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2019 Walber Angelineda Silva Neto
2019 Walber Angelineda Silva Neto
RESUMO
ABSTRACT
Based on the Idea of the new urbanism that the planning of urban spaces must start
from the conception of Cities for People, this dissertation aims to investigate the
relationship between the different uses and forms of appropriation existing in
Marechal Deodoro Square, in Teresina-PI, Brazil and the City for People concept.
Therefore, this research starts from the conception that the city should be interpreted
in na interdisciplinary way and, not only from its territorial configuration, its space, but
also from its social relations. For this reason, the Ethnography of the Square seeks
the methodology to defend the city as a place of encounter and Constant exchange,
focusing attention on practices and discourses that emanate from those who are in
daily interaction with this space. Social actors include street vendors, sex workers,
passers-byand office workers in the immediate vicinity of the square, for whom this
location is na element of the landscape. To this end, it Will be used the record of the
speeches contained in speeches and images, supported by interviews, photographic
product and observations of the relationships that people establish with that space.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
1 REFERENCIAL TEÓRICO 15
1.1 Cidade 15
1.2 Praça 26
1.3 Novo Urbanismo 31
1.3.1 Breve Histórico 31
1.3.2 Cidades Para Pessoas 34
2 METODOLOGIA 42
2.1 Introdução 42
2.2 O Método 42
2.3 A Fase Piloto da Investigação 46
2.4 A Segunda Fase da Pesquisa 57
REFERÊNCIAS 106
INTRODUÇÃO
urbanos, uma vez que o trabalho humano era, agora, tratado quase que como uma
mercadoria, sendo solicitado em escalas gigantescas. Era natural que as cidades
não acompanhassem as necessidades humanas que se multiplicavam, fazendo
surgir um excedente populacional miserável que vivia em péssimas condições nos
bairros operários, de maneira precária e subvertida socialmente.
1 REFERENCIAL TEÓRICO
1.2 Cidade
intelecto. Esta certeza permite compreender, portanto, que o citadino reage com a
cabeça, levando-o a uma predominância da inteligência em relação aos sentimentos
e afastando-o da zona mais profunda da personalidade, intencionando-se na
preservação da vida subjetiva (SIMMEL, 1967).
Esta relação com o dinheiro determinou uma precisão e uma segurança nos
acordos entre os homens que acabou simbolizada pelo relógio, porque são, estas
relações, marcadas por múltiplos e complicados pontos, diversas preocupações de
diversos homens, que necessitam de pontualidade para que não leve à ruína deste
organismo “altamente complexo”. É preciso ainda apontar que as atividades
humanas não suportam a perda de tempo com esperas e deslocamentos, portanto,
a lógica da cidade é que as relações sejam precisas, rígidas e impessoais. Em
paralelo, como consequência a esta exatidão dos ponteiros, a impessoalidade
tornou-se marca das metrópoles, assim, o comportamento blasé, ou seja, o homem
entediado, é tal qual Simmel (1967) o fenômeno mais próprio da grande cidade,
resultado das rápidas mudanças impostas aos nervos, surgindo ao que parece ser
uma incapacidade de novas excitações, ainda, porque o homem blasé tornou-se
indiferente às coisas, não porque as coisas não sejam percebidas, mas porque, a
reflexo da economia do dinheiro, o homem citadino, enxerga todas as coisas com a
mesma profundidade (SIMMEL, 1967).
18
Quanto menor é o círculo que forma nosso meio e quanto mais restritas
aquelas relações com os outros que dissolvem os limites do individual,
tanto mais ansiosamente o círculo guarda as realizações, a conduta de vida
e a perspectiva do indivíduo e tanto mais prontamente uma especialização
quantitativa e qualitativa romperia a estrutura de todo o pequeno círculo.
(SIMMEL, 1997 p.16)
Não nos propomos oferecer uma casuística mais detalhada, como a que
corresponderia a uma teoria rigorosamente econômica da cidade. Apenas
cabe dizer que as cidades representam, quase sempre, tipos mistos e que,
portanto, não podem ser classificadas em cada caso senão tendo-se em
conta seus componentes predominantes (WEBER, 1967, p.71).
Existem ainda as “cidades agrárias” que se distanciam das aldeias, mas que
seus habitantes lançam mão da produção individual de mercadorias para se
abastecerem e até para comercializar. Este tipo de cidade é certamente próprio de
localidades menores, onde comumente se dispõe de terra para cultivo como forma
de produção de alimentos e área para pastos. O conceito de cidade não é, contudo,
20
Neste sentido, a cidade não deve ser lida sob um único óculo, mas na
pluralidade de suas características, na multiplicidade social que nela se estabelece.
