantes na diversificação da amostragem. A pesquisa de campo,
teve como objetivo distinguir as mudanças no espaço conforme o dia da semana e o
horário do dia, observar o perfil daqueles que ocupam a Praça em diversos tempos,
as formas de interação no e como espaço e a qualidade das relações sociais. Nesta
etapa da pesquisa, notas e relatos de experiências observadas foram registrados
em caderno de campo e áudios gravados, observou-se ao longo do processo que a
técnicas da gravação de áudios atraia menos olhares e, portanto, foi adotada como
técnica principal, deixando o caderno de campo somente para os momentos de
entrevista. Desta ótica, buscou-se apreender as dinâmicas sociais que se
desenvolvem na Praça cotidianamente, desvendando o sistema simbólico que
emana daqueles atores sociais entrelaçados pela Praça. Marconi e Lakatos (2004),
observam, sobre este método que objetivo deve ser o de coleta de informações e
(re)conhecimento do problema, portanto, não é um levantamento simples das
práticas e discursos, mas uma observação com objetivo claro e preestabelecido que
visa responder a questão problema.

Para Rocha e Eckert (2012), a etnografia, neste sentido, permite que o


pesquisador se aproxime do “estanho”, e torne-o familiar. No caso da Praça
Marechal Deodoro, buscou-se aproximação àqueles que fazem dela palco de suas
apropriações, desenvolvendo formas de pertencimento e construindo realidades
específicas. A pesquisa considerou a relação entre o meio e o sujeito que dele se
apropria, ou seja, conectou a materialidade do espaço da Praça Marechal Deodoro
com a subjetividade de seus usuários. Neste sentido, é uma pesquisa de cunho
qualitativo em que o ambiente natural é a fonte direta de levantamento de
informações, com base no qual se retrata o maior número possível de elementos
existentes dentro do espaço em questão (ROCHA; ECKERT, 2012)

Vale destacar, ainda, que a pesquisa se caracterizou pelo seu caráter


descritivo, ou seja, debruçou-se sob o registro dos fatos, visando menor
interferência do pesquisador, com objetivo à descrever das características das
formas de apropriação existentes no logradouro-estudo tal qual elas se apresentam.
“Procura descobrir a frequência com que um fato ocorre, sua natureza, suas
45

características, causas, relações com outros fatos” (ROCHA; ECKERT, 2012, p.53),
sem que, para isto, o pesquisador precise interferir no meio. Marconi e Lakatos
(2004) denominam este tipo de pesquisa como exploratória, à medida que se busca
a familiaridade com o local pesquisado, descrevendo o local de maneira qualitativa,
ou seja, a partir de seus aspectos técnicos e formais, mas também, a partir de seus
aspectos não-formais, sociais.

Para complementar as observações e os apontamentos no diário de campo


e nos registros visuais, outro instrumento de pesquisa utilizado foi a técnica da
entrevista. As entrevistas foram suporte para as análises de observação, uma vez
que se constituem em valioso processo de compreensão do espaço social.
“Devemos estar abertos ao que o campo nos traz”, como aponta CADDAH (2012).
Assim, a análise destes discursos revelou o que há de mais pessoal na apropriação
individual dos espaços, os sentidos, as relações imponderáveis. Os depoimentos
expõem, do mesmo modo, os significados das práticas sociais estabelecidas nos
espaços, uma vez que são sempre carregadas de motivações diversas, que a
observação pode não absorver de maneira totalizante, visto que a realidade é “fluida
e diversa” (CADDAH, 2012).

As entrevistas foram realizadas de forma individual e em grupo, obedecendo


a exigência dos entrevistados (profissionais do sexo, por exemplo, pediram para ser
entrevistas em conjunto) intencionaram-se na obtenção de dados não revelados a
partir das observações realizadas pelo pesquisador nas visitas à Praça, como os
discursos acerca das diversas maneiras de apropriação e ocupação da Praça
enquanto configuração espacial. “É um procedimento utilizado na investigação
social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de
um problema social” (MARCONI; LAKATOS, 2004, p.95). Este foi um importante
instrumento da pesquisa social, pois foi capaz de expor dados obtidos diretamente
do local da pesquisa para averiguação de fatos e conhecimento de opiniões,
impressões espaciais, históricas e sociais.

Aqui foram empregadas entrevistas semi-estruturadas buscando a resolução


dos objetivos e permitindo que fossem feitas comparações entre as diferentes
respostas para a mesma questão, expondo os diversos pontos de vista, revelando o
perfil daqueles que estão em interação com a Praça e suas impressões acerca do
46

objeto. Estas entrevistas, no entanto, permitiram a resposta livre o que possibilitou


desenvolver novas perguntas no momento da aplicação, respeitando o roteiro pré-
estabelecido, mas possibilitando esclarecimentos e uma conversa menos formal
quando necessária. Desta maneira, algumas informações acerca da percepção da
história da Praça e dos elementos que a compõe puderam ser capturadas sem que
estivessem previamente estabelecidas, por exemplo, nomes de personalidades,
dificuldades dos trabalhadores, inseguranças, desta maneira, estabeleceu-se uma
diálogo com maior confiança, permitindo aos entrevistados que contassem histórias
que partiam de suas próprias experiências.

2.3 A fase piloto da investigação

A pesquisa piloto teve como objetivo levantar os primeiros dados e realizar as


primeiras observações de campo, assim sendo, este pesquisador realizou visitas à
prefeitura de Teresina e ao Iphan para coletar os primeiros materiais fotográficos e
documentos textuais e não-textuais nos meses de janeiro a maio de 2018. Junto à
estes órgãos foram recolhidos materiais bibliográficos de caráter histórico,
fotografias de diversos períodos da história, bem como, plantas-baixas e
levantamentos arquitetônicos da Praça e de edificações localizadas no seu interior e
entorno imediato, alguns destes documentos encontram-se nos Anexos deste
trabalho.

As pesquisas de campo foram realizadas nos meses de janeiro a março, nos


períodos diurno e noturno. Esta fase da pesquisa foi importante pois revelou os
horários de maior fluxo de pessoas, entre as 07:00 e 09:00 horas da manhã e no
final da tarde, principalmente devido ao horário de abertura e fechamento do
comércio, mas também pelo horário de entrada e saída das escolas da região. O
intervalo destes horários tem frequência reduzida, porém ainda intensa com
exceção para o período noturno em que a Praça encontrava-se fechada (na
segunda etapa da pesquisa a Praça passou a permanecer aberta a noite). Portanto,
as demais visitas ocorreram sempre no período diurno e priorizados os horários de
maior fluxo de pessoas. Nestas visitas, foram apuradas as primeiras impressões do
espaço, bem como do perfil de seus frequentadores, as atividades ali encontradas e
o gerenciamento do ambiente.
47

A fase piloto desta pesquisa serviu para testar a metodologia pretendida e,


especialmente, para experimentar o instrumento de entrevista e a viabilidade da
técnica de observação e de abordagem mais adequada. A pesquisa de campo piloto
ocorreu em duas fases: entrevista aberta com duas frequentadoras da praça e com
um ex-prefeito da capital e; questionário mais entrevista com questões abertas e
fechadas. “Ambos constituem técnicas de levantamento de dados primários e dão
grande importância à descrição verbal de informantes” (PRODANOV; FREITAS,
2013, p.105).

Esta primeira testagem foi fundamental para a consolidação dos


procedimentos metodológicos usados no decorrer da pesquisa, pois permitiu ao
pesquisador definir a melhor abordagem e critérios a serem utilizados no estudo,
quais sejam, formas de diálogo, mecanismos de defesa, definição dos possíveis
participantes, horários mais apropriados para entrevistas/horários mais apropriados
para observações e deficiências encontradas.

2.4 A segunda fase da pesquisa

Este trabalho permite ao leitor perceber a Praça Marechal Deodoro – a


Praça da Bandeira – e seu entorno, a partir de entrevistas e breves relatos
levantados em observações e diálogos com aqueles que estão em interação diária
com o referido espaço. A utilização de dissertações, teses, livros e demais
publicações já existentes e que versam sobre a Praça e seu entorno, foi de
fundamental importância para que se delineassem os traços históricos que fazem
parte do objeto deste estudo. Esta investigação, porém, lança o olhar sobre aqueles
que raramente têm suas vozes coletadas e que dialogam com a história de Teresina
por uma vertente ainda pouco explorada pelos estudiosos da Cidade, os habitantes
do lugar. Esta proposta flerta com a história oral que “devolve a história às pessoas
em suas próprias palavras. E ao lhes dar um passado, ajuda-as também a caminhar
para um futuro construído por elas mesmas.” (THOMPSOM, p.337).

Na segunda fase do estudo, portanto, foram finalizados os levantamentos e


feitas às análises das informações coletadas e pertinentes na resolução das
questões problemas, expostas anteriormente como objetivo geral e objetivos
específicos aqui reapresentados: Qual a relação entre os diferentes usos e formas
48

de apropriação existentes na Praça Marechal Deodoro e o conceito de Cidade para


Pessoas? Qual a percepção que frequentadores da Praça têm em relação a este
espaço público? Quais transformações nas práticas sociais podem ser percebidas
ao longo da história da Praça? Que significativas mudanças formais/estruturais se
apresentam no referido logradouro?

Para tanto, optou-se pela abordagem qualitativa, tomando como base


fundamental nesta pesquisa os depoimentos do atores sociais presentes na Praça.
Assim, somando-se à esta abordagem a observação direta das formas de uso e
apropriação do espaço da Praça e do seu entorno imediato, escolheu-se por
trabalhar seguindo três etapas: A primeira etapa constituiu-se no levantamento dos
dados históricos institucionalizados e das transformação sócio-espaciais que
ocorreram na Praça. A segunda etapa debruçou-se sobre as entrevistas e na
observação direta do espaço. A terceira etapa, por fim, consolidou-se na análise dos
dados e depoimentos coletados.

Foram levantados, portanto, junto à Prefeitura Municipal de Teresina e ao


Iphan, documentos, imagens e publicações que revelaram as transformações nas
formas de usos e apropriação da Praça, porém, nesta segunda fase da pesquisa a
construção de sentindo deu-se, principalmente através da aplicação de questionário
com perguntas abertas e fechadas (Apêndice A) com os frequentadores daquele
espaço. Esses instrumentos, revisados a partir dos resultados obtidos na fase piloto
da pesquisa, visaram a melhor aplicação e, em conseqüência, resultados assertivos.

A história oral apresentou-se como possibilidade na realização dos objetivos


desta pesquisa, uma vez que esta busca ouvir e registrar vozes daqueles sujeitos
que pouco participam da história oficial, portanto, a análise da história e o diálogo
com os atores sociais ali presentes é uma forma de inseri-los na história da cidade
de Teresina.

A história oral preocupa-se, fundamentalmente, em criar diversas


possibilidades de manifestação para aqueles que são excluídos da história
oficial, tanto a “tradicional” quanto a contemporânea, e que não possuem
formas suficientemente fortes para o enfretamento das injustiças sociais.
(GUEDES-PINTO, 2002, p.95)

Desta maneira, as entrevistas serviram como consolidação da observação


direta, à medida que refletiam em palavras aquelas análises previamente realizadas
49

pelo autor. Vale ressaltar que, apesar do interesse do pesquisador e do cuidado


para realizar abordagens amigáveis, o contato com os usuários da Praça da
Bandeira nem sempre foi bem sucedido, revelando o método etnográfico como
grande suporte para consolidação metodológica desta pesquisa.

Segundo Rocha e Eckert (2013), o método etnográfico caracteriza-se pela


coleta de dados associados à prática da pesquisa de campo em que o pesquisador
se inter-relaciona com o objeto ou sujeitos pesquisados, ou seja, a partir da
convivência entre pesquisador e o grupo social pesquisado. Assim, a observação
direta, as conversas informais e as entrevistas formam juntos os procedimentos
metodológicos que sustentam esta pesquisa. Tais recursos permitem o “exercício do
olhar(ver) e do escutar(ouvir)” que impõem distanciamento necessário para que a
bagagem cultural do pesquisador não interfira na análise dos fenômenos
observados.

Assim, nesta fase da pesquisa foram realizadas novas saídas exploratórias


que ocorreram nos três turnos do dia, respeitando os mesmo critérios apresentados
na fase piloto, porém, agora não mais como forma de conhecer o espaço estudo,
mas na intenção de desvendar as realidades sócias ali contidas, os porquês dos
usos (Por que as profissionais do sexo fazem deste espaço local de trabalho? Com
que freqüência os ambulantes trabalham na Praça? Quais qualidades observam
aqueles que utilizam a Praça como descanso, etc), as necessidades cotidianas, os
conhecimentos históricos.

