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ere opessadoe o reser; come dss Mare Bloch passado 1 jos foam chara ata pare a ert a scab pura Helin. A maka eta coma ooareram a evi eo surginta do harem all cau sendo un ei desl os cs, Oe MEE primeiros tempos Professor octjetvo amu ¢ lear os alunos para. inprtncia do dogo eran preter modicado, mas ocorhecmente tlre pasado muta contanemer enti Capitulo 2 Leia a noticia com atencio. Nova espécie do género humano é descoberta na Africa do Sul [.] Um grupo de pesquisado- res apresentou nesta quinta-fei- ra (10) na Africa do Sul os rema- nescentes fésseis [...] que podem ser de uma espécie do género humano desconhecida até ago- ra. A criatura foi encontrada na caverna conhecida como Rising Star (estrela ascendente), 50kma nordeste de Johanesburgo, onde foram exumados os ossos de 15 hominideos. O primata foi bati- zado de Homo naledi. Em lingua sotho, “naledi” significa estrela, e Homo é 0 mesmo género ao qual pertencem os humanos moder- nos. Os fésseis foram encontra- dos em uma érea profundae de "T dificil acesso da caverna, na drea A esquerda, o vice-presidente da Africa do Sul Cyril arqueolégica. conhecida como — Ramaphos ¢, &direita, 0 professor Lee Berger, com uma “Berco da Humanidade”, consi. ‘plica do cranio do Homo naledi durante a revelacao 5 da recente descoberta, em Maropeng, na Africa do Sul, derada patriménio mundial pela serambro de 2015. Unesco. Por se situar num depé- sito sedimentar onde as camadas geolégicas se misturam de maneira complexa, os cientistas ainda nao conseguiram datar o primata descoberto [...] © Museu de Historia Natural de Londres classificou a descoberta como extraordi- naria. [...] Os trabalhos que levaram a descoberta foram patrocinados pela National Geographic Society, dos EUA, e pela Fundagao Nacional de Pesquisa da Africa do Sul. NOVA espécie do género humano é descoberta na Aftica do Sul. G1, Sdo Paulo, 10 set. 2015. iéncia sadde. Dispontvel em: -=http://s1-globo.com /ciencia-e-saude noticia /2015/09/antiga-especte-do-genero-umano-e-descoberta-na-africa-do-sul.html>. ‘Acesso em: 18 abr. 2016, » s 28 UNIDADE 1 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL Pré-Hist6ria: um conceito discutivel Os historiadores do século XIX dividiram a longa aventura dos seres humanos sobre a Terra em dois periodos: Pré-Historia e HistOria. Segundo eles, a Pré-Histéria comegaria com 0 aparecimento dos humanos, ha cerca de 2 milhdes de anos, e teria fim com a invengio da escrita, ocorrida por volta de 3000 a.C. J4 a Historia se estenderia do aparecimento da esctita —ohservachernestacho, por aos dias atuais. Nessa visdo tradicional, a Historia 6 dividida em quatro questiodeespoc,astinhas do tempo no abedecem a ‘idades: Idade Antiga, Idade Média, Idade Modema e Idade Contemporanea. uma escala. ui i Hi i i 3 Hi i E I a ; i : Hi i Ht i Hy i B i a i g Do surgimento do | De 3000a.C.atéa | De476atéain- | De 1453 até 0 inicio De 1789 até género Homo, ha queda do Império_—-vasao da cidade de —_da Revolucao Fran- 0s dias atuais. cerca de 2 milhdes — Romano do Ociden- Constantinopla cesa, em 1789. de anos, até a i te, em 476 d.C. (atual Istambul) vengio da escrita, pelos turcos, ocorrida por volta em 1453. de 3000 a. Repare que essa periodizacao considera as sociedades sem escrita (4gra- fas) sociedades sem historia. Nessa abordagem, a Pré-Historia é vista como algo menor, uma espécie de ensaio para a Historia. £ que os criadores dessa periodizacao, os historiadores do século XIX, consideravam o documento escrito muito mais importante do que os outros. Veja o que se disse sobre o assunto: ] Um historiador da Escola Met6dica do século XIX teria cer- teza de que o documento é, em esséncia, o texto escrito: a carta, © tratado de paz, o testamento ete. [...] PINSKY, Carla B.; LUCA, Tania Regina de, 0 historiadore suas fontes. So Paulo: Contexto, 2008. p. 14. 0s historiadores atuais j4 nao aceitam essa visdo, pois para eles: » as fontes nao escritas (como entrevistas, imagens, restos de mora- dia) so tao importantes quanto as escritas para o conhecimento das sociedades humanas; vGaeee » as conquistas humanas anteriores a escrita (como 0 dominio do fogo, capa do tivo 0 a invencdo da roda, a pratica da agricultura) so tao relevantes quan- _historiador e suas to as posteriores; antes, CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 29 DIALOGANDO Em sua opiniao, o desenho a seguir, sobre a evolugao das espécies, » 05 povos que nao desenvolveram a escrita também possuiram uma his- téria movimentada, que precisa e pode ser mais bem conhecida. Muito antes da invencio da escrita os seres humanos jé enterravam sementes, por exemplo, com a intencao de vé-las germinar; com esse gesto, faziam historia. Por isso, acredita-se, hoje, que a Pré-Histéria é parte da Historia e que os homens pré-histéricos ~ seres dotados de imaginacao, inteligen- ia e sentimentos tipicos da nossa espécie - também fizeram historia. Os primeiros habitantes da Terra Todos os seres humanos, independentemente de sua éhistoricamente correto? origem ou aparéncia fisica, fa tos Resposta pessal Professor: esa usta uma visio completamente curocad ia stra Dilla: sea faa emuardo cre entice ragresso ret uma. avengio imagdra ero us coneuséo bidoges. A fata bic dossa tenanca ¢[.] aquele deseo anand is vers como poi tos hist da vita |: or destin iin” (CAPELATO, 2007 p. 89, @ Dica! Palestra sobre paleontologia questionandoo evolucionismo eo teste do carbono-14. [Duragéo: 39 minutos}. Acesse: . al, surgiu na Africa e foi fruto de uma longa evolugdo. Mas @ preciso ter cuidado: afirmar que houve evolucao néo signi- P fica dizer que houve uma pro- —— ee zem parte de uma mesma es- pécie que, para a ciéncia atu- gressao linear do mais antigo hominfdeo até o homem atual. Segundo Robert Foley, especialista no assunto, “evolucéo é¢ a mu- danga no decorrer do tempo”. Portanto, evolucao (mudanga) nao signi- fica progresso; hoje se sabe que muitas espécies surgiram, coexistiram e desapareceram. Para saber como viviam os primeiros seres humanos, os historiadores se valem da ajuda de outros estudiosos como os paleontélogos ~ cien- tistas que buscam conhecer as formas de vida vegetal e animal por meio dos fésseis. 