Esta pesquisa parte deste pressuposto e, alinha-se ao Estatuto das Cidades –
documento criado em 2001 que reúne instrumentos urbanísticos, tributários e
jurídicos responsável pelo estabelecimento da política urbana na esfera municipal,
pela consolidação das funções sociais da cidade e da propriedade urbana – no que
tange a ampliação do direito dos cidadãos a uma gestão democrática das cidades.
A análise das cidades, isto posto, deve denotar suas variações, mais que
encontrar suas semelhanças, uma vez que as características e influências sociais
das cidades variam conforme suas categorias se alteram, ou seja, cidades
industriais possuem características diferentes de cidades comerciais, que por sua
vez se diferem das cidades universitárias e capitais. Os atributos que conferem título
às cidades, cabe ressaltar, não são reflexo do industrialismo ou do capitalismo
moderno, “por diferentes que possam ter sido as cidades de épocas anteriores pré-
industrial e pré-capitalista, não deixavam de ser cidades” (WIRTH, 1967 p.95).
A cidade tem sido, dessa forma, o cadinho das raças, dos povos e das
culturas e o mais favorável campo de criação de novos híbridos biológicos e
culturais. Ela não só tolerou como recompensou diferenças individuais.
Reuniu povos dos confins da terra porque eles são diferentes e, por isso,
úteis uns aos outros e não porque sejam homogêneos e de mesma
mentalidade (WIRTH, 1967 p.97)
A imagem clara das cidades cria uma ligação forte entre as pessoas e as
formas urbanas, as paisagens tornam-se facilmente identificáveis, estabelecendo-se
como parte integrante da vida dos cidadãos. Lynch (1997) argumenta, em vista
disso, que a cidade deve ser erguida com arte, aumentando a legibilidade, ou -
como ele propõe - a “imaginabilidade” do ambiente urbano, de modo a facilitar a sua
identificação e imagem. Isto posto, descreve qualidades que devem ser estudadas
pelo pesquisador urbano para a análise, diagnóstico e tomada de soluções do
desenho urbano que podem ser resumidas em: nitidez de limites, clareza e
simplicidade das formas, continuidade das superfícies, hierarquia de elementos,
relações claras entre elementos, diferenças entre extremidades, alcance visual,
consciência de movimentos real ou potencial do observador, séries temporais e as
características não físicas, como os nomes e seus significados.
1.3 Praça
As cidades não são constituídas apenas de pessoas e edificações, mas
também dos espaços vazios – as praças, parques, largos – que nelas se
apresentam. Dentre este contexto, as praças são um importante elemento
morfológico das cidades e diferem-se dos demais espaços vazios públicos pela sua
“organização espacial e intencionalidade de desenho” (Lamas, 1989, p.100). Desde
as sociedades tradicionais, estes são importantes espaços na configuração do
desenho e das relações sociais da cidade, acompanhando a cultura das sociedades
e consolidam-se como um elemento revelador das questões sociais que se
desenvolvem no tecido urbano.
Na Idade Média, o fortalecimento do comércio e, portanto, o surgimento da
27
burguesia aflorou nos habitantes das cidades uma forte ligação com o espaço
público e com o espírito cívico. Nesta época, as praças não eram um ambiente
intencional, pois acompanhavam o traçado preexistente da cidade que tinha como
elemento fundamental, a rua, que dentro dos muros era pensada para o
deslocamento pedonal e serviam como prolongamento dos principais espaços
públicos: a praça do mercado e a praça da igreja. A primeira funcionava à época
como um espaço de serviço, cercados por um conjunto de edificações que
delimitam um espaço irregular. A segunda funcionava como local de encontro das
famílias e formava um conjunto de praças, bipartido, mas próximo, e sempre coeso,
ou seja, nestas praças existia forte manifestação social e visual monumental. (Pinto,
2003)
A partir da Renascença o desenho geométrico e o rigor métrico passam a
acompanhar o desenho arquitetônico e urbanístico. Este período é marcado pela
aproximação das artes e da ciência exata, transformando a cidade que torna-se um
espaço livre e independente onde seus elementos principais agora respeitavam a
forma retilínea e a perspectiva. Assim, a cidade renascentista torna-se um conjunto
bem pensado e não fruto de uma espontaneidade, suas ruas (na maioria destas
cidades), então, convergem para o mesmo ponto central, ou para vários pontos,
assim, as praças renascentistas diferem-se das medievais porque são concebidas
para uma determinada função, espaço onde estão localizadas as principais
edificações da cidade, assumindo aspectos político-sociais, convertendo-se em um
marco no desenho urbano. Este espaço público não mais apresenta uma coesão
visual, ao contrário, a intenção é criar um foco central, usando da perspectiva para
direcionar o olhar do frequentador para uma única edificação ou monumento (Pinto,
2003).