Foi neste processo de resolução dos porquês dos fatos ali observados que
se estabeleceu relação de confiança entre o pesquisador e os atores sociais que,
diferentemente da fase piloto, contribuíram para a pesquisa com livre
consentimento, uma vez que a relação tornou-se cotidiana. “A interação é condição
sine qua non” (ROCHA E ECKERT, 2013, p. 55) e, desta maneira contribuiu para
que as entrevistas ocorressem com mais facilidade, tornando o diálogo menos
formal e direto. Logo, foi nesta etapa que a maior parte das entrevistas foram
realizadas – 6 (seis) entrevistas, totalizando 9 (nove) entrevistados, somado a este
número 1 (um) descarte1.

1
O descarte será discutido adiante no texto.
50

A pesquisa de campo etnográfico consiste em estudar o Outro como


Alteridade, mas justamente para o conhecer. (...) A pesquisa se inicia pela
aprovação de um projeto cujas intenções teóricas e categorias
antropológicas fundamentem as etapas do desenvolvimento do trabalho de
campo (...) O consentimento implica saber quando e onde ir, com quem e o
que falar ou não, como agir diante de situações de conflito e risco. (ROCHA
E ECKERT, 2013, p. 58)

Desse modo, foi ainda nesta segunda fase da pesquisa que as


explorações de campo solitárias, deram lugar às explorações acompanhadas.
Percebeu-se ao longo do processo de escuta e observação que os entrevistados
sentiam-se mais à vontade quando o diálogo ocorria informalmente e, por isso, a
presença de um terceiro ajudou no processo de transformar o momento numa
experiência menos engessada, mais amigável, como numa descoberta do tom da
conversa, da maneira como falar, superando barreiras de linguagem,
comportamento e por isso, permitindo coletas de dados mais sólidas e complexas.

Estas entrevistas ocorreram de maneira espontânea, geralmente a partir


de diálogos iniciais que não foram registrados, seguidos de pedido para participar
da pesquisa. Neste estágio poucos se recusaram a participar do processo de coleta
de entrevistas, e, em dois casos se voluntariaram a participar. Vale destacar que as
conversas que não evoluíram para entrevistas, foram registradas em diário de
campo, em momento posterior, recriando os fenômenos, naquilo que Darcy Ribeiro
chamou de aproximação entre a antropologia e a literatura. Para estes casos, os
diários de campo foram gravados pelo pesquisador e depois transcritos para o
computador.

Após cada mergulho no trabalho, retornando ao seu cotidiano, o


profissional necessita proceder ao registro escrito de seus diários de
campo. Os diários íntimos dos antropólogos trazem farta bibliografia sobre
os medos, receios, preconceitos, dúvidas e perturbações que os moveram
numa cultura com relação à compreensão da sociedade por eles
investigada. Trata-se de anotações diárias do que o(a) antropólogo(a) vê e
ouve entre as pessoas com que compartilha um certo tempo de suas vidas
cotidianas. (ROCHA E ECKERT, 2013, p. 71)

O diário de campo, resultado destas observações e escutas serviram,


desta maneira, no aprimoramento das formas de abordagem, dos horários de visita,
do encadeamento das ações futuras, bem como, da melhoria do instrumento de
entrevista. As formas de abordagem foram modificadas porque, notou-se certa
desconfiança, por parte dos atores sociais, de que a pesquisa não era uma
51

investigação para algum órgão público de fiscalização comercial, assim, a partir


deste momento, muitas entrevistas foram realizadas na companhia de outras
pessoas, inclusive de outros colegas pesquisadores. Em paralelo, modificações na
linguagem e na construção das perguntas foram necessárias, uma vez que muitos
entrevistados não entendiam as indagações e esboçavam intenção de contar suas
próprias versões dos acontecimentos presentes naquele espaço. Os horários de
visita foram reduzidos, adequando-se aos horários combinados com alguns
entrevistados, que se tornaram parceiros da pesquisa.

A etapa final desta pesquisa consistiu na análise e apresentação dos fatos


ocorridos, levando em consideração encontrar resposta para a pergunta problema:
em que medida os diferentes usos e formas de apropriação existentes na Praça
Marechal Deodoro, em Teresina-PI, relaciona-se com o conceito, apresentado pelo
novo urbanismo, de Cidades para Pessoas? Assim sendo, nesta etapa buscou-se
recriar as cenas e apresentar as entrevistas como uma narrativa literária, de modo a
apresentar os fatos sociais numa espécie de romance.

No capítulo a seguir será apresentada a história da cidade de Teresina,


bem como a história da Praça Marechal Deodoro, a Praça da Bandeira, este
capítulo dá sequência a pesquisa e começa a apresentar o objeto de estudo da
dissertação.
52

3 HISTÓRIAS QUE SE ENTRELAÇAM: PRAÇA E TERESINA

Conforme os postulados teóricos apresentados no capítulo 1 (um), a cidade


e seus espaços públicos são construídos pelas relações sociais que neles se
desenvolvem ao longo de várias gerações. Sendo a arquitetura dos lugares fruto
das expressões sociais de uma determinada cultura, em um contexto histórico
determinado. Inspirado nesse pressuposto se coloca a importância de estudar a
história da fundação da cidade de Teresina, a construção do patrimônio
arquitetônico da cidade e as relações sociais que se tecem em torno dele,
destacando o que tem representado a Praça Marechal Deodoro da Fonseca ao
longo da história da cidade. Portanto, o texto remete a elementos materiais e
humanos que compõem esse universo e os significados sociais da Praça em
diversos momentos históricos de Teresina.

Com a revisão histórica de Teresina pretende-se compreender quais foram as


configurações econômicas, sociais, políticas, religiosas em que se sustenta a
construção do patrimônio da cidade e sua situação atual. Não se pretende aqui
rememorar os acontecimentos de desbravamento, colonização e política numa
tentativa de construir uma memória institucionalizada da capital, nem mesmo da
Praça, “a memória coletiva não se confunde com a história” (HALBWACHS, 2006.
P.89). A proposta é salientar os fatos que permitam apreciar as transformações
sociais vivenciadas ao longo da história teresinense.
53

Em seguida, para compreender o contexto onde se desenvolve o estudo, a


funcionalidade deste espaço e as relações sociais estabelecidas entre os que
usufruem da Praça, no próximo item serão apresentados os elementos físicos e
sociais que compõem a Praça, seus equipamentos, mobiliários urbanos, vegetação,
edificações e o movimento de veículos e de pessoas em torno dela. Em suma, os
usos e apropriações deste espaço público.

3.1 A Capital de Saraiva

Os trâmites políticos orientados à fundação da cidade de Teresina


ocorreram em Piauí, por volta de 1800. Para entender este contexto histórico e
social cabe assinalar os acontecimentos anteriores ao surgimento da cidade
planejada. Segundo Santos e Kruel (2009), em 1718, o capitão Domingos Afonso
Mafrense2 - principal colonizador da sesmaria3 - ocupou as terras que hoje formam o
território piauiense e que mais tarde viria a se desenvolver graças à ação dos
padres jesuítas na área da pecuária. Esta colonização difere da colonização em
outros territórios nordestinos, ao estar localizada no interior do estado, não no litoral.
Ainda hoje, a cidade de Teresina é conhecida pelo sobrenome do capitão,
marcando a importância deste personagem emblemático na cultura da capital, o
“solo Mafrense”.

No início do século XVIII, o Piauí foi elevado à categoria de Capitania4,


separando-se da Capitania do Maranhão em 1762, após a carta régia5 que
autorizava a criação de vilas. A Vila da Mocha – onde se desenvolvia uma
população instalada próxima à paróquia de Nossa Senhora da Vitória (FIGURA 2) –
se transforma, então, na capital do Piauí e recebe o nome de Oeiras (FIGURA 3).

2
Capitão Domingos Afonso Mafrense – Explorador do sertão piauiense.
3
Sesmaria – Instituto jurídico português que normatizava a distribuição de terras destinadas à produção no
Brasil colônia.
4
Capitania – Foi uma forma de administração territorial do império português delegou a tarefa de
exploração e colonização a determinadas áreas particulares do Brasil.
5
Carta Régia - Documento oficial assinado por um monarca que segue para uma autoridade, sem passar por
chancela, geralmente contendo determinações gerais e permanentes.
54

Figura 2 - Igreja Nossa Senhora da Figura 3 - Mapa de Oeiras, Século


Vitória XVIII

Fonte: WalberAngeline (2012) Fonte: Arquivo Público de Teresina

Poucos anos depois, em 1798, de


deram-se
se as primeiras manifestações de
mudança da capital do Piauí, quando o então governador João Amorim Pereira,
encaminhou ofícios ao ministro, D. Rodrigo de Sousa Coutinho pedindo a
transferência da sede da capitania para a Vila de São João da Parnaíba. Vila
situada no litoral, o qual facilitaria o escoamento das produções da capitania para
outras localidades; ou ainda próximo do Rio Poti e do Rio Parnaíba (SANTOS;
KRUEL, 2009).

Contudo, em 1845, sancionou


sancionou-se
se uma lei que transferia a capital não para
São João da Parnaíba, mas para a Vila de São Gonçalo, atual Regeneração, que
não foi executada pelo então presidente da província Zacarias de Goés. Em 1850,
contrariando mais uma vez alguns interesses, o presidente da capitania autorizou a
construção da Matriz de Nossa Senhora do Amparo na barra do Poti e foi então que:

No dia 14 de agosto de 1852, Saraiva chegou a Teresina. Com rapidez


admirável Saraiva instalou as repartições públicas na nova capital. Mandou
ofício para cada presidente de província, a 16 de a agosto de 1852,
comunicando a transferência da capital e do corpo administrativo.
(SANTOS; KRUEL, 2009, p.91)

Segundo Brandão (1995) a importância da transferência da capital para a


Chapada do Corisco – como era chamada a capital naquela época – se dava pela
proximidade com o mar, pela possibilidade de navegação fluvial pelo Rio Parnaíba,
além das áreas férteis para agricultura. É preciso ainda frisar que a mudança da
capital para a chapada tirava da cidade de Caxias, na capitania do Maranhão, os
55

impostos referentes às produções de toda a área central dos dois estados. Assim,
com a capital instalada às margens dos rios Poti e Parnaíba os impostos das
produções do Piauí permaneceram no estado.

3.2 A História da Praça Marechal Deodoro

Saraiva nomeou o mestre-de-obras João Isidoro França para edificar os


prédios públicos e projetar o traçado da nova cidade – nomeada Teresina, em
homenagem à imperatriz do Brasil, D. Teresa Cristina. Segundo Silva (2007), o
modelo de ocupação foi um traçado ortogonal de ruas não hierarquizadas, contendo
um total de cem quarteirões, dos quais trinta foram destinados a logradouros ou
prédios públicos que deveriam situar-se no entorno da Igreja Matriz de Nossa
Senhora do Amparo (Figura 4), na antiga Praça da Constituição, atual Praça
Marechal Deodoro. Este traçado objetivava-se na racionalização das ruas e
avenidas, padronização dos quarteirões e maior aproveitamento do terreno plano
que ali se apresentava. Fato que se confirma no trecho do ofício enviado por
Saraiva a Isidoro:

Devendo-se logo verificar a situação precisa do futuro Palácio da


Presidência, que se tem de edificar na Praça da Matriz d’esta Cidade, e
conhecer-se ao mesmo tempo a posição relativa d’elle para com as ruas
laterais, a Igreja que lhe fica em frente e o rio Parnahiba pelo lado
posterior... observando o mesmo com a casa dos Educandos, e o hospital
de Caridade que também se projecta edificar (SILVA F, 2007, p.15).

Desde o início da história da cidade, portanto, o largo do Amparo tem tido


destacado papel no tecido urbano. O espaço era o centro cívico da cidade que
ganhava ares urbanizados com a construção de emblemáticos edifícios no seu
entorno. O erguimento da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, no dia 25 de
Dezembro de 1850, marca o início da construção da cidade de Teresina, bem como
da história a Praça Marechal Deodoro da Fonseca, como aponta Monsenhor
Chaves em “Teresina nasceu nos braços da Igreja Católica” (NUNES in
CADERNOS DE TERESINA nª 2, 1988, p.1).
56

Figura 4 - Fachada da Igreja do Amparo

Fonte: FUNDAC, editado


ditado pelo autor

No traçado de Saraiva (FIGURA 5) nota


nota-se
se a centralidade espacial da Praça
no tecido urbano da nova capital, bem como sua proximidade e relação com o Rio
Parnaíba e com a cidade maranhense de Timon, na imagem ainda São João das
Cajazeiras. Releva-se
se este espaço porque além de abrigar as principais edificações
da cidade era o mais importante eixo de escoamento de produtos e pessoas da
cidade.