0 que podemos aprender com os fésseis? Fosseis sdo vestigios de organismos ou plantas que se conservaram sem perder as suas caracteristicas basicas. No caso dos animais, as partes du- ras do corpo (como ossos ¢ dentes) costumam, geralmente, resistir mais 8 decomposigao; mas ha casos, embora raros, em que a parte mole do corpo também é preservada. Esse foi o caso dos mamutes encontrados pratica- mente inteiros e congelados na Sibéria. Ao contrario do que se pode imaginar, o aparecimento de um féssil & uma raridade. Um esqueleto humano completo é mais raro ainda. A regra na natureza 6 que um organismo que existiu ha milhares ou milhdes de anos simplesmente se decomponha sem deixar vestigio algum. BO UNIDADE 1 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL, Os fésseis nos permitem obter informacées importantes sobre um orga- nismo que viveu ha milhares ou milhdes de anos. Observe a imagem abaixo e perceba como cada parte de um esqueleto humano pode nos fornecer informacées relevantes. ssi A rans Um dente pode 0 tamanho do crénio indicar se o individuo pode informar a alimentava-se de espécie do género carne ou somente de Homo. vegetais; dentes de " leite e definitivos aiudam a estimar a jdade em esqueletos de crianga. A pélvis ajuda a identificar 0 sexo. A pelvis masculina costuma ser mais . pesada e mais O tamanho de um estreita que a da ‘0550 pode nos dizer mulher. A pélvis se 0 esqueleto era feminina é larga de um adulto ou de J e achatada para uma crianga. Os ossos permitiro parto. podem comprovar - fraturas, amputacbes € golpes na cabeca. Escavacdo em Ozbaki, Tra, década de P 1990. Os hominideos Para a teoria evolucionista, os seres humanos pertencem a ordem dos primatas, isto é, mamiferos cujos membros possuem cinco dedos, sendo 0 primeiro oponivel aos demais, o que lhes possibilita pegar, agarrar; e olhos voltados para a frente permitindo a visdo binocular (em que existe foco com profundidade de campo, em funcao das diferentes imagens formadas por cada um dos dois olhos). Da evolucao dos primatas se originaram os primeiros hominideos, indivi- duos com algumas caracteristicas humanas. E consenso entre os cientistas que 05 primeiros fésseis de hominideos séo os de australopithecus, que [>] viveram na Africa, ao sul do deserto do Saara, ha cerca de 5 milhdes e meio de anos. Os fasseis desses hominideos informam que eles andavam sobre os _Dic#! Pocumentario sobre um fossil de dois pés e apresentavam postura ereta, porém sua capacidade cerebral ndo um menino.africano. ultrapassava 500 cm’, Com o tempo, por meio do processo de selecao natural ay cae algumas espécies se extinguiram e outras sobreviveram. As sobreviventes fnyesusso deram origem ao género Homo, surgido ha cerca de 2 milhdes de anos; a. esse género de maior capacidade cerebral pertence a espécie humana. CI CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 3.4. Abaixo, apresentamos espécies de hominideos do género Homo e algumas de suas caracteristicas. ESPECIES DE HOMINIDEOS DO GENERO HOMO. Cerca de 2,2 milhées | pequenos animais, 0 que the permitiu incluir a carne de anos atras. fem sua dieta. Dai 0 seu nome que, em latim, significa “homem habil”, “habilidoso”, “engenhoso”, Espécie fo de vida ee E considerado o primeiro representante do género Homo; +/- 650 cm? i Homo habil sabia fazer utensils de pedra, com 0s quais cacava i i E descendente direto do Homo habils. Aperfeicoou instru ‘+/- 1000 em: mentos de pedra, com os quais cacava animais grandes. sae Foi o primeiro a aprender a usar o fogo, conseguindo, wae! com isso, adaptar-se a regides frias da Europa e da Asia, & Homo erectus Cerca de 1,5 mithio de anos atras. ‘Muitos dos restos do homem de Neanderthal foram en- Homo sapiens _| contrados em cavernas, dai 2 expressao “homem das neanderthalensis | cavernas’. Actedita-se que ele tenha evoluido a0 mesmo Cerca de 200 mil anos. | tempo que o humano moderno. Seu desaparecimento ain- atrds. Seus fésseis | da 6 objeto de debates. 0 homem de Neanderthal pratica- foram encontrados na | va a coleta e a caga em grupos de 20 ou 30 pessoas, fazia tegiao de Neander, | sepulturas para seus mortos cobertas com pedra e terra. na Alemanha. Por isso, actedita-se ter sido a primeira espécie a realizar ceriménias religiosas. Pesquisas recentes in- ddicam que 0 volume cra- rniano do Homo sapiens rneanderthalensis € igual ‘ou maior do que o do Home sapiens sapiens. a +/~1500 om? lomo sapiens | a espécie da qual fazemos parte. Originau-se na Africa é at ai 1, _ | hé pouco mais de 100 mil anos e depois se espalhou por sien - todos os continentes, adaptando-se a qualquer ambiente. ‘A grande capacidade cerebral do Homo sapiens sapiens (duas vezes sabido), espécie 4 qual pertencemos, ajudou-o a desenvolver a fala e uma série de habilidades manuais e artisticas, como as demonstradas nos desenhos em cavernas de vérios lugares da Terra. ! i : : | ‘patient Loarvin Lascaux, Franga. Altamira, Espanha. Tassili najje, Argétia. A maneira exata como ocorreram a evolucao e 0 surgimen- to do homem atual continua sendo um enigma a desafiar os cientistas. 0 que se sabe com certeza é que a evolucdo ndo ocorreu de forma linear; cada espécie de hominideo tem sua histéria, e ela no pode ser vista como degrau de uma es- cada em cujo topo esté o Homo sapiens atual. 0 homem de Neanderthal, por exemplo, desapareceu ha mais ou menos 40 mil anos, enquanto o Homo sapiens sapiens teria surgido ha cerca de 100 mil anos. DJ1e2 Pac Cah Os primeiros povoadores da Terra Nos dias atuais, a0 nascermos jé encontramos uma série infinita de objetos cercando nossa vida de conforto. Os pri- meiros povoadores, diferentemente de nés, tiveram de inven- tar os objetos de que necessitavam para sobreviver, sem saber ao certo se conseguiriam comida e tampouco se seriam atacados por animais. Para conhecer a vida desses povos, os pesquisadores usam materiais en- contrados em escavacées, como restos de construgées, esqueletos, pintu- ras. E, com base nessas descobertas, os pesquisadores dividiram a chamada Pré-Historia em dois periodos, como mostrados na linha do tempo abaixo. Oservacda: nesta obra, por questie de espaco, astinhas do tempo nie obedecem a uma escala, Y g Le Surgimento Invengao Descoberta 4 Invenio do aénero Homo da agricuttura demetais da escrita c. 2 mithées de anos 10 mil a.c. Smilac. 