No barroco – período artístico que floresceu entre o final do século XVI e
meados do século XVIII – por sua vez, busca uma praça “infinita”, com magnitude e
poder. São praças que ainda seguem o modelo geométrico efetivado no
renascentismo, mas que passam então a abrigar edificações de tamanho
monumentais, muitas vezes ocupando um lado inteiro do recinto urbano. Noutro
sentido, as praças deste período não obrigatoriamente têm seus lados cercados por
edificações, muitas vezes delimitam-se visualmente por elementos naturais como
rios e vegetação, ou por grandes parques e avenidas, tornando o espaço mais livre
e aberto (Pinto, 2003).
28
O início do século XIX é marcado pelo fim da rigidez geométrica das cidades
e pelo crescimento das periferias urbanas, os subúrbios. As cidades que agora
cresciam no além-muro, viam seu traçado ser completamente modificados pelo
surgimento e aprimoramento dos meios de transporte, pela transformação dos
meios de produção e pelo advento do capitalismo. Assim, a forma e a estrutura da
cidade são, em tal caso, concebidas pela ótica da praticidade, determinada pelo
domínio financeiro, pela ordem do capital e da mercadoria. Isto posto, as praças
assumem papel secundário na vida urbana que agora, segundo Pinto (2003),
assumem três categorias: “as praças concebidas pelos arranjos setoriais ou do
alargamento de ruas; as praças criadas pela extensão da cidade; e as novas praças
construídas nos novos bairros” (PINTO, 2003, p.61), resultando-se em espaços sem
uma função clara, “podendo servir para qualquer coisa”.
A cidade daquele século é caracterizada por uma enorme urbanização,
advinda de um impressionante crescimento demográfico, tendo a Inglaterra como
primeiro território deste movimento. Choay (2013) afirma que uma nova ordem
urbana se apresenta, a partir da racionalização das vias, da setorização da cidade
(área de comércio, residenciais, lazer, etc) e do desprezo pela concepção artística
das cidades. Isto posto, a praça torna-se um lugar ajardinado, com equipamentos
urbanos - bancos, lixeiros - e pavimentado, assumindo papel de elemento urbano
que funciona como espaço de convivência, contemplação e recreação dos
cidadãos, no entanto, um lugar de pouco privilégio diante do funcionalismo que a
vida moderna impõe. (BENEVOLO, 2003).
No século XX muitas foram as teorias que se colocaram na tentativa de
explicar e reorganizar as cidades, surgindo a ciência das cidades, o urbanismo que,
dentre outras características, apresentava a cidade como palco de leitura de sua
sociedade, ou seja, a cidade como reflexo das construções sociais que nela se
desenvolvem e vice-versa. A partir deste período as cidades foram assumindo
características muito mais distantes uma das outras, observando-se algumas
características comuns como a surgimento dos arranha-céus, o fortalecimento do
zoneamento urbano e a fluidez/rapidez dos deslocamentos. Estes atributos da
cidade contemporânea separaram a edificação da concepção urbana, afastando a
vida em sociedade do meio urbano (Pinto, 2003).
Por consequência desta dissociação da vida particular do espaço público, as
praças se tornaram secundárias no traçado urbano, existindo sem a interligação
29
com os edifícios e o fluxo de pessoas. A partir desta época, portanto, estes espaços
públicos passam a abrigar estacionamentos, servir de cruzamento de vias, ou como
parques verdes (Pinto, 2003). É relevante aqui fazer um paralelo com o objeto de
estudo desta pesquisa - a Praça Marechal Deodoro - que, embora apresente alto
fluxo de frequentadores e atividades, configura-se como espaço de estacionamento,
parada de ônibus e passagem para outras regiões do centro de Teresina.
É somente após os anos 1960 que a cidade começa a ser pensada a partir
da sua capacidade ou não de produzir bem-estar e garantir qualidade de vida para
seus cidadãos. Afloram, neste e nos períodos até meados de 1980 muitos teóricos
que reivindicam pela requalificação das áreas históricas e pela conexão entre a
prática da arquitetura e do desenho urbano, surge assim, já no fim do século XX e
início do século XXI, o “novo urbanismo” que retoma a importância dos elementos
urbanos esquecidos: a rua e seu traçado, o quarteirão e o espaço público urbano,
as praças, reconhecendo este como um grande valor na complexa produção da
cidade (Pinto, 2003).