Figura 5 - Antigo Mapa onde se veem as Cidades de Teresina e Timon

Fonte: Arquivo Público

Observando
ando a imagem do traçado de Saraiva, a Praça Marechal Deodoro
57

revela-se
se como o vazio central que se abre para o rio, assim, é possível perceber,
ainda, a relação que este largo cria com os demais vazios/praças que a circundam,
marcando, uma vez mais, sua iimportância
mportância no tecido urbano da capital. Após a Igreja
do Amparo, as outras edificações que se ergueram no logradouro foram então as
descritas por Isidoro, a Casa dos Educandos e o hospital, mas também outras tais
como o Quartel (FIGURA 6) e o Mercado Munic
Municipal (FIGURA 7).

Figura 6 - Antigo Quartel Teresinense Figura 7 - Antigo Mercado Central

Fonte: FUNDAC
Fonte: Arquivo Público

No final do século XIX e início dos anos de 1900, Teresina começa a ganhar
impulso econômico devido ao mercantilismo, est
estabelecendo
abelecendo o começo da
consolidação da capital como centro administrativo (BRANDÃO, 1995). Foi neste
contexto de trocas mercantilistas que a sociedade foi incorporando novos hábitos e
ideais, almejando uma aproximação estética e cultural às elites das gran
grandes cidades
e da Europa, que acabaram sendo refletidas na arquitetura da cidade, com a
consolidação do movimento eclético6 na capital, estilo caracterizado pelo uso de
elementos de diversas estilos e momentos históricos, proveniente do velho mundo.
Desta maneira,
aneira, a arquitetura da cidade foi se transformando e foi neste período que
a influência social da Praça se fortaleceu, marcando aquele ambiente como local de
encontro público, zona de convívio de poderosos e importantes personagens,
começando a desenhar o destaque que se vê até hoje. A fotografia abaixo (FIGURA
8) é ilustrativa desta afirmação, mostra que já em 1903, a Praça era um centro
6
Movimento Eclético - Movimento arquitetônico predominante desde meados do século XIX até as
primeiras décadas do século XX, caracterizado pela mistura ddee estilos arquitetônicos do passado para a
criação de uma nova linguagem arquitetônica.
58

urbano e social da cidade, onde os homens e crianças se encontravam em rodas de


conversas, comércio e lazer.

Figura 8 – Largo do Amparo em 1903

Fonte: Arquivo Público de Teresina

Na Praça, o prédio que hoje abriga a Justiça Federal foi elevado neste
período para sediar a Delegacia Fiscal do Piauí – que funcionou ali até a década de
1960 – quando foi transferido para outro prédio, também na Praça Marechal
Deodoro da Fonseca. Este edifício se destaca no circuito histórico da Praça, porque
as intervenções sofridas ao longo dos tempos afetaram somente o interior do
edifício, salvando a fachada, que apresenta as mesmas características de quando
foi concebido (FIGURA 9).
59

Figura 9- Comparação: Delegacia Fiscal/Juizado Especial da Justiça Federal

Fonte: Dias (2006, p.19)

Anjos e Soares (2010) apontam que era na Praça onde se realizavam as


principais atividades de cunho laico e religioso, funcionando como local de
passagem e, principalmente, como espaço cívico, por estar situado no centro dos
principais órgãos administrativos, religiosos e culturais da época. Foi neste espaço,
também, onde ricos comerciantes e fazendeiros cons
construíram
truíram suas residências como
observa Conselheiro Saraiva sobre a implantação:

“O resultado de tudo isso foi além de minhas esperanças; porque nunca


acreditei que em menos de seis meses já estivessem em construção perto
de trinta habitações, e ainda mais, que os mesmos habitantes da Vila
Velha, que ali tinham elegantes casas, se resolvessem a deixá
deixá-las para
construir no novo local”. (CHAVES in ANJOS; SOARES in RÊGO;
MENDES; QUEIROZ, 2010 p.126)

Na figura 10, os homens bem vestidos, na frente do antigo Tesou


Tesouro
Provincial, demolido nos anos de 1970 para a construção do Ministério da Fazenda,
corroboram com a fala de Chaves (2010), demonstrando o grau de organização
social que ali já se estabelecia.
60

Figura 10 - Detalhe de uso do Largo do Amparo. Ao fundo a Igreja ainda sem


as torres. 1910.

Fonte: Arquivo Público de Teresina

Nos anos de 1930 e 1940, a incorporação do concreto armado na


arquitetura, fez somar-se ao ecletismo, o ArtDecó7que foi difundido durante o
período do regime militar brasileiro. Na Praça da Bandeira o estilo aparece no
arquivo público municipal inaugurado em 1941 (SILVA F, 2007). Após a II guerra
mundial o processo de industrialização pelo qual passava o Brasil, foi sentindo na
capital, permitindo que se ampliasse a oferta de serviços, o que modificou
novamente a economia, a sociedade e, portanto, o tecido urbano da Praça. No ano
de 1939, por exemplo, iniciou-se a primeira grande transformação da Praça,
momento em que se inseriu nova arborização e que se instalou cerca de arame
farpado para proteção dos animais silvestres que, atraídos pela nova vegetação,
faziam dali sua morada (SECULT, 2017). Fator que “acabou dificultando a relação
social do espaço e, no decorrer do tempo, a interação foi ficando cada vez menor”
(MENDES, 2017). A imagem que segue (FIGURA 11) mostra a Praça Marechal
Deodoro em ângulo aéreo, anos antes da reforma paisagística de 1939, nela é
possível observar que a Praça mantinha-se como centro urbano de Teresina.

7
ArtDecó- Movimento estético que representa certa tendência de passagem entre a arquitetura produzida
pelo estilo eclético para o modernismo. Caracterizado pelo rigor geométrico e predominância de linhas
verticais, havendo a tendência de tornar, através da percepção, o edifício mais alto.
61

Figura 11 – A Praça em vista aérea, 1934.

Fonte: Arquivo Público de Teresina

A partir de 1950 e 1960, o modernismo8 se instalou em Teresina, como


aponta Melo (2010), fazendo surgir nova relação da arquitetura com a cidade,
aproximando as práticas de planejamento urbano à solução de problemas de
tráfego e segurança, desvencilhando-se do personagem principal das cidades: as
pessoas. Neste período a Praça ganhou novos contornos com a inserção, em seu
interior, de um teatro e a edificação do prédio do ministério da Fazenda – espelhado
e em linhas retas, em contraste aos edifícios tradicionais ali presentes - no início dos
anos 1970. Marca-se, esta época, também pelo cerceamento da Praça, pela
proposta de reformulação paisagística proposta por Burle Max e, ainda, pelo uso da
Praça como espaço de eventos da capital (FIGURA 12).

8
Modernismo - conjunto de movimentos e escolas arquitetônicos que vieram a caracterizar a arquitetura
produzida durante grande parte do século XX. Suas características podem ser encontradas em origens
diversas como a Bauhaus, na Alemanha; em Le Corbusier, na França em Frank Lloyd Wright nos Estados
Unidos ou nos construtivistas russos alguns ligados à escola Vuthemas. Uma das principais bandeiras dos
modernos é a rejeição dos estilos históricos principalmente pelo que acreditavam ser a sua devoção
ao ornamento.
62

Figura 12 - Praça da Bandeira nos anos 70

Fonte: Melo (2013)

Anjos e Soares (2010) destacam que desde os anos 1990, a Praça


apresenta-se como uma zona de conflito econômico e social, por causa do tráfego
em volta da Praça e do cerceamento. O cerceamento porque levou a distinguir dois
espaços da Praça: o interior e o exterior e o tráfego porque dificultou a livre
circulação de pessoas no espaço. Desta ótica, Rocha (2010) discursa sobre o gradil
e aponta que o elemento favorece a “prática de atividades indesejadas, tais como:
uso de drogas, presença de delinqüentes, moradores de rua, prostitutas” (ROCHA,
2010, p.75).

A última grande transformação espacial da Praça Marechal Deodoro deve-


se à inauguração em 29 de junho de 2009 do Shopping da Cidade (FIGURA 13).
Popularmente conhecido como “Diga, Meu Bem!”, em alusão à forma como os
vendedores se reportam aos clientes, inaugurado (PMT, 2013). Esta foi a maior
intervenção na Praça desde a sua fundação, uma vez que alterou drasticamente o
modo de apropriação e uso que a população fazia deste espaço, trazendo o
comércio para o seu interior.
63

Figura 13 - Shopping da Cidade (O Diga, Meu Bem!)

Fonte: PMT (2010)

No ano seguinte, o governo do estado concluiu a obra da estação de trem


da Praça da Bandeira (FIGU
(FIGURA
RA 14) que tem como parada final a parte superior do
shopping através de um elevado que se liga à Avenida Maranhão, margeada pelo
Rio Parnaíba. A obra, embora do ponto de vista paisagístico, tenha criado um muro
entre a praça e o Rio Parnaíba (FIGURA 15), intensificou o trânsito de pessoas na
Praça e ajudou a reforçar aquele espaço como ponto central da cidade.

Figura 14 - Perspectiva do Elevado do Trem ligado ao Shopping da Cidade

Fonte: Escritório Júlio Medeiros (2010)


64

Figura 15 - Praça da Bandeira a


ainda sem o Shopping da Cidade

Fonte: Cidade Verde, sem data

Como se observa, a história da Praça Marechal Deodoro da Fonseca, ou


como é mais conhecida, a Praça da Bandeira (FIGURA 16), está intimamente
atrelada à construção histórica da cidade de Teresi
Teresina.
na. O entrelace entre estas
memórias contribui, significativamente, para a consolidação da Praça como
importante espaço social teresinense.

Figura 16 – Mosaico: transformação espacial da Praça da Bandeira

Fonte: Júlio Paiva (2015)

As imagens que compõem a figura 16 revelam que a Praça mantém-se


mantém como
65

espaço onde se realizavam atividades sociais da cidade, tais como o culto religioso
e comércio. Na primeira imagem – parte superior do mosaico – observa-se um
largo pouco arborizado, não pavimentado, mas que já apresentava edificações
(anteriormente descritas no texto) de diferentes tipologias e funções que atestam a
relevância social do largo. A segunda foto de meados dos anos 70 revela uma praça
já servida de equipamentos urbanos, aberta, arborizada e conectada ao rio
Parnaíba. Nota-se, em linha reta às torres da Igreja Matriz, skyline livre e paisagem
limpa. Na terceira fotografia, vê-se uma nova paisagem, a Praça sem o contato
direto com o rio, cercada pelas edificações institucionais e densamente arborizada,
aqui pode-se observar, no canto inferior direito, o shopping dos camelôs que barra a
vista ao Rio Parnaíba, desconectando o que outrora fora um cartão postal da
cidade.

Este relato dos fatos permite que se observe que a Praça ao longo do
tempo recebeu a influência das mudanças sociais e econômicas que ocorreram na
cidade de Teresina. Seguramente, o espaço que acabou de ser apresentado,
encontra-se vivo e experimentando novas relações que serão apresentadas a
seguir.

3.3 Aspectos Físicos e Sociais da Praça Marechal Deodoro

As praças são, no contexto urbano, os lugares que mais remetem às


questões de espaço público, nas cidades atuais. Estas são um dos elementos,
responsáveis, por caracterizar a sociedade que dela se apropria e imprime sua
cultura, política e características (ROBBA; MACEDO, 2003). Isto acontece, porque
as relações sociais que se constituem nesses vazios urbanos e o livre acesso
permitem uma leitura antropológica e social das praças:

Por ser um dos fragmentos do mosaico espacial que compõe a cidade, a


praça está intimamente ligada às questões sociais, formais e estéticas de
um assentamento. Não é possível falar sobre praças sem analisar o
contexto urbano no qual estão inseridas (ROBBA; MACEDO, 2003 p.18)

Lima (2001) salienta que as cidades européias com grande tradição cultural,
ou seja, aquelas cidades que cresceram e se desenvolveram valorizando os
vestígios do passado, guardam nas praças, edificações históricas, privilegiadas e
quase sempre disputadas pelas classes dominantes. Esta autora menciona as
66

diversas formas de apropriação que as pessoas fazem destas praças e destaca que
“não se pode falar em morte destes lugares” (LIMA, 2001, p.18). Seguindo esta
abordagem, no Brasil, as praças caracterizam-se por serem espaços públicos e
coletivos, multifuncionais e muitas vezes, subutilizados.