3 mila.c. Cagadores e coletores Durante o Paleolitico (palavra que significa “pedra antiga”), os grupos humanos usaram osso, madeira e pedra para fazer suas ferramentas: lancas (para a caca), arpdes (instrumento destinado a usos diversos, como caca submarina) e pedras cortantes, que serviam como machados e facas com os quais abatiam animais, coletavam frutos e faziam suas vestes. Por viver da Y Medigao do cranio de tum homem de Neanderthal no Museu de Histéria Natural de Paris, Franga, 2010. Repare que a diviséo da Pré-Historia em dois periodos se baseia nas técnicas nos materiais que nossos antepassados usavam para fazer seus utensitios Qa 1. Dica! Documentério abordandoo nascimento da mente hhumana e os primeiros Homo sapiens. [Duragao: 50 minutos). Acesse: . 2. Dica! Documentario sobre os neandertais. [Duracdo: 44 minutos). ‘Acesse: . CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 33, caca, da pesca e da coleta, eles foram chamados de cacadores e coletores. Os homens do Paleotitico eram némades, isto 6, nao tinham moradia fixa; sempre que a cava, 0s peixes e os frutos de uma regio comecavam a rarear, eles se mudavam para outra érea em busca de alimentos. 0s homens se tornaram cacadores muito mais eficientes com a descoberta do arco e da flecha, acorrida ainda no Paleolitico. Manejando-os com destre- za, eles cagavam animais velozes, como a lebre, 0 veado € os passaros. 0 dominio do fogo Outra conquista decisiva do Paleolitico foi a descoberta do fogo. Desde muito tempo o homem obtinha o fogo mergulhando galhos em incéndios florestais causados por raios. H4 cerca de 500 mil anos, descobriu como produzir 0 fogo. Com o dominio do fogo, a vida dos seres humanos mudou muito. Agora eles podiam se aquecer, sobreviver em regides geladas, ter luz & noite, afugentar animais perigosos e cozinhar ou assar os alimen- tos. Cozida, a carne tornava-se mais digestiva e podia ser conservada por mais tempo. Isso tudo colaborou para evitar os longos periodos de fome € para aumentar o tempo de vida dos grupos humanos daquela época. 2) Agricultores e pastores No perfodo Neolitico, os humanos passaram a polir a pedra aumentando, com isso, a eficiéncia e a durabilidade de suas ferramentas e armas. Entre as grandes conquistas desse perfodo estéo a agricultura e a domesticacao go de animais; por isso os grupos humanos daqueles tempos ficaram conheci- dos como agricultores e pastores. Dica! Diversaoe_ Por volta de 10000 a.C., quando se iniciava o Neolitico, ocorreu uma reflexio nesse video rane Sobreedominieds, grande mudanga climatica: 0 volume de chuvas aumentou, resultando no fogo. [Duragao: 2 enchimento dos lagos, as temperaturas se elevaram e as camadas de gelo annie que cobriam a superficie terrestre recuaram. 0 degelo afetou duramente os harm. animais habituados a climas frios, como os bisdes e os mamutes, e muitos deles desapareceram. Os seres humanos, ento, dedicaram- -se a cacar animais pequenos ou de médio porte, como cabritos, porcos e passaros. Para caca-los, abater e separar a pele da came, aperfeigoaram suas ferramentas de trabalho (como laminas de corte, macha- dos, serras com dentes de pedra). Também methoraram sua capacidade de pesca, «10a nant prt fo hebenan ap D> Escultura em marfim de um bisdo, c. 12000 a 34 UNIDADE 1 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL, desenvolvendo arpées de diversos tipos e construindo canoas com troncos inteiros de arvores. Nas aldeias neoliticas, 0 trabalho era dividido de acordo com 0 sexo e a idade. As mutheres dedicavam-se agricultura, ao preparo dos alimentos e cuidavam das criancas. Ja os homens cuidavam dos rebanhos, cagavam, pescavam, construfam e respondiam pela seguranca do grupo. As criangas, a0 que parece, ajudavam os pais nas tarefas didrias. Agricultura, uma descoberta revolucionaria Enquanto aguardavam os homens retornarem de uma cacada ou pes- caria, as mulheres devem ter percebido que as sementes que os passaros transportavam de um lugar para o outro germinavam, dando origem a uma nova planta. Assim, foram elas provavelmente que primeiro enterraram se- mentes com 0 propésito de vé-las germinar, dando inicio, assim, a pratica da agricultura (cultivo intencional). 0 desenvolvimento da agricultura cau- sou uma verdadeira revolucao na histéria da humanidade, dai ser conhecida como revolucao agricola. No Oriente Médio, ha evidéncias do cultivo de cereais como o trigo e | Mitho: a cevada ha cerca de 8 mil anos a.C. Outros cultivos muito antigos so 0 pasties mitho, na América; 0 sorgo, na Africa; e o arroz, na Asia. Assim, com base | tiderados pela no estudo de fésseis de plantas, os cientistas acreditam que a agricultura ee se desenvolveu em diversos lugares quase ao mesmo tempo. indicios de que, Paralelamente, os seres humanos iniciaram a domesticacao de animais, Pees como ces, ovelhas e bois. Estes eram também utilizados para acionar car- | jer cultivado no ros de boi usados no transporte de produtos e pessoas. A agropecuaria nao | Sieste 42 México. substituiu a caca e a coleta. Ambas sempre coexistiram, ou seja, muitos grupos humanos desenvolveram a agropecuaria, mas continuaram a praticar a caca ea coleta; e ainda hoje ha grupos que praticam tao somente a caca ea coleta. A pratica da agricultura teve um impacto grande sobre a vida social; entre as mudancas que essa pratica favoreceu, cabem citar: » a sedentarizacao: para semear, cuidar das plantas e aguardar o tem- po da colheita, os seres humanos tinham de permanecer um longo tempo em um mesmo lugar, 0 que favoreceu a fixacdo dos grupos humanos em determinado territério (sedentarizacao); » a producao de novos instrumentos de trabalho: o machado de pe- dra com cabo de madeira, para derrubar arvores; a enxada, para carpir © terreno e abrir clareiras na mata; a foice, para cortar ervas e colher cereais; » a invengao da ceramica (barro modelado e cozido): com a pratica da agricultura, os grupos humanos passaram a necessitar de recipientes CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 35 e.g Te tmnt aang © oleito eatncio fabricando um vaso de ceramica. Arte da 5* dinastia do ‘Antigo Império. 