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Y UNOCHAPECO ermutowmeruninle HO Reitor Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensio Maria Luiza de Souza Lajiss Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitor de Admini Sady Mazzioni Diretor de Pesquisa e Pés-Graduagio Stricto Sensu Ricardo Rezer tragio Este livro ou parte dele ndo pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizacio escrita do Editor. re 801 ‘Uma ideia moderna de literatura: textos seminais para os estudos U48u literdrios (1688-1922) / Roberto Acizelo de Souza (organizador). - Chapecd, SC: Argos, 2011. 639 p. (Didticos ;2) Contém textos traduzidos. ISBN: 978-85-7897-024-¢ 1, Literatura ~ Teoria. 2. Literatura moderna ~ Hist6ria e critica. 1 Souza, Roberto Acizelo de. Il. Titulo. II. Série. Dp 801 Catalogagao elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178 Biblioteca Central da Unochapecé (3s ARGOS ‘Todos os direitos reservados & Argos Editora da Unochapecé As, Atilio Fontana, 591-E ~ Bairro Efapi - Chapect (SC) ~ 89809-000 ~ Caixa Postal 1141 (49) 3321 8218 - argos@unochapeco.edu.br - www.unochapeco.edu.brlargos Conselho Editorial Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-president), (César da Silva Camargo, Frico Gongalves de Assis, Maria Assunta Busato. Maria Luiza de Souza Lajis, Murilo Cesar Costell, Ricardo Rezer, ‘Tania Mara Zancanaro Pieczkowski Coordenadora Maria Assunta Busato rem amadurecido nele as primeiras teneees da formagio; pois, de outro modo, os vais dessa primeira estrutura de alma sio indeléveis. Quanto nao perde um escritor cujo spice = foi poderosamente formado por sua one te do seu aprender futuro tinge apenas a super icie do seu modo de pensar; vaga por regides des- conhecidas, sem patria e sem deuses familiares; nunca poderd tornar-se um escritor original, no qual o pensamento e a expressio se fundem para formar um retrato inteiro de sua alma. wee Na verdade, o poeta que queira reinar sobre a expresso deverd permanecer fiel & sua terra; ne- la poderd plantar palavras poderosas, pois conhe- ©e 0 pats; “aqui” poder colher flores, pois a terra Ihe pertence; “aqui” poderd cavar as profundezas A procura de ouro, erguer montanhas e conduzir correntezas, pois & 0 amo. A disposicdo verdadei- 7a s6 se estampa na lingua materna, e néo me en- vergonho por declarar a fraqueza de minha alma confessando que nunca confiei em poder dominar or completo mais de uma tinica lingua durante 4 existéncia inteira. No entanto, com a expresso “por completo” desejo significar que se diante de mim estivessem trés jovens cavalheiros, falando fluentemente frances, italiano e ingles, e trés pro- fessores falando fluentemente atim, grego ecOpti- o, ainda assim nao poderiam refutar-me. A cada um felictaria por talvez nao ser capaz de dizer em, qualquer das tres linguas algo que outros nio jé houvessem dito antes etalvez melhor do que ele, © que qualquer um poderd dizer depois dele; no entanto, eu os abandonaria, invocando 0 demé.. nio do ignorante Sécrates para perguntar-Ihes se alguém poderd ser um completo Homero em mais de uma lingua, um Pindaro® ou um Horécio em alguma lingua morta ou um Shakespeare em outra lingua que ndo a sua materna. Apés o que tomba. ria 20 chiio, como Brutus? abracando a terra que é minha mae, para que sua lingua seja minha musa! 2 Pocta grego(eéculo VI-V aC), 3. Generale politico romano (81-43 .C), 4] ‘Uma dela moderna de erature Johann Christoph Friedrich von SCHILLER (Marbach-am-Neckar, 1759 ~ Weimar, 1805) Estudou direito e medicina na Academia ijp tar do Wurttemberg, tendo iniciado a vida com médico militar. Logo, no entanto,reorientou sey interesses para 0 teatro, a poesia, a historia ea losofia, o que 0 conduziu ao cargo de professor de historia efilosofia na Universidade de lena, Dedj, cou-se a poesia, i