3.3.1 Equipamentos e Mobiliários urbanos

Bruno Latour assinala que o conhecimento é produto de uma rede de


materiais heterogêneos, incluindo elementos materiais, não apenas humanos. Estas
redes remetem à ideia de fluxos e alianças, rediscutindo a separação sujeito e
objeto, ou seja, ambos são necessários na consolidação do conhecimento. Com
base nesse pressuposto serão apresentados os elementos funcionais que compõem
o espaço da Praça Marechal Deodoro da Fonseca, tais como lixeiras, postes de
iluminação e bancos, com a finalidade de levantar suas condições de conservação e
manutenção, entendendo que o estado em que se encontram são um reflexo dos
usos que as pessoas lhes dão. Assim, parte-se do pressuposto de que o estado dos
objetos revela a relação que os usuários têm tido com estes equipamentos.

A entrada mais movimentada da Praça, mesmo não sendo a principal que


se abre para a Igreja, (FIGURA 17), se volta para a Avenida Coelho Rodrigues e
para o prédio da Prefeitura Municipal e possui pavimentação em blocos
intertravados de concreto que também são utilizados nos principais passeios. Ainda
sobre a pavimentação do espaço, é relevante salientar a existência de uma “linha do
tempo” que marca as décadas “de vida” da praça, onde se utilizou concreto pré-
moldado. (FIGURA 18).
67

Figura 17 – Entrada da Praça

Fonte: WalberAngeline (2019)

Figura 18 - Planta Baixa da Praça, em destaque vermelho a Linha do Tempo que


Marca as Décadas de Vida

Fonte: FUNDAC, editado pelo autor


68

De uma maneira geral, as praças, possuem função de lazer coletivo, tendo


os bancos como um dos mobiliários mais importantes para o conforto dos usuários
que por ali se movimentam. Na praça em estudo, observa
observa-se
se que o número de
bancos é suficiente
e para os usuários, uma vez que se constata que em horários de
fluxo intenso, a maioria dos usuários encontra bancos vazios com facilidade. Os
bancos são de dois tipos: de concreto com pés adornados (FIGURA 19) e de
concreto com encosto e assento de madeir
madeira (FIGURA 20).

Figura 19 - Banco de Concreto com Figura 20 - Banco de Concreto com


pés adornados na Praça da Bandeira Encosto e Assento de Madeira

Fonte: Walber Angeline (2013) Fonte: Walber Angeline (2013)

Há uma preferência de uso aos bancos em madeir


madeiraa com encosto, a
utilização deste tipo de mobiliário é feita, principalmente, pelos idosos, mas são
diversas as pessoas que os utilizam, acompanhadas ou sozinhas. Os bancos de
concreto sem encosto são igualmente utilizados por variados tipos de pessoas,
sendo
ndo preferidos por pessoas mais jovens e grupos. Estes bancos são os mais
utilizados por vendedores ambulantes que fazem do assento o local para exposição
de seus produtos.

Os bancos se encontram em bom estado de conservação e, embora não


tenha sido possível
vel contato com o mutirão responsável pela limpeza, os varredores
das ruas do entorno da Praça alegam não ter conhecimento de vandalismos em
relação a este tipo de mobiliário. Informação confirmada nas observações, uma vez
que os bancos e arredores estão ssempre
empre limpos e em bom estado de conservação
(FIGURA 21).
69

Figura 21–Passeio
Passeio com bancos. Observa
Observa-se
se ótimo estado de conservação.

Fonte: Walber Angeline (2018)

Os bancos são locados em áreas sombreadas, onde o microclima é ameno,


contrastando com o calor característico da capital e favorecendo sua utilização.
Apenas um exemplar foi encontrado fora do estado padrão (FIGURA 22), faltando
faltando-
lhe uma tábua, constatou
constatou-se,
se, porém, que, apesar disso, era utilizado com
frequência. Bancos fora do padrão foram também id
identificados
entificados no entorno imediato
da Praça, ao lado da estação principal de ônibus, também utilizado pelos usuários
satisfatoriamente (FIGURA 23).

Figura 22 – Banco fora do padrão Figura 23 – Uso de bancos


banco
faltando-lhe uma tábua irregulares

Fonte: Walber Angeline (2018)


Fonte: Walber Angeline (2018)

As lixeiras (FIGURA 24), que permitem a conservação e a limpeza dos


espaços contribuindo para a manutenção da ordem pública e auxiliando no melhor
70

aproveitamento das áreas públicas estão distribuídas por todo o ambiente, a curtas
distâncias dos locais de passagem e próximas aos bancos. Algumas se encontram
danificadas, e outras, como a da Figura 25 estão a baixa altura, próxima do solo,
fora do padrão, porém ainda é possível utilizá
utilizá-las.

Figura 24 - Lixeira na Praça da Figura 25 - Lixeira irregular na Praça da


Bandeira Bandeira

Fonte: Walber Angeline (2018) Fonte: Walber Angeline (2018)

Segundo a Prefeitura Municipal de Teresina (2018), a Praça foi o foco da


implantação das lixeiras em programa da prefeit
prefeitura
ura no ano de 2013, época em que
foram instaladas mais dezenove unidades do equipamento. Nas incursões de
campo não se constatou número inferior ao informado pela PMT, nem foram
observados grandes quantidades de resíduos sólidos descartados no ambiente,
embora
bora fossem presentes restos de frutas e algumas sacolas nos jardins e
gramados. Em conversas com os responsáveis pela limpeza do espaço e das ruas
do entorno, foi constatado que existe uma equipe que trabalha em regime mutirão
de limpeza das praças do cen
centro
tro da cidade, mas que não tem horário fixo de
trabalho na Praça da Bandeira depende da demanda de cada logradouro. Segundo
as informações coletadas não há grandes dificuldade com a limpeza e manutenção
do logradouro público.

Os postes de iluminação (FIGU


(FIGURA
RA 26) representam outro importante
mobiliário do espaço público, foram redistribuídos em 2012 quando se desenvolveu
projeto de iluminação em toda a cidade, seguindo o padrão dos demais postes de
Teresina (PMT, 2018). Aqueles pontos de iluminação que se en
encontram
contram no interior
71

da Praça possuem apenas uma luminária (FIGURA 27), enquanto aqueles locados
nas extremidades, centro e entradas possuem duas luminárias (FIGURA 28).

Figura 26 - Iluminação Noturna da Praça da Bandeira

Fonte: Walber Angeline (2018)

Figura 27 - Poste com uma Figura 28 - Poste com duas Luminárias na


Luminária entrada da Praça

Fonte: Walber Angeline (2018) Fonte: Walber Angeline (2018)

Recentemente houve a abertura da Praça em período noturno, porém não


constatou-se
se uso significa
significativo
tivo durante esta parte do dia, salvo em dias de
celebração da Igreja Matriz e/ou na Igreja Evangélica, localizada no entorno da
Praça.
72

Dentre os elementos arquitetônicos edificados, destacam


destacam-se
se uma fonte, um
obelisco esculpido em mármore carrara e um tea
teatro
tro de arena. A primeira (FIGURAS
29 e 30) encontra-se
se desativada há uns 6 anos e atualmente encontra
encontra-se em
abandono (FIGURA 31). O segundo, datado do ano de 1859 (FIGURA 32), está
locado em frente à entrada da Praça que se alinha à Igreja Matriz, monument
monumento em
homenagem ao fundador da capital, o Conselheiro Saraiva.

Figura 29 - Fonte em 1971 Figura 30 - Fonte em 2012

Fonte: Cidade Verde (2013) Fonte: Rocha (2012)

Figura 31 - Fonte em 2018, ao fundo Figura 32 – Obelisco em


Museu do Piauí Homenagem à Saraiva

Fonte: Walber Angeline (2018)


Fonte: Walber Angeline (2018)

O Teatro de Arena, localizado no canto inferior direito da praça é o mais


tradicional teatro ao ar livre de Teresina, utilizado para apresentação de espetáculos
populares e comemorações diversas da capital, como o festival de Violeiros do Piauí
que está em sua 45º edição neste ano. Este festival movimenta a Praça da Bandeira
(FIGURA 33), no mês de agosto, durante a programação da PMT, em
comemoração ao aniversário da cidade.
73

Figura 33 - Teatro
eatro de Arena recebendo o Encontro de Violeiros 2017

Fonte: PMT, 2017

Com influência romana, adota os princípios da Escola Carioca9 que se


baseia na teoria de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, buscando alternativa climática
para a produção, solução que se adequada ao clima sempre quente da capital.
Durante as visitas de campo do pesquisador, o Teatro era o palco principal dos
usuários de entorpecentes que faziam dos bancos da arquibancada do Teatro local
de consumo, manejo e troca de droga. É relevante apon
apontar
tar que, este espaço é
comumente chamado, pelos usuários da Praça de “bancos azuis” – devido à
tonalidade da arquibancada – para denominar-se
se o local destinado aos usuários de
drogas.
As três estações de parada de ônibus, outro importante artefato de convi
convite
às pessoas para o interior da Praça localiza
localiza-se
se na rua exclusiva para ônibus
(FIGURA 34). Embora seu tamanho seja grande, nos horários de pico – 07:00 da
manhã e final da tarde – não conseguem abrigar todos os usuários dos transportes
públicos, alguns se
e acomodam sob a copa de árvores.

9
Escola Carioca - Trata-se
se originalmente da obra produzida por um grupo radicado no Rio de Janeiro que
cria um estilo nacional de arquitetura moderna. Caracteriza
Caracteriza-se
se pela combinação de volumes e composição
variada com curvas e diagonais retas, lançando mão de uma plasticidade que não se vê na arquitetura
moderna de outros países.
74

Figura 34 – Ponto de Ônibus na Rua Areolino de Abreu

Fonte: Walber Angeline (2018)

Ainda em referência aos elementos componentes da configuração atual da


Praça Marechal, pontua-se
se a existência de uma grade divisória (FI
(FIGURA 35 e 36),
que limita o acesso ao interior da Praça e marca as fronteiras entre dois universos
sociais distintos. O interior da Praça, habitado por grupos marginalizados da
sociedade, como usuários de entorpecentes e ambulantes informais e o exterior d
da
Praça configurado por prédios institucionais, governamentais e religiosos, e as
pessoas que os habitam e que circulam em torno de eles.
Figura 36 – A Praça sem a Grade de
Figura 35 – Grade Divisória Proteção

Fonte: Walber Angeline (2018) Fonte: Arquivo Público

Chama a atenção do pesquisador o fato de que, embora exista


patrulhamento policial motorizado nas ruas do entorno, no prédio da Prefeitura da
capital e no Ministério do Trabalho, às margens da Praça, os vendedores de
produtos contrabandeados e
exerçam
xerçam a função sem interferência das autoridades. É
preciso apontar que, segundo a PMT, houve, em dezembro de 2017, operação da
75

polícia civil e militar no combate a venda de celulares roubados no interior da Praça,


porém, nas visitas de campo se observa q
que
ue essa prática continua na atualidade.

3.3.2 Vegetação

Segundo Mascaró e Mascaró (2002), vegetação urbana é aquela que “o


espaço construído se integre com o jardim e o parque (...) para construir a paisagem
da cidade” (MASCARÓ; MASCARÓ, 2002 p.1). Nas pr
praças,
aças, a vegetação é de
extrema importância, à medida que convida ao usuário usufruir do espaço sem o
incômodo do sol e do calor intenso. Em uma cidade como Teresina, onde a
temperatura é elevada o ano todo, a vegetação desempenha o papel de criar um
microclima
lima responsável por atrair mais usuários para a região.

Mascaró e Mascaró (2002) apontam que a utilização das árvores nas


cidades pode seguir princípios estéticos que valorizam o ambiente em termos de
paisagem e economicamente. Além de benefícios como som
sombreamento,
breamento, diminuição
da temperatura e aumento da umidade do ar, ventilação, acústica e controle da
poluição. Deste modo, a Praça estudada se apresenta como um verdadeiro parque
no coração da cidade de Teresina, pois forma, com sua arborização homogênea
(FIGURA
IGURA 37), um maciço que sombreia e permite a ventilação de todo o espaço e
arredores.

Figura 37 - Maciço Homogêneo formado pelas copas das Árvores na Praça

Fonte: GOOGLE Maps, 2018

Internamente esta vegetação homogênea (Figura 38) proporciona um


espaço aconchegante e com temperaturas amenas, consequência das copas que
se cruzam, construindo uma espécie de alameda (FIGURA 39) no interior da Praça
76

da Bandeira.