2 é is t B Fy i nos quais pudessem armazenar as sobras e cozinhar cereais, como 0 trigo e a cevada. Entdo, foram feitos vasos, potes, jarros e pa- nelas, usando-se a ceramica; » 0 crescimento da populagao: com o advento da agricultura, a diversificagio da produgéo e a methoria na conservacao dos ali- mentos, a populacao cresceu e as pessoas passaram a viver mais tempo. Surgiram as primeiras aldeias e desenvolveu-se a vida co- munitaria. Da aldeia a cidade Para atender as necessidades alimentares da populacdo que crescia, os humanos inventaram o arado puxado por bois e técnicas novas de adubacao e irrigacao, passando ento a produzir mais alimentos do que consumiam. Com a produgdo de excedentes, uma parte da populacao das aldeias foi liberada do trabalho na agricultura, passando a se dedicar a trabalhos como modelar vasos de ceramica, tecer, fazer armas de ferro. Verificaram-se entdo uma crescente divisao e a especializacao do trabalho: uns construfam casas, outros teciam, outros confeccionavam redes, potes e panelas e havia ainda os que cagavam e pescavam. 0 comércio Com a especializacao, as pessoas passaram a trocar aquilo que faziam por aquilo de que necessitavam: trocavam trigo por tecido, tecido por va- so, vaso por machado, e, assim, nasceu 0 comércio. Com o tempo, essas trocas deixaram de ser feitas pelos produtores desses objetos e passaram a ser feitas pelo comerciante ~ um personagem novo, que teria importante papel na Historia. p> Acesquerda, vaso em ceramica pintada de c. 2600-2300 a.C. A direita, machado neolitico de ¢. 2000-1800 a.C. 36 UNIDADE 1 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL, 0 processo de centralizagao do poder Com o crescimento da populacdo das aldeias, seus chefes passaram a dispu- tar entre si as melhores terras, O vencedor dessas disputas passou a controlar uum niimero maior de terras, de pessoas e de impostos. Com isso, foi ganhando poder e impondo sua autoridade, até tornar-se rei. A residéncia do rei era o palacio, local de onde ele e seus funcionarios planejavam e controlavam a producdo de alimentos, a construcdo de grandes obras, a defesa do reino, a cobranca de impostos, a aplicacéo da justica. Enfim, tomavam decisées que afetavam muitas pessoas a0 mesmo tempo. Esse processo de centralizacio do poder & chamado de processo de formacao do Estado. Assim, algumas aldeias neolitcas se transformaram em cidades. Segundo es- — ¢,. 5. tudos recentes, a cidade se distingue da aldeia neolitica por tes caracteristicas _prineies bésicas: maior divisao do trabalho, comércio feito com regularidade e centrali- _civizacbes se zacao do poder. A necessidade de agua para a agricultura e de vias para o trans- _‘ocalizavam nas porte de pessoas e produtos ajuda a explicaro fato de as primeiras cidades terem Myre tigs, surgido préximo aos grandes rios, como o Tigre e o Eufrates, na Mesopotamia; 0 tomaram-se Nilo, no Egito; o Indo, na india; e o Azule o Amarelo, na China. Observe o mapa. _conhecidas como civilizagoes fluviais. ined Fonte: A AURORA da humanidade, Rio de Janeiro: Time-Life Livros, 1993. p. 130-131. (Historia em Revista). Trabalhando os metais Aproximadamente em 5000 a.C., os seres humanos desenvolveram a metalur- gia, ou seja, a técnica de trabalhar os metais. Inicialmente trabalharam o cobre, com o qual faziam utensilios e enfeites. Mas, por ser flexivel, 0 cobre ndo podia ser usado na confeccao de instrumentos de trabalho, como enxada, armas ou lanca. Impetidos pela necessidade de ter ferramentas e armas mais resistentes, os humanos inventaram 0 modo de obter o bronze - liga resultante da fuso CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 37 DIALOGANDO Como pratica da agropecuaria pode ter influenciado a vida das criangase dos idosos? ‘Rebar ra almertagio,decorente ‘ ayopecita,tvoreceu 0 ‘arent do numero de crngas ‘oul maior com 0: mals vals, as princi ens do bandono, no tempo em que 0 Pesan $9 desbeava consanfemente em busca ce sets. Glaciagao: fenidmeno climatic caracterizado pela reducao drastica da temperatura e pelo avango das geleiras. Altima glaciacio ocorreu entre 25000 e 9000 a.C. do cobre com o estanho; depois aprenderam a forjar o ferro - metal cuja resisténcia é ainda maior. Aprendendo a manipular metais, os humanos aper- feicoaram suas armas (espadas e escudos) e ferramentas de trabalho (pds, enxadas, arados). Durante esse processo, por volta de 3000 a.C., inventaram a roda com a qual fizeram os primeiros carros de boi. Trajetérias do Homo sapiens Analisando o material genético de pessoas de diferentes partes do mun- do, os estudiosos concluiram que os primeiros seres humanos surgiram na Africa e, do continente africano, em um processo que durou dezenas de milhares de anos, povoaram a Europa, a Asia e posteriormente a América. Hipéteses sobre o caminho dos seres humanos para a América Os cientistas concordam quanto a origem africana do Homo sapiens sapiens, mas 0 caminho por ele percorrido para chegar América e a data fem que isso ocorreu continuam provocando acalorados debates. Uma das hipdteses € a de que os humanos chegaram 4 América por terra depois de atravessar o Estreito de Bering, localizado entre a Sibéria (Rissia) e 0 Alasca (Estados Unidos). A travessia teria se dado durante a dltima glaciac3o, quando as Aguas do mar baixaram, e formou-se uma ponte de terra e gelo ligando a Asia & América. Outra hipétese é a de que tenham chegado a América por mar depois de atravessar o oceano Pacifico, navegando de ilha em ilha. Outra hipdtese ainda é a de que parte deles chegou caminhando depois de atravessar o Estreito de Bering e outra parte, navegando pelo Pacifico. Provaveis caminhos dos povoadores da América Fonte: NAQUET-VIDAL, Pere; BERTIN, Jacques. Atlas histrco: da Pé-Histéria a nossos das. Lisboa: Crculo de Leitores, 1987. p. 18. BB _UNIDADE 1 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL, Arqueologia brasileira: descobertas recentes Em 1999, o estudioso brasileiro Walter Neves surpreendeu a comunidade cientifica interna- cional ao revelar para 0 mundo o mais antigo fossil humano conhecido até ento na América: tratava-se do cranio encontrado no sitio Lapa Vermelha IV, em Lagoa Santa, Minas Gerais, e que pertencia a uma jovem, que viveu ha cerca de 11500 anos; 0s arque6logos a batizaram de Luzia. Conforme nos conta Walter Neves, Luzia foi descoberta em 1975 por uma missao franco- brasileira coordenada pela arquedloga Annete Laming-Emperaire, que morreu precocemente sem divulgar 0 achado. Walter Neves retomou a pesquisa de Annete e sua equipe e divulgou © extraordinario achado em 1999. Recorrendo & tecnologia da informatica, estudiosos da Universidade de Manchester, na Inglaterra, re- constituiram a cabeca de Luzi Walter Neves descobriu