dramaturgia, a histéria e a filo. sofia, neste tiltimo campo particularmente Arefle- xio sobre a arte e o belo. A partir de fundamentos kkantianos, concebeu o estado estético como ins. tincia mediadora entre sensagio e pensamento, Cartas sobre a educagio estética da humanidade (1795) Carta II” Nao haveria uso melhor para a liberdade que me concedeis do que levar vossa atencio 20 Palco das belas-artes?! Nao serd extemporanea a Procura de uma legislacao para o mundo estético quando 0 moral tem interesse téo mais prdximo, quando o espirito da investigagao filoséfica é so- licitado urgentemente pelas questées do tempo a Ocupar-se da maior de todas as obras de arte, a construcéo de uma verdadeira liberdade politica? Nao quero viver noutro século, nem quero ter trabalhado para outro. © cidadio do Estado é também cidadao do tempo; ¢ se é indecoroso ou mesmo proibido furtar-se aos habitos e costumes Cartas sobre a educagao estética da humanidade, Introd ue8 penta de Anatol Rosenfeld, Traducio de Roberto Schwarz Si0 Paul: Herder, 1963. p 35-36 10 texto se desenvolv soba forma epistolar por ter tido sew Teumte esbogo em duasséres de cartas: as Cartas a Aug tenburg (1791-1793), agradecimento do autor pela pensio Sanne concedlda pelo principe Friedrich Christan von Schlewig-Holstcin-Sonderburg- Augustenburg (1765-1814) Glrigidas a seu amigo Christian Gotied Korner 1), jurista alemao, escritas em Janelro/fevereiro de 1793, depois publicadas no ‘volume Kalias, ou Sobre a beleza. upd do circulo em que se vive, por que nao seria um dever, ao escolherem-se os préprios atos, consi- derat a voz do gosto e da necessidade do século? Essa voz, entretanto, nao parece resultar em favor da Arte; ao menos néo daquela para a qual se voltardo minhas investigacdes. 0 cur- so dos acontecimentos deu ao génio do tempo uma dire¢ao que ameaca afasté-lo mais e mais da Arte ideal. Esta precisa abandonar a realidade e elevar-se, com decorosa ousadia, para além da necessidade; pois a Arte é filha da liberdadee quer serlegislada pela necessidade do espitito, néo pela caréncia da matéria, Hoje, porém, a caréncia im- pera e curva em seu jugo tiranico a humanidade caida. O proveito é 0 grande idolo do tempo; quer ser servido por todas as forcas e cultuado por to- dos os talentos. Nessa balanca grosseira, o mérito espiritual da Arte nao pesa, e ela, roubada de todo estimulo, desaparece do ruidoso mercado do sé- culo. Mesmo o espirito de investigacio filoséfica rouba uma provincia apés a outra a imaginacio, e as fronteiras da Arte vio se estreitando & medida que a ciéncia amplia as suas. Cheios de expectativa, os olhares do filéso- fo e do homem do mundo voltam-se para a are- na politica, onde, supdem, é jogado o destino da humanidade, Abster-se desse didlogo comum a todos nao traira uma reprovével indiferenga em face do bem da sociedade? Essa grande disputa juridica, que toca, por seu contetido e por suas consequéncias, a todo aquele que se diga ho- mem, interessa especialmente, dada a maneira pela qual é levada a efeito, a quem reflete com au- tonomia, Uma questo que sempre fora resolvida pelo cego direito do mais forte passara a depen- der, parece, do juizo da razdo pura, e quem quer que seja capaz de colocar-se no centro do todo, elevando seu individuo a espécie, poderd consi- derar-se um jurado nessa corte racional, pois, na qualidade de homem e cidadao do mundo, ele € também parte interessada, préxima ou longin- quamente envolvida nos sucessos. O que se deci- de nessa grande disputa, portanto, nao é apenas sua causa particular; deve-se julgar, ademais, se~ gundo leis que ele, como espirito racional, tem 0 direito e a capacidade de ditar. Quio atraente deveria ser para mim exami- nar um tal objeto em companhia de um pensador espirituoso e liberal cidadéo do mundo, deixan- do a fora de decidir