Figura 38 - Maciço Homogêneo com copas iguais

Fonte: Mascaró e Mascaró (2002, p.29)

Figura 39 - Copas Cruzadas na Praça da Bandeira

Fonte: Walber Angeline (2018)

3.3.3 Usos e Apropriações

Foram realizadas visitas e observações de campo ao longo de sete dias


com o objetivo de identificar quais são as utilizações da Praça pelos usuários. A
partir dessa observação foram debeladas as formas de apropriação deste espaço e
do seu entorno por parte de um setor da população. Percebeu
Percebeu-se que a Praça
Marechal Deodoro da Fonseca se caracteriza pelo forte apelo comercial, circulação
de pedestres, local de descanso
canso e de socialização (FIGURA 40).
77

Figura 40 - Mapa de Usos da Praça da Bandeira

Fonte: Walber Angeline (2018)

Entre as práticas predominantes neste espaço se observa o comércio


informal de produtos contrabandeados. As visitas revelaram que há constante
procura por vendedores ambulantes, em sua maioria de celulares, mas ainda,
78

serviços de assistência técnicas de eletrônicos e venda de objetos importados como


capa de celulares, brinquedos, roupas e guarda-chuvas. Nota-se ainda, a existência
de grandes áreas “sem uso’’, principalmente as áreas de gramado e a região da
fonte desativada que, atualmente, encontra-se tomada por vegetação.

Existe também um número considerável de pessoas que habitam a Praça


como espaço de lazer, de descanso e de conversação – principalmente nos horários
de entrada, saída e de intervalo para o almoço das lojas e repartições públicas
próximas, assim como é frequente a presença de estudantes das escolas públicas
próximas na praça, nos horários de entrada e saída das aulas. Estes dados revelam
a heterogeneidade social dos usuários deste espaço público. O qual lhe imprime a
qualidade de um ambiente vivo e com múltiplas apropriações.

3.3.4 Tráfego de Veículos

Outro ponto importante para a análise da Praça Marechal Deodoro da


Fonseca é como se constrói o fluxo de carros no seu entorno, porque o
comportamento do tráfego influencia na percepção da paisagem, à medida que
permite ou impede o olhar das pessoas para o meio externo (JACOBS, 2018).

Claro que os planejadores, inclusive os engenheiros de tráfego, que


dispõem de fabulosas somas em dinheiro e poderes ilimitados, não
conseguem compatibilizar automóveis e cidades. Eles não sabem o que
fazer com os automóveis nas cidades porque não têm a mínima ideia de
como projetar cidades funcionais e saudáveis – com ou sem automóveis.
(JACOBS, 2011, p.6)

Sob esta ótica pontua-se a barreira visual que o intenso tráfego de veículos
gera na região, dificultando inclusive o acesso ao interior da Praça e, por vezes,
impedindo a completa apreciação dos edifícios históricos que delimitam o espaço e
impedindo a mirada para o interior da praça.

Neste espaço, existe paralelamente outra dificuldade de se observar a


paisagem, porque a Rua Areolino de Abreu que passa ao lado esquerda da Praça é
uma via exclusiva dos transportes coletivos, enquanto a rua oposta, Coelho
Rodrigues, embora apresente duas faixas, não permite a visualização de ambos os
lados de maneira completa. Nos dois casos observa-se uma priorização dos
automóveis, privados ou coletivos, em detrimento dos usuários- pedestres. É
preciso frisar, ainda, que onde, atualmente, existe o Shopping da Cidade antes se
79

localizava o terminal intermunicipal de ônibus, que permitia uma melhor visualização


da Avenida Maranhão – e, portanto, um contato mais amplo entre o usuário e a
paisagem ribeirinha – agora impedida pelo gabarito do novo edifício implantado no
local (FIGURA 41 e 42).

Figura 41 - Praça da Bandeira ainda sem Shopping Popular

Fonte: CIDADE VERDE

Figura 42–Praça
Praça da Bandeira com Shopping da Cida
Cidade.
de. Paisagem modificada
pela ausência visual do Rio Parnaíba

Fonte: Google Maps (2018)

É importante apontar também, como se aplicam os estacionamentos na


região, pois estes indicam o fluxo de uso, deste modo, se pode perceber que
durante a semana até a
ass 17h, o fluxo de pessoas é intenso, pois os
80

estacionamentos públicos (FIGURA 43) encontram-se sempre lotados. Aos sábados


a situação se repete até o meio-dia, horário em que as lojas costumam fechar.

Figura 43 - Mapa dos Estacionamentos

Fonte: Walber Angeline (2013)

3.3.5 O ENTORNO DA PRAÇA MARECHAL DEODORO DA FONSECA

A praça, como marco inicial de fundação da cidade guarda edificações e


valores importantes na construção da identidade local, portanto, optou-se por flanar
pela história e apresentar as edificações e mudanças ocorridas ao longo dos
tempos, neste espaço, para que melhor se compreenda o contexto discutido. Desde
81

a fundação da cidade, a praça assumiu papel de destaque na malha urbano, pois foi
o local onde se implantou a Igreja Matriz, o Poder Municipal e o Mercado Público, ou
seja, o espaço central (FIGURA 44) de grande troca com a população. Foi a partir
deste largo que se partiram, simetricamente, os quarteirões que formaram a cidade.

Figura 44 - Primeira Planta de Teresina - 1852

Fonte: LIMA, 2011 p.40

O acervo arquitetônico (FIGURA 45) que se encontra no entorno da praça,


contribui de forma enfática para construção da identidade arquitetônica teresinense.
82

Figura 45 - Planta da Praça da Bandeira com Destaques para Principais


Edificações, trazendo seus usos atuais.

Fonte: Prefeitura de Teresina, editado pelo autor

O que se observa é um entorno heterogêneo e bastante modificado, mas


que preserva algumas importantes características que tornam a praça um exemplar
da maior importância para a perpetuação da hi
história
stória de Teresina. Este
heterogeneidade é percebida, ainda, se analisarmos os usos dados a estas
edificações (FIGURA 46),
), fato que corrobora com a idéia de que a praça é um
espaço de atore sociais disstintos.
83

Figura 46 - Mapa dos Usos no Entorno da Praça da Bandeira

Fonte: Walber Angeline (2018)

Algumas edificações embora modificadas, também carregam consigo, as


mudanças ocorridas na sociedade, o que as tornam tão importantes quantos
aquelas mais preservadas. Deste modo, serão apresentadas algumas das
edificações do entorno da Praça da Bandeira, para que se perceba a riqueza
arquitetônica deste sítio, excetuando aquelas que não resistiram as transformações
do tempo e aquelas anteriormente apresentadas nesta pesquisa.
84

A IGREJA NOSSA SENHORADO AMPARO

O erguimento da Igreja de Noss


Nossa Senhora do Amparo que teve sua pedra
fundamental lançada no dia 25 de Dezembro de 1850, marca o início da construção
da cidade de Teresina como aponta Monsenhor Chaves em “Teresina nasceu nos
braços da Igreja Católica” (NUNES in CADERNOS DE TERESINA nª 2, 1988 p.1).

Dois anos depois a Igreja foi entregue à população, mas só contava com a
Capela-Mor
Mor e as sacristias laterais. Na frente desta igreja – que ficava em um ponto
mais elevado do largo – criou
criou-se
se a atual Praça Marechal Deodoro da Fonseca e foi
neste espaço, ao redor da Igreja Matriz (FIGURA 47),
), que se criaram as primeiras
edificações da capital. (SILVEIRA, 2013)

Figura 47 - A Igreja do Amparo


paro em Destaque e seu Entorno.

Fonte: Acervo Cid de Castro Dias, sem data

Em 1857, o então presidente da província, Dr. João José Junqueira, resolve


continuar as obras da Igreja, mas de uma forma “mais sólida, majestosa e digna”
(SILVEIRA, 2003 p.7). Foi a partir desta que a Igreja assumiu
ssumiu as características que
hoje apresenta, podendo-se
se catalogá
catalogá-la
la como um exemplar da Arquitetura Eclética.
Pode-se
se então, apontar as torres alongadas e os portais com frisos, rosáceas e
vitrais como uma característica neogótica da edificação, os arcos plenos
85

encontrados na fachada como influência da arquitetura colonial, dentre outras


manifestações.

As décadas de 1870, 1880 e 1890 foram marcadas pela falta de recursos


para que se fizessem os reparos necessários para manutenção da Igreja e
conclusão da obra, o que culminou no desabamento de uma de suas torres nesta
última década citada e que foram reerguidas mais tarde, quando o Governador
Taumaturgo de Azevedo ordenou que fossem feitos reparos nos telhados e na
estrutura interna e externa da edificação, antes que esta fosse entregue para a
Igreja Católica, separada do Estado em 1889. (SILVEIRA, 2003)

Foi somente no centenário da Igreja, em 1940, que se construiu uma nova


fachada (FIGURA 48), atendendo aos anseios da população e dos profissionais de
engenharia, dando ao Templo Religioso um aspecto mais imponente e majestoso.
Foram, portanto, demolidas as torres inacabadas, feitas novas fundações e
instaladas duas cruzes nas novas torres que eram iluminadas durante a noite.

Figura 48 – Desenho da fachada da Igreja do Amparo

Fonte: FUNDAC, editado pelo autor em 2013


86

O MUSEU DO PIAUÍ

O museu do Piauí “Odilon Nunes” (FIGURA 49)) é a segunda edificação mais


antiga da capital piauiense e, ao contrário da Igreja Matriz, conserva muitas de suas
características
racterísticas originais, como as colunas e cornijas retas, grandes aberturas e
porta central em arcos plenos com bandeiras e sacadas em ferro fundido. O
casarão, que era residência Comendador Jacob Manoel Almendra, embora
apresente algumas características que o afastam do período colonial, sofreu
bastante influência desta época, em materiais e elementos estruturais, podendo
podendo-se
enquadrá-lo,
lo, então, como um edifício com características predominantes do
Neoclassicimo.

Figura 49 - Museu do Piauí

Fonte: Walber Angeline, 2017

Esta afirmação se confirma, quando se observa e analisa o perfil das janelas


em arco romano, emoldurados em pedra; a presença da sacada em ferro trabalhado
formando um balcão corrido; e o beiral do telhado com água voltada para a rua.
Vale salientar
alientar ainda a planta em “L” (FIGURA 50),
), a data de construção do casarão,
1859 e a simetria da disposição das aberturas – ritmo, relação entre cheios e vazios
– e a marcação evidente das pilastras.
87

Figura 50 - Planta em "L" do Museu do Piauí

Fonte: FUNDAC, editado pelo autor em 2013

Depois da morte do comendador, a edificação abrigou a sede do Governo


do Estado do Piauí, entre os anos de 1873 e 1925, em seguida, funcionou como
Tribunal de Justiça e em 1934 tornou-se uma seção do Arquivo Público do Piauí,
sob orientação do Professor Anísio Brito. Só, então, no ano de 1980, após uma
restauração, orientada pelo professor Anísio Brito em parceria com a Fundação
Joaquim Nabuco de Recife, o imóvel, passa a exercer função de Museu do Piauí.
(FUNDAC, 2013)

O PALÁCIO DA CIDADE

O prédio (FIGURA 51) onde funciona a sede do Governo Municipal da


cidade é também uma das mais antigas edificações teresinenses. Foi construído
entre 1920 e 1924, para abrigar a Escola Normal10, no governo e Mathias Olympio.
A criação se deu a partir da Resolução Provincial nº 565 de 5 de agosto de 1864
que aponta:

10
Escola Normal - Eram instituições de formação de professores que surgiram no Brasil, previstas
pela Lei Provincial de 1835. A justificativa para a criação das Escolas Normais era a de que os
antigos mestres-escola, professores da época, não estavam preparados para a prática docente e os
estabelecimentos serviriam como referencia de normalização das práticas educativas, formação e
instrução profissional de novos mestres e para propor através de concursos públicos, pessoas aptas
ao magistério.
88

Art. 1º O Presidente da Província fica auctorisado a crear nesta


capital uma eschola normal constituída em externato, na qual se
preparem mestres e mestraspara ensinar as primeiras letras.
Art.2º O curso desta eschola durará dois annos e comprehenderá
(SOARES, 2004 p.57)

Figura 51 - Escola Normal Pi


Piauiense (Atual prédio da PMT)

Fonte: CIDADE VERDE, sem data

Características do estilo Neoclássico pode


podemm ser percebidas na edificação,
de inspiração Greco-Romana
Romana na fachada que se preserva desde os anos 1920.
Destacam-se,
se, no imóvel, a escadaria de entrada, ladeada por luminári
luminárias; fachada
exibindo colunata jônica; ritmo formado pelas aberturas em arco pleno, interrompido
pela porta central. É interessante observar, ainda, características como o uso das
bandeiras que sugerem
m um arco romano, coroadas com frontão grego
grego; a platibanda
com balaustreste e ainda o porão que remete ao período colonial brasileiro.