que a morfologia craniana do povo de Luzia era semelhante a de alguns povos nativos da Africa e da Australia. Com base nessa descoberta, ele e seu colega Mark Hubbe passaram a defender a ideia de que a América foi povoada por populagées fisica- mente distintas: uma populacao com caracte- risticas semelhantes as dos africanos e aus- tralianos, que teria sido a primeira a chegar ‘América, e outra com caracteristicas similares as dos asidticos (chineses, japoneses), que chegou depois (essa populacao teria dado ori- gem aos povos indigenas do Brasil). CI Os estudos de Niéde Guidon Ja para a cientista Niéde Guidon, ha provas da presenga humana no sitio arqueolégico da Pedra Furada, em Sao Raimundo Nonato, Piaut, ha mais de 50 mil anos. Sua tese se baseia em datacoes feitas de carvées originados de fogueiras e pedras lascadas produzidas por seres humanos que viveram onde hoje é o estado do Piaui. i nscrigdes rupestres de 5000 a.C. em Santana do Riacho (MG). Fotografia de 2011. ho lado de uma reconstituigao de Luzia, 0 antrop6iogo Walter Neves examina, em seu laboratbrio ra USP, parte de um crénio de c. 7000 a. encontrado na regido de Lagoa Santa (MG). Fotografia de 2005. Sitio arqueolégi local que guarda vestigis da presenca humana, como restos de moradias,ossos de animais, plantas comestveis © medicinas. Luzia: ‘nome dado em homenagem a Lucy, um dos mais antigos fésseis humanos, descoberto na Africa Morfologia craniana: forma e feicéo do crénio. @ Dica! Video sobre a cidade de Pedro Leopoldo, 0 berco de Luzia, com depoimento do arquedlogo Walter Neves. [Duragdo: 11 minutos]. Acesse: ‘, CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 39) Y A arquebtoga brasileira Nidde Guidon, dretora- presidente da Fundagéo Museu do Homem Americano, durante entrevista em 2011 para falar das ‘obras do aeroporto de Si0 Raimundo Nonato, no interior do Piaut @ 1.Dica! Video com entrevista da arqueéloga Nibde Guidon. [Duragao: 27 minutos). Acesse: <. 2.Dica! Video com imagens das escavagoes realizadas porNiede Guidone sua equipe. [Duracio: 18 minutos). Acesse: . adn nas Outros arquedlogos, porém, contestaram Niade Guidon, argumentan- do que 0 carvao encontrado por ela pode ter sido resto de incéndios florestais e que as lascas de pedra podem ser consequéncia da decom- posicao das rochas; assim, tanto os pedacos de carvao quanto as pedras podem ser resultado de fendmenos naturais, e nao da ag3o humana, C11 Em 2006, porém, a polémica mudou de rumo, pois 0 estudioso fran- cés Eric Boeda, um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia litica (de pedra) pré-hist6rica, comprovou que os artefatos de pedra encontrados pela arquedloga brasileira eram obra humana e tém entre 33 mil e 58 mil anos. Ficava assim comprovada a tese de Niéde Guidon de que 0 povoamento da América do Sul é muito mais antigo do que se supunha. Enquanto os cientistas ampliam suas investigacdes e realizam des- cobertas, 0(s) caminho(s) usado(s) pelos primeiros humanos para che- garem a América continua(m) a ser um desafio para a Arqueologia. 12 O que se sabe sobre os paleoindios? Os paleoindios, nome que se da aos povoadores mais antigos das terras onde hoje é o Brasil, encontraram uma realidade muito diferente da atual; predominavam campos de vegetacao baixa (caatingas e cer rados), florestas relativamente menores e invernos rigorosos, sobretudo no Sul. Esses humanos davam grande importancia ao fogo; e faziam grandes fogueiras para aquecer seus corpos, cozinhar e afugentar ani- mais perigosos. No Centro-Oeste e no Nordeste, os cerrados ofereciam pastos para manadas de grandes animais, hoje extintos, como mastodontes (es- pécie de elefantes), preguicas (com até 6 metros de comprimento), camelideos (como a macrauquénia), cavalos, renas, tatus-gigantes e 0 tigre-dentes-de-sabre. Por volta de 9500 a.C., alguns desses grandes mamiferos como o mastodonte e a macrauquénia desapareceram sem deixar parentes, J a preguica-gigante tem parentesco com os bichos- -preguiga da nossa fauna atual. > Acesquerda, esqueteto de um tigre-dentes- -de-sabre. A direta, representacao de um tatu-gigante. < 40 UNIDADE 1 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL, i i . i Cacadores e coletores Os “descobridores do Brasil” sobreviviam da caca, da pesca e da coleta de frutos, como a castanha e o pinhao; abrigavam-se em cavernas, faziam pinturas em suas paredes e lascavam pedras para fazer machados. Além disso, davam grande importdncia ao fogo; faziam fogueiras para aquecer seus corpos, cozinhar, afugentar animais perigosos e quebrar pedras, com as quais faziam suas ferramentas e armas. Entretanto, entre 9500 e 8000 a.C., quando as temperaturas se ele- tel Dica! Portal do Museu varam, os grandes animais desapareceram, e os humanos tiveram de s€ de Arqueclogiae adaptar a climas mais quentes e buscar novos alimentos. Isso os estimulou Etmologia da USP. a aperfeicoar suas armas e ferramentas de trabalho. Entre os primeiros habitantes das terras onde hoje € o Brasil estdo 0 povo de Lagoa Santa, 0 ‘Acesse: . povo de Umbu e Humaita, além dos povos dos sambaquis. CI 0 povo de Lagoa Santa Entre 1834 e 1844, 0 estudioso dinamarqués Peter Lund descobriu, ao norte de Belo Horizonte (MG), um cranio batizado de Homem de Lagoa Santa. Mais de um século depois, uma equipe franco-brasileira encontrou nas cavernas da regio sepulturas e a maior colegao de es- queletos humanos das primeiras populagies da América. 0 povo de Lagoa Santa enterrava seus mortos em pequenas covas e as cobria de pedra para protegé-las. dos animais. Na parte iluminada de seus abrigos, tra- balhava fazendo artefatos como machados de pedra lascada, conchas de caramujo perfuradas, anz6is de sso, entre outros. Aos poucos, adquiriu a técnica do polimento e aperfeicoou seus instrumentos de traba- tho. A anélise dos dentes do povo de Lagoa Santa su- gere que sua dieta se baseava mais em vegetais que em protefnas animais. Pelos esqueletos encontrados, sabemos que o povo de Lagoa Santa era, geralmente, baixo, magro e tinha uma expectativa de vida curta: a maioria das criangas morria cedo, pouquissimos adul- tos atingiam os 30 anos de idade. Qs povos de Umbu e Humaita Por volta de 9500 a.C., a area que corresponde ao Sul e Sudeste do Brasil foi ocupada pelo povo da tra- dicdo Umbu: cacadores e coletores de grande mobili- dade no seu territério. Os individuos da tradi¢ao Umbu Y Gruta da Lapinha, Area de Preservacio Ambiental em Lagoa Santa (M6), 2005. Lagoa Santa possui grande nimero de sitios arqueolégicos que, geralmente, si0 abrigos sob rocha. 