a seu coragio, cujo belo entusiasmo é dedicado ao bem da humanidade! Quanta agradavel surpresa haveria em coincidir nos resultados, sobre o campo das ideias, com vosso espirito sem preconceito, a despeito da grande diferenca de posig6es e da larga disténcia imposta pela situacéo do mundo real! Resisto a essa amével tentacao deixando que a beleza pre- ceda a liberdade, e penso poder justificé-lo néo apenas pela minha inclinagéo, mas por princi- pios. Espero convencer-vos de que esta matéria & menos estranha a necessidade que ao gosto de nosso tempo, e mostrarei que para resolver na pratica 0 problema politico é necessério cami- nhar através do estético, pois é pela beleza que se vai a liberdade. Essa prova, entretanto, nao pode- 14 ser feita sem que eu traga a vossa meméria os principios pelos quais se conduz a razio numa legislacio politica. Carta IX" ‘No estaremos andando em circulo? A cul- tura teérica deve propiciar a pratica, e esta seria a condicao daquela? Toda melhoria politica deve partir do enobrecimento do carter ~ mas como poder enobrecer-se carter sob a influéncia de ‘uma constituigao estatal barbara? Para esse fim, seria preciso encontrar um instrumento que 0 Estado nao dé e abrir fontes que se conservem limpas e puras apesar de toda a podridao poli- tica. Cheguei ao ponto a que aspiravam todas as minhas consideragées até aqui feitas, Esse instru- ‘mento estd nas belas-artes, essas fontes abrem-se em seus modelos imortais. Arte e ciéncia sio desobrigadas de tudo que & positivo e que foi introduzido pela convengio * Cartas sobre a educagao estéica da humanidade, Introdugio notas de Anatol Rosenfeld. Tradugio de Roberto Schwarz. Sio Paulo: Herder, 1963. 57-60. {A reflexio ontol6gica | Johann Christoph Friedrich von SCHILLER | 35 dos homens, ambas gozam de uma abla im nidade em face do arbitrio humano. O legis! ae politico pode vedar seu territorio i ee ; poderdreinar dentro dee. Poderé proscrevet amigo da verdade, mas esta existe; poderd milhar o artista, mas nao poderd falsificar a arte, Nada mais comum, é verdade, que a adesio de ciéncia e arte ao espirito de seu tempo, receben- doo criador a sua lei do gosto que o julga. Quan- do o cardter se torna tenso e enrijece, vemos a cincia guardar severa suas fronteiras, enquanto a arte anda na dura prisio das regras; quando 0 cardter esmorece e se dissolve, a ciéncia busca sa- tisfazer e as artes proporcionam gozo. Filésofos e artistas ocuparam-se, durante séculos inteiros, com mergulhar a verdade e a beleza nas baixe- zas da humanidade vulgar; aqueles submergiram enquanto estas emergem vitoriosas por sua forga Vital e indestrutivel. Embora seja filho de seu tempo, est mal 6 artista quando é também seu pupilo, ou, pior ainda, seu protegido. Uma divindade benéfica arrangue em tempo o recém-nascido ao seio ma- terno e o amamente do leite de uma era melhor, deixando-o chegar & maturidade sob 0 céu dis- tante da Grécia. Quando se tiver tornado homem_ volte, figura estrangeira, a seu século; néo para comprazé-lo por sua aparicéo, mas terrivel, co- mo filho de Agamenon, para purificé-lo. Embo- ra tome a matéria a0 presente, a forma tomard a tempos mais nobres ou mesmo a unidade absolu- ta eimutivel de sua esséncia para além do tempo. Aqui, do puro éter de sua natureza demonfaca? flui a fonte da beleza impoluta da podridéo das geragdes e dos tempos que rolam em turvos rede- moinhos muito abaixo delas. O capricho poder degradar sua matéria, assim como pode enobre- cé-la; a forma casta, porém, furta-se a0 seu ar- bitrio. Os romanos do primeiro século jé de hé muito haviam dobrado os joelhos ante seus im- 2 Referéncia a Orestes, herbi que vingou osssssnato do pa 3 O termo “demonfacs, evidentemente, ndo tem, 8 conotagio de “diabélic” & sado por Shiller

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