A praça, assim, deve ser compreendida muito mais que como espaço vazio,
mas também como um espaço construído, assumindo uma função social importante
de participação na vida da cidade, como também de preservação de um passado
histórico. Portanto, deve contribuir para a formação cultural do cidadão, não
podendo ser compreendida sem que se compreendam os valores culturais, sociais e
31
fantasiam usos para as praças e parques das cidades, como no exemplo apontado
por Jacobs (2011) - e fantasiado por muitos - de que as praças são os pulmões da
cidade, quando na verdade estes espaços dificilmente contemplam a quantidade de
árvores capaz de produzir dióxido de carbono suficiente para o processo de
respiração humano.
Outro exemplo de equívocos atribuído ao uso das praças está na ideia de
que elas são eficientes na fixação de valores mais altos para os imóveis, posto que
na verdade, por si só, não garante tal estabilização. Estes exemplos corroboram
com a ideia de que as praças das cidades não são intrinsecamente uma dádiva à
população, têm, na realidade, desempenhos instáveis e necessitam da circulação
dos diversos tipos de pessoas e da maneira como a vizinhança nele interfere para
que não se tornem obsoletos e mergulhem na fama de perigosos. Por isso, afirma
Jacobs (2011), uma vizinhança diversa é essencial na composição de uma praça
urbana popular e bem-sucedida, uma vez que propicia uma variedade de usuários
que usufruem do espaço em horários diferentes, conformando uma complexa
sucessão de usos e usuários.
urbano que tenha foco nos usuários da cidade é uma ideia também defendida por
Gehl (2013) que alerta acerca da baixa prioridade dada aos pedestres e aos
espaços urbanos como locais de encontro, comuns a quase todas as cidades,
independente de sua localização, economia e grau de desenvolvimento. Nesta ótica
atesta que o vertiginoso aumento no número de automóveis em todo o mundo,
modificou a lógica urbana, a partir dos anos de 1960, iniciando um processo de
esvaziamento do tecido urbano, onde as pessoas já não podiam circular livremente,
pelos espaços públicos, devido à grande quantidade de carros. Em paralelo, a
ideologia urbanística do movimento moderno - que agrupa os usos da cidade em
setores comercial, residencial, escolar, hospitalar e rejeita o espaço urbano, focando
atenção nos edifícios isolados - é também vista, atualmente, como outro fator de
esvaziamento urbano, resultando em uma cidade em que o foco do
desenvolvimento não está centrado nas pessoas.
A análise das distâncias nos espaços se mostra importante porque este rigor
métrico serve de termômetro para a análise das formas de apropriação existentes
nos lugares, uma vez que a comunicação entre pessoas faz uso constante da
distância e do espaço. Ora, a distância é importante na construção do sentimento de
segurança, na facilidade ou não dos deslocamentos, “sempre que fisicamente
possível, o indivíduo busca manter uma distância curta, porém vital, que mantém a
situação segura e confortável” (GEHL, 2013, p.49), portanto, a escala humana deve
ser a métrica no desenho de ruas e praças da cidade.
O novo urbanismo, assim sendo, dispara que a cidade para pessoas é uma
cidade viva, ou seja, aquela que emite sinais amistosos e acolhedores na promessa
de interação social, portanto, os espaços públicos que possuem a presença de
40
É preciso ainda frisar que para que se desenvolva uma cidade viva, outros
fatores devem ser considerados, como a segurança e proteção dos usuários e a
sustentabilidade social. “Sentir-se seguro é crucial para que as pessoas abracem o
espaço urbano”, aponta Gehl (2013, p.91). Portanto, a prevenção à criminalidade e
a segurança no trânsito de pedestre são essenciais no sucesso dos espaços
públicos, pois garantem o bem-estar físico e mental daqueles que tomam a cidade.
Como resultado deste processo de segurança, a caminhada deve ser livre de
obstáculos e paradas para que os pedestres possam coexistir com outras formas de
locomoção, criando assim cidades funcionais; além disso, o resultado deve ser uma
cidade protegida da criminalidade, entendendo que muitas vezes esta é um reflexo
de uma sociedade desigual com profundas raízes nas condições sociais (Gehl,
2013).
público. Ora pois, a exigência é, portanto, um espaço acessível que sirva como local
de encontro para os tipos diferentes de habitantes da urbe.