0 estudo desses sitios é importante para o conhecimento dos grupos humanos que la viveram. CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS Ta Fa pt 41 42 nico Menou riage, Cunha: ‘ferramenta de metal ‘ou madeira dura que ce insere no vértice de um corte para melhor fender ‘algum material (como ‘madeira ou peda), bem como para calcar, nivelar ou ajustar uma esa qualquer. Biface: utensito do paleoitco, do formato de uma grande améndoa, que consiste num fragmento de rocha (get. silex) lascado e aplainado dos dois lados, para formar uma extremidade afilada e cortante, e a outra extremidade amredarddada, para ser sequra pela mao ou ser cencabada, Sambaquis 80 sitios arqueol6gicos; este, de cerca de 4500 anos, esta situado em Laguna, Santa Catarina, Fotografia de 2014, eram habilidosos no trabalho em pedra: faziam raspadores, facas bifaciais e pontas de flechas, que variavam conforme o animal que pretendiam cagar; também usavam 0 osso para fabricar artefatos, como agulhas, anz6is e en- feites. Além disso, 0 povo de Umbu difundiu duas importantes inovagdes tecnolégicas: 0 uso do arco e flecha (com o qual cagavam animais velozes, como veados, emas ou passaros) 0 uso da boleadeira (arma composta de duas ou trés bolas de pedra ligadas entre si por tiras de couro). p> Aeesquerda, bolas de boleadeira e, 8 direta, pontas de flecha. < eT Ale Na mesma regiéo, nas matas que beiravam os grandes ios, viveram outros grupos de cacadores/coletores: os povos da tradicao Humaita que, além de cagar e pescar, praticavam também a coleta de frutos silvestres, especialmente o pinhdo, abundante nas florestas da regio. Esse povo, ao que parece, desconhecia o arco e a flecha, mas fazia ar- tefatos de pedra robustos usados como machados e cunhas para trabalhar a madeira. Exemplo disso eram os bifaces construidos por eles, alguns longos, retos e quase quadrados, outros curvos em forma de bumerangue (lamina recurvada de madeira dura). Os povos dos sambaquis Os povos dos sambaquis eram povos que viviam dos recursos existentes rno mar, entre os quais as conchas; eles as recolhiam e depois de comer os moluscos deixavam-nas no chao. Com o passar do tempo, elas iam se acu- mulando e formando colinas de conchas onde os sambaquianos construfam suas moradias. A essas colinas damos o nome de sambaquis. 4 Os sambaquis formados pelo acimulo intencional de conchas e terra es- tao locatizados em praias ou Areas ribeirinhas em varias partes do mundo. No Brasil, encontram-se distribufdos pelo litoral brasileiro, do Rio Grande do Sul até a Bahia, e do Maranhao até o Para. Os povos dos sambaquis também praticavam a caca e a coleta, mas a base da sua dieta eram os peixes e, sobretudo, os varios tipos de moluscos (animal de corpo mole, sem ossos, quase sempre coberto por uma concha). Eles comiam os moluscos e, com as conchas, faziam essas colinas artificiais a que chamamos “sambaquis", palavra origindria do tupi ta’mba, sa’mba, que significa “concha”, + qui, que significa “amontoado”. Por disporem de uma fartura de alimentos, os sambaquianos formavam grupos populosos que se fixavam em um mesmo lugar por perfodos proton- gados. Nos sambaquis, as pessoas construfam cabanas, guardavam armas e utensitios domésticos, faziam rituais funerdrios e sepultavam seus mortos. Os povos dos sambaquis possufam estatura baixa, cabeca volumosa e pro- duziam artefatos de pedra lascada e polida, incluindo-se ai esculturas com forma animal (peixes, péssaros, antas) e, mais raramente, humana. Em Santa Catarina, especialmente em Joinville (norte) e em Laguna (sul), onde estao os sambaquis de maior porte, descobriram-se elaboradas esculturas em pedra, os zoélitos (do grego zdion, que significa “animal”, + lithos, que significa “pedra”). 0 Museu Arqueolégico de Joinville redne mais de 10 mil pegas arqueolagicas da regiao. Ha cerca de 2 mil anos, os povos dos sambaquis desapareceram; segun- do os arqueélogos, isso teria ocorrido por dois motivos basicos: a coleta abusiva de mariscos e a chegada de grupos de agricultores tupis-guaranis, que os absorveram ou eliminaram. (1 il Dica! Documentério sobre os sambaquis do litoral paranaense, ‘com o depoimento de importantes estudiosos no assunto. [Duragio: 26 minutos]. Acesse: . designacao comum de todos os animais invertebrados marinhos ‘que podem servir de alimento a0 homer. Y zoélito em basalto, Rio Grande do Sul, Y zoétito em forma de peixe, cerca de 2 mil anos atris. Os objetos liticos sambaqui de Santa Catarina, se caracterizam por representar diferentes €. 6000 a.C. animais (peixes, aves e mamiferos) e pela concavidade em forma de recipiente. CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 43, Pupunha: fruto de sabor agradivele alto valor nutritive extraido de uma palmeira nativa dos tépicos \imidos americans, 2 pupunheira. € um ‘alimento tida come bsico em algumas reaides. 0 rato € consumido cozido, prestando-se também B extracdo de 6leo © & produgie de farina te re rio ath 8 Uma antropomorfa da 0 acai cultura morgjoara feta em _—incipal fonte para o estudo desse povo é a sua cerémica, cujos ceramica e encontrada na desenhos sao sofisticados e coloridos com linhas pretas e verme- regiao do rio Amazonas (AM). Agricultores e ceramistas 0s arqueélogos atuais consideram a Amazénia um centro independente de domesticacao de plantas; lé foram domesticadas importantes plantas corantes, medicinais e alimenticias, como a mandioca e a pupunha. Os primeiros habitantes da regio amazénica descobriram que, ao prensar e torrar a raiz da mandioca, conseguiam extrair 0 veneno nela contido; as- sim, transformaram especies venenosas em alimentos comestiveis, a exem- plo do beiju e da tapioca. Na atualidade, a mandioca - raiz de grande valor nutritivo - é muito consumida no Brasil todo. Segundo a arquedloga Anna Roosevelt, os povos amazénicos desenvolve- ram a pratica da agricultura por volta de 5000 a.C., passando entao a pro- duzir seu proprio alimento. Quase ao mesmo tempo, desenvolveram também a técnica da ceramica, argila modelada e cozida ao fogo; os objetos cerami- cos, impermeaveis e dutos, tinham formas variadas e serviam para transpor- tar agua, armazenar e cozinhar