O MERCADO MUNICIPAL

O Mercado São José, ou Mercado Velho (Figura 53),


), como é mais
conhecido, foi construído poucos anos após a inauguração da cidade de Teresina,
no ano de 1860. Não obstante, carrega consigo elementos arquitetônicos que
rememoram uma herança cultural do período neocolonial, como os arcos plenos
encontrados na fachada. (PMT, 2013)
89

Figura 52 - Mercado Municipal Teresinense

Fonte: PMT, sem data

O PRÉDIO DO ARQUIVO PÚLBICO

Também chamado de Casa Anísio Brito, o prédio (FIGURA 53) que foi
erguido no Governo de Leônidas Melo (1935 – 1945), pelo engenheiro Cícero
Ferraz de Sousa Martins, com as sob
sobras
ras dos materiais usados na construção do
Hospital Getúlio Vargas, foi inaugurado em 1941 e funcionou até os anos 1980
como museu de estado do Piauí e Arquivo Público, para, em seguida sediar apenas
ao segundo órgão. (Revista Presença, 2006)

Figura 53 - Fachada do Arquivo Público

Fonte: WALBER ANGELINE, 201


2018
90

O prédio apresente características que do Art-Déco, como geometrização das


formas, uso das linhas retas e marcação da entrada, como também o uso das linhas
horizontais e a tentativa de se arredonda
arredondarr os cantos da edificação, neste caso, tendo sido
apenas chanfrada.

O PRÉDIO DO MINISTÉRIO DA FAZENDA

Construído no início dos anos 1970, o edifício (FIGURA 54) de


características modernas, se destaca nos arredores da Praça da Bandeira porque
apresenta uma
ma plástica diferente da grande maioria das edificações que ali se
encontram. No entanto, é preciso afirmar que, andando por aquelas ruas, não se
percebe uma grande dissonância com relação ao prédio e seu entorno, talvez pelo
uso da cor neutra – que se ass
assemelha
emelha à cor da vizinha Igreja Nossa Senhora do
Amparo – e pelo uso do vidro, mas também pela memória que a sociedade já
incorporou da locação do mesmo.

Figura 54 - Prédio Sede do Ministério da Fazenda

Fonte: Walber Angeline, 2018


91

Fala-se
se em memória porque a edificação, embora bastante recente erguida
por volta de 1980, já se constitui como uma das edificações mais importantes do
entorno, à medida que, pertence às lembranças da população e apaga da mem
memória
coletiva
etiva o antigo Tesouro Nacional
Nacional, demolido ainda nos anos 1970, para que se
criasse uma ligação entre as Praças Marechal Deodoro da Fonseca e a vizinha
Praça Rio Branco (FIGURA 55).

Figura 55 - Planta da Proximidade das Praças da Bandeira e Rio Branco,


destacando o Prédio do Ministério da Fazenda

Fonte: WALBER ANGELINE, 2013


92

4 A APROPRIAÇÃO SOCIAL DA PRAÇA

Esta pesquisa visa analisar os componentes da Praça Marechal Deodoro da


Fonseca considerando o centro da praça e as edificações em torno dela, focando a
atenção nas histórias e memórias de vida que a atravessam. Quer dizer, procura-se
abordar o entrecruzamento entre a construção de seus componentes e as ações
humanas, consolidadas nas experiências vividas nessa Praça. Desta maneira, mais
do que um reconhecimento histórico da Praça como patrimônio cultural material,
procura-se a compreensão de seu significado social, sob a ótica dos usuários,
indaga-se por sua relevância na construção da identidade teresinense.

Neste capítulo se apresentam informações coletadas na Praça. Serão


relatadas, portanto, as observações e informações colhidas na pesquisa de campo,
bem como os dados coletados em entrevistas na íntegra, realizadas com
freqüentadores do referido objeto de estudo. Serão descritos, ainda, os
acontecimentos corriqueiros da Praça Marechal Deodoro da Fonseca, material
reunido a partir visitas realizadas durante os sete dias da semana e em horários
diferentes. Este tópico compreenderá um relato do que se viu e se percebeu durante
as aproximações à esse espaço, a maneira como são utilizados e as impressões
acerca das apropriações daquela paisagem.

4.1 Incursões na Pesquisa de Campo

Esta pesquisa de campo debruça-se sobre uma realidade da qual a própria


93

sociedade é agente, portanto, a observação in loco servirá para que se possa


compreender os usos e significados do espaço e da paisagem da Praça Marechal
Deodoro no cotidiano daqueles que o usufruem (MINAYO, 2009). Nesta etapa da
pesquisa, o texto etnográfico se aproxima da literatura e usa da linguagem dos
romances para envolver o leitor e transportá-lo para aquela realidade. Feitas as
incursões ao campo de pesquisa, concluiu-se os seguintes aspectos sobre a Praça
Marechal Deodoro da Fonseca:

O sol a pouco levantou - por volta das 06:00h da manhã - entre as torres da
Igreja do Amparo e os primeiros movimentos começam a ser percebidos no entorno
da Praça. Alguns ambulantes vagueiam com carros de mercadorias, provavelmente
à caminho de pontos estratégicos no agitado centro comercial de Teresina. Em dias
de semana, por volta das 07:00h o fluxo de pessoas já é intenso, por conta das
repartições públicas que se encontram no entorno imediato do largo, o fluxo de
carros é, da mesma forma, acentuado e até o som do entorno torna-se mais
agitado. Buzinas misturam-se ao cântico de alguns pássaros que ainda habitam o
local e carros de som e propaganda rondam o logradouro de tempos em tempos.

Nestes primeiros momentos do dia os pontos de ônibus são, sem dúvida, os


catalisadores de transeuntes que desembarcam na Praça e seguem para seus
trabalhos nas repartições e lojas dos, comumente chamados, “calçadões” que são
as ruas e os passeios do centro da cidade. Outros destes passageiros deslocam-se
em menor número, em direção aos prédios do entorno imediato da Praça da
Bandeira, onde ficam repartições municipais e alguns comércios. Soma-se à estes,
aqueles que utilizam o espaço para espera e aconchegam-se as sombras das
árvores densas que ali estão locadas. Alguns vendedores ambulantes já começam a
chegar e montar suas barracas, outros caminham apressados em direção ao
shopping da cidade, à espera da chegada dos primeiros clientes.

Por volta das 07:30h da manhã, quando o sol já está forte e os ônibus
continuam trazendo pessoas à Praça, o fluxo de automóveis se intensifica seguindo
até o horário de entrada dos trabalhadores das repartições, por volta das 08:15h da
manhã. Neste período já é possível observar que diversas pessoas fazem da Praça
local de parada, algumas ficando por horas desfrutando das sombras e dos bancos,
outras a usando como ponto de encontro de amigos e colegas de trabalho. É
94

comum observar o encontro de pessoas, principalmente mulheres, que sentadas


nos bancos, utilizando o telefone celular, algumas com fones de ouvido, que
cumprimentem e seguem o caminho para o trabalho (a farda denuncia o local de
serviço). Não raro, é observar também o encontro de pessoas que, uma vez juntas,
aproveitam a sombra e batem papo, dão risadas e, só minutos depois partem rumo
ao destino. Em determinadas visitas, observou-se a venda de café (R$0.50), bolo e
salgados, feita de forma volante e tranquila, parecendo os usuários já conhecer o
serviço, uma vez que pagavam pelo serviço sem questionar valores, ou o conteúdo
das térmicas e vasilhas.

O dia já está quente quando o número de ambulantes se acentua - o relógio


acusa as 09:00h da manhã - e fazem dos bancos sombreados local para exposição
de seus produtos, em sua maioria, telefones celulares. Outros ambulantes trazem
seus próprios utensílios de acomodação dos produtos como caixas de madeira,
painéis metálicos e, em alguns casos, carros similares aos usados por feirantes. A
aproximação a estes usuários da Praça nem sempre é amigável que veem na
pesquisa uma intimidação ao serviço e produtos que oferecem. Raimunda, de 65
anos, vendedora ambulante há 46 anos, é das poucas que permite aproximação e
de imediato verbaliza “o lugar de trabalhar é qualquer lugar que a pessoa trabalhe
com dignidade”. Questionado sobre a freqüência com que utiliza a Praça como
ponto de comércio, responde que está ali todos os dias, exceto domingo e se
adianta em afirmar que não vende produtos contrabandeados e roubados e atesta
trazer até comida para vender no horário de almoço.

O relato de D. Raimunda, não é, no entanto, o perfil padrão dos ambulantes


que ali se encontram. Estes são em sua maioria, homens, pardos e negros, com
aparência jovem e que dificilmente estão sozinhos no controle das barracas.
Observa-se uma preocupação entre estes de que a pesquisa não os exponha, a
tentativa de fazer fotos do local e das barracas – mesmo após pedidos – por
exemplo, é negada com veemência, do mesmo modo a gravação das conversas
que, por conta das negativas, foram realizadas a partir de anotações em blocos e
questionário aberto e fechado. A atitude destes ambulantes denuncia duas
realidades. A primeira delas diz respeito à ilegalidade da prática comercial e, em
segundo, a insatisfação destes usuários com as políticas de promoção do comércio
95

ambulante formalizado na capital teresinense. “Os justos pagam pelos pecadores”,


declaram alguns ambulantes e expõem a realidade de que mesmo aqueles
legalizados, com box próprio do shopping da cidade – que fica em edificação no
interior da Praça – optam por comercializar seus produtos nos bancos, devido ao
fluxo de pessoas e à falta de segurança dentro do prédio comercial.

Após as 09:30h da manhã até o meio-dia,o movimento na Praça da


Bandeira permanece o mesmo. O número de transeuntes é alto durante toda a
manhã e, embora em menor número, várias pessoas continuam a usar daquele
espaço como ponto de descanso e parada. Amigos batem papo, sentados junto aos
canteiros arborizados, alguns idosos conferem papéis que parecem ser exames e
receitas médicas (o centro da cidade possui grande oferta hospitalar) e não parece
haver qualquer vestígio de insegurança ou desconforto por parte dos usuários que
transitam, realizam comércio e/ou descansam com tranquilidade, uma vez que o uso
dos telefones celulares acontece normalmente, mulheres são constantemente vistas
sozinhas, sentadas ou circulando sem pressa. Esta realidade, defendem os
ambulantes, só é possível devidos ao comércio existente, e apregoa um ambulante
mais jovem: “A Praça sem o comércio é o parque da bandidagem”.

As “mulheres de programa” – como se autodenominam as profissionais do


sexo que freqüentam a Praça – se camuflam em meio aos ambulantes e aos que
descansam pelos bancos, durante toda a manhã estas se revezam na espera de
clientes e ali trabalham das 08:00h até as 14:00h. “Aqui é tranqüilo, os homens já
sabem, já é um ponto certo” afirma Kátia, 45 anos, que trabalha na Praça pelo
menos três vezes na semana. Sentadas às sombras das mangueiras, elas
aguardam a aproximação dos homens que negociam o valor e partem para motéis
espalhados no centro. Durante as visitas não foi possível identificar homens que
trabalhassem como profissionais do sexo no interior do largo, mas o pesquisador foi
abordado em duas ocasiões por homens interessados pelo serviço que o
confundiram com um desses profissionais.

Os relógios batem o meio-dia e o número de usuários da Praça aumenta


consideravelmente. Neste intervalo, muitos saem de seus trabalhos para o horário
de almoço e se abrigam às sombras dos Oitis e Ipês ali existentes, algumas
pessoas trazem marmitas prontas, enquanto outras adquirem sua comida em
96

barracas ambulantes – embora estas não estejam todos os dias presentes no


recinto – e outra parcela dos frequentadores se deslocam até o Mercado Municipal,
vizinho à Praça, e fazem ali sua refeição ou transportam o prato para ser consumido
no interior no espaço público estudado. Talvez seja esta uma das atividades que
revelam um problema apontado por vários dos freqüentadores entrevistados, o lixo
orgânico descartado nos canteiros. Foi comum a reclamação de que falta limpeza
dos jardins, como também de que falta educação a alguns desfrutadores do
ambiente que não descartam cascas de frutos e resto de alimentos nas lixeiras.