2 METODOLOGIA
2.1 Introdução
2.2 O método
encontros) nos turnos manhã, tarde e noite – cabe ressaltar que os momentos de
observação (sem entrevistas) duraram entre meia hora e duas horas e meia,
objetivando-se em permanências curtas e longas que ao final do experimento
mostraram-se importantes na diversificação da amostragem. A pesquisa de campo,
teve como objetivo distinguir as mudanças no espaço conforme o dia da semana e o
horário do dia, observar o perfil daqueles que ocupam a Praça em diversos tempos,
as formas de interação no e como espaço e a qualidade das relações sociais. Nesta
etapa da pesquisa, notas e relatos de experiências observadas foram registrados
em caderno de campo e áudios gravados, observou-se ao longo do processo que a
técnicas da gravação de áudios atraia menos olhares e, portanto, foi adotada como
técnica principal, deixando o caderno de campo somente para os momentos de
entrevista. Desta ótica, buscou-se apreender as dinâmicas sociais que se
desenvolvem na Praça cotidianamente, desvendando o sistema simbólico que
emana daqueles atores sociais entrelaçados pela Praça. Marconi e Lakatos (2004),
observam, sobre este método que objetivo deve ser o de coleta de informações e
(re)conhecimento do problema, portanto, não é um levantamento simples das
práticas e discursos, mas uma observação com objetivo claro e preestabelecido que
visa responder a questão problema.
características, causas, relações com outros fatos” (ROCHA; ECKERT, 2012, p.53),
sem que, para isto, o pesquisador precise interferir no meio. Marconi e Lakatos
(2004) denominam este tipo de pesquisa como exploratória, à medida que se busca
a familiaridade com o local pesquisado, descrevendo o local de maneira qualitativa,
ou seja, a partir de seus aspectos técnicos e formais, mas também, a partir de seus
aspectos não-formais, sociais.
Foi neste processo de resolução dos porquês dos fatos ali observados que
se estabeleceu relação de confiança entre o pesquisador e os atores sociais que,
diferentemente da fase piloto, contribuíram para a pesquisa com livre
consentimento, uma vez que a relação tornou-se cotidiana. “A interação é condição
sine qua non” (ROCHA E ECKERT, 2013, p. 55) e, desta maneira contribuiu para
que as entrevistas ocorressem com mais facilidade, tornando o diálogo menos
formal e direto. Logo, foi nesta etapa que a maior parte das entrevistas foram
realizadas – 6 (seis) entrevistas, totalizando 9 (nove) entrevistados, somado a este
número 1 (um) descarte1.
1
O descarte será discutido adiante no texto.
50
2
Capitão Domingos Afonso Mafrense – Explorador do sertão piauiense.
3
Sesmaria – Instituto jurídico português que normatizava a distribuição de terras destinadas à produção no
Brasil colônia.
4
Capitania – Foi uma forma de administração territorial do império português delegou a tarefa de
exploração e colonização a determinadas áreas particulares do Brasil.
5
Carta Régia - Documento oficial assinado por um monarca que segue para uma autoridade, sem passar por
chancela, geralmente contendo determinações gerais e permanentes.
54
impostos referentes às produções de toda a área central dos dois estados. Assim,
com a capital instalada às margens dos rios Poti e Parnaíba os impostos das
produções do Piauí permaneceram no estado.
Observando
ando a imagem do traçado de Saraiva, a Praça Marechal Deodoro
57
revela-se
se como o vazio central que se abre para o rio, assim, é possível perceber,
ainda, a relação que este largo cria com os demais vazios/praças que a circundam,
marcando, uma vez mais, sua iimportância
mportância no tecido urbano da capital. Após a Igreja
do Amparo, as outras edificações que se ergueram no logradouro foram então as
descritas por Isidoro, a Casa dos Educandos e o hospital, mas também outras tais
como o Quartel (FIGURA 6) e o Mercado Munic
Municipal (FIGURA 7).
Fonte: FUNDAC
Fonte: Arquivo Público
No final do século XIX e início dos anos de 1900, Teresina começa a ganhar
impulso econômico devido ao mercantilismo, est
estabelecendo
abelecendo o começo da
consolidação da capital como centro administrativo (BRANDÃO, 1995). Foi neste
contexto de trocas mercantilistas que a sociedade foi incorporando novos hábitos e
ideais, almejando uma aproximação estética e cultural às elites das gran
grandes cidades
e da Europa, que acabaram sendo refletidas na arquitetura da cidade, com a
consolidação do movimento eclético6 na capital, estilo caracterizado pelo uso de
elementos de diversas estilos e momentos históricos, proveniente do velho mundo.