alimentos e também como urna funeraria, Na Amazénia, encontramos as ceramicas mais antigas de toda a América do Sul; em sitios do estado do Par, os arqueélogos encontraram vasos que datam de 5000 a 3500 a.C., época em que a agricultura ainda ndo havia se consotidado. As ceramicas amazénicas parecem ter sido feitas por artesdos especializados, indicio da existéncia de sociedades complexas e aldeias populosas governadas a partir de um centro de poder. Uma das principais tradigGes ceramicas da “Pré-Histéria brasileira” encontra-se onde hoje é a cidade de Santarém, no Para; dai o nome cultura de Santarém. Repare como a pega ao lado é original e bem elaborada. Outra tradigao cerémica notavel foi a que se desenvolveu na foz do rio Amazonas, na Ilha de Marajé. Ali, agricultores e ceramistas ergueram grandes casas isoladas, habitadas por cerca de 100 ou 150 pessoas cada uma. Além de praticarem a agricultura, eles se aprovei- tavam também da rica fauna ali existente; esses primeiros povoado- res deixaram poucos vestigios da sua passagem pela ilha. A partir do século IV, no entanto, comegou a florescer ali uma cultura exuberante, que alguns arque6logos chamam de civilizagao marajoara. 0s marajoaras se defendiam de inundacées erguendo morros artificiais chamados tesos, sobre os quais construfam suas moradias. Pelos restos de suas moradias, sabemos que eles se con- centravam na parte ocidental da ilha, praximo as margens dos rios. Mas os marajoaras ainda foram pouco estudados; até o presente, a thas sobre um fundo branco. 44 UNIDADE 1 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL, VIDADES Baal tat intra que ot I. Retomando senissivesoasaresiencoirs xterra oe esha oer (example de eeroi vendeos ‘eralnents por uma ara a eokecenases os museusextangkas, Arte rupestre € 0 mais antigo tipo : de arte da Histéria. Também 6 conhe- ? cida como gravura ou pintura rupestre. Esse tipo de arte teve inicio no periodo : Paleolitico Superior e é encontrada em todos os continentes. 0 estudo da arte rupestre favoreceu 0 conhecimento de pesquisadores em relacio aos habi- tos dos povos da Antiguidade e a sua cultura. As matérias-primas utilizadas : para a expresso artistica dos povos da antiguidade eram pedras, ossos ¢ san- gue de animais. O sangue, assim como oextrato de folhas de drvores, era util zado para tingir, constituindo o que de- vem ser as mais primitivas expressées 1, (UEMA - 2015) artisticas, conforme a imagem abaixo. isponivel em: . > ‘Acesso em: 19 jun. 2014. (adaptada) Durante muito tempo, os povos que assim se ex- ? pressavam foram conhecidos como “pré-historicos’, Essa denominagao, hoje em desuso entre a maioria dos historiadores, mas ainda presente nos livros ? didaticos, esta diretamente relacionada ao fato ? de esses povos - 2. Jralisico; um dos inns qu texto &jmaisien@ aetna do oa qu, no eS, Solin a noticia ntrmandh: “co de sis a BO do tesour de eine 2b Respsta pessoal. Espra-e que ano apante que veda egal de sss para oer causa enorme prejcn & pesquisa sobre aPr-Histria no a) desconhecerem a escrita. .Aespost:s b) manterem relagdes comerciais. ©) viverem sob a forma de Estado. d) dominarem as técnicas agricolas. ) ocuparem as margens dos grandes rios. 2. Leia 0 texto a seguir com atencao. ‘Trafico de fésseis leva 50% de tesouro do Araripe Pesquisadores acabam de mapear © tamanho do estrago que o comércio ilegal de fésseis na bacia do Araripe, no Nordeste, ja causou a ciéncia brasileira. Das 41 espécies de vertebrados terrestres extintos j4 descobertas no Araripe, 21 tém seus exemplares de referéncia armazenados em museus do exterior. Ou seja, cientistas do pais precisam ir para a Europa, os Estados Unidos e 0 Japao para poder estudar Embora o ntimero de holétipos sur- rupiados tenha sido mapeado sé ago- 1a, a situacdo ja é conhecida ha anos. Para os pesquisadores, 0 tinico jeito de contorné-la é dar alternativas de ren- da & populagao pobre da area, que hoje repassa os fosseis a atravessadores por uma ninharia. LOPES, Reinaldo Jose Flha de S.Poulo, 25 jul. 2010. Dispanivel em: ,Aces0 em: 19 ab. 2016. a) Quanto ao género, o texto é historiogratico, literario, jomalistico, filoséfico ou juridico? Explique. b) Considerando o afirmado no texto e os seus conhecimentos sobre os fésseis, analise 0 impacto desse tipo de comércio ilegal para 0 estudo da Pré-Histéria no Brasil. ©) Em dupla. Pesquisadores sugerem melhorar a renda da populacao pobre da bacia do Ara- ripe a fim de inibir ou evitar o trafico ilegal de fésseis; que outras sugestdes voces da- riam para combater esse tipo de crime? 2.0) 0 objeto @ estima oposcnament cic do aluna ea su craic na busca de solutes par ese problema que meats e cia empecinas A pasa cents na Brash. CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 45 46 5. Professor: ita com alunos 3 um expigso magica ton un grande olen podaSico, dee que sea citarosamante planjad, moira © ‘salad, uta possiidade & vsar un museu histriee ou de etndby, ou ainda de antopeloia No caso da vista esses maseus use o mesmo risk, 3, Esta imagem foi encontrada em uma rocha no ? deserto da Libia, no norte da Africa. a) Dé um titulo a imagem, 2.) espstapessel b) Ela pode ter sido elaborada no Paleolitico? Justifique. 4. (Enem/MEC) Segundo a explicagao mais difun- dida sobre 0 povoamento da América, grupos asiaticos teriam chegado a esse continente pe- lo Estreito de Bering ha 18 mil anos. A partir dessa regido, localizada no extremo noroeste do continente americano, esses grupos e seus descendentes teriam migrado, pouco a pouco, para outras areas, chegando até a porcio sul do continente. Entretanto, por meio de estudos arqueolégicos realizados no Parque Nacional da Serta da Capivara (Piauf), foram descobertos vestigios da presenga humana que teriam até 50 mil anos de idade. Validadas, as provas materiais encontradas pe- los arqueélogos no Piaut: a) comprovam que grupos de origem africana ‘cruzaram 0 oceano Atlantico até o Piaui ha 18 mil anos. b) confirmam que o homem surgiu primeira- mente na América do Norte e, depois, po- ‘voou os outros continentes. ¢) contestam a teoria de que o homem ameri- cano surgiu primeiro na América do Sul e, depois, cruzou o Estreito de Bering. d) confirmam que grupos de origem asiatica cruzaram o Estreito de Bering ha 18 mil anos. e) contestam a teoria de que o povoamento da América teria iniciado ha 18 mil anos. 4 Respst:e Vivéneia: visita a um museu de Ciéncias Huma- nas na sua cidade ou estado. Para planejé-la va- mos seguir alguns passos recomendados pelos educadores do Museu de Arqueologia e Etnolo- gia da USP, Adriana Mortara Almeida e Camilo de Mello Vasconcelos: - Definir os objetivos da visita; (..) - Visitar a instituiggo antecipada- mente (..); ~ Preparar (...) para a visita através de exercicios de observacao, estudo de contetidos e conceitos; - Coordenar a visita de acordo com os objetives propostos ou participar de visita monitorada, coordenada por educadores do museu; - Elaborar formas de dar continuida- de visita quando voltar & sala de aula; - Avaliar o processo educative que envolveu a atividade, a fim de aperfei- coar o planejamento das novas visitas, em seus objetivos e escolhas BITTENCOURT, Circe. 