Neste momento é relevante apontar um segundo problema frequentemente


apontado por aqueles que estão em interação diária com a Praça, a falta de
banheiros públicos. Embora o Shopping da Cidade e o Mercado Público estejam a
poucos metros da área ajardinada da Praça da Bandeira, é comum observar,
homens urinando nos troncos das árvores. Perguntados do por que desta atitude
alegam que os banheiros ficam longe e que não podem deixar as barracas
sozinhas.

Nem mesmo as altas temperaturas da tarde – os termômetros costumam


marcar mais de 35 graus Celsius na capital neste período do dia – espantam os
usuários da Praça Marechal Deodoro, ali, no interior, a sensação térmica é
consideravelmente menor e o conforto é sentido até mesmo com leves brisas de ar,
somente o fluxo de carros diminui à medida que muitos trabalhadores das
repartições vizinhas finalizam suas atividades. Neste sentido as atividades
permanecem praticamente as mesmas da manhã, com mudanças sutis. É curioso,
por exemplo, perceber que o comércio informal é menos intenso neste turno. Os
vendedores de celulares, geralmente homens mais jovens, agora se misturam a
outros vendedores e outros tipos de produtos podem ser encontrados, como
alimentos (em carros de mão que circulam todo o perímetro comercial do centro da
cidade), roupas, guarda-chuva, brinquedos infantis e acessórios.

É somente por volta das 17:00h que o uso da Praça sofre maior
interferência conforme o fluxo de pessoas se inverte e muitos cruzam-na em direção
às paradas de ônibus, encaminhando-se de volta para casa ao fim dos expedientes.
Neste período a quantidade de transeuntes é consideravelmente superior à de
pessoas que se utilizam do espaço para descanso e comércio, apenas jovens
97

parecem não ter pressa no retorno do trabalho/escola e são estes os que ainda
ocupam os bancos, alguns em conversas acaloradas com amigos, outros com
parceiros em namoro. Este período é marcado pela ausência do comércio
ambulante no interior do espaço, alguns vendedores ainda permanecem, mas com
as barracas fechadas e produtos guardados, ou na área externa ao cercado da
Praça, embora muitos afirmem permanecer ali até as 18:00h. A calmaria e a
tranquilidade são marcas presentes no ambiente nesta faixa de horário, não
havendo qualquer indício do agito da manhã.

A noite cai e marca a ausência de atividades na Praça Marechal Deodoro da


Fonseca, pontuando-se dias em que foi possível observar pessoas utilizando os
bancos de madeira para dormir, enquanto outras se utilizavam das árvores para
guardar cadeiras e barracas que, no período da manhã, serviriam para exposição de
produtos. Frisa-se que dias de celebração na Igreja Matriz e na Igreja evangélica
existe alguma movimentação no exterior à praça, não havendo trocas com o espaço
interno. Pontua-se ainda que o interior e o entorno imediato da Praça são
iluminados cenicamente, com canhões que valorizam arquitetonicamente os
edifícios históricos, mas não há presença de pessoas, nem de automóveis.

O relato acima corresponde aos dias de segunda-feira a sexta-feira e se


altera conforme o final de semana chega. As manhãs de sábado, são, por sua vez,
bastante intensas na Praça da Bandeira. Fortalecida pelo comércio pulsante, muitas
pessoas transitam, descansam e se utilizam do comércio informal que ali se
estabelece. Do mesmo modo, os pontos de ônibus ficam cheios durante todo o
período e somente por volta das 13:00h o fluxo de pedestres e automóveis diminui.
O período da tarde de sábado é calmo na Praça, com o fechamento do comércio,
poucas são as pessoas que ainda permanecem pelas redondezas e,
consequentemente, na Praça da Bandeira e à medida que o dia avança o número
de frequentadores cai até que se ausentam as últimas pessoas, geralmente
moradores de rua e usuários de entorpecentes.

A ausência de comércio no Domingo se reflete na ausência de


frequentadores da Praça que passa o dia todo, praticamente, vazia, exceto por um
ou outro andarilho e usuário de drogas. Não há registro de atividades na Praça
mesmo nos horários de celebração de missa na Igreja Matriz ou na igreja
98

evangélica.

4.1.1 Vozes da Praça Marechal Deodoro

A pesquisa de campo revelou uma heterogeneidade no perfil dos usuários


da Praça Marechal Deodoro, embora se estabeleçam certas características comuns
àqueles que estão em interação constante com o referido espaço. Em relação à
faixa etária, por exemplo, os adultos são a maioria dos frequentadores e estão
compreendidos entre os 26 e os 65 anos, em sua maioria. O grau de escolaridade
está em grande número compreendido entre aqueles que concluíram apenas ensino
fundamental I, embora, entre os clientes das profissionais do sexo tenha-se
encontrado homens com nível superior completo e pós-graduação. Os que ali
freqüentam cotidianamente estão a trabalho, geralmente todos os dias da semana,
exceto os domingos, não tendo sido encontrado freqüentadores que fazem uso
diário da Praça com a finalidade de descanso.

Indagados a respeito de suas percepções em relação à Praça Marechal


Deodoro e seu entorno imediato, os trabalhadores locais – ambulantes e
profissionais do sexo – se dizem atraídos à Praça pela certeza de clientes.
Entrevistado A, 57 anos, ambulante há mais de 40 anos viu na Praça a
oportunidade de complementar renda do Box que possui no Shopping da Cidade e
declara ter criado os filhos com a renda do comércio ambulante, “cada filho meu tem
seu carro e sua casa”, orgulha-se o homem.

É interessante apontar que poucas foram as queixas quanto a estrutura


física do local, as entrevistas mostraram que o lixo é o problema mais comumente
relatado entre os usuários, seguidos pela criminalidade. Na Praça, segundo relatos
de ambulantes, freqüentam ladrões de carro e banco e reclamam da falta
policiamento, mas outros mencionam a truculência policial como um problema, “eles
chegam atirando, minha neta viu o policial apontar uma arma para meu filho que
estava trabalhando” é o que relata Entrevistada B, 65 anos. Os transeuntes, por outro
lado, não declararam queixas e expressaram gostar da Praça, de sua limpeza e
organização e confessarem sentir segurança quando do uso do ambiente.

Quando questionado acerca do zelo dado pela prefeitura ao espaço da


Praça, todos os entrevistados foram enfáticos em reclamar da falta de cuidado,
99

principalmente com a limpeza e manutenção dos bancos. Ainda sobre a prefeitura,


algumas entrevistas apontaram que, durante o período eleitoral, fora prometido
maior cuidado com o espaço da Bandeira, bem como maior policiamento, mas,
segundo estes, o acordo não foi cumprido. “A mulher do prefeito veio aqui, pegou na
mão de todo mundo e agora que é deputada nem pisa mais aqui”, relatou
Entrevistada B, logo no inicio da entrevista. Em paralelo, perguntou-se a certa do
trato dado pelos usuários e as respostas foram similares, apontando uma falta de
zelo por parte daqueles que usufruem do espaço.

A história da Praça Marechal Deodoro é a questão da pesquisa que


apresentou mais inconstâncias, não havendo, assim, conhecimento da real memória
daquela paisagem. O primeiro ponto acerca da história que chama atenção é a
forma como os usuários de referem à Praça, sempre a denominando Praça da
Bandeira, em tempo que a maior parte dos entrevistados sequer sabiam do nome
oficial Marechal Deodoro. Do mesmo modo, as transformações físicas que a Praça
sofreu ao longo dos anos parece não terem sido sentidas pelos usuários que não
relataram mudanças significativas, salvo aqueles mais velhos que apontaram que a
quantidade de árvores aumentou consideravelmente, trazendo mais conforto ao
espaço.

É relevante destacar que, ao contrário das transformações físicas da Praça,


as intervenções arquitetônicas dos prédios adjuntos ao logradouro em estudo foram
fortemente mencionadas, sempre com certa lamentação. Correspondentemente,
alguns entrevistados denunciaram o que chamaram de “reforma do lado de fora”, ao
se referirem às intervenções do Mercado e do Museu, alegando que os interiores
permanecem ruins e velhos. Outro interessante ponto desta seção da pesquisa foi
constatar que os usuários da Praça sentem falta de placas indicativas nos prédios
do entorno imediato, “O Mercado não tem nome, nem a Prefeitura tem placa”,
reclamou Kátia11, profissional do sexo e completou afirmando a beleza do lugar,
mas lamentou não ser um espaço bem cuidado.

Dito isto, é preciso apontar que a Praça vista pelo exterior, sem
aproximação, parece perigosa e abandonada, mas a observação detalhada e a

11
Os nomes dos interlocutores ou entrevistados que aparecem neste texto foram modificados para
assegurar o anonimato.
100

vivência permitem romper com essa ideia. Os usuários se utilizam do espaço com
calma, não há pressa para se deslocar pelo lugar e experienciar o espaço a partir
desta tranqüilidade. Sentar, sentir o clima ameno da sombra das árvores e curtir o
momento em que se está dentro da Praça da Bandeira permite perceber que é um
espaço acolhedor da cidade, embora ainda com problemas de manutenção e
segurança.

A observação mais interessante de se fazer a respeito do espaço da Praça


é que num primeiro momento este parece ser um espaço com predomínio do
comércio informal, e da criminalidade, mas que na verdade é enriquecido pelas
pessoas que se incorporam à paisagem para trânsito, circulação e descanso, desde
jovens a adultos e idosos. É relevante a observação, ainda, de que, aparentemente,
existe uma relação bem estabelecida entre os usuários e os comerciantes locais, à
medida que existe uma procura constante por estes profissionais e o serviço que
oferecem. Assim, como aponta Gehl (2013) a cidade precisa de uma vida urbana
variada, onde as atividades sociais sejam combinadas, onde haja necessária
circulação de pedestres e tráfego, bem como oportunidades de participação na vida
urbana.

A Praça Marechal Deodoro é, portanto, a partir dessas incursões um


ambiente vivo, pulsante, bem estabelecido, acolhedor e dinâmico que se contrapõe
às hipóteses pré-estabelecidas pelo autor. Esta pesquisa questiona se as políticas
de preservação do patrimônio ali presente contemplam as vivências e apropriações
destes usuários de maneira assertiva e atesta que, embora existam práticas ilícitas
no local, não se pode alegar que o espaço seja morto (tomando emprestado o termo
utilizado por Jacobs, 2011), ou que não é bem aproveitado. Assim, espera-se que, o
conhecimento das apropriações e usos que se estabelecem no recinto contribua
para futuras intervenções urbanas e paisagísticas e, também, na consolidação de
novas pesquisas que auxiliem em um maior conhecimento e melhor planejamento
de atividades na Praça.
101

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Existirmos: a que será que se destina?


Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina”
(Caetano Veloso, 1979)

É encantador pensar acerca dos usos e apropriações existentes na Praça


Marechal Deodoro para que seja possível decodificar os discursos daqueles que
estão em interação diária com o espaço marco zero da cidade de Teresina.
Compreender este usos é uma maneira de construir uma relação entre estas
práticas e o ideal do novo urbanismo de fomentar a consolidação de cidades para
pessoas. A observação direta do referido espaço público, marco zero da capital
piauiense, revela uma dinâmica urbana pulsante que, obviamente, difere-se daquela
atmosfera bucólica a qual foram erguidas as primeiras construções da cidade, mas,
o olhar atento às vivências ali contidas desvenda um espaço que resiste às
mudanças urbanas, configurando este como um espaço do encontro.

As observações aqui contidas são capazes de demonstrar que, apesar da


Praça Marechal Deodoro abrigar atividades sociais contraditórias, os usos dos
elementos físicos e as atividades realizadas naquele perímetro determinam e
102

auxiliam na leitura das manifestações socioculturais, nos processos de mudanças


que o espaço sofreu ao longo do tempo, além de revelar como se dá a identificação
dos usuários com o espaço que apropriam, bem como, descortinam hipóteses de
um espaço que se reduziu ao ostracismo, às amarras da criminalidade e atividades
ilícitas e se afastou de uma memória histórica, indicando que apesar disto,
exterioriza um ambiente social de lazer, intimamente ligado aos seus usuários e à
realidade do centro de Teresina.

Esta dissertação objetivou a compressão dos diferentes usos e formas de


apropriação existentes na Praça Marechal Deodoro, em Teresina, Piauí e relaciona-
se com o conceito, apresentado pelo novo urbanismo, de Cidades para Pessoas, a
partir da observação, análise e compreensão das práticas de discursos que
emanam daqueles que estão em interação diária com aquele espaço. Apoiado na
literatura clássica e nas teorias recentes da ciência das cidades estruturou-se esta
pesquisa em três diferentes abordagens investigativas. Primeiramente, a
observação direta auxiliou na percepção das diferentes formas de uso encontradas
na Praça, bem como na aproximação do pesquisador ao objeto estudado,
intentando-se em uma análise etnográfica que qualifica o espaço de maneira
aproximada; a oralidade foi outra abordagem investigativa, através de questionário
semi-estruturado (Anexo 1) e transcrição de relatos de alguns dos freqüentadores
do Praça, intentando-se na compreensão dos porquês das formas de utilização do
lugar estudado, assim como do entendimento das relações de identidade ali
concebidas; o registro fotográfico foi a terceira forma de aproximação do objeto de
pesquisa e teve como finalidade a documentação visual das atividades e usos, bem
como do espaço físico da Praça.