Desta maneira,
aneira, a arquitetura da cidade foi se transformando e foi neste período que
a influência social da Praça se fortaleceu, marcando aquele ambiente como local de
encontro público, zona de convívio de poderosos e importantes personagens,
começando a desenhar o destaque que se vê até hoje. A fotografia abaixo (FIGURA
8) é ilustrativa desta afirmação, mostra que já em 1903, a Praça era um centro
6
Movimento Eclético - Movimento arquitetônico predominante desde meados do século XIX até as
primeiras décadas do século XX, caracterizado pela mistura ddee estilos arquitetônicos do passado para a
criação de uma nova linguagem arquitetônica.
58
Na Praça, o prédio que hoje abriga a Justiça Federal foi elevado neste
período para sediar a Delegacia Fiscal do Piauí – que funcionou ali até a década de
1960 – quando foi transferido para outro prédio, também na Praça Marechal
Deodoro da Fonseca. Este edifício se destaca no circuito histórico da Praça, porque
as intervenções sofridas ao longo dos tempos afetaram somente o interior do
edifício, salvando a fachada, que apresenta as mesmas características de quando
foi concebido (FIGURA 9).
59
7
ArtDecó- Movimento estético que representa certa tendência de passagem entre a arquitetura produzida
pelo estilo eclético para o modernismo. Caracterizado pelo rigor geométrico e predominância de linhas
verticais, havendo a tendência de tornar, através da percepção, o edifício mais alto.
61
8
Modernismo - conjunto de movimentos e escolas arquitetônicos que vieram a caracterizar a arquitetura
produzida durante grande parte do século XX. Suas características podem ser encontradas em origens
diversas como a Bauhaus, na Alemanha; em Le Corbusier, na França em Frank Lloyd Wright nos Estados
Unidos ou nos construtivistas russos alguns ligados à escola Vuthemas. Uma das principais bandeiras dos
modernos é a rejeição dos estilos históricos principalmente pelo que acreditavam ser a sua devoção
ao ornamento.
62
espaço onde se realizavam atividades sociais da cidade, tais como o culto religioso
e comércio. Na primeira imagem – parte superior do mosaico – observa-se um
largo pouco arborizado, não pavimentado, mas que já apresentava edificações
(anteriormente descritas no texto) de diferentes tipologias e funções que atestam a
relevância social do largo. A segunda foto de meados dos anos 70 revela uma praça
já servida de equipamentos urbanos, aberta, arborizada e conectada ao rio
Parnaíba. Nota-se, em linha reta às torres da Igreja Matriz, skyline livre e paisagem
limpa. Na terceira fotografia, vê-se uma nova paisagem, a Praça sem o contato
direto com o rio, cercada pelas edificações institucionais e densamente arborizada,
aqui pode-se observar, no canto inferior direito, o shopping dos camelôs que barra a
vista ao Rio Parnaíba, desconectando o que outrora fora um cartão postal da
cidade.
Este relato dos fatos permite que se observe que a Praça ao longo do
tempo recebeu a influência das mudanças sociais e econômicas que ocorreram na
cidade de Teresina. Seguramente, o espaço que acabou de ser apresentado,
encontra-se vivo e experimentando novas relações que serão apresentadas a
seguir.
Lima (2001) salienta que as cidades européias com grande tradição cultural,
ou seja, aquelas cidades que cresceram e se desenvolveram valorizando os
vestígios do passado, guardam nas praças, edificações históricas, privilegiadas e
quase sempre disputadas pelas classes dominantes. Esta autora menciona as
66
diversas formas de apropriação que as pessoas fazem destas praças e destaca que
“não se pode falar em morte destes lugares” (LIMA, 2001, p.18). Seguindo esta
abordagem, no Brasil, as praças caracterizam-se por serem espaços públicos e
coletivos, multifuncionais e muitas vezes, subutilizados.
Figura 21–Passeio
Passeio com bancos. Observa
Observa-se
se ótimo estado de conservação.
aproveitamento das áreas públicas estão distribuídas por todo o ambiente, a curtas
distâncias dos locais de passagem e próximas aos bancos. Algumas se encontram
danificadas, e outras, como a da Figura 25 estão a baixa altura, próxima do solo,
fora do padrão, porém ainda é possível utilizá
utilizá-las.
da Praça possuem apenas uma luminária (FIGURA 27), enquanto aqueles locados
nas extremidades, centro e entradas possuem duas luminárias (FIGURA 28).
Figura 33 - Teatro
eatro de Arena recebendo o Encontro de Violeiros 2017
9
Escola Carioca - Trata-se
se originalmente da obra produzida por um grupo radicado no Rio de Janeiro que
cria um estilo nacional de arquitetura moderna. Caracteriza
Caracteriza-se
se pela combinação de volumes e composição
variada com curvas e diagonais retas, lançando mão de uma plasticidade que não se vê na arquitetura
moderna de outros países.
74
3.3.2 Vegetação
da Bandeira.