0 saber histrico na sola de aula ‘do Paulo: Contexto, 2006. p. 114. Sites de alguns museus arqueclégicos brasileiros 1. Sao Paulo - Museu de Arqueologia e Etnolo- gia da USP: . 2. Sergipe - Museu de Arqueologia de Xingé: . 3. Rio de Janeiro ~ Museu Nacional/UFRI: -. 4, Parana - Museu Paranaense: . 5. Mato Grosso do Sul - Museu Salesiano de Historia Natural: . 6. Golds - Museu Antropolégico da Univer- sidade Federal de Goids: . 9 omem cesenen ape da peru, a testa ote arias Sepa ra rome sa gs Rows lets pb er huno fren dees a sade ee, seo et areas se toe ares chanel pes ce oa eae naga estes loa as as exes 3 UNIDADE 1 | TECNICAS, TECNOLOGIAS E VIDA SOCIAL ds cama de Lisran Chae Fac de arr spar. ah aan Sear, Ata eas move fe So Parand Hens, Pal si PROENCR, Gra. Dect asa ca sr Sto Pal Hes. 2008 II. Vocé cidadao! 0 Parque Nacional Serra da Capivara fica no sudeste do Piaui, a 530 km de Teresina, capital do Estado. 0 Parque possui uma superficie de 129140 ha e um perimetro de 214 km, ocupando areas dos municipios de Sao Raimundo Nonato, Jodo Costa, Brejo do Piaui e Coronel José Dias. Em 1991 a Unesco incluiu-o na lista do Patrimonio Cultural da Humanidade. 0 texto a seguir é uma reportagem sobre esse patrimdnio. Leia-o com atencao. Parque da Serra da Capivara, no Piaui, est ameagado Até o fim do ano, o Parque Nacional da Serra da Capivara pode sofrer um golpe pesado. A Fundacao Museu do Homem Americano (Fumdham), parceira do governo federal na manutencao da unidade, prepara-se para fechar as portas. Em 2014, seus cofres receberam apenas R$ 860 mil, verba insuficiente para zelar pela infraestrutura que sustenta 0 acesso € a pesquisa em mais de mil grutas rupestres, dispersas por 130 mil hectares no interior do Piauf. Nem o status de Patriménio Cultural da Humanidade assegurou a entrada de recursos. Se a pentiria significar uma ameaga as cavernas pré- -hist6ricas, 0 titulo atual poderia mudar para “patriménio em perigo”. Pouco tempo atras, a equipe de Niéde Guidon, de 82 anos, que preside a fundacao, contava com 270 funcionrios. Hoje, so 50. Segundo a arqueéloga, a demissao dos empregados remanescentes implicaria no pagamento de indenizagoes. Para isso, seria necessdrio encerrar as atividades até dezembro. — Eu nao sei mais o que fazer — admite a arquedloga. — A fundacdo surgiu em 1986 porque, sete anos antes, o parque foi criado e nao havia funcionérios do governo federal. A area estava tomada por cagadores e extrativistas. As pesquisas cientificas trazem resultados fantésticos, mas os trabalhos nao podem ser sustentados sem uma estrutura basica. GRANDELLE, Renato, Parque da Serra da Capivara, no Pit, esté ameacado. 0 Globo, 17 set. 2015. Dispanvel em: , Acesso em: 19 abr. 2016 a) O texto se destina as autoridades, aos arquedlogos, aos estudantes ou ao piblico em geral? b) Qual o principal problema enfrentado pelo Parque Nacional segundo a reportagem? ©) Qual tem sido a consequéncia do problema apontado no texto? d) Em dupla. Pesquisem para identificar os principais problemas vividos pelo Parque Nacional, além da falta de verbas. Postem 0 trabalho de vocés no blog da turma. e) Em grupo. Elaborem um texto sobre o Parque Nacional e os problemas que enfrenta na atualidade. Cada grupo pode se dedicar a um tema: A historia do Parque; A luta de Niéde Guidon para transfor- mé-lo em um polo turistico; A questdo do desmatamento; A questo da caca comercial; A questo da preservacao do patrimonio. Sites para pesquisa: 1, . 2. . 3. . CAPITULO 2 | A AVENTURA HUMANA: PRIMEIROS TEMPOS 47 48 Y corego Carandiru em So Paulo (SP), 2014 > Ciclistas pedalando na ciclofaixa da Avenida Paulista, Séo Paulo (SP),2014. Fotografia aérea capta o contraste entre construcées pobre @ prédios de alto padrao na capital paulista, 2004. ‘ | a =seeekn a a a a a a 0 texto a seguir é de Carlos Leite, arquiteto, pés-doutorado em Protsor sine : Smack te toni lots, sua a ea Desenvolvimento Urbano pela Universidade Politécnica da California. Leia-o iss utara nm pomnte wa com atengao. a ‘4 . oe prbla ela aoe Hé 100 anos, apenas 10% da populagio mundial vivia em cida- > lata einrarsnutra des. Atualmente, somos mais de 50%, e até 2050, seremos mais de {ies sai: eh 75%. A cidade é 0 lugar onde sio feitas todas as trocas, dos gran-_vicsolahiunna des e pequenos negécios a interac&o social e cultural. Mas tam- ie sun aseuess bém é o lugar onde ha um crescimento desmedido das favelase “Sz Satas do trabalho informal: estima-se que dois em cada trés habitan- since tes estejam vivendo em favelas ou sub-habitacoes. E é também 0 palco de transformacGes dramaticas que fizeram emergir as me- | Ohi otto gacidades do século 21: as cidades com mais de dez milhdes de | combinando-se habitantes jé retinem 10% da populagdo mundial. mor [..] E nessas megacidades do futuro que 0 mundo precisa se | Sete She reinventar, dividir riqueza para alcancar padres mais justos e | escolariade erenda equilibrados de desenvolvimento. Padrdes mais sustentdveis | Percopite,ente nao apenas nos necessérios desafios ambientais, mas também | Os Saga sociais e econémicos — que se reflitam nao mais nos indicado- | Quanto mais prxino res financeiros, mas em IDH’s [...]. O desafio do desenvolvimento | 4 1 melhores séo as futuro esta nas cidades: 2/3 do consumo mundial de energia e | Omjon se Me aproximadamente 75% de todos os residuos gerados ocorrem nas | de 0, piores eas 530. cidades. [..] LEITE, Carlos, Cidades 2010 + 25. Revista aU, ago. 2010. Disponivel em:

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