Até meados de 1950 a cidade de Teresina mantinha-se centralizada ao


programa de Saraiva, embora nesta época novos logradouros e praças já tivessem
sido inaugurados. A Praça Marechal Deodoro, no entanto, permanecia em destaque
no tecido urbano, marcada como um espaço público da mais alta importância por
abrigar muitas das principais edificações da cidade, bem como por ser palco de
inúmeras trocas sociais. É somente, após a construção da ponte sobre o Rio Poti,
em 1957, que o centro da cidade começa um processo de declínio, a partir das
mudanças das famílias tradicionais para a zona leste da capital, localizada à
103

margem oposta do Rio. É assim que a Praça da Bandeira se vê marcado por uma
transição no modo como os citadinos teresinenses se relacionam com o espaço
público central.

Uma das formas de se perceber as mudanças sofridas pela Praça é através


da análise das fotografias antigas, dos discursos dos freqüentadores entrevistados e
a atual configuração espacial do recinto, marcada pela falta de manutenção e uso
pouco heterogêneo. Sustentado na teoria do novo urbanismo de que os usos que os
habitantes dão aos espaços públicos das cidades são reflexos dos convites os quais
a própria cidade faz a seus moradores, percebe-se que, na Praça Marechal
Deodoro, em Teresina-PI, esta prerrogativa se consolida, uma vez que, as
atividades ali contidas refletem as possibilidades e estímulos oferecidos.

Ora, não há considerável número de crianças ou idosos no ambiente, uma


vez que, não existe estrutura adequada para bem recebê-los. Do mesmo modo, as
atividades ilícitas encontram ali zona ideal para sua prática, há clientela, espaço
apropriado, falta gestão pública e sobra artifícios para que as práticas ocorram de
maneira proveitosa. O cercado da Praça, apontado, por alguns, como elemento
estético emblemático na configuração da paisagem da Bandeira, fora decodificado
por vezes como elemento de auxílio em pequenos furtos, em que, um assaltante do
lado de fora, arremessava os objetos furtados para o interior da Praça, enquanto o
segundo sujeito da ação apanhava a peça, numa ação orquestrada à luz do dia.

Não se pode, porém, desconsiderar que a Praça é um espaço vivo, ou seja,


carregado de memórias e abastecido de atividades sociais da cidade e que, ainda
apoiado na teoria de cidade para pessoas, é um local de encontros e trocas
humanas. Se, como aponta Gehl (2013) o comportamento e a comunicação das
pessoas é o natural ponto de partida no trabalho de se projetar cidades para
pessoas, ali se tem então um espaço que, apesar dos problemas, revela-se uma
área da sociabilidade.

Sob esta ótica, considera-se que as mudanças ocorridas no espaço público


trazem, por certo, novas formas de sociabilidade, apresentando diferentes formas
de interação entre as pessoas; e das pessoas com o meio ao qual habitam. Assim
sendo, a Praça Matriz de Teresina tornou-se, ao longo dos tempos, um espaço
104

público de pouca heterogeneidade – marcado principalmente pelo comércio informal


– sem diversificação de atividades. Tecnicamente, a Praça tornou-se um local de
pouco reconhecimento para os que não a freqüentam, o que pode ser reconhecido a
partir do discurso daqueles que estão às margens do logradouro, principalmente aos
habitantes que não fazem do centro um local da memória e do uso cotidiano. A
Praça, no entanto, configura-se como local social importante para aqueles que dela
fazem uso, os ambulantes, as profissionais do sexo, aqueles que descansam as
sombras dos oitis, os estudantes das escolas próximos e para qualquer um que se
permitir romper as barreiras destrutivas do desconhecido.

A partir da análise das entrevistas e das observações em campo atesta-se


que à Praça Marechal Deodoro está intimamente relacionada à identidade da cidade
de Teresina. Esta paisagem é palco de atores sociais diversos que experienciam o
lugar a partir de óticas bastantes diferentes que, no entanto, comungam de uma
mesma verdade, a importância da Praça para o espaço urbano da capital. As
vivências e as memórias então apreendidas estão sempre carregadas de um
sentimento de pertencimento e apropriação que se relacionam ao reconhecimento
de sua importância como espaço patrimonial da capital. Constata-se que o
patrimônio histórico cultural abrange mais que a materialidade dos objetos, como os
bens arquitetônicos, engloba ainda, os valores e significados dados àquele espaço,
as crenças e os costumes que ali se desenvolvem.

Percebeu-se, ainda que, embora as práticas que se desenvolvem na Praça,


muitas vezes sejam incompatíveis com os interesses patrimoniais
institucionalizados, este configura-se como espaço público urbano vivo e dinâmico
que é carregado de significados para aqueles que diariamente com ele interagem.
As narrativas que aqui se apresentam, embora partam de perspectivas diversas,
retratam aspectos possíveis de serem conectados a partir de pequenas
similaridades. Destaca-se, na fala dos entrevistados, a importância da Praça, bem
como o entendimento de que aquele é um espaço de identidade cultural
teresinense, neste sentido, o novo urbanismo atesta que, por isso, a Praça não
pode estar relacionada a um espaço morto, mas a um local de encontros.

Destaca-se, finalmente, a relevância da pesquisa para a aproximação das


práticas urbanas de planejamento, das políticas de requalificação dos espaços, bem
105

como, dos estudos de conservação, preservação e manutenção dos sítios


históricos, com aquelas que são as principais integrantes das cidades: as pessoas.
Espera-se que, com a finalização desta pesquisa, tenha-se contribuído para o
fomento de discussões que versem sobre a salvaguarda do patrimônio edificado de
Teresina, bem como, das relações dos teresinenses com o seu lugar, assim como
na promoção dos ideais do novo urbanismo na construção de cidades melhores
para seus habitantes.
106

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107

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APENDICE A – Modelo entrevista da fase piloto

PERFIL DO PARTICIPANTE

1. IDADE
( ) Menor de 18
( ) De 18 a 25
( ) De 25 a 40
( ) De 40 a 65
( ) Maior que 65

2. Gênero
( ) Maculino
( ) Feminino
( ) Não binário
( ) Intersexual
( ) Outro:
______________________________________________________________

3. ESCOLARIDADE
( ) Sem escolaridade
( ) Ensino Fundamental I
( ) Ensino Fundamental II
( ) Ensino Médio
( ) Superior

4. ATIVIDADE PROFISSIONAL
( ) Estudante
( ) Aposentado(a)
( ) Desempregado
( ) Dono(a) de casa
( ) Trabalhador:
_________________________________________________________

USO DA PRAÇA

5. ATIVIDADES
( ) Lazer
( ) Espera
110

( ) Trabalho
( ) Passagem
( ) Outro:
______________________________________________________________

6. FREQUÊNCIA
( ) 1 vez por semana
( ) De 2 a 3 vezes por semana
( ) De 4 a 5 vezes por semana
( ) De 6 a 7 vezes por semana
( ) Outro:
______________________________________________________________

7. TEMPO DE PERMANÊNCIA
( ) Menos de 1 hora
( ) Entre 1 e 2 horas
( ) Entre 2 e 3 horas
( ) Passagem
( ) Outro:
______________________________________________________________

PERCEPÇÃO DO FREQUENTADOR (GRAVADO)

8. Quais atrativos você identifica na Praça Marechal Deodoro?

9. E quais problemas observa?

10. Como avalia o zelo do poder público pela Praça? E dos frequentadores?

11. Quais elementos são necessários para melhoria deste espaço público?

HISTÓRIA DA PRAÇA (GRAVADO)

12. Você conhece a história da Praça Marechal Deodoro?

CONCLUSÃO (GRAVADO)

13. Que importância você atribui à praça, para a cidade de Teresina?


111

APENDICE B – Modelo entrevista final

PERFIL DO PARTICIPANTE

1. Qual a sua idade?


( ) Menor de 18
( ) De 18 a 25
( ) De 26 a 40
( ) De 41 a 65
( ) Maior que 65

2. Qual a sua escolaridade?


( ) Ensino Fundamental I
( ) Ensino Fundamental II
( ) Ensino Médio
( ) Superior
( ) Outro:
______________________________________________________________

3. O que você faz? Ocupação profissional.


( ) Estudante
( ) Trabalhador:
_________________________________________________________
( ) Aposentado(a)
( ) Desempregado(a)
( ) Do lar

USO DA PRAÇA

4. O que você faz na praça?


( ) Lazer/Passeio
( ) Trabalho:
___________________________________________________________
( ) De passagem/ Em trânsito
( ) Outro:
______________________________________________________________

5. Com que freqüência você vem à esta praça?


( ) 1 vez por semana
( ) De 2 a 4 vezes por semana
( ) De 4 a 6 vezes por semana
( ) Todo dia
( ) Outro:
______________________________________________________________

6. Quanto tempo você fica na Praça?


( ) Menos de 1 hora
112

( ) Entre 1 e 2 horas
( ) Entre 2 e 3 horas
( ) Mai de 4 horas
( ) Outro:
______________________________________________________________

PERCEPÇÃO DO FREQUENTADOR

7. O que você acha interessante na Praça? O que te atrai na Praça?

8. Você acha que há problemas aqui na Praça? Quais? Como resolver?

9. Você acha a Praça bem cuidada?


9.1. Pela prefeitura?
9.2. Pelos freqüentadores?
9.3. E por você?

HISTÓRIA DA PRAÇA

10. Como você chama a Praça? Como se refere a ela?

11. Você viu ou testemunhou alguma mudança na Praça?


11.1. Qual?
11.2. Quando?

12. Você conhece a história dessa Praça?

13. Você acha que a Praça é importante para Teresina? De que maneira?
113

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Estamos lhe convidando para participar da pesquisa intitulada: Identidade,


Lugar e Paisagem Cultural Da Praça Marechal Deodoro Da Fonseca. Este
trabalho faz parte da dissertação de mestrado desenvolvida no programa de Pós-
Graduação em Ambiente e Desenvolvimento. O projeto objetiva-se na investigação
da relação entre os diferentes usos e formas de apropriação existentes na Praça
Marechal Deodoro, em Teresina, Piauí e o conceito de Cidade para Pessoas
apresentado pelo Novo Urbanismo.

Como metodologia de coleta de dados será utilizada a aplicação do


instrumento de entrevista e observação direta dos participantes. As informações
obtidas serão mantidas em sigilo, servindo apenas para os fins da pesquisa, não se
revelando os nomes dos participantes. Todos os registros ficarão de posse do
pesquisador por cinco anos e após esse período serão incinerados. A sua
participação não oferece risco algum, sendo o único desconforto o tempo que será
gasto para responder o instrumento.

Será garantido também:

⮚ Receber resposta a qualquer dúvida ou questionamento sobre os


procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados à
pesquisa;

⮚ Poder retirar seu consentimento a qualquer momento, deixando de


participar do estudo, sem que isso traga qualquer tipo de prejuízo;

⮚ Não ser identificado quando da divulgação dos resultados e que


todas as informações obtidas serão utilizadas apenas para fins
científicos vinculados à pesquisa; e

⮚ Caso existam custos financeiros, estes serão absorvidos pelo


orçamento da pesquisa.

Este documento não será registrado nem avaliado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da UNIVATES, em acordo ao ART 1º, parágrafo único, da resolução Nº
510 do Ministério da Saúde, e deverá ser assinado em duas vias, sendo que uma
114

delas será retida pelo sujeito da pesquisa e a outra pelo pesquisador. O responsável
pela pesquisa é o professor Walber Angeline da Silva Neto. Fone: (86) 9.8131-
1139.

Pelo presente Termo de Consentimento Livre Esclarecido, declaro que


autorizo minha participação nesta pesquisa, pois fui devidamente informado (a), de
forma clara e detalhada, livre de qualquer constrangimento e coerção, dos objetivos,
da justificativa, dos instrumentos de coleta de informação que serão utilizados, dos
riscos e benefícios, conforme já citados neste termo.

Data_ ____/____/____

Nome do participante da pesquisa Assinatura do participante da pesquisa

Assinatura do pesquisador responsável

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