Sob esta ótica pontua-se a barreira visual que o intenso tráfego de veículos
gera na região, dificultando inclusive o acesso ao interior da Praça e, por vezes,
impedindo a completa apreciação dos edifícios históricos que delimitam o espaço e
impedindo a mirada para o interior da praça.
Figura 42–Praça
Praça da Bandeira com Shopping da Cida
Cidade.
de. Paisagem modificada
pela ausência visual do Rio Parnaíba
a fundação da cidade, a praça assumiu papel de destaque na malha urbano, pois foi
o local onde se implantou a Igreja Matriz, o Poder Municipal e o Mercado Público, ou
seja, o espaço central (FIGURA 44) de grande troca com a população. Foi a partir
deste largo que se partiram, simetricamente, os quarteirões que formaram a cidade.
Dois anos depois a Igreja foi entregue à população, mas só contava com a
Capela-Mor
Mor e as sacristias laterais. Na frente desta igreja – que ficava em um ponto
mais elevado do largo – criou
criou-se
se a atual Praça Marechal Deodoro da Fonseca e foi
neste espaço, ao redor da Igreja Matriz (FIGURA 47),
), que se criaram as primeiras
edificações da capital. (SILVEIRA, 2013)
O MUSEU DO PIAUÍ
O PALÁCIO DA CIDADE
10
Escola Normal - Eram instituições de formação de professores que surgiram no Brasil, previstas
pela Lei Provincial de 1835. A justificativa para a criação das Escolas Normais era a de que os
antigos mestres-escola, professores da época, não estavam preparados para a prática docente e os
estabelecimentos serviriam como referencia de normalização das práticas educativas, formação e
instrução profissional de novos mestres e para propor através de concursos públicos, pessoas aptas
ao magistério.
88
O MERCADO MUNICIPAL
Também chamado de Casa Anísio Brito, o prédio (FIGURA 53) que foi
erguido no Governo de Leônidas Melo (1935 – 1945), pelo engenheiro Cícero
Ferraz de Sousa Martins, com as sob
sobras
ras dos materiais usados na construção do
Hospital Getúlio Vargas, foi inaugurado em 1941 e funcionou até os anos 1980
como museu de estado do Piauí e Arquivo Público, para, em seguida sediar apenas
ao segundo órgão. (Revista Presença, 2006)
Fala-se
se em memória porque a edificação, embora bastante recente erguida
por volta de 1980, já se constitui como uma das edificações mais importantes do
entorno, à medida que, pertence às lembranças da população e apaga da mem
memória
coletiva
etiva o antigo Tesouro Nacional
Nacional, demolido ainda nos anos 1970, para que se
criasse uma ligação entre as Praças Marechal Deodoro da Fonseca e a vizinha
Praça Rio Branco (FIGURA 55).
O sol a pouco levantou - por volta das 06:00h da manhã - entre as torres da
Igreja do Amparo e os primeiros movimentos começam a ser percebidos no entorno
da Praça. Alguns ambulantes vagueiam com carros de mercadorias, provavelmente
à caminho de pontos estratégicos no agitado centro comercial de Teresina. Em dias
de semana, por volta das 07:00h o fluxo de pessoas já é intenso, por conta das
repartições públicas que se encontram no entorno imediato do largo, o fluxo de
carros é, da mesma forma, acentuado e até o som do entorno torna-se mais
agitado. Buzinas misturam-se ao cântico de alguns pássaros que ainda habitam o
local e carros de som e propaganda rondam o logradouro de tempos em tempos.
Por volta das 07:30h da manhã, quando o sol já está forte e os ônibus
continuam trazendo pessoas à Praça, o fluxo de automóveis se intensifica seguindo
até o horário de entrada dos trabalhadores das repartições, por volta das 08:15h da
manhã. Neste período já é possível observar que diversas pessoas fazem da Praça
local de parada, algumas ficando por horas desfrutando das sombras e dos bancos,
outras a usando como ponto de encontro de amigos e colegas de trabalho. É
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É somente por volta das 17:00h que o uso da Praça sofre maior
interferência conforme o fluxo de pessoas se inverte e muitos cruzam-na em direção
às paradas de ônibus, encaminhando-se de volta para casa ao fim dos expedientes.
Neste período a quantidade de transeuntes é consideravelmente superior à de
pessoas que se utilizam do espaço para descanso e comércio, apenas jovens
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parecem não ter pressa no retorno do trabalho/escola e são estes os que ainda
ocupam os bancos, alguns em conversas acaloradas com amigos, outros com
parceiros em namoro. Este período é marcado pela ausência do comércio
ambulante no interior do espaço, alguns vendedores ainda permanecem, mas com
as barracas fechadas e produtos guardados, ou na área externa ao cercado da
Praça, embora muitos afirmem permanecer ali até as 18:00h. A calmaria e a
tranquilidade são marcas presentes no ambiente nesta faixa de horário, não
havendo qualquer indício do agito da manhã.
evangélica.
Dito isto, é preciso apontar que a Praça vista pelo exterior, sem
aproximação, parece perigosa e abandonada, mas a observação detalhada e a
11
Os nomes dos interlocutores ou entrevistados que aparecem neste texto foram modificados para
assegurar o anonimato.
100
vivência permitem romper com essa ideia. Os usuários se utilizam do espaço com
calma, não há pressa para se deslocar pelo lugar e experienciar o espaço a partir
desta tranqüilidade. Sentar, sentir o clima ameno da sombra das árvores e curtir o
momento em que se está dentro da Praça da Bandeira permite perceber que é um
espaço acolhedor da cidade, embora ainda com problemas de manutenção e
segurança.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
margem oposta do Rio. É assim que a Praça da Bandeira se vê marcado por uma
transição no modo como os citadinos teresinenses se relacionam com o espaço
público central.
REFERÊNCIAS
CREA-SP. Patrimônio histórico: como e por que preservar. São Paulo: CREA,
2008.
JACOBS, J. Morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2011.
JACOBS, J. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo: Editora wmf Martins
Fontes, 2011.
MARTINS, T. L.; SILVA NETO, W. A.. Cidades são pessoas: o espaço público como
garantia constitucional do cidadão. IN: ReonFacema: 2016, Out-Dez; 2(4):339-344.
PIAUÍ, L. do. Teresina. Intérprete: Lázaro do Piauí. In: Forró Universitário. Teresina,
2001
ROBBA, F.; MACEDO, S. S.. Praças Brasileiras. São Paulo: EDUSP, 2003.
VELOSO, C.. Cajuína. Intérprete: Caetano Veloso. In: Noites do Norte. 2001.
109
WIRTH, L. (1938) O urbanismo como modo de vida in: O fenômeno urbano Org.
VELHO, O. G..Rio de Janeiro: Zahar, 1979
PERFIL DO PARTICIPANTE
1. IDADE
( ) Menor de 18
( ) De 18 a 25
( ) De 25 a 40
( ) De 40 a 65
( ) Maior que 65
2. Gênero
( ) Maculino
( ) Feminino
( ) Não binário
( ) Intersexual
( ) Outro:
______________________________________________________________
3. ESCOLARIDADE
( ) Sem escolaridade
( ) Ensino Fundamental I
( ) Ensino Fundamental II
( ) Ensino Médio
( ) Superior
4. ATIVIDADE PROFISSIONAL
( ) Estudante
( ) Aposentado(a)
( ) Desempregado
( ) Dono(a) de casa
( ) Trabalhador:
_________________________________________________________
USO DA PRAÇA
5. ATIVIDADES
( ) Lazer
( ) Espera
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( ) Trabalho
( ) Passagem
( ) Outro:
______________________________________________________________
6. FREQUÊNCIA
( ) 1 vez por semana
( ) De 2 a 3 vezes por semana
( ) De 4 a 5 vezes por semana
( ) De 6 a 7 vezes por semana
( ) Outro:
______________________________________________________________
7. TEMPO DE PERMANÊNCIA
( ) Menos de 1 hora
( ) Entre 1 e 2 horas
( ) Entre 2 e 3 horas
( ) Passagem
( ) Outro:
______________________________________________________________
10. Como avalia o zelo do poder público pela Praça? E dos frequentadores?
11. Quais elementos são necessários para melhoria deste espaço público?
CONCLUSÃO (GRAVADO)
PERFIL DO PARTICIPANTE
USO DA PRAÇA
( ) Entre 1 e 2 horas
( ) Entre 2 e 3 horas
( ) Mai de 4 horas
( ) Outro:
______________________________________________________________
PERCEPÇÃO DO FREQUENTADOR
HISTÓRIA DA PRAÇA
13. Você acha que a Praça é importante para Teresina? De que maneira?
113
Este documento não será registrado nem avaliado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da UNIVATES, em acordo ao ART 1º, parágrafo único, da resolução Nº
510 do Ministério da Saúde, e deverá ser assinado em duas vias, sendo que uma
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delas será retida pelo sujeito da pesquisa e a outra pelo pesquisador. O responsável
pela pesquisa é o professor Walber Angeline da Silva Neto. Fone: (86) 9.8131-
1139.
Data_ ____/____/____